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Gestão ambiental para o desenvolvimento: uma sistematização da percepção dos processos a partir do estudo de caso da Prefeitura de Ijuí/RS

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Departamento de Ciências Administrativas, Contábeis, Economia e da Comunicação Departamento de Estudos Agrários

Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais

CURSO DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO

CELÍSIA LIANE ZIOTTI BOHN

GESTÃO AMBIENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO:

UMA SISTEMATIZAÇÃO DA PERCEPÇÃO DOS PROCESSOS A PARTIR DO ESTUDO DE CASO DA PREFEITURA DE IJUÍ/RS

Orientador: Dr. Martinho Luís Kelm

Ijuí (RS) 2012

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CELÍSIA LIANE ZIOTTI BOHN

GESTÃO AMBIENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO:

UMA SISTEMATIZAÇÃO DA PERCEPÇÃO DOS PROCESSOS A PARTIR DO ESTUDO DE CASO DA PREFEITURA DE IJUÍ/RS

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento, Linha de Pesquisa: Gestão das Organizações para o Desenvolvimento, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento.

Orientador: Dr. Martinho Luís Kelm

Ijuí (RS) 2012

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B677g Bohn, Celísia Liane Ziotti.

Gestão ambiental para o desenvolvimento : uma sistematização da percepção dos processos a partir do estudo de caso da prefeitura de Ijuí/RS / Celísia Liane Ziotti Bohn. – Ijuí, 2012. –

158 f. : il. ; 29 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Desenvolvimento.

“Orientador: Martinho Luís Kelm”.

1. Gestão ambiental. 2. Legislação ambiental. 3. Responsabilidade socioambiental. I. Kelm, Martinho Luís. II. Título. III. Título: Uma sistematização de processos a partir de um estudo de caso da prefeitura de Ijuí/RS.

CDU: 504

Catalogação na Publicação

Aline Morales dos Santos Theobald CRB10/1879

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UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento – Mestrado

A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação

GESTÃO AMBIENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO: UMA SISTEMATIZAÇÃO DA PERCEPÇÃO DOS PROCESSOS A PARTIR DO ESTUDO DE CASO DA PREFEITURA

DE IJUÍ/RS

elaborada por

CELÍSIA LIANE ZI OTTI BOH N

como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Martinho Luis Kelm (UNIJUÍ): __________________________________________

Profª. Drª. Marlise Amália Reinehr Dal Forno (UFRGS): _____________________________

Profª. Drª. Sandra Beatriz Vicenci Fernandes (UNIJUÍ): _____________________________

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Ao meu pai, espelho na busca de conhecimentos e competência; à minha mãe pela dedicação; à minha filha que é a razão da minha existência... Aos meus amigos de verdade...

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AGRADECIMENTOS

Existe uma força impossível de compreender e de descrever... A ela, chamo de Deus. Agradeço imensamente e Ele por iluminar o meu caminho, os meus dias, por orientar os meus pensamentos.

Mesmo que saibamos caminhar, é sempre necessário alguém que nos indique caminhos. Assim, agradeço de coração aos professores da Unijuí, que não mediram esforços quando os solicitei, que de uma forma muito especial contribuíram com os conhecimentos discutidos dentro e fora do espaço da Universidade. Em espacial à professora Sandra Beatriz Vicenci Fernandes que se preocupou com a minha atividade acadêmica, pontuando desde a qualificação do projeto as potencialidades e limitações do estudo. Mas agradeço principalmente a meu professor orientador que, com sua sabedoria e competência, contribuiu para que o curso de mestrado, bem como, a dissertação se tornassem desafiadores. Com suas considerações me amparou nos momentos de crises e angústias. Agradeço pelo seu esforço, pela sua dedicação, pelas inúmeras vezes que liguei fora do horário de aula e com sua costumeira atenção, sempre se dispôs a me ajudar. Com certeza, são os desafios que transformam a vida dos sujeitos. Registro aqui, as mais sinceras gratidões ao Prof. Martinho Luis Kelm meu mestre e, meu amigo, que ao longo desse período contribuiu no meu crescimento pessoal e profissional.

“Eu talvez não tenha muitos amigos. Mas os que eu tenho são os melhores que alguém poderia ter”. (Vinícios de Morais) Assim, agradeço aos meus amigos de verdade, em especial à Camila Marzari e a Thamise Marçal, que estiveram ao meu lado, que compreenderam a minha ausência e o meu silêncio.

De nada valeriam as pesquisas sociais, se não conseguissem registrar a história da humanidade, e de alguma forma, encontrar subsídios para transformação desta. Assim, agradeço aos servidores públicos e aos atores sociais que dedicaram um tempo na sua agenda para contribuir com a coleta de dados. Não há nada mais desmotivador para um pesquisador que perceber o desinteresse do público pelo estudo.

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À Capes – Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, pelo aporte financeiro que permitiu a realização do curso de Mestrado.

À Janete Guterres, secretária do Mestrado em Desenvolvimento, pelo atendimento qualificado e pelas orientações administrativas.

Por fim, agradeço àqueles que me compreenderam e incentivaram durante todo o processo de construção de conhecimento, os meus familiares, amigos e colegas de trabalho.

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“Um homem nada faria se, para principiar a fazer as coisas, esperasse até fazê-las com tal perfeição que ninguém lhes acharia

defeito” (Cardeal Newman)

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RESUMO

Este estudo teve com objetivo, diagnosticar como um conjunto de atores sociais especializados percebe a gestão socioambiental do município de Ijuí a partir da perspectiva das variáveis de Comando e Controle. O estudo de caso foi realizado no município de Ijuí, junto à Prefeitura Municipal, sendo que a amostra constituiu-se de servidores públicos e atores sociais inseridos em programas de desenvolvimento. A partir de modelo consolidado na literatura identificou-se os indicadores que constituem cada uma das variáveis críticas vinculadas ao Comando e Controle. De posse dos indicadores, investigou-se o grau de consecução dos mesmos, bem como, as ações de responsabilidade socioambiental que ultrapassam aquelas categorizadas pela legislação. Para obter o diagnóstico desta pesquisa foi elaborado um questionário de 83 questões abertas e fechadas. Os resultados apontaram que o poder público municipal possui ações de responsabilidade socioambiental, mas que, no entanto, ainda não estão consolidadas. Ou seja, quando dos questionamentos, a maioria dos indicadores foram considerados insuficientes, no que tange as atividades práticas de gestão ambiental. O estudo sinalizou a importância e a preocupação dos respondentes com a gestão ambiental, mas a ausência da legitimação das ações desenvolvidas pelo poder público municipal. Ainda como resultado, o estudo sistematizou os instrumentos de pesquisa empírica e processo de análise.

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ABSTRACT

This study aimed to diagnose how a set of specialized social actors perceive the social environmental management of the municipality of Ijuí from the perspective of command and control variables. The case study was conducted in Ijuí, in the City Hall, and the sample consisted of public servant and social actors of development. The consolidated model form the lterature it was identified the indicators that make up each one of the critical variables related to Command and Control. In possession of the indicators, we investigated the degree of achieving them, as well as the actions of social environmental responsibility beyond those categorized by the legislation. For the diagnosis of this research, it was prepared a questionnaire with 83 open and closed questions. The results showed that the municipal government owns shares of environmental responsibility; however, they are not yet consolidated. From the questions, most indicators were considered insufficient in relation to environmental management practices. The study indicated the importance and concern of the respondents with environmental management, but also the lack of legitimacy of the actions taken by the municipal government. As a result, systematized the study of empirical research instruments and analysis process.

