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A alteridade em canções de Chico Buarque de Hollanda: uma leitura

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Th e a lt e r it y in Ch ico Bu a r q u e de H olla n da ’s son gs: a de con st r u ct ion ist r e a din g

José Cé lio Fr e ir e *

Universidade Federal do Ceará - UFC, For t aleza, CE, Br asil

Re n a t a Ra m a lh o de Qu e ir oz * *

Universidade Federal do Ceará - UFC, For t aleza, CE, Br asil

RESU M O

Est e est udo pr et endeu exer cit ar as possibilidades de com pr eensão do t ext o de algum as canções de Chico Buarque de Hollanda, par a além da int encionalidade do aut or, v isando sua alt er idade e a produção de subj et ividade que t al leit ur a encer r a, a par t ir de elem ent os desconst r ut or es específicos: acont ecim ent o; ocult am ent o/ desvelam ent o; m ult iplicidade; polissem ia; inver são; e difer ença/ alt eridade. A invest igação m ost rou t am bém que o t ext o buar quiano possui car act er íst icas t ais com o a at em poralidade e o uso de per sonagens que r epr esent am figur as do desam par o. O ensaio desconst rucionist a nos per m it iu explor ar out r as com pr eensões par a o t ext o or iginal, que j á est avam pot encialm ent e exist ent es. Concluím os que o out r o com par ece na obr a est udada com o o out r o do t ext o, com o o out r o no t ext o e com o um out r o t ext o.

Pa la v r a s- ch a v e : Alt eridade, Subj et iv idade, Desconst r ução, Leit ur a, Chico

Buar que.

ABSTRACT

This st udy int ended t o pr act ice t he under st anding possibilit ies of t he t ext of som e songs by Chico Buar que de Hollanda, beyond t he aut hor int ension, obj ect ifying it s alt er it y and t he pr oduct ion of subj ect ivit y t hat t his r eading prov ide, fr om specific deconst r uct ion elem ent s: event ; occult ing/ unv eiling; m ult iplicit y; poly sem y; inver sion, and differ ence/ alt er it y. The r esear ch also show ed t hat t he Buar que’s t ext has par t icular s like t he t im elessness and t he use of char act er s t hat r epr esent s figur es of helplessness. The deconst r uct ionist r eading allow ed us t o explor e ot her s under st andings t o t he original t ex t , w hich w ere already pot ent ially ex ist . We conclude t hat t he ot her appears in t he com posit ion st udied as t he ot her of t he t ext , as t he ot her in t he t ext and as anot her t ext .

Ke yw or ds: Alt er it y, Subj ect ivit y, Deconst r uct ion, Reading, Chico Buar que.

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nacional. I sso nos indica o alcance que Chico Buar que t em , par a além dos r egist r os da Música Popular Br asileir a. Muit os t r abalhos, acadêm icos ou não, t êm se debr uçado sobr e as inúm er as nuanças dessa vast a obr a, sej a pelo veio poét ico ( SI LVA, 1974) , sej a pelo com pr om et im ent o polít ico ( CESAR, 2007; MENESES, 2002) , por sua apr eensão do fem inino ( MENESES, 2001; FONTES, 2003) ou m esm o pelo viés sem iót ico ( COSTA, 2004; FERNANDES, 2004; RI BEI RO NETO, 2004 I n: FERNANDES, 2004) .

O valor do aut or no cenár io nacional, no que t oca pr incipalm ent e à sua face poét ica com o com posit or / let r ist a, é indiscut ível. Todavia, é o t ext o buar quiano que nos int er essa, e nele a dim ensão do out r o com o const it ut iva da subj et ividade ( LÉVI NAS, 1978) . Tom ando esse pr essupost o, int ent am os buscar na escr it a de Chico Buar que elem ent os polissêm icos, de suplem ent ar idade e de dissem inação pr ópr ios da différ ance ( DERRI DA, 1991) e que r em et em à alt er idade r adical em sua visada ét ica ( LÉVI NAS, 1978; 1980) , par a além da int encionalidade do aut or .

A fim de que a leit ur a de t ex t os buar quianos ( HOLLANDA, 2006) pudesse nos conduzir na dir eção da alt er idade r adicalizada, a par t ir dos r ast r os deixados pelo aut or em sua escr it a, ut ilizam os os r ecur sos da desconst r ução ( Jacques Der r ida) , enquant o “ m ét odo” de descent r am ent o do t ext o que m obiliza for ças que est ão sendo agenciadas int er nam ent e aos discur sos. Tom am os ideias, t em as e pr oposições valor at ivas, que aparecem na escr it a de Buar que, e pr opusem os ‘t or ções’ que fizer am sur gir possibilidades out r as de sent ido – seus difer endos – e, com isso, um out r o t ext o, o nosso, com o suplem ent o ao t ext o or iginal.

Em nossa pesquisa efet uam os, num pr im eir o m ovim ent o, a ( r e) leit ur a dos t ext os, pr ocur ando ident ificar elem ent os ( r ast r os) que apont assem na dir eção de um r econhecim ent o da alt er idade r adical – o out r o enquant o absolut am ent e out r o, difer ença ir r edut ível. Num segundo m ovim ent o t r at am os desses elem ent os, nos t ext os, visando fazê- los difer ir de um a pr im eir a com pr eensão, na busca de significações vár ias ( polissem ia) e da explicit ação de t ais possibilidades. Num t er ceir o m ov im ent o, pr opusem os nov as significações par a o cont eúdo dos t ext os, r eenviando a out r as leit ur as possíveis ( dissem inação) .

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um a m aior expansão da poesia do que o t ext o poét ico pr opr iam ent e dit o, pois o público de hoj e em dia é m ais afeit o à audição do que à leit ur a de t ext os poét icos. Par a ela, não há em Chico Buar que a int enção de ser r econhecido com o poet a, m as sim com o com posit or . Cont udo, m uit os est udiosos da lit er at ur a at est ar am a qualidade lit er ár ia das let r as das canções de Chico e confer ir am a elas o st at us de t ext os poét icos. Todavia, sem a m úsica, o t ext o poét ico pode ser lido, com o far em os agor a, em seus disposit ivos agenciador es de subj et ivação.

Ele m e n t os de scon st r u t or e s n a s ca n çõe s de Ch ico Bu a r qu e

Um a leit ur a descont r ucionist a em busca da m ult iplicidade e polissem ia de significados é possível de ser r ealizada na obr a buar quiana, dado que suas let r as pr opiciam a dissem inação de ideias, ist o é, um a aber t ur a par a novas for m as com pr eensivas. Possivelm ent e, a pr ocur a de novos significados sej a at é m esm o congr uent e com a post ur a est ét ica ( cr iat iva) do com posit or , pois, com o bem r essalt a Conde ( 2004) , o pr ópr io Chico Buar que ent ender ia as palavr as com o est ando vivas. De fat o, em Um a

palavr a ( 1989) , Chico diz: “ Palavr a pr im a [ ...] que quer dizer

t udo/ ant erior ao ent endim ent o, palavr a/ palavr a viva/ palavr a com t em per at ur a [ ...] palavr a dócil [ ...] que se acom oda [ ...] e que m e escr eve desat ent o [ ...] quase- palavr a [ ...] palavr a boa [ ...] de habit ar / fundo/ o cor ação do pensam ent o, palavr a” .

