• Nenhum resultado encontrado

Mana vol.5 número2

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "Mana vol.5 número2"

Copied!
28
0
0

Texto

(1)

A im ig ra çã o a le m ã te ve u m p a p e l re le va n te n o p roce sso d e colon iza çã o d e d ive rsa s re g iõe s d o su l d o Bra sil d e sd e 1824, q u a n d o o g ove rn o im p e -ria l fu n d ou a colôn ia d e Sã o Le op old o, n o Rio G ra n d e d o Su l. N o con te x-to d e ocu p a çã o d o te rritório m e d ia n te a colon iza çã o b a se a d a n a p e q u e n a p rop rie d a d e fa m ilia r — d a q u a l p a rticip a ra m os im ig ra n te s d e orig e m g e rm â n ica —, os p roce ssos d e d ife re n cia çã o in te rn a , form a çã o d e cla sse s e a sce n sã o socia l a con te ce ra m ju n ta m e n te com a crista liza çã o d a id e n ti-d a ti-d e é tn ica te u to-b ra sile ira , a n cora ti-d a n a e sp e cificiti-d a ti-d e cu ltu ra l e n o ju s san g u in is, e m con tra ste com os im p e ra tivos d a a ssim ila çã o d ita d os p e lo n a cion a lism o b ra sile iro com o con d içã o d a cid a d a n ia . O d e se n volvim e n to e con ôm ico, e m e sp e cia l a in d u stria liza çã o d e a lg u n s n ú cle os colon ia is, a ju d ou a d a r visib ilid a d e a o g ru p o é tn ico te u to-b ra sile iro. O p re se n te a rti-g o irá e n fa tiza r a q u e stã o d a m ob ilid a d e socia l n os ca m p os e con ôm ico e p olítico, e os p rob le m a s a ssocia d os a se n tim e n tos d e e tn icid a d e , foca za n d o tra je tória s d e a sce n sã o socia l n o in ício d o p roce sso d e in d u stria li-za çã o d e u m a re g iã o id e n tifica d a com a im ig ra çã o a le m ã — o Va le d o Ita ja í (SC ).

A colonização do Vale do It ajaí

A p rim e ira colôn ia a le m ã d e Sa n ta C a ta rin a foi fu n d a d a e m 1829, e m á re a re la tiva m e n te p róxim a à ca p ita l De ste rro (Floria n óp olis), com a d e n om i-n a çã o d e Sã o Pe d ro d e Alcâ i-n ta ra ; i-n a m e sm a é p oca , coloi-n os a le m ã e s ii-n s-ta la ra m -se e m M a fra , p róxim o à fron te ira com o Pa ra n á .

Essa s e ou tra s in icia tiva s d e colon iza çã o n a p rim e ira m e ta d e d o sé cu -lo XIX n ã o p rod u zira m os re su lta d os d e se ja d os (a im p le m e n ta çã o d a a g ri-cu ltu ra fa m ilia r e a ori-cu p a çã o d e te rra s d e volu ta s) u m a ve z q u e o n ú m e ro d e im ig ra n te s a sse n ta d os e ra p ou co sig n ifica tivo e n e m tod os p e rm a n e

-ETN ICIDADE, POLÍTICA E

ASCEN SÃO SOCIAL: UM EXEMPLO

TEUTO-BRASILEIRO

(2)

ce ra m n a s colôn ia s. Em 1835, o g ove rn o p rovin cia l p rom ove u o re a sse n -ta m e n to d e a lg u m a s fa m ília s a le m ã s e g re ssa s d e Sã o Pe d ro d e Alcâ n -ta ra e m d ois n ú cle os (Pocin h o e Be lch ior) loca liza d os n o b a ixo rio Ita ja í-a çu (e m á re a h oje p e rte n ce n te a o m u n icíp io d e G a sp a r). Foi a p rim e ira te n ta -tiva d e colon iza çã o n o Va le d o Ita ja í — re g iã o con sid e ra d a com o “ va zio” d e m og rá fico, e m g ra n d e p a rte in e xp lora d a e p ossíve l rota d e a ce sso a o p la n a lto — d e ce rta form a p rovoca d a p e lo d e scon te n ta m e n to d os colon os e m re la çã o a o p roje to d e Sã o Pe d ro d e Alcâ n ta ra1.

A se g u n d a colôn ia su rg iu e m 1846 com o e m p re e n d im e n to p a rticu -la r: o e n g e n h e iro e m a jor C h a rle s Va n Le d e form ou a C om p a n h ia Be lg o-Bra sile ira d e C olon iza çã o, e m p re sa q u e a d q u iriu te rra s d e u m g ra n d e p rop rie tá rio d e Ita ja í p a ra a sse n ta r im ig ra n te s oriu n d os d a Bé lg ica . Em b ora situ a d a e m á re a p róxim a à foz d o rio Ita ja ía çu , n o se u tre ch o n a ve g á ve l, a colôn ia b e lg a d e Ilh ota fra ca ssou . Em m e a d os d o sé cu lo XIX a p e -n a s 60 fa m ília s — a le m ã s, b e lg a s e b ra sile ira s — p e rm a -n e cia m -n os a rra ia is d e Pocin h o e Be lch ior.

A colon iza çã o siste m á tica d o Va le d o Ita ja í, n a ve rd a d e , com e çou e m 1850, com a fu n d a çã o d e u m a se g u n d a colôn ia p a rticu la r, n a con -flu ê n cia d o rib e irã o d a Ve lh a com o rio Ita ja í-a çu — p on to a p a rtir d o q u a l e ste d e ixa d e se r n a ve g á ve l. Ap ós u m a lon g a n e g ocia çã o com os g ove r-n os p rovir-n cia l e im p e ria l, H e rm a r-n r-n Blu m e r-n a u2form ou u m a e m p re sa

colon iza d ora q u e ob te ve u m a con ce ssã o d e te rra s d e volu ta s d e stin a d a à ocu p a çã o com im ig ra n te s a le m ã e s e m re g im e d e p e q u e n a p rop rie d a d e fa m ilia r. C oin cid e n te m e n te , os p rim e iros colon os ch e g a ra m à re g iã o p ou -cos d ia s a n te s d a p rom u lg a çã o d a Le i d e Te rra s (Le i 601, d e 18/ 9/ 1850)3.

Esse p roje to, a p e sa r d a s d ificu ld a d e s e n con tra d a s p or H e rm a n n Blu m e n a u p a ra tra ze r im ig ra n te s, d e u im p u lso à colon iza çã o a le m ã n a p rovín -cia d e Sa n ta C a ta rin a . Um a ou tra colôn ia p a rticu la r — D. Fra n cisca , d e p ois J oin ville — su rg iu e m 1851 n a s te rra s d e volu ta s d o n oroe ste d e Sa n ta C a ta rin a re ce b id a s com o d ote p e la p rin ce sa D. Fra n cisca , irm ã d e Pe d ro II, q u a n d o d o se u ca sa m e n to com o p rín cip e d e J oin ville . Pa ra a im p le m e n ta çã o d e ssa colôn ia con stitu iu -se a Socie d a d e C olon iza d ora H a m b u rg u e sa , q u e d e stin ou u m a á re a d e 46.582 h e cta re s p a ra a sse n ta -m e n to d e a le -m ã e s, su íços e n oru e g u e se s. Q u a se u -m a d é ca d a d e p ois, e -m 1860, com e çou o p ovoa m e n to d o p rin cip a l a flu e n te d o Ita ja í-a çu , com a fu n d a çã o d a colôn ia Ita ja í (Bru sq u e ), a d m in istra d a p e lo e sta d o; n e sse m e sm o a n o, o g ove rn o im p e ria l a ssu m iu a a d m in istra çã o d a colôn ia d e Blu m e n a u , n a q u e le m om e n to u m e m p re e n d im e n to a m e a ça d o p or d ifi-cu ld a d e s fin a n ce ira s4. Isto n ã o p rod u ziu u m re tra im e n to n a s in icia tiva s

(3)

tod o o p e ríod o d e a sse n ta m e n tos, e e m p re sa s p a rticu la re s org a n iza ra m a ocu p a çã o d e d ive rsa s á re a s, in clu sive o a lto Va le d o Ita ja í (on d e a Socie -d a -d e C olon iza -d ora H a n se á tica fu n -d ou u m a -d a s ú ltim a s colôn ia s a le m ã s d a re g iã o — H a m m on ia (Ib ira m a ) —, e m 1899).

De fa to, n ã o im p orta m u ito se a s colôn ia s e ra m p a rticu la re s ou oficia is, p ois o m od e lo d e ocu p a çã o e ra u m só p a ra tod a s: visa va a im p le m e n ta çã o d e u m siste m a fu n d iá rio q u e p rivile g ia va a p e q u e n a p rop rie d a d e fa m ilia r, re ce b id a p or com p ra , a p ra zo, e m te rra s p ú b lica s, sob con -trole d a le g isla çã o e d o M in isté rio d a Ag ricu ltu ra . O ob je tivo p rin cip a l e ra o p ovoa m e n to d o te rritório com p e q u e n os p rod u tore s ru ra is, p re fe -re n cia lm e n te im ig ra n te s e u rop e u s.

O Va le d o Ita ja í é u m e xe m p lo ca ra cte rístico d a p olítica im ig ra tória volta d a p a ra a colon iza çã o. Ao in icia r a ocu p a çã o siste m á tica , e m 1850, e xce tu a n d o a s fa m ília s re m a n e sce n te s d os p roje tos d e 1835 e 1846, a lé m d e p e q u e n os g ru p os in d íg e n a s, h a via a p e n a s a lg u n s p osse iros, cu ja p rin -cip a l a tivid a d e e ra a e xtra çã o d e m a d e ira , m e sm o a ssim n a re g iã o m a is p róxim a à vila d e Ita ja í. N a s d u a s p rin cip a is colôn ia s — Bru sq u e e Blu -m e n a u — os p ri-m e iros i-m ig ra n te s ch e g a ra -m p e lo rio e , coin cid ê n cia ou n ã o, fixa ra m o n ú cle o in icia l ju sta m e n te n o p on to on d e os rios Ita ja í-m irim e Ita ja í-a çu d e ixa m d e se r n a ve g á ve is. O s colon os n ã o e n con tra ra m lote s d e m a rca d os, d ificu lta n d o os a sse n ta m e n tos — situ a çã o q u e se p rolon g a -ria p or q u a se tod a a se g u n d a m e ta d e d o sé cu lo XIX, m otiva d a p e la crôn ica fa lta d e re cu rso d a s a d m icrôn istra çõe s oficia is. N a p rá tica , a s d e m a rca çõe s d e lin h a s e lote s, b e m com o a a b e rtu ra d a s p rim e ira s via s d e com u n ica çã o com Ita ja í, fora m re a liza d a s u sa n d o os colon os com o m ã od e -ob ra . A e sp e ra p e la con ce ssã o d e u m lote p od ia va ria r d e se is m e se s a u m a n o, d e ixa n d o os im ig ra n te s d e p e n d e n te s d os su b síd ios oficia is (d e p ois in corp ora d os à d ívid a colon ia l) e d o cré d ito d os com e rcia n te s loca is (q u e forn e cia m m a n tim e n tos e e q u ip a m e n tos). Este s fa tos m ostra m a p re ca rie -d a -d e com q u e a ocu p a çã o foi re a liza -d a e -d im e n sion a m u m a re a li-d a -d e q u e , m a is ta rd e , se ria a cion a d a com o sím b olo é tn ico, o p ion e irism o d os a le m ã e s, os p rim e iros ocu p a n te s d a re g iã o, e a e ficá cia d o se u tra b a lh o.