Keywords: Environmental management. Environmental legislation. Social Environmental responsibility.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Equilíbrio dinâmico da sustentabilidade ... 42

Figura 2: Estrutura organizacional para a gestão ambiental local ... 66

Figura 3: Desenho de pesquisa ... 70

Figura 4: Estrutura de análise da emissão ... 84

Figura 5: Estrutura de análise da qualidade ... 91

Figura 6: Estrutura de análise do desempenho ... 98

Figura 7: Estrutura de análise do elemento tecnológico ... 103

Figura 8: Estrutura de análise das proibições e restrições ... 106

Figura 9: Estrutura de análise do licenciamento ambiental ... 110

Figura 10: Estrutura de análise do zoneamento ambiental ... 113

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Controle no padrão de emissão ... 85

Gráfico 2: Resumo geral dos indicativos do padrão de emissão ... 90

Gráfico 3: Controle do padrão de qualidade ... 92

Gráfico 4: Resumo geral dos indicativos do padrão de qualidade ... 97

Gráfico 5: Padrão de desempenho ... 99

Gráfico 6: Resumo geral dos indicativos do padrão de desempenho ... 102

Gráfico 7: Padrão tecnológico ... 103

Gráfico 8: Resumo geral dos indicativos do padrão de desempenho ... 105

Gráfico 9: Proibições e restrições sobre produção, comercialização e uso de produtos e processos ... 107

Gráfico 10: Resumo geral dos indicativos de proibições e restrições sobre produção, comercialização e uso de produtos e processos ... 109

Gráfico 11: Licenciamento ambiental ... 110

Gráfico 12: Resumo geral dos indicativos de licenciamento ambiental ... 112

Gráfico 13: Zoneamento ambiental ... 114

Gráfico 14: Resumo geral dos indicativos de zoneamento ambiental ... 116

Gráfico 15: Estudo prévio do impacto ambiental ... 118

Gráfico 16: Resumo geral dos indicativos de estudo prévio do impacto ambiental... 119

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Esferas da gestão ambiental integrada ... 45

Quadro 2: Instrumento de política pública ambiental ... 48

Quadro 3: Instâncias de ações preventivas e corretivas ou reativas ... 49

Quadro 4: Licenciamentos municipais fundamentais ... 67

Quadro 5: Sistematização da amostra ... 78

Quadro 6: Instrumento de política pública ambiental ... 83

Quadro 7: Fatores que dificultam uma emissão e controle mais adequado na questão de efluente ... 89

Quadro 8: Ações para a preservação da mata ciliar... 94

Quadro 9: Ações para a preservação da fauna silvestre ... 95

Quadro 10: Questões críticas da gestão do lixo ... 96

Quadro 11: Principais investimentos do poder público na gestão ambiental ... 101

Quadro 12: Contribuição da tecnologia ... 105

Quadro 13: Licenciamentos municipais fundamentais ... 111

Quadro 14: Licenças que o município possui ... 112

Quadro 15: Ações realizadas para o acompanhamento e fiscalização das APP’s ... 116

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LISTA DE ABREVIATURAS

AAAI: Associação dos Amigos dos Animais de Ijuí

ACATA: Associação de Catadores de Material Reciclável de Ijuí AIPAN: Associação Ijuiense de Proteção ao Ambiente Natural APP’s: Áreas de Preservação Permanente

COMDIMMA: Conselho dos Dirigentes Municipais de meio ambiente CONAMA: Conselho Nacional do Meio Ambiente

CONSEMA: Conselho Estadual de Meio Ambiente do Rio Grande do Sul CORSAN: Companhia Riograndense de Saneamento

DEMEI: Departamento Municipal de Energia Elétrica de Ijuí. Emater: Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural EPR: Extended Producer Responsability,

FAMURS: Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul FEPAM: Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler IBAMA: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis LI: Licença de Instalação

LO: Licença de Operação LP: Licença Prévia

ONG: Organização Não Governamental ONU: Organização das Nações Unidas

PLANSAB: Plano Nacional de Saneamento Básico RSD - Resíduos Sólidos Domésticos

RSR - Resíduos Sólidos Recicláveis

SEMA: Secretaria Estadual do Meio Ambiente

SENAT: Serviço Nacional DE Aprendizagem de Transporte SISNAMA: Sistema Nacional do Meio Ambiente

SMMA: Secretaria Municipal do Meio Ambiente UAB: União das Associações de Bairros de Ijuí

UNIJUÍ: Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul UNIMED: Sociedade Cooperativa de Trabalho Médico

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 14

1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO ... 17

1.1 Tema e sua delimitação ... 17

1.2 Problema ... 18 1.3 Justificativa ... 20 1.4 Objetivos ... 22 1.4.1 Objetivo geral ... 22 1.4.2 Objetivos específicos ... 22 2 REFERENCIAL TEÓRICO ... 23

2.1 Cenário da Gestão Ambiental Contemporânea ... 23

2.1.1 A ressignificação do Estado ... 32

2.1.2 Sustentabilidade e responsabilidade socioambiental ... 36

2.2 Gestão ambiental ... 43

2.3 Elaboração conceitual do modelo de investigação ... 47

2.4 Legislação ambiental ... 53

2.4.1 A gestão ambiental mediada pelo direito ... 57

2.4 A sinergia entre gestão ambiental e legislação ambiental ... 64

3 METODOLOGIA ... 68

3.1 Desenho da pesquisa ... 69

3.2 Fundamentos da pesquisa ... 71

3.3 Classificação da pesquisa ... 72

3.4 Universo da amostra e sujeitos da pesquisa... 76

3.4.1 Instrumento e coleta de dados ... 79

4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS ... 81

4.1 As variáveis de comando e controle ... 83

4.1.1 Padrão de emissão ... 83 4.1.2 Padrão de qualidade ... 91 4.1.3 Padrão de desempenho ... 98 4.1.4 Padrão tecnológico ... 102 4.1.5 Proibições e restrições ... 106 4.1.6 Licenciamento ambiental ... 109

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4.1.7 Zoneamento ambiental ... 113

4.1.8 Estudo prévio do impacto ambiental ... 117

4.2 Variáveis econômicas e outras variáveis ... 120

4.3 Considerações finais acerca do tratamento dos dados e dos resultados ... 124

CONCLUSÃO ... 130

REFERÊNCIAS ... 133

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INTRODUÇÃO

A sociedade está passando por um momento de profundas modificações, isto por que desaparece o mundo moderno, e percebem-se os efeitos desta transitoriedade para o mundo pós-moderno, conforme afirma Bauman (2008). Este mundo pós-moderno é, neste estudo, conceituado como um mundo “turbinado”, representado pela incerteza, marcado pela diferença, pela diversidade e pelo individualismo. Para Bauman (2008), este mundo é conceituado como líquido, uma vez que nada mais é duradouro, de longo prazo, mas passageiro e descartável.

A modernidade trouxe consigo inúmeros fenômenos. Não há como dissociar as mudanças climáticas, as alterações dos fenômenos naturais das necessidades de satisfação humana, ou seja, as tormentas, as secas, estão vinculados à escolhas humanas, que não se limitam à necessidade de consumir para sobreviver, mas de consumir para “ser”, a identidade de cada um definida pela possibilidade de consumo. Neste contexto, surge o conceito de sustentabilidade, muito utilizado pela mídia, mas, no entanto, pouco compreendido como um problema estrutural da sociedade como um todo. Para Leff (2008, p. 21), “[...] a noção de sustentabilidade foi sendo divulgada e vulgarizada até fazer parte do discurso oficial e da linguagem comum”.

Para conter os efeitos negativos do desenvolvimento humano e do progresso, é necessário compreender que o Planeta Terra não se resume a um recurso a ser explorado pela humanidade, como algo inesgotável, mas sim como uma fonte de riqueza a ser preservada para as gerações futuras. Por isso, sistematizar as iniciativas do setor público municipal como um agente que possui responsabilidades socioambientais é indispensável para discutir um processo de desenvolvimento efetivamente sustentável.

Compete ao poder público, a gestão da sociedade na sua totalidade, ou seja, sua atuação não pode ser efetiva somente na sustentabilidade econômica, ou social, mas também

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na sustentabilidade ambiental. No entanto, com o sistema capitalista consolidado, por algum tempo também o poder público ficou refém dos seus interesses, estando a sustentabilidade ambiental submetida ao modelo da sociedade, ou seja, o capitalismo.

