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O ensino médio politécnico no estado do Rio Grande do Sul: O princípio pedagógico da pesquisa e a reconstrução dos saberes docentes na escola pública

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Academic year: 2021

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UNIJUI - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL- PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO NAS CIÊNCIAS

ROSMARI MARODIN GOBO

O ENSINO MÉDIO POLITÉCNICO NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL: O PRINCÍPIO PEDAGÓGICO DA PESQUISA E A RECONSTRUÇÃO DOS SABERES DOCENTES NA ESCOLA PÚBLICA

Ijuí 2018

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ROSMARI MARODIN GOBO

O ENSINO MÉDIO POLITÉCNICO NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL: O PRINCÍPIO PEDAGÓGICO DA PESQUISA E A RECONSTRUÇÃO DOS

SABERES DOCENTES NA ESCOLA PÚBLICA

Dissertação apresentada no Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUI/RS), na Linha de Pesquisa 1, Currículo e Formação de Professores, como requisito parcial para obter o título de Mestre em Educação.

Orientador: Prof. Dr. Sidinei Pithan da Silva

Ijuí 2018

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.

Catalogação na Publicação

Eunice Passos Flores Schwaste CRB10/2276

G575e Gobo, Rosmari Marodin.

O ensino médio politécnico no Estado do Rio Grande do Sul: o princípio pedagógico da pesquisa e a reconstrução dos saberes docentes na escola pública / Rosmari Marodin Gobo. – Ijuí, 2018.

222 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Educação nas Ciências.

“Orientador: Sidinei Pithan da Silva”.

1. Educação. 2. Ensino Médio Politécnico. 3. Reconstrução Curricular. 4. Pesquisa. 5. Saberes Docentes. I. Silva, Sidinei Pithan da. II. Título.

CDU: 373.6(816.5)

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Para:

Meus filhos Tiago, Lucas e Daniele, pelo apoio, carinho e incentivo nesta caminhada. A vocês, amores da minha vida, meu desejo para que tenham sempre presente o agir com justiça, compreensão e de forma ética.

À minha neta Maria Eduarda que alegra meus dias com seu sorriso e na vivacidade de ser criança ajudou- me a transcrever as entrevistas. À você meu amor a certeza que vale a pena lutar por um mundo melhor.

À memória de meu pai Ângelo pela sabedoria de ensinar-me o valor do estudo e de mostrar-me, pelo exemplo, o viver com simplicidade, buscando o bem comum.

À memória de minha mãe Luiza pela luta diária para que eu estudasse e pela firmeza com que conduziu meus passos e vivendo a virtude da perseverança, me fez forte nas adversidades da vida.

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AGRADECIMENTO

À Unijuí pelo apoio financeiro para a realização deste estudo.

Ao professor José Clóvis de Azevedo, Secretário de Educação do RS-gestão 2011-2014, pela oportunidade de experienciar um novo desafio profissional, permeado de muitas aprendizagens.

À professora Maria Eulalia do Nascimento, Secretária Adjunta e equipe Pedagógica da Secretaria de Educação do Estado do Rio Grande do Sul no referido período, pelo desafio de colocar em curso uma proposta educativa que tem em seu âmago a liberdade de criar, compreender e encontrar saídas para construção dos projetos de vida dos sujeitos da escola pública.

Aos colegas professores e direções das escolas da rede pública estadual pela disponibilidade de aceitarem participar dessa pesquisa. Seus depoimentos tornaram esse trabalho possível, revestindo-o de sentidos e significados.

Agradeço a todos os colegas do mestrado pelo apoio, incentivo e partilha de saberes, tecendo novas possibilidades de olhar o outro em sua singularidade.

Ao professor Sidinei Pithan da Silva, orientador desta pesquisa, por partilhar seu conhecimento, orientando-me com perspicácia, segurança e amorosidade no percurso, dando-me autonomia para escolher os caminhos desta pesquisa, incentivando-me nos momentos difíceis a seguir em frente. Obrigada pela compreensão, amizade e sabedoria: sua humana essência e docência marcaram minha trajetória de vida.

Aos professores do Mestrado, pelas aprendizagens, reflexões e possibilidades de interpretar o conhecimento com outros olhares.

À amiga e colega Solange Rufino, com quem tive o privilégio de partilhar afetos, vivências, preocupações, sonhos e experiências profissionais que me tornaram mais sensível aos que precisam de um olhar amoroso e de aposta na sua capacidade de aprender. Nossa caminhada em diferentes espaços de amizade e profissionais possibilitaram-me inúmeras aprendizagens na minha constituição docente.

À professora Jaqueline Moll pelas aprendizagens e inspiração ao ler seus escritos e ouvir suas mediações encharcadas de um saber ímpar na defesa da educação pública como direito de todos na perspectiva da emancipação das pessoas excluídas pela sociedade

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desigual. Obrigada por participar da banca e contribuir com esta pesquisa que expressa um pouco da realidade da escola pública e de seus sujeitos.

À professora Lenir Basso Zanon pelo incentivo, sugestões e acompanhamento do processo do Ensino Médio Politécnico e por acreditar com determinação que é possível construir experiências pedagógicas que respondam à complexidade da vida.

Ao professor Otávio Aloísio Maldaner que, com sua sabedoria, experiencia a docência com paixão, determinação e rigor profissional. Obrigado por compartilhar seus saberes a respeito do valor da formação continuada dos educadores e do quão importante é o professor refletir sobre sua prática e dar sentido ao seu trabalho. Agradeço o carinho e o acolhimento no programa de Pós- Graduação em Educação nas Ciências e as preciosas sugestões para qualificar a pesquisa que ora submeto a outras leituras possíveis.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CNE- Conselho Nacional de Educação

DCNEB Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica DCNEM Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio

EM Ensino Médio

EMP Ensino Médio Politécnico

ENEM Exame Nacional do Ensino Médio

LDBN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional OCEM Orientações Curriculares para o Ensino Médio

PCN Parâmetros Curriculares Nacionais

PNE Plano Nacional de Educação

PNFEM Pacto Nacional Pelo Fortalecimento do Ensino Médio

ProEMI Programa Ensino Médio Inovador

PPDA Plano Pedagógico Didático de Apoio SI Seminário Integrado

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Evolução das taxas de rendimento do Ensino Médio Figura 2: Taxa de escolarização bruta e líquida no Brasil Figura 3: Taxas distorção idade/série no Ensino Médio RS Figura 4: Taxas de Rendimento Ensino Médio RS-2005-2013 Figura 5: Rendimento Ensino Médio 2011 no RS

Figura 6: Taxas de Rendimento Ensino Médio por CRE RS 2012 Figura 7: Taxas de Rendimento Ensino Médio por CRE RS 2013 Figura 8: Taxa IDB Ensino Médio RS

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LISTA DE APÊNDICES

1- Quadro Síntese das narrativas dos sujeitos da pesquisa que evidenciam os resultados com a reconstrução curricular do EMP.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...15 CAPÍTULO I...26 A POLÍTICA PÚBLICA PARA A EDUCAÇÃO NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL NO PERIODO DE 2011 - 2014: O ENSINO MÉDIO POLITÉCNICO...26 1.1. A educação pública como direito: uma virada paradigmática ... .35 1.2. Princípios e Diretrizes da Proposta do Ensino Médio Politécnico do Rio Grande do Sul: um processo em construção ... 49 1.3. Formação dos gestores regionais: um caminho para a reflexão sobre a construção da proposta para o Ensino Médio ... 56 1.4. Apresentação e debate da proposta do Ensino Médio Politécnico aos professores: participação, tensão e resistência ... 58 1.5. As conferências do ensino médio politécnico- momento de debates e participação dos atores escolares ... .64 CAPÍTULO II...73 RAZÕES E FUNDAMENTOS DA RECONSTRUÇÃO CURRICULAR DO ENSINO MÉDIO NO RIO GRANDE DO SUL...73 2.1. O Ensino Médio público no RS: desafio de mudança curricular ... 74 2.2. Compromisso dos gestores com a democratização da educação e a promoção da cidadania: um olhar para os sujeitos do ensino médio na escola pública ... 87 2.3. O Ensino Médio no Brasil: Revisitando os conceitos de educação, trabalho e politecnia, na perspectiva de reconstrução do Ensino Médio na escola pública ... 98 2.3.1. Perspectivas históricas da educação brasileira: O Ensino Médio neste contexto...100 2.3.2. Educação, politecnia e trabalho na perspectiva de formação integral do ser humano...115 2.4. A pesquisa como princípio pedagógico no Seminário Integrado: espaço de investigação e produção do conhecimento no cotidiano da escola. ... 127