I sso t udo im plica, par a o nosso est udo, na pr odução de elem ent os desconst r ut or es que a obr a buar quiana per m it e. Poder íam os ar r olar alguns deles, que ir em os t rat ar agor a: acont ecim ent o; ocult am ent o/ desvelam ent o; m ult iplicidade; polissem ia; inver são; e difer ença/ alt er idade. Ut ilizar em os algum as canções de Chico Buar que que nos per m it em deflagr ar esse pr ocesso cr iat ivo, ou sej a, ver par a além do que o aut or quer er ia m ost r ar , o dizer que habit a nas ent r elinhas do dit o ( LÉVI NAS, 1978) .

Tal pr ocesso se dá na int er penet r ação de t r ês m ovim ent os: o que busca a alt er idade no t ext o, incluindo aí a sua for m a r adicalizada – com o apar ece em Em m anuel Lévinas; o que se depar a com os difer endos, ou sej a, aqueles elem ent os polissêm icos j á pr esent es na obr a; e ainda um out r o, que per m it e novas significações, r esult ado daquilo que ent endem os por dissem inação, est a assum ida por nós m esm os, leit or es que som os.

Ele m e n t o 1 : a con t e cim e n t o – “se r ia u m a con t e cim e n t o” ( Ca dê v ocê , 1 9 8 7 )

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par t icipando, assim , da fest a da vida. Dest a for m a, ant es da passagem da banda, exist ia a r ot ina, o silêncio, o fecham ent o. Com a passagem da banda, há um event o, a m úsica, e um a aber t ur a par a a m ensagem que est á sendo om it ida. Por fim , depois que a banda passa, há um r et or no à r ot ina, ao silêncio e ao fecham ent o.

A banda pr ovoca, assim , um r om pim ent o, um a r upt ur a daquela condição consider ada com o nor m al, pr ovocando um a polar ização na at it ude dos indivíduos que pr esenciam sua passagem : o hom em sér io par a de cont ar dinheir o; o far oleir o par a de cont ar v ant agem ; a nam or ada par a de cont ar as est relas; a m oça t r ist e sor r i; a r osa fechada se abr e; o velho fr aco se esquece do cansaço e a lua escondida apar ece. Com a banda, podem os per ceber a ir r upção do novo, do inusit ado, do difer ent e. Por ém , t odas as m udanças pr ovocadas pela m úsica da banda são efêm er as, pois depois de sua passagem , cada um volt ou par a o seu cant o e par a a sua dor .

Cont udo, concebem os um a out r a for m a de com pr eender o im pact o da passagem da banda que difer e dessa visão de que as m udanças pr ovocadas pela banda for am efêm er as e que, depois da sua passagem , t udo volt ou a ser com o er a ant es, com o se a banda t ivesse pr ovocado apenas um a pausa ou um a suspensão. De acor do com a ideia de Sant ’Anna ( 2004) de que a passagem da banda pr ovocou um a aber t ur a, podem os dizer que a banda significou um acont ecim ent o, um a novidade que fez ir r om per o difer ent e, o inusit ado, o int em pest ivo. Assim sendo, algo m udou, algo difer iu, algo r om peu e se t r ansfor m ou, ou sej a, as coisas j á não são m ais as m esm as, as pessoas que se deixar am afet ar pela passagem da banda, igualm ent e, m udar am e se t r ansfor m ar am . Se a banda foi r ealm ent e um acont ecim ent o, as pessoas j á não são m ais as m esm as, elas são, agor a, difer ent es. Nesse sent ido, podem os dizer que o acont ecim ent o m ar cou, deixou um r ast r o, um sulco, um vest ígio.

O acont ecim ent o é, ent ão, aquilo que ir r om pe, aquilo que não er a esper ado e que pr oduz um a difer ença, um t r aum at ism o segundo Lévinas ( 1978) – o ser afet ado. Nessa linha de pensam ent o, podem os dizer que essa let r a t enha sido par a nós um acont ecim ent o que pr oduziu um a difer ença, um a difer ença de leit ur a. O at o cr iador que ger ou essa let r a cr iou a possibilidade de out r as leit ur as, de out r os at os cr iador es. Assim , esse t ext o buar quiano, com o out r os ao longo dest e t r abalho, nos inst igou a fazer isso, a fazer um a r eleit ur a, um a r ecr iação, um a exper im ent ação, ou sej a, a canção de Chico Buar que nos j ogou no cam inho da exper iência ( LARROSA, 1998) .

Ele m e n t o 2 : ocu lt a m e n t o/ de sv e la m e n t o – “qu a r t a - fe ir a se m pr e de sce o pa n o” ( Son h o de u m ca r n a v a l, 1 9 6 5 )

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r evelado – a ident idade. A Persona – m áscar a no gr ego – r epr esent a t udo aquilo que se m ost r a e que se desvela, enquant o que a m áscar a car navalesca r epr esent a o que esconde e que se ocult a. Em out r as palavr as, a m áscar a pr ocur a ocult ar a ident idade, a “ ver dade” , as car act er íst icas e as “ r eais” em oções do suj eit o. Dest a for m a, ela acaba possibilit ando que o indivíduo assum a um a at it ude m ais descolada de sua ident idade e de seus com por t am ent os pr evisíveis, podendo agir de m aneir as inusit adas, novas e difer ent es.

I sso significa que, par a além de sua função de ocult am ent o, a m áscar a possibilit a a ir r upção do difer ent e – o difer endo –, o est r anho que com par ece ao encont r o com o est r angeir o: o difer ent e de si se encont r a com a difer ença do out r o. Ou sej a, j á não há um a ident idade a ser pr eser vada. Pelo m enos não há a ident idade do idênt ico a si m esm o – o eu ver dadeir o ou aut ocoincident e.

