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A Mulher Refugiada e a Proteção Social: realidade brasileira

4 PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO E A MULHER REFUGIADA NO BRASIL

4.2 A Mulher Refugiada e a Proteção Social: realidade brasileira

As constantes transformações sociais, já amplamente discutidas, têm gerado uma movimentação de pessoas pelo mundo em busca de melhores condições de vida, conforme apresentado nos capítulos anteriores.

Essas mudanças, ocasionadas pela institucionalização da flexibilização do trabalho, consequência da revolução tecnológica e pela precarização das condições

de trabalho, requerem novas soluções aos problemas apresentados, mediante a criação de programas que visem à proteção de grupos sociais emergentes, que ao longo da história da humanidade vão surgindo e também se metamorfoseando, como, por exemplo, os sujeitos refugiados.

Sabe-se, no entanto, que a história de pessoas que saem de seus países em busca de melhores condições de vida é antiga. Também é de conhecimento público que o Brasil é signatário de acordos, tratados e leis internacionais sobre o refúgio, portanto, se o reconhecimento de refúgio pelo governo brasileiro já demanda certo tempo, percebe-se que o tema em questão não é novo, embora desconhecido.

O que se apresenta de novo no cenário do refúgio são as atuais demandas que tem se intensificado pelo mundo, nas quais se encontram mulheres, crianças e idosos. Segundo documento do ACNUR (2009), os sujeitos refugiados estão mais expostos às situações de violações de direitos:

Estas pessoas geralmente enfrentam uma série de riscos a sua proteção: ameaças de detenções e prisões, “refoulement”, assédio, exploração, discriminação, abrigos superlotados, bem como vulnerabilidade à violência sexual e baseadas em gênero, HIV- AIDS, contrabando de tráfico de pessoas (ACNUR, 2009, p. 2).

Acresce-se ao número de solicitantes de refúgio no Brasil os grupos acima expostos, ou seja, pessoas que já em sua chegada necessitam de proteção social, visto que a assistência que é universal, e, portanto, para todos, passando a ser também para os recém-chegados advindos de todas as partes do mundo.

E esse respeito Ramirez (2011), por ocasião da comemoração dos 60º aniversário da Convenção de 1951 sobre o Estatuto dos Refugiados, afirmou que:

Por ironia histórica, este ano será recordado pela convergência de diversos conflitos e desastres naturais de diferentes tipos [...] em que os fluxos migratórios forçados se expressam com a desesperada e trágica fuga de milhares de civis. Na maioria das vezes, essas pessoas se refugiam em países economicamente desfavorecidos, com carências endêmicas da infraestrutura mais básica e dos serviços públicos mais elementares (RAMIREZ, 2011, p. 7).

Assim, os refugiados ao adentraram o território brasileiro, passam a ser de responsabilidade do Estado, obrigando-se o governo brasileiro a prestar a devida assistência básica requerida pelos mesmos. Portanto, tal grupo social necessita de atendimento da assistência social, aumentando o número da demanda que depende de assistência pública para suprir suas necessidades básicas. No entanto, esse grupo social é quase sempre desassistido, além de ficar exposto a riscos de

proteção, como detenção e deportação, conforme informa o documento do ACNUR (2009):

[...] o ACNUR reconhece as dificuldades que podem surgir em situações onde número significativo de refugiados reside em áreas urbanas. Tais movimentos podem pressionar consideravelmente os recursos e serviços que já não atendem as necessidades dos pobres urbanos. Refugiados que se mudam para uma cidade, geralmente ficam expostos a riscos de proteção, como detenção e deportação, especialmente em situações em que estejam oficialmente excluídos de áreas urbanas e do mercado de trabalho (ACNUR, 2009, p. 3).