CAPÍTULO III...141

A RECONSTRUÇÃO DOS SABERES DOCENTES: PERSPECTIVAS CONTEMPORÂNEAS...141 3.1. A formação continuada e a reconstrução dos saberes docentes no contexto da Reforma Curricular do Ensino Médio Politécnico: percepção dos professores do Seminário Integrado ... 153 3.2. Seminário Integrado como momento curricular: significados atribuídos pelos professores em suas práticas de ensino ... 166 3.3. Novas práticas no Ensino Médio: o professor pesquisador, planejamento interdisciplinar, organização do clima escolar do tempo e do espaço escolar ... 175 3.4. Memorial de vida dos professores, registros para reflexões sobre o saber docente em reconstrução ... 180

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3. 5. Aprendizagens construídas pelos professores do Seminário Integrado nas práticas de ensino

com o princípio da pesquisa: reflexões sobre o experienciado ... 187

3.6. No contexto do ensino pela e com pesquisa: a formação do aluno pesquisador como indicador de mudança ... 191

CONSIDERAÇÕESFINAIS...197

REFERÊNCIAS...202

APÊNDICES...209

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RESUMO

Para refletir sobre a complexidade dos saberes que constituem a docência, esta pesquisa assume como referência de estudo a Proposta de Reconstrução Curricular do Ensino Médio Politécnico desenvolvida pela Secretaria Estadual de Educação do Rio Grande do Sul, no período 2011-2014, nas escolas de Ensino Médio da rede estadual de ensino. O estudo investiga em que medida o Seminário Integrado como momento curricular no Ensino Médio Politécnico e o ensino com pesquisa (sugerido pela Política Pública de Educação no Estado do RS (2011-2014) provocou mudanças nos saberes dos professores do Seminário Integrado que atuam em duas Escolas da 36ª Coordenadoria Regional de Educação. Os depoimentos dos professores sobre a reconstrução de seus saberes, a partir da experiência do trabalho com a pesquisa no SI, expressos nas entrevistas, constituem o campo principal dessa pesquisa e orientam a reflexão sobre a reconstrução e atualização das práticas docentes como uma das possibilidade de conferir novo significado ao fazer docente. Nas vozes que narram suas experiências, a pesquisa busca apreender como o ensino pela pesquisa, instituída no espaço/tempo do SI, produziu mudanças no clima escolar, na forma dos professores abordarem o conhecimento. A partir da análise feita, foi possivel constatar que os docentes assumiram um papel reflexivo sobre sua ação profissional, atualizando e reconstruindo seus saberes e práticas para atender às demandas de formação das juventudes do tempo presente. A pesquisa categoriza 05 aprendizagens: 1- Formação continuada; 2- Seminário Integrado; 3-Significação do ensino pela pesquisa; 4- Reconstrução de saberes docentes; 5- Novas práticas escolares. Ao analisar as categorias construídas a partir das reflexões expressas pelos sujeitos da pesquisa, evidencia-se que os professores reconstruíram seus saberes, demonstrando compromisso com a profissionalização e atualização de seu fazer pedagógico. O espaço escolar emerge na pesquisa como lócus privilegiado em que ocorre a formação continuada dos professores. A socialização e análise das práticas pedagógicas torna-se um caminho potente para repensar o trabalho docente que está sempre num movimento de reconstrução na interface das políticas educacionais e do mundo social e histórico.

Palavras-chave: Educação; Ensino Médio Politécnico; Reconstrução Curricular; Pesquisa; Saberes Docentes

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ABSTRACT:

In order to reflect on the complexity of the knowledge that constitutes teaching, this research takes as reference of study the Proposal of Curricular Reconstruction of the Polytechnic High School developed by the Secretary of Education of Rio Grande do Sul State, in the period 2011-2014, in the schools of Middle Education of the state education network. The study investigates the extent to which the Integrated Seminar as a curricular moment in Polytechnic Secondary Education and teaching with research (suggested by the Public Policy of Education in the State of RS (2011-2014) caused changes in the knowledge of the teachers of the Integrated Seminar that worked in two Public schools of the 36th Coordenadoria Regional da Educação. The study of the theoretical references that underpinned the above mentioned restructuring points out possible contributions of the studied references in the perspective of the reconstruction of the teachers' knowledge. The narratives of the teachers about the reconstruction of their knowledge, from the experience of the work with the research in the IS, expressed in the interviews, constitute the main object of this research and guide the reflection on the reconstruction and updating of teaching practices as one of the possibilities to confer new meaning to the teaching profession. Knowledge by bias of the research as a pedagogical principle that instigates and problematizes knowledge with the purpose of unveiling the reality and the construction of the autonomy of the subjects that attend the public school. In the voices that narrate their experiences, the research seeks to understand how teaching by research, instituted in the space / time of the SI, produced changes in the school climate, in the way teachers approach school knowledge, noting that teachers have taken a reflective role on their professional action, updating and reconstructing their knowledge and practices to meet the training demands of the youth of the present time. The research categorizes 05 learning: 1- Continuing education; 2- Integrated Seminar; 3-Meaning of teaching by research; 4- Reconstruction of teaching knowledge; 5- New school practices. When analyzing the categories constructed from the reflections expressed by the subjects of the research, it is evident that the teachers rebuilt their knowledge, showing commitment to the professionalization and updating of their pedagogical doing. School space emerges in research as a privileged locus in which there is ongoing teacher training. The socialization and analysis of pedagogical practices becomes a powerful way to rethink the teaching work that is always in a movement of reconstruction in the interface of educational policies and the social and historical world. In order to understand the results produced by teaching with research within the two schools surveyed, we interviewed 03 university students who attended the EMP during the period 2012-2014 in order to understand how the students analyze the experience of this form of learning by the research, thus broadening the possibility of thinking that the emergence of the researcher teacher also emerges the formation of the student researcher that the new times are demanding.

KEYWORDS: Education. Polytechnic High School. Curricular Reconstruction. Search; Teachers' know

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INTRODUÇÃO

Esta pesquisa tematiza a reconstrução dos saberes docentes na escola pública a partir da Política Educacional movida pela Secretaria de Educação do Estado do Rio Grande do Sul (2011-2014) em relação ao Ensino Médio Politécnico (EMP). Ao resgatar a memória do processo da reconstrução curricular em questão, analisam-se os problemas evidenciados nesta etapa conclusiva da Educação Básica, os desafios enfrentados pelos gestores para elaborar e colocar em curso um Projeto Curricular para este nível de ensino. De forma específica, o presente estudo busca compreender em que medida o Seminário Integrado (SI), como momento curricular articulador da pesquisa e, espaço de investigação e diálogo entre os componentes curriculares, as áreas do conhecimento e a realidade social, proporcionou a modificação do agir docente. Trata-se de entender se o princípio pedagógico da pesquisa possibilitou uma ampliação da autonomia docente em relação ao conhecimento, no sentido de interpretar, criar e recriar o próprio conhecimento para compreender os fenômenos e ressignificar a docência.

O novo desenho curricular proposto pela política pública do período sugere uma articulação do conhecimento escolar no EMP com a cultura, o trabalho, a tecnologia e a ciência. Assume a ideia da pesquisa como princípio pedagógico a qual seria desenvolvida principalmente no espaço/tempo do SI como possibilidade de realizar a interlocução entre os diversos campos do saber. A finalidade de tal movimento parece estar vinculada com a constituição de um caminho que amplie a competência cidadã dos sujeitos envolvidos na dinâmica escolar, a partir de uma perspectiva emancipatória e de transformação social no trato com o conhecimento.

