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Do Imperialismo à Primeira Guerra Mundial

Introdução

Durante o processo de Revolução Industrial, vivido inicialmente pela Inglaterra e em seguida pela Europa Ocidental, EUA e Japão, o fortalecimento do sistema capitalista nascente foi caracterizado por uma brutal dominação política e/ou econômica sobre as nações periféricas, em praticamente toda parte do mundo. Em alguns casos, como iremos descrever e discutir, essa subordinação não era política, mas mantinha fortes laços de exploração econômica, como foi o caso do Brasil. Em outras situações, a dominação era muito maior, extrapolando para o campo político também e, assim, mantendo uma colônia de povoamento ou estados semicoloniais, tal como a Índia.

A exploração crescente dos países industrializados em um ambiente de Imperialismo e controle dos mercados mundiais levou a Europa a enfrentar sua Primeira Guerra Mundial. Estudar as caracterís-ticas principais do sistema capitalista no final do século XIX e início de século XX e suas relações com o conflito militar é o principal objetivo desta aula. Com isso, três seções serão apresentadas. Na primeira parte, descreve-se o Imperialismo mundial e seus impactos no mundo. Em seguida, é apresentado o funcionamento da economia brasileira. E, por último, busca-se descrever os fatores econômicos ligados à Primeira Guerra Mundial e suas consequências.

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O Imperialismo (1870-1914)

No final do século XIX e início do século XX, a unidade econômica predominante nas sociedades capitalistas eram empresas concentradoras da produção ou até mesmo um grupo de empresários que determinava o volume ofertado e os preços de mercado, buscando naturalmente ampliar suas taxas de lucro interna e externamente. O fato é que, infelizmente, o mundo capitalista baseado na divisão social do trabalho, ampliação dos mercados nacionais e externos, crescimento da produtividade e da riqueza, não podia ser analisado à luz de um ambiente concorrencial, como propunha o próprio Adam Smith e seus seguidores da Escola Clássica. O mais correto seria contextualizá-lo em um ambiente de capitalismo monopolista, sendo que, nesse caso, deve-se associar a palavra “monopólio” não necessariamente a um único vendedor ou única empresa ofertante do produto, mas sim a um grupo de vendedores ou empresários controlando totalmente ou grande parte da produção, isto é, um verdadeiro “oligopólio”. Contudo, a literatura econômica utiliza, naturalmente, a empresa de capital monopolista no sentido de “oligopólio” para essa análise.

Nesse sentido, pode-se argumentar que o desenvolvimento inicial do capitalismo ocorreu por meio de um grande domínio das grandes nações industriais sobre as economias subdesenvolvidas. Essa subordinação caracterizava-se basicamente pela oferta de matérias-primas e produtos em transformação das economias periféricas para os países desenvolvidos. E, após a efetiva industrialização do produto, seu destino final seria abastecer os mercados dos países subdesenvolvidos. Por exemplo, um determinado país subdesenvolvido exporta couro e algodão para um país industrializado específico. A partir da matéria-prima há a transformação de produtos, tais como sapatos e roupas, que logicamente irão abastecer o mercado interno dos países desenvolvidos e também o mercado das economias periféricas. Nota-se que essa dependência em relação aos países mais avançados só seria realmente equilibrada ou reduzida se em algum momento da história o país subdesenvolvido implementasse um amplo programa de industrialização.

Esse simples exemplo ilustra a crescente divisão social internacional do trabalho, transformando o globo em dois polos desiguais: um produtor agrícola e de minérios, ofertando matéria-prima ou mão de obra não qualificada e, no topo da divisão do trabalho, a produção industrial absorvendo grande parte da riqueza. E essa absorção era garantida pelo capital monopolista. Baran e Sweezy (1978, p. 14) descrevem uma importante análise de Lênin: “se fosse necessário dar a mais breve definição de

impe-rialismo, teríamos de dizer que ele é a fase monopolista do capitalismo”. Portanto, o imperialismo1 não

passa de uma absorção por parte dos grandes grupos industriais e financeiros da maior fatia da riqueza mundial. Mas, para isso ocorrer, os países industriais necessitavam ampliar sua participação no mundo.

O imperialismo na América seguiu a Doutrina Monroe (1823) que reafirmava a posição dos Estados Unidos contra o colonialismo formal europeu neste continente. Estabeleciam uma ideia de que “a América era para os americanos” e, de certa forma, garantindo uma parte expressiva desse mercado aos Estados Unidos. Nesse sentido, o imperialismo observado na América manteve a independência política e uma forte subordinação econômica.

1 Alguns autores referem-se também ao imperialismo, desse período, como um “novo colonialismo”, ver Rezende (2005), capítulo 7, ou simplesmente ‘‘neocolonialismo’’.

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A pecuária e as exportações de carne foram as principais atividades econômicas de países como a Argentina e o Uruguai. Rezende (2005) destaca que a Argentina expandiu suas exportações de carne congelada de 27 mil toneladas em 1890 para 376 mil toneladas em 1914.

Países, como México, Chile (maior exportador mundial de cobre), Bolívia, Peru e Venezuela, des-tacaram-se pelo aumento na produção e exportação de minérios. No caso desses países, o crescimento sustentável da demanda internacional e a necessidade de se investir em modernas tecnologias de ex-tração mineral incentivaram a criação de empresas internacionais exploradoras. O lucro, assim, con-centrava-se apenas nos países desenvolvidos, impossibilitando a formação e o desenvolvimento dos mercados internos.