O agravamento da situação tem se dado devido às guerras deflagradas em escala global, que mundialmente provocam o aumento do número de refugiados, como assinala o representante do ACNUR no Brasil:

Os horrores da guerra atingem todas as esferas, deixando uma profunda e indelével marca na sociedade, e nos indivíduos que a integram. A constatação mais trágica é que a população civil é quem cada vez mais sofre com os terríveis embates da violência bélica. A natureza dos confrontos militares no século XXI tem se tornado ainda mais complexa, e os mecanismos de prevenção de conflitos não parecem estar funcionando. O ano de 2012 está sendo ainda pior do que o anterior, na medida em que o mundo está sendo fortemente abalado por conflitos internos, os quais têm resultado em números recordes de refugiados (RAMIREZ, 2012, p. 7-8). Esses fatos acarretam um aumento na demanda no que concerne aos serviços públicos e sociais, já tão insuficientes à população nacional. Sposati (2009) salienta que a ideia de proteção contém um caráter preservacionista – não de precariedade, pois determina a noção de segurança social como a de direitos sociais, conforme assinalado a seguir pela autora:

Supõe antes de tudo, tomar a defesa de algo, impedir sua destruição, sua alteração. A ideia de proteção contém um caráter preservacionista – não da precariedade, mas da vida, supõe apoio, guarda, socorro e amparo (grifos nossos). Esse sentido preservacionista é que exige tanto a noção de segurança social como a de direitos sociais (SPOSATI, 2009, p. 21).

Pensar a proteção social a partir desse viés de atendimento integral ao refugiado, em suas diversas necessidades, implica pensar na preservação da vida do gênero humano. As refugiadas o são, porque tiveram seus direitos ameaçados em seu país de origem. Exilam-se em busca de um lugar e local que lhes dê segurança e lhes possibilite, minimamente, condições para sobreviver. Constata-se, entretanto, que as garantias sociais dos refugiados, em especial das refugiadas, são constantemente violadas por parte do Estado.

Dois movimentos ocorrem em relação a essas refugiadas. O primeiro diz respeito àquelas que vêm com os filhos, que em sua maioria são menores de idade.

Devido a isso não possuem condições para trabalhar, restando-lhes como responsabilidade os cuidados consigo mesmas e com sua prole. O segundo movimento diz respeito às que chegam sós, cujos filhos permaneceram em seus países de origem. Estas últimas arriscam-se em fuga sozinhas com o fito de inicialmente se organizarem no país que as acolhe e somente após isso se preocupam em trazer os filhos, inclusive pensam também em trazer outros membros da família em momentos mais oportunos.

As que chegam com os filhos encontram dificuldades de se inserirem no mercado de trabalho, pois para que isso ocorra dependem de outros fatores como encontrar vagas em creches para poderem trabalhar. A demora na inserção dura em média dezoito meses ou mais. As dificuldades em ter onde deixar seus filhos influi nas condições para conseguirem a inserção, vez que sequer podem participar de cursos de língua portuguesa, tampouco podem frequentar cursos profissionalizantes. As dificuldades de acesso ao mercado de trabalho e de proteção aos filhos afeta diretamente nas perdas de direitos garantidos e assegurados por lei, que segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em seu Art. 53 prescreve que:

A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-lhes:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

V - acesso a escola pública e gratuita próxima de sua residência. (ECA, 2008, p. 203-204).

O Art. 53 do ECA, em seu caput, ressalta a primazia para o desenvolvimento da pessoa antes de qualquer outra preocupação de que venha a ocorrer. Portanto, essas crianças refugiadas devem ter garantido o seu acesso à creche, à escola pública, gratuitas e próximas a sua residência, uma vez que a negação de tais direitos implica no descumprimento do Estatuto.

Essas crianças, para terem assegurado o seu pleno desenvolvimento, necessitam que o município, como o responsável por essa proteção, cumpra sua função, isto é, oferte-lhes, conforme prescrições legais, creches e escolas públicas gratuitas que as recebam e assegurem seus direitos, pois somente assim, assistidas pelo município, suas mães poderão realizar cursos e buscar condições efetivas que viabilizem sua inserção no mercado de trabalho.

O não cumprimento legal por parte do município no que concerne à oferta de vagas em creches e escolas às crianças, filhos das solicitantes de refúgio ou refugiadas, atinge diretamente suas mães ao chegarem ao Brasil, visto que, sem o apoio devido e a desproteção aos filhos ficam impossibilitadas de promoverem o seu próprio desenvolvimento, por meio de ações que favoreçam a sua formação, qualificação profissional e inserção social, imprescindíveis à sobrevivência de forma autônoma.