Diante dos problemas evidenciados no Ensino Médio, como os altos índices de reprovação e abandono, e de uma aprendizagem com resultados frágeis, que a cada ano agrava o quadro histórico do fracasso escolar em nosso País e no Estado do Rio Grande do Sul, os agentes públicos do Governo do Estado do RS elabororaram um documento base para ser discutido e problematizado com os professores e a comunidade escolar da rede estadual de ensino, objetivando enfrentar as dificuldades vivenciadas, nesta etapa da escolarização no Rio Grande do Sul, campo de análise desta pesquisa, propondo uma reorganização curricular para o Ensino Médio, Curso Normal e Educação Profissional.

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O desafio de coordenar e participar ativamente do processo de implantação da proposta de Reconstrução Curricular do EMP, na gestão da 36ª CRE, oportunizou-me identificar as possibilidades, limites, fragilidades, angústias e aprendizagens vivenciadas pelos professores no trabalho docente nas escolas de EM. Acompanhar os diferentes caminhos construídos pelos coletivos docentes de cada instituição escolar para dar processualidade ao projeto do EMP, desenvolver as pesquisa no SI, procurando formas de qualificar os projetos de pesquisa, primando pela aprendizagem e pela autonomia dos alunos foi uma experiência ímpar em minha trajetória profissional.

Escolho iniciar do lugar da experiência de participar desse movimento de mudança, desencadeado pelos gestores da SEDUC/RS, para garantir a Educação Básica como Política Pública de Estado, com atenção especial ao Ensino Médio que se apresenta como um dos grandes problemas da educação nacional e gaúcha, o qual tem o Estado como fiador e garantidor da oferta da educação pública com qualidade social.

Em meu percurso profissional experenciei mudanças, permanências, pequenos avanços e retrocessos na educação, o que produziu em mim, aprendizagens, inquietações, angústias e o desejo de buscar novos referenciais na perspectiva de reconstrução e atualização de meus saberes profissionais. Com o objetivo de conferir um novo sentido e significado à prática docente como professora de História, História da Educação, Sociologia da Educação e Sociologia Geral, procuro desenvolver práticas mais contextualizadas e dialógicas como caminho para ressignificar minha ação docente e mediar a aprendizagem com os adolescentes, jovens e adultos que chegam à escola com diferentes culturas e experiências de vida.

A partir dessa experiência, surge o questionamento que será o fio condutor da pesquisa que ora realizo: a) em que medida o princípio pedagógico da pesquisa modificou os meus saberes e os saberes dos professores do SI de duas escolas públicas da 36ª Coordenadoria Regional de Educação do RS? b) houve mudanças e reconstrução das práticas pedagógicas dos docentes na relação prevista entre as áreas do conhecimento, as disciplinas escolares e a pesquisa, como princípio pedagógico, localizada no Seminário Integrado?

A necessidade de ampliar as pesquisas e debates sobre esse nível de ensino (EM), na perspectiva de concretizar a formação integral dos jovens que frequentam o Ensino Médio, requer Políticas Públicas que respondam às demandas da educação, no tempo

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presente, como a melhoria da qualidade do ensino, dos processos de formação docente, numa perspectiva dialógica, na qual o professor reflita sobre sua ação, tornando-se um pesquisador de sua prática com o objetivo de aperfeiçoar sua ação profissional e concretizar a aprendizagem como direito de todos.

Neste caminho, de permanente ação-reflexão-ação, entende-se que o ensino pela pesquisa no Seminário Integrado, projetada na proposta do EMP, mudou as práticas docentes, tornando-se um espaço rico para professores e alunos desenvolverem a cultura do questionamento, da proposição, da produção de novas sínteses, de novas interpretações e leituras da realidade. Neste contexto, a atualização e reconstrução dos saberes dos professores torna-se um caminho possível para que os docentes realizem um movimento de estudo e reflexão acerca das dimensões epistemológicas, pedagógicas e políticas implicadas no trabalho com o ensino e com a aprendizagem dos conhecimentos que ensinam.

Para enfrentar os dilemas de um Ensino Médio marcado pela fragmentação dos currículos, pelas práticas de ensino dissociadas do mundo, que não vinculam os conhecimentos teóricos com as práticas dos sujeitos, o Projeto Pedagógico pensado pelos gestores da SEDUC/RS, gestão 2011-2014, foi elaborado a partir de estudos de aportes teóricos, debates e análise de dados estatísticos disponibilizados por pesquisadores brasileiros, educadores, movimentos sociais e instituições que almejam uma educação comprometida com a humanização, com a democracia, com a liberdade e a justiça social. Estes princípios foram incorporados ao Plano de Governo da gestão e transformados em diretrizes para a educação gaúcha.

A Proposta do Ensino Médio Politécnico baseou-se em referenciais de autores como Acácia Kuenzer, Antônio Gramsci, Antoni Zabala, Michael Apple, Carlos Rodrigues Brandão, Celso Vasconcellos, Dermeval Saviani, Edgar Morin, Gaudêncio Frigotto, Isabel Alarcão, Ivani Catarina Arantes Fazenda, José Antônio Castorina, José Gimeno Sacristán, José Carlos Libâneo, José Clóvis de Azevedo, Jussara Hoffmann, Lev Semenovich Vigotsky, Lino de Macedo, Lucília Machado, Marise Ramos, Maria Ciavatta, Mário Manacorda, Miguel Arroyo, Milton Santos, Mônica Ribeiro da Silva, Paolo Nosella, Paulo Freire, Silvio Rocha, entre outros que tematizam as concepções de uma educação humanista e emancipatória, na perspectiva de uma educação integral e da construção da autonomia moral e intelectual dos jovens que frequentam o EMP,

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apostando na reconstrução da escola pública enquanto espaço de formação para a cidadania.

Para alcançar os objetivos da pesquisa optou-se por um estudo de caso com 8 professores que coordenaram o Seminário Integrado nas duas escolas pesquisadas, para compreender como os professores legitimam as mudanças no universo da sala de aula. Para Gil (2002), o estudo de caso consiste num estudo profundo do objeto de pesquisa, possibilitando um conhecimento detalhado do problema estudado, porém sem produzir análises fechadas.

Para analisar com maior lucidez a experiência vivida no período 2011-2014 foram realizadas entrevistas com 5 gestores da época em que a proposta foi formulada, a fim de apreender em seus discursos as potencialidades, limites e fragilidades na implementação da proposta em questão. As entrevistas com os gestores da SEDUC/RS foram gravadas, transcritas e analisadas, criando-se as categorias tematizadas de forma reflexiva nesta pesquisa.

Realizou-se também entrevistas com 3 alunas universitárias que cursaram o EMP, no período de vigência da proposta, para ouvir as percepções dos estudantes sobre o ensino pela pesquisa. As entrevistas foram precedidas de conversa informal com cada participante da pesquisa, de forma individual e as respostas das questões foram devolvidas à pesquisadora, por e-mail, em razão das alunas estudarem em diferentes cidades. As entrevistas foram analisadas e categorizadas, considerando a importância atribuída ao Seminário Integrado, como momento destinado à pesquisa interdisciplinar na escola, envolvimento dos alunos e a aprendizagens construídas com a pesquisa.

No primeiro capítulo, intitulado A Política Pública para a educação no Estado do Rio do Sul: O Ensino Médio Politécnico, faz-se uma análise dos princípios e diretrizes do Ensino Médio Politécnico do Rio Grande do Sul e os desafios encontrados ao longo do processo para efetivar uma educação pública com qualidade social e cidadania. Realizou-se o preRealizou-sente estudo, a partir de pesquisa bibliográfica de autores que tematizam a educação a partir dos conceitos de educação e trabalho, tais como: Antônio Gramsci, Acácia Kuenzer, Dermeval Saviani, Gaudêncio Frigotto, Lucília Machado, Mário Manacorda, Miguel Arroyo, Mônica Ribeiro, Paolo Nosella. Foram analisados: textos, vídeos, anotações de reuniões pedagógicas e os principais documentos orientadores da política educacional no período (2011-2014). Também tornou-se objeto de análise: a) os

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debates , acerca da proposta, realizados nos Seminários de Formação e nas Conferências de Ensino Médio em diferentes instâncias; b) os relatórios da gestão 2011-2014.

