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Turismo sustentável : o protagonismo da juventude e a conservação do patrimônio natural-cultural do quilombo de Ivaporunduva no Vale do Ribeira, São Paulo, Brasil  

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS AMBIENTAIS

DOUTORADO EM AMBIENTE E SOCIEDADE

MAYARA ROBERTA MARTINS

TURISMO SUSTENTÁVEL: O PROTAGONISMO DA JUVENTUDE E A CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO NATURAL-CULTURAL DO QUILOMBO DE

IVAPORUNDUVA NO VALE DO RIBEIRA, SÃO PAULO, BRASIL

CAMPINAS 2018

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MAYARA ROBERTA MARTINS

TURISMO SUSTENTÁVEL: O PROTAGONISMO DA JUVENTUDE E A CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO NATURAL-CULTURAL DO QUILOMBO DE

IVAPORUNDUVA NO VALE DO RIBEIRA, SÃO PAULO, BRASIL

Tese apresentada ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Doutora em Ambiente e Sociedade, na Área de Concentração: Aspectos Sociais de Sustentabilidade e Conservação.

Supervisor/ Orientador: Profa. Dra. Célia Regina Tomiko Futemma Co-supervisor/ Co-orientador: Profa. Dra. Aline Vieira de Carvalho

ESTE TRABALHO CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA POR MAYARA ROBERTA MARTINS E ORIENTADA PELA PROFA. DRA. CÉLIA REGINA TOMIKO FUTEMMA

CAMPINAS 2018

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS AMBIENTAIS

DOUTORADO EM AMBIENTE E SOCIEDADE

A Comissão Julgadora dos trabalhos de Defesa de Tese de Doutorado composta pelos Doutores a seguir descritos, em sessão pública realizada em 19 de dezembro de 2018, considerou a candidata Mayara Roberta Martins aprovada.

Profa. Dra. Célia Regina Tomiko Futemma (REIT/UNICAMP - Presidente da Banca Examinadora)

Dra. Cristina Adams (Universidade de São Paulo – USP) Dra. Rosely Alvim Sanches (FATEC)

Dra. Cristina Fachini (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios) Profa. Dra. Simone Aparecida Vieira (REIT/UNICAMP)

A Ata de Defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no SIGA/Sistema de Fluxo de Dissertações/Teses e na Secretaria do Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Sociedade do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas.

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Dedico esta tese à minha mãe Margareth, ao meu pai João e para minha irmã Juliana, que me apoiaram durante todo o tempo em que estive desenvolvendo este trabalho. Também dedico para a minha avó Laura (in memorian) e minha madrinha Eny, por todo o amor e carinho.

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AGRADECIMENTOS

À professora e orientadora Dra. Célia Futemma (NEPAM/UNICAMP), por todo e fundamental apoio à pesquisa desde a graduação na UFSCar até a conclusão desta tese no NEPAM/UNICAMP. Muito obrigada pela dedicação e instrução durante estes anos de aprendizados.

À professora e coorientadora Dra. Aline Vieira de Carvalho (NEPAM/UNICAMP), agradeço todo o apoio e empatia durante este trabalho, em especial, por sempre ressaltar a importância desse trabalho do ponto de vista da proteção dos direitos das comunidades quilombolas nos tempos atuais.

À Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (CAPES) – Código de Financiamento 001.

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo suporte financeiro para a realização do doutorado “Turismo sustentável: o protagonismo da juventude e a conservação do patrimônio natural e cultural” (Processo 14/13840-0) .

Ao Instituto Socioambiental (ISA) pelo apoio logístico e de inserção nas comunidades quilombolas do Vale do Ribeira, em especial à equipe técnica do Escritório de Eldorado (SP) por meio da colaboração com a coordenadora Raquel Pasinato e colaboradores.

Ao Grupo de Pesquisa em Ecologia Humana de Florestas Neotropicais liderado pela Profa. Dra. Cristina Adams (USP/EACH). Agradeço especialmente pela minha introdução à área de pesquisa, apresentando-me aos parceiros institucionais e lideranças comunitárias. Muito obrigada pelo apoio institucional e logístico. Além disso, as pesquisas conduzidas neste grupo ampliaram meu olhar para a diversidade do Vale do Ribeira. Agradecimento em especial aos colegas Daniela Ianovali e Jordano Roma pelo auxílio nas fases de campo e trocas de experiência sobre suas pesquisas junto às comunidades, muito obrigado!

Ao Programa Ambiente e Sociedade e ao Núcleo de Pesquisas e Estudos Ambientais (NEPAM/IFCH/UNICAMP), em especial, à minha turma de doutorado, ano de ingresso (2014): Aline Lima, Isabela Frederico, Miquéias Calvi, Ilunilson Fernandes, Giverage do Amaral e Izidro Muhale. Agradeço imensamente a todos vocês pelos aprendizados que tivemos em parceria, nos momentos pós aulas, nas comemorações, nas vivências de Barão Geraldo e, principalmente, mesmo longe, por cada palavra de incentivo para a conclusão deste trabalho. Gratidão por dividirmos essa incrível jornada.

Aos amigos doutores, de turmas anteriores do NEPAM, em especial, à Rosely Sanches (muito obrigada por toda articulação com o ISA e pelas caronas até o campo, leituras da tese,

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sem contar a amizade que só nos fortaleceu). À minha amiga Luziana Guaruana, que me incentivou desde o começo de minha chegada ao NEPAM, onde dividimos moradia e partilhamos bons momentos juntas. Também agradeço à Michele Portela (Mic) e à Ana Cláudia (Kika) Braga pelos incentivos e apoio. Aos colegas Eduardo Viglio e Ramon Bicudo, agradeço sempre pelas palavras de apoio, dicas e incentivos nesta jornada acadêmica. Agradeço pela amizade, torcida, empatia e generosidade de Maria Teresa Manfredo e Fabiana Barbi.

À equipe administrativa do NEPAM, em especial, aos amigos Waldinei Salvador e Maria de Fátima Moreira. Agradeço muito por todo o carinho e dedicação que tiveram comigo, dos momentos felizes aos tristes. Foram como verdadeiros pais para mim e gratidão por sempre acreditarem que eu venceria todas as dificuldades e aprenderia a me superar ainda mais. Grata por tudo! Também agradeço o carinho e apoio de Neusa Trevisan, Adreilde de Souza, Débora, Eduardo, Diego e Mayara. Obrigada pela torcida!