Na América Central, Caribe, Brasil, Colômbia e Equador, as atividade exportadoras de café e cacau atendiam às necessidades dos mercados internacionais e praticamente toda sua estrutura produtiva voltava-se para a produção dessas matérias-primas.

Entre os anos de 1884-1885, as grandes potências mundiais reuniram-se em Berlim para definir novos acordos sobre o comércio, navegação e, sobretudo, os limites de cada um na África Ocidental e no Congo. A Conferência de Berlim não tinha o Japão como participante e os EUA preocupavam-se preponderantemente com as novas rotas comerciais e de navegação. Assim, podemos refletir que a par-tilha da África realmente ocorreu entre as nações europeias e, em particular, entre França e Inglaterra, que já detinham grande parte do mercado africano, e Alemanha que, em virtude de seus processos de industrialização e unificação nacional tardios, não apresentava uma influência considerável na África.

A figura 1 ilustra como a África estava totalmente dividida no início do século XX, principalmente pela França e Inglaterra. Sem levar em conta seus aspectos culturais, religiosos e familiares, as principais regiões foram divididas da seguinte forma:

Inglaterra: Sudão, Egito, África do Sul, Rodésia

:::: 2 e Nigéria.

França: Argélia, Madagascar, Marrocos, África Ocidental e Equatorial.

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Alemanha: Camarões, África Oriental e África do Sudeste (atual Namíbia).

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Itália: Somália e Líbia.

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Portugal: Angola e Moçambique.

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Espanha: Marrocos espanhol.

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Bélgica: Congo.

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A Alemanha, que não possuía nenhuma colônia na África, obteve três faixas importantes do con-tinente. Portugal gostaria de obter um território maior no Congo e com isso unir Angola e Moçambique, porém não conseguiu aprovação de sua aliada Inglaterra. A Bélgica manteve seu território no centro do continente e a Inglaterra dominava quase toda a região Sul da África.

2 Rodésia foi uma região de grande extensão africana sob o domínio inglês. Seu nome é uma referência ao explorador britânico Cecyl Rhodes que obteve direito de mineração nesta região, em 1888. O governo da República da Rodésia tornou-se, em 1980, independente, mudando seu nome para Zimbábue.

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Figura 1 – A partilha da África no Imperialismo: Conferência de Berlim.

Na Ásia, o novo colonialismo também teve forte influência dos europeus e, logicamente, da Rússia e do Japão. A Grã-Bretanha ocupava desde o início do século XIX grande parwte da Índia,

estabelecen-do um regime de protetoraestabelecen-do3. O país era comandado pela empresa britânica Companhia das Índias

Orientais, a qual detinha, por determinação e proteção do governo, o monopólio comercial.

No sudeste da Ásia, franceses e ingleses guerreavam para obter um maior controle dessa região. O Império Britânico controlava a Birmânia e Cingapura, e a França a Indochina. Com a definição do sudeste asiático, em 1904, os dois países resolveram seus problemas coloniais.

O interesse da Rússia na Ásia era estratégico e o país já possuía grande parte do vasto território siberiano. Contudo, no nordeste asiático, as disputas dos territórios da Coreia e da Manchúria se intensi-ficam e, nos anos de 1904 e 1905, a Rússia do Czar Nicolau II conflita militarmente com o Japão, gerando a Guerra Russo-Japonesa. A inesperada vitória japonesa garante, além de uma considerável hegemonia na região, o reconhecimento de uma nação imperialista pelo continente europeu. A Rússia, desgastada e com problemas financeiros, une-se à Inglaterra em 1907, resolvendo assim os problemas asiáticos

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com o Afeganistão, Tibet e Pérsia. Com isso, formou-se a Tríplice Entente (Rússia, França e Inglaterra), com o objetivo claro de frear o crescimento e a expansão da Alemanha e de seus aliados: o Império Austro-Húngaro e a Itália. Kennedy (1989, p. 242) esclarece:

[...] com a Guerra Russo-Japonesa, a tendência geral dessa época foi no sentido do que Feliz Gilbert chamou de enrije-cimento dos blocos de alianças. Isso foi acompanhado da expectativa, por parte da maioria dos governos, de que se e quando a próxima grande guerra ocorresse eles seriam membros de uma coalizão.

O mundo, no início do século XX, ficou claramente dividido em dois grandes blocos militares, sendo que cada um era composto por três nações europeias.

A Tríplice Aliança foi originalmente formada entre a Alemanha e a Áustria-Hungria, para proteger este Império de um possível ataque russo, em 1879. No mesmo sentido, a Alemanha realiza um tratado mútuo com a Itália, em 1882, para conter também um possível ataque francês. Para Kennedy (1989), a preocupação central da Alemanha era de se proteger a curto prazo e com isso avançar a passos largos em um processo de industrialização, visto que a unificação nacional do Estado alemão ocorreu tardiamente, isto é, em 1870. A Alemanha temia um ataque da França, que tinha o intuito de recuperar as regiões da Alsácia e Lorena, bem como uma expansão desenfreada da Rússia na Europa. Em contrapartida, em 1894, a aliança franco-russa tentou equilibrar as relações militares e, sobretudo, preparar-se contra o avanço das tropas alemãs. Em termos geográficos, essa aliança foi importante para tentar neutralizar a expansão da Alemanha e de seu principal aliado, o Império Austro-Húngaro na Europa.

Em 1914, o assassinato do arquiduque e príncipe herdeiro do Império Austríaco, Francisco Ferdi-nando, que estava visitando a Bósnia, levou o exército da Áustria a realizar uma intervenção na Sérvia. Imediatamente, a Rússia enviou suas tropas à região, iniciando a Primeira Guerra Mundial.