A gestão ambiental constitui-se em um desafio para a administração pública, visto que perpassa pela compreensão cultural e moral da sociedade. Uma vez que, promover mudanças neste cenário demanda investimento não só financeiros, mas também de disposição de pessoal e profissional. Responsabilizar o setor público por promover ações de responsabilidade socioambiental é instituir uma política que ultrapassa as promessas de qualidade de vida por números estatísticos, mas sim de conduta humana.

Considerando a problemática da mudança de paradigmas, este estudo buscou identificar os indicadores que constituem as variáveis de Comando e Controle propostas por Barbieri (2004), bem como sistematizar e relacionar as variáveis essenciais que compõem a gestão ambiental e as ações de responsabilidade socioambiental na esfera municipal. Assim, o estudo foi desenvolvido no município de Ijuí, a partir das iniciativas de gestão ambiental da prefeitura municipal.

A identificação dos indicadores que constituem cada uma das variáveis de comando e controle é indispensável, pois possibilitam avaliar as percepções dos cidadãos quanto a aplicabilidade da regulamentação. Já a sistematização das ações que extrapolam aquelas compreendidas como de comando e controle, é importante porque possibilita verificar a efetividade das ações do poder público e também como este se organiza administrativamente para cumprir o seu papel.

Nesse sentido, o próximo capítulo delimita a pesquisa para, na sequência, apresentar o referencial teórico, que se constitui da apresentação do mundo pós-moderno, e contextualiza as “escolhas” dos cidadãos e os poderes que influenciam no modelo de sociedade. A partir disso apresenta-se a ressignificação do Estado com seus novos desafios, seguido do conceito de sustentabilidade e responsabilidade socioambiental.

Finalizada a apresentação do cenário e as inquietudes do mundo pós-moderno, é discutida a gestão ambiental, que está fortemente amparada nas discussões legais. A legislação é discutida a partir dos principais movimentos de consolidação do direito ambiental até as competências municipais entendidas através da legislação nacional e estadual. Por fim, foi buscado contextualizar a sinergia entre a legislação e a gestão ambiental.

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No capítulo três consta a discussão metodológica que inclui o desenho, a fundamentação e a classificação da pesquisa que sustentaram o estudo. Ainda, o universo amostral, delimitado os sujeitos da pesquisa, que incluiu funcionários públicos e atores do desenvolvimento. Apresenta-se também, o instrumento, as técnicas e o roteiro da coleta de dados. Os dados foram coletados a partir da aplicação de questionário constituído de questões abertas e fechadas.

O capítulo quatro buscou analisar e interpretar os dados coletados na pesquisa de campo. Diagnosticou-se a partir da análise dos indicadores que a gestão ambiental no município de Ijuí, ainda está em fase de implementação e discussão. Pois a execução da própria legislação ainda é insuficiente. Por fim, apresenta-se as considerações finais e a conclusão.

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1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO

Este capítulo tem o propósito de apresentar o tema estudado, bem como, o problema que representa a inquietação que motivou a pesquisa. Na sequência, apresenta-se a justificativa, ou seja, a comprovação da relevância do estudo. Ainda, os objetivos que foram norteadores para a resolução do problema.

1.1 Tema e sua delimitação

Este estudo, a partir do modelo de análise da gestão ambiental proposto por Barbieri (2004), apresenta uma estrutura aplicada de identificação dos indicadores que constituem cada uma das variáveis de Comando e Controle e sua aplicação em um caso específico.

Desta forma, o escopo do estudo é circunscrito pela gestão ambiental na perspectiva da responsabilidade objetiva do ente público municipal. Esta responsabilidade é avaliada em termos de grau de controle de cada indicador proposto por Barbieri (2004) na perspectiva de um conjunto de especialistas.

A amostra buscou sua qualificação pelo grau de vínculo de seus atores com a atividade de gestão ambiental. Ou seja, todos componentes da amostra possuem funções operativas vinculadas à atividade e os resultados do estudo de caso estão limitados pela percepção dos atores da amostra com relação ao tema investigado e, obviamente, dentro das condições do momento da aplicação do questionário.

Ainda com relação ao estudo de caso, os resultados estão delimitados pela percepção dos envolvidos com relação ao Município de Ijuí/RS, não sendo possível generalização dos resultados. É também importante esclarecer que, o estudo da gestão ambiental parte da análise da responsabilidade e da potencial ação de um ente de estado sobre o tema, tomando como ponto de partida aquelas atribuições que seriam seu dever de ofício.

Uma vez diagnosticado à percepção dos atores qualificados com relação há efetividade de cada um dos indicadores que constituem as variáveis de comando e controle, a pesquisa verificou as ações de responsabilidade socioambiental que constituem a gestão ambiental da Prefeitura Municipal de Ijuí/RS. Ou seja, além de especificar os indicadores e propor uma

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ferramenta de diagnóstico objetivo, buscou identificar a existência de ações socioambiental que são realizadas pelo poder público sem a determinação da lei.

A escolha pelo modelo de Barbieri ocorreu por identificar que este contempla uma gestão integrada, ou seja, as variáveis legais e, ainda, aquelas que extrapolam a determinação da lei. Assim, o modelo de Barbieri contribuiu como ponto de partida para a constituição de uma modelo que permitisse a identificação de variáveis imersas na legislação, cujo objetivo é o resultado de curto prazo. No entanto, não se esgota nas ações imediatas, mas sugere as variáveis de longo prazo, cujo objetivo é a conscientização e promoção de um comportamento ambientalmente correto.

1.2 Problema

O mundo pós-moderno é caracterizado por mudanças ininterruptas no modo de gestão das organizações, no modelo de vida das pessoas, bem como da exploração de recursos naturais em beneficio da qualidade de vida. A interconexão global traz um conjunto de riscos que ultrapassam a dimensão de um indivíduo ou de uma organização, por exemplo, a escassez de recursos naturais que, consequentemente implica na continuidade de vida no planeta. Atualmente, os fatores de risco têm o potencial de ampliar seus efeitos a toda uma região, cabendo, pois, a esta, monitorar e agir sobre estes fatores de risco.

Compreender a importância da gestão ambiental e as dificuldades da implantação de um modelo perpassa por reconhecer as transformações do mundo, as influências políticas e econômicas que movimentam a humanidade. Por isso, este estudo preocupou-se em buscar na bibliografia elementos que possibilitaram a discussão da evolução do mundo, contribuindo para a compreensão dos problemas atuais.

Com a globalização, o mundo pós-moderno se apresenta extremamente diferente do passado. Há um rompimento nas situações de pertencimento e na forma de organização social, isto porque, tanto a globalização quanto os avanços científicos e tecnológicos transformaram o mundo pela acessibilidade e mobilidade.

No sistema capitalista, o “ser” passa a ser mensurado pelo ter, ou seja, as pessoas são vistas a partir daquilo que possuem, pela capacidade de consumir e não mais pelos valores e crenças. Esse sistema determina o modelo social, familiar e, inclusive, individual que o sujeito adota. Por isso, Bauman (2008, p. 71) sustenta que: “[...] os lugares obtidos ou alocados no

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eixo da excelência/inépcia do desempenho consumista se transformam no principal fator de estratificação e no maior critério de inclusão e exclusão, assim como orientam a distribuição do apreço e dos estigmas sociais”. Não estão mais desabrigados aqueles que a sociedade reconhecia como sem teto, mas sim, são desabrigados da humanidade aqueles que não conseguem fazer parte desta sociedade onde o reconhecimento acontece a partir do consumo.

Por esta razão, o conceito de causalidade está tão próximo do sistema capitalista, afinal, a causa, reconhecida também pelos interesses e desejos humanos, é facilmente identificável e mensurável, enquanto que os efeitos, que representam os resultados e consequências das ações, são imprevisíveis e desconhecidos. Não há como medir o impacto da cultura do consumo e da maneira como a sociedade se organiza sobre o meio ambiente.

