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4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

4.1 As variáveis de comando e controle

4.1.1 Padrão de emissão

O subgrupo padrão de emissão é composto por 14 questões. Destas, 13 questões fechadas, cuja análise acontece a partir da escala de Likert, seguido de uma questão aberta,

que teve como objetivo a contextualização do tema. Os demais subgrupos seguem a mesma lógica de apresentação e interpretação dos dados.

Figura 4: Estrutura de análise da emissão Fonte: Dados da pesquisa, 2011-2012.

A figura 4 retrata os indicadores elaborados a partir da compreensão do subgrupo padrão de emissão. Os indicadores proporcionam a do nível de controle do Padrão de Emissão proposto por Barbieri (2004) e que serão comentadas na sequência.

O gráfico 1 expressa a leitura individual da percepção dos respondentes sobre cada item pesquisado.

Gráfico 1: Controle no padrão de emissão Fonte: Pesquisa de campo, 2011-2012.

O primeiro item deste subgrupo objetivou conhecer o grau de percepção de controle de efluentes de veículos de transporte coletivo, sendo que 13 responderam que este controle era insuficiente; enquanto cinco responderam que era razoável. Os cinco respondentes afirmaram que este controle existe pela própria empresa de transporte coletivo do município que inclusive vem recebendo prêmios pela preocupação com o dano ambiental. Outra opção levantada foi o apoio do Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (SENAT) que, segundo os respondentes, tem realizados testes para a verificação da emissão de efluentes.

Na sequência foi indagado sobre o controle da emissão de efluentes de veículos de passeio, onde 15 pessoas responderam que este era insuficiente e, apenas três responderam que havia um controle razoável. Na mesma linha, o próximo item referia-se ao controle da emissão de efluentes de veículos de transporte de cargas, onde 15 responderam que ele ocorria de modo insuficiente, dois indicaram pouco suficiente e, um razoavelmente. Para as três primeiras questões, quando os respondentes sinalizavam “razoavelmente” foi indagado sobre algum exemplo de ação de controle da emissão de efluentes, os mesmos não conseguiram lembrar.

O próximo item avaliou o controle de emissão de gases das indústrias do município. Dos respondentes, nove consideram insuficiente; um avaliou como pouco suficiente; seis

Insuficientemente Pouco Suficiente Razoavelmente Suficiente Integralmente Não respondeu

como razoável e; dois consideraram suficiente. Percebe-se que prevalece o índice de insuficiência das ações com relação ao controle da emissão por parte do poder público, instância em tese responsável por tal controle. Uma das justificativas para isso é a falta de tecnologia para aquisição de equipamentos que possibilitem realizar o controle da emissão dos efluentes sendo necessário investimento financeiro. A disponibilidade financeira é uma questão de prioridade, principalmente frente ao conjunto de demandas de um município. Desta forma, observa-se já uma opção de não enfatizar o controle deste aspecto, o que não significa que não haja nenhuma ação ocorrendo a este nível. O que, entretanto é incontestável, independente de percepção, é que o controle não ocorre.

Outro elemento importante, dada às características locais é a cadeia do leite que, por fatores intrínsecos ao segmento, é responsável pela produção de efluentes e pelo uso de um grande volume de água para a higienização dos equipamentos utilizados na ordenha e armazenagem do leite.

Com esta questão buscou-se reconhecer o grau de monitoramento da atividade. Oito pessoas responderam que é insuficiente. Quatro consideram pouco suficiente, outros quatro como razoavelmente, um indicou ser suficiente, e, um entendeu que o controle é pleno. Os respondentes que consideram insuficientemente desconhecem qualquer ação do poder público para monitorar esta atividade. Já os que consideraram razoavelmente, suficiente e integralmente, o fizeram alegando que existe iniciativa por parte da Secretaria Municipal do Desenvolvimento Rural no sentido de orientar os produtores. Neste item pode-se inferir novamente que, apesar de alguns respondentes levantarem iniciativas de conscientização dos produtores, o controle efetivamente não ocorre. Não há qualquer registro junto aos órgãos de controle que denotem o monitoramento do grau de emissão de efluentes desta atividade.