No segundo capítulo intitulado - O Ensino Médio público no RS: desafio da mudança curricular, aprofundou-se a compreensão acerca do Ensino Médio Politécnico no Estado do Rio Grande do Sul. A partir dos depoimentos dos gestores da época, das narrativas de um grupo de professores do Seminário Integrado – SI - e de 03 estudantes universitárias , que cursaram o EMP no referido período, procura-se compreender em que medida o SI, como movimento articulador do ensino com pesquisa (sugerido pela Política Pública de Educação no Estado do RS -2011-2014) provocou mudanças nos saberes dos 8 professores que atuaram em duas Escolas Públicas da 36ª Coordenadoria Regional de Educação no Estado do Rio Grande do Sul. Busca-se, sobretudo, a partir do depoimento do Secretário de Educação da época e de 04 assessores do Departamento Pedagógico-DP, entender e problematizar as escolhas teóricas e metodológicas realizadas pelos gestores do período. Neste enfoque emergem formas de entender: a) as razões da instituição de tal política pública; b) as percepções e análises dos gestores acerca dos problemas estruturais do Ensino Médio nas escolas estaduais do Rio Grande do Sul; c) as possibilidades e limites percebidos pelos gestores para dar concretude à reestruturação curricular do EMP; d) as expectativas em torno da ação docente, a partir da ótica da proposta pedagógica.

Nos discursos dos gestores evidencia-se que os problemas na educação, especialmente de nível médio, são oriundos de questões de estrutura organizacional, de práticas e concepções que dizem de uma educação já superada, que não prepara os jovens para fazer o enfrentamento dos problemas cotidianos da vida cidadã, agindo e se situando no mundo, fazendo escolhas entre os caminhos a seguir, sendo sujeitos de sua vida.

O terceiro capítulo, intitulado A Reconstrução dos Saberes docentes: Perspectivas Contemporâneas, procura compreender e analisar, a partir dos discursos de 08 professores do SI de 02 escolas de EMP de Ijuí, como o processo de formação continuada e as práticas de ensino pela pesquisa, desenvolvidas no Seminário Integrado, contribuíram para a reconstrução dos saberes docentes, categoria de análise central dessa pesquisa.

A ideia não é apresentar análises fechadas, mas descrever de forma reflexiva as percepções, entendimentos e aprendizagens que emergem dos discursos dos professores que participaram da formação continuada, do planejamento e realização dos projetos de pesquisa, desenvolvidos no momento curricular do SI, refletindo como os docentes

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receberam a proposta e ressignificaram/reconstruíram seus saberes e práticas no contexto da reforma curricular do EMP. Realizou-se, também, uma reflexão acerca das aprendizagens construídas na experiência em curso, avaliando suas potencialidades, fragilidades e avanços produzidos a partir da observação e diálogo com as escolas, por ocasião da participação dos professores nos eventos de formação continuada.

A partir do memorial reflexivo do percurso profissional e dos discursos dos professores entrevistados, no Seminário Integrado, de duas escolas de Ensino Médio de Ijuí, busca-se compreender como os professores orientam sua atuação profissional para mediar a aprendizagem dos alunos, neste novo contexto sócio-histórico. A proposta pedagógica em questão sinalizou para outros aportes epistemológicos, os quais desafiaram os professores a construirem uma outra forma de arranjo curricular e a vivenciarem outras práticas pedagógicas por intermédio da pesquisa. A análise dos memoriais de vida dos professores permitem sondar o quanto a política pública interferiu na constituição dos professores e de seus saberes.

Procura-se, neste âmbito, identificar que saberes os professores mobilizam ao realizar seu trabalho e as possíveis mudanças produzidas nas práticas docentes , na perspectiva de uma releitura e atualização de seus saberes, a partir da ideia de professor pesquisador, sugerida na referida proposta. A lógica da pesquisa, como princípio pedagógico no Ensino Médio, objetivou, dentre outras coisas, o desenvolvimento de um trabalho interdisciplinar, entre as áreas do conhecimento, como possibilidade concreta de religar os saberes parcelares (MORIN, 2015), dando sentido aos conhecimentos trabalhados no ambiente escolar pelo viés da investigação, da problematização, da formulação de hipóteses e da construção de significados para o que é sistematizado.

Pelos discursos dos professores entrevistados, os problemas de pesquisa formulados no SI, como espaço que organiza e articula os projetos de pesquisa, na perspectiva de um trabalho mais integrado e interdisciplinar do currículo escolar, evidencia-se que os professores reconstruíram seus saberes buscando guarida nos referenciais teóricos produzidos historicamente, nos contextos da realidade social e nos debates da proposta do EMP.

Na perspectiva de evidenciar com maior lucidez os resultados produzidos com o ensino pela pesquisa, reflete-se a partir dos depoimentos de 03 entrevistados, ex-alunos do EMP, as aprendizagens construídas por esses sujeitos, que experienciaram a proposta,

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identificando em que medida a pesquisa contribui para a formação de um sujeito pesquisador que busca o conhecimento com autonomia. As respostas das questões, realizadas pelas alunas, foram registradas de forma escrita pelos sujeitos da pesquisa, e enviadas à pesquisadora.

Caminho metodológico da pesquisa

A metodologia proposta neste trabalho de pesquisa é de natureza qualitativa. Se organiza, fundamentalmente, a partir de: a) estudo de caso; b) revisão bibliográfica; e; c) estudo documental; d) experiência reflexiva: na qual a pesquisadora retoma sua experiência de coordenar o processo de implantação do EMP na 36ª CRE. O estudo foi desenvolvido, em seus marcos conceituais, a partir da leitura dos principais autores que tematizam e explicitam os conceitos e relações entre educação e trabalho, os quais sustentaram epistemologicamente a proposta em questão, bem como a leitura dos principais documentos orientadores da Proposta de Reconstrução Curricular do EMP, implementada no Estado do Rio Grande do Sul no período 2011-2014. Para atingir os objetivos propostos optou-se por estudo de caso através de entrevistas com questões semiestruturadas com 05 gestores da época referida, com 08 professores que atuaram no Seminário Integrado em duas escolas de EM de Ijuí e com 03 ex-alunos do EMP e que, atualmente, encontram-se em cursos superiores em áreas do conhecimento distintas e em Universidades diferentes1. Os depoimentos desses sujeitos constituem o presente estudo de caso que, de acordo com Ludke e André, caracterizam-se pela coleta de dados que envolve:

[...] o contato direto do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo investigada mediante trabalho de campo. De frente à questão em estudo, o pesquisador presenciará situações em que ela se manifeste, diante de um contato direto com o contexto empírico, na condição de “observador” e por outro lado, de “participante” das mesmas interações investigadas (LUDKE E ANDRÉ, 1996, p.18).

Esta pesquisa foi estruturada em três etapas, descritas a seguir:

1) Revisão bibliográfica e análise documental da Política Educacional de Reconstrução Curricular do EMP do RS, com a leitura dos aportes teóricos de autores

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progressistas que comungam com as concepções de uma educação emancipadora e democrática como direito de todos. Analisou-se, também, os principais documentos constitutivos da proposta, tematizando-se os desafios para o EM no RS, o processo das Conferências do EMP em suas diferentes etapas, realizadas no segundo semestre de 2011, e as formações realizadas às equipes gestoras das escolas de EM da rede estadual gaúcha, no início de 2012. Na perspectiva da formação integral dos sujeitos do EM que frequentam a escola pública, a SEDUC/RS formulou a proposta, ancorada no princípio da politecnia, articulando a compreensão do mundo do trabalho e da educação, como caminho de leitura e compreensão da realidade.

A experiência da pesquisadora, como Coordenadora Regional de Educação, de implementar a proposta nas 24 escolas dos 12 municípios da região de abrangência da 36ª CRE, com sede no município de Ijuí, está profundamente ligada à escolha da temática dessa pesquisa. Do lugar da experiência de professora desse nível de ensino e gestora, procura-se refletir sobre a problemática histórica do EM no nosso País e Estado, analisando a arena de disputas presentes nesta etapa da Educação Básica, recentemente garantida como direito de todos os cidadãos brasileiros.