Para atenuar os efeitos de um progresso puramente materialista, a esperança é de que os agentes possam surgir do poder público implementando modelos de gestão ambiental e ações de responsabilidade socioambiental. Para isso, este estudo teve como propósito relacionar os indicadores que constituem cada uma das variáveis de comando e controle, ainda, sistematizar e relacionar as ações de responsabilidade socioambiental realizadas pelo poder público municipal.

As variáveis constituem os elementos que devem ser controlados e preservados no processo de gestão ambiental. Sendo assim, para este estudo, utilizou-se o modelo de Barbieri (2004) cujos instrumentos de política pública ambiental são classificados em três gêneros: Comando e Controle, Econômico e Outras Variáveis.

Diferentemente do que se pensava na época do Taylorismo, no início do século passado, não há um modelo ideal nos processos de gestão. A gestão ambiental está certamente em processo de elaboração. Para ser sustentável, o setor público deve cumprir com pelo menos três fatores essenciais: a sustentabilidade econômica de manter uma estrutura de recursos materiais e humanos; a sustentabilidade jurídica, atendendo as leis federais e criando normas municipais. Por fim, mas não menos importante, as ações que contemplem o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas, ou seja, a sustentabilidade ambiental.

A partir deste contexto o estudo tem como grande questão articuladora da investigação: Como um conjunto de atores sociais qualificados percebem a gestão socioambiental do município de Ijuí/RS a partir da perspectiva das variáveis de Comando e Controle?

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1.3 Justificativa

O processo de investigação contribui significativamente para alicerçar, desenvolver o conhecimento e implementar novas práticas. Por isso, este estudo teve como base investigar a percepção dos atores sociais com relação à efetividade da gestão ambiental na prefeitura do município de Ijuí, a partir de indicadores que constituem as variáveis de comando e controle, as quais apresentam-se como ações de curto prazo. Assim como, verificou as ações de responsabilidade socioambiental que extrapolam aquelas determinadas por lei, também identificadas como de longo prazo. Nesse sentido, Motta e Vasconcellos (2004, p. 173) afirmam que: “Há sempre que se investigar os processos que embasam as escolhas dos atores sociais, sejam eles indivíduos ou grupos”. Isso contribui para a sustentação e elaboração de modelos e estratégias.

A partir da década de 1970 iniciou-se um movimento formal em busca de gestão pública ambiental, na maioria das vezes implícita por regulamentação e punição aos cidadãos e organizações que desrespeitem o meio ambiente. O movimento que oficialmente possibilitou emergir a discussão e iniciou as recomendações com relação aos cuidados e proteção ao meio ambiente foi a declaração de Estocolmo realizada em 1972 durante uma conferência. Desde então, a regulamentação com relação ao uso e exploração do meio ambiente está sendo mais rigorosa e constantemente aplicada.

Com a regulamentação atuando severamente em proibições e limitações para o uso dos recursos naturais, a identificação dos indicadores que constituem as variáveis de comando e controle, determinadas por Barbieri (2004), pode contribuir não só para o diagnóstico da percepção dos atores sociais, mas também como medida de efetividade da gestão ambiental pública. Desta forma, os gestores podem realizar ações mais pontuais, ou seja, focadas em resultados capazes de serem percebidos com mais facilidade por aqueles que desconhecem as ações técnicas que constituem a gestão ambiental.

Para desenvolver um modelo de gestão ambiental pública eficiente é indispensável que as ações contemplem aquelas de curto prazo, ou seja, de resultados imediatos, assim como as de longo prazo, que buscam alterar costumes, crenças, valores. Portanto, este estudo contribuiu significativamente uma vez que mapeou os indicadores das variáveis de comando e controle, diagnosticando a percepção de atores sociais, bem como, especificou as ações de longo prazo, denominadas por Barbieri (2004) como econômicas e outros.

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Ao decodificar o grupo de cada uma das variáveis propostas por Barbieri (2004) em indicadores menores, as ações de gestão ambiental, realizadas pelo poder público local se tornam mais acessíveis para realização de um diagnóstico. Isto porque, os indicadores possibilitam verificar na prática as ações locais. É nas esferas menores que se consegue diagnosticar a dinâmica ambiental com mais efetividade.

Para a sociedade, a gestão ambiental responsável e eficaz garante melhorias na qualidade de vida das pessoas e, consequentemente, nas relações sociais. Por isso, os cidadãos tem valorizado as estratégias criadas pelo poder público para a implementação de ações socioambientais. Desta forma, a sistematização deste estudo buscou contribuir para que, tanto os cidadãos, como os representantes eleitos, possam verificar as ações implementadas, bem como a efetividade das mesmas. Proporciona também, um mapeamento situação atual.

A preocupação com a qualidade de vida das pessoas e com a preservação dos ecossistemas é originada de certa forma das inúmeras manifestações do meio ambiente, são catástrofes que causam destruição e prejuízos, independente da classe social, raça ou cor. Assim, essa pesquisa possibilitou inquietações e reflexões sobre a sustentabilidade ambiental, o que pode contribuir no processo de conscientização daqueles que tiverem acesso ao estudo.

O município de Ijuí, nos últimos três anos, vem buscando estruturar seu modelo de gestão ambiental amparado inicialmente no atendimento dos requisitos legais. Assim, outra relevância deste estudo é o ineditismo da pesquisa e a contribuição com o diagnóstico de percepção de diferentes atores sociais sobre as iniciativas da gestão pública municipal.

Pensar proteção pessoal, neste estudo, ultrapassa a guerra armada, mas se legitima na gestão ambiental, quando perpassa pela qualidade de vida, preservação e proteção do meio ambiente para as gerações futuras. Sabe-se que a gestão ambiental só acontece a partir da multidisciplinaridade de saberes, por isso, este estudo não teve a pretensão de aprofundar ou discutir conhecimentos técnicos de outras áreas, mas de discutir os esforços realizados pelo poder público.

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1.4 Objetivos

1.4.1 Objetivo geral

Diagnosticar como os atores sociais especializados percebem a gestão socioambiental do município de Ijuí a partir da perspectiva das variáveis de Comando e Controle.

1.4.2 Objetivos específicos

 Identificar na bibliografia as variáveis essenciais dos modelos de gestão ambiental e sua dinâmica de operação;

 Elaborar um instrumento de coleta e sistematização de dados para os elementos que constituem o grupo das variáveis de Comando e Controle, a partir do modelo de Barbieri (2004);

 Analisar a consecução das variáveis de comando e controle de Gestão ambiental da Prefeitura Municipal de Ijuí-RS;

 Identificar as ações de responsabilidade socioambiental desenvolvidas pelo poder público municipal que potencialmente extrapolam as categorizadas como de Comando e Controle.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

O estudo da gestão ambiental implica compreender as evoluções do mundo enquanto elementos econômicos, políticos e sociais, bem como a percepção da importância dos recursos naturais para a qualidade de vida no planeta. Por isso, o referencial teórico inicia-se com a explicação da evolução social, política e econômica do mundo num cenário pós-moderno e busca evidenciar a trajetória histórica que influenciou na reconfiguração do poder do Estado. Na sequência, é discutida a sustentabilidade ambiental no contexto de responsabilidade socioambiental. Estas discussões de mundo pós-moderno e de sustentabilidade possibilitam a compreensão da importância da gestão ambiental que está amparada e acontece basicamente pela legislação. Por isso, o estudo segue com a argumentação sobre gestão ambiental e o direito ambiental. Por fim, é apresentada uma reflexão sobre a sinergia entre gestão ambiental e direito ambiental.

