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MULHERES REFUGIADAS E O MERCADO DE TRABALHO: UM ESTUDO NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO

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MARISA ANDRADE

MULHERES REFUGIADAS E O MERCADO DE TRABALHO

:

UM ESTUDO NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM SERVIÇO SOCIAL

SÃO PAULO

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MARISA ANDRADE

MULHERES REFUGIADAS E O MERCADO DE TRABALHO:

UM ESTUDO NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Serviço Social, na Área de Concentração Serviço Social: Políticas Sociais e Movimentos Sociais, na Linha de Pesquisa Política Social: Estado, Movimentos Sociais e Associativismo Civil, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Lúcia Rodrigues.

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MARISA ANDRADE

MULHERES REFUGIADAS E O MERCADO DE TRABALHO:

UM ESTUDO NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO

Este exemplar corresponde à Dissertação de Mestrado, apresentado à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Serviço Social, na Área de Concentração Serviço Social: Políticas Sociais e Movimentos Sociais, na Linha de Pesquisa Política Social: Estado, Movimentos Sociais e Associativismo Civil, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Lúcia Rodrigues.

BANCA EXAMINADORA:

__________________________________________ Orientadora: Profa. Dra. Maria Lúcia Rodrigues.

Doutora em Serviço Social – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Instituição: PUC-SP

__________________________________________ Examinadora: Profa. Dra. Maria Carmelita Yazbek

Doutora em Serviço Social – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Instituição: PUC-SP

__________________________________________ Examinadora: Profa. Dra. Márcia Helena Farias

Doutora em Serviço Social – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Instituição: UNINOVE-SP

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Dedico este trabalho à minha mãe D. Jô, que soube me educar com amor, carinho, atenção e respeito. Sua retidão, licitude e dignidade são exemplos para o meu processo de vida real;

À minha família pelo amor, carinho e atenção dispensados a mim em todos os momentos;

Ao meu pai e minha irmã, “in memoriam” – José e Ilda, que, embora ausentes, sempre serão presença em minha vida;

Às irmãs da Associação Palotina, amigas e companheiras de caminhada, pela amizade, compreensão e contribuição ao longo de nosso convívio.

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AGRADECIMENTOS

À Profa. Dra. Maria Lúcia Rodrigues pela orientação competente e confiante que muito contribuiu para a realização deste trabalho, meus sinceros agradecimentos;

Às professoras: Dra. Maria Carmelita Yazbek e Dra. Márcia Helena Farias pelas valiosas recomendações no decorrer do Exame de Qualificação e na Defesa;

Aos professores do Programa de Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, por todas as contribuições, ensinamentos e esclarecimentos durante a realização do curso;

Às irmãs da Associação Palotina, pela amizade, apoio e incentivo, necessários a realização desta pesquisa;

Às irmãs Ivinete e Venícia pelo apoio no decorrer deste trabalho e pelo companheirismo que nos une, possibilitando o desenvolvimento dessa pesquisa, meus sinceros agradecimentos;

À minha querida amiga Adriane Giugni da Silva, pelo auxílio, incentivo e apoio no processo desta caminhada, meus agradecimentos;

À equipe do NEMESS que sempre esteve presente nas discussões deste trabalho e me incentivou a desenvolvê-lo, permitindo-me discutir e repensar a inserção da mulher refugiada no mercado de trabalho no município de São Paulo;

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelo financiamento desta pesquisa;

Aos colegas e funcionários da PUC-SP que de diferentes maneiras contribuíram no processo de realização deste estudo, meus agradecimentos;

Em especial à minha mãe Jô, pela presença constante e apoio, pelas palavras firmes e sábias sempre ditas com amor. Mulher de garra e força, educadora nata que me ensinou o que nenhuma graduação é capaz de transmitir, obrigada por tudo;

Às minhas irmãs Tereza, Ilza, Marilda, ao meu irmão Celso e demais membros que ao longo da vida compuseram a família, obrigada pelo apoio permanente;

Às refugiadas partícipes desta pesquisa, em especial àquelas que colaboraram como informantes no decorrer desta investigação;

Às colegas de trabalho que ao longo do processo me apoiaram com palavras de incentivo;

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[...] não é possível libertar os homens enquanto eles não estiverem aptos a fornecerem-se de comida e bebida, a satisfazerem as suas necessidades de alojamento e vestuário em qualidade e quantidade perfeitas.

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Marisa Andrade. Mulheres Refugiadas e o Mercado de Trabalho: um estudo no Município de São Paulo. Dissertação (Mestrado em Serviço Social). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, 2013.

RESUMO

A presente dissertação tem como objetivo apresentar a inserção no mercado de trabalho e as condições de vida das mulheres refugiadas no município de São Paulo. Para atingir tal intento fez-se necessário uma investigação minuciosa da realidade do refúgio no mundo e no Brasil, considerando a legislação pátria, as convenções e tratados internacionais dos quais o Brasil é subsidiário. Nesse sentido, buscou-se inicialmente identificar os diversos grupos de pessoas que se deslocam em busca de refúgio, consideraram-se como refugiadas somente aquelas pessoas que de acordo com a Lei 9.474 de 22 de julho 1997 em seu art. I são forçadas a abandonar seus lares em situações de conflitos, por questões religiosas, étnicas, políticas, dentre outras. Os conflitos colocam em risco a vida, a liberdade e a segurança da população que sofre ameaças e efetivas perseguições, desencadeando o refúgio. Essa situação obriga a fuga das pessoas de seus países em busca de uma vida melhor em outro que as receba. Mas, para sobreviverem em outro país precisam trabalhar e isso desencadeou a pesquisa em questão, na qual se investigou a inserção dessas mulheres no mercado de trabalho paulistano, considerando a categoria trabalho e as mudanças no mundo de trabalho, no contexto do sistema capitalista, vinculada intrinsecamente às condições dessa inserção como fator determinante para a sua sobrevivência e refletem nas condições de vida dessas mulheres, na sua formação educacional, qualificação profissional e consequentemente no modo de inserção no mercado de trabalho. Nesse sentido, procedeu-se a pesquisa bibliográfica, que subsidiou o

aprofundamento teórico sobre o tema. A apropriação teórica em relação ao histórico e à legislação foi essencial para dar início ao estudo. Por meio de pesquisa qualitativa, com base em exame crítico-analítico da realidade investigada, procedeu-se a análise do objeto de estudo, assim como a pesquisa de campo, fornecendo elementos necessários à descrição e interpretação do fenômeno estudado. Assim, procedeu-se ao exame dessa realidade particular mediante a utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como o questionário e entrevista aprofundada. O contato com quatro organizações atuantes na questão do refúgio forneceu os dados e as condições para contato com as refugiadas. Selecionou-se uma amostra representativa de 53 mulheres refugiadas residentes na cidade de São Paulo, as quais forneceram as informações pertinentes às análises desenvolvidas neste trabalho. No processo de investigação buscaram-se desvelar o conceito de trabalho, as mudanças ocorridas nesse universo, o mundo do trabalho e suas transformações ao longo do processo histórico da sociedade capitalista, inter-relacionando-as com a realidade das mulheres refugiadas. Nesse processo buscou-se também desvelar a história de vida da mulher refugiada, suas condições de moradia, como tem se dado sua sobrevivência. Entretanto, a despeito de haver centrado seu foco de interesse no que concerne à inserção no mercado de trabalho e a condição de vida desse grupo social, não se limitou este estudo a descrever tão somente tais condições, mas investigar o que o Estado, órgão responsável pela acolhida e permanência dessas pessoas tem feito, e pode fazer para efetivar o que em discurso já está estruturado, a verdadeira acolhida aos refugiados, no estudo em questão às refugiadas. Como corolário dessa linha argumentativa, tem-se que sem a presença ativa do Estado como agente estruturador, dificilmente o país terá condições de garantir a proteção social a esse grupo, que, como já mencionado, tem crescido a cada dia. Considerando os aspectos ora pontuados, espera-se que este trabalho possa servir como fonte adicional de consulta e interesse para todos aqueles que têm no refúgio sua área de atuação, mormente para os que se dedicam ao estudo da problemática relacionada aos direitos dos refugiados, atendendo ainda aos que buscam apreender sobre como vivem as refugiadas na megalópole paulistana. Estima-se que esta pesquisa sirva de orientação para outros pesquisadores na área do serviço social e que a mesma, diferentemente de se tornar mais uma produção nas prateleiras da academia, suscite novas discussões e novos debates na área, inquietando alguns e, em outros, despertando “novos olhares” em direção a uma realidade mais crítica, social e política acerca do refúgio e das refugiadas.

