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DOS DADOS DA PESQUISA

5 METODOLOGIA APLICADA E ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA

5.2 Análises dos Dados da Pesquisa de Campo

A investigação de campo, propriamente dita, iniciou-se em março 2012 e prorrogou-se até março de 2013, mediante contatos em São Paulo com as Instituições representativas dos refugiados. No início do ano de 2012 elaboraram-se o questionário e o roteiro de entrevista de pesquisa, os quais visaram atingir os dois segmentos sociais: as refugiadas e as instituições públicas e privadas representativas dos refugiados.

Ainda em 2012 iniciaram-se as entrevistas com as instituições, estendendo-se até 2013. O objetivo inicial dessas entrevistas foi levantar informações sobre as refugiadas, tanto quantitativas quanto qualitativas, associado a este procedimento

levantou-se pela internet sobre a presença de refugiados na cidade de São Paulo, a partir de fontes do CONARE, ACNUR e IMDH.

Apresentar-se-ão a seguir, as análises dos dados coletados em campo. 5.3 Analisando os Dados sobre as Refugiadas no Município de São Paulo

A presente subseção expõe as análises dos dados obtidos a partir das observações, dos questionários e entrevistas aplicados às 53 refugiadas residentes no município de São Paulo, que formam um subconjunto típico representativo da população de estrangeiras reconhecidas como refugiadas, que em solo brasileiro adquirem os mesmos direitos dos estrangeiros, conforme expressa a lei n°. 6.815 de 19 de agosto de 1980, intitulada Estatuto do Estrangeiro.

Os dados obtidos por meio dos questionários, das entrevistas e da observação direta, realizadas por ocasião das entrevistas em lugares diversos, serviram para elucidar os problemas e as proposições elencados na pesquisa, com a finalidade de complementar e identificar prováveis contradições presentes quando do cruzamento das informações obtidas.

Para proceder à análise desses dados, utilizou-se o software PSPP, um software livre que permite gerar relatórios tabulados e gráficos com a finalidade de realizar inferências sobre as correlações entre as variáveis selecionadas para avaliar as condições socioeconômicas e de inserção das mulheres no mercado de trabalho paulistano.

O software PSPP foi adotado devido sua compatibilidade com o sistema operacional do Windows, além de permitir o acompanhamento dos cálculos executados, possibilitando a conferência das análises descritivas e inferenciais geradas.

Segundo Michel Boaventura (2010), tradutor do PSPP para português, uma das principais vantagens deste “software livre” é permitir análises rápidas, não importando o número de dados ou variáveis envolvidos nas análises, além de funcionar em diferentes sistemas operacionais.

Importa assinalar também que este software adequou-se plenamente à linha estatística utilizada neste trabalho, a análise descritiva e inferencial. Este ramo da estatística, empregado neste trabalho, opera na análise e interpretação de dados amostrais, usados na mensuração de uma parcela pequena, porém típica da

população investigada, de modo que tais informações possibilitem fazer inferências sobre toda a população foco do estudo (STEVENSON, 1981, p. 2).

Segundo Stevenson (1981), o trabalho com amostragem permite que se reduzam as questões complexas, a formas mais simples e compreensíveis, motivo pelo qual se adotou a amostragem de 53 refugiadas no presente trabalho, constituída por sua tipicidade representativa da população de refugiadas residentes no município de São Paulo, apresentadas por meio dos gráficos identificados a seguir.

Os gráficos expostos na sequência identificam o perfil das 53 mulheres refugiadas informantes. Quanto à faixa etária, o gráfico 1 exibe a distribuição das mulheres em três grupos: as que se encontram na faixa etária entre 17 a 29 anos, entre 30 a 39 anos e aquelas situadas entre 40 a 53 anos de idade. A análise por grupos etários revelou que 77,3% das refugiadas estão em idade abaixo dos 40 anos, faixa etária considerada como população em idade ativa economicamente (PIA), isto é, apta para o trabalho. Somente 22,7% situam-se com idade entre 40 a 53 anos, porém, mesmo esse grupo encontra-se apto a se inserir no mercado de trabalho.