2.1 Cenário da Gestão Ambiental Contemporânea

Conceituar um momento histórico é sempre um desafio para pesquisadores. Isto acontece porque o momento presente é reflexo das inúmeras transformações vivenciadas no passado. Assim, compreender o mundo pós-moderno só é possível através do diálogo entre autores que emitem suas percepções sobre as evoluções que trouxeram a sociedade até o estado atual. Neste estudo a base para compreensão dessa evolução utiliza-se dos estudos de Bauman (2007-2008).

Pode-se conceituar este momento da história da humanidade como um jogo de xadrez. No tabuleiro, ao iniciar o jogo, muitas são as peças dispostas, no decorrer, algumas vão sendo retiradas, pouco a pouco, em função da força e do domínio de outras. Por isso, considerar as forças e o contexto de globalização é imprescindível para compreender os movimentos sociais e de mercado.

Esse mundo ao qual se chamou neste estudo de turbinado, para Bauman (2007, p. 53) é compreendido como: “[...] o novo padrão de vida líquido-moderno, permanentemente transitório”. Segundo Leff (2008, p. 122), numa visão mais pessimista, “Vivemos num mundo onde a perda de sentidos existenciais, a desesperança generalizada pela marginalização, pelo desemprego e pela pobreza e o fastio da abundância geram uma reação cega que tende a

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desvalorizar a própria vida”. Ou seja, é o poder de algumas “peças” que movimentam a história da humanidade.

A partir da década de 70 e início da década de 80, passou-se a viver uma nova etapa ou, como dizem historiadores e geógrafos, nova fase do capitalismo e da sociedade, dando destaque a dois processos interligados: a Terceira Revolução Industrial, ou Revolução Técnico-científica, e a globalização. Ambos estão interligados e interdependentes, uma vez que um impulsiona o outro e representam as duas faces de uma mesma moeda, ou seja, do mesmo conjunto de mudanças econômicas, sociais e culturais. Essa relação de interdependência acontece na medida em que, a globalização se apoia nos instrumentos gerados pela Revolução Industrial para obter a sua expansão, enquanto que a revolução se apropria da globalização para abrir seus espaços no mercado mundial.

A década de 1970 foi aquela em que os 30 anos gloriosos da reconstrução pós-guerra [...] do sistema colonial e a proliferação de novas nações estavam caindo no passado, abrindo portas para o admirável mundo novo de fronteiras removidas ou vazadas, o dilúvio de informações, a globalização galopante, o festival de consumo no norte abastado e um senso de desespero e exclusão cada vez mais profundo em grande parte do resto do mundo, a partir do espetáculo da riqueza de um lado e da destituição do outro. (BAUMAN, 2007, p. 55).

Com este pressuposto, pode-se aceitar que a globalização traz consigo comunicação e interação entre povos e economias, mas não necessariamente esses vínculos caracterizam benefícios equilibrados para o mundo ou mesmo para os povos envolvidos, no mínimo não de modo equitativo. Esta nova Revolução Tecnológica e Industrial produz ideias e objetos (fibras ópticas e novos computadores, robôs, aviões mais velozes, novos telefones celulares interligados à internet etc.), que materializam e forçam esta união. Por meio deste movimento, o mundo se torna tecnicamente acessível e móvel.

O termo globalização começou a ser usado no segundo quinquênio do século XX, referindo-se ao novo e avançado estágio na relação de interdependência de todos os povos e economias do Planeta. Cabe destacar que, desde os primeiros momentos em que os grupos humanos estabeleceram contatos entre si, houve troca de informações, conhecimentos de técnicas e de cultura. No entanto, em algumas oportunidades na história da humanidade esses contatos se aceleraram e se aprofundam.

O termo globalização tornou-se popular após a crise e queda do sistema socialista, entre 1989 e 1991, especialmente com relação à União Soviética (URSS). A partir daí, deixou

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de haver dois mundos, o “capitalista e o socialista”, quando todos os Estados, com raras exceções, passaram a integrar o mercado capitalista internacional, ocorrendo assim, uma grande abertura das economias nacionais para o sistema financeiro internacional, principalmente no que diz respeito aos investimentos entre os diferentes países.

Este processo não é de todo novo, já que a expansão do sistema capitalista iniciou na Europa por volta dos séculos XV e XVI com as grandes navegações e o advento da Primeira Revolução Industrial, unificando o planeta e criando, pela primeira vez na trajetória da humanidade, um mercado mundial. Desta maneira, a globalização representa um novo degrau ou, então, uma nova etapa do processo histórico de mundialização do capitalismo, enquanto as economias nacionais estão enfraquecendo diante da forma de atuação e de interdependência do mercado global.

Acredita-se que a globalização tenha surgido com tal poder que “[...] trazia em si a vontade de construir um capitalismo extremo, livre de toda influência exterior, exercendo seu poder sobre o conjunto da sociedade” (TOURAINE, 2006, p. 31). Esta ambição foi reconhecida para Touraine (2006, p. 31) como: “Foi esta ideologia de um capitalismo sem limites que suscitou tanto entusiasmo e tanta contestação”.

Não somente na economia está ocorrendo a tão propalada integração mundial, mas, também, em outros setores envolventes da sociedade, tal como na cultura. O planeta está ficando aparentemente menor, a tecnologia através da imprensa, da internet e dos meios de transporte, leva o conhecimento dos fatos no mesmo dia e até mesmo no momento da ocorrência, às vezes, ao vivo a qualquer lugar do mundo. Utiliza-se a expressão “aldeia global” para fazer referência à facilidade de comunicação e, até mesmo de deslocamento das pessoas de um país para outro, para as medicações e movimentos internacionais, que, além de ser provedor, é também condutor de conhecimentos e ideias.

O reflexo dessas mudanças implica em reconhecer muitos mundos em um só mundo. Para Bauman (2007, p. 13), esses efeitos “[...] significa, além disso, uma sociedade impotente, como nunca antes, em decidir o próprio curso com algum grau de certeza e em proteger o itinerário escolhido, uma vez selecionado”. A humanidade está presa aos rumos do sistema capitalista e de uma globalização irreversível.

O cenário de um mundo globalizado interfere consideravelmente na forma como “caminha” a humanidade. O início desta trajetória foi marcado por um tempo onde a Igreja era responsável por encaminhar as pessoas para a vida eterna e, portanto, cabia a ela definir as

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verdades, o conceito de pecado, isto é, do certo ou errado, daquilo que é moralmente correto. Neste período, as pessoas se sentiam pertencentes à Igreja e devotas de um poder supremo, mesmo que de alguma forma desconhecido.

Mais tarde, assume como detentor do poder o Estado, e, juntamente com o conceito de nação, se posiciona como soberano e responsável por determinar as regras e normas da sociedade. O Estado se torna o regulador social e, uma vez consolidado, a exemplo do Estado de Bem-Estar tinha a obrigação de prover, pelas suas decisões, um ambiente confortável para as pessoas sobreviverem e conviverem. Isto implica em educação, segurança e economia. Conforme Bauman (2007, p. 19), “As políticas de seguro contra infortúnios individuais sustentadas pelas comunidades, que no curso do século passado vieram a ser coletivamente conhecidas sob o nome de Estado (do bem-estar) social”. No entanto, para sustentar tais políticas, o Estado naquele período possuía grande parte do poder de decisão.

Com a sofisticação do sistema capitalista o próprio Estado, passa a utilizar-se de instrumentos do capital para a tomada de decisão. Assim, o Estado cede espaço para a evolução tecnológica e internacionalização financeira a ponto de que outras forças começaram a surgir e desenhar um mundo sem fronteiras. A este movimento de rompimento geográfico, fortalecimento das iniciativas privadas, abertura de mercados, denomina-se globalização. Conforme Bedin (2003, p. 520), “[...] a relativização dos conceitos de soberania e de autonomia do Estado moderno é um dos acontecimentos mais importantes da sociedade internacional da atualidade, constituindo-se, portanto, no pressuposto estruturante de uma nova era: a era da globalização”.