(4)

-los p rovisórios e xig ia a ocu p a çã o e fe tiva d o lote , com con stru çã o d e m ora d ia p e rm a n e n te (o colon o d e via re sid ir n a su a p rop rie d a d e ru ra l e n ã o e m á re a s d e m a rca d a s com “ lote s u rb a n os” ). C om o re su lta d o, n ã o h ou ve form a çã o d e a ld e ia s ca m p on e sa s d e tip o e u rop e u , p re va le ce n d o o m od e lo d e p ovoa m e n to d isp e rso, d e fin id o p or Wa ib e l (1958) e Roch e (1969), e m q u e a u n id a d e socia l com u n itá ria e ra form a d a p e los ocu p a n -te s d e u m a lin h a .

O m od e lo d e d e m a rca çã o d a s te rra s ta m b é m in clu ía lote s u rb a n os, b e m m e n ore s, d e stin a d os a p re sta d ore s d e se rviços, com e rcia n te s, a d m in istra çã o, ig re ja s e tc. — loca liza d os ju in to a o rio e m á re a re se rva d a à fu tu -ra vila . Esse tip o d e n ú cle o d e u orig e m à m a ioria d a s cid a d e s q u e h oje sã o se d e s m u n icip a is, e q u e os a le m ã e s d e n om in a va m S tad tp latz . Assim , a ocu p a çã o d a s te rra s in iciou -se a p a rtir d e u m loca l d e m a rca d o com “ lote s u rb a n os” , a s lin h a s colon ia is se g u in d o p rim e iro o rio p rin cip a l e se ra m ifica n d o, d e p ois, p e los a flu e n te s, e m u m a fa sta m e n to p rog re ssivo d e ocu p a çã o d e te rra s ca d a ve z m e n os a p rop ria d a s à la vou ra .

O s im ig ra n te s re ce b ia m se u s lote s p or com p ra , a p ra zo, a ssin a la d a e m títu lo p rovisório, con tra in d o a ch a m a d a “ d ívid a colon ia l”5. O títu lo

d e fin itivo d e p rop rie d a d e só e ra e xp e d id o a p ós a q u ita çã o d a d ívid a , e a in a d im p lê n cia d e m ora d a , ou m e sm o o a b a n d on o d o lote p e lo con ce ssio-n á rio, oca siossio-n a va a re tom a d a d a te rra p e la a d m issio-n istra çã o, p a ra p oste rior ve n d a e m h a sta p ú b lica (cf. Silva 1972; Se yfe rth 1996a ). O p la n e ja m e n to cu id a d oso e b u rocrá tico, im a g in a d o com o m od e lo p e rfe ito d e ocu p a çã o, n a ve rd a d e , m a sca ra a in sta b ilid a d e d o siste m a q u e te ve com o re su lta d o u m a g ra n d e m ob ilid a d e d os colon os. N a re a lid a d e , a s te rra s re ce b id a s n e m se m p re e ra m a d e q u a d a s à p rod u çã o a g rícola , os ce n tros con su m i-d ore s e sta va m lon g e , força n i-d o os colon os a ve n i-d e r se u s e xce i-d e n te s p a ra com e rcia n te s loca is, tra ze n d o p rob le m a s p a ra a q u ita çã o d a d ívid a colo-n ia l. Pa g a r a te rra re ce b id a e m u m p ra zo d e cicolo-n co a colo-n os e ra q u a se im p os-síve l d ia n te d a s con d içõe s a d ve rsa s q u e g e ra ra m a m ob ilid a d e , isto é , a con sta n te troca d e u m lote p or ou tro (n a m e sm a re g iã o colon ia l ou a lh u -re s), n e m se m p -re d e n tro d os p roce d im e n tos le g a is, torn ou -se p rá tica com u m . A ocu p a çã o d e lote s — a b a n d on a d os p or se u s con ce ssion á rios ou n ã o — se m con h e cim e n to d a a u torid a d e colon ia l con fig u ra va “ in va -sã o” , p a ssíve l d e e xp u l-sã o ou , m a is ra ra m e n te , re solvid a p or a rre m a te d a te rra e m h a sta p ú b lica (cf. Se yfe rth 1996a ).

(5)

d o sé cu lo XX, oca sion ou p rote stos e con flitos com a s a d m in istra çõe s colo-n ia is, sob re tu d o colo-n o icolo-n ício d o p ovoa m e colo-n to (cf. Se yfe rth 1988; 1996a ).

O m od e lo id e a liza d o d e colon iza çã o, con fig u ra d o n a le g isla çã o, n a s p la n ta s ca d a stra is e e m u m a visã o d e p rog re sso re ifica d a p or u m a p a rte d a lite ra tu ra e sp e cífica , e stá d ista n te d a re a lid a d e e n fre n ta d a p e la m a ioria d os im ig ra n te s a o lon g o d o p roce sso colon iza d or d a re g iã o. M a s, a p e -sa r d os p rob le m a s, a con stâ n cia d o flu xo im ig ra tório e a s d e m a n d a s p or te rra s d a s g e ra çõe s su b se q ü e n te s d e colon os im p u lsion a ra m a form a çã o d e u m ca m p e sin a to cu ja b a se fu n d iá ria tra d u zse n a p e q u e n a p rop rie -d a -d e fa m ilia r p olicu ltora . A i-d e n ti-d a -d e socia l -d e colon o foi con stru í-d a a p a rtir d e u m e th os ca m p on ê s, in d e p e n d e n te m e n te d a p roce d ê n cia n a cio-n a l d os im ig ra cio-n te s.

Essa re fe rê n cia id e n titá ria su g e re u m flu xo im ig ra tório h e te rog ê n e o. O Va le d o Ita ja í a p a re ce se m p re com o re g iã o d e colon iza çã o “ a le m ã ” , m a s a e xclu sivid a d e d e ssa e tn ia re strin g iu -se à s d u a s p rim e ira s d é ca d a s d e ocu p a çã o. O s d ocu m e n tos colon ia is re g istra m a ch e g a d a d e ita lia n os, ru ssos, h ú n g a ros, a u stría cos, irla n d e se s, fra n ce se s — u m a h e te rog e n e id a id e e m p a rte p rovoca id a p e la s id ificu lid a id e s id e a licia r im ig ra n te s a le -m ã e s (co-m e n ta d a n os e scritos d e H e r-m a n n Blu -m e n a u , p or e xe -m p lo), -m a s ta m b é m re la cion a d a à s p re ocu p a çõe s d a s a u torid a d e s b ra sile ira s com p ossíve is e n q u ista m e n tos é tn icos, o q u e re com e n d a va “ colôn ia s m ista s” . Ta l com p osiçã o, a p a re n te m e n te , q u e b ra a h om og e n e id a d e g e rm â n ica d o Va le , m a s n ã o su a d e fin içã o com o “ re g iã o d e colon iza çã o a le m ã ” , fu n d a -m e n ta l n a con stru çã o d e u -m a id e n tid a d e te u to-b ra sile ira . De fa to, só os ita lia n os ch e g a ra m e m n ú m e ro sig n ifica tivo; irla n d e se s e fra n ce se s re tira tira m se a p ós o ftira ca sso e con ôm ico d a colôn ia Prín cip e D. Pe d ro (fu n d a -d a e e xtin ta n a -d é ca -d a -d e 1860 n a m a rg e m e sq u e r-d a -d o rio Ita ja í-m irim ); e os im ig ra n te s orig in á rios d a Rú ssia , H u n g ria e ou tros p a íse s d o Le ste Eu rop e u , e m p a rte , e ra m m e m b ros d e m in oria s te u ta s6. Ao p a ssa re m à

con d içã o d e se d e s m u n icip a is, n a d é ca d a d e 1880, a s vila s d e Blu m e n a u e Bru sq u e a p re se n ta va m -se com o “ a le m ã s” , n os te rm os d a id e n tifica çã o é tn ica e cu ltu ra l a li p rod u zid a .

Dif erenciação int erna: a proeminência dos “vendeiros”

(6)

is-la çã o e sp e cífica e a o con trole e xe rcid o p e is-la s d ire toria s d a s colôn ia s (sob su p e rvisã o d o g ove rn o p rovin cia l e d o M in isté rio d a Ag ricu ltu ra ), se m d ire itos d e cid a d a n ia , (d e s)q u a lifica d os sim p le sm e n te com o “ colon os e stra n g e iros” — a s n a tu ra liza çõe s fora m fa cilita d a s som e n te a p ós a p ri-m e ira C on stitu içã o re p u b lica n a . Por ou tro la d o, a d ife re n cia çã o in te rn a p rod u zid a p e lo siste m a e ra p e q u e n a n o m e io ru ra l e u m p ou co m a is e vi-d e n te n a s vi-d u a s vila s e su a s p roxim ivi-d a vi-d e s, on vi-d e e sta va m e sta b e le civi-d os os com e rcia n te s e a rte sã os, e on d e su rg ira m a s p rim e ira s in d ú stria s, a in d a n a d é ca d a d e 1880.

As d u a s situ a çõe s — a q u e con fig u ra va a e xistê n cia d e m in oria n a cion a l (e m b ora n e g a d a oficia lm e n te ) e u m a e stra tifica çã o m a is n ítid a e m te rm os d e cla sse s socia is — su rg ira m , d e form a m a is con tu n d e n te , n o m om e n to h istórico d a e m a n cip a çã o m u n icip a l, q u e a p roxim ou a e lite te u -to-b ra sile ira d a re a lid a d e n a cion a l.

(7)

-sid e ra d a ca u sa p rim ord ia l d a m ob ilid a d e g e og rá fica (o d e sloca m e n to d e u m a á re a colon ia l p a ra ou tra se m p re e m b u sca d e te rra s virg e n s).

