1 Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia H um an a. Fiocruz.
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ciais; e a guerra social, típica no Brasil e em paí-ses semelhantes que aderiram radicalmente ao program a n eoliberal. Nesse sen tido, a discus-são do conceito de globalização e a agenda de lu tas dos m ovim en tos alterm u n dialistas po-dem con tem plar esta e ou tras dim en sões do seu espectro da atuação. Quem fala pelos nar-co-oprimidos? Pelos exércitos de crianças obri-gadas a guerrear na África? Os movimentos an-tiglobalização ou altermun dialistas e seus ins-tru m en tos técn icos em redes plan etárias po-dem con siderar a am pliação do espectro de ação, in cluir tais "hiperexcluídos" de todo o planeta, globalizando sua agenda de lutas. Tra-ta-se da construção de cam inhos que superem a generalização das guerras sociais, civis e im -perialistas, a em ergên cia de n arcorregiões e narconações e a consolidação de um futuro si-m ultân eo da husi-m an idade esi-m con dições que assegurem o próprio futuro do planeta.
De fato, este texto proporciona ótim as re-flexões ao processo de globalização e a em er-gência de lutas sociais de âmbito planetário. As descrições qu e faço objetivam apen as reu n ir material para contribuir com este debate.
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Os movimentos sociais e o novo papel
dos estados-nação diante do fenômeno
da globalização
Social m ovem ents and the new
role of n ation -states vis-à-vis
the globalization phen om en on
Carlos M inayo
1A leitu ra do artigo “A globalização dos m ovi-m entos sociais: resposta social à Globalização Corporativa Neoliberal” m e suscita um a série de questões de natureza diversa. Concentrarei a discussão em dois pontos que, a m eu ver, m e-receriam m aior aten ção ou deveriam receber tratam en to m ais cauteloso: a) a com preen são que os autores apresentam sobre a globalização e o papel atual do Estado-nação; b) a valoriza-ção atribuída às redes virtuais.
Parto do pressuposto de que todas as teo-rias são parciais e sua fecundidade reside, dtre outros fatores, nos tipos de questão que en-focam . Con sidero, portan to, que os au tores, apesar de seu em pen ho em qu alificar o fen ô-m eno coô-m plexo da globalização, sobre o qual incidem inúmeras dimensões centrais da ativi-dade social, não incorporaram suficientemente algu n s elem en tos essen ciais para o en ten di-m ento desse fenôdi-m eno e, particulardi-m ente, do papel estratégico do Estado na atual conjuntu-ra. Concordo com as críticas à “coisificação” e às sim plificações de analistas favoráveis à glo-balização, que a apresentam como um processo sem sujeito cujos efeitos e con seqüên cias são vistos com o hom ogêneos e universais. Consi-dero, porém que, em sua argum en tação, aca-bam por cair no erro que criticam .