Às professoras do NEPAM, Dra. Leila Ferreira, Dra. Cristiana Seixas, Dra. Simone Vieira, Dr. Carlos Joly e Dra. Lúcia Ferreira, agradeço por todos os ensinamentos em sala de aula, avaliações sobre o trabalho de tese, trocas de saberes e incentivos para a conclusão do presente trabalho.

Aos amigos do Laboratório Interdisciplinar do Patrimônio, Ambiente e Comunidades (LIPAC/NEPAM/UNICAMP), em especial para Bárbara Ribeiro e Natália Louzada, eu não tenho palavras para agradecer todo o cuidado, amizade, por compartilharmos rotinas e aprendizados mútuos. Agradeço também Patrícia Mariuzzo, Tiago Juliano, Cristina Fachini, Esdras Magadan, Franciely Oliveira, Bruna Melo, Gabriela Pratavieira e Isabela Backx. Obrigada pela força e carinho!

Para Thais Rosa, amiga-irmã, sem você nada disso seria possível. Obrigada por me amparar nos momentos mais difíceis e por acreditar sempre que o melhor aconteceria. A sua generosidade e amizade me ajudaram a me tornar uma pessoa melhor, a voltar a minha verdadeira essência. Muito obrigada por tudo!

À minha irmã do sul, Aline Moraes, agradeço por toda ajuda e amparo em Porto Alegre, perto ou longe, você sempre esteve presente nos momentos mais fundamentais desta jornada. Obrigada pela parceria na vida e na área de turismo. Para você e sua família toda a minha gratidão..

À minha outra irmã do sul, Alessandra Matte, agradeço por você ter sido uma das primeiras pessoas que conheci quando cheguei a Porto Alegre, aprendi muito sobre a cultura gaúcha e generosidade contigo. Obrigada pelos incentivos e amizade.

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Em especial, o meu agradecimento aos seguintes amigos: Viviane Melo Mendonça, Juliana Gondim, Alberto Matenhauer Urbinatti, Daniel Grecco Pacheco, Eloise Mudo, Rosangela Calado da Costa, Patrícia Andrade, Thiago Allis, Maria Helena Santos, Alissandra Nazareth de Carvalho, Poliana Bassi, José Étore de Conti Júnior, Sergio Schneider; Marcelo Conterato, Neridiana Stivanin, Susana Cardoso, Carlise Schneider, Cícero Escobar, John Max, Patrícia Cruz, Loyvana Perucchi, Dan Gabriel D’Onofre, Ana Lúcia Oliveira, Raquel Rau, Ana Paula Mattei, Douglas Oliveira, Andressa Ramos Teixeira, Rosangela Grigol, Ricardo Gomes Ramos, Danielle Wagner, Tânia Cruz, Danielle Finamor, Lucilene Assing, Renata Aguilar, Sabrina Esmeris, Adriane Schrage, Adriana Rodrigues e Dedinha Nancassa.

Sou ainda mais grata por minha família, ao meu pai, João Roberto Martins, à minha mãe, Margareth F. Santos Martins, e minha irmã Juliana Mayra Martins, aos meus tios e primos. Também agradeço a minha madrinha Eny Ferreira e família, por todo o amor e carinho. Muito obrigada por acreditarem até o fim que tudo isso seria possível. Gratidão por toda a dedicação e apoio emocional. Amo vocês!

Em especial, faço um agradecimento para minha avó Laura Matos dos Santos (in memorian). Obrigada minha avó por seu amor, por tornar minha infância mais feliz e por revelar tantas histórias de lutas de nossos antepassados e de como chegamos até aqui. Obrigada por você ter me trazido a sensibilidade para perceber os problemas socioambientais que me proponho a estudar.

Também agradeço a Roseli, Denerval, Giélitta, Maída e Lidiane (todos de Presidente Epitácio) pelo apoio emocional e por me reconectar com a minhas raízes e bem-estar.

Em especial, agradeço às comunidades quilombolas do Vale do Ribeira, principalmente, aos jovens do Quilombo de Ivaporunduva pela oportunidade de compartilhar o cotidiano comigo. Muito obrigada pela acolhida e apoio logístico. Suas histórias, ensinamentos e aprendizados estão marcados em minha memória como o bem mais precioso deste trabalho. Gratidão pela confiança.

Por fim, agradeço ao Instituto Federal de São Paulo (IFSP), campus Campos do Jordão pela aprovação como professora substituta na área de Turismo e Hotelaria e apoio para o término desse aperfeiçoamento profissional para o exercício da docência, pesquisa e extensão.

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Nós temos uma década para agir antes que o custo econômico de soluções hoje viáveis tornem-se muito altos. Sem ação, corremos o risco de mudanças catastróficas e talvez irreversíveis no sistema que dá suporte à vida. Nosso principal objetivo deve ser o de assumir a responsabilidade planetária, em vez de colocar em perigo o bem-estar das gerações futuras.

(Elinor Ostrom, 2012) – Trecho traduzido de seu último artigo publicado no site Project Syndicate para a Conferência Rio + 20.