Esses valores percentuais estão em concordância com os dados apresentados pela Cáritas do Brasil no período de 2012, que registra em seu banco de dados 66% da população feminina refugiada presente em São Paulo com idade abaixo dos 50 anos. Esses dados, no entanto, revelam-se diferentes dos apresentados pelo Relatório Anual do ACNUR para o mesmo período, segundo o qual identifica em nível mundial um percentual 85% de refugiadas entre a faixa etária entre 18 a 30 anos.

A presente pesquisa detectou entre as investigadas da cidade de São Paulo um percentual de 37,7% de mulheres refugiadas na faixa etária entre 17 a 29 anos e outro percentual de 39,6% na faixa etária de 30 a 39 anos, os quais somados (77,3%) constituem um grupo majoritariamente jovem com idade economicamente ativa, em condições de trabalhar, como se pode observar no gráfico 1 apresentado a seguir.

Gráfico 1 – Distribuição por faixa etária

Fonte: Protocolo da pesquisa - dados da autora, 2013.

Dando-se continuidade ao perfil das mulheres refugiadas investigadas na cidade de São Paulo, detectou-se em relação ao critério “autodeclaração da raça/cor a que pertence” que a proporção de “pretas” é 3 vezes maior que a das outras raças/cores autodeclaradas, constituindo um percentual efetivo observado de 73,6%.

Ainda em relação a esse critério percebeu-se que as informantes se autodiscriminam no que concerne ao critério raça/cor, haja vista a diferença observada pela pesquisadora e a autodeclarada por ocasião da entrevista. Para a pesquisadora somente 3,8% da amostra de mulheres refugiadas investigadas são brancas, entretanto 20,8% se autodeclaram brancas. Em relação às pardas, detectou-se um percentual de 22,6%, porém somente 5,7% se autodeclararam pardas, conforme apresentado no gráfico 2.

Gráfico 2 – Autodeclaração da raça/cor a que pertence

Fonte: Protocolo da pesquisa - dados da autora, 2013.

Por ocasião da aplicação dos questionários e das entrevistas observaram- se entre o grupo pesquisado refugiadas com peruca loura, outras com fios de cabelos lisos e tingidos de louros, outras com mechas louras trançadas aos seus cabelos; além das que mantiveram os seus próprios cabelos crespos e pretos. Na experiência profissional desta pesquisadora, em sua atuação com esse grupo social, é comum encontrá-las com perucas de outras cores, preferencialmente com cabelos bem lisos e claros.

Também na aplicação dos questionários e nas entrevistas observaram-se autodiscriminações nas falas das investigadas, quando da resposta à autodeclaração do critério da raça/cor. Algumas refugiadas se espantavam com a pergunta “qual é a sua cor?”. Olhavam para seus braços e respondiam: “ah, essa é minha cor”.

Dois casos chamaram a atenção: as informantes Carla e Roberta30, originárias de países do continente africano (Congo e Angola), ao serem inquiridas sobre a questão da sua raça/cor, apesar de efetivamente serem de raça negra (cor preta), declararam-se da seguinte forma: “ah, eu sou chocolate, mas é mais pro branco”; a outra respondeu o seguinte: “essa cor aqui! No meu país eu sou branca, mais aqui para o Brasil eu sou preta, né?” Em seguida fez-se a essas mulheres

30 Em todo o trabalho para identificar as falas das informantes, serão utilizados nomes fictícios,

outra pergunta: Mas, e você? Qual é a cor que você considera ter? Elas responderam: “Eu sou morena, mais pra branca”.

Os dois casos supracitados confirmam os dados apresentados no gráfico 2, o qual identifica essas autodiscriminações de raça presentes em mulheres provenientes, em sua maioria, do continente africano. Razões históricas ajudam a entender essas contradições proporcionadas pelo gráfico 2 e reforçadas pelas falas das informantes.

Nas falas acima e nas reações de várias refugiadas entrevistadas, ao responderem sobre a questão “qual a sua raça/cor?”, identificou-se essa autodiscriminação racial nas informantes, a qual lhes foi imputada historicamente por seus colonizadores, a semelhança do que assinala o antropólogo Munanga (2009), que em seus escritos sobre a cultura africana revela:

[...] as qualidades humanas foram retiradas do negro. Colocado à margem da história, da qual nunca é sujeito e sempre objeto [...]. É através da educação que a herança social de um povo é legada às gerações futuras e inscrita na história. Colonizados, privados de sua cultura e da escola tradicional, proibida e combatida, para os filhos negros a única possibilidade era o aprendizado do colonizador, ou seja, a memória que lhe foi inculcada não foi a de seu povo; a história que lhe ensinam é outra (europeia); os ancestrais africanos foram substituídos por gauleses e francos de cabelos loiros e olhos azuis; os livros estudados lhe falavam de um mundo totalmente estranho [...] (MUNANGA, 2009, p.23).