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Marisa Andrade. Refugee Women and the Labour Market: a study in São Paulo. Dissertation (Masters in Social Work). Pontifical Catholic University of São Paulo. São Paulo, 2013.

ABSTRACT

This thesis aims to present the integration into the labor market and living conditions of refugee women in São Paulo . To achieve this purpose it was necessary to thoroughly investigate the reality of refuge in the world and in Brazil , considering the homeland legislation , international conventions and treaties to which Brazil is subsidiary . Accordingly, we sought to first identify the different groups of people moving in search of refuge , were considered as refugees only those people that according to Law 9474 of July 22, 1997 in art . I were forced to flee their homes in conflict situations , for religious, ethnic , political , among others . Conflicts endanger the life, liberty and security of the population suffering threats and persecutions effective , triggering the refuge . This situation forces the flight of people from their countries in search of a better life in another that receives . But to survive in another country need to work and this triggered the research in question , in which we investigated the inclusion of these women in São Paulo labor market , considering the work category and the changing world of work in the context of the capitalist system , linked intrinsically conditions such inclusion as a determinant for survival and reflect on the living conditions of these women in their educational background , professional qualifications and consequently the mode of insertion in the labor market factor. Accordingly, we proceeded to literature , which supported the theoretical study on the topic . The theoretical appropriation in relation to history and legislation was essential to initiate the study. Through qualitative research , based on critical and analytical examination of reality investigated , we proceeded to the analysis of the object of study , as well as field research by providing information necessary to the description and interpretation of the studied phenomenon . Thus , we proceeded to the examination of this particular reality through the use of standardized techniques for data collection , such as questionnaires and in-depth interview. The contact with four organizations active on the issue of refuge provided the data and conditions for contact with the refugees . We selected a representative sample of 53 refugee women living in the city of São Paulo , which provided information relevant to the analysis developed in this work . In the research process sought to unveil the concept of work , changes in this universe , the world of work and its transformations over the historical process of capitalist society , inter - relating them to the reality of refugee women . In this process , we sought to uncover the life story of refugee women, their living conditions, as it has been given its survival . However , despite having centered his focus of interest regarding the integration into the labor market and living conditions of this social group , this study was not limited solely to describe such conditions , but investigate what the state agency responsible for acceptance and permanence of these people have done and can do to accomplish what is already structured in speech , true hospitality to refugees , in the present study to refugees . As a corollary to this line of argument , we have that without the active presence of the state as a structuring agent , the country will hardly able to guarantee social protection to this group , which , as already mentioned , has grown every day . Considering the aspects sometimes punctuated , it is expected that this work can serve as an additional source of research and interest to all those who have refuge in their area of expertise , especially for those who dedicate themselves to the study of issues related to the rights of refugees , given still seeking to apprehend about living as refugees in São Paulo megalopolis . It is estimated that this research guidance for other researchers in the social service area and that it , unlike become a production on the shelves of academia , creates new discussions and debates in the new area of concern in some and in others , awakening " new looks " toward a more critical social and political refuge and about the reality of refugee .

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

QUADRO 01 – Registro cronológico da aprovação da Lei 9.474/97

(Linha do Tempo) 59

ORGANOGRAMA 01 – Chegada ao Brasil e o processo de

tramitação para legalização da situação do solicitante de refúgio 61

QUADRO 02 – Refugiados por Continente 66

QUADRO 03 – Nacionalidades com maior representatividade de

refugiados 66

FUXOGRAMA 01 – Perfil dos solicitantes e refugiados em São

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01 Distribuição por faixa etária 112

Gráfico 02 Autodeclararão da raça/cor a que pertence 113

Gráfico 03 País de nascimento e de origem das mulheres de São Paulo 115 Gráfico 04 Principal motivo do deslocamento e de solicitação de

refúgio 118

Gráfico 05 Teve auxílio ou não para fugir de seu país 124

Gráfico 06 Fugiu com algum membro da família 127

Gráfico 07 Refugiadas entrevistadas que são mães 129

Gráfico 08 Identificação das línguas faladas 131

Gráfico 09 Anos de estudo das mulheres refugiadas no país de origem 133 Gráfico 10 Participação das refugiadas em cursos profissionalizantes em

São Paulo 134

Gráfico 11 Quais os documentos que possui 136

Gráfico 12 Conhecimento dos Direitos Trabalhista no Brasil 138

Gráfico 13 Atividades laborais que as refugiadas se consideram aptas a

realizar 140

Gráfico 14 Atividade laboral realizada pelas refugiadas em São Paulo 141

Gráfico 15 Remuneração recebida pelas refugiadas em São Paulo 143

Gráfico 16 Tipo de habitação das refugiadas investigadas 145

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACNUR Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados CF Constituição Federal

CNBB Confederação Nacional dos Bispos do Brasil CONARE Comitê Nacional para os Refugiados

CPF Cadastro de Pessoa Física

CTPS Carteira de Trabalho e Previdência Social

DIEESE Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócioeconômicos

DORT Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho DST Doenças Sexualmente Transmissíveis

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente FMI Fundo Monetário Internacional

IMDH Instituto de Migrações e Direitos Humanos

LEP Lei de Execuções Penais

LER Lesão por Esforço Repetitivo LOAS Lei Orgânica da Assistência Social MEC Ministério da Educação e Cultura

NEMESS Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Ensino e Questões Metodológicas em Serviço Social

OIT Organização Internacional do Trabalho ONG Organização não Governamental

ONU Organização das Nações Unidas

OSCIPs Organização da Sociedade Civil de Interesse Público PF Polícia Federal

PFT Penitenciária Feminina do Tatuapé

PIA População em Idade Ativa

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PSPP Programa de Software

PUC-SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

RMSP Região Metropolitana de São Paulo RNE Registro Nacional de Estrnageiro

SAMU Serviço de Atendimento Móvel de Urgência SEADE Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados SIDA Síndrome da imunodeficiência adquirida

SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem

SESC Serviço Social do Comércio – Unidade Carmo

SMADS Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento SUAS Sistema Único de Assistência Social