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RESUMO

Esta tese discute o turismo sustentável na perspectiva de auto-organização de base comunitária com o foco na participação social dos jovens de uma comunidade rural negra (quilombo) localizada na região do Vale do Ribeira, São Paulo, Brasil. Este território integra um mosaico de unidades de conservação do ecossistema do Bioma Mata Atlântica, um dos principais hotspots de biodiversidade do planeta e reconhecido como Patrimônio Natural da Humanidade pela UNESCO. No estado de São Paulo, a região possui índices críticos de desenvolvimento socioeconômico. No entanto, o surgimento de projetos de turismo de base comunitária (TBC) tem gerado oportunidades de emprego e renda para as áreas rurais, principalmente, para minimizar o êxodo dos mais jovens. Para compreender essas dinâmicas, optou-se pela pesquisa interdisciplinar entre as ciências sociais aplicadas, ciências políticas e ambientais, a partir do arcabouço teórico-metodológico da Análise Institucional e Desenvolvimento (IAD Framework) inserindo o turismo como bem comum (“tourism commons”, expressão em inglês). Adicionou-se na análise, a formação do capital social e humano para compreender a participação social dos jovens no turismo e na conservação do patrimônio natural-cultural. Como metodologia foi utilizada o estudo de caso de uma abordagem qualitativa, a partir de dados coletados por meio de intenso trabalho de campo e observação simples do contexto-situacional, a realização de quatro entrevistas semiestruturadas com atores-chaves (lideranças comunitárias) e a aplicação de 35 questionários aos jovens quilombolas de 18 a 35 anos (10% da amostra populacional). Para a análise dos dados foi realizada a análise descritiva e de estatística multivariada com o software SAS (Statistical Analysis Software), análise de Clusters e o modelo IAD. Os resultados e as discussões indicaram a importância do reconhecimento e da segurança jurídica do uso coletivo do território, que foi legitimado pelo histórico das lideranças mais antigas, como ponto-chave para o desenvolvimento do TBC em Ivaporunduva. A consistência de sua organização social (capital social) propiciou a ascensão dos mais jovens no turismo pelo envolvimento com aprendizados empíricos e ao aprimoramento técnico e profissional (capital humano). A participação feminina no turismo voltou-se principalmente para o artesanato, a gastronomia, os serviços gerais para a hospedagem na pousada, a venda de produtos in natura (ex. banana orgânica), as oficinas técnicas, as trilhas ecológicas e junto à coordenação do grupo de turismo. Os jovens homens envolveram-se em funções de planejamento e controle das visitações, organização e remuneração dos grupos de trabalho, contato com agências de turismo e com organizações externas (públicas e privadas), o que favoreceu a sucessão nos papéis de liderança. Por fim, espera-se que essa pesquisa contribua como ferramenta de planejamento do turismo para outros contextos, cujo desafio é possibilitar estímulos para a permanência dos jovens nas áreas rurais. Tudo isso, envolverá a interação dos aprendizados ecológicos e culturais entre as gerações, de modo a garantir avaliações constantes das ações no turismo e no patrimônio natural-cultural, como expressões da memória e do futuro das próximas gerações.

Palavras-chave: Turismo Sustentável; Juventude rural; Patrimônio natural; Patrimônio cultural; Quilombos

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ABSTRACT

This doctoral dissertation discusses sustainable tourism from the perspective of community and self-organization with focus on the social participation of young people from a black rural community (quilombo) located in the Vale do Ribeira region, São Paulo, Brazil. This territory is part of a mosaic of protected areas of the ecosystem of the Atlantic Forest Biome, one of the main biodiversity hotspots of the planet and recognized as Natural Heritage of Humanity by UNESCO. In the state of São Paulo, the region has critical indexes of socioeconomic development. However, the emergence of community-based tourism projects (TBC) has generated employment and income opportunities for rural areas, mainly to minimize the exodus of young people. To understand these dynamics, the design of interdisciplinary research between the applied social sciences, political sciences and environment was chosen from the theoretical-methodological framework of the Institutional Analysis and Development (IAD Framework), by considering tourism as a common ("tourism commons"). The analysis included the formation of social and human capital to understand the social participation of young people in tourism and the conservation of natural and cultural heritage. As a methodology, the case study of a qualitative approach was used, based on data collected through intense field work and simple context-situational observation, four semi-structured interviews with key actors (community leaders) and the application of 35 questionnaires to young male and females from 18 to 35 years old (10% of the sample population). For the analysis of the data, a descriptive and multivariate analysis was performed with the SAS software (Statistical Analysis Software), Cluster analysis and the IAD model. The results and discussions indicated the importance of the recognition and legal security of the collective use of the territory, which was legitimized by the history of the older leaders as a key point for the development of TBC in Ivaporunduva. The social organization (social capital) led to the interest of young people in tourism due to empirical learnings and improvement of capacity building (human capital). The female participation in tourism was geared towards mainly craftwork, gastronomy, general services for the accommodation at the lodging, sale of fresh products (e.g., organic banana), technical workshops, ecological trails and coordination of the tourism group. The young men were involved in planning and administrative functions of visitations, organizing and paying the working groups, contacting travel agencies and external organizations (public and private). Finally, this research is expected to contribute as a tool for the planning of tourism but in other contexts, whose challenge is to provide incentives for the permanence of youth in the rural areas. All this will involve the interaction of ecological and cultural learning across generations, in order to ensure constant evaluations of actions in tourism and natural-cultural heritage, as expressions of the memory and future of the next generations.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - CORREDOR SOCIOAMBIENTAL DO VALE DO RIBEIRA: TERRITÓRIOS QUILOMBOLAS ... 62 FIGURA 2- TRAJETO ATÉ O QUILOMBO DE IVAPORUNDUVA E O RIO RIBEIRA . 63 FIGURA 3 - IAD FRAMEWORK ... 78 FIGURA 4 - VISTA DO QUILOMBO DE IVAPORUNDUVA ... 91 FIGURA 5 - CAPELA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO DOS HOMENS PRETOS 92 FIGURA 6 - PRAÇA, ESCOLA MUNICIPAL, IGREJA E GRUPO DE VISITANTES ... 94 FIGURA 7 - POSTO DE SAÚDE DE IVAPORUNDUVA ... 94 FIGURA 8 - CASA QUILOMBOLA E QUINTAL ... 96 FIGURA 9 - PRODUÇÃO DE BANANA ORGÂNICA NA COMUNIDADE DE

IVAPORUNDUVA ... 97 FIGURA 10 - TRAVESSIA DO RIO RIBEIRA ... 98 FIGURA 11 - ESCOLARIDADE DOS JOVENS DA COMUNIDADE DE

IVAPORUNDUVA (2015-16) ... 106 FIGURA 12 - DENDOGRAMA DO MÉTODO DE WARD. DISTRIBUIÇÃO

SOCIOECONÔMICA DOS JOVENS DE IVAPORUNDUVA ... 112 FIGURA 13 - CIRCUITO QUILOMBOLA DO VALE DO RIBEIRA ... 121 FIGURA 14 - GRUPO DE VISITANTES E MONITOR AMBIENTAL (CAMISETA

AMARELA) ... 123 FIGURA 15 - TRILHA DO OURO REALIZADA POR MEIO DO RIO BOCÓ.