Os resquícios da colonização africana podem ser percebidos nos comportamentos culturais e educacionais adotados pelas atuais gerações, que continuam a padecer o processo exploratório e colonizador, apesar dessa exploração/colonização, na atualidade, apresentar-se metamorfoseada pelo capital, travestida nesses chamados “tempos pós-modernos” de globalização31, viabilizada por intermédio dos projetos educacionais neoliberais, ofertados pelos países desenvolvidos, pelo Banco Mundial, pelo FMI como única possibilidade para a superação e eliminação da miséria no continente africano32.

Ainda em relação ao perfil, levantou-se o país de nascimento e o de origem das informantes, objeto deste estudo. Nesse quesito detectou-se, conforme

31 A esse respeito ver: MUNANGA, Kabengele. Negritude: usos e sentidos. Belo Horizonte: Autêntica, 2009. 32 Para um maior aprofundamento a esse respeito ver: MUNANGA, Kabengele. A identidade no

contexto da globalização. Ethos Brasil, São Paulo, ano I, n.1, mar. 2002.; MUNANGA, Kabengele.

expressa o gráfico 3 a seguir, que 54,6% das refugiadas vieram da República Democrática do Congo, 9,4% da Colômbia, 7,6% da Angola, 7,5% da Eritréia, além de outros com menores percentuais, conforme identificado no gráfico 3. Os dados revelam que em sua maioria as refugiadas estão fugindo de seu próprio país para o Brasil, sem passar por outros países.

Gráfico 3 – País de nascimento e de origem das mulheres de São Paulo

Fonte: Protocolo da pesquisa - dados da autora, 2013.

Segundo relatado pela maioria das informantes, elas buscam um país onde não haja conflitos e perseguições, vividos em seu país de origem. Desejam uma nova vida que lhes permita viver em segurança, no intuito de alcançarem estabilidade social e econômica de modo que possam resgatar das situações de conflitos e de miséria, os demais membros da família que ficaram para trás. Trazem consigo a esperança de um dia reaproximarem toda a família novamente, oferecendo-lhes melhores condições de vida.

Por ocasião de uma entrevista, perguntou-se a uma das refugiadas: “Por que o Brasil?” Ela respondeu que a propaganda que passa em seu país noticia que as pessoas estão muito bem no Brasil. Informou que os meios de comunicação, em especial a televisão, sobretudo a TV Globo, veicula que: “[...] no Brasil tem muito trabalho, ganha bem, as pessoas estão vivendo bem por aqui”33.

Segundo outras informantes o motivo de terem optado pelo Brasil se deu por influências de “coiotes34”, também chamados de atravessadores, os quais inventam muitas histórias e mentem aos interessados nos seus serviços criminosos e clandestinos.

Outra questão relacionada ao gráfico 3 diz respeito à decisão adotada pelo ACNUR em 2012, o qual cessou a concessão de refúgio para os originários de Angola, justificando a decisão devido às informações oficiais do país que notificou não haver mais conflitos, perseguições políticas, entre outros motivos que possibilitasse a concessão de refúgio pela referida agência. Desta forma, os dados do citado gráfico revelam o baixo percentual de refugiadas com nacionalidade angolana (9,4% ), seguido de 7,6% das que se declararam originárias de Angola, diferentemente do registrado pelo ACNUR nos anos 2010 e 2011, que registrou em seu banco de dados um elevado percentual de refugiados de Angola.

