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A “cura” da inflação e a reorganização das finanças

A economia brasileira nas décadas de 1950 e 1960

Sendo as variáveis V e Y estáveis, a emissão de moeda iria gerar aumento no consumo e expansão nos níveis de preço, ou seja, inflação. Essa era basicamente a interpretação dos principais economistas brasileiros na necessidade de se combater o excesso na emissão monetária com finalidade de financiar o déficit público.

Conclusão

A economia brasileira passou por grandes transformações na década de 1950, com incentivos na indústria de bens de consumo duráveis e de capitais (máquinas e equipamentos). O Plano de Metas implementado nesse período ampliou os gastos do governo em investimentos nos principais setores da economia e construiu uma nova capital para o Brasil.

Contudo, as fontes de financiamento do PM não eram bem definidas e utilizou-se a emissão monetária como forma de viabilizar os investimentos. No curto prazo, com a modernização econômica, a produção expandiu, mas no longo prazo, o processo inflacionário tornou-se mais intenso e preocupante para o desenvolvimento do país.

E, nesse sentido, em 1964, foi colocado em prática um programa de estabilização inflacionária, com grandes mudanças estruturais nas áreas: sistema financeiro, tributária e setor externo. O Paeg apre-sentou sucesso no combate inflacionário, reduzindo significativamente a emissão monetária vinculada à necessidade de financiar o setor público.

Texto complementar

A “cura” da inflação e a reorganização das finanças

(SzMRECSáNYI; COELHO, 2007)

No início dos anos 1960, Roberto Campos entendia que a economia brasileira, apesar do esforço de diversificação do parque industrial realizado durante o Plano de Metas, estava longe de ter assegurado as condições básicas para o crescimento autossustentado. Na sua interpretação, a inflação não fora desenvolvimentista: “Certamente, parece que nos desenvolvemos apesar da inflação e não por causa dela.” Embora sua análise não descartasse a ideia de surgirem desequilíbrios decorrentes da própria modificação estrutural da economia, essa ideia perdeu força diante dos dois argumentos que definem com rigor a ortodoxia de Roberto Campos. O primeiro era sua concepção de inflação como fenômeno essencialmente monetário; o segundo, a sua concepção do Estado como fator de perturbação. Para ele, o Estado situava-se na raiz dos principais limites à formação

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de capital a longo prazo. O seu diagnóstico do processo inflacionário brasileiro remetia à análise da questão do padrão de financiamento no Brasil; assim como dos limites para o aumento da poupança pública e privada que condicionavam as possibilidades de aumento dos investimentos. No seu entender, estes se mantiveram limitados por terem esbarrado em obstáculos financeiros internos, por não contarem com um equacionamento de longo prazo, e pela ausência de condições cambiais favoráveis.

Entre 1964 e 1967, como Ministro do Planejamento, participou ativamente do processo de reforma institucional com vistas a viabilizar a constituição dos fundamentos necessários para garan-tir o crescimento com estabilidade. Admirador do Presidente Castelo Branco e leal aos princípios da “Revolução de 1964” que denominou das “classes médias”, Campos afirmava que a ação do governo envolvia: (i) o Programa de Ação Econômica do Governo (Paeg) como programa anti-inflacionário emergencial; (ii) grandes reformas estruturais, como a administrativa, a fiscal, a bancária, e a do mer-cado de capitais; (iii) planos setoriais de infraestrutura; e (iv) o Plano Decenal de Desenvolvimento.

Campos admitia que, a curto prazo, a cura da inflação seria incompatível com políticas expan-sionistas, dado que ocorreria, quase que inevitavelmente, uma queda ou estagnação do ritmo de crescimento da renda e do emprego. Assim, Campos entendia que a queda do nível de renda na “fase de reajustamento” se devia ao fim dos investimentos de caráter especulativo que se aceleraram na fase inflacionária e à “cirurgia industrial” que representava a eliminação de empresas antieconô-micas.

Concluía não existir “cura sem dor” para a inflação. Em verdade, Roberto Campos propunha o núcleo de um programa de estabilização baseado no controle da oferta monetária. Entretanto, en-tendia que o aumento da produção somente poderia fazer parte de uma estratégia anti-inflacionária na medida em que a queda do nível de renda nominal pudesse ser conciliada com o crescimento da produção real. O aumento do produto real poderia ser reforçado por meio da implementação de uma estratégia de reflação centrada na reorientação do crédito para aplicações produtivas (di-minuindo o crédito para consumo pessoal e a especulação com estoques) e numa melhor compo-sição das despesas públicas (diminuindo as despesas militares e aumentando os investimentos na modernização agrícola e na infraestrutura).

Atividades

1. Descreva os benefícios da criação da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos (CMBEU) e do Banco

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2. Explique os objetivos gerais do Plano de Metas e identifique os cinco setores que foram

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3. Comente sobre os resultados macroeconômicos obtidos pelo Plano de Metas e identifique o

principal problema do plano.

4. De acordo com o Plano de Ação Econômica do Governo (Paeg), quais eram as três principais

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Gabarito

1. O grande benefício com a criação da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos (CMBEU) foi

desen-volver projetos de infraestrutura que deveriam ser financiados pelo recém-criado Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (Bird) e o Banco de Exportação e Importação (Eximbank).

2. O objetivo do PM era incentivar o Processo de Substituição de Importações (PSI) iniciado por

Getúlio Vargas na década de 1930 e buscava completar a matriz industrial brasileira nos setores de bens de consumo duráveis e de capitais (máquinas e equipamentos), tornando assim o país economicamente menos subordinado às economias industriais. Contemplava investimento em cinco grandes áreas e com as seguintes participações de investimentos em relação ao total: energia (42,4%), transporte (28,9%), indústria básica (22,3%), alimentação (3,6%) e educação (2,8%).

3. Os resultados macroeconômicos foram surpreendentes. Entre 1956 a 1961, o PIB cresceu em

média 8,2% ao ano, a renda per capita 4,3% ao ano e a taxa de inflação mensurada pelo Índice Geral de Preços ao Consumidor – Disponibilidade Interna (IGP-DI) ficou em média 28,9% ao ano, sendo que no final do mandato de JK a inflação já apresentava sinais de forte aceleração.

Realmente, o grande problema do Plano de Metas estava na falta de uma definição clara dos mecanismos de financiamento dos gastos públicos e privados. E, com a realidade de um sistema financeiro nacional pouco desenvolvido, o déficit público e seus investimentos foram financiados com a emissão monetária.

4. O Paeg identificava três causas essenciais que alimentavam o processo inflacionário: 1) o elevado

gasto público; 2) a expansão do crédito às empresas; e 3) o crescimento dos salários reais acima da expansão da produtividade do trabalhador.

O milagre econômico