TICs Tecnologias de Informação e Comunicação TV Televisão

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 15

2 O PROCESSO DA PESQUISA 21

2.1 Origem da Dissertação: minha história como ponto de partida 21

2.2 Problematização e Justificativa 36

2.3 Objetivos 42

2.3.1 Objetivo Geral 42

2.3.2 Objetivos Específicos 42

3 O REFÚGIO: CONCEPÇÃO E HISTÓRICO 45

3.1 Evolução Histórica do Refúgio 45

3.2 Conceituando o Refúgio 52

3.3 Histórico dos Refugiados no Brasil 55

4 PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO E A MULHER REFUGIADA NO BRASIL 74

4.1 Flexibilização Produtiva e Precarização do Mercado de Trabalho 74

4.2 A Mulher Refugiada e a Proteção Social: realidade brasileira 85

4.3 A Mulher Refugiada e a sua Inserção no Mercado de Trabalho

Paulistano 97

5 METODOLOGIA APLICADA E ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA 104

5.1 Metodologia Aplicada na Pesquisa 104

5.2 Análise dos Dados da Pesquisa de Campo 109

5.3 Analisando os Dados sobre as Refugiadas no Município de São Paulo 110

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 148

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APÊNDICES

APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido –

Institucional 174

APÊNDICE B – Questionário Aplicado às Instituições 175

APÊNDICE C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido –

Refugiadas 177

APÊNDICE D – Questionário Aplicado às Refugiadas 178

APÊNDICE E – Roteiro de Entrevista 182

ANEXO

ANEXO A – Autorização do Comitê de Ética para a realização da

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1 INTRODUÇÃO

O início da elaboração crítica é a consciência daquilo que somos realmente, isto é, um conhece-te a ti mesmo como produto do processo histórico até hoje desenvolvido, que deixou em ti uma infinidade de traços recebidos sem benefício no inventário. Deve-se fazer inicialmente este inventário.

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1 INTRODUÇÃO

A presente dissertação de mestrado, constitutiva do processo avaliativo do Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduados em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, orientada pela Profa. Dra. Maria Lúcia Rodrigues, teve como objetivo geral examinar e analisar a inserção de mulheres refugiadas no mercado de trabalho paulistano, considerando o tipo e as condições de inserção, as quais refletem nas suas condições de vida e sobrevivência, isto é, suas condições de vida real.

A intenção em pesquisar a temática é consequência tanto da atuação profissional desta pesquisadora com mulheres refugiadas quanto da intenção em dar maior visibilidade ao tema, além de levar à academia, em especial ao serviço social, essa discussão e de questões a ela pertinentes, instigando alguns e inquietando outros a refletirem e analisarem sobre as problemáticas vivenciadas por essas mulheres, foco deste estudo.

Assim surgiu a intenção em realizar o mestrado e dessa forma iniciar o processo de investigação dessa temática, a qual se optou por estudar no decorrer deste. Pretendeu-se também, e de modo especial, revelar o processo vivenciado por essas mulheres que enfrentam em seu dia a dia a situação instável por ocasião da solicitação de refúgio. A incompreensão da língua portuguesa, a difícil integração ao local de acolhimento, além da ausência de políticas públicas específicas para atender ao público em questão são agravantes nas condições de vida e sobrevivência das refugiadas no período de solicitação do refúgio.

Nesse sentido, optou-se por desenvolver além de uma discussão teórica acerca dessa questão uma investigação mais aprofundada sobre o tema, a partir da coleta de informações em campo, mediante a abordagem de investigação qualitativa, entrevista e aplicação de questionários. Esses procedimentos técnicos foram realizados no processo da pesquisa, após a identificação e contato com algumas dessas mulheres, as quais foram convidadas a participar como informantes da pesquisa.

(17)

aplicação de um questionário, que objetivou também identificar a situação socioeconômica dessas mulheres.

Essa etapa possibilitou a seleção de algumas refugiadas para se efetivar as entrevistas semiestruturadas, apoiadas em um roteiro pré-elaborado, tendo-se como foco a inserção no mercado de trabalho da mulher refugiada na capital paulistana, que influi na sua condição de vida e sobrevivência.

Entrevistaram-se alguns profissionais de instituições que prestam atendimento direto a essas mulheres, tais como: o Comitê Nacional para os Refugiados – CONARE; o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados – ACNUR; a Cáritas Arquidiocesana de São Paulo; o Instituto Migrações e Direitos Humanos – IMDH e a Polícia Federal - PF. Esse procedimento auxiliou na coleta documental, bibliográfica, no levantamento de dados estatísticos, identificação das informantes, além da coleta dos procedimentos formais relacionados à solicitação de refúgio e outras informações pertinentes à investigação.

Como etapa permanente no percurso deste estudo, efetivou-se a revisão de literatura a partir de diversas pesquisas bibliográficas, realizadas nas bibliotecas da PUCSP, USP, UNICAMP e organizações como o ACNUR, Cáritas e o Instituto de Migrações e Direitos Humanos (IMDH). Nessas universidades e organizações concretizou-se a coleta de documentos, fontes materiais de informações que subsidiaram a produção da pesquisa.

A seleção de textos, artigos, relatórios, teses, dissertações, entre outros documentos materiais de informação, também possibilitaram identificar o interesse de outras áreas do conhecimento na referida temática. Assim, identificou algumas pesquisas realizadas sobre refugiados nos cursos de Direito, Direito Internacional, Relações Exteriores e Psicologia Social, porém, não se identificou nenhum trabalho de pesquisa relacionado aos refugiados no curso de Serviço Social da PUCSP. Também não se encontrou nenhuma discussão relacionada especificamente à mulher refugiada e à sua inserção no mercado de trabalho, tema discutido nessa pesquisa.

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direitos legais prescritos no ordenamento jurídico brasileiro (LEI 9.474/97) e nas convenções ratificadas pelo Brasil.

No decorrer do processo de investigação, mediante a apropriação de conhecimentos relacionados à temática, após os procedimentos supracitados e algumas idas a campo, inventariou-se as seções que fazem parte desta dissertação de mestrado. Essas seções, sistematizadas em capítulos, foram norteadas pela inquirição do problema e definidas no processo de elaboração deste trabalho. Esse processo orientou esta pesquisadora a desenvolver leituras a fim de desvelar conceitos fundamentais, pertinentes à compreensão e ao exame do objeto de estudo.

Com vistas a atingir esse intento, estruturou-se esta dissertação em quatro capítulos indicados a seguir, além desta introdução, das considerações finais e das referências.

No primeiro capítulo “O Processo da Pesquisa”, apresenta-se o processo desencadeador desta monografia de dissertação de mestrado, o qual se deu no final da década de 1990, período em que se passou a atuar com mulheres estrangeiras egressas do sistema prisional e refugiadas. Dessa vivência, surgiram às ideias em realizar pesquisas, a partir da experiência com pessoas excluídas, e isso influenciou na decisão de concorrer a uma vaga no mestrado em serviço social na PUC-SP, em que se apresentou o projeto que desencadeou este trabalho.

Ao ingressar no Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, no processo de realização de diversos cursos, no decorrer das discussões efetivadas no Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Ensino e Questões Metodológicas em Serviço Social (NEMESS) e por intermédio da revisão de literatura, consubstanciaram-se as etapas dos estudos e desta monografia.

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Assim, definiu-se o primeiro capítulo, compreendido pelas etapas delineadas no projeto original, tais como: o tema; a justificativa; as questões norteadoras do estudo; os objetivos orientadores (geral e específicos) e a origem da dissertação, trabalhada por meio de um resgate sucinto da trajetória de vida desta pesquisadora e que desencadeou o desejo em desenvolver este trabalho.

