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No contexto do ensino pela e com pesquisa: a formação do aluno pesquisador como indicador de mudança como indicador de mudança

A RECONSTRUÇÃO DOS SABERES DOCENTES: PERSPECTIVAS CONTEMPORÂNEAS

3.6. No contexto do ensino pela e com pesquisa: a formação do aluno pesquisador como indicador de mudança como indicador de mudança

Neste terceiro capítulo, refletiu-se sobre a pesquisa como princípio pedagógico no contexto da Reconstrução Curricular do EMP, destacando-se as práticas vivenciadas no interior de duas escolas de EM da rede estadual, localizadas no município de Ijuí. Evidenciou-se nos depoimentos dos professores do Seminário Integrado das escolas referidas que o ensino pela pesquisa foi elemento chave para estimular a participação dos jovens na problematização dos temas prementes na sociedade, formulando perguntas para investigar essas temáticas, buscar dados e informações, a contextualizar e produzir novas sínteses e interpretações dos conhecimento estudados.

Para compreender com maior lucidez como a Proposta do EMP produziu mudanças na aprendizagem das juventudes que frequentaram o EM, no período em que vigeu a referida Proposta, buscou-se o depoimento de 3 ex-alunos das escolas pesquisadas e que atualmente estão na Universidade para apreender de suas narrativas o movimento de apropriação do princípio da pesquisa desenvolvida no SI. Nas vozes que narram as experiências de aprender pela pesquisa revelam as aprendizagens, os significados,

compreensões e limites sentido pelos jovens e professores para mudar as práticas de ensino no cotidiano escolar.

O movimento desencadeado pela Proposta Pedagógica do EMP trouxe o Seminário Integrado como espaço indutor da pesquisa interdisciplinar na escola. Com esse movimento de ensinar com e pela pesquisa, pretendeu-se romper com o ensino tradicional relacionado ao ideal cartesiano de mundo que dissocia a teoria e a prática, fragmenta, e reduz o conhecimento a um conjunto de informações que tem servido aos interesses de alguns grupos, deixando de ser um espaço de problematização e compreensão do mundo social, cultural, político e econômico que os tempos atuais estão a demandar para os sujeitos escolares com os quais a escola trabalha no tempo atual.

No cenário de contradições e de incertezas em relação a nova Proposta, as queixas, incompreensões da proposta e interrogações dos professores geraram um clima de tensão, de insegurança, de rupturas e a necessidade do professor repensar seu fazer pedagógico junto com seus pares e com seus alunos, criando possibilidades de desenvolver os projetos de pesquisa no SI. Muitos professores assumiram o desafio da mudança e num movimento de interrogar-se e reconstruir-se como profissional que busca atualizar sua prática e seu referencial teórico, propondo novas formas para desenvolver temas que dialoguem com as juventudes presentes na escola pública, construíram caminhos para realizar a pesquisa na escola, vendo-a como possibilidade de potencializar a aprendizagem desenvolvendo a autonomia intelectual e o protagonismo dos jovens na reconstrução do conhecimento.

Dessa forma, trabalhar com a pesquisa no EMP emerge como possibilidade de compreensão da totalidade do conhecimento, de construção de novas narrativas e de recriação do próprio sujeito que ao recriar o conhecimento modifica a si mesmo, emancipando-se da cegueira e libertando-se de posições fechadas que impedem uma compreensão crítica da realidade. Pedro Demo reflete que a pesquisa, como princípio científico e educativo, é fundamental no processo emancipatório dos sujeitos. E, conforme afirma o autor:

[...] se constrói o sujeito histórico autossuficiente, crítico e autocrítico, participante, capaz de reagir contra a situação de objeto e de não cultivar os outros como objeto [...] pesquisa como diálogo é processo cotidiano, integrante do ritmo da vida, produto e motivo de interesses sociais em confronto, base da aprendizagem que não se restrinja a mera reprodução; na acepção mais simples, pode significar conhecer, saber, informar--se para sobreviver, para enfrentar a vida de modo consciente (DEMO, 2011b, p. 43).