Por out r o lado, podem os considerar que, na m edida em que o individuo se descola de suas convenções sociais e de suas car act er íst icas cr ist alizadas, ele t ende a ficar livr e de inj unções, de qualquer essência que pudesse ident ificá- lo a pr ior i. Est á m ais livr e par a ser e agir no m undo de for m a cr iador a. Assim sendo, podem os com pr eender a m áscar a com o um a per m issão que o suj eit o se dá par a “ se solt ar ” e “ ser o que pode ser ” , apr oveit ando o m om ent o com o desej a e não com o o m eio social esper e que ele apr oveit e. Ao usar um a m áscar a, a pessoa esconde o seu rost o. Esse r ost o, por ém , que significa face, possui um sent ido difer ent e do Rost o com o pr opost o por Em m anuel Lévinas. O Rost o levinasiano t r az a dim ensão do I nfinit o at r avés do out r o, da difer ença, sendo aquilo que se m anifest a e não o que se m ost r a. O que se m ost r a é fisionom ia. Nesse sent ido, posso dizer que eu escut o o Rost o ( ele m e fala) , que é do out r o, e esse Rost o m anifest a, par a m im , o I nfinit o. Na ver dade, ao ocult ar o r ost o, a m áscar a possibilit a o desvelam ent o do Rost o. Em out r as palavr as, se não est ou vendo o r ost o, t enho a chance de escut ar o Rost o e depar ar - m e com a infinit ude.

Calado ( 2004) consider a que, de acordo com as leis do car naval, há um a liber ação das r elações. Ainda que provisór ia, t al liber ação per m it e que os indivíduos, ger alm ent e separ ados na vida cot idiana por bar r eiras sócio- cult ur ais, est abeleçam um a for m a de cont at o m ais livr e e fam iliar .

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car naval. Dest e m odo, podem os obser var um a nít ida separ ação ent r e as at it udes assum idas na vida cot idiana daquelas adot adas no car naval.

De acor do com Calado ( 2004) , os elem ent os da canção que const it uem a vida cot idiana podem ser consider ados dent r o do cam po sem ânt ico da “ Repr essão” , um a vez que j ust ificam as seguint es at it udes: “ sem pr e par ado” , “ não posso falar ” , “ há quant o t em po desej o” , “ m e ofende, hum ilhando, pisando” , “ apanhando da vida” , “ t ant a alegr ia adiada, abafada” . Em oposição, t em os os elem ent os que const it uem o cam po sem ânt ico da “ Per m issão” e que sugerem ação, r ealização dos desej os e poder , com o podem os obser var nos ver bos “ r evidar ” , “ cant ar ” e “ gr it ar ” . Nas palavr as de Calado ( 2004, p. 283) : “ At r avés dessa oposição ent r e os cam pos sem ânt icos “ Repr essão” x “ Per m issão” cr ia- se a r elação “ vida oficial” x “ car naval” , “ r epr essão” x “ per m issão” .

Na canção I r acem a voou ( 1998) , Chico r et r at a um a m ulher br asileir a que, sacr ificando- se, vai ao encont r o do est r angeiro, do nov o, da m oder nidade. Ela não esper a m ais pela m oder nidade no Br asil, m as vai at é ela, voando par a lá. Com o bem r essalt a Fischer ( 2004) , a r evoada de I r acem a r epr esent a um a das significat ivas car act er íst icas de nossos t em pos: a m igr ação dos habit ant es da per ifer ia na dir eção dos cent r os.

Ret r at ada em sua individualidade e sem cont ext o explícit o, a I r acem a de Chico, m esm o não dom inando o inglês, sai do Cear á par a t ent ar ganhar no est r angeir o. Vivendo clandest inam ent e, “ não dá m ole pr a polícia” e vai levando a vida com o pode com o seu t r abalho ilegal. Ent r et ant o, m esm o com as dificuldades de um a vida clandest ina, I r acem a ainda sonha e “ Am biciona est udar / Cant o lír ico” .

De acor do com Fischer ( 2004) , longe de ser um a per sonagem aut ônom a e for t e, I r acem a é, pelo cont r ár io, anôm ala, anôm ica e anódina, ou sej a, é um a personagem que pode par ecer com qualquer pessoa e com t odo m undo.

Além de I r acem a, out r os per sonagens de Chico Buar que t am bém são suj eit os sem cont ext o explícit o, com o Pedr o Pedr eir o e a m orena de Angola. Segundo Fischer ( 2004, p. 294) : “ Chico par ece pr efer ir os indivíduos flagr ados em sua singeleza, em quadr os descr it ivos e nar r at ivos de gr ande poder de r epresent ação de vida e de im ensa eficácia est ét ica, quadr os que per m anecem ” . Dest a m aneir a, o com posit or r eser va par a si o papel de nar r ador ou int er locut or , deixando clar o que não int enciona fazer análise, m as desej a dar vida ao indivíduo. Mas esse indivíduo é o out r o em sua nudez e m isér ia ( LÉVI NAS, 1993) que t r az a ideia de infinit o, par a além de sua condição finit a.

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conhecim ent o e obj et o. Por t ant o os fenôm enos se dão a conhecer ocult ando- se e desvelando- se, ao m esm o t em po. Em Lévinas t al acont ecim ent o é m ais que r evelação, m anifest ação do I nfinit o no finit o

Ele m e n t o 3 : m u lt iplicida de – “D e t oda s a s m a n e ir a s”( t ít u lo h om ôn im o, 1 9 8 0 )

Cer t as let r as de m úsicas se r elacionam com det erm inada época, podendo ser com pr eendidas dent r o do cont ext o daquele t em po. Difer ent em ent e, as canções de Chico Buar que são at em por ais, um a vez que elas fazem sent ido em qualquer época, em qualquer t em po, pois as r elações t r at adas em suas let r as são da or dem exist encial e fenom enológica. Por exem plo, Vai passar ( 1984) : “ Vai passar ... Num t em po ... E um dia, afinal” , indica- nos que t udo passa e, no ent ant o, há um a m em ór ia e um a fut ur ição. Assim com o a let r a de Apesar de

você ( 1970) , escr it a no cont ex t o da dit adura m ilit ar , pode fazer

sent ido em sit uações out r as que não digam r espeit o à dit adur a, possibilit ando, dest a m aneir a, um a m ult iplicidade de leit ur as e int er pr et ações. Por t ant o, não há por que ficar m os pr esos a um a int er pr et ação polít ica com o “ canção- vivência” ( CONDE, 2004, p.246) . Tr at a- se aqui do t em po m últ iplo, do at em por al ou do ext em por âneo. De acor do com Ribeir o Net o ( 2004) , no disco As cidades, de 1998, Chico r et r at a a m ult iplicidade do univer so ur bano em canções que abor dam o indivíduo desde sua solidão am or osa at é sua inser ção ou m ar ginalidade social. As cidades apar ecem com o lugar de r efer ência e r efúgio, de necessidade e exclusão, de acolhim ent o e exílio. As fr ases m usicais desencont r adas incom odam nas pr im eir as audições, m as passam a sur pr eender , ao longo do t em po, dev ido à har m onização delicada e sut il, quando o est r anho, ou sej a, o difer ent e, a alt er idade, se t or na belo.