De fa to, o lote d e 25 h e cta re s, a ssim com o a con tin u id a d e d os a sse n -ta m e n tos d e n ovos im ig ra n te s d u ra n te m a is d e cin q ü e n -ta a n os, tê m lim i-ta çõe s, a g ra va d a s p e lo e sg oi-ta m e n to d a s te rra s e m p ra zo cu rto. Pod e se rvir à s n e ce ssid a d e s d e u m a fa m ília ca m p on e sa , m a s torn a se im p ra ticá -ve l p a ra re p rod u zir socia lm e n te a se g u n d a g e ra çã o, cu jo d e stin o m a is ób vio se ria m a s n ova s á re a s colon ia is a b e rta s d e n tro e fora d o Va le d o Ita ja í. Rich te r (1986), p or e xe m p lo, a ssin a la q u e m a is d e 50% d os in te -re ssa d os e m a d q u irir lote s n a colôn ia H a n sa / H a m m on ia (Ib ira m a ), n o a lto Va le d o Ita ja í, fu n d a d a e m 1899, e ra m te u tob ra sile iros p rove n ie n -te s d e colôn ia s m a is a n tig a s. Isso m ostra a in -te n sid a d e d a m ig ra çã o in -te r-n a , m otiva d a p e la p re ssã o d e m og rá fica e p e lo e sg ota m e r-n to d os solos, e ta m b é m p e la in su ficiê n cia re p rod u tiva d os 25 h e cta re s, lou va d os n a le g is-la çã o, m a s se m con te r a m in im ale A ck e rn ah ru n g — a q u a n tid a d e m ín im a d e te rra s n e ce ssá ria a u m a fa m ília , te n d o e m vista n ã o só a q u a n tid a d e m a s ta m b é m a q u a lid a d e d o solo. Se g u n d o Wa ib e l (1958), d a d a s a s con -d içõe s -d a s te rra s -d e stin a -d a s à colon iza çã o, e ssa q u a n ti-d a -d e te ria q u e osci-la r e n tre 55 e 105 h e cta re s; com a p e n a s 25 h e cta re s a rota çã o d e te rra s é m u ito rá p id a , te n d o com o re su lta d o u m a p rod u tivid a d e ca d a ve z m e n or.

Le va n d o e m con ta a m in im ale A ck e rn ah ru n g , q u e n ã o é a p e n a s u m con ce ito té cn ico, m a s su p õe u m “ p a d rã o e con ôm ico e socia l d e ce n te ” n a con ce p çã o a le m ã (Wa ib e l 1958:240), e a s a lta s ta xa s d e n a ta lid a d e re g is-tra d a s e n tre os colon os (cf. Wille m s 1946; Rich te r 1986), o a sse n ta m e n to d e tod os os h e rd e iros le g a is n ã o e ra e xe q ü íve l. As re g ra s costu m e ira s d e h e ra n ça d a te rra va ria va m con form e a tra d içã o d e orig e m d os im ig ra n -te s — p od ia m p rivile g ia r os h e rd e iros m a scu lin os, u m h e rd e iro ú n ico (p ri-m og ê n ito ou u ltiri-m og ê n ito), ou siri-m p le sri-m e n te in clu ir tod os os filh os n a p a rtilh a . De q u a lq u e r m od o, e ra q u a se im p ossíve l e vita r a d ivisã o d a s p rop rie d a d e s orig in a is, a n ã o se r n os ca sos e m q u e a tra d içã o ca m p on e sa d a h e ra n ça in d ivisa foi p re se rva d a . A re com p osiçã o d o lote (m e sm o e m p a rce la s d e scon tín u a s), p or su a ve z, ta m b é m d e p e n d ia d a d isp on ib ilid a -d e fin a n ce ira p a ra com p ra r te rra s, n e m se m p re p ossíve l p a ra a q u e le s q u e n ã o con se g u ira m q u ita r a d ívid a colon ia l n o p ra zo le g a l d e cin co a n os.

Tu d o isso a p on ta p a ra d ois fa tore s cru cia is n o q u e con ce rn e à a sce n -sã o socia l: a d ife re n cia çã o in te rn a n o se g m e n to d os colon os7e a e xistê n

(8)

g a n h o m on e tá rio ou m e sm o o a b a tim e n to d a d ívid a colon ia l), o con h e cim e n to d e a lg u cim ofício d e a rte sã o, sã o fa tore s d e d ife re n cia çã o icim p orta n -te s n a s p rim e ira s d é ca d a s d e ocu p a çã o d o -te rritório.

O p rim e iro p on to a con sid e ra r, p orta n to, é q u e e sse se g m e n to ru ra l p rod u zid o p e la colon iza çã o n a d a te m d e h om og ê n e o; m a s, e m b ora d ife -re n cia d o, a s d istâ n cia s socia is e ra m p e q u e n a s, e o p rin cip a l e fe ito d o -re g i-m e d e p e q u e n a p rop rie d a d e fa i-m ilia r, p od e -se d ize r, foi a con stitu içã o d e u m a cla sse m é d ia ru ra l re la tiva m e n te e stá ve l — u m a e sta b ilid a d e g a ra n -tid a ta m b é m p e la m ig ra çã o. O se g u n d o p on to d iz re sp e ito a o d e stin o d os m ig ra n te s: re p e tir o ciclo p ion e iro d os p a is e m ou tra colôn ia , p róxim a ou d ista n te , ou d irig ir-se à s cid a d e s e m form a çã o p a ra ob te r e m p re g o n a s in d ú stria s q u e su rg ira m n o in ício d o p e ríod o re p u b lica n o. N a q u e le m om e n to, q u a lq u e r ou tro in ve stim e n to d e re p rod u çã o socia l — com o a a sce n sã o p e la via e d u ca cion a l — e ra e xtre m a m e n te d ifícil e re strito a os q u e d e sistira m d e p e rm a n e ce r n a con d içã o d e colon os e se d e sloca ra m p a ra Ita ja í ou De ste rro (Floria n óp olis).

(9)

-d o-se u m a p e q u e n a e lite form a -d a , p rin cip a lm e n te , p or com e rcia n te s, a lg u n s d os q u a is e sta b e le ce ra m a s p rim e ira s in d ú stria s tê xte is d a re g iã o n o fin a l d o sé cu lo XIX.

A re la çã o e con ôm ica m a is im p orta n te d a s p rim e ira s d é ca d a s foi, ce r-ta m e n te , a q u e se e sr-ta b e le ce u e n tre com e rcia n te s e a s u n id a d e s p rod u ti-va s ch a m a d a s “ colôn ia s” . A p a la vra colôn ia te m , n a re a lid a d e , u m d u p lo sig n ifica d o: d e sig n a a á re a ru ra l (com su a s “ lin h a s” ), e m su a tota lid a d e , e su a fra çã o m ín im a , o lote ou p e q u e n a p rop rie d a d e fa m ilia r d o colon o — u n id a d e d e p rod u çã o p olicu ltora , cu jos e xce d e n te s, p or m e io d a s tro-ca s re a liza d a s n a s “ ve n d a s” , p a ssa va m à s m ã os d os com e rcia n te s. Este s, n o in ício, op e ra cion a liza va m a s tra n sa çõe s se m u sa r d in h e iro, e m u m sis-te m a d e troca s n o q u a l os colon os d e ixa va m se u s p rod u tos e le va va m m e rca d oria s n ã o p rod u zid a s n a colôn ia — com o fe rra m e n ta s, e q u ip a m e n -tos, sa l, q u e rose n e , te cid os e tc. M u itos com e rcia n te s p ossu ía m se rra ria s e e n g e n h os d e stin a d os à fa b rica çã o d e fu b á , a çú ca r e fa rin h a d e m a n d io-ca ; a m a té ria -p rim a , n os d ois io-ca sos, ta m b é m e ra forn e cid a p e los colon os. Esse tip o d e com é rcio cre sce u com a e xp a n sã o d a á re a colon iza d a , a p e -sa r d o in ício b a sta n te m od e sto. E cre sce u p orq u e os “ ve n d e iros” tin h a m o con trole d os m e ca n ism os q u e re g u la va m a s tra n sa çõe s: a rb itra va m o va lor d a s m e rca d oria s troca d a s, in stitu íra m u m siste m a d e con ta corre n te (a ssin a la n d o o q u e e ra d e ixa d o p e los colon os e o q u e e ste s le va va m e m troca , e m u m p roce sso q u a se in fin d á ve l d e e n d ivid a m e n to d os q u e p ro-d u zia m m e n os e xce ro-d e n te s) e tin h a m o con trole ro-d o tra n sp orte p a ra Ita ja í a tra vé s d o rio. Re su m in d o, os e xce d e n te s e con ôm icos a d vin d os d a p ro-d u çã o a g rícola ca m p on e sa a cu m u lou -se n a s m ã os ro-d os “ ve n ro-d e iros” .

As ca sa s com e rcia is m a is im p orta n te s e sta va m situ a d a s n a s vila s; n os e n tron ca m e n tos d a s e stra d a s e p ica d a s ru ra is ta m b é m su rg ira m a lg u -m a s “ ve n d a s” , q u e p od ia -m se r filia is ou , à s ve ze s, p rop rie d a d e d e u -m colon o. De q u a lq u e r m od o, a d ocu m e n ta çã o d isp on íve l sob re a colon iza çã o m ostra o d om ín io e con ôm ico e xe rcid o p e los com e rcia n te s, e vid e n cia d o e m a b a ixoa ssin a d os ou ca rta s re cla m a n d o d a s d isp a rid a d e s d os p re -ços, q u e d e ixa va m os colon os se m p re e m d ívid a com os “ ve n d e iros” , ou solicita n d o a a b e rtu ra d e e stra d a s p a ra Ita ja í, e m u m a crítica a o m on op ó-lio d os b a rcos vin cu la d os à s “ ve n d a s” (cf. Se yfe rth 1974).

(10)

i-ra , e os d e m a is vin h a m d a cla sse m é d ia , com cu rso se cu n d á rio com p le to re a liza d o n a Ale m a n h a .

O s com e rcia n te s, e n tã o, form a va m a e lite e con ôm ica d a s d u a s se d e s m u n icip a is cria d a s p e la e m a n cip a çã o p olítica d a s colôn ia s Blu m e n a u e Bru sq u e , n o in ício d a d é ca d a d e 1880. Acu m u la ra m ca p ita l su ficie n te p a ra in ve stir n a a tivid a d e in d u stria l, e m b ora n e m tod a s a s in d ú stria s te n h a m su rg id o d ire ta m e n te lig a d a s a o siste m a colôn ia -ve n d a . Alg u n s e xe m p los p od e m se rvir com o ilu stra çã o d o in ício d o p roce sso d e in d u s-tria liza çã o n a s d u a s loca lid a d e s.

A p rim e ira in d ú stria tê xtil d e Blu m e n a u — p orta n to, se m vin cu la çã o com m a té ria s-p rim a s p rod u zid a s p e los colon os — su rg iu e m 1880: u m a p e q u e n a m a lh a ria d e p rop rie d a d e d e H e rm a n n H e rin g , u m im ig ra n te q u e ch e g ou a Blu m e n a u e m 1878. An te s d e in sta la r a te ce la g e m foi e scri-tu rá rio d e com e rcia n te s, in sta lou u m a m a n u fa scri-tu ra d e ch a ru tos e a b riu u m a p e q u e n a ca sa d e com é rcio, se g u n d o M a m ig on ia n (1965), u m “ ve r-d a r-d e iro b ote q u im ” . Ap ós a in sta la çã o r-d a m a lh a ria , in icia r-d a com u m te a r, con ve n ce u o irm ã o e o re sta n te d a fa m ília (su a m u lh e r e filh os) a e m ig ra r p a ra Blu m e n a u (cf. H e rin g 1987). Am b a s a s a tivid a d e s (com é rcio e te ce la g e m ) já e ra m tra d içã o fa m ilia r n a Sa xôn ia , on d e su a s p e q u e n a s e m p re -sa s e sta va m e m crise , p rin cip a l ra zã o d a tra n sfe rê n cia p a ra o Bra sil.