2) Para compreender de forma mais detalhada as razões e fundamentos que motivaram os gestores estaduais a elaborar e colocar em curso a referida proposta, realizou-se entrevistas com 05 gestores da SEDUC/RS da época, com questões semiestruturadas. As entrevistas foram realizadas em Porto Alegre, em dezembro de 2016, sendo gravadas, transcritas, analisadas e categorizadas a partir dos princípios da proposta mais evidenciados nos depoimentos dos gestores. As categorias enumeradas para análise, constituem o segundo capítulo deste estudo de caso, refletindo sobre: a mudança curricular do EMP, que abarca os princípios da politecnia, do trabalho como princípio educativo, na perspectiva da formação integral das juventudes, da pesquisa como princípio pedagógico, articuladora do diálogo entre as áreas do conhecimento e, o compromisso dos gestores estaduais com o ensino público democrático e de qualidade social.

3) Para compreender as implicações da política pública na vida e nos saberes dos docentes analisou-se: a) a partir de entrevista: os depoimentos/discursos de 08 professores que atuam no SI, em duas escolas de Ensino Médio de Ijuí, sendo 04 de cada uma das escolas sorteadas; b) a partir de memorial reflexivo: o percurso profissional desses docentes para entender como os professores interpretaram e assumiram a reformulação

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curricular do EMP, a partir das reflexões das questões referentes: à formação continuada, ao Seminário Integrado e à pesquisa como princípio pedagógico no espaço/tempo do SI. Tentou-se, sobretudo, compreender os sentidos e direções implicados na reconstrução dos saberes dos docentes, a partir da política pública.

Ludke & André (1986), ao caracterizarem um estudo de caso, destacam a interpretação em contexto, pois num estudo dessa natureza, o pesquisador deve considerar o meio social em que está inserido, a escola, os aspectos socioeconômicos, a estrutura física, dentre outros aspectos.

Os sujeitos da pesquisa foram convidados pela pesquisadora e assinaram o termo de livre consentimento para participarem da pesquisa, permitindo a utilização dos dados pela pesquisadora. O memorial escrito pelos professores, considerou sua atuação no magistério e as contribuições/saberes que a PEMP, trouxe em sua forma de exercer a docência. As entrevistas foram gravadas, transcritas e categorizadas, optando-se por analisar os depoimentos dos referidos professores à luz de autores que refletem sobre esses temas. Os professores são identificados como P1, P2, P3, P4, P5, P6, P7 e P8. Para preservar a identidade das escolas, elas foram identificadas como escola A e escola B.

O professor P1 atua na escola B. É professor há 9 anos. Sua formação é em História e trabalha no Ensino Fundamental e no Ensino Médio desde o ano de 2009.

A professora P2 trabalha há 12 anos na escola B e em outra escola de EM de Ijuí. Sua formação inicial é Graduação Plena Química e Pós-Graduação em Educação nas Ciências. Trabalha no Ensino Fundamental com Ciências e no Médio com Química.

A professora P3, trabalha na escola B há 5 anos. Sua formação é em Matemática e atua com Matemática no EM.

A professora P4 trabalha na escola B há 16 anos. Sua formação é em Letras com Pós-Graduação em Leitura, Literatura e Formação.

A professora P5, trabalha na escola A há 17 anos e atualmente está na Coordenação Pedagógica do Ensino Médio e EJA, atuando no acompanhamento das pesquisas desenvolvidas na escola. Sua formação é em Letras.

A professora P6, trabalha na escola A, atua há 20 anos. Sua formação é em Letras. Atua como professora de Português no EM, orientando a pesquisa neste nível de ensino.

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A professora P7, trabalha na escola A, atua há mais de 20 anos. Sua formação é em Pedagogia, com Mestrado em Educação nas Ciências-Unijuí-RS. Atuava no SI e na Coordenação Pedagógica. Atualmente é vice-diretora.

A professora P8, também da escola A, atua há mais de 25 anos no magistério. Sua formação é em Letras com Pós-Graduação na área de linguagens e em Mídias na Educação. Trabalha com Português no EM, orientando pesquisas para esse nível de ensino.

Para evidenciar de forma mais didática as questões que foram encaminhadas para os professores responderem, elaborou-se um quadro síntese de 07 das 15 questões feitas aos professores nas entrevistas. As questões foram agrupadas em quatro categorias: formação continuada, seminário integrado, saberes docentes reconstruídos, aprendizagens construídas com a pesquisa. Dessa forma, a pesquisa coloca o professor a refletir sobre seu fazer e a falar sobre si, sobre suas experiências e aprendizagens, trazendo ao contexto os saberes que o constituem como profissional docente, pensando sobre sua ação e dando sentido a ela.

4) Para ampliar o objeto de pesquisa e buscar aclarar de forma mais precisa o que se busca em relação às aprendizagens construídas, com o princípio da pesquisa desenvolvida no SI, busca-se analisar os discursos de 03 ex-estudantes do EMP, e que no momento estão cursando Ensino Superior em áreas e Universidades distintas. O instrumento usado para buscar os dados nesta etapa da pesquisa foi uma conversa e posterior entrevista com esses sujeitos. As 03 estudantes são identificadas como A1, A2 e A3: a) A1 cursou o EMP no período de 2012-2014; cursa Engenharia Elétrica na Universidade Federal de Santa Catarina; b) A2 cursou o EMP no período 2012-2014; cursa Biologia na Unijuí; c) A3 cursou o EMP no período 2013-2015; cursa Biomedicina na Unicruz.

A pesquisa traz as vozes dos sujeitos que viveram a experiência de aprender com as perguntas, com a investigação, com a leitura refletida dos conhecimentos sistematizados e dos conhecimentos da realidade, percebendo-se como agentes históricos que participam dessa construção. As vozes que falam de si desnudam suas percepções e entendimentos sobre a vida e suas experiências, refletindo sobre elas, ainda que de forma tênue e que comporte outros olhares sobre suas experiências pessoais profissionais.

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Segundo Rufino (2001), a pesquisa comporta sempre uma postura hermenêutica, abrindo espaço para novos olhares e interpretações, pois o que se apresenta carrega sempre uma provisoriedade. Assim, a pesquisa confere visibilidade à algumas vivências das juventudes que cursaram o EMP e que narram suas percepções e aprendizagens construídas com a referida Proposta.

Dessa forma, esta pesquisa apresenta contribuições para compreender a complexidade da profissão/ação docente e a necessidade de o professor tornar-se um investigador que pensa sobre a sua prática e também sobre o que ensina, mas, sobretudo, que tem clareza do processo de construção do conhecimento e de sua permanente reconstrução. A pesquisa como processo de investigação suscita novas interrogações e hipóteses que colocam o pesquisador num movimento de constante busca para responder as inquietações e problemas que a profissão docente requer na sociedade contemporânea de rápidas mudanças.

Para compreender as mudanças propostas pelos gestores da educação da SEDUC/RS, no período em questão, tematiza-se, em um primeiro momento os principais traços definidores da política pública do EMP no Estado do Rio Grande Sul (2011-2014). Em seguida, discutem-se as principais razões que fundamentam a reforma curricular do EMP, bem como o modo como estas mudanças promoveram a reconstrução dos saberes dos docentes que atuaram no SI, a partir do princípio pedagógico da pesquisa, e o significado disso para os estudantes que vivenciaram tal mudança pedagógica.

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CAPÍTULO I

A POLÍTICA PÚBLICA PARA A EDUCAÇÃO NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL NO PERIODO DE 2011 - 2014: O ENSINO MÉDIO POLITÉCNICO

O Plano do Governo 2011-2014expressa as diretrizes educacionais que o governo do Partido dos Trabalhadores-PT, eleito no primeiro turno para governar o Estado do Rio Grande do Sul, no referido período, elencou como prioridade. O Governo Tarso Genro estabeleceu como diretrizes para a educação gaúcha a democratização da gestão, do acesso à escola e ao conhecimento com qualidade cidadã; acesso ao patrimônio cultural; acesso e permanência com aprendizagem , com especial atenção ao Ensino Médio. Para que essas diretrizem se efetivassem foram necessárias mudanças urgentes para realizar uma formação qualificada que dialogasse com os anseios dos sujeitos que frequentam este nível de ensino. Neste cenário de exclusão e de ausência de Políticas Públicas contínuas , que garantam a aprendizagem como direito aos jovens que chegam à escola pública, os gestores/atores da Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul-SEDUC/RS, estabelecem uma política para a educação gaúcha, a qual tem como fundamento a democracia:

A Política Educacional tem como base a democratização da educação em três dimensões: a democratização da gestão, do acesso à escola e do acesso ao conhecimento com qualidade social. A democratização da escola deve garantir a todos o acesso e a permanência com aprendizagem, independente da faixa etária e de sua condição peculiar de desenvolvimento. Onde se aprende a democracia pela vivência da gestão democratizada do Sistema de Ensino à sala de aula. Onde o acesso ao patrimônio cultural acumulado pela humanidade seja garantido para que, em diálogo com os saberes populares, através da ação-reflexão-ação, numa perspectiva interdisciplinar, possa ser construído o conhecimento significativo, libertador, contextualizado, ferramenta de transformação, de emancipação e de humanização (SEDUC/RS2011-2014.P.13).