Com as novas tendências e um cenário globalizado, promover as garantias de bem estar social fica à mercê de outras classes dominantes. Por isso, segundo Bauman (2007, p. 19), “[...] estão sendo agora total ou parcialmente reduzidas e cortadas abaixo do limiar em que seu nível é capaz de validar e sustentar o sentimento de segurança, e, portanto também a autoconfiança dos atores”. Num mundo globalizado a responsabilidade por educação, segurança e qualidade de vida, está condicionada à atuação dos diversos atores sociais, não sendo mais responsabilidade exclusiva do Estado, não por mudança de responsabilidade, mas pela ampliação da complexidade deste processo.

É importante compreender que a abertura de mercado, possibilitada pela globalização, que trouxe um novo contexto para o mundo onde poderes privados e de grandes corporações e do capital financeiro se fortalecem enfraquecendo as diretrizes estatais tradicionais. Não se trata de julgar se esse contexto é melhor ou não que o anterior, mas de possibilitar a

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visualização das diferenças e influências. Segundo Bauman (2007), ocorre a separação e o iminente divórcio entre o poder (força) e a política (Estado). Implica reconhecer que as forças do mercado se apresentam nas sociedades com mais ênfase, ocupando um espaço que antes pertencia somente ao Estado.

Para exemplificar melhor essa transição de poderes, Bauman (2007, p. 8) explica que: “Grande parte do poder de agir efetivamente, antes disponível ao Estado moderno, agora se afasta na direção de um espaço global (e, em muitos casos, extraterritorial) politicamente descontrolado, enquanto a política – a capacidade de decidir a direção e o objetivo de uma ação”. A força de impulsionar o progresso e movimentar as sociedades passa a ser divida entre Estado e iniciativa privada. Este processo, entretanto não ocorre de modo planejado e necessariamente articulado sendo que o desenvolvimento, em algumas situações, é quase que um efeito colateral.

O Estado acaba sendo subsumido pela lógica do sistema e que ele passa a ter o compromisso de regular e garantir direitos. Isto é, o próprio Estado entra no cenário das organizações, competindo e buscando estratégias para se fortalecer frente aos demais. Por esta razão, Matias (2005) questiona se é realista e racional considerar que a regra da livre escolha por cada Estado, seja ele político ou econômico, é ainda uma regra efetiva do direito internacional, quando a globalização torna praticamente impossível a escolha de um sistema que não o sistema que combina a economia de mercado e a democracia liberal.

Isto acontece, por um lado, pela dominação das grandes corporações e principalmente pela dinâmica que se estabeleceu na internacionalização do capital financeiro e, por outro, pela submissão das pessoas para com as organizações. Ambas ficam submetidas a lógica financeira e de remuneração do capital, tendo que competir em todas as instâncias da sua vida, o que significa abrir mão, muitas vezes, de origens, crenças e valores. Bauman (2007, p. 9) defende este pensamento da seguinte forma: “A exposição dos indivíduos aos caprichos dos mercados de mão-de-obra e de mercadorias inspira e promove a divisão e não a unidade. Incentiva as atitudes competitivas, ao mesmo tempo em que rebaixa a colaboração e o trabalho em equipe”. Assim, as pessoas buscam encontrar novos significados para suas existências. Afirma ainda o autor que: “Sucessos passados não aumentam necessariamente a probabilidade de vitórias futuras”, o que resulta em movimentação constante dos profissionais. É quase uma identidade de nômades para estes, em busca de pertencimento e segurança.

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A relativização do poder do Estado, e, a intenção de dividir a responsabilidade da decisão a partir de privatizações, promove o reconhecimento de que as iniciativas privadas acabam sendo detentoras de um nível elevado do poder, quando se trata da tomada de decisão dos rumos da sociedade. A preocupação deve estar relacionada ao significado de descentralizar a decisão e responsabilizar os indivíduos pelos processos e resultados destas.

Com o progressivo desmantelamento das defesas construídas e mantidas pelo Estado contra os tremores existenciais, e com os arranjos para a defesa coletiva, como sindicatos e outros instrumentos de barganha, com cada vez menos poder devido às pressões da competição de mercado que solapam as solidariedades dos fracassos, passa a ser tarefa do indivíduo procurar, encontrar e praticar soluções individuais para problemas socialmente produzidos, assim como tentar tudo isso por meio de ações individuais, solitárias, estando munidos de ferramentas e recursos flagrantemente inadequados para esta tarefa. (BAUMAN, 2007, p. 20).

Pensar a expansão da lógica do mercado é acreditar em um modelo de produção capaz de nortear a história da humanidade. Nesse sentido, Dupas (2006, p. 86) adverte que: “O capitalismo se define por um modo de produção que situa tanto o problema como sua solução. Sua legitimação já não emana da tradição cultural, mas é estabelecida sobre a base da divisão do trabalho social”. São as relações de troca que representam as forças da sociedade.

O capitalismo é a inversão do valor do ser para o valor do ter. O valor das pessoas é mensurado através da capacidade de consumir e não mais pelos seus costumes ou crenças. Assim, suscitando a gestão ambiental, é possível perceber que “[...] o capitalismo é como uma cobra que se alimenta do próprio rabo” (BAUMAN, 2007, p. 33). No contexto atual, a distância entre a boca e o rabo está diminuindo rapidamente, e isso implica, em receber rapidamente os efeitos das próprias ações. Portanto, o sistema capitalista dá origem a cultura de consumo, onde é preciso “ter” para “ser”.

Nesse cenário, as consequências são facilmente justificáveis quando o debate restringe-se na produção e na necessidade de consumo. Para Coelho (2010), um dos problemas concentra-se na ideologia que subordina a conservação da natureza aos interesses puramente humanos, como se ela não consistisse num valor em si mesma. Portanto, o resultado do sistema capitalista está relacionado ao volume de produção, que consequentemente proporciona mais empregabilidade, ou seja, aumento de renda, seja por salário ou capacidade de endividamento, mas que resulta em uma sociedade de consumo que

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nem sempre se responsabiliza pelos resultados e consequências de um “consumo sem limites”.

É necessário destacar que o sistema capitalista recebeu sua atenção acentuada com a chegada da globalização e, por isso, estes dois fenômenos parecem indissociáveis. Como forma de universalizar seus negócios, o capitalismo se utilizou da globalização para conquistar o mundo. A globalização se tornou o mecanismo para difundir o capitalismo por todo o mundo.

O sentimento de transitoriedade, de um mundo acelerado e turbinado no que tange os conceitos de velho e novo, passado e presente, é fruto do que já está mencionado como globalização. Bedin (2003, p. 507) conceitua globalização como: “[...] novo momento do desenvolvimento da humanidade, que produz uma surpreendente redefinição das noções de tempo e, especialmente, de espaço, conduzindo a uma diminuição das distâncias e tornando instantâneo qualquer acontecimento em qualquer lugar do planeta”. São os avanços em termos de processamento e comunicação que contribuíram para que o mundo se tornasse totalmente acessível.

Numa visão mais pessimista, Bauman (2007, p. 30) aborda a globalização como: “Em sua forma atual, puramente negativa, a globalização é um processo parasitário e predatório que se alimenta da energia sugada dos corpos Estados-nações e de seus sujeitos”. A globalização segundo o autor, a partir dos efeitos negativos que é, a abertura de mercado, os diálogos culturais e a evolução tecnológica proporcionaram. Já para Leff (2008, p. 124) globalização é: “[...] a mudança histórica mais importante de ordem mundial na transição para o novo milênio. Este processo tende a dissolver as fronteiras nacionais, homogeneizando o mundo através da extensão da racionalidade do mercado a todos os confins do orbe”. Nesse sentido, Touraine (2006, p. 34) comenta: “A globalização, convém repetir, é uma forma extrema de capitalismo que não tem mais contrapeso”. Ou seja, em um mundo turbinado e líquido o único elemento sólido é o sistema capitalista que se instrumentaliza da globalização para expandir.