No segundo capítulo “O Refúgio: Concepção e Histórico”, apresenta-se uma discussão teórica sobre o Refúgio, mediante apresentação da historicidade desse fenômeno que remonta à própria existência humana. Visa-se neste capítulo apresentar a conceituação do termo e sua evolução na história, além do aspecto jurídico legal e normativo.

Discorre-se também neste capítulo sobre a demanda de refugiados nos continentes, apresentando-se sumariamente as diversas categorias de pessoas em trânsito, tendo em vista que as mulheres refugiadas são o foco deste trabalho e não os demais grupos sociais, que também se deslocam pelo mundo por diversas rações e merecem pesquisa específica.

Em seguida, apresenta-se uma discussão relacionada ao histórico dos refugiados no Brasil, nas três últimas décadas, atentando-se para a questão da inserção das mulheres refugiadas no mercado de trabalho no município de São Paulo e seus desdobramentos na vida desse grupo social.

Por último, porém não menos importante, analisaram-se os documentos e os programas de proteção sobre os refugiados presentes no Brasil, os quais disponibilizam informações e lhes resguardam alguns direitos. Constatou-se que o Brasil tem avançado no que concerne à elaboração efetiva de diplomas normativo-legais, contudo, na prática, tais documentos não contemplam a real necessidade das refugiadas.

(20)

Dessa relação injusta, decorrem tantas outras injustiças, cujas consequências desembocam na própria sociedade através do agravamento das questões sociais. Na oportunidade desenvolveu uma breve discussão referente à proteção social no Brasil e o enquadramento das refugiadas dentro desse direito de Assistência Social.

No quarto capítulo, intitulado “Metodologia Aplicada e Análise dos Dados da Pesquisa”, apresenta-se a condição de vida desse grupo em questão no município de São Paulo, com especifica atenção para sua inserção no mercado de trabalho. Faz-se uma discussão sobre a situação da mulher refugiada a partir dela mesma, isto é, relata-se a representação que a mulher refugiada tem de si mesma ao contrapor-se à sociedade brasileira: como se percebe, se vê e se sente nessa sociedade.

Nesse capítulo discutem-se ainda os resultados e apresentam-se as análises e interpretações dos dados da pesquisa de campo, considerando-se a problemática e os objetivos delineados no início do processo de investigação.

Nas Considerações Finais, respondem-se as inquirições elencadas, considerando-se as crescentes exigências impostas pelo mercado de trabalho, que preconiza qualificação permanente ao trabalhador, e sua relação com a condição real e concreta de vida e sobrevivência da mulher refugiada para sua inserção no mercado de trabalho paulistano.

Almeja-se que este trabalho, ao longo da discussão abordada, alcance o seu maior intento e explicite a inserção de mulheres refugiadas no mercado de trabalho paulistano, considerando o tipo e as condições dessa inserção, as quais se refletem nas suas condições de vida e sobrevivência no município de São Paulo.

Espera-se também expor aos interessados no assunto o significado de ser refugiada, contribuindo no sentido de ampliar olhares e oferecer debates, bem como auxiliar a elaboração de políticas públicas que visem proporcionar a esse grupo social melhorias na sua qualidade de vida, e, ao mesmo tempo, constituam-se como ferramentas que ajudem àqueles que de alguma forma possam intervir politicamente na questão.

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2 O PROCESSO DA PESQUISA

Deve-se convencer a muita gente que o estudo é também um trabalho, e muito fatigante, com um tirocínio particular próprio, não só muscular-nervoso, mas intelectual: é um processo de adaptação, é um hábito adquirido com esforço,

aborrecimento e mesmo sofrimento.

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2 O PROCESSO DA PESQUISA

Neste capítulo apresenta-se o processo desencadeador desta dissertação de mestrado, desenvolvida no Programa de Serviço Social, na Área de Concentração Serviço Social: Políticas Sociais e Movimentos Sociais, na Linha de Pesquisa Política Social: Estado, Movimentos Sociais e Associativismo Civil, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Lúcia Rodrigues.

No processo de realização de diversos cursos foi-se identificando as etapas desta pesquisa, tais como: a origem da dissertação: minha história como ponto de partida; a problematização e justificativa; os objetivos geral e específicos, orientadores da mesma; e a metodologia. A seguir, apresentam-se estas etapas.

2.1 Origem da Dissertação: minha história como ponto de partida

O objetivo deste item no trabalho é o de situar, a partir de uma etapa da vida desta pesquisadora, como se deu o processo constitutivo da pesquisa em questão, pois essa vivência certamente foi a responsável pelos caminhos que se trilhou e que se estar a trilhar. Identificar esse percurso significa remontar essas origens, uma vez que elas são fundamentais no que respeita aos objetivos autoimpostos em nossa atuação profissional, os quais perpassam o trabalho que atualmente se desenvolve como diretora do Centro Social Nossa Senhora Aparecida.

A origem deste trabalho, na verdade, remonta os anos 90 do século passado, especificamente ao ano de nossa inserção na atividade social com mulheres encarceradas, no final da década de 1990, considerando-se este como marco referencial do despertar para questões sociais, mais amadurecida e consciente no que se refere à atuação junto aos excluídos. Desde 1998 passou-se a atuar com mulheres e nos últimos doze anos dedicamo-nos às atividades com mulheres estrangeiras egressas do sistema prisional e refugiadas.

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áreas sociais, entretanto, a que mais nos interessou foi a Pastoral Carcerária, relacionada ao trabalho específico com mulheres, realidade com a qual nos identificamos profundamente, em virtude da condição de invisibilidade das encarceradas, as quais apresentavam aspectos físicos que transmitiam uma apatia, um niilismo existencial.

Dessa vivência surgiu a ideia em realizar pesquisas, a partir da experiência com pessoas excluídas, como por exemplo, os “criminosos”. Em 1999 iniciou-se um trabalho na Penitenciária Feminina do Tatuapé (PFT) e, com a finalidade de intervir junto a essa realidade, passei a atuar no que era imperativo para essas mulheres, isto é, sua situação jurídica. Em parceria com a Pastoral Carcerária, Instituto Terra Trabalho e Cidadania, Grupo de Estudo sobre as Mulheres Encarceradas, Juízes pela Democracia, apoiada pela Congregação das irmãs Palotinas na qual fazia parte, e com a criação e implantação da Defensoria Pública fizemos uma parceria entre as entidades legalmente constituídas no Estado de São Paulo com o fito de pressionar o Estado e exigir mudanças do sistema em relação ao tratamento desumano presente nos presídios.

A luta era árdua e por vezes parecia em vão, porém as frequentes idas ao sistema prisional, as conversas com as mulheres, esquecidas por todos inclusive pelos membros de sua própria família, propiciava-lhes conforto. Para muitas, nossa visita era a única coisa que lhe restava.

Buscávamos nas diversas organizações civis unir forças para fazer algo efetivo, e assim, ora alcançamos algumas conquistas, ora retrocessos. Apesar das dificuldades sempre estávamos presentes, em luta permanente contra a opressão do próprio sistema, ainda que fôssemos impotentes frente ao “[...] monstruo grande y pisa fuerte toda la pobre inocencia de la gente” . Muitos foram os crimes cometidos contra elas. Alguns responderam por seus atos, outros não. Ficou por isso mesmo, afinal quem se importa com seres que não existem!