A questão número seis diagnosticou o nível de acompanhamento do descarte dos resíduos sólidos da indústria têxtil, ou do ramo de vestuário apesar de não ser uma atividade econômica expressiva no município. Uma pessoa não soube responder, porque desconhece qualquer iniciativa a esse respeito. Nove indicaram que o acompanhamento é insuficiente; quatro afirmaram que é pouco suficiente, três afirmam ser razoavelmente, e, um apenas considera ser suficiente. Apesar disto, os respondentes que indicaram existir algum grau de acompanhamento não souberam exemplificar nenhuma ação. Na mesma linha, a questão sete questionou sobre o nível de acompanhamento do descarte dos resíduos sólidos da indústria moveleira, esta sim com uma expressão econômica mais significativa no município, onde dez pessoas afirmaram ser insuficiente, pois desconhecem ações nesse sentido promovidas pelo

poder público, e acreditam que tanto os resíduos sólidos da indústria de vestuário, quanto da indústria moveleira são encaminhados juntamente com o lixo comum. Duas responderam pouco suficiente; três avaliaram como razoavelmente; dois indicam ser suficiente; e, um avaliou que o controle é integral. Aqueles que acreditam ser razoável ou maior o grau de acompanhamento indicaram que a ação do licenciamento verifica o descarte, e, ainda, que já existe uma consciência por parte dos empresários.

O grau de controle da emissão de efluentes líquidos de indústrias foi avaliado como insuficientemente por cinco respondentes, e, outros cinco como pouco suficientes. Estes respondentes afirmavam que ainda existem muitas empresas sem o licenciamento, empresas estas, de pequeno porte, geralmente que envolve só a família, e, por essa razão é difícil controlar a emissão de efluentes líquidos. Seis pessoas responderam que o controle é razoável e, duas que é suficiente, o argumento para esses níveis é que o controle se dá partir do licenciamento ambiental. Apesar disto, quando indagadas sobre um controle efetivo in loco, parece inexistir qualquer ação neste sentido. O que se percebe são muito mais ações reativas a partir de denúncias específicas de algum episódio, inexistindo um controle sistemático no e após o processo de licenciamento, sendo este muito mais burocrático que material.

O controle do sistema de descarte dos dejetos sanitários residenciais do município foi classificado por dez respondentes como insuficiente. Três pessoas consideraram pouco suficiente, quatro avaliam como razoavelmente, e, um como suficiente. A legislação recomenda a atuação do município neste sentido. No entanto, parece ser tímida a ação do poder público, pois é desconhecida pela maioria dos respondentes. Cabe destacar que um dos respondentes justificou que as obras realizadas com o financiamento Minha Casa/Minha vida, estão com padrões conforme recomendados, visto haver, nestes casos, uma intervenção direta do poder executivo na execução das obras. Um dado que corrobora com esta percepção de fragilidade é o percentual de residências com disponibilidade de esgoto. Este item inclusive tem merecido bastante destaque nos debates com relação à estrutura de água e saneamento do município.

Um segmento que efetivamente é representativo na região é o de produção agrícola. Com uma vasta área agricultável e o grande desenvolvimento tecnológico do setor, o uso de agrotóxicos assume uma característica sistêmica no processo produtivo, gerando, por consequência, permanente descarte de embalagens. O grau de controle de descarte de embalagens de agrotóxico, questão de número dez do estudo, foi avaliado apenas por quatro pessoas como insuficiente, com a justificativa de que as ações que acontecem não são

promovidas pelo poder público local, mas exigências de lei superior que implica em um reposicionamento tanto do fornecedor, quanto do produtor rural. Apesar desta argumentação, não se pode desconhecer que o município possui uma situação razoavelmente equacionada em um segmento, como já mencionado, crítico para a região, independente que promova este controle.

A questão número 11 refere-se ao grau de controle na emissão de efluentes líquidos nos postos de combustíveis do município. Como resposta obteve-se: quatro avaliações insuficientes, quatro consideram pouco suficiente, quatro posicionaram-se como sendo razoável, quatro sendo suficiente, e, dois entenderam que o controle ocorria integralmente. Todos os respondentes estavam cientes de que a ação para este controle acontece através do licenciamento ambiental realizado pela FEPAM, e que o município não possui nenhuma ação específica para isso. Já a questão de número 12, que também trata do controle de efluentes líquidos, só que especificamente no setor gráfico, teve a maioria dos respondentes desconhecendo a existência de controle, não obstante, como já afirmado, muitos atuarem diretamente em funções vinculadas a este controle. Outro setor no qual o município possui uma estrutura instalada de grande porte refere-se à saúde. O município é referência em serviços de saúde na região possuindo três hospitais extremamente qualificados e uma estrutura de saúde do município também relevante. Quanto ao nível de controle do descarte dos resíduos hospitalares, três respondentes consideram que o controle é insuficientemente, um que é pouco suficiente, quatro que é razoável, cinco avaliam como suficiente e, cinco como adequado às especificações exigidas. Todos os respondentes tinham conhecimento da existência, junto aos hospitais, de um controle devido ao licenciamento específico e á preocupação dos gestores dos estabelecimentos dos riscos a imagem que um processo de contaminação poderia gerar, sem falar no risco de morte que este processo envolveria. Por outro lado as clínicas veterinárias, as clínicas de serviços da saúde, consultórios médicos, que também podem produzir este tipo de lixo, estão desassistidos e sem fiscalização.