A globalização interfere significativamente na forma como as organizações se constituem e se fortalecem, interferindo na movimentação de pessoas, bens e serviços de forma ilimitada e sem fronteiras. Para Coelho (2010, p. 34), o poder da globalização pode ser compreendido da seguinte forma: “A globalização impulsiona tudo isso, mas o faz mediante um poderoso processo de criação e difusão de ideias, valores, preferências, tecnologias, formas de produção e de organização, comportamentos públicos e privados e, principalmente

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conhecimento e informação”, atuando nesse contexto como fator positivo na sociedade. Na opinião de Veiga (2006, p. 69), “É profundo o choque de visões sobre a globalização. De um lado estão os que a enxergam como fenômeno real e pensam que nada sintetizaria melhor a condição humana contemporânea” e, no outro lado “[...] céticos para quem tudo não passaria de ilusão inflada pelo entusiasmo de inocentes globalistas”.

Os efeitos da globalização não se restringiram a marcar a virada de um mundo para outro, mas implicaram rever crenças e paradigmas, pois apresentaram novas verdades, entre elas a sociedade de consumo. Nesse sentido, segundo Touraine (2006, p. 36), “Ela intervém no nível dos modos de gestão da mudança histórica. Ela corresponde a um modo capitalista extremo de modernização, categoria que não deve ser confundida com um tipo de sociedade”, ou seja, não se trata de compreender a globalização como uma etapa da história da humanidade, mas como um marco de mudanças significativas nas formas de organização social, política, econômica e ambiental.

A obscuridade da globalização é apresentada por Dupas (2006, p. 106): “A globalização não amplia os espaços, estreita-os; não assume responsabilidades sociais e ambientais; pelo contrário, acumula problemas, transforma-se em sintoma de sobrecargas”. Admite-se que, tanto o sistema capitalista como a globalização, foram responsáveis por difundir a sociedade de consumo, onde os problemas socialmente produzidos não podem ser resolvidos em instâncias individuais.

Por sua força de mobilidade e acessibilidade, a globalização não se restringe exclusivamente à abertura de mercado, mas interfere na constituição das pessoas, nesse caso, das identidades. O indivíduo se torna livre das fronteiras e teoricamente independente para realizar suas escolhas, passando a ser responsável por suas decisões e pelos problemas oriundos destas. Bauman (2007, p. 10) adverte que: “[...] a responsabilidade em resolver os dilemas gerados por circunstâncias voláteis e constantemente instáveis é jogada sobre os ombros dos indivíduos – dos quais se espera que sejam free-choosers e suportem plenamente as consequências de suas escolhas”.

Para as pessoas, a “escolha” está restrita à adaptação e, em encontrar mecanismos de sobrevivência nesse contexto, de cultura de consumo. O problema da sociedade de consumo não está vinculado exclusivamente ao consumo das pessoas, mas ao desafio de controlar este consumo considerando a capacidade de sustentabilidade ambiental, uma vez que as produções e novidades ofertadas pelo mercado atingem velocidade máxima e tudo é facilmente descartado.

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Ao sentido turbinado que adjetiva o contexto do mundo atual, é importante fazer referência a uma percepção da globalização em dois sentidos mais amplos: de um lado, a possibilidade de conectividade mundial, acessibilidade de mundo, abertura de mercados, inserção de direitos humanos universais; de outro, a transformação negativa da mobilidade constante em perdas de referências e identidades, de liberação de uma guerra maquiada, de consumo descontrolado, de exclusão de classes sociais e de acúmulo de lixo humano, resultados que implicam diretamente na gestão ambiental.

Mesmo com toda a movimentação mundial contra a guerra e com inúmeras ações desenvolvidas pela Organização das Nações Unidas (ONU), o desrespeito contra os direitos do homem atua facilmente no mundo globalizado. Para Bauman (2007, p. 43), “Um dos efeitos mais sinistros da globalização é a desregulamentação das guerras”. Trata-se de perceber a “guerra maquiada” que o mundo globalizado esconde. Esta guerra é oriunda de uma descontrolada exploração de território, de desrespeito às escolhas pessoais e ainda, da sociedade de consumo que desmerece o valor e estima o preço. Diante da situação de pós-modernidade, mundo líquido, conforme Bauman (2007), e do mundo turbinado, é possível afirmar que nunca na história da humanidade se necessitou tanto do direito enquanto ciência para defender questões de identidade, pertencimento e de continuidade de vida no Planeta.

As divisões mundanas, que deixam de estar relacionadas às questões de crenças ou territoriais como no “velho” mundo, agora no turbinado, criam inadequadamente uma nova classe social, aquela que não pertence à cultura do consumo, que é conceituada por Bauman (2007) como lixo humano, que está à mercê da civilização, de qualquer direito de fato. As lutas agora se consolidam para dificultar a movimentação dessa classe, que assume a identidade de lixo humano, que não possuem chances de ser integrada no mundo turbinado, porque não possuem condições de pertencer à sociedade de consumo. A mercê do mundo turbinado, estas pessoas não tem acesso às questões básicas para sobrevivência, como por exemplo, agua potável, educação, redes coletoras de esgoto, entre outros, que determinam a qualidade de vida e consequentemente ambiental.

Quando avaliado o mundo pós-moderno a partir dos seus efeitos negativos, percebe-se que infelizmente as pessoas são alvos de ataque, seja pelo mercado, seja pela invasão tecnológica, ou por outras forças dominantes. Infelicidade ou ironia do destino, este mundo apresenta um contexto de desamparo, de individualismo e solidão. Bauman (2007, p. 99) afirma que: “Enquanto os perigos permanecem eminentemente flutuantes, inconstantes e banais, nós somos seus alvos fixos – há muito pouco que possamos fazer, se é que há alguma

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coisa, para evitá-los”. Com isso, aumenta a dificuldade de resolver os problemas criados pela sociedade, pois a humanidade criou um mundo de individualidade e solidão.

Destinados a passar as vinte e quatro horas do dia em competição e de resistir à própria exclusão social, as pessoas ainda lutam e desejam chegar ao destino, como se fosse possível encontrar o fim num mundo líquido-turbinado. Em busca de progresso, é assim que caminha a humanidade, mesmo que talvez o conceito deste “progresso” nunca estará efetivamente consolidado no mundo turbinado. Bauman (2007, p. 100) resume: “Em suma, sonhamos com um mundo no qual possamos confiar e acreditar. Um mundo seguro”.

Para que seja possível agir de forma fugaz contra as tendências negativas geradas pela perda de poder do Estado, e da globalização, é necessário que o Estado se constitua a partir de um novo contexto, com um novo conceito. Sobre isso, Bauman (2007, p. 21) advoga: “[...] não surpreende em absoluto que se esteja buscando uma legitimação alternativa da autoridade do Estado e outra fórmula política em benefício da cidadania conscienciosa na promessa do Estado de proteger seus cidadãos contra os perigos da proteção pessoal”. Pensar proteção pessoal, neste estudo, ultrapassa a guerra armada, mas se legitima na gestão ambiental, na qualidade de vida, preservação e proteção do meio ambiente para as gerações futuras.

Nas reviravoltas, a sociedade tem escolhido, de forma imatura e ingênua, participar de um mundo global, que ao mesmo tempo em que oferta a possibilidade de total acessibilidade e mobilidade, agride sem igual o planeta e nega constantemente as lutas diárias de poucos pelos direitos humanos universais, entre eles, a cidadania e a dignidade de vida, tendo acesso à água potável, ar puro, biodiversidade, habitat, entre outros.

O resultado da evolução social exige um reposicionamento do Estado enquanto legislador, pois há uma relação de interdependência e complementariedade entre política e os rumos da humanidade. Cabe ao Estado assumir novamente o comando da decisão dos rumos sociais, criando e implementando ferramentas eficazes para os seus modelos de gestão.