Da m esm a for m a que podem os dar m últ iplos significados às canções buar quianas, abr indo novas possibilidades par a suas let r as, Chico Buar que par ece t er feit o o m esm o com a canção As vit r ines ( 1981) , ao cr iar um a segunda let ra, que per m anece apenas no encar t e do disco Alm anaque. A “ let r a 2” v em dispost a nest a segunda capa com o avesso da pr im eir a, r epet indo o t ext o or iginal dos ver sos iniciais e apr esent ando, em seguida, fr ases apar ent em ent e sem sent ido. Scchin ( 2004) defende que o final da pr im eir a let r a ser ve com o gancho par a a ent r ada da segunda. Ele nos diz:

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Out r a possibilidade de ver o m últ iplo é com o excesso. A m ulher de As

vit r ines ( 1981) , que escapa, que est á for a de cont at o, se apr esent a,

ainda, com o um excesso, um t ransbor dam ent o. Ela r eapr esent a, ent ão, o out r o que m e excede, que m e ext r apola. Só r est a ao eu lír ico ir “ cat ando a poesia que [ ela] ent or na( s) no chão” . Nas palavr as de Sechhin ( 2004) , “ O t r ansbor dam ent o dessa m ulher que ‘gost ava de ser ’ per m it e a ele [ ...] apossar - se de sobr as ou cacos de poesia, com o a m et oním ia possível do out ro em definit ivo per dido” . Além disso, ela ent or na por que é excesso, por que não cabe em si m esm a. A ideia de excesso, de t r ansbor dam ent o, pode ser apr oxim ada da com pr eensão do out r o com o o que m e ult r apassa ou que não pode ser abar cado, com pr eendido ou t em at izado. É, por t ant o, da or dem do desej o, m as um desej o ungido pelo excesso ( não pela falt a) , “ com o um pensam ent o que pensa m ais do que não pensa, ou do que aquilo que pensa” ( LÉVI NAS, 1988, p.84) .

Ele m e n t o 4 : polisse m ia – “pr a se v ive r do a m or h á qu e e squ e ce r o a m or ” ( V iv e r d o a m or , 1 9 7 7 - 8 )

De acor do com Per r one, Ginw ay e Tar t ar i ( 2004) , o r eper t ór io m usical buar quiano é per m eado por um a m ist ur a de efeit os linguíst icos e m usicais que pr ovocam ir onia, int ensificam est ados aním icos e colabor am par a a dr am at icidade per for m át ica. A est r ut ur ação cr iat iva, a var iedade de per sonagens, for m as e gêner os, e a plurissignificação com post a de not as, r it m os, har m onias e palavr as car act er izam a obr a de Chico Buar que, que se ut iliza de diver sas est r at égias ( nar r at ivas, car icat ur as, alegor ias, sát ir as e int er t ext ualidade) com o obj et ivo de expor diver gências e discr epâncias ou ar t icular em ot ividades cam biant es. Dest a for m a, Chico pode ser car act er izado com o um com posit or de let r as delicadas e for t es cuj a or iginalidade enr iqueceu o cenár io do sam ba e da canção sent im ent al. É im por t ant e r essalt ar , ainda, a car ga afet iva e ét ica de sua obr a que r epr esent a a consciência social de um a ger ação. At é por que, para Lévinas, o ét ico é da or dem do ser afet ado, do afet o, por t ant o. E isso pode ser ident ificado nas com posições buar quianas – a dim ensão ét ica nos chega, ger alm ent e, pela via do afet o, car r egada de m uit a sensibilidade, passividade e vulner abilidade.

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dessa m ulher , ele não consegue, pois não t em o cont r ole, o poder ( ou o saber ) sobr e o out r o. Com o bem r essalt a Sechhin ( 2004) , “ O t em po t odo o suj eit o vai desej ar o unívoco, o sit uado, ou, no lim it e, o est át ico e o apr isionado, enquant o o obj et o de seu desej o ser á cada vez m ais deslizant e, fugidio, im preciso, m últ iplo” ( p. 180) . O Out r o escapa, não se deixa cont er , é excesso que t ransbor da, com o vim os um pouco at r ás.

Volt ando à let r a de Chico, cont udo, o eu lír ico acaba por se defr ont ar j ust am ent e com aquilo que ele t ent ou r ej eit ar , enxer gando as vit r ines não por vont ade pr ópr ia, m as por m eio de um espelham ent o encont r ado nos olhos da m ulher . Segundo Sechhin ( 2004) :

A at m osfera lúdica e pr azer osa que envolve a m ulher deix a com o r est o, ao hom em , um a som br a m ult iplicada. Em v ert iginosos deslocam ent os propiciados pelo desfile fem inino, abolem - se fr ont eir as ent r e obser vador es e obser vada, ent r e suj eit o que vê e obj et o que é vist o. Desej ando- a unívoca, o hom em se depara com o m últ iplo [ ...] ( p. 181) .

Joana Fr ancesa ( 1973) , por sua vez, é um a let r a polissêm ica por

nat ur eza. Mist ur ando a língua francesa à por t uguesa const r ói sent idos vár ios par a a declar ação de am or pelos am ant es. Tu m ens

t r op ( m ent es t ant o) pode ser ‘t u m e ent r ou’; “ gem e” confunde- se

com j ’aim e ( am o) ; “ acor da, acor da” t r ansfor m a- se em d’accor d,

d’accor d ( de acor do, de acor do) ; m ar ée, bat eau ( m ar é, bar co) pode

ser ouvido com o ‘m e ar r ebat ou’.

O uso de m últ iplos significados par a um m esm o t er m o é evident e na let r a de Par oar a ( 1985) . A palavr a “ car a” apar ece quat r o vezes em difer ent es acepções. “ queim ou nossa ca r a ” ( r ost o, face) ; “ e não t ava ca r a ” ( pr eço elev ado) ; “ um ca r a apar eceu” ( suj eit o, indivíduo) ; “ m as não t inha ca r a ” ( não par ecia, não t inha apar ência) .

Um out r o exem plo de polissem ia vem da canção Pelas t abelas

( 1984) . Font es ( 2003) consider a inegável o apelo polít ico da canção,

m esm o est ando ele com o pano de fundo. Segundo a aut or a, “ se a t em át ica do t ext o da canção se funda a par t ir de um m ovim ent o polít ico, ela é polít ica, ainda que par a configur ar um a alienação individual em r elação a um est ado de m obilização colet iv a” ( p. 17) . Chico Buar que nega o engaj am ent o polít ico da canção e a descr eve com o um a m úsica de am or. Ent ret ant o, concor dam os com Font es ( 2003) quando ela defende que não cabe a Chico dir ecionar a int er pr et ação do público, pois não se pode int er cept ar a plur alidade de significado ger ada pelo signo linguíst ico.

