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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.2 Gestão ambiental

O processo de gestão ambiental tem inquietado significativamente não só os decisores, como também estudiosos da área, isto porque, para a sua promoção é necessária a cooperação da iniciativa privada, dos indivíduos e do Estado. As decisões nesta área não envolvem somente questões políticas, mas também administrativas que podem contribuir ou não para a satisfação dos desejos individuais e sociais. Segundo Quintas (2006, p. 30), “Gestão ambiental, portanto, é vista aqui como o processo de mediação de interesses e conflitos (potenciais ou explícitos) entre atores sociais que agem sobre os meios físico-natural e construído, objetivando garantir o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado”.

A gestão ambiental pública apresenta-se como desafio justamente por ter que administrar entre outros, os interesses de elites e, trabalhar com diversos tipos de poderes. Isto porque, o sistema capitalista neste contexto é sólido, enquanto a atuação do Estado é líquida. Para Seifert (2007, p. 45), “Isso envolve, na maioria das vezes, lidar com interventores ou agentes que apresentam interesses conflitantes em relação à forma de utilização de um determinado bem ambiental”.

Com as manifestações climáticas e a instabilidade dos recursos ambientais, a gestão ambiental vem recebendo destaque nas discussões tanto administrativas como políticas. Para Seifert (2007, p. 46), “Gestão ambiental não é um conceito novo nem uma necessidade nova, mas algo que foi amadurecendo ao longo dos anos, a partir das contribuições de várias áreas

do conhecimento”. Por isso, esta deve ser feita a partir de um diálogo entre saberes. Quanto maior o número de áreas do conhecimento estiver inserido nas discussões menor o risco do decisor desenvolver estratégias ou ações de responsabilidade socioambiental para a sua gestão, a partir de uma visão míope ou reducionista do processo.

A preocupação com o meio ambiente deixou de ser exclusivamente de proteção de recursos, Seifert (2007) afirma que, em função disso o Estado assume papel fundamental uma vez que é responsável pela administração pública. Trata-se de uma mobilização interna e externa. É interna quando deve gerenciar a distribuição de renda, o planejamento familiar, o crescimento populacional, a estrutura fundiária mais descentralizada, o sistema educacional de melhor qualidade e a fiscalização ambiental. E externa, quando deve contribuir para o desenvolvimento sustentável, onde ações locais implicam em melhorias globais.

Em função da ressignificação do papel do Estado nos processos de gestão pública, se faz necessário encontrar um equilíbrio de participação e responsabilidade com os diversos atores. A possibilidade de atuação está atrelada à gestão ambiental evoluir na direção de uma perspectiva compartilhada entre os diferentes agentes envolvidos e articulados em seus diferentes papéis (SEIFERT, 2007). Isto porque, ao mediar interesses impossibilita uma gestão ambiental neutra.

Por esta razão, Quintas (2006, p. 31) afirma: “O Estado, ao tomar determinada decisão no campo ambiental, está de fato definindo quem ficará, na sociedade e no país, com os custos e quem ficará com os benefícios advindos da ação antrópica sobre o meio físico-natural ou construído”. Desta forma, quanto mais participativa for a gestão, melhor será para minimizar os efeitos de privilégios para alguns. Continuando o autor advoga: “Daí a importância de se praticar uma gestão ambiental participativa”.

Entre os elementos de gestão ambiental, para Almeida e Menegat (2004), quatro são as esferas que precisam estra interligadas para o desenvolvimento de ações:

1 Conhecimento

É preciso entender e diagnosticar o sistema urbano- social-ambiental e suas relações locais e globais com o sistema natural 2 Gestão Urbana-Social- Ambiental Pública Sociedade Economia

A gestão necessita de órgãos com boa capacidade técnica, capazes de desenvolver programas estratégicos e integrados com a sociedade e economia, integrando outros departamentos e órgãos da gestão pública (desenvolvimento econômico, habitação, planejamento urbano, saneamento, saúde, cultura, etc...). Além disso, esses programas também devem ter como premissa as demais esferas de integração, ou seja, o conhecimento do meio físico local, a educação e a participação dos cidadãos.

3

Educação e Informação

Cultura

Devem ajudar a abrir os horizontes dos cidadãos em relação à complexidade do sistema-urbano-social- ambiental (cf. González Gaudiano, 1997). Para tanto, a educação e a informação devem ser capazes de levar os cidadãos a identificarem desde cedo a sua territorialidade local, a desenvolver o pensamento e a inteligência para compreender os programas de gestão ambiental e condição da vida urbana. Nesse caso, a educação e informação são funções do processo de enculturação para a sustentabilidade.