2.1.1 A ressignificação do Estado

O declínio do poder do Estado em seu modelo tradicional tem se mostrado irreversível frente ao mundo pós-moderno e os conceitos de cidadania e de sociedade civil são amplamente discutidos a partir da ressignificação do poder do Estado. Por sociedade civil

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entende-se a movimentação de grupos e forças pela cidadania. Por cidadania compreende-se um estado de pertença, consequentemente quando um indivíduo pertence para um Estado é possuidor de direitos e deveres. Portanto, cabe aos cidadãos e ao Estado o exercício da cidadania.

O reposicionamento do papel do Estado projetou uma sociedade civil dominada pelos interesses do mercado, o que em muitas situações resultou no enfraquecimento das lutas pela cidadania e do entendimento do exercício da cidadania. Segundo Vieira (2001, p. 27): “O declínio da cidadania está estreitamente vinculado à mudança no papel do Estado”. Uma via de direitos e outra de deveres é que constituí o exercício de cidadania em um Estado-nação. Entretanto, quando esses dois elementos estão confusos, todo o processo político fragiliza-se.

Diagnosticada a relativização do modelo tradicional de gestão do Estado, bem como, elencadas as necessidades de atuação neste mundo pós-moderno, torna-se indispensável construir novos laços que sustentem a administração pública tanto na esfera social, econômica, quanto na ambiental. Para Vieira (2001), uma proposta é abrir espaço na esfera pública, para que grupos voluntários, privados entre outros contribuam na constituição da sociedade civil e consequentemente nas decisões do Estado.

A reconfiguração do Estado não pode desconsiderar o sistema de produção vigente (no caso o capitalista) e a cultura de consumo. Para Bauman (2008, p. 14), apoiado na teoria de Habermas, “[...] se a reprodução da sociedade capitalista é obtida mediante encontros transacionais interminavelmente repetidos entre o capital no papel do comprador e o trabalho no de mercadoria”, não há como desligar o poder da iniciativa privada do capitalismo, “[...] então o Estado capitalista deve cuidar para que esses encontros ocorram com regularidade e atinjam seus propósitos, ou seja, culminem em transações de compra e venda”.

Considerando que o sistema capitalista e a cultura do consumo estão consolidados, e que, como consequência as pessoas estão cada vez mais individualistas e solitárias, passa a ser papel do Estado gerir as questões ambientais que são coletivas. No contexto da gestão ambiental, é indispensável que o poder público assuma uma postura de organizar diálogos entre diferentes atores sociais para promover o respeito e cuidado com o meio ambiente, bem como seja eficiente no gerenciamento de encontros transacionais, e inclusive incentive ações de consumo ambientalmente corretas junto aos cidadãos. É necessário que o Estado não se limite a pensar somente políticas assistencialistas, mas atue como promotor de diálogo entre os atores sociais, buscando mediar os interesses econômicos com a gestão socioambiental.

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O desafio para o Estado é encontrar equilíbrio mediante as forças de poder presentes na sociedade, Bauman (2007, p. 31) afirma: “O problema, e a enorme tarefa que provavelmente afrontará o século atual como seu desafio supremo, é unir novamente o poder e a política”. Onde o Estado deverá atuar como defensor dos direitos humanos, entre eles, educação, segurança e continuidade de vida, o que invariavelmente significa participar da gestão do ambiente.

Talvez um dos equívocos do Estado, em função de se render ao poder do sistema capitalista, tenha sido conceder à iniciativa privada, o mercado, a possibilidade de seleção não só de processos, mas também de pessoas. É por isso que Bauman (2008, p. 18) alerta: “Transferir para o mercado a tarefa de remodificar o trabalho é o significado mais profundo da conversão do Estado ao culto da desregulamentação e da privatização”.

Com o reposicionamento do Estado e com a busca por participação da sociedade, se faz necessário compreender a exigência de uma reconfiguração não só do papel do Estado, mas também dos cidadãos. Ao Estado cabe trabalhar e a gerenciar dividindo espaços com os diversos atores sociais. Á sociedade cabe o espaço de exercer seu direito de cidadania. Para Vieira (2001, p. 50): “A cidadania presume a existência de uma sociedade civil inserida em redes e conexões entre pessoas e grupos, e ainda normas e valores que exerçam papel significativo na vida social”. É a sociedade relacionando-se entre si e com os valores daquilo que é moralmente correto. Continuando o autor advoga: “Afinal a cidadania desenvolve-se em comunidades de cidadãos responsáveis através da estrutura da sociedade civil”. Por isso, esta não é uma tarefa fácil, nem para o Estado, que precisa abrir espaço para discussões e participações, nem para os cidadãos, que precisam assumir uma postura ativa e participativa nas decisões dos rumos sociais.

O Estado como espaço público político pode ser compreendido a partir de diversas correntes de pensamento. Para Vieira (2001), esta análise pode ser feita a partir de três modelos: o modelo agonístico, o modelo liberal e o modelo discursivo. O modelo agonístico reconhece o fim da união entre religião, autoridade e tradição. Ou seja, o conceito de um poder sólido e soberano torna-se esgotável. Não há mais distinção entre os espaços de atuação do privado para o público, constituindo assim o que o autor denomina como ascensão social, isto é, de um lado o poder privado, de outro o poder do Estado. Segundo Vieira (2001, p. 53) “[...] a ascensão social e o declínio do espaço público podem ser vistos como tentativa de pensar através da história humana, sedimentada em camadas de linguagem”. Neste caso o espaço público “[...] é definido como um lugar onde ocorre apenas certo tipo de ação”. O

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diálogo entre os diversos atores sociais não é possível de acontecer na interação de diversas classes sociais. Por isso, “Somente o poder, no sentido arendtiano, é gerado pelo debate público e sustentado por ele” (VIEIRA, 2001, p. 56).

O modelo liberal propõe a possibilidade de neutralidade constante e se apoia na legalidade para obter legitimidade. O diálogo dos atores sociais é restrito e passa a ser considerado importante a partir da legitimidade do mensageiro. Por isso, algumas classes sociais estão isoladas do debate. Neste sentido Vieira (2001, p. 57) afirma: “Para os liberais, podemos discutir legitimamente os segundos, mas devemos abstrair os primeiros”. Entretanto, uma das criticas a esse modelo é: “[...] justamente o procedimento de diálogo público livre de restrições que vai decidir a natureza dos temas que se debatem” (VIEIRA, 2001, p. 57).

O Estado assume o papel de constituir-se como espaço político, que é expresso na visão Habermesiana como: “[...] criação de procedimentos pelos quais todos os afetados por normas sociais gerais e decisões políticas coletivas possam participar de sua formulação e adoção” (VIEIRA, 2001, p. 59). Uma das potencialidades desta proposta é que não exclui, nem despreza a neutralidade. No entanto, para que esse modelo proposto por Habermas possa ser implementado é necessário o comprometimento e maturidade e o desenvolvimento de uma capacidade de organização dos diferentes atores sociais.

Um dos desafios para a ressignificação do Estado é conduzir uma política que permita a percepção de que os problemas socialmente produzidos não podem ser resolvidos exclusivamente a partir de ações sociais, pois dependem também das mudanças de comportamento. Por isso, que Vieira (2001, p. 59) define: “Surge uma esfera pública quando e onde todos os afetados por uma norma social ou política de ação, empreendem um discurso prático”.

O discurso prático torna-se elemento de legitimação, isto quando sua sustentação está na argumentação e não no consumismo. Vieira (2001, p. 60) explica: “Ao final da análise, o princípio normativo do diálogo livre e irrestrito entre indivíduos racionais, que é o princípio da legitimação democrática para todas as sociedades modernas, não fica ancorado nem nas instituições, nem no mundo da vida”.

Para que esse discurso entre atores aconteça, alguns elementos são fundamentais, entre eles, o desejo de participação dos envolvidos; a responsabilidade e maturidade nos processos de escolhas dos rumos da humanidade; a legitimidade do poder que operacionaliza as

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