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O trabalho desenvolvido era realizado por meio de oficinas que estimulavam as mulheres a pensarem, sentirem e falarem sobre diversos assuntos, inclusive sobre si mesmas. Estas oficinas eram promovidas por meio de diversas atividades, tais como: a exibição de filmes, palestras diversas e sobre questões pertinentes à saúde da mulher. Além disso, formamos também um coral e um grupo de teatro que se apresentavam no presídio nas datas comemorativas. E assim o nosso grupo foi criando um vínculo com essas mulheres, abalizado no respeito e compromisso mútuos, a despeito de se reconhecer que tais mulheres cometeram atos infracionais. No contexto da sociedade capitalista, sabe-se que os detentores do poder político, econômico e financeiro também cometem crimes, porém, dificilmente respondem por seus atos infracionais, o que resulta no aumento da impunidade no país, especialmente a essa classe - burguesa. Essa situação reflete um quadro de injustiça quando comparada ao sistema prisional, visto que este se constitui em um depósito de infratores pobres a quem a espada da justiça assegura o peso da lei. É com esse olhar e prática crítica que atuávamos nos presídios femininos.

Não obstante a Penitenciária Feminina de o Tatuapé possuir uma população carcerária composta por 92% de brasileiras eram as estrangeiras que todos os sábados participavam das atividades. Talvez, por falta de orientação e de hábitos culturais, só algumas brasileiras participavam das mesmas.

Em razão do rigor das revistas demorávamos a adentrar na penitenciária, o que causava ansiedade nas estrangeiras, as quais se sentiam confortadas com nossa presença, assim se expressando: “Senhora, pensava que a senhora num vinha! Tinha esquecido de nóis! Nossa! Demoraro!”

Reconhecíamos que para os agentes o processo não era fácil. Tudo era revistado: microfone, caixa de som, violão, aparelho de som, roupas para o teatro, o coral, enfim, tudo. De acordo com a oficina variava a indumentária levada, afinal todo guerreiro deve portar a sua própria arma e as nossas eram essas.

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brasileiras presas. Visita familiar, nem pensar! Também não recebiam o “jumbo” e não tinha progressão de pena, afinal, a lei prevê que para tal benefício o preso tem de comprovar residência fixa, vínculo familiar, entre outras exigências.

No caso das estrangeiras como isto pode ser possível? Daí a sua invisibilidade, situada no contexto de uma sociedade que se nega a enxergar todos os excluídos sociais, os por mim denominados de “invisíveis sociais”, os excluídos de toda sorte. Assim, incomodada com essa realidade associei-me em 2003 como voluntária à organização não governamental “ONG - Associação Mulher Vida”, formada por profissionais de diversas áreas que atuavam com mulheres prostitutas na capital paulistana. Em função de sua atuação, essa Organização precisava de membros para ampliar a sua diretoria e assumir uma Casa Abrigo, conveniada com a Secretaria de Assistência Social de São Paulo – SMADS. Mediante esse convênio o grupo passou a administrar uma casa de acolhida na Zona Norte, intitulada “Madre Cristina Sodré Dóri”, embora acolhesse vários perfis devido às exigências da Secretaria. Assim, a Instituição conseguia desenvolver um ótimo trabalho, constituindo-se como referência na prestação de acolhimento a pessoas em situação de vulnerabilidade e exclusão social.

A proposta era oferecer às mulheres um local seguro, limpo, organizado, onde as mesmas pudessem, por um período de doze meses, residir até conseguirem restabelecer sua vida. Nessa casa moravam 130 pessoas, conforme estabelecia o convênio, e entre o grupo havia as estrangeiras egressas da prisão e mulheres solicitantes de refúgio e refugiadas, que fugiram de seu país por algum tipo de perseguição e aqui vieram em busca de um porto seguro. O projeto atendia mulheres sós ou acompanhadas de seus filhos.

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profissionais da instituição e outros profissionais convidados, conforme programação.

Porém, para manter um projeto desse porte, com qualidade na prestação de serviços, não basta ter apenas uma diretoria sempre presente, necessita-se também de profissionais qualificados e bem remunerados para desenvolverem com competência e maestria as atividades do dia a dia. No período de quatro anos a “Associação Mulher Vida” prestou um serviço de qualidade a essa população, como deve ser ofertado. Não é porque está em situação de carência que merecem qualquer atendimento, um trabalho qualquer, sem compromisso, sem respeito à dignidade humana.

Após esses anos, com muita dificuldade financeira, pois a verba da prefeitura não cobria 100% dos gastos e a Instituição não tinha recursos próprios, a Associação chegou ao seu limite e para não contrair dividas, as quais não pudessem pagar, encerrou o convênio com a Secretaria em 2005 e fechou a casa “Madre Cristina Sodré Dóri”. Todos os profissionais envolvidos sentiram-se frustrados, decepcionados com os procedimentos da Secretaria, pois apesar do trabalho de qualidade, apesar dos desejos e sonhos em se construir e promover uma vida digna àqueles que estavam ali, o trabalho não foi reconhecido pela Secretaria, afinal, não se mantém com sonhos um projeto e nem se paga contas com esses mesmos sonhos. Com o fechamento do projeto as mulheres foram alocadas em albergues da prefeitura, que em nada contribuem para a promoção de uma convivência, para o cultivo da solidariedade e outros valores imprescindíveis à existência humana.

As brasileiras até conseguiam se adaptar aos albergues, porém as estrangeiras, mesmo estando em condições de extrema vulnerabilidade, devido o perfil diferenciado não conseguiam permanecer neles. Os albergues, sujos e com péssimo atendimento, só permitiam o pernoite e durante o dia exigiam a retirada dos albergados que tinham de pegar sua bagagem e ir para a rua.

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Diante dessa realidade, da condição imposta de exclusão às mulheres já excluídas socialmente, esta pesquisadora em processo de formação elaborou um projeto de moradia provisória com a finalidade de proceder ao acolhimento de mulheres refugiadas e egressas do sistema prisional, sozinha ou acompanhada de seus filhos, para que essas pudessem se beneficiar do regime de progressão de pena. Além disso, poder-se-ia também lhes propiciar uma experiência de vida diferente daquela do presídio, ofertando-lhes um local saudável de moradia até estarem totalmente livres e poderem regressar ao seu país, e no caso das mães-egressas terem a restituição da guarda de seus filhos, haja vista que ficaram em abrigos por ocasião do aprisionamento.

No caso das refugiadas a intenção era ter um espaço que possibilitasse uma convivência de confiabilidade e segurança para sua reestruturação física e emocional, uma vez que, em sua maioria fugiram de seu país devido perseguições das mais variadas formas, questão que será aprofundada nos capítulos a seguir.

Nesse período, tendo em vista o financiamento do referido projeto, buscou-se contato com vários órgãos públicos, os quais, apesar de reconhecerem a relevância do mesmo e de o elogiarem, não o assumiram efetivamente. Houve inúmeras promessas, mas nada de concreto. Muitas foram as tentativas, sem, contudo, surtirem o efeito desejado.

Em virtude de tantas negativas oficiais, partiu-se para uma nova investida, isto é, buscou-se o apoio de uma organização privada. Apresentou-se o projeto à Diretoria da Associação Palotina - Irmãs Palotinas, que se identificaram e prontamente assumiram o compromisso de pô-lo em prática. O projeto foi apresentado em assembleia da Instituição a todas as associadas e com o apoio unânime da Diretoria obteve-se o das demais, que assumiram integralmente as despesas do projeto.

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Como se tratava de um trabalho inovador, desconhecido no meio jurídico, no princípio os juízes não concediam a progressão de pena para as presas estrangeiras. Era necessário iniciar o trabalho, colocar a casa em funcionamento para que as autoridades pudessem acompanhar à seriedade do mesmo e reconhecê-lo como contributo para a população desassistida pelo Estado. Em função disso, o projeto iniciou mediante o acolhimento das refugiadas, que em termos jurídicos possuem regulamentações legais diversas das presas.