Ele m e n t o 5 : in v e r sã o – “a ge n t e v a i con t r a a cor r e n t e ” ( Roda V iv a , 1 9 6 7 )

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r essalt ar que o eu- lír ico “ nega grat uit am ent e par a fir m ar - se com o afir m ação” ( p. 170) , pois ao m esm o t em po que desdenha a am ada, ele a desej a “ com pr ar ” . O inj ur iado sent e- se assim por que não ent r ou no j ogo, ou cont r aj ogo: t r at a- se de um a ant ilógica – fazer o bem dem ais, ser o “ bonzinho” – colocando o out r o na obr igação de r et r ibuir . Per cebem os que há, nessa canção, a ideia de que quem é bom dem ais acaba incom odando. Essa let r a faz par ecer que ninguém supor t a aquela pessoa que faz t udo e que est á sem pr e à disposição. Popular m ent e, o suj eit o bonzinho dem ais é, m uit as vezes, sent ido com o um a pessoa que acaba cansando e incom odando, pois, im plicit am ent e, t raz no seu at o de bondade um a obr igação de r et r ibuição por par t e daquele que r ecebe.

Dest a for m a, o suj eit o da canção est á inj ur iado por que a am ada não ent r ou no j ogo “ eu não t e dou valor , par a você m e dar valor ” , num a lógica de que se você só faz o bem , você cansa o out r o e esse out r o acaba despr ezando você. Nesse sent ido, de cer t a m aneir a, ser ia pr eciso fazer o m al t am bém , par a m ost r ar que o out r o não é t udo e par a que esse out r o não acabe despr ezando você.

De acor do com a ant ilógica da canção, se o suj eit o só fizesse o bem , se ele t ivesse em pr est ado dinheir o ou se t ivesse feit o favor es à am ada, ele est ar ia viciando e alim ent ando o gênio r uim dela, que acabar ia o despr ezando. Cont udo, com o o eu lír ico fez m al à am ada e ela, por t ant o, nada lhe deve, ele, agor a, se per gunt a porque ela, ao cont r ár io do esper ado, est á inj ur iada e falando m al dele.

Mas em Lévinas ( 1988) , ser pelo out ro não im plica na r ecípr oca, pois isso é negócio dele ( do out r o) . I sso que a let r a diz pode se assem elhar ao signo do am or ( Deleuze, 1987) onde a m ent ir a, a ocult ação, a dissim ulação fazem par t e do j ogo ent r e os am ant es. Além do que, em Lév inas, am or t em a ver com doação ( dação) , o que não conseguim os capt ar na let r a.

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não desfaz a or dem est abelecida pr im eir am ent e. Da m esm a for m a que o lim it e super ior dessa or dem é r epr esent ado pelos ianques, o lim it e infer ior diz r espeit o ao m alandr o m ais pobr e. Mas ninguém quer ser lesado – enganado ou bobo. Nisso pode apar ecer a dim ensão da difer ença, pois cada um , a sua m aneir a, exper im ent a a possibilidade da per da, ou do ludíbr io.

De acor do com Gouveia ( 2004) um a quest ão r elevant e que per m eia essa canção é a aut oconsciência do m alandr o, um a vez que ele t em clar eza sobr e o alcance int er nacional da m alandr agem , cr it ica a im punidade em cadeia e sabe que som ent e ele ser á punido. Aqui, é r et r at ada um a consciência plena da m alandr agem inst it ucionalizada e sem fr ont eir as que engloba t ant o m alandr os oficiais, quant o m alandr os m enor es.

Um out r o t ipo de est r anham ent o nos causa a escr it a buar quiana, ao apr esent ar pr ovér bios popular es dit os no sent ido cont r ár io. Tr at a- se da canção Bom conselho ( 1972) , em que t ais “ conselhos” sur gem de onde ninguém im agina, ir r om pem com um significado que t r az um a difer ença. Com o bem r essalt a Calado ( 2004, p. 278) , “ A inver são sem ânt ica de pr ovér bios ofer ece um aspect o côm ico à com posição, na m edida em que do habit ual e esper ado sur ge o inusit ado, o efeit o sur pr esa” . Tal inver são sem ânt ica evidencia o aspect o do inver so, do espelho, do duplo, do não ser no ser , do out r o no m esm o pr esent e na canção: “ I nút il dorm ir a dor não passa” [ dur m a que a dor passa] ; “ Esper e sent ado ou você se cansa” [ quem esper a sent ado não cansa] ; “ quem esper a nunca alcança” [ quem esper a sem pr e alcança] ; “ br inque com m eu fogo, v enha se queim ar ” [ com fogo não se br inca] ; “ Faça com o eu digo, faça com o eu faço” [ faça o que eu digo m as não faça o que eu faço] ; “ Aj a duas vezes ant es de pensar ” [ pense duas vezes ant es de agir ] ; “ Cor r o at r ás do t em po” [ do t em po não se foge] ; “ Devagar é que não se vai longe” [ devagar se vai ao longe] ; “ Eu sem eio o vent o” [ quem sem eia vent o colhe t em pest ade] ; “ Vou pr a r ua e bebo a t em pest ade” [ não faça t em pest ade num copo d’água] .

Dest a for m a, Bom conselho r efor ça um a ideia de t r ansgr essão e desor dem num cont ext o onde im per ava a r epr essão e a dit adur a. A linguagem pr over bial conser vador a, que incent iva a passividade e a r esignação, t r ansfor m a- se num a voz t r ansgr essor a desse univer so confor m ist a, que faz um convit e à ação e pr ega a desobediência à or dem est abelecida. Cont udo, essa ideia pode ser est endida par a qualquer época, e não só par a aquele per íodo de exceção.

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podem ser consider ados t ão sábios quant o os seus cont r ár ios pr egados pelos pr ovér bios popular es. De um a for m a ou de out r a, há sabedor ia e ver dade, depende som ent e do cont ext o e sit uação em que é dit o.

Em Madalena foi pro m ar ( 1965) a inver são com par ece na figur a de Madalena ( pr ost it ut a/ sant a) que sai par a o m ar e deixa o seu hom em e os filhos em t er r a. Tr at a- se de um a m ulher pe( s) cador a, m as que m er ece o per dão – dim ensão ét ica por excelência. Tant o par a quem pede, quant o par a quem perdoa. Em am bos os casos há que se t er o out r o em vist a.

Já em Folhet im ( 1977- 1978) a inversão se dá quando a m ulher do t ipo que ‘só diz sim ’, ao final diz ao hom em que ele é ‘página v ir ada’. Hospit alidade e host ilidade se apr ox im am com o em seus pr ópr ios ant eposit ivos hospit ( aquele que r ecebe) e host ( est r angeir o) . Em inglês, cont udo, host é anfit r ião. De fat o, a hospit alidade é um a dim ensão ét ica t am bém : acolher o out r o na sua difer ença, ele que chega sem aviso e ao qual devo fazer as honr as da casa.