4

Participação dos cidadãos

Sistema de governo/democracia

A comunidade deve ser chamada a construir a gestão do sistema urbano-social-ambiental com base num sistema de governo profundamente democrático, humanista e culturalmente tolerante. Essa participação, um dos pontos mais importantes da Agenda 21 e também da Agenda do Habitat, possui a propriedade, a um só tempo, mudar as premissas conceituais das demais esferas, pois as questões locais passam a ser relevantes, e promover uma nova cultura de gestão da cidade, pois a sociedade passa a formular e controlar as políticas públicas no cotidiano.

Quadro 1: Esferas da gestão ambiental integrada Fonte: Almeida e Menegat (2004, p. 181).

A gestão ambiental integrada pode ser compreendida como os elementos que sustentam a tomada de decisão, e por isso, o conhecimento significa os saberes sobre as condições e dinâmicas naturais; já a gestão urbana-social-ambiental pública remete às possibilidades da sociedade e da economia; a participação está atrelada ao modelo de gestão do sistema público e a educação remete à conduta dos cidadãos.

Cabe destacar, que o modelo proposto por Almeida e Menegat (2004) refere-se à gestão urbana, mas compreende elementos que são significativos para o processo de gestão pública ambiental como um todo.

Na promoção da gestão ambiental há dois aspectos importantes a serem apresentados: o primeiro, agir para responder a legislação, e o segundo, a promoção de uma imagem competitiva e comprometida com a continuidade de vida para a humanidade.

Para Leff (2008, p. 57), “[...] é sobretudo um convite à ação dos cidadãos para participar na produção de suas condições de existência e em seus projetos de vida”. A gestão ambiental deve ser promovida a partir de ações do poder público. Ou seja, é a partir do conjunto de objetivos, diretrizes e instrumentos de ação que o poder público estabelece que a sociedade se organiza. Assim, quando o Estado assume a responsabilidade de atuar na gestão ambiental, por consequência está assumindo como legislador e fiscalizador dos direitos dos cidadãos.

É possível reconhecer que há um movimento significativo para cumprir a lei por parte das organizações, e isso acontece não por espontaneidade dos gestores, mas pela obrigação legal que, muitas vezes, quando não cumprida, acaba acelerando o processo de desaparecimento das mesmas.

Para Hall (2004, p. 249), “Alguns órgãos federais foram criados como último recurso para resolver as dificuldades socioeconômicas e tecnológicas. Esses órgãos evidentemente ocupam um nicho, porém ele é definido por decisores oficiais”. Ou seja, é importante perceber a gestão ambiental a partir do tomador de decisão. O sucesso de implementação da gestão ambiental depende do quanto o gestor acredita nesse fenômeno.

Já na esfera municipal, implementar a gestão ambiental local ultrapassa o elemento de cumprir a legislação, mas pensar a racionalidade ambiental que, para Leff (2008), é ir além das políticas de conservação, descontaminação e, ainda, de restauração ecológica e programas de desenvolvimento social que minimizem a pobreza. Precisa necessariamente extrapolar seu caráter assistencial e preservacionista.

A gestão ambiental tem grandes condições de assumir uma característica de gestão participativa, onde o poder público descaracteriza os conflitos de interesses privados e de forças econômicas, passa a trabalhá-los a partir do desenvolvimento e da apropriação dos recursos naturais. Para Leff (2008, p. 63), a importância da gestão ambiental é “[...] instaurar procedimentos para dirimir pacificamente os interesses de diversos agentes econômicos e grupos de cidadãos na resolução de conflitos ambientais, através de um novo contrato social entre o Estado e a sociedade civil”.

A questão da participação na gestão ambiental acontece pela necessidade da comunidade efetuar pressão aos decisores. Sempre que as pessoas se unem para solicitar alguma mudança, ela acontece em função da gestão pública ser realizada em partes pelos cidadãos. Portanto, segundo Leff (2008, p. 153), “A gestão ambiental local parte do saber ambiental das comunidades, onde se funde a consciência de seu meio, o saber sobre as propriedades e as formas de manejo sustentável de seus recursos, com suas formações simbólicas e o sentido de suas práticas sociais”.