COMUNIDADE DE IVAPORUNDUVA ... 129 FIGURA 16 - VISTA DO BANANAL PARA A VILA DA COMUNIDADE DE

IVAPORUNDUVA ... 136 FIGURA 17 - ANTIGA ÁREA DE MINERAÇÃO (TRILHA DO OURO) ... 137 FIGURA 18 - CONSTRUÇÃO ARTESANAL DE CASA DE PAU A PIQUE ... 138 FIGURA 19 - PARTE DA CELEBRAÇÃO DA FESTA DE NOSSA SENHORA DO

ROSÁRIO DOS HOMENS PRETOS ... 147 FIGURA 20 - MODELO IAD PARA O TOURISM COMMONS DO QUILOMBO DE IVAPORUNDUVA ... 154 FIGURA 21 - PALESTRA INICIAL SOBRE A COMUNIDADE ... 156 FIGURA 22 - INFRAESTRUTURA DA POUSADA COMUNITÁRIA E CENTRO DE VISITANTES ... 157

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FIGURA 23 - REFEITÓRIO DA POUSADA COMUNITÁRIA E AS JOVENS

MULHERES QUILOMBOLAS ... 158 FIGURA 24 - ORGANOGRAMA DOS GRUPOS DE TRABALHO E COORDENAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO DO QUILOMBO DE IVAPORUNDUVA ... 163 FIGURA 25 - LIDERANÇAS E ORGANIZAÇÕES NÃO-GOVERNAMENTAIS

REUNIDAS NA VIII FEIRA DE TROCAS DE SEMENTES DAS COMUNIDADES DO VALE DO RIBEIRA ... 168

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - DESCRIÇÃO DAS ETAPAS DO TRABALHO DE CAMPO NO VALE DO RIBEIRA E IVAPORUNDUVA ... 82 QUADRO 2 - PERFIL (GÊNERO, IDADE, LOCALIZAÇÃO, OCUPAÇÃO) DOS

JOVENS DE IVAPORUNDUVA ... 100 QUADRO 3 - PRINCIPAIS PATRIMÔNIOS NATURAIS DE IVAPORUNDUVA

APONTADOS PELOS JOVENS ... 126 QUADRO 4 - AÇÕES DE CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO NATURAL DE

ACORDO COM O JOVENS ... 130 QUADRO 5 - PRINCIPAIS PATRIMÔNIOS CULTURAIS EM IVAPORUNDUVA PARA OS JOVENS ... 143 QUADRO 6 - ESTRATÉGIAS PARA A CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO

CULTURAL DE ACORDO COM OS JOVENS DE IVAPORUNDUVA ... 148 QUADRO 7 - PRINCIPAIS ATIVIDADES REALIZADAS NO ROTEIRO DE TURISMO DE IVAPORUNDUVA ... 161 QUADRO 8 - DIÁRIAS DE REMUNERAÇÃO PARA AS FUNÇÕES DESEMPENHADAS NO TURISMO DE IVAPORUNDUVA (PERÍODO OBSERVADO: 2015 - 2016) ... 165

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - AS PRINCIPAIS COMBINAÇÕES DE ATIVIDADES AGRÍCOLAS E NÃO-AGRÍCOLAS ... 103 TABELA 2 - PRINCIPAIS FONTES DE RENDA DOS JOVENS DE IVAPORUNDUVA ... 105 TABELA 3 - PRINCIPAIS CURSOS E CAPACITAÇÕES REALIZADOS PELOS

JOVENS ... 106 TABELA 4 - HISTÓRICO DE CLUSTERS – MÉTODO DE WARD (PERFIL

SOCIOECONÔMICO) ... 110 TABELA 5 - FREQUÊNCIA E TIPOS DE ACESSO ÀS TECNOLOGIAS E

INFORMAÇÃO (TIC´S) ... 118 TABELA 6 - RELIGIÕES ... 140 TABELA 7 - FREQUÊNCIA DE PARTICIPAÇÃO NAS ATIVIDADES RELIGIOSAS ... 141

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ... 18

1 INTRODUÇÃO ... 20

2 TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA (TBC) E O ENTENDIMENTO COMO UM BEM COMUM ... 27

2.1 DO TURISMO MODERNO À SUSTENTABILIDADE: O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA (TBC) ... 27

2.2 O TURISMO COMO BEM COMUM – “TOURISM COMMONS” ... 33

2.3 O FOCO NA JUVENTUDE RURAL E NA PARTICIPAÇÃO SOCIAL ... 36

2.4 O CAPITAL SOCIAL E O CAPITAL HUMANO COMO EXPLICAÇÕES PARA OS PADRÕES DE NTERAÇÃO NA GESTÃO DO TURISMO E DOS PATRIMÔNIOS ... 44

2.5 OS ATRIBUTOS CULTURAIS E ECOLÓGICOS DO TOURISM COMMONS: O PATRIMÔNIO CULTURAL E NATURAL ... 50

3 ÁREA DE ESTUDO, METODOLOGIA DE TRABALHO E A FORMA DE ANÁLISE DOS DADOS ... 61

3.1 A ÁREA DE ESTUDO: O CONTEXTO REGIONAL DO CORREDOR SOCIOAMBIENTAL DO VALE DO RIBEIRA ... 61

3.2 O TERRITÓRIO DO QUILOMBO DE IVAPORUNDUVA ... 68

3.3 METODOLOGIA DE TRABALHO ... 72

3.3.1 O Formato da Pesquisa e os Aspectos Éticos ... 72

3.3.2 O arcabouço teórico-metodológico da Análise Institucional e Desenvolvimento (Institutional Analysis and Development – ou, modelo IAD) ... 75