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essa advertência porque considero que não nos cabe reduzir a análise sobre a globalização uni-camente à sua expressão hegemônica. É pouco esclarecedor, por exem plo, dizer que o “papel do Estado n acion al n o capitalism o globaliza
-do” se resum e unicam ente às duas posições: a dos que afirm am que ele
já não cum pre papel
importante no capitalismo atual por estar fraco e
subordinado às gigantescas e poderosas
corpo-rações m ultinacionais e seus aliados m undiais
e a dos que entendem queo Estado ainda é
fun-damental para a defesa dos grupos dominantes e
das corporações m ultinacionais, principalm ente
nos países ditos desenvolvidos ou do Prim eiro
Mundo
. Não me parece adequado, pois, que os autores con cluam , em sin ton ia com H erm an (1999), queo papel do Estado em prover o
bem-estar social, o controle am biental e o interesse
dem ocrático dos povos, sem dúvida algum a,
di-minuiu
. Na verdade, essa afirmação não encon-tra respaldo em alguns estudos em píricos que buscam distinguir tanto os efeitos negativos do processo de globalização n o m u n do com o as oportun idades aproveitadas. Talvez os olhos dos autores estejam mais presos à visão econô-mica e em particular, à situação da América La-tina, onde, realm ente, nos últim os 20 anos, os efeitos da globalização foram extrem am en te perversos e profundamente deletérios.Tal formulação, além de vaga e generalizan-te, pouco contribui, teoricam engeneralizan-te, para equcion ar os desafios com que se deparam as n a-ções do hem isfério sul com a perda de poder diante do capital financeiro transnacional e dos constrangim entos das diversas instituições de governança internacional. A tarefa que se im põe é recuperar ou recon figurar o papel im -prescindível do Estado-nação e da sociedade ci-vil (H eld & McGrerw, 2001), o que pode ter tanta im portância no m om ento atual, quanto no período em que se formaram os estados mo-dernos. Em lugar de persistir na constatação do reduzido poder do Estado, seria oportuno in-cluir e distinguir na análise os diferentes con-textos locais e o sucesso de algumas economias em que o Estado se mostrou forte, liderou ma-ciços investimentos, considerando essa postura uma tarefa pública imprescindível e a favor da sociedade, orientando-se pelas oportunidades do m ercado m undial e aproveitando as vanta-gen s com petitivas. O caso dos países do Leste Asiático, embora para alguns constitua um fe
-nôm eno marginal na totalidade global, não dei-xa de ser elucidativo sobre a capacidade estatal na construção de sociedades mais igualitárias e
n a elevação dos padrões de vida. Com o m os-tram alguns estudos (Therborn, 1999), as socie-dades com am pla abertura para o m ercado mundial tendem a reduzir as desigualdades. Na conjuntura atual, mais do que em épocas ante-riores não cabe subestimar a necessidade de ter estados fortes com m aiores possibilidades de influenciar e direcionar, em m aior ou m enor grau, os rumos da globalização, não obstante al-gum as opções políticas se tornem m ais custo-sas, dependendo da vulnerabilidade do país ou do governo. Creio que é nisso que o governo brasileiro atual, inclusive, acredita. Fica eviden-te, por exem plo, seu em penho em fortalecer a identidade e a soberania nacionais, e seu incon-teste esforço para construir estratégias que fa
-voreçam os destinos da população, sem se aco-m odar aos interesses das corporações interna-cionais. Tais posturas podem ser con statadas em perform an ces bem atuais da diplom acia brasileira em relação à OMC ou à ONU.
Resu lta in operan te con tin u ar in sistin do em análises da globalização que enfatizam ape-nas seu cunho financeiro, a aceitação do recei-tuário neoliberal e o domínio das grandes cor-porações, do Estado imperialista americano, de estados da União Européia e do Japão. Hoje, é preciso que os círculos acadêmicos progressis-tas rompam com uma lógica linear simples e se arm em de coragem intelectual para gradativa-mente produzir interpretações mais dialéticas e abrangentes, que diferenciem histórica e espa-cialmente os efeitos da globalização e ultrapas-sem visões determ in istas que – n a teoria e n a prática – têm por conseqüên cia um a capitula-ção diante do pensamento único ou redundam na m anutenção de “outro pensam ento único”. Convém pensar que a natureza da globalização – como campo de lutas – depende de processos qu e ocorrem n as esferas in tern acion ais, m as tam bém , em escalas sub-globais (local, nacio-n al, regionacio-n al, m acrorregionacio-n al). Tais escalas con tinuam significativas como lugares efetivos de atividades econ ôm icas, sociais, políticas e culturais e são, freqüentemente, espaços-chave de resistência (Araújo, 2001).
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riados segmentos sociais. Quando as narrativas socialistas pareciam ter chegado ao fim, após a queda do muro de Berlim e a dissolução da di-visão bipolar do m un do que se criara com a Guerra Fria, elas renascem de outras form as e com outras manifestações. Os movimentos co-m o o de Seattle e do Fóruco-m Social Mundial con stituem a prova da historicidade hum an a rumo a novas utopias que se constroem com a argam assa da conjuntura m undial.