J oh a n n Ka rste n , u m ca m p on ê s d o Sch le sw ig -H olste in , re ce b e u u m lote colon ia l e m Blu m e n a u m a s, a lé m d a la vou ra , ta m b é m e xp lorou u m m oin h o e u m a se rra ria d e p e q u e n o p orte ; H e in rich H a d lich p ossu ía u m a p e q u e n a ca sa com e rcia l n a vila ; e G u sta v Roe d e r, u m m e stre -te ce lã o, n ã o q u is se e sta b e le ce r com o colon o. O s trê s fu n d a ra m a se g u n d a in d ú stria tê xtil d e Blu m e n a u e m 1882, com se is te a re s. Roe d e r d e ixou a socie d a d e e m 1885 p a ra fu n d a r ou tra fá b rica d e te cid os, loca liza d a ju n to a o rib e irã o G a rcia (re ce b e n d o, p or isso, a d e n om in a çã o d e Em p re sa In d u stria l G a cia , q u e m a is ta rd e p a ssa ria p a ra o con trole d e d ois im p orta n te s com e r-cia n te s loca is, H . Prob st e Lu is Sa ch tle b e n ). N o m e sm o loca l já h a via u m a p e q u e n a te ce la g e m , d a q u a l se te m p ou ca s in form a çõe s, p e rte n ce n te a u m a le m ã o d e n om e G re w sm u e h l (cf. H e rin g 1987).

Ain d a n e ssa d é ca d a su rg e a fu n d içã o d e Ka rl Au e rb a ch , e m b riã o d e u m a d a s p rim e ira s e m p re sa s a p rod u zir a ço n o Bra sil.

(11)

d a re g iã o d e Lod z, Polôn ia ; e u m a fá b rica d e b ord a d os, in sta la d a e m 1898 p or Ed u a rd o von Bu e ttn e r, u m com e rcia n te com p a ssa g e m p or p e lo m e n os trê s ou tra s colôn ia s a le m ã s d e Sa n ta C a ta rin a (J oin ville , Sã o Pe d ro d e Alcâ n ta ra e Blu m e n a u ), tra b a lh a n d o p a ra ou tros ve n d e iros.

O u tros com e rcia n te s n otá ve is d e Bru sq u e (C . Krie g e r, M . H e il e J . Ba u e r) p e rm a n e ce ra m n a a tivid a d e tra d icion a lm e n te lig a d a à p rod u çã o colon ia l, in clu sive o com é rcio d e m a d e ira . O s trê s tin h a m orig e m ca m -p on e sa .

O su rg im e n to d e ssa s in d ú stria s é a p e n a s u m a fa ce ta d a d ive rsifica -çã o d a s a tivid a d e s e con ôm ica s n a s d u a s vila s, a n te s d o in ício d o sé cu lo XX; e la s se d e se n volve ra m d e form a m a is a ce le ra d a a p a rtir d a e le trifi-ca çã o n a d é trifi-ca d a d e 10 q u e , ju n to com os in ce n tivos à in d ú stria n a cion a l con ce d id os a p ós a p rocla m a çã o d a Re p ú b lica , p e rm itira m o su rg im e n to d e ou tra s e m p re sa s n a re g iã o.

As in d ú stria s fora m in sta la d a s n a p e rife ria d a s vila s e re cru ta ra m a m ã o-d e -ob ra n e ce ssá ria e n tre os colon os. A rig or, a d e n om in a çã o d e S tad tp latz a p on ta va , p rin cip a lm e n te , p a ra ce rta s fu n çõe s u rb a n a s m a is d o q u e p a ra a con d içã o d e cid a d e . O m u n icíp io d e Blu m e n a u tin h a u m a p op u la çã o d e 16.380 h a b ita n te s e m 1882, e m e n os d e m il vivia m n a á re a con sid e ra d a u rb a n a (Silva 1972:136); o m u n icíp io d e Bru sq u e tin h a 14.900 h a b ita n te s e m 1900 — n a vila m ora va m m e n os d e m il. N os d ois ca sos, o d e se n volvim e rto u rb a n o e a in d u stria liza çã o fora m sim u ltâ n e os, e m u m a fa se e m q u e p rosse g u ia m os a sse n ta m e n tos colon ia is n a re g iã o.

Em a m b a s form ou -se u m a ca m a d a m é d ia , in clu in d o p e q u e n os com e rcia n te s, a rte sã os, té cn icos e sp e cia liza d os, p re sta d ore s d e se rviços, p rofe ssore s, se rvid ore s p ú b licos e tc.; u m a cla sse op e rá ria , com p osta p or e g re ssos d o m e io ru ra l, m a s ta m b é m p or im ig ra n te s q u e p re fe rira m u m a ocu p a çã o u rb a n a à a lte rn a tiva d o lote colon ia l e m loca l d ista n te ; u m se g m e n to d e w ork e rp e asan ts (op e rá rios q u e con tin u a ra m lig a d os à a tivid a -d e ru ra l e m te m p o p a rcia l); e u m a e lite form a -d a p e los p rin cip a is com e r-cia n te s/ in d u stria is, com in te re sse s p olíticos p ostos e m e vid ê n r-cia a p a rtir d a cria çã o d os d ois m u n icíp ios. O n ú m e ro d e b ra sile iros e ra b a sta n te re d u zid o n o p e ríod o in icia l d e in d u stria liza çã o, p ois fora m p ou cos os q u e p a rticip a ra m d os p roje tos colon ia is. N o e n ta n to, h a via u m p e q u e n o g ru -p o d e fu n cion á rios -p ú b licos oriu n d os d e fa m ília s tra d icion a is d e Sa n ta C a ta rin a ou d e ou tra s re g iõe s d o p a ís, d e “ orig e m lu sa ” con form e os p a d rõe s loca is d e cla ssifica çã o é tn ica , con corre n te s d ire tos d a e lite te u to-b ra sile ira n a s d isp u ta s p olítica s loca is8.

(12)

-cia u m a q u e stã o im p orta n te : im ig ra n te s e d e sce n d e n te s e sta va m loca li-za d os e m u m a re g iã o on d e a socie d a d e n a cion a l in e xistia , m a s a n ova situ a çã o p olíticoe con ôm ica e xig ia a a ssim ila çã o com o con d içã o d a cid a -d a n ia . Isso a p on ta p a ra a q u e stã o -d a e tn ici-d a -d e e p a ra o fa to sim p le s -d a a p re se n ta çã o d e a m b a s a s vila s com o “ com u n id a d e s g e rm â n ica s” .

O discurso ét nico t eut o-brasileiro

A e la b ora çã o d e u m d iscu rso é tn ico q u e te m p or re fe rê n cia a h istória d a colon iza çã o, id e a liza d a p e la id é ia d e con stru çã o d e u m a n ova p á tria (H e i-m at) n o Bra sil, coin cid e coi-m a cria çã o d os i-m u n icíp ios e a e xp a n sã o d a s a tivid a d e s in d u stria is n a s d u a s vila s. Essa coin cid ê n cia n ã o é m e ro a ca so. N a situ a çã o colon ia l, tod os com p a rtilh a va m a id e n tid a d e d e colon os e stran g e iros — a m a ioria se q u e r tin h a ob tid o a n a tu ra liza çã o, u m p roce sso d ifícil d u ra n te o Im p é rio, p rin cip a lm e n te p a ra os n ã o ca tólicos (con tin -g e n te e xp re ssivo n a re -g iã o). O p rob le m a d a n a tu ra liza çã o foi re solvid o n o in ício d a Re p ú b lica m a s, e m te rm os d a cid a d a n ia , te ve p ou co re su lta d o p orq u e o con ce ito-ch a ve p a ra d e fin içã o d o cid a d ã o, n e sse ca so, e ra assim i-lação. N e m a n a tu ra liza çã o, n e m o ju s soli a sse g u ra va m a cid a d a n ia p le n a p a ra os n ã o a ssim ila d os (ca te g oria q u e in clu ía tod os os fa la n te s d a lín g u a a le m ã ). A n e ce ssid a d e d e in te g ra çã o n a e con om ia n a cion a l e a s a sp ira çõe s p olítica s d a s e lite s loca is, d e ce rta form a , força ra m a lg u m a s e stra té g ia s a ssim ila cion ista s, com o a u tiliza çã o d o p ortu g u ê s com o se g u n d a lín g u a , a ob te n çã o d e p a te n te s d e coron e l d a G u a rd a N a cion a l, a con vivê n cia com a s n ova s a u torid a d e s lu so-b ra sile ira s p re se n te s n a socie d a d e loca l, ou m e s-m o o e sta b e le cis-m e n to d e re la çõe s cos-m p e ssoa s ou g ru p os fora d a á re a colo-n ia l g e rm â colo-n ica . N o e colo-n ta colo-n to, e sse p roce sso d e ru p tu ra d a s frocolo-n te ira s é tcolo-n i-ca s é a p e n a s a p a re n te , e o q u e e m e rg e é u m a con ce p çã o id e n titá ria te u to-b rasile ira n a q u a l a De u tsch tu m (ou g e rm a n id a d e ) te m va lor fu n d a m e n ta l.

(13)

ce m ité rios, tra ça d o u rb a n o, org a n iza çã o d a s a tivid a d e s ru ra is (com a p oli-cu ltu ra ) — a í in clu íd a a d istrib u içã o e sp a cia l d a ca sa , e stá b u lo, roça s, h orta e p om a r d e n tro d o lote colon ia l —, d ive rsifica çã o e con ôm ica ob se rva d a n o e sp a ço u rb a n o, com g ra n d e n ú m e ro d e p e q u e n a s e m p re sa s a rte sa n a is e fa m ilia re s, h á b itos d e la ze r e tc., con stitu e m m otivo d e e stra n h a -m e n to e p re ocu p a çã o co-m o “ e n q u ista -m e n to” é tn ico d a p op u la çã o (cf. Du a rte 1917; N og u e ira 1947; D’Am a ra l 1950). M a n u e l Du a rte , p or e xe m -p lo, e m se u re la to d e via g e m -p e la s colôn ia s d e Sa n ta C a ta rin a , d e fin iu Blu m e n a u com o “ corp o e stra n h o” d e n tro d a “ com u n id a d e n a cion a l” , im p e rm e á ve l à a ssim ila çã o. M a x D’Am a ra l, p or su a ve z, p a re ce im p re s-sion a d o com a d isp osiçã o d os g e rm â n icos p a ra o tra b a lh o (in corp ora n d o, a ssim , u m d os e le m e n tos d e fin id ore s d a g e rm a n id a d e , a su p osta ca p a ci-d a ci-d e in a ta p a ra o tra b a lh o, ci-d a q u a l a colon iza çã o b e m -su ce ci-d ici-d a é u m ci-d os e fe itos) e com o m od e lo d e W oh n k u ltu r (a ca sa com o tra ço ca ra cte rístico e d ife re n cia d or d o m od o d e vid a e n tre a le m ã e s e b ra sile iros — o “ h á b ito d e m ora r b e m ” ). Ru i N og u e ira re cla m a d a a rq u ite tu ra , d a s lá p id e s tu m u -la re s e m ca ra cte re s g óticos, d o e xce sso d e b icicle ta s n a s ru a s, d a m u lti-p licid a d e d e b a ile s e m tod os os ca n tos d a colôn ia . En fim , a con se rva çã o d e u sos e costu m e s d o p a ís d e orig e m e o m od e lo d e colon iza çã o com p e q u e n a p rop rie d a d e fa m ilia r p rod u zira m d ife re n ça s socia is con sid e rá -ve is e m re la çã o à socie d a d e n a cion a l, ob se rva d a s com ce rta p re ocu p a çã o p or m u itos b ra sile iros. M a s, se os h á b itos cotid ia n os, o m od o d e vid a e o e th os d o tra b a lh o su scita ra m e xp re ssõe s d e e stra n h a m e n to p or p a rte d e m u itos b ra sile iros, a s in stitu içõe s com u n itá ria s d e fin id a s com o g e rm â n i-ca s e ra m con d e n a d a s, ju n to com o u so d a lín g u a a le m ã , com o a m e a ça m a ior a q u a lq u e r p roje to a ssim ila cion ista , p or se u com p rom e tim e n to id e ológ ico com o n a cion a lism o a le m ã o.