3.3.3 A unidade de análise: O turismo como bem comum na perspectiva dos jovens rurais quilombolas ... 78

3.3.4 Síntese do trabalho de campo ... 81

3.4 A ANÁLISE DOS DADOS ... 85

3.4.1 Banco de Dados ... 87

3.4.2 Análise de Cluster ... 87

3.4.3 Divisão dos Dados ... 88

4 ATRIBUTOS SOCIAIS DA COMUNIDADE E O FOCO NA JUVENTUDE RURAL QUILOMBOLA ... 90

4.1 A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE IVAPORUNDUVA ... 90

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5 ATRIBUTOS ECOLÓGICOS E CULTURAIS LOCAIS ... 120

5.1 CARACTERIZAÇÃO DO TURISMO NO VALE DO RIBEIRA E O QUILOMBO DE IVAPORUNDUVA: ATRATIVOS ECOLÓGICOS E CULTURAIS ... 120

5.1.1 Patrimônio Natural na percepção dos Jovens de Ivaporunduva ... 124

5.1.2 Patrimônio Cultural pelos jovens ... 135

6 PRINCIPAIS REGRAS E ACORDOS PARA A GESTÃO DO TURISMO ... 153

6.1 A GESTÃO DO TURISMO E OS JOVENS: ARENA DE AÇÃO ... 162

6.2 AS LIDERANÇAS E OS MAIS JOVENS ... 167

6.3 SÍNTESE DO CAPÍTULO: AS INTERAÇÕES E RESULTADOS COMO CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO: A CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO NATURAL-CULTURAL DE IVAPORUNDUVA PARA AS PRÓXIMAS GERAÇÕES ... 172

7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ... 180

REFERÊNCIAS ... 183

APÊNDICE I - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ... 208

APÊNDICE II – QUESTIONÁRIO PARA OS JOVENS DAS COMUNIDADES RURAIS DO VALE DO RIBEIRA – SP ... 212

APÊNDICE III – ROTEIRO DE PERGUNTAS – ENTREVISTAS SEMIESTRUTURADAS ... 221

APÊNDICE IV – QUESTIONÁRIO - DADOS TRANSFORMADOS UTILIZADOS PARA PARTE 1 ... 222

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APRESENTAÇÃO

A presente pesquisadora se aproximou dos temas de estudo relacionados ao turismo e à juventude desde seu envolvimento com pesquisas com comunidades rurais de agricultores no contexto da Floresta Nacional de Ipanema - Iperó, por meio da graduação em Turismo pela Universidade Federal de São Carlos (2006-2009), campus de Sorocaba. Iniciou suas atividades de pesquisa em parceria com a Profa. Dra. Viviane Melo Mendonça e, posteriormente, teve suas primeiras aproximações com as pesquisas da Prof. Dra. Célia Futemma por meio da bolsa de Treinamento Técnico I da FAPESP (Processo: 08/03544-3) vinculado ao Projeto Jovem Pesquisador (Processo: 07/53308-1) “Populações humanas locais e a conservação do patrimônio natural” coordenado pela orientadora. A partir desta oportunidade houve a possibilidade de realizar as primeiras imersões nos contextos de desenvolvimento rural e de organização comunitária de populações humanas locais (assentamentos rurais agrícolas) localizadas nas proximidades de unidades de conservação no Estado de São Paulo. Desse modo, surgiu o interesse da aluna em compreender o papel da juventude e dos fluxos de visitação local que foram estabelecidos naquele contexto. Assim, em 2009, a aluna realizou sua pesquisa de Iniciação Científica (IC-FAPESP) “O jovem e o turismo rural: o caso do assentamento Ipanema” (Processo: 09/05476-8), também vinculado ao projeto Jovem Pesquisador, já mencionado anteriormente, sob orientação e coordenação da Profa. Célia Futemma. Este projeto analisou o contexto de viabilidade do turismo rural nos assentamentos situados dentro e no entorno da Floresta Nacional de Ipanema (Iperó-SP), na percepção de 30 jovens dessa localidade.

Para dar continuidade aos estudos relacionados aos pequenos agricultores, aos jovens rurais e à análise dos recursos comuns, em 2010, a aluna já graduada, foi bolsista de Treinamento Técnico 3 da FAPESP (Processo: 10/07474-0), para dar sequência à Pesquisa Bibliográfica e Sistematização das Informações: Pequenos Produtores Rurais e o Manejo dos Recursos Naturais, desenvolvida na UFSCar (Sorocaba) e no NEPAM (UNICAMP). Todo esse envolvimento de pesquisa motivou a construção em parceria e a publicação dos artigos científicos e apresentação em congressos científicos, sempre com a temática envolvendo o turismo rural e a inserção da juventude.

Após essas experiências de pesquisa com a Profa. Dra. Célia Futemma, em comunidades rurais paulistas, e motivada pelo interesse relacionado ao desenvolvimento rural e o turismo, a presente pesquisadora buscou ampliar a sua formação acadêmica na temática dos estudos rurais. Em 2011, a mesma ingressou no Programa de Pós-Graduação em

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Desenvolvimento Rural (PGDR) da Faculdade de Ciências Econômicas (FCE) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Em Porto Alegre, no ano de 2013, a aluna se tornou Mestra em Desenvolvimento Rural com a dissertação intitulada “Projetos de Vida de Jovens Rurais: Caso do Roteiro Agroturístico "Acolhida na Colônia" em Santa Rosa de Lima – SC”, pesquisa financiada com bolsa da CAPES. Alguns trabalhos referentes aos resultados da dissertação já foram publicados em parceria com pesquisadores do Grupo de Pesquisa em Agricultura Familiar GEPAD/PGDR, como o Prof. Dr. Marcelo Conterato e a Profa. Dra. Carlise Schneider.

Dando sequência aos estudos acadêmicos e de volta a Campinas, em março de 2014 a pesquisadora ingressou como aluna de Doutorado no Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Sociedade vinculada ao NEPAM e ao Instituto de Filosofia, Ciências e Humanidades (IFCH) da UNICAMP. Assim, por já ter um histórico de pesquisas envolvendo o turismo de base comunitária e o envolvimento com a juventude, somando-se ao fato de haver uma boa relação entre orientadora e orientanda, esta tese foi orientada pela Profa. Dra. Célia Regina Tomiko Futemma, e co-orientada pela Profa. Aline Vieira de Carvalho, ambas pesquisadoras do NEPAM. Desse modo, a aluna também passou a integrar as discussões e colaborações junto ao grupo de pesquisa “Comunidades Rurais, Desenvolvimento Local e Conservação Ambiental” (CNPQ/UNICAMP) coordenado pela orientadora.