A questão 14 identificou as dificuldades de emissão e controle mais adequado. O quadro 7 retrata as principais considerações efetuadas pelos respondentes com relação a este item.

Falta de estrutura física e de recursos humanos. Falta de alternativa de tecnologias.

Necessidade de avanço no processo de licenciamento.

Avanços nos processos de licenciamento e aumentar a estrutura de pessoal para conseguir atender as demandas de fiscalização.

Falta consciência por parte da população. Falta educação ambiental.

Falta investimento do poder público para atuar como incentivador. Falta a execução deixar de ser burocrática e ser implementada de fato. Falta de equipamentos para medições.

Falta orçamento.

Fiscalização mais eficiente. A fiscalização deveria extrapolar o documental. Falta de efetividade da política pública. Conscientização das pessoas.

Inexistência de política pública de longo prazo fruto da ausência de vontade política

Efetivação da legislação federal, onde o órgão municipal tem amplo trabalho de campo para a promoção da conscientização.

Exigir através de legislação do gerador do efluente a correta seleção.

Quadro 7: Fatores que dificultam uma emissão e controle mais adequado na questão de efluente

Fonte: Pesquisa de campo, 2011-2012.

Entre as alternativas indicadas que dificultam um controle mais adequado sobre a emissão de efluentes é a fiscalização. Ou seja, o município não consegue cumprir com seu papel de fiscalizador e exercer efetivamente o controle. Entre as causas alegadas para esta deficiência está a falta de estrutura física, de recursos humanos e de equipamentos específicos. Para solucionar estes problemas é necessário orçamento, que, entretanto, é escasso e vem sendo reduzido. Segundo os respondentes, os geradores, não tem conhecimento, por isso é indispensável ações de educação ambiental, que automaticamente vão acarretar em consciência. O excesso de burocracia também afeta este controle, o que faz com que muitas vezes a fiscalização não saia dos documentos. Outro elemento importante e destacado pelos respondentes é que, tanto o controle, quanto a fiscalização só funcionam através de denúncias, o que limita significativamente a participação do poder público para a manutenção de padrões aceitáveis de gestão ambiental. .

A emissão e controle de efluentes estão condicionados a efetivação da legislação no município e, portanto, a ausência de políticas públicas compromete este processo. Um dos desafios é encontrar mecanismos para que os projetos não sejam especificamente de um governo, mas que estejam vinculados à população para possibilitar um planejamento a longo prazo.

O resultado das questões apresenta uma percepção geral de que existe limitação do poder público em relação ao padrão de emissão. Não significa que os índices expressam falta de interesse do poder público, mas sim, demonstram a fragilidade de elaborar políticas públicas e, principalmente, fazer cumprir a legislação já vigente. Ao se afirmar que a grande questão é a falta de conscientização dos agentes de emissão ocorre na prática uma transferência de responsabilidade, posto que esta não exclui a obrigatoriedade de controle. Avançando um pouco, percebe-se que o controle mais efetivo ainda é deixado na mão dos atingidos, a quem cabe o papel de efetuar uma denúncia que poderá ensejar uma fiscalização, que diga-se de passagem, é diferente que controle.

Gráfico 2: Resumo geral dos indicativos do padrão de emissão Fonte: Pesquisa de campo, 2011-2012.

Com relação ao padrão de emissão pode-se perceber que no total geral dos indicadores o índice mais significativo foi insuficiente. Esta perspectiva demonstra a fragilidade do poder público de atuar na competência de fiscalização e conscientização, processos indispensáveis para a promoção da gestão ambiental. De nada adianta ter a lei se o não cumprimento desta, não implica em responsabilização e punição do agente.

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