Sem dúvida, a globalização está ajudando a criar novos padrões de inform ação e com uni-cação e um a densa rede de relações que ligam determinados grupos e culturas entre si, trans-form an do a din âm ica das in terações políticas paralelam ente ao Estado, acim a e abaixo dele. Está facilitan do a iden tificação e a associação de metas e ambições de vários movimentos so-ciais tran sn acion ais com o os qu e atu am n as questões ambientais, de classe, de gênero, de et-nia ou de direitos humanos, sem comprometer as filiações políticas locais.
É claro também que a grande mutação tec-nológica construída na estrada das técn icas da in form ação, “con stitucion alm en te divisíveis, flexíveis e doces”, possibilita seu uso não subor-din ado aos in teresses dos gran des capitais (Santos, 2000). Nesse sentido, adquire funda-m ental ifunda-m portância o “novo paradigfunda-m a da es-trutura de redes”, com o os autores afirm am – apoiados n o pen sam en to de Capra, Castells e Brecher
et al
. – na organ ização da resistên cia através da “globalização por debaixo”.Convém distinguir, no entanto, a função das redes como instrumentos ou meios de comuni-cação e as mensagens emitidas. Na forma como está apresentado o texto, os autores passam a impressão, em certos momentos, de que o apro-veitamento dos recursos da internet pelos mo-vimentos – o “sucesso desta forma de organiza-ção e de luta” – equivale ao próprio movimento ou a “um modelo emergente de conflito social”, concordando com Arquilla & Ronfeldt (2001).
Julgo que não podemos reificar os “meios” com o se eles fossem “fin s”. Em bora creio que devamos reconhecer sua importância, pois em-piricamente vêm se mostrando como eficientes instrum entos para articulação e para capitali-zação de iniciativas, por adotarem “tecnologias e estratégias afin adas com a era da in form a-ção”. Além disso, possibilitam fortalecer ou deslan char ações coletivas e estreitar vín culos de apoio entre os diversos atores. Mas creio que seria um a extrapolação assinalar a articulação e as form as de organização através da internet
com o “n ovo m odelo de m ovim en to social e guerra de rede”. A descrição das características que lhe são reconhecidas por Arquilla & Ron -feldt – policêntrica, segmentar, com flexibilida-de, fluidez e autonom ia, com táticas de
blitz
e de guerrilha, com agilidade e descentralização que in viabilizam a repressão dos Estados n a-cionais – torna a com unicação exitosa.Em relação às várias sessões do Fórum So-cial Mundial, nas quais tenho tido oportunida-de oportunida-de participar oportunida-desoportunida-de o início, consioportunida-dero que estam os diante de um dos m aiores espaços de expressão coletiva de pluralism o e de articula-ção global dos m ais diferentes segm entos a fa-vor das culturas, do lugar do “social” e do “hu-m ano”, e“hu-m con traposição à “hu-m on etarização da vida e das sociedades. Ali estão presentes, repe-tidamente, os mais exacerbados protestos contra a fin an ceirização da globalização – e tam -bém inúm eros m ovim entos anti-globalização: m as o Fórum é um espaço de expressão de re-des con tra-hegem ôn icas ou con tra-poderes, n ão se con fun din do (pelo m en os ain da) com um m ovim ento em si m esm o.