As refugiadas no Brasil são regulamentadas por lei própria, a Lei 9.474, de 22 de julho de 1997, a qual define mecanismos para a implementação do Estatuto dos Refugiados de 1951, e determina outras providências. Por intermédio dessa lei há a definição de refugiado, assim como é criado o CONARE - Conselho Nacional para os Refugiados, órgão de deliberação coletiva, no âmbito do Ministério da Justiça.

Após alguns meses de funcionamento, por meio da participação em eventos sociais e em reuniões da rede social de São Paulo, o projeto passa a ser conhecido, atraindo a atenção de profissionais da área social, interessados em apreciar o trabalho pioneiro. A partir desse momento, com a divulgação do trabalho, os juízes mudam de atitude e passam a considerar o projeto como referência para acolhida das estrangeiras egressas do sistema prisional, concedendo a progressão de pena também às estrangeiras, agora com maior frequência.

As solicitantes de refúgio e refugiadas, diferentemente das presas, não cometeram crimes, mas, em contrário senso, foge das atrocidades cometidas em seus países, das guerras, de situações de morte perpetradas pelo país de origem, em grande parte pelo próprio governante do país, de perseguição religiosa, política, entre outras. Essas se constituem como algumas das razões das fugas em busca de um país que possa acolhê-las e permitir-lhes viver dignamente, em paz, longe das barbáries, perseguições e crueldades de seus países.

Geralmente, chegam muito vulneráveis ao Brasil, como por exemplo, nos casos em que perderam todos os membros de sua família, constituindo-se como única sobrevivente. Algumas chegam somente com a roupa do corpo e nada mais, sem referências para onde ir, sem qualquer contato, diagnosticadas inclusive com um quadro depressivo.

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exclusão, ter um lugar onde morar, um abrigo, uma Casa de Acolhida onde residir, comer e saciar as necessidades básicas constitui-se em um conforto.

Diante desse contexto de total exclusão, o projeto foi constituído e implantado, tendo em vista acolher tanto as mulheres refugiadas quanto as estrangeiras egressas do sistema prisional, ofertando-lhes moradia provisória para que pudessem adquirir condições mínimas de sobrevivência independente. Assim teve início o trabalho na Casa de Acolhida, o qual funciona até hoje, vinte e quatro horas por dia, contando com a presença de funcionárias em todos os períodos.

Em 2007, em razão de meu desligamento da congregação, afastei-me por um período do grupo em questão, porém em 2009 retomei minhas atividades profissionais junto ao mesmo. A partir de 2010 passei a coordenar a Casa de Acolhida, atuando na função até a presente data. Ante as inúmeras dificuldades, pois a referida Casa é totalmente financiada pela Associação Palotina, passou-se a concorrer publicamente a editais, que visam desenvolver atividades sociais, no intuito de receber auxílio financeiro e implementar projetos que desenvolvam habilidades de formação profissional às mulheres residentes na Casa de Acolhida e às educadoras.

A aprovação de alguns projetos possibilitou o desenvolvimento de oficinas profissionalizantes, assim como, em parceria com o SESC e com a Cáritas, promoveu-se a formação educacional, especialmente a relacionada com o ensino da língua portuguesa. Nesse interim e paulatinamente amadureci o meu interesse em desvelar as situações de exclusão vividas pelas mulheres refugiadas, em especial as residentes na Região Metropolitana de São Paulo, haja vista esta ser uma megalópole repleta de contradições, de inclusões e exclusões que permeiam a realidade de quem vive na cidade, seja refugiado, seja egresso do sistema prisional ou não.

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As grandes tendências globais constituem-se como causas para essas fugas, tais como: o desenvolvimento demográfico, a urbanização, a escassez de víveres e de água potável, de matérias-primas, as guerras, as perseguições étnicas e conflitos religiosos, crises econômicas, políticas e sociais, além das agressões ambientais e das mudanças climáticas. As condições supracitadas agudizam as situações de conflito e obrigam as pessoas a abandonar as suas pátrias.

Segundo António Guterres (2010), Alto-Comissário das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), o século XXI será o século das pessoas em fuga. Guterres enfatiza que é preciso um debate internacional sobre o tema. Decerto que o aviso, divulgado no 10º Simpósio sobre Proteção aos Refugiados da Academia da Igreja Protestante, tem fundamento, pois hoje se tem no mundo mais de 45 milhões de pessoas que necessitam de proteção.

O aumento da exclusão social e de refugiados no mundo, nas últimas décadas, conforme supracitado deve-se também ao deslocamento migratório provocado pelas políticas excludentes e seletivas do sistema capitalista que determinam e impõem, por intermédio de políticas econômicas, financeiras e mercantis os modos de vida da população mundial, resultando em um processo multidimensional que ultrapassa a esfera doméstica, a fronteira do Estado Nacional e alcança esferas internacionais, mediante a mundialização do capital.

A exclusão dos refugiados, provocada pelas crises cíclicas estruturais do capital, denominado neoliberalismo, teve início na década de 1970, conforme assinalam Walt Rostow e John Kenneth Galbraith (MÉSZÁROS, 2007, p. 125-126), quando a maioria da população mundial se encontrava em uma situação de privação das condições mais elementares de vida, tais como: o desemprego estrutural, o subemprego, o precário sistema de transporte público e de saúde, a fome, o baixo nível das condições de ensino e a deficitária situação de moradia daqueles que vivem em favelas, as quais têm se proliferado, apesar das promessas liberais de pleno emprego, progresso para todos e fim da pobreza.

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Boito Jr. (2002) assinala que os pilares da política neoliberal representam apenas os interesses da burguesia e do imperialismo, concebidos pela política de desregulamentação do mercado de trabalho e de redução dos direitos sociais, pela política de privatização e pela abertura comercial e financeira. Observa-se, portanto, que nesses pilares não são contemplados pelo neoliberalismo os interesses da grande maioria da população, motivo pelo qual se encontram excluídos, conforme já assinalado.

Segundo Dupas (1999) situam-se entre os excluídos mais de vinte categorias de indivíduos, a saber:

[...] os desempregados de longo prazo; os empregados em empregos precários e não qualificados; os velhos e os não-protegidos pela legislação; os pobres que ganham pouco; os sem-terra; os sem-habilidades, os analfabetos, os evadidos da escola; os excepcionais físicos e mentais; os viciados em drogas; os deliquentes e presos (grifos nossos); as crianças problemáticas e que sofreram abusos; os trabalhadores infantis; as mulheres (grifos nossos); os estrangeiros, os imigrantes e os refugiados

(grifos nossos); as minorias raciais, religiosas e em termos de idiomas; os que recebem assistência social; os que precisariam mas não têm direito à assistência social; os residentes em vizinhanças deterioradas; os pobres que têm consumo abaixo do nível considerado de subsistência (sem tetos e famintos entre outros); aqueles cujas práticas de consumo e de lazer são estigmatizadas; os socialmente isolados, os sem-amigos ou sem-família. (DUPAS, 1999,p. 21).

Observa-se que esse contingente representa uma multidão de pessoas sem condições de sobrevivência digna, constituindo-se este como um dos fatores que provocam a mobilidade da população no mundo. Diante desse crescente quadro de exclusão, haveria possibilidade de o sistema capitalista superar a atual crise neoliberal? Essa é uma questão colocada presentemente ao capitalismo global.