Dessa forma, o Governo do Estado do Rio Grande do Sul- RS, no período referido, cumprindo o compromisso expresso, no plano de governo, propõe uma Reconstrução Curricular para o Ensino Médio, Educação Profissional e Curso Normal, sintonizada com a educação de um novo tempo, ofertando uma formação aos jovens que frequentam a escola pública que tivesse um novo paradigma, buscando superar o quadro histórico de fracasso escolar do Ensino Médio, conforme podemos constatar pelos dados oficiais.

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Fonte: Azevedo e Reis (2013, p. 57)

Analisando os dados estatísticos da educação de nível médio no RS, constata-se que persistem, por mais de uma década, os altos índices de reprovação e abandono no Ensino Médio. Esses dados, retratam os problemas de não aprendizagem e do afastamento dos jovens nessa etapa da escolarização, demandando aos gestores, professores e a sociedade gaúcha pensarem um currículo para o Ensino Médio com base em outros paradigmas. O problema da evasão é histórico na educação brasileira. Principalmente por falta de Políticas Públicas que garantam uma escola participativa, emancipadora, que oferte aos jovens uma educação com qualidade social que os ajude a enfrentar os problemas das desigualdades sociais, da violência e da discriminação, tão presentes na sociedade capitalista excludente.

Nesse contexto, espera-se que a escola pública como instituição republicana, que realiza a formação dos sujeitos na perspectiva de sua emancipação, possa trabalhar o conhecimento poderoso (YOUNG, 2015), como chave de leitura para os sujeitos pensarem um novo projeto de sociedade, usando esses conhecimentos para refletir e agir frente aos problemas que afetam a vida, oprimem e fazem do trabalho humano uma mercadoria.

A Educação Básica, de acordo com a LDB 9394/96, tem como finalidade: “[...] desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores”

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(LDB 9394/96, art. 22). A educação requer compromisso e responsabilidade dos agentes públicos em ofertar um ensino que contemple uma formação geral ampla e significativa dos sujeitos do EM. Uma formacão que agregue qualidade e garanta a inserção desses jovens no mundo do trabalho, agindo de forma consciente para transformar a realidade injusta que emerge da sociedade capitalista. A escola precisa ser “unitária “como dizia Gramsci, formando para produzir e para governar, unindo estudo e trabalho, formação geral e específica (GRAMSCI, apud GADOTTI, 2012, p. 4).

Nesse sentido, foi pensado um projeto para o EMP, na perspectiva de ofertar aos jovens que concluem o Ensino Médio uma formação humana e cidadã, que os prepare para compreender o mundo em que vivem, permeado por constantes transformações no âmbito da política, da economia, da cultura, do mundo do trabalho, das tecnologias e das relações sociais

O mundo globalizado experiencia rápidas mudanças nos processos produtivos. As políticas neoliberais visam somente ao lucro e à exploração do trabalho humano para acumular capital, não incluindo a todos. Os novos cenários reservam, muitas vezes, aos filhos da classe trabalhadora, os postos de trabalho com menor qualificação e remuneração ou tão somente a informalidade. Em sua obra Vida Líquida (2005), Zygmunt Bauman, discorre sobre a sociedade contemporânea e a velocidade das mudanças que o ser humano enfrenta. Sem tempo de refletir e apreender os processos, homens e mulheres surfam na onda das rápidas transformações em busca de bens, fama e prestígio. Na sociedade de consumo é preciso ser ágil, estar num constante recomeçar para não correr o risco de ficar para trás e perder o momento. Bauman (2005), em suas reflexões, nos remete pensar como podemos enfrentar o consumismo, o imediatismo, a fugacidade e a superficialidade das relações, educando seres mais tolerantes, cooperativos, solidários e participativos, que pensem sobre suas ações, que respeitem o outro em sua singularidade e diferenças, promovendo ações para efetivar uma sociedade com mais justiça social

A ideologia neoliberal difundida pelo capitalismo financeiro, em sua fase atual, usa estratégias e mecanismos eficientes de comunicação para capturar a subjetividade das pessoas, fazendo-as entrar na perversidade de busca pelo sucesso, pelo “bem estar” ilusório que torna o ser humano escravo do trabalho, do consumo e da tecnologia. O que constata-se na sociedade atual, são sujeitos num movimento alucinado para dar conta de múltiplas tarefas. Neste cenário do mundo líquido, a educação integral, na perspectiva de educar os sujeitos em todas as dimensões para a vivência da cidadania, emerge como

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possibilidade concreta ao projeto contra hegemônico da educação utilitarista, instrumental e da informação que interessa ao mercado e não à maioria da população excluída dos benefícios do capitalismo. A Proposta do EMP emerge como possibilidade de desenvolver sujeitos críticos e autônomos para gerir suas vidas e intervir na sociedade, na perspectiva de sua transformação, como assevera Gadotti:

Numa perspectiva emancipatória importa que a práxis educativa construa sujeitos autônomos, pensantes, sujeitos capazes de autogovernar-se e de governar. Numa concepção emancipatória, a educação para o trabalho visa a formar o “povo soberano” (Tamari, 1996) desde a mais tenra idade. É uma educação contra hegemônica à concepção produtivista da educação demandada pelo mercado. Não se trata de profissionalizar cedo as crianças e jovens. Trata-se de formá-los integralmente, omnilateralmente, harmonizando estudo e trabalho, como na visão da educação politécnica e omnilateral, preconizada por Marx que coincide com a visão de uma educação crítica e transformadora de Paulo Freire. Ressignificados, nos dias de hoje, em novo contextos, esses conceitos são ainda muito atuais (GADOTTI, 2012, p. 4).

Reverter essa lógica perversa que escraviza mesmo quem não possui um patrão, requer uma educação transformadora que ensine a pensar de forma crítica, a dar valor a vida, a dialogar com o outro, a acolher e conviver com a diversidade, a criar vínculos, a ser tolerante e solidário, a interpretar os conhecimentos, a usar as tecnologias em defesa da vida. Educar para a esperança de que uma outra sociedade menos opressora e desigual é possível Como argumenta Maria Conceição Tavares sobre a globalização e sua perversidade no mundo atual:

A tirania da informação e a do dinheiro são apresentadas como os pilares de uma situação em que o progresso técnico é aproveitado por um pequeno número de atores globais em seu benefício exclusivo. O resultado é o aprofundamento da competitividade, a produção de novos totalitarismos, a confusão dos espíritos e o empobrecimento crescente das massas, enquanto os Estados se tornam incapazes de regular a vida coletiva. É uma situação insustentável (TAVARES, 1995, p. 2).

Depreende-se que o capitalismo, com sua ideologia neoliberal veiculada, desencadeia uma competição cada vez mais acirrada entre os grandes grupos econômicos que se beneficiam do progresso da tecnologia e acumulam cada vez mais capital, usando o Estado como fiador desse processo perverso. Em decorrência desse comportamento, aumenta a pobreza e a precarização das condições de vida dos que mais precisam da ação

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do Estado para garantir-lhes políticas públicas como moradia, saúde, alimentação, trabalho e educação.

O questionamento que se faz, frente a essa problemática, é como democratizar a todos os jovens do EM o acesso ao conhecimento para que não repitam a vida difícil de seus pais que, muitas vezes, tiveram uma formação rasa, aprendendo o essencial para ter um ofício no mercado de trabalho. Mudar essa dura realidade nos remete pensar como não “matar” os sonhos dos nossos jovens de prosseguir seus estudos, de ser e estar no mundo sem a preocupação de abandonar a escola de forma precoce para trabalhar? Qual o papel dos governantes e da sociedade para mudar essa realidade? Qual o papel da escola e do professor para trabalhar conhecimentos significativos para a formação dos jovens?