De n tre e ssa s in stitu içõe s d e ve m se r d e sta ca d a s: a s a ssocia çõe s cu l-tu ra is e re cre a tiva s (S ch ü tz e n v e re in , G e san g v e re in , Tu rn v e re in , re sp e cti-va m e n te , socie d a d e s d e a tira d ore s, d e ca n tore s e d e g in á stica ); a s a sso-cia çõe s d e a p oio a os colon os (ca so d a Ku ltu rv e re in )9; a re d e e scola r p a

(14)

-d os e m a le m ã o —, a Volk sv e re in , e m a tivi-d a -d e a té 1917 (cf. Se yfe rth 1994a ). Essa s in stitu içõe s a p a re cia m com o “ g u a rd iã s d o e sp írito (G e ist) g e rm â n ico” , d a g e rm a n id a d e (De u tsch tu m ), p re se rva d ora s d a s tra d içõe s e d a lín g u a , tom a d a s com o crité rios p rim ord ia is d e d e fin içã o d e u m a e tn i-cid a d e te u to-b ra sile ira p or se u com p rom e tim e n to com a s q u a lid a d e s in trín se ca s d o g ru p o é tn ico. O s com e rcia n te s e in d u stria is tin h a m p a p e l d e sta ca d o n a s a ssocia çõe s, e a lg u n s d e le s con trola va m os jorn a is, p rin ci-p a is ve ícu los ci-p a ra te xtos q u e re ve re n cia va m o ci-p e rte n cim e n to é tn ico e re ivin d ica va m u m a id e n tid a d e te u to-b ra sile ira .

A p a la vra De u tsch tu m te m d ois se n tid os q u e con ve rg e m p a ra com -p or a e tn icid a d e te u to-b ra sile ira : e x-p re ssa o se n tim e n to d e su -p e riorid a d e d o “ tra b a lh o a le m ã o” — e , n e ste ca so, re m e te a o p rog re sso tra zid o p e los p ion e iros à “ se lva ” b ra sile ira — e d e fin e o p e rte n cim e n to à e tn ia a le m ã , e sta b e le ce n d o se u s crité rios — lín g u a , ra ça , u sos, costu m e s, in stitu içõe s, cu ltu ra a le m ã e s.

O p rim e iro se n tid o te m re la çã o com o p roce sso h istórico d e colon i-za çã o a ssocia d o à id é ia d e H e im at: o tra b a lh o “ p ion e iro” d e con stru çã o d e u m a socie d a d e n ova e p rog re ssista , lite ra lm e n te a e d ifica çã o d e u m a n ova p á tria n o Bra sil ou , m a is re strita m e n te , n o Va le d o Ita ja í. Da í o e m p re -g o d a p a la vra H e im at (p á tria ), d e riva d a d e H e im (la r) — n o se u se n tid o m a is p a rticu la rista a p á tria d e ve coin cid ir com o lu g a r on d e o in d ivíd u o te m o se u la r. O u p od e se r, sim p le sm e n te , a com u n id a d e é tn ica q u e , p a ra se r a le m ã , d e ve e xp re ssa r De u tsch tu m — e a í e stá o se g u n d o se n tid o, e n g lob a n d o a id é ia d e ra ça , lín g u a , cu ltu ra e e sp írito. De sse m od o, d e fin e se o p e rte fin cim e fin to à e tfin ia / fin a çã o a le m ã p e lo ju s safin g u ifin is, ifin stitu ifin -d o u m a g e rm a n i-d a -d e m a te ria liza -d a p or in te rm é -d io -d a “ colôn ia a le m ã ” .

Ao m e sm o te m p o, cria -se u m a ca te g oria d e id e n tifica çã o com h ífe n (te u tob ra sile iro), p a ra tra d u zir u m a g e rm a n id a d e b ra sile ira (De u tsch b rasilian e rtu m ) — m od o d e a firm a çã o d a cid a d a n ia m e d ia n te a in te g ra -çã o e con ôm ica , p olítica e p a triótica , a n cora d a n o p re ssu p osto d e q u e n ã o e xiste , p rop ria m e n te , u m a n a çã o b ra sile ira . A d e fin içã o d a ca te g oria te u tob ra sile iro (De u tsch tob rasilian e r) com tob in a ju s san g u in is e ju s soli: orig e m a le m ã e cid a d a n ia b ra sile ira , p e rte n cim e n to à n a çã o a le m ã e a o Esta d o b ra sile iro visu a liza d o com o m u ltirra cia l ou m u ltié tn ico. N a e sfe ra com u n itá -ria — o Va le d o Ita ja í — se r te u to-b ra sile iro é a g ir, vive r, com p orta r-se com o “ a le m ã o” , e n q u a n to n a socie d a d e m a is a m p la p od e -se p e n sa r a p e n a s com o b ra sile iro, p ois a li n ã o e xiste a Volk sg e m e in sch aft (com u n id a d e n a cion a l).

(15)

jorn a is, com o o De r Urw ald sb ote , u sa ra m u m a lin g u a g e m ra cista p a ra a firm a r a su p e riorid a d e d o tra b a lh o a le m ã o e d e fe n d e r a e n d og a m ia e , a lg u m a s ve ze s, p rocu ra ra m le g itim a r a e xistê n cia d o g ru p o é tn ico p e la a sse rtiva d e q u e o Bra sil n ã o e ra u m a n a çã o p orq u e se u s cid a d ã os n ã o form a va m u m a ra ça ou p ovo h om og ê n e o, re ivin d ica n d o p a ra ca d a g ru p o im ig ra d o o d ire ito à sin g u la rid a d e . Vá rios a rtig os d o De r Urw ald sb ote p u b lica d os n o in ício d o sé cu lo iron iza m os id e a is b ra sile iros d e b ra n q u e a -m e n to d a ra ça , re cu sa n d o a -m iscig e n a çã o co-m o Volk e rb re i (-m in g a u d e p ovos), se g u n d o se u s te rm os, com p osto d e in fe riore s (cf. Se yfe rth 1982). Por ou tro la d o, e ra m fre q ü e n te s a s re ivin d ica çõe s q u e p rocu ra va m d a r le g a lid a d e a o g ru p o é tn ico, com o: oficia liza çã o d a lín g u a a le m ã , g a ra n tia d e fu n cion a m e n to p a ra a s e scola s é tn ica s, ca d a stra m e n to e le itora l d os a lfa b e tiza d os q u e d e scon h e ce sse m o id iom a p ortu g u ê s e tc.

M a is d o q u e a s d ife re n ça s con cre ta s, ca ra cte rizá ve is com o é tn ica s, o d iscu rso sob re De u tsch tu m e De u tsch b rasilian e rtu m , e a ê n fa se , p rin ci-p a lm e n te d a e lite loca l, n a id e n tid a d e te u to-b ra sile ira , d e ra m m a rg e m a con flitos, p rin cip a lm e n te p a ra a q u e le s cu ja tra je tória d e a sce n sã o socia l u ltra p a ssou os lim ite s d a com u n id a d e loca l, e p e lo fa to d e a e tn icid a d e se r con sid e ra d a p e los b ra sile iros com o ob stá cu lo à a ssim ila çã o e risco p a ra a u n id a d e n a cion a l. N a ve rd a d e , a a ssim ila çã o cu ltu ra l e o in ve stim e n to e scola r ob tid o fora d a costim u n id a d e é tn ica fora stim ca n a is p rivile g ia -d os -d e a sce n sã o socia l, e sp e cia lm e n te p a ra os q u e e sta va m situ a -d os n a s ca m a d a s m é d ia s e m e rg e n te s d o siste m a d e colon iza çã o. Afin a l, n o in ício d o sé cu lo, n a s d u a s vila s só h a via o e q u iva le n te a o e n sin o d e p rim e iro g ra u — ir a d ia n te n a e scola riza çã o e xig ia a tra n sfe rê n cia p a ra Porto Ale -g re , Sã o Pa u lo ou Rio d e J a n e iro.

Duas t rajet órias exemplares: o sucesso na polít ica

(16)

ou tro colon o d a p rim e ira le va d e im ig ra n te s, q u e h a via se re tira d o p a ra Ita ja í, on d e a b riu u m a ca sa com e rcia l. Ap ós se u ca sa m e n to, Pe te r M ü lle r m u d ou -se p a ra Ita ja í, on d e ta m b é m in g re ssou , com o irm ã o, n a a tivid a d e com e rcia l — e scolh a lóg ica p a ra e sta b e le ce r u m a ca sa com e rcia l, p ois e ra o lu g a r p a ra on d e con ve rg ia a m a ior p a rte d a p rod u çã o a g rícola e m a n u fa -tu re ira d o Va le d o Ita ja í. La u ro, o q u in to filh o, n a sce u e m 8/ 11/ 1863, e m Ita ja í.