Por fim, destaca-se que esta pesquisa foi realizada em colaboração com a equipe da Universidade de São Paulo (USP) liderada pela Profa. Dra. Cristina Adams, que tem um histórico de colaboração com a Profa. Dra. Célia Futemma, em análises relacionadas à Ecologia Humana e em comunidades quilombolas do Vale do Ribeira, no Estado de São Paulo. Assim, pelo histórico de pesquisa apresentado, tanto pela presente pesquisadora como pela colaboradora, foi selecionada uma área de estudo no Vale do Ribeira, como o caso empírico da presente tese de doutorado. Ademais, segundo levantamentos iniciais de pesquisa, o Vale do Ribeira é uma região de grande potencial para inserção da temática da juventude e seu envolvimento com o turismo.

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1 INTRODUÇÃO

A nossa escrevivência não pode ser lida como 'canções para ninar os da casa grande', mas sim para incomodá-los em seus sonhos injustos (Conceição Evaristo)

O turismo é uma atividade complexa e um fenômeno sociocultural, que possibilita a vivência da alteridade entre residentes e turistas1 (CHAMBERS, 2000). Por meio do turismo dialogam as práticas econômicas, políticas, culturais e educativas, justamente por se revelar valores e costumes culturais da sociedade (URRY, 2001). Ao mesmo tempo, entende-se que o turismo se apropria dos espaços e dos territórios (CORIOLANO, 2006). Segundo Ignarra (2003, p.10) “o turismo engloba as atividades das pessoas que viajam e permanecem em lugares fora de seu ambiente usual durante não mais do que um ano consecutivo por prazer, negócios ou outros fins”.

Além disso, deve-se levar em consideração, nas análises sobre o setor: o turista, o tipo de turismo desenvolvido (o nicho de mercado); os prestadores de serviços e a infraestrutura básica para a recepção dos visitantes (as opções de hospedagem/alimentação/venda de produtos locais); as atividades de entretenimento (visitas técnicas, trilhas, a apresentação das comunidades); o controle dos fluxos de visitantes (quantidade de pessoas por período e atividade), a demanda turística, o governo e as comunidades (BENI, 2006; IGNARRA, 2003) para o planejamento sustentável do destino em médio e longo prazo.

Sabe-se que existe um enorme potencial para o desenvolvimento da atividade turística no Brasil, no entanto, em um contexto de desigualdades sociais, como produzir experiências de turismo sustentável para as populações humanas locais?

Segundo Beni (2006), o turismo é uma atividade eficiente para possibilitar novas perspectivas sociais por meio do desenvolvimento econômico e cultural, difusão das informações sobre as destinações e seus valores naturais e culturais, desenvolver a criatividade e o estabelecimento de contatos culturais através das viagens.

1 O termo turista significa visitantes temporários que permaneçam no mínimo 24 horas numa localidade fora de seu entorno habitual, ou seja, com a inclusão do pernoite. Também se faz referência à tipologia conhecida como excursionistas, como sendo os visitantes temporários que permaneçam menos de 24 horas num local fora de seu entorno habitual, ou seja, sem o pernoite. São também conhecidos como visitantes de um dia. Para este estudo será utilizado o termo turista ou visitante, sendo este segundo mais abrangente, já que se refere à pessoa que visita uma localidade, que não seja a sua residência, por qualquer motivo durante um período inferior a um ano (OMT, 2001, p.38; BENI, 2006).

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Dentro dessa conjuntura, esta tese discute o turismo de base comunitária (TBC) na perspectiva de turismo sustentável do Quilombo2 de Ivaporunduva, localizado no Vale do Ribeira no Estado de São Paulo, Brasil. As políticas ambientais e os diversos tipos de unidades de conservação presentes nesta área regulam restrições quanto ao uso e práticas de cultivo agrícola (ADAMS et al., 2013). Neste contexto, a atividade turística tem sido organizada por Ivaporunduva e em outras comunidades quilombolas interessadas na diversificação socioeconômica e de cunho sustentável.

Desse modo, o foco do trabalho foi direcionado à participação social dos jovens no turismo, sendo este analisado como um bem de uso comum (tourism commons) de acordo com os estudos internacionais de autores como Briassoulis (2012), Healy (1994;2006) e Yabuta (2011), que serão inseridos na seguir no item 2.2 - O Turismo como um bem de base comum - “tourism commons”.

Sabe-se que a juventude é uma categoria social fundamental para a continuidade dos processos de desenvolvimento rural3 (ABRAMOVAY et al., 1998; FAVARETO, 2007). Os jovens são importantes agentes de mudança em meio rural e urbano em atuação na organização das atividades agrícolas (agricultura e pecuária) e não agrícolas, no caso, o turismo (CARNEIRO, 2007). Os estudos sobre a juventude rural e a participação social (CASTRO; CORREIA, 2005) foram intensificados a partir da década de 1990 e destacam os jovens como protagonistas de suas realidades locais (DURSTON, 1997). Desse modo, nesta tese, buscou-se a análise das ações sobre o uso sustentável direcionado para a conservação do patrimônio natural e cultural através do TBC (BARTHOLO; SANSOLO; BURSZTYN, 2010) onde há a incidência de uma rica sociobiodiversidade4.

2 Conforme O´DWYER (1995), o sentido sobre a palavra quilombo assumiu novos entendimentos conforme a literatura como algo que se refere a grupos, indivíduos e organizações. Entretanto, segundo o autor, a identidade quilombola não pode ser definida pelo tamanho do grupo, mas pelo histórico de experiência vivenciada, trajetórias similares e que constituem a continuidade do próprio grupo de indivíduos. Portanto, são denominados como grupos étnicos conforme a antropologia já que possuem um tipo de organização que lhes conferem um pertencimento comum por meio de normas que indicam o sentido de agregação (ou exclusão) deste grupo. Mais explicações sobre quilombos serão apresentadas posteriormente, no Capítulo 3.