Nas últimas décadas, o debate sobre a qualidade da educação, especialmente no Ensino Médio, tem sido mais intenso em decorrência dos problemas constatados na educação pública, evidenciados pelos altos índices de reprovação, abandono, exclusão, não aprendizagem e pela baixa qualidade da formação, constatados neste nível de ensino, o qual foi incluído como direito de todos na Constituição Federal de 1988 e referendado nas alterações realizadas na LDBN Nº 9. 394/96.

Embora a ampliação do acesso à escola de Ensino Médio tenha sido potencializada pela elevação do número de concluintes do Ensino Fundamental que foi universalizado, mais precisamente, na última década [...], o desafio da permanência e da garantia de aprendizagem tem se mostrado agravado. Principalmente em decorrência da inexistência de uma escola sintonizada com os anseios da juventude atual e a necessidade de sua inserção em um mundo do trabalho que tem mudado neste início de século (AZEVEDO e REIS, 2013, p.27).

Essa problemática desafia gestores, professores, pesquisadores e autoridades, ligadas à área educacional, a pensar um currículo para o Ensino Médio que responda aos novos contextos culturais, científicos, tecnológicos e do mundo do trabalho emergentes neste século XXI, o qual inicia carregado de incertezas, contradições e mudanças, as quais não imaginávamos viver. Dessa forma, pensar um currículo para o EM, que se proponha a construção de uma educação crítica, que resolva as questões referentes à identidade e aos fundamentos políticos e pedagógicos para esse nível de ensino, requer o abandono da educação bancária denunciada por Freire (1998).

Para dar concretude a um Projeto de EM que dialogue com as necessidades, projetos, incertezas e sonhos dos sujeitos que cursam essa etapa da Educação Básica, os gestores da SEDUC/RS pensaram e formularam a Proposta de Reconstrução Curricular

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para o EMP, visando a romper com a escola baseada [...] “na reprodução dos conteúdos de forma estanque e estandardizada, na pura transmissão e reprodução de informações, muitas vezes descontextualizadas, destituídas de significados para os estudantes, na avaliação classificatória e certificativa [...] (AZEVEDO e REIS, 2013, p.28). Deseja-se que no EMP surja uma escola que desenvolva um projeto pedagógico que abarque uma formação com amplos conhecimentos gerais, interligados aos projetos de vida dos estudantes, instigando a criatividade e o vislumbrar de novas possibilidades de conduzir suas vidas e intervir na sociedade.

Dessa forma, a Política Pública apostou num projeto curricular com práticas interdisciplinares, ancoradas na pesquisa, no diálogo entre os conhecimentos das ciências e da realidade social. O foco dessa mudança seria voltado para uma ideia de potencializar a recriação do conhecimento, na escola, de buscar outros modos de resolver os problemas e dilemas que afetam a humanidade como: a violência, a barbárie, a exclusão, a insensatez, a falta de perspectiva e de inclusão no mundo do trabalho.

Com o propósito de mudar a lógica de uma escola excludente, reprodutivistas, os gestores apostaram no ensino pela pesquisa como prática no EMP que: a) despertasse nos professores e alunos a curiosidade, a pergunta, a investigação para ler e desvelar a realidade; b) como possibilidade de mudar as práticas escolares e tornar o ensino mais significativo e adequado ao tempo presente. Essa ação requer um movimento de reflexão e de reconhecimento dos profissionais docentes em direção ao aperfeiçoamento profissional e a efetivação de uma escola mais participativa, criativa que vise a emancipação humana.

Acredita-se que a pergunta parte da curiosidade, sem a qual não pode haver verdadeira produção do conhecimento. Freire a compreende como uma dimensão ontológica, vinculada à práxis do sujeito. A curiosidade está associada à ação e à reflexão dos sujeitos comunicantes e é nessa relação dialética que se realiza a indagação. No fundo, a curiosidade é uma pergunta (FREIRE; FAUNDEZ, 2002, p. 46).

Nessa perspectiva, pode-se afirmar que são inúmeros os dilemas enfrentados pelos sujeitos que vivem do trabalho, numa sociedade desigual na qual o neoliberalismo retira as referências identitárias dos povos, induzindo-os a acreditar que todos fazem parte do mundo globalizado e desfrutam dos bens e tecnologias produzidos. Essas constatações sinalizam para a necessidade de uma educação que promova o debate, o questionamento,

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a criação, a investigação, a reconstrução do conhecimento com o objetivo de reinventar a escola, o ensino e as práticas escolares, formando sujeitos com capacidade de ler, interpretar e compreender o mundo, agindo de forma ética e solidária em defesa da vida. Segundo Freire (2006) o questionar, o indagar, o formular perguntas fundamentais, são indispensáveis para o aluno conhecer, buscar respostas autênticas e criativas, sistematizar, criar e recriar o conhecimento, sem cair na armadilha da reprodução de respostas prontas, como se o conhecimento fosse algo acabado.

Cumpre destacar, que os gestores da SEDUC/RS, pelo acúmulo teórico das experiências adquiridas ao longo de seus percursos profissionais na área da educação e pelo compromisso com uma educação libertadora e emancipatória, propõem-se a realizar um movimento, na rede estadual, na perspectiva de romper com a educação reprodutivista, bancária, excludente. A educação, historicamente, priorizou determinados grupos que possuíam poder econômico e/ou sobrenome que definiam o lugar dos estudantes descendentes da classe dominante. A iniciativa pretendeu mudar essa realidade, dando voz aos alunos e professores para que se tornassem protagonistas de sua ação pedagógica, tornando o EMP uma política Pública de Estado.

[...] disposição para mudanças- não meras “reformas”, tão conhecidas e mal fadadas que implicam DIÁLOGO entre professores, gestores, funcionários estudantes, pais e a reinvenção das escolas como efetivas comunidades de convivência onde cada um e todos podem dizer a sua palavra e, dizendo-as possam construir novos conhecimentos, habilidades, experiências que permitam uma INCLUSÃO EMANCIPADORA nesta sociedade, que cabe a todos transformar (MOLL; GARCIA, 2014, p.8).

Tendo como horizonte que os processos educativos, que intencionam novas práticas no ambiente escolar, necessitam de acompanhamento e mediações que ajudem o professor a refletir sobre suas ações, a Secretaria institui o Sistema de Avaliação Participativo-SEAP/RS com o objetivo de fazer uma reflexão crítica dos processos escolares, na perspectiva de instituir uma cultura de planejamento, diagnóstico, avaliação das ações da escola e de suas práticas, num diálogo fecundo entre gestores, professores, funcionários, alunos, pais e comunidade, mobilizando e estimulando a participação efetiva de todos na vida da instituição e de seu Projeto Pedagógico.

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[...] Sistema de Avaliação Participativo (SEAP- RS) pelo Decreto nº744. De 28 de dezembro e 2011, constituído de seis dimensões e cinquenta indicadores e respectivos descritores que possibilitará às escolas, às Coordenadorias Regionais (CREs) e o órgão central da Secretaria Estadual de Educação (SEDUC) realizar uma reflexão sobre as ações e condições sob as quais está sendo desenvolvido o processo de ensino-aprendizagem na Rede Estadual de Ensino (SEAP, SEDUC/RS, 2012).

Orientada por um conjunto de diretrizes e ações para democratizar e qualificar a educação pública, a formação continuada dos professores assume um espaço privilegiado nas ações da mantenedora a qual resgata o tempo para estudo e planejamento, dentro da carga horária de trabalho do professor. Contrariando o que o governo anterior havia determinado, a SEDUC/RS , gestao 2011/14 deu autonomia para cada escola organizar seu projeto de formação interna, dispondo recursos financeiros específicos para a formação, oportunizando também, a participação em Seminários Locais, Regionais, Estaduais e Internacionais, de Eventos Científicos, Mostras de Trabalhos de Pesquisa, Relatos de Práticas, dando voz a alunos e professores que se sentiam sujeitos de sua ação.

