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O momento que vivo na escrita deste texto, remete-me olhar para trás e refletir sobre o percurso investigativo/reflexivo apreendido nessa experiência realizada, apontando algumas contribuições desta pesquisa para a educação. A investigação realizada com os gestores, professores do Seminário Integrado e a leitura dos marcos teóricos que embasam a Política Pública de Reconstrução Curricular do EMP (2011- 2014), estudados produziram mudanças em mim e a certeza que o conhecimento nunca é o espelho da realidade e exige sempre uma tradução, um olhar interpretativo para que possamos reconstruí-lo à luz das diferentes disciplinas ou campos do saber e orientar nossos alunos a buscarem respostas à suas inquietações, curiosidades ou angústias a partir da investigação.

Ao retomar e ampliar as leituras dos referencias teóricos e documentos constitutivos da Proposta de Reconstrução Curricular do EMP compreendo com maior lucidez o quanto ousamos ao projetar e dar processualidade a um projeto educativo ambicioso baseado na ressignificação do conceito de politecnia, sugerindo o vínculo existente entre educação e trabalho como forma dos educadores e educandos compreenderem a realidade social e cultural e o trabalho como práxis social.

Nas vozes dos gestores da SEDUC/RS (2011-2014) que narram as razões e motivos de desenvolver a reconstrução curricular referida, percebo o compromisso ético e político de um governo popular com a educação transformadora e de qualidade social que proporcione o conhecimento como possibilidade de recuperar a exclusão histórica gerada pela reprovação, abandono e fragilidade da aprendizagem vivenciadas nas escolas públicas da rede estadual gaúcha.

Nos conceitos de Marx, Gramsci, Nosella, Freire, Frigotto, Kuenzer, Machado, Saviani, Silva resgata-se o debate sobre a educação politécnica como práxis social, cultural e produtiva, por meio da qual o ser humano produz sua existência. É possível compreender que o trabalho como princípio educativo só educa se servir como atividade que promove a vida com dignidade e com justiça social e não como atividade de exploração e degradação da vida.

Na perspectiva de uma educação emancipadora é que os gestores da SEDUCRS pautaram suas ações ao longo da gestão, procurando fazer o debate com os professores e

a sociedade sul rio-grandense que ainda carrega as marcas e concepções de uma educação “bancária” baseada na memorização e na repetição, as quais não condizem com as juventudes do tempo atual.

Destaco as ações realizadas pelo governo do Estado do RS, no período em questão, para dar efetividade ao direito de todos à educação como condição de acesso à cidadania e de construção de uma escola pública como espaço de múltiplas possibilidades de aprendizagem aos sujeitos que acessam a escola e que vivem do trabalho.

Na análise provisória desta pesquisa percebo a incompletude de meu “olhar” sobre a interpretação dos discursos e categorias construídas, pois poderão ser analisados por outros olhares interpretativos os depoimentos dos entrevistados (gestores, professores e estudantes universitárias). Procuro no diálogo com os autores que embasam a Proposta do EMP, compreender como o conceito de trabalho se relaciona com a educação na perspectiva de ler a realidade da sociedade capitalista globalizada que exclui diariamente as condições dignas de vida de milhões de seres humanos menos favorecidos e que precisam das Políticas Públicas e da proteção do Estado Republicano.

Na trajetória desta pesquisa realizei a escuta das experiências vividas pelos professores do Seminário Integrado, destaco a relevância do aprender na experiência refletida pelas práticas que esta ação enseja como possibilidade do desenvolvimento profissional do professor e a reconstrução de seus saberes profissionais para mediar o ensino na escola pública, analisando-se em que medida o Seminário Integrado como momento curricular no Ensino Médio Politécnico e o ensino com pesquisa provocaram mudanças nos saberes dos professores do SI de duas escolas de Ijuí, campo desta investigação.

Concluo que a aprendizagem profissional se constrói e reconstrói na ação mediada pela teoria e na observação cuidadosa que o professor realiza ao acompanhar como cada aluno desenvolve o que lhe é proposto. Perceber como o aluno aprende, suas dificuldades e limites, requer que o professor cuide da aprendizagem, avalie seu trabalho, redirecione, aponte caminhos, problematize, crie outras metodologias e planeje novas ações rompendo com concepções fechadas e práticas repetitivas.

