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A expansão da Revolução Industrial no mundo

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ferro em estado de fusão. Logo (a siderurgia) substitui o ferro pelo aço. Em 1831, o dínamo de Faraday transformava energia mecânica em elétrica e, em 1879, Thomas Edison cria sua famosa lâmpada incan-descente. O uso do petróleo como fonte de energia foi inaugurado pela invenção do motor de com-bustão interna, em 1876, por Nikolaus Otto. Posteriormente, Karl Benz, em 1880, substitui combustível inflamado por faísca elétrica e Gottfried Daimler (1884) utilizou a gasolina como combustível. Rudolf Diesel (1897) substituiu a gasolina pelo óleo cru, na combustão. Em 1885, os primeiros automóveis são produzidos: Daimler – Maybach e Benz sendo que, em 1908, Henry Ford fabrica os primeiros automó-veis de produção em massa, nos EUA.

A Segunda Revolução Industrial tam-bém foi marcada pelos novos processos produtivos. Com o surgimento e o aper-feiçoamento da eletricidade, Henry Ford desenvolveu uma linha de produção em série, massificando o trabalho para obten-ção de rendimentos de escala. O fordismo, como ficou conhecido, diminuiu signifi-cativamente os custos de produção e os preços dos produtos, popularizando o au-tomóvel nos países industriais. Suas fábri-cas eram verticalizadas, possuindo desde fábrica de vidros à produção de autopeças. Aliado ao método da administração

cientí-fica de Frederick W. Taylor, o fordismo/taylorismo mostrou-se uma inovadora e altamente produtiva téc-nica administrativa, racionalizando a utilização da mão de obra e, assim, evitando desperdícios de tem-po na produção. Taylor também se preocutem-pou com o planejamento e com a organização empresarial. Rezende (2005) destaca que a adoção de uma linha de produção permitiu uma extrema especialização do trabalho, barateando o custo unitário de produção. E, a exemplo, o famoso automóvel Ford T sofreu, em 1808 uma redução de preço de US$950,00 para US$250,00 a unidade.

O desenvolvimento das linhas de montagem e das novas técnicas administrativas aliadas à cres-cente necessidade de ampliação dos lucros fizeram surgir um capitalismo concentrador de riquezas. Era

comum, assim, o aparecimento de trustes, monopólios e cartéis1. E naturalmente as grandes empresas

iam minando as fábricas menores. Rezende (2005, p. 147-148) esclarece: “Esse capital concentrado, por sua vez, pelo domínio que ele exerce no mercado, dada a ausência de concorrência, faz com que ele possa maximizar seus lucros, estabelecendo, nesse sentido, os preços e controlando a oferta.”

A Segunda Revolução Industrial se expandiu na Europa, EUA e Japão, ampliando a produção e a concorrência de grandes blocos econômicos entre os países.

Na Alemanha, em 1870, a industrialização ganha fôlego a partir da unificação nacional, e uma vitória bélica contra a França garantiu ao país, pelo Tratado de Frankfurt, as regiões da Alsácia e o norte da Lorena, ricas em minérios. Antes os estados alemães eram basicamente agrários, sendo que apro-ximadamente 60% da população residia no campo. Com o desenvolvimento do setor bancário, das ferrovias, da indústria química e dos equipamentos elétricos no vale do Rio Reno, a Alemanha, em 1913, torna-se a maior nação europeia industrializada.

1 Truste: estrutura empresarial na qual várias empresas, já controlando a maior parte do mercado, fundem-se para assegurar esse controle

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O Estado incentivou a concentração de capital com a formação de conglomerados com foco nas exportações. Os principais grupos econômicos formados na época e que de certa forma prevalecem no cenário mundial são: Krupp (aço, materiais bélicos); Daimler-Benz (motores e veículos); Maybach-Diesel (motores); Farben (produtos químicos); e Siemens (materiais elétricos).

Com o intuito de estimular as exportações e o ganho de mercado internacional, o governo alemão manteve boas relações comerciais com a Áustria, Hungria e Rússia e incentivou também o

dumping2, que consiste em manter duas escalas de preços para um mesmo produto, uma mais alta para

o mercado interno, e outra mais baixa para o mercado externo.

A Itália ingressa em um grande processo de industrialização a partir de sua Unificação Nacional, também em 1870. Em termos econômicos e culturais a Itália poderia ser dividida em duas regiões: a Itália do Norte apresentava uma agricultura progressista com um sistema bancário avançado e indús-trias centradas nas cidades de Milão (têxtil e metalúrgica), Turim (mecânica e têxtil), Gênova (construção naval e têxtil) e Veneza (têxtil), ligados a uma razoável ferrovia; a Itália do Sul era relativamente atrasada, com uma economia essencialmente rural, com apenas uma cidade comercial expressiva – Nápoles.

Em termos econômicos, a unificação das duas regiões possibilitou uma troca de interesses, pois o Sul passou a ofertar mão de obra barata e matéria-prima para as indústrias do Norte e os grandes proprietários do Sul passaram a aplicar seus recursos nos bancos e indústrias do Norte, aumentando suas riquezas com a expansão industrial.

Os Estados Unidos declaram independência dos ingleses em 1781 e somente a partir da década de 1840 iniciaram sua expansão para o Oeste. Em 1845, o Texas se torna independente do México e se une aos EUA e, em 1848, os norte-americanos anexam os estados do Novo México, Nevada, Califórnia, Utah e Arizona – que era dos mexicanos. Os EUA passam a ser um país continental e com um enorme crescimento populacional. Em 1820 registravam em torno de 9,6 milhões de habitantes e, em 1860, 31,3 milhões.

Os crescimentos geográficos e demográficos permitiram uma enorme expansão do mercado interno. Esse, por sua vez, impulsionou a industrialização do norte do país que, para sustentar a indus-trialização, necessitava de proteção da indústria e mão de obra assalariada e barata. O sul, com

predo-minância da produção agrícola (plantation)3, exportadora de algodão, seria o fornecedor dessa mão de

obra e uma boa expansão de mercado. A Guerra da Secessão (1861-1865) ocorreu entre 11 estados do Sul latifundiário e aristocrata, que não apoiavam a abolição da escravatura, e os Estados do Norte indus-trializado. Após a vitória do Norte, os EUA passam a se industrializar rapidamente com foco no mercado doméstico.

A industrialização do Japão foi interessante. Esse país vivia isolado desde o século XVII e em 1854 foi obrigado, pelos EUA, a abrir seus portos para o comércio externo (frota do Comodoro Perry). A pas-sagem de uma economia feudal para a industrialização japonesa é conhecida como a Revolução Meiji (1868), trazendo grandes mudanças econômicas, políticas, sociais e culturais.

O Estado japonês incentiva a criação de grandes blocos econômicos familiares. Quatro famílias – Sumitomo, Mitsubishi, Yasuda e Mitsui – controlavam grande parte do setor bancário, a indústria têxtil, empresas de energia elétrica, construção naval e a indústria de papel. Além da geração de monopólios

2 Dumping, em geral, pode ser considerado em uma situação na qual o governo forneça subsídios para o incremento das exportações, possibilitando uma discriminação de preços entre o mercado doméstico e o externo.

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setoriais, o Estado investe em uma política externa militar expansionista, conquistando mercados consumidores na China, na Coreia e na Europa, com práticas de dumping.

As transformações socioeconômicas foram profundas no mundo ocidental e no Japão. A melhora nas condições sanitárias, o crescimento populacional nas cidades, a acumulação de capital mundial, a geração de renda e a ampliação da produtividade possibilitaram o desenvolvimento, no século XIX, do pensamento clássico pós Adam Smith.