Su a p rim e ira in se rçã o e scola r é sig n ifica tiva : foi e d u ca d o n o id iom a a le m ã o, e m u m a e scola p rim á ria p a rticu la r te u tob ra sile ira , e m Blu m e -n a u , o-n d e re sid ia se u tio, Be r-n a rd o H a e -n d sch e -n , ca sa d o com u m a irm ã d e se u p a i, u m a ve z q u e n ã o h a via e scola a le m ã e m su a cid a d e n a ta l. O tio ta m b é m e ra p e q u e n o com e rcia n te , u m a e stra té g ia fa m ilia r p a ra sa ir d a con d içã o d e colon o e in te g ra r a cla sse m é d ia u rb a n a e m form a çã o n a s á re a s colon ia is e su a p e rife ria . La u ro M ü lle r fre q ü e n tou , a in d a , p or a lg u m te m p o, u m a e scola p ú b lica b ra sile ira , form a d e se r te u to-b ra sile iro a ssi-m ila d o e ssi-m con d içõe s d e in g re ssa r e ssi-m u ssi-m a e scola se cu n d á ria fora d o se u e sta d o d e orig e m . Aos 16 a n os foi e n via d o a o Rio d e J a n e iro p a ra a p re n -d iza -d o e m u m a ca sa com e rcia l, -d e on -d e sa iu p a ra con clu ir os e stu -d os -d e 2og ra u e m N ite rói. Aos 19 a n os in g re ssou n a Escola M ilita r d o Rio d e

J a n e iro, on d e ob te ve o g ra u d e e n g e n h e iro-m ilita r e se torn ou a lfe re s e m 1887. Em 1889 e ra te n e n te -e n g e n h e iro d o Exé rcito n a cion a l, te n d o p a s-sa d o p e la d ou trin a çã o re p u b lica n a p ositivista d e Be n ja m im C on sta n t. Se rvia com o a ju d a n te -d e -ord e n s d o m a re ch a l De od oro d a Fon se ca p or oca siã o d a p rocla m a çã o d a Re p ú b lica — u m a ca so fu n d a m e n ta l n o p ro-ce sso d e a sro-ce n sã o socia l p e la via p olítica , p ois ve io a se r n om e a d o g ove r-n a d or p rovisório d e Sa r-n ta C a ta rir-n a a os 26 a r-n os d e id a d e . A p a rtir d a í su a ca rre ira p olítica , vin cu la d a a o Va le d o Ita ja í, te ve a n d a m e n to rá p id o: foi e le ito se n a d or C on stitu in te e m 1890, voltou a ocu p a r o ca rg o d e g ove r-n a d or e m 1891 (ca rg o p a ra o q u a l se ria r-n ova m e r-n te e le ito e m 1902 e 1918); a lé m d isso, ve n ce u d ive rsa s e le içõe s p a ra d e p u ta d o fe d e ra l e se n a d or, e ocu p ou o ca rg o d e m in istro d e Esta d o p or d u a s ve ze s (M in isté rio d a Via -çã o, n o g ove rn o d e Fra n cisco d e Pa u la Rod rig u e s Alve s, 1902-1906; e M in isté rio d o Exte rior, e m su b stitu içã o a o Ba rã o d o Rio Bra n co, d e 1912 a 1917, n os g ove rn os H e rm e s d a Fon se ca e Ve n ce sla u Bra z).

(17)

Blu m e n a u . La u ro M ü lle r te ve d e re n u n cia r a o g ove rn o d o e sta d o p or su a p osiçã o e m fa vor d os floria n ista s e , com o ca p itã o d o Exé rcito, ju n tou -se à s trop a s q u e com b a tia m a s força s re b e ld e s n o Pa ra n á , p a rticip a n d o d o com b a te d e cisivo, o ce rco d a cid a d e d e La p a q u e cu lm in ou com a d e rro-ta d os fe d e ra lisrro-ta s.

A re volu çã o fe d e ra lista criou d ivisõe s p olítica s q u a se irre con ciliá -ve is e m Sa n ta C a ta rin a , e sp e cia lm e n te e m Blu m e n a u , e te rm in ou e m u m g ra n d e a ju ste d e con ta s p a trocin a d o p e lo coron e l An ton io M ore ira C e za r, n om e a d o g ove rn a d or p or Floria n o Pe ixoto e m a b ril d e 1894. Ap ós com b a te n a va l e m De ste rro, e a ssu m ir o con trole d a situ a çã o, fe z q u a se d u a s ce n te n a s d e p re sos p olíticos, civis e m ilita re s, q u e se ria m m ortos n a forta le za d e Sa n ta C ru z (C a b ra l 1970:274). Te rm in a d a a re volu çã o, La u ro M ü lle r foi e le ito d e p u ta d o fe d e ra l e , se g u n d o a h istoriog ra fia loca l, n ã o só se torn ou o “ ch e fe in con te ste d a p olítica re p u b lica n a n o Esta d o” com o foi “ o p a cifica d or d a p olítica d e Sa n ta C a ta rin a q u a n d o, e m 1901, p rom ove u a u n ifica çã o d os p a rtid os Re p u b lica n o e Fe d e ra lista ” (C a b ra l 1970: 281 e 284), o q u e re p re se n tou a u n ifica çã o d e d u a s d a s fa cçõe s p olítica s b lu m e n a u e n se s, m a s d e ixou d e fora o g ru p o m a is forte m e n te g e rm a n ista .

(18)

Do p on to d e vista te u to-b ra sile iro, p orta n to, a tra je tória d e M ü lle r p od e se r u m e xe m p lo d a s virtu d e s é tn ica s, d a ca p a cid a d e g e rm â n ica re fle tid a n o com p orta m e n to d e u m cid a d ã o fie l a o se u p a ís, m a s q u e se m a n te ve “ a le m ã o” a té p or d e cisã o fa m ilia r (te n d o e m vista su a e d u ca çã o e m u m a “ e scola a le m ã ” ) — con form e con sta d a b iog ra fia p u b lica d a n o volu m e com e m ora tivo d o ce n te n á rio d a im ig ra çã o a le m ã e m Sa n ta C a ta -rin a (cf. En tre s 1929) —, a p e sa r d e e ve n tu a is a cu sa çõe s d e lu sofilia sa í-d a s, p rin cip a lm e n te , í-d e con te xtos m a is ra í-d ica lm e n te g e rm a n ófilos10. A

id é ia d e De u tsch tu m é su ficie n te m e n te e lá stica p a ra , tra n sform a d a e m De u tsch b rasilian e rtu m p e la s e lite s loca is, e n g lob a r a a ssim ila çã o p e la cid a d a n ia , ju stifica n d oa com o m e io d e a sce n d e r n o con te xto d a socie d a -d e b ra sile ira .

N o e n ta n to, La u ro M ü lle r volta a e n ca rn a r a con d içã o d e m e m b ro d e m in oria n a cion a l n o e p isód io d a su a sa íd a d o M in isté rio d o Exte rior, p ou co a n te s d a d e cla ra çã o d o e sta d o d e g u e rra com a Ale m a n h a e m 1917. N e sse con te xto, o a ssim ila d o e xe m p la r volta a se r a le m ã o, n a form a com o su a con d içã o é tn ica a p a re ce n o volu m e com e m ora tivo a cim a m e n cion a -d o. Ali, o b ióg ra fo con sta ta “ o fa to -d e q u e o -d r. La u ro M ü lle r tin h a le g íti-m o org u lh o d o se u sa n g u e a le íti-m ã o” , e a p a ssa g e íti-m “ p e los ca rg os p olíticos d a n ova p á tria , in clu sive p e la Aca d e m ia M ilita r, ocorre u se m q u e e le e sq u e ce sse su a orig e m a le m ã ou a lín g u a e os costu m e s a le m ã e s” (En tre s 1929:270). As p u b lica çõe s te u to-b ra sile ira s, a ssim , a firm a ra m com vig or a id e n tid a d e com h ífe n , com se u d u p lo sig n ifica d o d e p e rte n cim e n to (sa n -g u e a le m ã o/ p a triota -cid a d ã o b ra sile iro).

(19)

fi-cie n te p a ra d e stru ir a re p u ta çã o d o a ssim ila d o q u e , n o p e d id o d e d e m is-sã o d o ca rg o d e m in istro se a firm a “ a p e n a s u m b ra sile iro” .

A tra je tória d e La u ro M ü lle r e su a sa íd a d a vid a p ú b lica m ostra m a s d ificu ld a d e s d e corre n te s d a con firm a çã o d e u m a con d içã o é tn ica n o â m b ito d o Esta d o n a cion a l, n o q u a l n ã o h á e sp a ço p a ra e tn icid a d e s, se m -p re visu a liza d a s com o a m e a ça d ora s d a u n id a d e -p olítica e cu ltu ra l.

O u tro e xe m p lo d e tra je tória a sce n d e n te , com p on to d e p a rtid a n a a tivid a d e com e rcia l, é a d e C a rlos Re n a u x (1862-1945), fu n d a d or d a p rin cip a l in d ú stria tê xtil d e Bru sq u e . Era d e u m a fa m ília d e cla sse m é d ia d o G rã o-Du ca d o d e Ba d e n , tin h a e scola rid a d e d e se g u n d o g ra u e tre i-n a m e i-n to com o a p re i-n d iz i-n o Ba i-n co H ip ote cá rio d e Loe rra ch , su a cid a d e n a ta l. Em ig rou p a ra o Bra sil e m 1882, com ca rta d e re com e n d a çã o d o b a n co m e n cion a d o e , n o con te xto d e u m a re d e d e a ju d a m ú tu a e n tre im ig ra n te s (com p osta d e p e q u e n os e m é d ios com e rcia n te s), foi a colh id o com o ca ixe iro d e u m a “ ve n d a ” e m loca lid a d e p róxim a a Blu m e n a u ; e m se g u id a , d e slocou -se p a ra a vila d e G a sp a r, on d e Lu iz Alte m b u rg , se u n ovo e m p re g a d or e u m d os p rin cip a is com e rcia n te s d e Blu m e n a u , tin h a u m a filia l. Em G a sp a r, ca sou -se com a filh a d e Pe d ro Wa g n e r, “ p ion e i-ro” re ve re n cia d o q u e p a rticip a ra d a fu n d a çã o d a p rim e ira colôn ia a le m ã d e Sa n ta C a ta rin a e d o p rim e iro a sse n ta m e n to ocorrid o e m G a sp a r e m 1835 — e ca so ra ro d e colon o p rósp e ro a p e n a s n a a tivid a d e a g rícola11.

(20)

su b stitu ir a troca e m e sp é cie d e m e rca d oria s p or d in h e iro” (H e rin g , 1987:75). Visã o la u d a tória à p a rte , o fa to é q u e , com d ois sócios ta m b é m “ ve n d e iros” (a m b os e sta b e le cid os fora d a á re a colon ia l, u m d e le s n a ca p ita l De ste rro), in icia u m a in d ú stria tê xtil e m 1892, se m q u e su a ca sa com e rcia l ch e g a sse a se e q u ip a ra r à s ou tra s trê s, a p e sa r d a “ m od e rn iza -çã o ca p ita lista ” lou va d a p or Bu g g e n h a g e n e H e rin g .