As mulheres solicitantes de refúgio e refugiadas buscam no Brasil o apoio e a proteção que lhes foi negada em seu país de origem. Esperam encontrar no ordenamento jurídico do país que lhes dá refúgio, o respaldo necessário para a preservação de sua vida. Na letra da Lei 9.474/97 é possível encontrar essa garantia, conforme indicam Carlet e Milesi (2006):

[...] A Lei 9.474/97, além de ser um avanço na internalização do Direito Internacional dos Refugiados, constituiu-se também numa política pública de amplo significado nesta causa. Com o amadurecimento da temática e o debate sobre a importância do acesso dos refugiados à educação, ao

trabalho, à saúde, à moradia, ao lazer (grifos nossos), o Brasil vem

reconhecendo, em termos legais e teóricos, a necessidade de implementação de políticas públicas específicas e a possibilidade de acesso dos refugiados às políticas existentes, ao amparo, como já dissemos, da disposição constitucional de tratamento paritário entre nacionais e

estrangeiros residentes no país [...] (CARLET e MILESI, 2006, p. 134).

A Lei 9.474/97 expressa as principais proteções que o refugiado requer para viver no país de refúgio, como: educação, trabalho, saúde, moradia e lazer. Essas necessidades, também requeridas e direito da sociedade em geral, devem ser implementadas por meio de políticas públicas que reconheçam esses refugiados como sujeitos de direitos no país.

Entretanto, a realidade vivenciada de fato pelos refugiados e por todos os excluídos sociais no Brasil revelam um quadro crescente de extrema pobreza, o qual é considerado como alarmante por estudiosos que examinam as necessidades sociais da população, medida segundo a capacidade de consumo de bens básicos. Pode-se afirmar, assim, que os direitos previstos na Lei supracitada e a realidade dos refugiados são díspares, conforme afirma Teixeira (2008), em seu estudo:

Estudos e diagnósticos sobre as necessidades sociais têm sido nos anos recentes profícuos na demonstração de um quadro alarmante da pobreza, medida segundo a capacidade de consumo de bens básicos. Sem pretender reproduzi-los, torna-se necessário identificar a maneira como descodificar a pobreza, a fim de discutir a sua pertinência no encaminhamento das políticas de proteção social. Em geral esses estudos se alicerçam em indicadores econômicos e demográficos capazes de

descrever a inserção no mercado de trabalho, o nível de renda, o consumo de alguns bens e serviços e finalmente os efeitos dessa situação na saúde e educação. (TEIXEIRA, 2008, p. 47).

A constatação do aumento da pobreza pode ser evidenciada nas condições de vida da população de refugiados que vive no Brasil, os quais dependem quase que exclusivamente da assistência benemérita de entidades assistenciais- filantrópicas, sem qualquer apoio do Estado brasileiro.

Diante da desproteção estatal a que estão expostas às refugiadas no Brasil, resta-lhes os parcos serviços que lhes são ofertados, oferecidos pelas entidades filantrópicas, instituições em sua maioria ligadas à igreja católica, que acolhem os solicitantes de refúgio e refugiados. No município de São Paulo há uma casa que oferece moradia e atende especificamente a esse público, a mulher refugiada só ou acompanhada de seu(s) filho(s), intitulada “Centro Social Nossa Senhora Aparecida”.

Até a conclusão deste estudo não se teve informações sobre outro atendimento com moradia destinado especificamente ao atendimento da mulher refugiada no Brasil. Essa casa é mantida por uma organização filantrópica de cunho religioso e não recebe qualquer subvenção de órgãos públicos, do ACNUR ou de qualquer outra organização privada. A referida entidade é mantida mediante recursos próprios, do trabalho das freiras sócias da congregação religiosa mantenedora.