Segundo as refugiadas entrevistadas, apesar da extinção dos conflitos civis em Angola, há inúmeros motivos que justificam a concessão de refúgio, tais como: as perseguições, a miséria, péssimas condições de saúde e falta de saneamento básico, proliferação de muitas doenças (SIDA, DST), fome, falta de trabalho, em resumo, a falta de condições dignas de vida e sobrevivência. Todas as entrevistadas foram unânimes ao responder: “não tem trabalho35”. A fala de uma refugiada angolana revela as condições precarizadas de vida em Angola, comparando-a a vida no Brasil:

[...] aqui no Brasil a genti faz qualqué coisa; a genti vai e paga você. Lá se você trabalha para alguém, ninguém paga você, porque ninguém tem dinheiro! A genti tá a passá fome memo lá, dói no coração vê a criança tá a pedi coisa pra comê e você não tem o que dá, a genti é mãe, isso não é bom pro coração. Eu tô aqui, e fica a pensa se meu filho que tá lá, hoje tem o que comê, dói muito o

34 É a designação dada aos atravessadores de pessoas nas fronteiras. Atuam ilegalmente, vez que

comercializam o trânsito internacional de pessoas por vias clandestinas. Cobram de suas vítimas preços exorbitantes para a realização do serviço que nem sempre é concluído, pois há casos inclusive em que a pessoa morre na travessia devido às irregularidades. Dizem-lhes que já levaram para o Brasil muitas mulheres com sucesso e elas voltaram com muito dinheiro, arrumaram suas casas, compraram roupas novas, ostentam melhorias financeiras. Dessa forma vendem falsos “pacotes de viagem” repletos de ilusões, mentiras, possibilidades e oportunidades, que na maioria das vezes não se concretizam. Essas situações foram relatadas à pesquisadora pelas refugiadas do continente africano entrevistadas.

35 Todas as angolanas entrevistadas relataram não haver nenhuma fonte de renda no país: “não tem

trabalho”. Também relataram a existência da fome, da miséria, de péssimas condições de vida, de sobrevivência, assim como a falta de saneamento básico e de escola para as crianças.

coração da genti36. (REPRODUÇÃO DA FALA DE UMA REFUGIADA DE

ANGOLA).

Em relação à concessão oficial refúgio, à Lei 9.474 de 22 de julho de 1997 prescreve em seu art. 1° que será reconhecido como refugiado todo indivíduo que:

I – devido a fundados temores de perseguição por motivo de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas e encontre-se fora de seu país de nacionalidade e não possa ou não queira acolher-se à proteção de tal país;

II – não tendo nacionalidade e estando fora do país onde antes teve sua residência habitual, não possa ou não queira regressar a ele, em função das circunstâncias descritas no inciso anterior;

III – devido à grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país.

Os meios de comunicação frequentemente divulgam informações sobre as intensificações de conflitos e perseguições por motivos variados. Segundo a ONU a cada ano mais de cinco milhões de pessoas cruzam fronteiras para viver em países considerados desenvolvidos, porém esse número é muito maior quando se trata de países em desenvolvimento. As razões para tanta mobilidade geralmente referem-se à fuga de perseguições, conflitos ou violações de direitos humanos.

As informações coletadas nesta pesquisa quanto à identificação do principal motivo do deslocamento e de solicitação de refúgio pelas informantes investigadas, encontram-se apresentadas no gráfico 4 a seguir.

36 Fala de uma angolana entrevistada, referindo-se à situação miserável pela qual passa a maior

parte da população desse país. Ela tem quatro filhos; os três mais novos vieram com ela e o mais velho ficou para ajudar o pai e a avó. A sua intenção é trazer toda a família para o Brasil.

Gráfico 4 – Principal motivo do deslocamento e de solicitação de refúgio

Fonte: Protocolo da pesquisa - dados da autora, 2013.

Conforme apresenta o gráfico 4, o principal motivo das informantes terem saído de seus países, deixando em muitos casos seus filhos, toda sua família, sua história de vida para trás foram os conflitos armados, representando um percentual de 83%. Essas mulheres declararam em entrevistas que não tiveram alternativas, pois viramseus países se tornarem um campo de guerra permanente, quase sempre resultando em total destruição, desprovendo-lhes de proteção, de trabalho e de condições mínimas que lhes possibilitasse uma sobrevivência digna. Assim, deslocaram-se de seus países a fim de buscar abrigo em um país distante, longe das guerras, segundo relato de uma das entrevistadas,