3 De acordo com Kageyama (2008), a discussão sobre o que é o desenvolvimento rural é ampla e inesgotável. Para a autora podem ser destacados alguns elementos que são consenso entre os estudiosos sobre esta noção, o primeiro é que o rural não é sinônimo de exclusivamente agrícola, o segundo é que o rural é multissetorial (pluriatividade) e multifuncional (funções produtiva, ambiental, ecológica, social), o terceiro ponto é que as áreas rurais têm densidade populacional relativamente baixa (o que pode mesmo constituir sua própria definição legal); o quarto ponto é que não há um isolamento absoluto entre os limites dos espaços rurais e das áreas urbanas. Estabelece-se desse modo as redes sociais e institucionais que interligam o rural e as cidades.

4 A sociobiodiversidade é uma noção recente que envolve o uso e manejo de recursos naturais junto com base no conhecimento e cultura das populações tradicionais e agricultores familiares (BRASIL, 2009). Conforme estudos de Balée (1993), Gomez-Pompa e Vasques-Yanez (1972), a manutenção dos recursos naturais, bem como o aumento da diversidade biológica em florestas tropicais é resultado do manejo realizado pelas populações

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Como recorte analítico, utilizou-se para a presente pesquisa a análise do TBC na perspectiva dos jovens de uma comunidade5 rural quilombola (com idades entre 18 a 35 anos), que participaram (ou não) da organização da atividade turística ou em outras atividades que apoiam o turismo, como por exemplo o artesanato, a produção agrícola e projetos socioambientais. A comunidade se desenvolveu principalmente por meio da agricultura de subsistência, com técnicas e sistemas agrícolas que foram transmitidos e aperfeiçoados pelas gerações dos remanescentes de quilombos e que continuam mantendo seus modos de vida, a partir do manejo ecossistêmico junto ao Bioma Mata Atlântica (ADAMS, et al.; 2013; FUTEMMA, MUNARI, ADAMS; 2015), sendo que a região do Vale do Ribeira foi considerada um dos principais hotspots de biodiversidade do mundo (MYERS, et al.; 2000).

Segundo Adams et al. (2013) é evidente a contribuição das comunidades tradicionais do Vale do Ribeira pelo fato de permanecerem inseridas ou em áreas de amortecimento de áreas protegidas pelos níveis de gestão municipal, estadual ou federal, cuja a sobreposição acarreta conflitos sobre a gestão dos recursos naturais, sobretudo, no que se refere em manter os remanescentes florestais da Mata Atlântica. Conforme Futemma et al (2015), Munari (2010), Ribeiro-Filho (2015) e Ianovali (2015), as comunidades quilombolas tem contribuído com a gestão socioambiental da região, sobretudo, pela manutenção de seus modos de vida tradicionais com a preservação de práticas culturais locais em conjunto com a agricultura de subsistência e com a organização comunitária que fortalece uma rede de atores sociais junto com entidades, organizações não-governamentais que se articulam e buscam alternativas sustentáveis para ampliação de renda e melhorias das condições de permanência nessas áreas rurais.

Para isso, as políticas estatais devem ser menos restritivas, promover melhorias e novas oportunidades na questão de manutenção dos modos de vida dessas comunidades (ADAMS et al.,2013). E um aspecto importante para a viabilização do turismo na comunidade de Ivaporunduva é a garantia de seu território coletivo Quilombola.

humanas ao longo de sua ocupação no território, incluindo assim a manutenção das espécies aos sistemas de uso e cultivo utilizado por elas e na transmissão destes saberes e por meio do conhecimento intergeracional.

5

Muitos teóricos tentaram definir a noção de “comunidade”. Dentre eles, podem se destacar a definição de Weber (1973, p. 140), onde comunidade seria “uma relação social quando a atitude na ação social – no caso particular, em termo médio ou no tipo puro – inspira-se no sentido subjetivo (afetivo ou tradicional) dos partícipes da constituição de um todo”. Além da forte característica de união por laços de amizade, parentesco e vizinhança (TÖNNIES, 1973). Entretanto, para Bauman e May (2001), “comunidade” seria um grupo de pessoas não claramente definidas nem circunscritas, mas, que concordem com algo que outras rejeitam e que, com base nessa crença, atestem algum tipo de autoridade. É uma disposição natural para estar junto e caracterizado como um elo espiritual. O acordo ou a disposição para tal é a base que sustenta todos numa comunidade. Os laços entre os sujeitos explicam quem são eles, seus códigos e obrigações que determinam seu pertencimento.

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Ivaporunduva foi a primeira comunidade remanescente de quilombo da região a obter, no ano de 1997, o reconhecimento como quilombo por meio do Relatório Técnico-Científico (RTC), que foi organizado pela Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (), (ITESP, 1998). Entretanto, a comunidade buscou a titulação de suas terras desde 1994 por meio de ação judicial. Depois, houve o reconhecimento no âmbito federal pela Fundação Palmares, no ano de 2000. No ano de 2003, iniciou-se os procedimentos oficiais para a titulação de uma parte do território com 672,28 hectares e, somente em 2010, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), no âmbito federal, completou a regularização de mais 2.035,12 hectares restantes para obtenção do registro de titularidade das terras (ISA, 2000)6. Todo esse processo foi consolidado pela forte articulação comunitária, que buscou amparo jurídico7 por meio de ação julgada no estado de São Paulo e, depois, confirmada pelo Tribunal Federal de São Paulo, o que garantiu a titularidade de suas terras com o registro coletivo realizado no cartório de imóveis de Eldorado Paulista, em nome da associação do quilombo de Ivaporunduva, somente em 2010 (ISA, 2010).

Entende-se, de tal modo, que o TBC se consolidou primeiro nesse quilombo, justamente, por essa condição inicial que garantiu a titulação de suas terras e, nessa perspectiva, consolidou as atividades produtivas (agrícolas e não-agrícolas) como parte do manejo sistêmico. Assim, o estabelecimento de regras e acordos (formais e/informais) da própria estrutura comunitária consolidou-se durante todo o processo de titulação e dar impulso para a auto-organização do turismo e a busca por melhores condições de permanência dos jovens na comunidade.