Um a canção desnat ur ada ( 1979) pr oduz a inver são pela via da

r ever são – o desej o dos pais de que a filha j á m ulher r et or ne ao út er o da m ãe. Or a, eis o inv er so da pat er nidade: o pai t or na- se cada vez m ais desnecessár io ao filho. O filho dist a par a o fut ur o, não há com o t r azê- lo de volt a ao r egaço.

Ele m e n t o 6 : dife r e n ça / a lt e r ida de – “Um dia e le ch e gou t ã o dife r e n t e do se u j e it o de se m pr e ch e ga r ( V a lsin h a ,1 9 7 0 )

Difer ir é adiar , m as t am bém , ser difer ent e; pr olongar , m as t am bém diver gir . Há um a dim ensão de t em poralidade na pr ocr ast inação, m as t r at a- se j á de um t em po sem t em po, do cont r at em po ou do ext em por âneo. De um lado, o t em po que cr ia, que possibilit a o ser para além da m ort e. De out ro, a alt er idade que invent a o t em po, ser par a um out r o.

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ent ão, per da e degr adação. Lévinas adm oest a- nos, t am bém : “ Pele às r ugas” ( 1978, p. 141) . Por out r o lado, a canção t am bém engloba o pr incípio cr iador , ao levar em cont a a per m anência que a ar t e pr opicia, quando, na últ im a est r ofe, o t em po alcança a glór ia e o ar t ist a, o infinit o. Par a Em m anuel Lévinas significa o “ ser par a além -da- m inha- m or t e” , da obr a que post er ga o art ist a. Assim , “ Tem po e ar t ist a” apr esent a um par adoxo ent re finit ude e infinit ude, ar t iculando dialet icam ent e duas concepções de t em po: a linear e a cíclica.

Tudo isso nos r em et e a um a discussão m ais pr ofunda sobr e a t em por alidade. Podem os, por exem plo, sair do t em po linear e cr onológico at é chegar m os a um t em po vivido, at em por al e cont r at em por al. O t em po, par a Lévinas, é o t em po de Moisés, que cont inua sem pr e em fr ent e em busca da t er r a pr om et ida. E não o de Odisseu ( Ulisses) que r et or na a sua Í t aca. Em out r as palavr as, segundo o pensam ent o levinasiano, o t em po significa um a aber t ur a par a o fut ur o e par a o novo. Com esse t em po dir igido par a o fut ur o há um a aber t ur a par a o out ro. Dest a for m a, o t em po, par a o Mim , é o Out r o, pois é o out r o que dem ar ca m eu t em po, ou sej a, eu m e t em por alizo em r elação ao out r o. Em bor a sej am os finit os, nós conseguim os t er a ideia de infinit o devido ao out r o, pois quem nos t r az a ideia de infinit o é o out r o. Da m esm a m aneir a, o pr incípio cr iador engloba a dim ensão do infinit o, pois, um a v ez que nos pr opicia um a aber t ur a par a o fut ur o, o pr incípio cr iador nos per m it e ult r apassar o t em po cr onológico par a o t em po vivido, que é fenom enológico. Assim , podem os nos t r anspor t ar par a o passado e par a o fut ur o, par a o t em po vivido e um t em po não vivido, por viver – devir . O at o cr iador é par a o fut ur o, é par a o out r o, é post er gação, post er ior idade, post er idade. A palavr a é adiam ent o, pr ocr ast inação, fut ur ição. A let r a da canção im pele ao post er ior – par a um depois, par a um ainda não dit o, m as por dizer . Por últ im o, o alcance da obr a de ar t e est á par a além da m or t e do cr iador . A obr a de ar t e fica, por t ant o, par a a post er idade.

De acor do com Cost a ( 2004) , “ [ ...] o t em po é consider ado agent e de deslocam ent o cuj os efeit os são m at ér ia de t r abalho lit erom usical de Chico Buar que” ( p. 347) . O aut or consider a que a obr a de Chico Buar que é m ar cada por um a condição par acr ônica. A par acr onia r evela um a exist ência que pr oblem at iza a t em por alidade, ou sej a, o suj eit o é capaz de colocar - se além , par alelam ent e ou aquém de um a obr a sit uada em um dado m om ent o ou m esm o acim a de qualquer per t inência t em por al. A “ em br eagem par acr ônica” pode ser obser vada em O velho Fr ancisco ( 1987) , em Hom enagem ao

m alandr o ( 1977- 1978) e em Tem po e Ar t ist a ( 1993) .

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Tem por alidade e alt er idade, elem ent os que se m ist ur am num a const at ação de que o m eu t em po é do out r o, de que o out r o m e coloca na dim ensão t em por al.

Na canção As vit r ines ( 1981) , o suj eit o dir ige- se a um a m ulher que se encont r a vedada ao cont at o. De acor do com a leit ur a de Lévinas, por Der r ida ( 1991) , só é possível o suj eit o se encont r ar com vest ígios da passagem do out r o, m as não com o out r o. I sso acont ece por que o t em po do out r o é um t em po difer ent e, o out r o é o inapr opr iável, o que não pode ser apr opr iado, não pode ser m inha pr opr iedade, ist o é, o suj eit o chega sem pr e em at r aso par a o cont at o com o out r o.

A obra buarquiana t am bém se caract er iza por r et r at ar per sonagens excluídos pela sociedade ou silenciados pelo cot idiano. Na canção

Juca ( 1965) , podem os obser v ar a abor dagem dessa t em át ica quando

Juca, por ser sam bist a, é consider ado com o um m ar ginal pelo delegado. Segundo Sant ’Anna ( 2004) , a canção est abelece dois espaços incom pat íveis: o sam bist a que sim boliza a m úsica e a desor dem , e o delegado que r epr esent a o silêncio e a or dem . Juca est ava fazendo um a ser enat a par a sua am ada Mar ia e, “ at uado em flagr ant e” , foi pr eso “ com o m eliant e” , com o per t ur bador da or dem . Por ém , “ em legít im a defesa” , Juca afir m a que “ o delegado é bam ba na delegacia/ m as nunca fez sam ba/ nunca v iu Mar ia” . Aqui, podem os per ceber um a diferença, na m edida em que o delegado não consegue com pr eender o que m ot iva e o que inspir a Juca. Em out r as palavr as, o delegado ent ende e dom ina aquilo que é do seu cont ext o labor al, m as não com pr eende o out r o e o m undo do out r o. Nesse sent ido, não há a possibilidade dele se colocar no lugar de Juca, ou sej a, no lugar da alt er idade. O que há é a t ent at iva de r eduzir o out r o ao m esm o, o est ranho ao fam iliar , a difer ença à ident idade.