Houve, nesse processo de formação dos professores, uma interlocução com as Universidades para que as formações realizadas nas instituições escolares fossem permeadas pela reflexão oriunda das pesquisas e do aporte teórico desenvolvidos e refletidos pelas Universidades e Instituições de Ensino Superior. Nas Universidades se desenvolvem as pesquisas sobre a educação, as quais apontam caminhos para repensar os processos pedagógicos e a formação dos professores.

Para dar concretude à proposta educacional em curso, ao debate e à construção da referida proposta, houve um intenso processo de formação continuada dos professores, durante os 4 anos da gestão do governo Tarso Genro, na perspectiva do enfrentamento dos graves problemas do Ensino Médio no Rio Grande do Sul-RS, buscando efetivar o direito à aprendizagem e ao desenvolvimento profissional dos professores. Com essa intencionalidade os gestores da SEDUC/RS formularam e colocaram em curso um projeto educativo que resgatasse o nós, o trabalho cooperativo, o respeito às diferenças, a valorização do coletivo em oposição ao modelo de sociedade de consumo que esvaziou, afastou e fragilizou a convivência entre os seres humanos.

O Ensino Médio, campo de constantes disputas e tensões, e, por ser a última etapa da Educação Básica, vê-se enredado pelas discussões travadas entre os segmentos da

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sociedade, que historicamente detêm o poder econômico e pressionam por um currículo escolar que atenda às demandas da produção e, os que defendem a educação como caminho de formação e de autonomia dos sujeitos. Na modernidade, os ideários iluministas e das Revoluções Industrial e Francesa tencionaram para que a escolarização fosse ampliada para formar operários que conseguissem desenvolver o trabalho produtivo no novo modelo fabril, imposto pelo capitalismo. O modo de produção, que se consolida neste período, percebe a necessidade de ampliação da instrução pública das classes populares como possibilidade de formação para entrar no mercado de trabalho e produzir de acordo com as novas exigências do capitalismo industrial vigente. Nasce a escola ligada à fábrica, ou seja, como instituição que objetiva atender ao capitalismo. A luta contra a exploração e a pobreza, também contribuem para que a escola, na modernidade, torne-se um espaço de luta para a cidadania.

Os modelos de produção taylorista e fordista implementados nas indústrias, ao longo do século XX, serviram de referência para a constituição de projetos educativos e da escola, nos moldes das fábricas, sem preocupar-se com um projeto que tematizasse a totalidade do conhecimento e a formação do aluno em todas as dimensões. Historicamente o EM tem sido marcado por políticas de formação pautadas no taylorismo e no fordismo. Estes foram as formas predominantes de modelos administrativos e de gestão criados ao longo do século XX para organizar e controlar o trabalho humano, em decorrência das crises econômicas que atingem a sociedade. Para sair da crise, os empresários, gestores e administradores reorganizam a produção e as formas de trabalho para garantir a acumulação de capital.

O fordismo é um sistema de produção que combina inovações técnicas e organização, objetivando a padronização e o consumo em massa. Esse sistema foi empregado por Henry Ford (1863-1947) em sua fábrica de automóveis, localizada em Detroit nos Estados Unidos, no início do Século XX. Para aumentar a produtividade, o fordismo associou-se ao taylorismo, modo racional que controlava os movimentos e o tempo do trabalhador. Os trabalhadores eram treinados, segundo o taylorismo, para obterem um alto desempenho e alta produtividade. O tempo e os movimentos dentro da fábrica eram pensados e planejados para que em cada função se obtivesse o máximo de produtividade. O taylorismo foi criado pelo engenheiro americano Frederich Taylor

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(1865-915), desenvolvendo-se no Brasil, de forma mais efetiva, a partir de 1990 (ARAÚJO, 2016).

A longo da história as classes hegemônicas da sociedade impuseram um modelo de formação escolarizada centrada na eficiência, na meritocracia e na racionalidade técnica, de forma a atender às exigências de um mercado global, dinâmico e versátil que renovasse suas formas de acumular capital. De forma complementar as pedagogias do consumo veiculadas pela lógica do capital, no âmbito da vida social em geral, objetivaram enredar as pessoas nesta ciranda vertiginosa de informações instantâneas, sem que as pessoas, muitas vezes, percebessem a necessidade de refletir e fazer suas escolhas para viver e conviver de forma mais humanizada e solidária.

Dessa forma, torna-se necessário refletir sobre a educação como direito de cidadania, conquistado no século XX, e universalizada pelo marco legal, na década atual deste século XXI, em nosso País. Considerando que 82% dos jovens brasileiros frequentam a escola pública, efetivar esse direito às juventudes que frequentam a escola pública, com aprendizagem , requer o compromisso e a ação dos governantes, educadores e sociedade , reparando a dívida histórica do País e do Estado com os menos favorecidos.

Os desafios encontrados pelos gestores da SEDUC/RS para efetivar a educação pública de nível médio, nas escolas estaduais gaúchas, exigiram mudanças paradigmáticas para romper com o modelo de educação tradicional vigente, que insiste em conviver com as mudanças em curso neste novo momento sócio-histórico. Para refletir sobre o longo caminho percorrido na educação pública do RS e efetivar a Educação Básica como direito de todos, tematiza-se no subcapítulo a seguir, os desafios enfrentados pelos gestores para garantir esse direito à sociedade sul-rio-grandense.

1.1. A educação pública como direito: uma virada paradigmática

A democratização da educação pública como direito, no Brasil conquistado na última metade do Século XX, por ocasião da promulgação da Carta Magna de 1988 e da LDB Nº 9394/96, trouxe avanços importantes para a educação brasileira. As profundas transformações ocorridas na sociedade, a partir do processo de redemocratização do País, após 21 anos de Regime Militar, abriu espaços para o debate, formulação e implementação

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de Políticas Públicas, na perspectiva de efetivar os direitos sociais básicos como a educação, reivindicados pela população brasileira, conforme assevera Garcia, (2013):

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDBEN) nº 9394/96 proporcionou um grande avanço definindo a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio como etapas constituintes de um único nível de Ensino, a Educação Básica. Isso significa que só se conclui a Educação Básica ao final do Ensino Médio. Nessa etapa de ensino, portanto, são consolidados os conhecimentos necessários para a formação de cidadãos plenos que possam continuar seus estudos e também se inserir no mundo do trabalho, superando a definição de caminhos diferenciados de acordo com a situação socioeconômica de cada sujeito (GARCIA, 2013, p.45).

Com a promulgação da LDB 9394/96, a Educação Básica como direito, preconizada na legislação, percorre um longo caminho para ser concretizada como Política Pública em nosso País, buscando-se as condições para a universalização da Educação Básica como direito de cidadania. Os problemas evidenciados relacionam-se com a falta de investimentos nas escolas, sobrecarga de trabalho dos professores e baixos salários. A formação continuada, muitas vezes, não se aproxima das reais necessidades dos docentes e dos contextos das escolas. Esses problemas são mais graves no EM, que atualmente convive com altos índices de reprovação, abandono, com currículos desarticulados, fragmentados, voltados à formação instrumental. Mudar a escola, desenvolvendo um Projeto Político Pedagógico fundamentado em novas bases teóricas e concepções de sociedade, de escola e de homem requer mudanças na educação, como expressam Isabel Letícia Pedroso de Medeiros e Maria de Guadalupe Menezes de Lima:

[...] a educação obrigatória dos quatro aos dezessete anos, promove, diante desse cenário, um desafio enorme que exige uma constelação de forças em torno de um novo modelo, não só requerendo investimentos financeiros muito mais significativos do que atualmente se dispensa à educação, mas principalmente uma revolução paradigmática fundamentada em uma nova concepção de escola, de currículo e de conhecimento, voltada à formação e a construção de uma vida cidadã, de uma sociedade democrática, sustentável e inclusiva, que potencialize todas as dimensões do ser humano e não as reduza a uma vertente economicista, tal qual hoje vivemos (MEDEIROS e LIMA, 2014, p.189).

Nesse contexto, espera-se uma escola que forme o jovem na perspectiva do exercício da cidadania e do agir participativamente para transformar as situações de injustiça materializadas pela fome, pela falta de moradia, de acesso à saúde, ao trabalho e aos bens culturais que historicamente privilegiaram uma classe em detrimento de outras.

Referências

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