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aspecto da vida, possuindo várias dimensões, tais como: culturais, jurídicas, sociais, políticas e econômicas.

Assim, é possível identificar a globalização econômica, ao lado da globalização cultural, da globalização política e assim por diante. Embora sejam distinguíveis diferentes aspectos do fenômeno da globalização, isto não significa que eles sejam estanques e independentes, haja vista que no contexto capitalista são indissociáveis. A globalização econômica influencia fortemente as demais dimensões do fenômeno do deslocamento humano, cuja massa de refugiados almeja “incluir-se” como sujeitos de direitos e encontrar estabilidade em outros países, carregando consigo o fardo das suas vicissitudes e de seus países de origem.

O fenômeno da globalização econômica, nesse contexto, pode ser considerado como uma das causas para a migração humana que se verifica na recente história mundial; migração esta que está a reclamar uma verdadeira redefinição da questão político-jurídica de proteção aos refugiados e migrados na sociedade contemporânea.

O movimento de refugiados e a necessidade de políticas de proteção adequada aos mesmos constituem-se, portanto, em um fato social que no contexto atual passou a ser responsabilidade do Estado neoliberal, uma vez que se transformou de promotor de bens e serviços a coordenador das iniciativas privadas à sociedade civil e ao mesmo tempo a provedor de serviços sociais à parcela da sociedade definida como excluídos, incluídos aí as mulheres refugiadas e egressas do sistema prisional.

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Enquanto coordenadora da Casa de Acolhida, a despeito de compreender essa realidade, buscou-se promover inúmeras ações que contribuíssem na formação e posterior inserção dessas mulheres no mercado de trabalho, porque se entende que não tem sentido sob-hipótese alguma, qualquer que seja a exclusão, exploração e a violação de direitos. Isso implica em reconhecer que não é possível conviver com “menos exploração e violação”, mas deve-se ter como finalidade das ações bani-las, recusando-se consensos que apenas as amenizam e reduzem o acirramento das contradições.

Entretanto, compreende-se que as ações efetivadas para o pequeno grupo atendido podem parecer insignificantes, diante do grande contingente de mulheres “desassistidas”, excluídas de toda sorte. Isso não significa, no entanto, que não se deva prosseguir com o trabalho supracitado, não obstante, precisa-se buscar ampliá-lo.

O reconhecimento das contradições como negações inclusivas, implica compreender a existência de forças em disputa e acreditar na possibilidade de superação. Antes de tudo, implica assumir o compromisso social com o enfrentamento das desigualdades em uma sociedade capitalista, instigando processos sociais emancipatórios e contribuindo para a construção de novos patamares de sociabilidade.

Nesse contexto, e procurando dar continuidade ao trabalho já desenvolvido e à experiência vivenciada ao longo desses anos com mulheres refugiadas, considerando-se o comprometimento profissional e interesse em desenvolver trabalhos de pesquisa na área da assistência social, buscou-se a inserção no mestrado da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em Serviço Social, a fim proceder à investigação que ora se realiza.

Vale ressaltar que não se trata simplesmente de conhecer o assunto ou de tentar resolver dificuldades presentes nas vidas das mulheres com as quais se convive, mas intenta-se, sobretudo, desvelar as reais condições de trabalho das mulheres refugiadas no contexto paulistano, considerando-se questões como: inclusão/exclusão no mercado de trabalho; formação/profissionalização/qualificação para promoção da inserção no mercado de trabalho; inserção formal ou informal; precarização da inserção, além de outras.

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interpenetram e exercem influências recíprocas, quanto fornecerão dados específicos sobre as mulheres refugiadas e o mercado de trabalho disponível a essa população, considerando a sua inserção formal, informal ou ainda a sua não inserção no referido mercado de trabalho paulistano. A partir do exame supracitado poder-se-á analisar as condições de sobrevivência dessas mulheres no contexto social paulistano.

Assim, a partir do ingresso no mestrado, mediante a matrícula e inscrição nas disciplinas cursadas, sentiu-se necessidade em ampliar, conforme já assinalado, o cabedal de conhecimentos acerca das mulheres objeto deste estudo, enveredando-se na apropriação de massa crítica relacionada ao tema na tentativa de compreender as questões supracitadas, tendo em vista as mudanças significativas ocorridas neste final de século: o neoliberalismo, a globalização, os avanços tecnológicos, o desemprego, a crise de empregos, a profissionalização das mulheres refugiadas, além de outras. Essas questões exercem influência quanto à questão da inserção da mulher refugiada no mercado de trabalho brasileiro, objeto deste estudo. Iniciou-se esse processo a partir de leituras que pudessem subsidiar a compreensão do refúgio. Nessa direção, ainda de modo insipiente, buscou-se compreender o conceito de refugiado, assim como a garantia jurídica que congrega o termo, isto é, a conotação conceitual e conotação de proteção jurídica dirigida aos refugiados, a qual teve seu início somente na segunda metade do século XX, no contexto histórico pós Segunda Guerra Mundial que gerou grande número de refugiados.

A Segunda Guerra Mundial levou as Nações Unidas a elaborarem a Convenção que regulou a situação jurídica dos refugiados, devido a crescente preocupação internacional com a difícil situação destes. A chamada Convenção dos Refugiados foi aprovada pela Assembleia Geral da ONU em 28 de julho de 1951, vigendo a partir de 21 de abril de 1954. Elaborada em um contexto histórico de supervalorização do Princípio da Soberania dos Estados, a Convenção de 51, em seu art. 1º definia refugiado como:

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queira a ele regressar. (CONVENÇÃO RELATIVA AO ESTATUTO DOS REFUGIADOS DAS NAÇÕES UNIDAS, 1951).

A Convenção de 51 além de trazer a primeira definição de refugiado, uniformizando os requisitos para reconhecimento da condição de refugiado em âmbito global, trouxe ainda princípios de suma importância ao Direito Internacional dos Refugiados. Contudo, embora essa definição, encontrada na Convenção dos Refugiados, seja utilizada pelas organizações internacionais, como as Nações Unidas, o termo continua a ser mal empregado e erroneamente utilizado na linguagem comum do dia-a-dia. Os meios de comunicação, por exemplo, frequentemente confundem os refugiados com as pessoas que migram por razões econômicas (“imigrantes econômicos”) ou com grupos de perseguidos que se mantém dentro de seus próprios países e não cruzam nenhuma fronteira internacional (“deslocados internos”).

Nesse processo de busca conceitual, após leituras realizadas em bibliografias diversas, além de consultas efetivadas em diversos sites na internet, observou-se que definição supracitada passou por alterações em função da evolução histórica e legislativa do conceito, devido à limitação temporal, relacionada aos acontecimentos ocorridos antes de 1951, e a limitação geográfica, por estar relacionada aos acontecimentos ocorridos na Europa.

Detectou-se que o conceito de refugiado presente na Convenção de 51 não conferia efetiva proteção a todos aqueles que fugissem de seus países, em virtude de perseguições arbitrárias. Nesse sentido, somente obteria a proteção jurídica de um terceiro Estado o indivíduo que se enquadrasse no conceito de refugiado contido no art. 1º da Convenção de Genebra de 1951.