O sam bist a é t am bém consider ado com o “ for a da or dem ” em out ras canções de Chico Buar que, com o em Meu r efr ão ( 1965) , Par t ido alt o

( 1972) e Mam bem be ( 1972) . De acor do com Sant ’Anna ( 2004) , ao

aceit ar sua condição m ar ginalizada, “ o excluído passa a excluir - se volunt ar iam ent e par a m elhor assinalar sua exclusão” ( p.166) . Assim , os excluídos afir m am - se enquant o classe, assegur ando seu papel e sua condição social. Esse suj eit o for a do cont ext o com par ece em out r as let r as de Chico com o Mor ena de Angola ( 1980) e I r acem a

voou ( 1998) . A Mor ena de Angola “ sai chocalhando pro t r abalho” ,

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Na canção O m alandr o ( 1977/ 1978) podem os obser var um a m alandr agem que im plica o out ro, que envolve a quest ão da alt er idade. Nas palavr as de Gouveia ( 2004) :

A m alandragem est á generalizada, t em um a m aleabilidade que t r ansit a nos espaços da or dem e da desor dem , e t or na-se cada vez m ais am bígua e de difícil dist inção. De fat o, não há difer ença essencial ent r e os agent es, m as apenas de gr au, um a vez que a ast úcia m et ódica e pr econcebida é o elem ent o unificador de t odos ( p. 196) .

Com o foi com ent ando ant erior m ent e, as canções de Chico Buar que cost um am possuir um car át er at em por al, um a vez que fazem sent ido em m uit as épocas e cont ext os. Dest a for m a, podem os t am bém const at ar a at ualidade do t em a da m alandr agem na r ealidade br asileir a, especialm ent e no que diz r espeit o à esfer a polít ica. Hist or icam ent e, sem pr e fom os gover nados por m alandr os que buscavam um a m aneir a ou out r a de se beneficiar do dinheir o público, com o podem os obser var nos escândalos sist em át icos que os m edia not iciam e que nos fazem im aginar aqueles que não são t or nados públicos.

A com posição t r ípt ica O que ser á ( 1976) – Abert ur a, À flor da pele e

À flor da t er r a –, car act er iza- se por um inst igant e j ogo de

adivinhação sem solução expr essa, deixando, assim , a m ar ca de um a r esolução invisível. Tal j ogo configur a- se at r avés de alusões, negações, afir m ações, qualificações e m odificações que dão for m as e cont or nos a um t om er ót ico e sociopolít ico. De acor do com Per r one, Ginw ay e Tar t ar i ( 2004, p. 217) , “ A let r a suger e algum ent e ubíquo, par t e da exper iência hum ana, m as sem pr e elusivo, inefável, indefinível” . Tr at a- se do que foge ao lim it e, às r egr as, à Lei, à or dem , por t ant o o ilim it ado, o inovador , o incansável, o t ransgr essor , o indecent e, o ir r epar ável. Logo, da alt er idade.

Podem os dizer , por isso, que a alt er idade est á r epr esent ada na obr a buar quiana pelas vozes do m alandr o, da m ulher , do m ar ginal, da pr ost it ut a, do peder ast a, do pivet e, do m endigo e de out r os per sonagens que ret r at am as m inor ias m ar ginalizadas, denom inadas por Silva ( 2004) de Cor o de Vozes I nt er dit adas.

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pr esença é discr et am ent e um a ausência e a par t ir da qual se r ealiza o acolhim ent o hospit aleir o por excelência que descr eve o cam po da int im idade” ( p. 138) . Mas no est udo Filosofia, j ust iça e am or ( 1982) , da coleção de ensaios Ent r e nós ( 1997) , Lévinas declar a: “ Out r or a, eu pensava que a alt er idade com eça no fem inino. É, efet ivam ent e, um a alt eridade m uit o est r anha: a m ulher não é o cont r adit ór io nem o cont r ár io do hom em , nem com o as out r as difer enças” ( p. 155) . Der r ida ( 1997) salient a que “ é a par t ir da fem inilidade que ele [ Lévinas] define o acolhim ent o por ex celência” , m as “ o acolhim ent o, or igem an- ár quica da ét ica per t ence à ‘dim ensão de fem inilidade’ e não à pr esença em pír ica de um ser hum ano do ‘sexo fem inino’” ( p. 60) .

De acor do com Font es ( 2003) , na obr a de Chico Buar que, a t r ansgr essão est á int im am ent e ligada à at it ude de valor ização da figur a da m ulher por par t e do poet a. Ela r essalt a que Chico Buar que t em consciência da condição da m ulher na sociedade, da opr essão advinda de sit uações econôm icas e cult ur ais que se r eflet em nas r elações am or osas. Por out ro lado, Chico t am bém é conscient e do encant o, fascínio e at r ação fem inina que r esult am em pr azer es físicos e espir it uais na r elação hom em - m ulher . Assim , podem os obser var na obr a buar quiana a incidência de m últ iplos aspect os do fem inino t ant o nas canções em que a m ulher é a em issor a, quant o naquelas em que ela é dest inat ár ia ou r efer ent e do t ext o poét ico. Nesse sent ido, Font es ( 2003) r essalt a que “ Da subm issão à t r ansgr essão, a m ulher t er á sem pr e um papel de supr em acia, onde se configur a a at it ude de vener ação por par t e do poet a ao Gr ande Fem inino” ( p. 10) . Volt am os à quest ão da alt er idade e da difer ença.

Na canção Noit e dos Mascar ados ( 1966) , podem os obser var o diálogo de dois m ascar ados em m eio a um a at m osfer a de fest a, de fant asia e de br incadeir a. Dur ant e o diálogo, os m ascar ados vão se descr evendo e vão se descobr indo opost os um do out r o. Um abism o cada vez m ais pr ofundo vai se evidenciando na m edida em que apar ecem as difer enças de idade, sit uação financeir a e per sonalidade.

Pr im eir am ent e, logo no início da let r a, há um a v ont ade de saber quem esse out r o é, pr ovavelm ent e par a ver se com binam enquant o casal, enquant o nam or ados: “ Hoj e os dois m ascar ados/ Pr ocur am os seus nam or ados/ Per gunt ando assim : / Quem é v ocê, diga logo/ Que eu quer o saber o seu j ogo” .

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apr oveit ar a liber ação do car naval, ant es que t udo volt e a ser o que er a: “ Am anhã, t udo volt a ao nor m al/ Deixe a fest a acabar / Deixe o bar co cor r er ” .

Nesse sent indo, é com o se a canção nos r evelasse as seguint es pr oposições: não int er essam as convenções, as opiniões, os pr econceit os; um não t em vont ade de saber quem é o out ro do pont o de vist a socioeconôm ico, por exem plo; o que im por t a é que o out r o est á se m ost r ando com o a difer ença, com o algo que t oca e que afet a; ent ão, de fat o, um est á se abr indo par a o out r o, est á se abr indo par a a difer ença, pois est á deixando de lado as convenções sociais.