O su ce sso d o e m p re e n d im e n to in d u stria l, p or ou tro la d o, te m a ve r com a p re se n ça d e u m g ru p o d e te ce lõe s oriu n d os d a cid a d e d e Lod z (Polôn ia ), im ig ra d o e m fin s d a d é ca d a d e 1880, e q u e e sta va in sa tisfe ito com a a tivid a d e a g rícola , p re fe rin d o u m e m p re g o u rb a n o (cf. Se yfe rth 1974; H e rin g 1987). O fa to in d ica a d ive rsifica çã o d a s a tivid a d e s e con ô-m ica s n a vila e a p re se n ça d e iô-m ig ra n te s coô-m d ife re n te s forô-m a çõe s p ro-fission a is e n ca m in h a d os p a ra a a tivid a d e a g rícola — form a m a is fá cil d e e n tra r e m u m a re g iã o d e colon iza çã o e m con form id a d e com a le g isla -çã o. Re n a u x d e se n volve u su a in d ú stria tê xtil (a m p lia d a com a in sta la -çã o d e u m a fia çã o e m 1900), u sa n d o o ca p ita l a cu m u la d o n a su a loja d e Bru s-q u e , b a sica m e n te e m tra n sa çõe s com a p rod u çã o colon ia l, fa ze n d o e m p ré stim os com u m d os se u s sócios (Pa u l H oe p ck e , d e Floria n óp olis), a lé m d e p e q u e n a s q u a n tia s ob tid a s ju n to a colon os re m e d ia d os e d e e m p ré stim os re a liza d os com u m a firm a d e H a m b u rg o (p orta n to, e n tra -ra m ta m b é m ca p ita is a le m ã e s). As fá b rica s tive -ra m p rob le m a s fin a n ce i-ros a té o fin a l d a Prim e ira G u e rra M u n d ia l, m a s a e le trifica çã o, e m 1913, d e u u m ce rto im p u lso à p rod u çã o. C om a q u ita çã o d o e m p ré stim o fe ito n a Ale m a n h a , e m 1917, a situ a çã o d a e m p re sa m e lh orou , e n a d é ca d a d e 40 e ra u m a d a s m a is im p orta n te s in d ú stria s d o e sta d o. Q u a n d o fa le -ce u , e m 1945, Re n a u x e ra o p rin cip a l in d u stria l e o cid a d ã o m a is n otório d e Bru sq u e .

Do p on to d e vista e strita m e n te e con ôm ico, e sta é u m a d a s m u ita s h istória s d e su ce sso q u e ilu stra m , e m tom la u d a tório, a “ con trib u içã o a le -m ã ” p a ra o d e se n volvi-m e n to b ra sile iro, co-m o p od e -m os ob se rva r n a s p u b lica çõe s com e m ora tiva s (cf. En tre s 1929; Á lb u m d o Ce n te n ário d e Bru sq u e 1960) q u e d e sta ca m a s re a liza çõe s d os im ig ra n te s e se u s d e sce n d e n te s, se m p re e voca n d o De u tsch tu m . Existe , e n tre ta n to, ou tra fa sce -ta d a tra je tória d e Re n a u x: su a lig a çã o com a vid a p olítica loca l. Em 1890, n om e a d o p e lo g ove rn o e sta d u a l, in te g rou a C â m a ra M u n icip a l, ju n ta m e n te com m a is q u a tro im ig ra n te s n a tu ra liza d os, tod os lig a d os a a tivid a -d e s com e rcia is. En trou n a p olítica com o p a rti-d á rio -d e La u ro M ü lle r e Fe li-p e Sch m id t12. Foi e le ito, e m se g u id a , p a ra com p or a Asse m b lé ia C on

(21)

ca p ita l (cf. Á lb u m d o Ce n te n ário d e Bru sq u e 1960:304). Exe rce u , ta m -b é m , o ca rg o d e su p e rin te n d e n te m u n icip a l, e le ito e m 1904 e 1915. N ã o cu m p riu o se g u n d o m a n d a to, p a ssa n d o o ca rg o p a ra o vice e le ito, se u filh o O tto Re n a u x (q u e se ca sou com a filh a d e ou tro “ ve n d e iro” im p or-ta n te )13. De p ois d e 1920 voltou à Eu rop a on d e foi côn su l d o Bra sil n a

H ola n d a e e m Ba d e n -Ba d e n , se u e sta d o n a ta l. Esta va , p ois, n o e xte rior a se rviço d a “ n ova p á tria ” , volta n d o a Bru sq u e n a d é ca d a d e 30. Ap e sa r d o cre scim e n to d a s in d ú stria s q u e fu n d ou , e la s p e rm a n e ce ra m n a con d i-çã o d e e m p re sa fa m ilia r (situ a i-çã o q u e só m u d ou n a d é ca d a d e 70).

A tra je tória d e Re n a u x é re p re se n ta tiva d a d u a lid a d e im p lícita n a ca te g oria d e id e n tifica çã o é tn ica : a p re se n ta -se com o b ra sile ira n os d ois a sp e ctos vin cu la d os à cid a d a n ia , p olítico e e con ôm ico, a m b os e vid e n cia -d os n a s re p re se n ta çõe s sob re De u tsch b rasilian e rtu m com o -d e ve re s p a ra com a n ova p á tria . Da m e sm a form a , com o te u to-b ra sile iro, se rviu com o re p re se n ta n te d ip lom á tico n a Eu rop a e , e m e sp e cia l, n a Ale m a n h a . M a s, p or ou tro la d o, d e se n volve u su a fá b rica com té cn icos tra zid os d a Ale m a -n h a a -n te s e d e p ois d a Prim e ira G u e rra M u -n d ia l, i-n clu sive u m p rim o, M a x Lu d in , n a scid o n a m e sm a cid a d e d e Loe rra ch ; e p a rticip ou a tiva m e n te n a s in stitu içõe s com u n itá ria s é tn ica s, in clu sive com o b e n e m é rito, n a s fe s-ta s e sole n id a d e s q u e lou va va m a vin cu la çã o com a n a çã o a le m ã , e n a s h om e n a g e n s d e ca rá te r g e rm a n ista com o, p or e xe m p lo, a re ce p çã o ofe -re cid a e m Ita ja í a os oficia is d o n a vio d e g u e rra a le m ã o Pan th e r, e m 1905, e n volvid os, p oste riorm e n te , e m u m e p isód io d e ofe n sa à sob e ra n ia b ra si-le ira q u e re d u n d ou e m u m a crise d ip lom á tica com o II Re ich , com re p e r-cu ssã o in te rn a cion a l (cf. Se yfe rth 1994b ).

(22)

Considerações f inais

A n oçã o d e De u tsch b rasilian e rtu m , e n q u a n to d e fin id ora d e u m a e tn icid a -d e te u to-b ra sile ira , in clu i a p ossib ili-d a -d e -d e u m a in te g ra çã o p olítie co-n ôm ica à socie d a d e co-n a cioco-n a l, se m re co-n ú co-n cia d a coco-n d içã o a le m ã . A a ssim i-la çã o, n o ca so d e La u ro M ü lle r, p or e xe m p lo, re p re se n tou o a ce sso à re d e e scola r b ra sile ira ou , m a is e sp e cifica m e n te , a o cu rso d e e n g e n h a ria d a Escola M ilita r, m a s p a ssa n d o p rim e iro p e la e d u ca çã o é tn ica p rop orcion a -d a p or u m a ve r-d a -d e ira “ e scola a le m ã ” e m Blu m e n a u . C on fig u ra -se , e n tã o, com o e stra té g ia d e a sce n sã o socia l p a ra u m filh o d e im ig ra n te s com re sid ê n cia e m u m a cisid a sid e p ortu á ria fora sid a “ colôn ia a le m ã ” m a s n e la in te -g ra d a p e la con ce n tra çã o d e com e rcia n te s te u to-b ra sile iros e p e la p roxim i-d a i-d e g e og rá fica . O in ve stim e n to e scola r, a té a i-d é ca i-d a i-d e 30, e xig ia a lg u m g ra u d e a ssim ila çã o p orq u e a s cid a d e s e m e rg e n te s n a s á re a s colon ia is n ã o d isp u n h a m d e e scola s d e se g u n d o g ra u , e o a ce sso a u m cu rso su p e rior e ra e xtre m a m e n te d ifícil, a té m e sm o p a ra le g ítim os lu sob ra sile iros (con -form e a s d e fin içõe s é tn ica s loca is). Alé m d o e n sin o e le m e n ta r, a e scola e ra in a ce ssíve l p a ra a g ra n d e m a ioria d os colon os e n e ce ssá ria a os p roje -tos d e a sce n sã o socia l d a s cla sse s m é d ia e a lta form a d a s n a s vila s. Pa ra a m a ioria d os colon os — in te g ra n te s d e u m se g m e n to ru ra l p ou co d ife re n cia d o — a m ob ilid a d e socia l se a p re se n ta va q u a se q u e h orizon ta l, tra d u -zid a n o d e sloca m e n to p a ra ou tra s re g iõe s colon ia is d e p ovoa m e n to m a is re ce n te ou e m u m a in se rçã o u rb a n a n o m e rca d o d e tra b a lh o a b e rto p e la in d u stria liza çã o cre sce n te , d e n tro ou n a p e rife ria d a s vila s d e Blu m e n a u e Bru sq u e . Ele s form a va m d ois se g m e n tos d istin tos d e tra b a lh a d ore s: u m a cla sse op e rá ria , re sid e n te n a á re a u rb a n a , e u m a cla sse d e a g ricu ltore s d e te m p o p a rcia l, q u e p e rm a n e ce u lig a d a a os lote s colon ia is fa m ilia re s e id e n tifica d a socia lm e n te com o m e io ru ra l.

(23)

s-m o a ssis-m , a tra je tória d e La u ro M ü lle r, p a ra os b ra sile iros, só é re ve la d o-ra d a força a ssim ila cion ista d a socie d a d e n a cion a l a té o m om e n to e m q u e su a le a ld a d e foi p osta à p rova n o d e corre r d a Prim e ira G u e rra M u n d ia l — q u a n d o a a trib u içã o d a ca te g oria ale m ão a d q u iriu con torn os d e e xclu sã o. O a p re n d iza d o d a lín g u a p ortu g u e sa e ou tra s form a s d e a g ir d e a cor-d o com o m ocor-d e lo b ra sile iro cor-d e p olítica , com o a ob te n çã o cor-d e p a te n te s cor-d e co-ron e l d a G u a rd a N a cion a l p or q u a se tod os os “ ve n d e iros” im p orta n te s, ou m e sm o o u so d a id e n tifica çã o é tn ica m e n os ca rre g a d o d e sim b olism os g e r-m â n icos e se r-m re fe rê n cia s ra cia is, p e rr-m itira r-m o a ce sso a ca rg os e le tivos, p rin cip a lm e n te p e los com e rcia n te s com trâ n sito fora d a s re g iõe s colon ia is.