Entende-se que nesse contexto a pesquisa é um instrumento metodológico potente para pensar como o aluno aprende na escola, contribuindo para que o professor entenda que esses conhecimentos podem emergir dos problemas sociais, dos contexto de vida dos educandos e que, problematizados, tornam-se objeto de investigação, de questionamento, de novas interpretações e sistematizações. Porque como nos ensina Paulo Freire:

Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo, educo e me educo. Pesquiso para conhecer e o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade (FREIRE, 2015, 30).

Constata-se com essas reflexões que o aluno pesquisador e reflexivo se forma na prática de pesquisar e interagir com outros sujeitos, indagando, refletindo sobre os conhecimentos com as lentes das diferentes áreas do conhecimento. Assim, como justifica uma ex-aluna do EMP em seu depoimento, referindo-se sobre as aprendizagens construídas com a pesquisa no SI: “A principal aprendizagem foi a da pesquisa mesmo, saber elaborar uma boa pergunta e direcionar para a pesquisa, produzir um bom texto, saber fazer as colocações, ter a noção de apresentação de uma pesquisa, como ela deve ser organizada (A1, p.1).

O depoimento do sujeito da pesquisa revela que houve um entendimento do processo de pesquisa no momento que refere que “saber elaborar uma boa pergunta” para desenvolver a pesquisa constitui-se como elemento central para investigar um problema ou fenômeno a ser desvelado, na medida em que como enuncia Becker (2010), o professor pesquisador deverá abrir espaço privilegiado para as perguntas porque toda investigação inicia com uma pergunta. A pesquisa como princípio pedagógico é tematizada por diversos autores contemporâneos e no Parecer nº 2/2012 que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, explicita no art. 13: “III - a pesquisa como princípio pedagógico, possibilitando que o estudante possa ser protagonista na investigação e na busca de respostas em um processo autônomo de (re)construção de conhecimentos” (MEC, CNE, 2012).

No entanto, a pesquisa como princípio pedagógico e metodológico, requer estudos, planejamento para concretizar essa ação tão rica de possibilidades, de criação e significação das práticas escolares, respeitando as características próprias da adolescência

e juventude dos sujeitos que frequentam essa etapa da Educação Básica. Pode-se avaliar que o trabalho com a pesquisa foi sendo apropriado por professores e alunos, ao longo do percurso escolar, na medida em que os alunos foram aperfeiçoando os trabalhos de pesquisa, compreendendo a metodologia e o sentido dessa Proposta para que alunos e professores ocupem um lugar de autoria na reconstrução do conhecimento, conforme depoimento de uma das entrevistadas: “[...] O primeiro trabalho foi extremamente confuso, mas o último até que se tornou fácil pois já conhecíamos a metodologia. Isso foi o mais importante para mim, a metodologia. Demoramos para entender o que era politécnico” (A 2, p.).

Nas falas, os ex-alunos do EMP, entrevistados, se reportam às dificuldades em compreender a proposta e operacionalizar o trabalho com a pesquisa. Como todo processo de mudança desestabiliza o que está de certa forma “acomodado” nas práticas escolares. O SI exigiu um refazer do professor e do aluno na perspectiva de desenvolver pesquisas que se aproximassem da realidade dos educandos:

[...] desde que implementado até o seu fim, foi alvo de muitas dúvidas e controvérsias. Penso que poucos conseguiram entender o seu real significado e importância, sendo estes, até mesmo professores qualificados que sendo assim não conseguiram passar a ideia dessa nova etapa aos alunos. O susto foi grande perante aos alunos que achavam que já havia matérias o suficiente e não era necessário mais uma, mas, de certa forma todos fomos nos adaptando aos poucos e foi fluindo (A1, p. 2).

Outro aspecto relevante destacado pelos sujeitos da pesquisa refere-se à construção da autonomia para buscar informações, questionar, estudar, pesquisar para sanar dúvidas, curiosidades ou ampliar o conhecimento sobre um tema de interesse do aluno ou sobre a carreira acadêmica a seguir, como expressa uma das entrevistadas: “A maior aprendizagem foi a autonomia para estudar e pesquisar, também aprendi a escrever trabalhos o que é extremamente útil para a vida acadêmica. Eu já tinha decidido que iria para universidade e para a Engenharia Elétrica” (A, 2, p. 2).