No cont ext o da fant asia car navalesca, há, inclusive, a possibilidade de um se am oldar ao out ro. A flexibilidade e a t r ansfor m ação são, dest a for m a, m aior es do que as r eais difer enças e polar idades: “ Que hoj e eu sou/ Da m aneir a que você m e quer ” . Sai- se, assim , da cr ist alização da ident idade, da definição de quem se é. A pessoa que se esconde por det r ás da m áscar a se per m it e ser difer ent e, se per m it e t er out r os t ipos de vivência e de com por t am ent o. A opor t unidade de colocar em suspenso as car act er íst icas ident ificat ór ias cr ia um a r elação m ais ent r egue e m ais cheia de possibilidades: “ Deixa o bar co cor r er... Sej a o que Deus quiser ” . I sso diz r espeit o, t am bém , a se per m it ir ser vár ios eus, ou ser os vár ios out r os.

O t em a da difer ença é evident e em Geni e o zepelim ( 1977- 1978) , sendo t r at ado pela ópt ica da discr im inação, do pr econceit o, da hipocr isia e da inj ust iça. A m ulher / t r avest i que aceit a, após a insist ência de t odos, deit ar com o inim igo conquist ador par a salv ar a cidade é depois r econduzida à condição m ais abj et a.

Já em Ela é dançar ina ( eu quer o dor m ir e ela precisa dançar ) ( 1981) o r econhecim ent o da alt er idade chega às r aias da im possível convivência. O funcionár io, quando pega o pont o, abr e o ar m ár io, cai m or t o, não r ecebe o salár io, a dançar ina t er m ina o show , salt a pur pur ina, em pina e r ecebe pr opina.

A obr a buar quiana é o “ r esult ado de um a subj et iv idade const r uída e m ar cada ir r edut ivelm ent e pelas alt er idades que, no cont ext o sócio-hist ór ico de sua produção ar t íst ica, for am r ecipr ocam ent e const r uídas e m ar cadas por sua obr a” ( COSTA, 2004, p. 325) . O out r o, os out r os eus, o out r o do out r o, t odas essas for m ações apar ecem nos t ext os buar quianos, de for m a a valor izar a est r anheza e a est r aneidade, em nós ou sobr e nós.

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pessoas que, na sociedade, se encont r am em sem elhant e sit uação. Nesse sent ido, a sit uação par at ópica do escr it or per m it e um a ident ificação com os suj eit os que par ecem est ar for a das linhas de divisão social ( COSTA, 2004) .

Dest a for m a, a bailar ina, o palhaço, os hom ossexuais, os r et ir ant es, as m ulher es, dent r e out r os, assim com o os suj eit os individuais ( Calabar , Geni, Car olina, I r acem a, et c.) fazem par t e do univer so de per sonagens par at ópicos buar quianos. Tais suj eit os apr esent am “ um a r elação pr oblem át ica com a sociedade, da qual eles não são m er am ent e excluídos m as int er agem sim biot icam ent e com os incluídos, que, por sua vez, nut r em por eles fascínio e t em or ” ( COSTA, 2004, p. 344) .

Com o exem plo dist o, t em os o m alandr o, a m ais conhecida cat egor ia par at ópica do com posit or . O m alandro não é pr opr iam ent e excluído, ele m esm o é quem r ecusa a inclusão ao não aceit ar a ét ica do t r abalho. Na r ealidade, a m alandr agem nega a m or al do t r abalho e da condut a exem plar . Vest indo- se elegant em ent e e cult ivando um a sofist icação bur guesa sem cor r esponder , ent r et ant o, a essa est r ut ur a econôm ica, o m alandr o foge da posição de t r abalhador e ent r ega- se à or gia, ao pr azer da dança, da bebida e do sexo ( COSTA, 2004) .

Con clu in do

Apesar de t er m os feit o em nossa análise um a separ ação dos elem ent os desconst r ut or es, é im por t ant e o leit or obser var que, m uit as vezes, est es elem ent os se fundem , se im iscuem uns nos out r os.2 I sso nos par ece inevit ável, o que não im plica na incom pr eensibilidade do t ext o. De qualquer m aneir a, quisem os aqui dar vazão ao difer ent e que as let ras de Chico Buar que em but em , a condição de alt er idade r adicalizada, que obr iga à disposição ét ica do acolhim ent o e que se dispõe na condição absolut a de vulner abilidade ao out r o.

(19)

“ t em dias que a gent e se sent e com o quem par t iu ou m or r eu” ; “ t r ocando em m iúdos, pode guar dar a sobr a de t udo que cham am lar ” ; et c.

Os t ext os buar quianos, além de dar voz a suj eit os at é anônim os, pr oduzem subj et ividades em nós seus leit or es ( ouvint es) . Eles nos t ocam pela alt er idade ( difer enças, est r anhezas, avessos) e nos m ar cam pr ofundam ent e. I sso r ever ber a nos encont r os/ desencont r os com out r os suj eit os. Mais que pensar, nos faz r esponder ao out r o e r esponsabilizar m o- nos por ele.

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En de r e ço pa r a cor r e spon dê n cia

José Célio Fr eir e

Univer sidade Feder al do Cear á, Pr ogr am a de Pós- Gr aduação em Psicologia, Av. da Univer sidade 2762, Benfica, CEP 60.020- 180, For t aleza – CE, Br asil

En de r e ço e le t r ôn ico: j cfr eir e@ufc.br

Renat a Ram alho de Queir oz

Univer sidade Feder al do Cear á, Depar t am ent o de Psicologia, Labor at ór io de Psicologia em Subj et ividade e Sociedade, Av. da Univer sidade 2762, Benfica, CEP 60.020- 180, For t aleza – CE, Br asil

En de r e ço e le t r ôn ico: r enat ar q@hot m ail.com

Recebido em : 20/ 01/ 2010 Refor m ulado em : 06/ 05/ 2010

Aceit o par a publicação em : 21/ 05/ 2010

Acom panham ent o do processo edit or ial: Deise Mancebo

N ot a s

* Dout or em Psicologia; Pr ofessor Associado do Depar t am ent o de Psicologia da UFPA.

* * Psicóloga pela Faculdade de Psicologia da Universidade Federal do Ceará – UFC; à época da pesquisa, aluna da gr aduação em Psicologia da UFC e bolsist a PI BI C-CNPq.

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Usam os o nom e com plet o Chico Buar que de Hollanda ou for m as abr eviadas com o Chico, Buarque ou Chico Buar que, dado o t r at am ent o j á consagr ado nos t ext os e nos m edia em geral.

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Referências

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