Diante da falta de políticas públicas, de assistência social, de condições de sobrevivência, de trabalho, de moradia, de saúde, de educação, de lazer, enfim, do desrespeito à dignidade humana, essa população submete-se a condições miseráveis de vida, mínimas de sobrevivência, de limitada subsistência. Milesi (2007), refere-se a essa problemática enfatizando que,

[...] o acesso desses refugiados aos serviços de saúde, educação e moradia é prejudicado, seja porque a legislação local restringe o atendimento aos nacionais e migrantes em situação regular, seja porque os migrantes refugiados têm medo de procurar esses serviços, em virtude de experiências anteriores em que foram detidos como irregulares ou por falta de informação. Em relação aos serviços de saúde mais especificamente, as diferenças culturais e de comunicação podem contribuir para os problemas no atendimento e na formação do vínculo entre o profissional da saúde e o refugiado. Já no que diz respeito à moradia, os migrantes refugiados não são contemplados em programas públicos e, por isso, suas opções ficam restritas a albergues ou residências em condições precárias de habitação (MILESI, 2007, p. 54).

Sposati (1988), apesar de não discutir a questão da assistência social aos refugiados, afirma que o Estado não dá conta de responder às necessidades dos cidadãos, visto que, segundo esta autora:

[...] as políticas sociais brasileiras, e nelas as de assistência social, embora aparentem a finalidade de contenção da acumulação da miséria e sua minimização através da ação de um Estado regulador das diferenças sociais brasileiras, têm conformado a prática gestionária do Estado nas condições de reprodução da força de trabalho como favorecedoras, ao mesmo tempo, da acumulação da riqueza e da acumulação da miséria social (SPOSATI, 1988, p.11).

Esse quadro apresentado por Sposati, gerado por um Estado regulador das diferenças sociais brasileiras, de contenção da acumulação, da miséria e sua minimização, não visa solucionar os problemas de desproteção da maioria da população, mas ao invés disso amplia a miséria social e econômica brasileira, presenciando-se o crescimento daqueles que vivem em miséria absoluta, sem possuir o mínimo necessário para sobreviver.

Depreende-se disso a contradição presente entre a realidade de fato e o que dispõe o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) em seu Parágrafo Único, Art. 2º, o qual apregoa que;

A assistência social realiza-se de forma integrada às políticas setoriais, visando ao enfrentamento da pobreza, à garantia dos mínimos sociais, ao provimento de condições para atender contingências sociais e à universalização dos direitos sociais (SUAS, 2005).

Na prática, os recursos alocados para proteção e assistência social resumem- se à distribuição de cestas básicas e de campanhas realizadas pelas igrejas e associações de bairro. Restringem-se também a políticas sociais compensatórias de transferências de renda sob a forma de bolsas oficiais, tais como: bolsa família e bolsa escola.

O modelo de desenvolvimento assumido pelo Estado brasileiro atual, baseado em políticas compensatórias, submete a nação às determinações da globalização neoliberal em crise, reprimariza a economia, explorando os bens naturais e humanos para a exportação, transformando-os em commodities. Este modelo viola o direito dos povos e ameaça a vida do planeta, impactando as comunidades rurais e urbanas, as classes trabalhadoras e a população em geral (CNBB, 2013).

Além dos prejuízos e impactos ocasionados pelo atual modelo colonizador adotado pelo Estado brasileiro, outro fator que dificulta a vida das mulheres refugiadas que necessitam da assistência social brasileira são os estigmas

imputados às mesmas. Para receberem o benefício de qualquer bolsa oficial, essas mulheres passam pela avaliação quanto ao grau de necessidade. Nessa seleção costumam ser discriminadas por serem estrangeiras, em relação à situação de necessidades dos pobres nacionais.

Essas refugiadas encontram enormes dificuldades para o acesso às políticas públicas de proteção social brasileira devido a variados motivos, tais como: o idioma, a falta de conhecimento dos profissionais sobre essa categoria, o documento emitido pelo governo brasileiro através da Polícia Federal que não é reconhecido e por vezes não é aceito pelos profissionais públicos que atendem essas pessoas, além de outros.

Os próprios assistentes sociais criam obstáculos ao atendimento a essas mulheres e não sabem como atuar profissionalmente em relação à concessão de benefícios às refugiadas, tampouco buscam alternativas para solucionar os problemas. Ao se depararem com alguma situação de proteção às refugiadas, os assistentes sociais negam o atendimento ou repassam o problema para as entidades privadas que atuam com esse público.