Fin a lm e n te , a h e g e m on ia p olítica e e con ôm ica d os com e rcia n te s re ve la o p od e r d e a rticu la çã o d e sse se g m e n to com o u m tod o, e re m e te a u m a re d e d e re la çõe s socia is con stru íd a n o con te xto d o siste m a colôn ia ve n d a , e ste n d id a p a ra fora d a s á re a s colon ia is, e q u e a ju d ou a e sta b e le -ce r o con trole sob re a s p olítica s loca l e re g ion a l. De a cord o com a h istorio-g ra fia loca l, Re n a u x, m u n id o a p e n a s d e u m a “ ca rta d e re com e n d a çã o” , in te g rou se a u m a re d e d e d ive rsa s ca sa s d e com é rcio p e rte n ce n te s a te u -to-b ra sile iros a p a re n ta d os p e lo ca sa m e n to. N o ca so d e La u ro M ü lle r, e ssa e vid ê n cia a p a re ce n a re fe rê n cia à irm ã d o p a i, ca sa d a com u m p e q u e n o com e rcia n te e sta b e le cid o e m Blu m e n a u . O u tra s h istória s d e vid a se g u e m ru m o se m e lh a n te , ca so d e H e rm a n n H e rin g , p or e xe m p lo, q u e ta m b é m tra b a lh ou (com o e scritu rá rio) p a ra com e rcia n te s te u to-b ra sile iros a n te s d e te r su a p róp ria “ ve n d a ” e , d e p ois, su a in d ú stria tê xtil. O d e ta lh e d a “ ca rta d e re com e n d a çã o” a ju d a a com p or o la d o la u d a tório d a b iog ra fia d e Re n a u x, q u e va loriza a a sce n sã o socia l p or m é rito in d ivid u a l, m a s p rova -ve lm e n te n ã o foi o fa tor d e te rm in a n te n a ob te n çã o d e u m e m p re g o q u e in iciou su a a sce n sã o socia l. Ta l in se rçã o d e im ig ra n te s re cé m -ch e g a d os, com g ra u d e e scola rid a d e m a is a lto q u e a m a ioria d os se u s e m p re g a d ore s, m ostra q u e os com e rcia n te s tin h a m a lg u m a a rticu la çã o com a Ale m a -n h a , e m p a rte e xp lica d a p e la s a tivid a d e s d e im p orta çã o-e xp orta çã o, q u e se ria m in te n sifica d a s p or a q u e le s q u e se e n g a ja ra m n a a tivid a d e in d u s-tria l. Pod e -se , e n tã o, fa la r d e u m a re d e é tn ica d e com é rcio, in te g ra n d o a colôn ia , a s vila s e a p róp ria socie d a d e b ra sile ira re g ion a l a tra vé s d e Ita ja í e Floria n óp olis, e q u e p ossib ilitou a a sce n sã o socia l d e m u itos te u to-b ra sile iros e su a in se rçã o n a ce n a p olítica b ra sisile ira . Afin a l, De u tsch tu m e in te g ra çã o p olítica e e con ôm ica e ra m coisa s com p a tíve is d e sd e q u e fosse p re se rva d a a com u n id a d e é tn ica . C om o id e olog ia , q u a lq u e r tra b a lh o b e m -su ce d id o p od ia se r u m a e xp re ssã o d a g e rm a n id a d e .

(24)

G ira ld a Se yfe rth é p rofe ssora d o Prog ra m a d e Pós-G ra d u a çã o e m An trop o-log ia Socia l (M u se u N a cion a l, UFRJ ) e Dou tora e m C iê n cia s H u m a n a s p e la USP. En tre ou tra s p u b lica çõe s, é a u tora d os livros A Colon iz ação A le m ã n o

Vale d o Itajaí-M irim (2ae d içã o, 1999), Im ig ração e Cu ltu ra n o Brasil (1990) e

N acion alism o e Id e n tid ad e Étn ica (1982).

Not as

1 As circu n stâ n cia s q u e ce rca ra m o e sta b e le cim e n to d e im ig ra n te s e m á re a s

colon ia is n ã o e ra m m u ito fa vorá ve is a o p re te n d id o d e se n volvim e n to d a a g ricu ltu -ra fo-ra d o re g im e e sc-ra vista . Em Sã o Pe d ro d e Alcâ n ta -ra os lote s d oa d os a ca d a fa m ília fora m d e m a rca d os n a m a rg e m e sq u e rd a d o rio M a ru í, n o p re cá rio ca m i-n h o p a ra a vila d e La g e s (i-n o p la i-n a lto), e m te rre i-n os a cid e i-n ta d os. Um a p a rte d a s 166 fa m ília s a le m ã s q u e se d e stin a ra m a o p rog ra m a d e colon iza çã o d e ixou o lu g a r (cf. C a b ra l, 1970:207) p a ra se fixa r e m De ste rro, n a vila d e Ita ja í ou n o p roje to colon ia l d o b a ixo Ita ja ía çu . As re g iõe s e scolh id a s p a ra re ce b e r im ig ra n te s re fle -te m os p rin cip a is ob je tivos d o sis-te m a : ocu p a çã o d o -te rritório, com u n ica çã o com o p la n a lto e d e se n volvim e n to d e u m m od e lo d e a g ricu ltu ra q u e p re scin d isse d o tra -b a lh o e scra vo.

2 Form a d o e m q u ím ica , Blu m e n a u tin h a in te re sse n a ob ra d e n a tu ra lista s e

via ja n te s, e sp e cia lm e n te d e Ale xa n d e r von H u m b old t — ta n to q u e ou tro n a tu ra -lista im p orta n te , Fritz M ü lle r, p a rticip ou d o e m p re e n d im e n to colon ia l, torn a n d o-se fig u ra d e d e sta q u e n a p olítica loca l. An te s d a fu n d a çã o d a colôn ia , Blu m e n a u e ste ve vá ria s ve ze s n o Bra sil tra ta n d o d a “ colon iza çã o a le m ã ” n a C orte ou visi-ta n d o re g iõe s colon ia is d o su l a p e d id o d a G e se llsch aft z u m S ch u tz e d e u tch e r

A u sw an d e re r — u m a a ssocia çã o cria d a p a ra d e fe n d e r os in te re sse s d os im ig ra n

-te s a le m ã e s. Esse s p ou cos d a d os d a tra je tória in icia l d e H e rm a n n Blu m e n a u m os-tra m o in te re sse d o g ove rn o im p e ria l b ra sile iro n os p roje tos e n volve n d o colon os d e orig e m g e rm â n ica .

3 A re fe rid a le i e sta b e le ce u a com p ra com o ú n ica form a le g a l d e a ce sso à

(25)

4A in fra -e stru tu ra n e ce ssá ria p a ra toca r o e m p re e n d im e n to — in clu sive a

d e m a rca çã o d e lote s, a b e rtu ra d e via s d e com u n ica çã o e p rop a g a n d a p a ra a tra ir im ig ra n te s — le vou a e m p re sa d e Blu m e n a u à fa lê n cia . N o in ício d e 1860, m e d ia n te con tra to, o g ove rn o im p e ria l re ce b e u d e volta a m a ior p a rte d a s 20 lé g u a s q u a -d ra -d a s -d a con ce ssã o orig in a l, e os im óve is e b e n fe itoria s -d a se -d e a -d m in istra tiva p e rte n ce n te s à colôn ia . O m e sm o con tra to m a n te ve Blu m e n a u com o d ire tor, ca r-g o q u e e xe rce u a té 1883, q u a n d o foi cria d o o m u n icíp io (cf. Silva 1972).

5 Se g u n d o n orm a s e sta b e le cid a s d e sd e a Le i d e Te rra s, os im ig ra n te s re ce

-b ia m se u s lote s m e d ia n te p a g a m e n to q u e p od ia se r p a rce la d o, e so-b re e ssa s p a r-ce la s (a n u a is) in cid ia m ju ros. As p a rr-ce la s a p a g a r com p u n h a m a ch a m a d a “ d ívid a colon ia l” e a e la s e ra m a cre sce n ta d os os va lore s d os su b síd ios e ve n tu a lm e n te re ce b id os n a ch e g a d a à colôn ia (q u a se se m p re g a stos com a m a n u te n çã o d a fa m í-lia a n te s d e o lote torn a r-se p rod u tivo). Sob re os p rob le m a s re la cion a d os à d ívid a colon ia l, ve r Se yfe rth (1988; 1996a ).

6 In d ivíd u os d e e tn ia g e rm â n ica fig u ra m n a s e sta tística s im ig ra tória s b ra

si-le ira s com o cid a d ã os d os im p é rios ru sso e a u stría co. Assim , é d ifícil d im e n sion a r a com p osiçã o é tn ica d a s colôn ia s. Wille m s (1946) p re fe riu u sa r o crité rio e tn olin g ü ístico n a con fig u ra çã o n u m é rica d a im ig ra çã o “ a le m ã ” p a ra o Bra sil. N a ve rd a -d e , a p e n a s trê s g ru p os -d e im ig ra n te s sã o sig n ifica tivos n o Va le -d o Ita ja í: a le m ã e s, ita lia n os e p olon e se s.

7 Essa d ife re n cia çã o, h oje , é con fig u ra d a n a d icotom ia id e n titá ria q u e d

is-tin g u e colon os forte s e fracos. N a re p re se n ta çã o d os a tore s socia is, os p rim e iros sã o d e fin id os com o p ossu id ore s d e u m a colôn ia (lote ) su ficie n te p a ra a re p rod u -çã o socia l ca m p on e sa ; os se g u n d os tê m su a “ fra q u e za ” a ssocia d a à in su ficiê n cia d e te rra s e a o tra b a lh o a ssa la ria d o (cf. Se yfe rth 1992).

8 M u itos a le m ã e s ocu p a ra m o p osto d e d ire tor d e colôn ia d u ra n te o Im p é rio.

Ap ós a cria çã o d os m u n icíp ios, p oré m , os p rin cip a is ca rg os p ú b licos (ch e fe d a com issã o d e te rra s, d e le g a d o, ju iz e tc.) e a s p rofissõe s lib e ra is e ra m e xe rcid os p or b ra sile iros, in clu sive d e ou tros e sta d os. Era m ch a m a d os lu so-b rasile iros, form a “ h ife n a d a ” d e d istin g u ilos d os te u tob ra sile iros, situ a n d o tod os n a m e sm a ca te -g oria d e cid a d ã os é tn icos.

9 A e xp re ssã o Ku ltu r re fe re -se à a g ricu ltu ra (cu ltivo). Tra ta -se d e u m a a

sso-cia çã o cria d a e m Blu m e n a u p a ra d a r a ssistê n sso-cia té cn ica a os colon os. Q u a se tod a s a s re g iõe s colon ia is tive ra m a ssocia çõe s se m e lh a n te s. A Ku ltu rv e re in , p oré m , a ssu m iu , e m a lg u n s m om e n tos, u m vié s p olítico — se u s d ire tore s e sta va m e n vol-vid os ta m b é m n o ca d a stra m e n to e le itora l d os colon os e fa zia m p rop a g a n d a e le i-tora l.

10O jorn a l loca l m a is com p rom e tid o com a n oçã o d e p e rte n cim e n to é tn ico

Referências

Documentos relacionados

Ref erências bibliográf icas.. AQ UIN AS, Th om

California: California University Press... A Fam

BEN VEN ISTE, Ém ile... Pa

Souffles d’Amazonie: Les Orchestres “Tule” des W ayãpi... Te

[r]

Greenpeace ) vinculados à proteção do meio ambiente. Esse fenômeno ocorreu igualmente nos movimentos de protesto relacio- nados à mineração a céu aberto. As estratégias das

[r]

Coleções e Expedições Vigiadas: Os Et nólogos no Conselho de Fiscaliza- ção das Expedições Artísticas e Cientí- ficas no Brasil.. São Paulo: Hucitec/