Nas vozes dos professores que narram suas experiências, evidencio seus dilemas, contradições, concepções e, também disposição e abertura para experienciar novas possibilidades de ensino e um compromisso profissional com a atualização e reconstrução

de seus saberes. Diante dos desafios de mudança do currículo escolar, a possibilidade de realizar o planejamento interdisciplinar, operacionalizando no cotidiano da escola a pesquisa no S.I, enunciada na proposta como eixo mobilizador que instituiu uma nova relação com o conhecimento escolar, integrando a cultura, o mundo do trabalho, a tecnologia com as mudanças em curso na sociedade contemporânea, os professores aprofundaram seus estudos, planejaram e partilharam as experiências vivenciadas com os alunos nos espaços escolares, avaliando as aprendizagens construídas e replanejando caminhos para dar sentido e significado ao que ensinam, recriando seus saberes e desenvolvendo sua ação profissional numa perspectiva mais reflexiva.

Os diferentes caminhos construídos, modificados, qualificados num exercício pertinente de compreender a realidade social que circunda a escola, refletindo sobre os questionamentos, dúvidas e curiosidade dos sujeitos adolescentes, jovens e adultos do EMP, mobilizaram os professores para orientar as pesquisas, demostrando sua preocupação com a qualidade das investigações realizadas, com a produção de síntese e comunicação dos resultados à comunidade escolar. A complexidade do ato de ensinar e aprender, remete à reflexão da docência e à alternativa de criar um cenário propício de reconstrução do conhecimento e de novas interpretações do existente.

Constata-se que cada grupo de professores que constituem as duas escolas, objeto desta pesquisa, compreendeu e planejou o trabalho no SI de forma distinta, conforme as condições proporcionadas a cada coletivo docente e as mediações realizadas pelas coordenações pedagógicas, profissionais indispensáveis ao trabalho dos professores que muitas vezes sentem-se solitários na sua tarefa de pensar suas práticas. Muitas interpretações e reflexões podem ser feitas sobre o trabalho docente na escola pública, que ao meu ver, sinalizam mudanças, ainda que frágeis nas concepções e práticas pedagógicas dos professores, no clima e na gestão escolar democrática que postulamos.

A transitoriedade das propostas e orientações pedagógica implantadas a cada 4 anos no RS, fragiliza o trabalho dos professores que sentem-se inseguros e resistentes às mudanças, especialmente na educação de nível médio que em nosso em nosso Estado há muitos anos é marcado por uma tradição de reprovação e abandono. Quebrar os muros que nos prendem a uma educação conservadora e elitista que prepara quem possui maior poder econômico para ser dirigente e governar, reservando ao trabalhador uma formação para atuar no mercado de trabalho, ser explorado e subserviente, como assevera Gadotti (2012), requer engajamento político dos educadores e segmentos da sociedade para dar

concretude a uma escola com ampla formação geral que prepare todos sem distinção de classes para vivenciar práticas cidadãs e agir na sociedade na perspectiva de sua transformação.

Construir uma escola que realize uma educação que respeite a diversidade, ensine a pensar, ensine a compreensão, a solidariedade e a tolerância, se configura como horizonte para um EM que prepare para a autonomia e empodere os sujeitos desta etapa da Educação Básica para fazer suas escolhas de forma responsável e consciente.

Nas narrativas das universitárias entrevistadas que cursaram o EMP, constato que o ensino pela pesquisa marcou de forma positiva a vida escolar dessas jovens que relatam o quanto foram significativos os trabalhos de pesquisa desenvolvidos no SI, apesar das contradições e da cultura docente inscipiente dos professores de trabalhar com a pesquisa. O que aprendo dessa experiência é que há uma complexidade no trabalho docente que permeia a profissão, exigindo estudo, ação-reflexão-ação e um trabalho coletivo pautado no diálogo e na troca dos professores com seus pares para que os educadores desconstruam concepções epistemológicas, culturais e metodológicas que dizem de uma educação já superada, enraizadas na formação acadêmica. Mudar essa tradição pedagógica requer um movimento dialético dos educadores e pesquisa sobre suas práticas em direção ao reconhecimento da profissão que encontra-se desvalorizada no contexto atual em nosso País e Estado.

A luta por melhores condições de trabalho e a qualidade da formação continuada com acesso dos professores a Programas de Pós-Graduação, à pesquisa de temas referentes ao fazer cotidiano docente, ainda carece ser conquistada pelos educadores que sofrem as consequências das disputa travadas por grandes grupos empresariais que veem à educação como mercadoria e o aluno como cliente, com o aval dos governantes, como presenciamos no cenário atual em que o novo EM que retira a possibilidade das nossas juventudes de ter uma ampla formação geral para o término da Educação Básica, e lhes nega o direito de fazer as escolhas de seus projetos de vida com maior lucidez.

Conforta-me ao concluir esse trabalho a certeza de que somos seres inacabados e buscamos motivos e razões para prosseguir. Então, talvez de forma mais clara percebo os limites, contradições e o desejo de continuar pesquisando, refletindo e questionando minha atuação como professora em duas escolas com sujeitos em situações de vida tão diferentes. Essa realidade vivida na profissão me faz pensar que saberes preciso

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