Assim, entende-se que o espaço do SI como aglutinador da pesquisa interdisciplinar na escola fez um movimento na direção da mudança de algumas práticas instituídas no âmbito da educação escolar, abrindo caminhos para que as aprendizagens construídas com as pesquisas, se tornassem um instrumento de interlocução entre as áreas e o mundo vivido pelos alunos, como ilustra uma das entrevistadas:

O SI estimulou a pesquisa e a construção do conhecimento, pois ao mesmo tempo em que era definido o eixo temático, os alunos tinham a livre escolha do tema que achariam interessante pesquisar e buscar formas de realizar um trabalho com várias fontes como livros, revistas, sites, entrevistas, fotografias, visitas, entre outras.[...] foi muito construtiva no decorrer do ensino médio, posso dizer que pude tirar muitas coisas boas e aprendizados acerca de pesquisa, e pude ver assim que ela não é um "bicho de sete cabeças. A pesquisa nos ajuda a compreender melhor os conteúdos estudados e o olhar a realidade de forma mais crítica, percebendo os problemas da nossa cidade e País (A 1, p. 2).

Formar o aluno pesquisador requer um professor pesquisador que reflita sobre seu fazer pedagógico tendo sempre presente que, o questionamento e a interrogação são pilares para sua ação docente que pretende desenvolver no aluno a cultura da pergunta para ler e compreender que o processo sócio-histórico é fruto da ação humana que constrói e reconstrói a sociedade. Dessa forma, a pesquisa poderá mudar a relação do professor e do aluno com a aprendizagem na medida em que professores e alunos investigam, analisam, questionam, reinterpretando os conhecimentos e não apenas reproduzindo informações sem ler as entrelinhas e formular seu próprio entendimento dos fatos e fenômenos estudados, como assevera uma ex-aluna da pesquisa em tela:

[...]a qualificação deve começar nos profissionais da educação, para que eles possam transmitir da melhor maneira a importância desse método, e o quão ele pode ser importante para a formação do aluno para compreender o mundo e futuramente, caso ele tenha interesse na educação superior, aprofundar a pesquisa para ser um cidadão mais decidido e ajudar a construir um País e um mundo melhor. Penso que um dos principais objetivos do SI, era de envolver o aluno na pesquisa e fazer com que ele crie uma certa sede de conhecimento[...] (A1, p. 2).

Paulo Freire (2013, 47), interpreta que: “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. O conhecimento não é uma simples descrição de fenômenos ou fatos da realidade. Ele é reconstruído e apropriado pelos sujeitos num exercício contínuo de descoberta, de análise e compreensão da realidade em que vivem.

Outra ex-aluna do EMP referindo-se a importância da pesquisa revela:

Aprendi a buscar as informações e os conhecimentos que preciso para entender os assuntos da aula ou os problemas da vida sem ajuda dos professores porque no Seminário aprendi a ter mais autonomia e tomar decisões. Também aprendi a ser mais solidária com as pessoas e ajudar quem precisa. A pesquisa nas aulas do Seminário ajudou a entender melhor a vida porque pesquisamos temas da nossa realidade ou que queríamos conhecer e isso fez eu ter um conhecimento melhor. Hoje estudo e trabalho e luto para conquistar meu espaço na sociedade e ajudar

minha família a mudar de vida. Esse desejo de lutar por um lugar melhor na sociedade aprendi com a pesquisa que me mostrou a realidade (A3, p. 2).

Nessa perspectiva, o professor pesquisador dá testemunho de sua ação pedagógica incentivando e orientando o aluno a experenciar a pesquisa como forma de decifrar a realidade que o cerca e compreender os diferentes contextos do local ao global. Deseja- se um sujeito consciente, crítico e propositivo para atuar na sociedade, fazer suas escolhas e intervir na sociedade.

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