[...] os filhos da genti cresce e vê essa genti que tá a matá, eles vai cresce assim, com o coração mal, coração duro, o pai deles sai e vai trabalha, tudo dia, mas um dia não volta mais, que fala pra eles do pai deles, eu num sabe que vai fala, eles pergunta do pai deles, eu também num sabe cadê o pai deles (REPRODUÇÃO DA FALA DE UMA REFUGIADA DE ANGOLA). Outro motivo que levou as investigadas a se deslocarem diz respeito às perseguições políticas. Das 53 mulheres respondentes 41,5% relataram que o motivo do deslocamento referiu-se à perseguição política. Depreende-se que este também se constitui um percentual elevado, permitindo-se analisar que os dois motivos mais expressivos encontram-se cruzados nas respostas das informantes. Na esteira dos conflitos armados, a questão política também se coloca como um dos motivos significativos, que associados relevam o deslocamento supraidentificado, os

quais obrigam as pessoas a fugirem em busca de refúgio. Essa realidade foi constatada a partir da fala de algumas refugiadas, como no caso a seguir:

Meu marido tava a trabalha para a polícia, nóis tava a vive bem, mas chefe dele passo a dize que ele tava a traí o governo, meu marido num tava a traí. [...] e aí chefe dele manda prende meu marido, ele sofreu muito, bateram muito nele, mais Deus ajudo ele a fugi e nóis veio pra cá. Lá tá muito mal, tão a matá muita genti. Eu to grávida, num podia fica lá, então nóis fugiu pra cá, agora nóis vai vive aqui [...] (REPRODUÇÃO DA FALA DE UMA REFUGIADA DE GUINÉ CONACRE).

Os governos ditatoriais, com seus exércitos sanguinários, financiados e treinados pelos países desenvolvidos, produziram e promovem guerras por motivos de poder políticos e econômicos que acarretam destruições e muitas mortes. Essas situações levam, conforme o registrado nesta pesquisa, a elevados índices de deslocamento, segundo dados da ONU.

Em meio a toda opressão vivenciada por diversos povos, impostas por esses governos ditatoriais, surgem grupos paramilitares que reproduzem as agressões políticas, aumentando a violência contra a população. O relato a seguir de uma refugiada colombiana exemplifica essa situação:

[...] era um domingo eu tinha ido almoçar com minha mãe, e meus irmãos estavam em casa; a comida estava quase pronta, a gente estava feliz, ouvindo música, brincando. Então chegaram uns homens procurando o “taco” meu irmão, ele ouviu e foi para o quintal ver quem era; eles nem falaram e já foram batendo nele, eu comecei a gritar e pedir para parar, minha mãe começou a passar mal e eles continuavam batendo nele, meu outro irmão conseguiu fugir e se escondeu; uns homens foram atrás dele. Eles mataram meu irmão na minha frente e da minha mãe, eu pensei que eles ia matar todos nós, eu implorei a santa virgem que não deixasse nada acontecer a mim e minha mãe. Eles quebraram tudo dentro de casa e falaram que se a gente abrisse a boca para alguém eles voltariam para fechar de vez. Minha mãe ficou muito mal e teve que ir para o hospital na cidade. Minha irmã, com dois filhos, foi morar com minha mãe; meu irmão que fugiu para o mato, nunca mais eu vi, não sei se mataram ou se ele conseguiu fugir; já tem um ano. Estou trabalhando no salão e mando dinheiro para minha família, mas tenho que reservar para mim também. Tudo é muito difícil (REPRODUÇÃO DA FALA DE UMA REFUGIADA DA COLOMBIA).

Entre morrer ou viver aterrorizados, passando fome e desprovidos de condições dignas de sobrevivência, essas pessoas optam por correr o risco do deslocamento, nem sempre tranquilo, arriscando-se a travessias perigosas, as quais podem ou não ser bem sucedidas. Talvez seja a única e última alternativa para

essas pessoas oferecerem a si e aos seus familiares uma possibilidade de vida digna, mediante sua reconstrução em outros lugares.

Ainda em relação ao gráfico 4, observa-se, com percentual menor, que 7,5% das mulheres investigadas declararam como motivo do refúgio questões relacionadas à perseguição religiosa. Em nome da fé, as pessoas são obrigadas a mudar de religião ou são mortas, ou se veem obrigadas a fugir de seus países,