Presentemente não há informações sobre a existência de um programa de governo que atenda, resolva ou aponte caminhos para solução dos problemas dos refugiados no Brasil, em especial das refugiadas. As escassas possibilidades de apoio e auxílio são provenientes, como já amplamente assinalado, do atendimento das entidades privadas. Conforme já discutido anteriormente, isso se dá desde a entrada das mesmas no país e se estende ao longo de seu processo de legalização, às vezes perdurando mesmo depois da obtenção do refúgio.

O trabalho realizado pelas entidades e associações privadas acaba por substituir a obrigação do Estado para com essa demanda. Considera-se a situação intrigante e cômoda para o Estado brasileiro, pois apesar de signatário de acordos, tratados e leis internacionais sobre o refúgio, adequa-se ao discurso neoliberal deferido por Ele ao afirmar que não dispõe de verbas para assistir mais esse grupo social, visto que sequer consegue implementar políticas públicas à população nativa. O discurso e as políticas neoliberais reforçam a desobrigação do Estado quanto ao atendimento às refugiadas, ao afirmar que a sociedade civil deve ser responsável pela assistência a essas mulheres, cabendo aos governos somente o apoio às entidades privadas. Essa inversão de responsabilidades promovida pelo Estado pode ser constatada na crítica expressa pelo presidente do CONARE, por

ocasião de sua participação na Mesa de Abertura do “IX Encontro Nacional das Redes de Proteção aos Refugiados”, realizado em Brasília, em maio de 2013:

[...] Existe um déficit político de direitos [...]. Déficit de medidas públicas para integração dos estrangeiros por parte do Estado [...] A Rede Nacional de Proteção aos Refugiados é um caminho a ser seguido; como o Estado fará isso, não sei, mas precisa agir [...]. Não acho que o Estado deva substituir o avanço da sociedade civil, mas que o Estado tem a obrigação de fazer, no mínimo, igual à sociedade civil e apoiar todas as atividades da sociedade civil [...] inclusive promovendo a integração dos refugiados no país que os refugiou (IX ENCONTRO NACIONAL DAS REDES DE PROTEÇÃO AOS REFUGIADOS, 2013).

Não obstante a crítica improvisada pelo presidente do CONARE ao Estado percebe-se também em sua fala a presença do discurso neoliberal, segundo o qual o Estado deve “[...] fazer, no mínimo, igual à sociedade civil e apoiar todas as atividades da sociedade civil [...]”, ao invés de ser Ele o mentor e executor, o primeiro a prover as necessidades desses indivíduos.

Assim, tanto o CONARE quanto o Estado remetem à sociedade civil a responsabilidade pela assistência e prestação de serviço a essa população, eximindo-se ambos de parte de suas responsabilidades e reproduzindo as políticas neoliberais norteadas pelo Estado, que apregoam a mínima intervenção do Estado na economia no intuito de liberalizar o mercado, considerando que este é capaz de se autorregular.

A presença da política neoliberal do Estado em relação à garantia dos direitos do cidadão e na conduçãoda política de assistência social pode ser observada no expresso na Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS, 1993), que em seu Art. 5º aponta como diretriz a “[...] primazia da responsabilidade do Estado na condução da política de assistência social, em cada esfera de governo”, deixando aberta a possibilidade de delegar essa responsabilidade a outras instituições privadas e organizações da sociedade civil (LOAS, ART. 5º, III, 1993) (Grifos nossos).

Em São Paulo, verifica-se o supracitado, preconizado no Inciso III da LOAS (1993), ao se constatar a terceirização da assistência social, oferecida pelas entidades assistenciais-filantrópicas e outras organizações da sociedade civil, embora o disposto na LOAS em seu Art. 1º tratar da assistência social como direito do cidadão e dever do Estado, citado a seguir:

A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é política de

seguridade social não contributiva, que prevê os mínimos sociais, realizada

através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas. (LOAS,

Essa terceirização da assistência social no estado de São Paulo, sob a gestão de organizações sociais, nem sempre é ofertada adequadamente, pois as entidades que a oferecem não são devidamente equipadas, isto é, indispõem de recursos materiais, físicos e humanos adequados a esse fim.

A maioria dessas organizações, a despeito de suas boas intenções, conta com profissionais sem as devidas formações para a prestação especializada do