A m etáfora qu e u tiliza Klein (2002) para caracterizar os m ovim en tos an ti-globalização com o “núcleos” e “raios” está m ais em conso-nância com o teor da própria Carta de Princí-pios do Fórum Social, já que esse Fórum como o define Whitaker (2003) – um de seus ideali-zadores – é um espaço horizontal e funcional, sem hierarquia de poder, o que o torna diferen-te, em sua concepção, da idéia de m ovim ento. É u m espaço ím par qu e perm ite a qu ebra do pensamento único e revela a dinâmica e vitali-dade das socievitali-dades e de seus num erosos seg-m en tos sociais. Eseg-m bora os autores in dagueseg-m sobre a possibilidade futura de construir “pla-taformas comuns de luta e unidade”, é salutar a convivência de propostas político-ideológicas distin tas e, inclusive, divergentes.
Em m in ha opin ião, a plataform a com um possível seria a que viabilizasse a procura cole-tiva pela tran sform ação do m un do n eoliberal globalizado em um mundo solidariamente, ou melhor, justamente globalizado. Em conseqüên-cia, não caberia pensar numa única alternativa possível. Essa visão constituiria um deslize, da-da a própria natureza do Fórum que se opõe ao “pensam ento único” e propõe
o debate dem
o-crático de idéias, a form ulação de propostas, a
troca livre de experiências e a articulação para
ações eficazes
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liza sobre os princípios orientadores e m obili-zadores dos movimentos sociais atuais que de-notam o estágio de compreensão das principais frentes de luta locais e internacionais na cons-trução de um a sociedade verdadeiramente de-mocrática. Concordo também com a avaliação de Am in , adotada pelos autores, sobre as ex-pressões atuais da “n ova fase de luta social”, mas me parece excessivamen te otimista a con-clusão dos autores de que esteja “surgindo um novo super-poder global”, pelo fato de que ve-nha crescendo nos movimentos sociais a
capa-cidade e força para propor alternativas de paz,
desenvolvimento e democracia em todo o mundo
. A m eu ver, sobre esse últim o ponto, a questão cen tral reside com o desafio à capacidade dos movimentos sociais apresentarem estratégias e táticas que redundem na transformação do pa-pel do Estado e em form as de alin ham en to e in tegração region al fren te ao esgotam en to do modelo neoliberal e às imposições dos grandes globalizadores.Referências bibliográficas
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Mondialisation et mouvements
"altermondialistes":
contribution au débat
Globalização e m ovim en tos
“alterm ondialistas”:
contribuição ao debate
Annie T hébaud-M ony
1Dans leur article, C. E. Siqueira; H. Castro & T. Araújo présen ten t un e revue bibliographique très complète d’analyses critiques de la
globali
-zação
n éolibérale et de ses effets san itaires et sociaux. Ils explorent aussi de façon approfon-die l’ém ergen ce d’un e con testation m on diale de cetteglobalização
à travers un foisonnement d’initiatives et de luttes visant à résister à cette form e nouvelle de l’im périalism e. En particulier, ils font apparaître une dimension très im -portan te de ces “n ouveaux m ouvem en ts so-ciaux”, à savoir l’organisation en “réseau” et le recours aux form es m odernes de com m unica-tion, en particulier internet.En cohéren ce avec l’an alyse proposée par les auteurs, ce com m en taire revien dra sur ce double processus historique de la fin du XXe et du débu t du XXIe siècle: la
globalização
(en français:mondialisation
) et les contre-pouvoirs qui tentent de s’organiser non seulement pour résister à la destruction sociale mais aussi pour élaborer des alternatives opposant la légitimité des droits fon dam en taux à la dom in ation par le “marché”.Les contradictions de la
globalização
corporativa neoliberal
Dans la prem ière partie de leur article, les au-teu rs m on tren t la con stru ction de ce qu i est bien plus que l’unification du champ économi-que à l’échelle mondiale, à savoir une nouvelle form e de l’im périalism e capitaliste am éricain fondé sur un système idéologique qui consacre la légitimité de la “dolarisation ” de l’économie, la réduction du rôle de l’état national dans les choix politiques et sociaux de développem ent et l’internationalisation de l’économie de cha-que pays au profit de la “com munauté” des ac-tion n aires des plu s gran des m u ltin aac-tion ales mondiales.