Em decorrência de outros acontecimentos políticos no cenário mundial, os quais provocaram fuga de grandes contingentes populacionais e criaram novas ondas de refugiados, a ONU aprovou o “Protocolo de 1967 sobre o Status de Refugiados”, no intuito de eliminar a restrição que limitava a Convenção às situações ocorridas até 1º de janeiro de 1951. O referido Protocolo se limitou a revogar somente as reservas temporal e geográfica da Convenção de 51, mantendo o requisito da violação dos direitos civis e políticos. (DOLINGER, 2008).

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abrangendo pessoas que fugiram de seus países de origem porque sua vida, segurança ou liberdade foram ameaçadas por motivo de perseguições e/ou violações de direitos humanos ou por outras circunstâncias que tenham perturbado gravemente a ordem pública.

Em 22 de julho de 1997 foi aprovada uma lei brasileira que representou um grande avanço na questão do refúgio, a qual trouxe normas específicas sobre refugiados e regulamentou o procedimento a ser seguido no Brasil em relação à concessão do refúgio. A Lei n º 9.474 define mecanismos para a implementação do Estatuto dos Refugiados, dispondo no artigo 48 que os seus preceitos deverão ser interpretados em harmonia com a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, com a Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados de 1951, com o Protocolo sobre o Estatuto dos Refugiados de 1957 e com todo dispositivo pertinente de instrumento internacional de proteção de direitos humanos com o qual o governo brasileiro esteja comprometido.

A semelhança do disposto na Convenção da Organização da Unidade Africana de 1967 e na Declaração de Cartagena de 1984, a Lei 9.474/1997 também estendeu a definição de refugiado aos indivíduos que “[...] devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país” (LEI 9474/1997, artigo 1º, inciso III).

Depreende-se disso que o estatuto do refúgio no Brasil apresenta-se bastante consolidado, tanto em termos de documentos internacionais quanto em termos de legislações internas. A atual Lei ampliou tanto o conceito de refugiado contido na Convenção de 51, quanto aquele contido no Protocolo de 1967, pois passou a reconhecer como refugiado toda pessoa que não têm seus direitos humanos respeitados no seu país de origem. Também passou a considerar como refugiado aquele indivíduo que se vê obrigado a deixar seu país de nacionalidade devido a grave e generalizada violação de direitos humanos.

Considerando-se o contexto formal da Lei, percebe-se que a mesma assegurou o gozo efetivo dos direitos humanos aos indivíduos, visto que qualquer violação de direitos humanos pode suscitar a proteção da pessoa na condição de refugiado e não somente a violação de seus direitos civis e políticos.

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ser respeitados, seguidos e cumpridos em todo território nacional. Diante disso, este trabalho reveste-se de especial valor, visto que se propõe a investigar de fato, na realidade concreta, os direitos e garantias legais disponibilizados em favor de mulheres refugiadas, foco deste estudo, a fim de que estas possam inserir-se no mercado de trabalho brasileiro, em especial o paulistano, garantindo-lhes o direito de fato de tornarem-se cidadãs.

2.2 Problematização e Justificativa

O interesse por essa temática emergiu de vários questionamentos empíricos e teóricos formulados ao longo do processo de trabalho junto a essas mulheres, buscando compreender: as dificuldades enfrentadas pelas mesmas em relação a sua inserção no mercado de trabalho; as especificidades de suas necessidades e sua interferência na formação dessas mulheres; as condições de adaptabilidade social; os conflitos presentes no confronto de culturas distintas, entre outras questões.

Estudar essa problemática não consistiu apenas em examinar como ocorrem as inserções de mulheres refugiadas no mercado de trabalho, mas intentou-se desvelar as condições de vida e sobrevivência dessas mulheres, suas condições socioeconômicas, a partir de seus relatos, em especial os relacionados à sua inserção no mercado de trabalho, uma vez que eles reproduzem materialmente a realidade vivenciada pelas mesmas.

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Em síntese, objetivou-se, por meio deste trabalho, oferecer à sociedade e demais interessados no assunto algumas especificidades desse processo, considerando-se o tipo de inserção, em que setores, quais condições, mediante garantia de direitos trabalhistas ou não, além de buscar identificar se essa inserção propicia à população foco deste estudo condições dignas de sobrevivência.

Essas e outras indagações auxiliaram na realização da pesquisa, considerando-se que há muito mais a ser inquirido e respondido no que respeita à inserção dessa mulher no mercado de trabalho, assim como suas condições de vida material (concreta) vivenciadas pelas mulheres refugiadas no Brasil.

Imbuída em responder as problematizações supracitadas, procedeu-se a seleção no mestrado no curso de Serviço Social da PUC-SP, na área de concentração Serviço Social: Políticas Sociais e Movimentos Sociais. Buscou-se a inserção na linha de pesquisa Política Social: Estado, Movimentos Sociais e Associativismo Civil, como meio de estreitar a relação entre a atividade profissional e a atividade acadêmica exercida por esta pesquisadora em processo de formação.

A realização desta pesquisa, portanto, possibilitou a esta acadêmica tanto um embasamento teórico mais consistente, quanto propiciou a análise crítica da inserção no mercado de trabalho das mulheres refugiadas no município de São Paulo, considerando o tipo e as condições dessa inserção, as quais implicam nas suas condições de vida e sobrevivência.

De posse desse aporte teórico-prático, teve-se melhores condições para examinar essa questão na realidade concreta, mediante procedimentos metodológicos e técnicos definidos e implementados no decorrer da investigação. Além disso, esse processo de apropriação de conhecimento forneceu também elementos importantes à atuação profissional desta pesquisadora.

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A presente pesquisa também está ligada a estudos realizados desde o início do nosso trabalho profissional com mulheres refugiadas em que se busca compreender a complexa questão dos refugiados, como já assinalado.

Os movimentos de refugiados, referentes a indivíduos que deixam seus países de origem e tentam se estabelecer em outros Estados retratam os fluxos de pessoas através das fronteiras nacionais e vêm se acentuando nas últimas décadas. Consequentemente, esse grupo de indivíduos constitui um problema para os países que os acolhem e muitas vezes para os países da região.

Essa mobilidade engrossa “o caldo” dos desarranjos sociais, provocando ainda mais as tensões na busca pela sobrevivência, pois, tem-se no sistema capitalista um mercado de trabalho que “[...] exclui em massa e inclui seletivamente” (SILVA, 2006), realidade essa vivenciada pela própria população brasileira que, quando inserida, encontra-se em condições de exploração e precarizadas. Se a situação da população brasileira é essa, será diferente a inserção de mulheres refugiadas no Brasil, sem domínio do idioma e da cultura local?

Além disso, com o avanço científico-tecnológico e das tecnologias de informação e de comunicação (TICs), o mercado de trabalho passou a requerer profissionais com características diferenciadas, considerados mais qualificados para o exercício e execução de tarefas que exigem novos saberes e novas relações. Diante dessa realidade novas funções surgem e substituem as velhas e ultrapassadas atividades exercidas no mercado de trabalho, gerando com isso uma mudança dinâmica e estrutural da força de trabalho, requerida pelo capital em sua voraz expansão.

Nesse contexto, a maioria das trabalhadoras, com mão-de-obra não qualificada, constitutiva do grande contingente de trabalhadores desempregados, passa a incorporar o rol daqueles mais excluídos entre todos, os despossuídos de tudo, em condições mais precarizadas e subumanas, de extrema miséria, de degradação absoluta.

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Gráfico 1 – Distribuição por faixa etária
Gráfico 2 – Autodeclaração da raça/cor a que pertence
Gráfico 3 – País de nascimento e de origem das mulheres de São Paulo
Gráfico 4 – Principal motivo do deslocamento e de solicitação de refúgio
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