Para analisar o TBC na comunidade de Ivaporunduva, optou-se pelo método de estudo de caso por meio de uma abordagem qualitativa estruturada no arcabouço teórico e metodológico da Análise Institucional e Desenvolvimento - IAD Framework, que foi desenvolvido por Ostrom e sua equipe de pesquisadores da Universidade de Indiana (Indiana University Bloomington), Estados Unidos (OSTROM, 1990, 2005; OAKERSON, 1986; OSTROM; GARDNER; WALKER, 1994; HESS, 2008). A partir de diversas sínteses empíricas sobre os bens comuns e ação coletiva em diferentes contextos internacionais (principalmente de bens baseados em recursos naturais como a água, recursos florestais, terra, pastagens etc), optou-se por sua utilização para a análise do TBC por meio da perspectiva dos

6 O Brasil, até o momento, segue critérios de avaliação social e antropológico para analisar a ancestralidade das populações remanescentes de quilombolas, conforme indica a Convenção nº 169 sobre a questão dos Povos Indígenas e Tribais da Organização Internacional do Trabalho (OIT) (OIT, 2011).

7 Além disso, esse processo de luta e resistência dos quilombolas no Brasil foi legitimado pelo Artigo 68 dos Atos de Disposição Constitucional Transitória (ADCT), por meio dos artigos 215 e 216 da Constituição Federal de 1988 (ISA, 2010; ANDRADE; TATTO, 2013).

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novos comuns (New Commons), que nas últimas décadas envolve pesquisas sobre o uso da internet, dos bens culturais (Cultural Commons) e fenômenos sociais de interesse comum, como seria o caso do turismo em comunidades (OSTROM, et al, 1999; YABUTA, 2011).

Portanto, a escolha de Ivaporunduva como área de estudo se justifica por seu pioneirismo em atividades comunitário-coletivas que culminou na estruturação do TBC, iniciando atividades de visitação desde a década de 1990. Nos últimos anos, a atividade turística no quilombo se tornou mais frequente junto ao cotidiano comunitário e com uma infraestrutura física (pousada comunitária) para o recebimento dos visitantes, roteiros estruturados com foco nos atrativos naturais e culturais, por meio do trabalho dos monitores locais (jovens e adultos). Além disso, os moradores da própria comunidade atuam na gestão do turismo no território realizando os contatos com agências de turismo, organizações não-governamentais, com agentes públicos e privados (FIORAVANTI et al, 2015; MARTINS, 2015).

A pesquisa se justifica, portanto, por aliar as estratégias mais “sustentáveis” para a conservação ambiental junto com a função socioeconômica do turismo, que impulsiona oportunidades para a permanência de jovens quilombolas, justamente pelo turismo exigir aperfeiçoamentos na hospitalidade local para o desenvolvimento turístico em áreas rurais (MARTINS, FUTEMMA; 2013).

Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT), o turismo foi incluído junto das ações estratégicas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS´s) das Nações Unidas (ONU), Agenda 20130 (UNWTO, 2016). Na sequência a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), que declarou 2017 como o Ano Internacional do Turismo Sustentável (UNWTO, 2016), justamente pela oportunidade de contribuição da atividade, quando bem organizada, com a possibilidade de integração entre os três principais eixos da sustentabilidade - econômica, social e ambiental (UNWTO, 2016; ONU, 2015).

Desse modo, o turismo sustentável foi inserido como uma ferramenta capaz de promover localmente ações de conscientização ambiental, diminuição dos índices de pobreza, melhoria das práticas de conservação, proteção da sociobiodiversidade, bem-estar social e da valorização dos modos de subsistência das comunidades, igualdade de gênero, empoderamento das mulheres, segurança alimentar, acesso à educação para jovens, valores culturais e do patrimônio, assim como a paz e segurança entre outros aspectos dos direitos humanos, destacados na Agenda 2030 (UNWTO, 2016; ONU, 2015).

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Por fim, em 2018, é importante destacar a criação de uma plataforma de engajamento do turismo, criada pela OMT (Tourism4SDGs), que contou com o apoio da Secretaria de Economia da Suíça (SECO) com o foco específico de promover o turismo sustentável dentro do cumprimento das metas globais-locais até 2030 (UNWTO, 2018).

Neste sentido, a problemática suscitada buscou responder à seguinte questão: O Turismo Sustentável (em especial, o TBC), caracterizado pela auto-gestão, seria capaz de impulsionar os jovens quilombolas à contribuírem em ações efetivas para a conservação de seu patrimônio natural e cultural através da participação na atividade turística?

Desse modo, o objetivo geral dessa pesquisa foi a analisar, por meio do arcabouço teórico-metodológico da análise institucional (IAD), como se dá o processo de auto-organização do desenvolvimento do turismo como um bem de uso comum, tendo como foco a participação dos jovens. Como objetivos específicos foram delineados dois, sendo eles:

a) Discutir se o conceito de Tourism Commons pode ser aplicado no caso de práticas de turismo sustentável e de base comunitária.

b) Analisar a ação coletiva por meio da formação do capital social e humano entre os jovens e seu protagonismo na conservação do patrimônio natural e cultural através da prática do turismo de base comunitária (TBC).

Para responder às questões e aos objetivos, foi delineada a seguinte hipótese: o protagonismo dos jovens, construído a partir do capital social e do capital humano, mostra-se um elemento chave para viabilizar um turismo de base sustentável e comunitária.

O objeto de estudo focado na análise do TBC, como um bem de uso comum, na perspectiva da juventude quilombola. Entende-se que os jovens são fundamentais no processo de gestão futura do turismo e do patrimônio, por serem os futuros herdeiros, tanto do tipo de gestão turística realizada por suas comunidades, como das consequências do uso contínuo, para fins turísticos e impactos sobre o seu patrimônio cultural (material ou imaterial) e ao patrimônio natural, relacionado principalmente com o manejo ecossistêmico de florestas tropicais como a Mata Atlântica Brasileira.

As ameaças e pressões sociopolíticas sobre a conservação das florestas são inúmeras como, por exemplo, a perda e fragmentação de habitat, extração de madeira, fogo e caça e outras fatores, que juntos diminuem às áreas de florestas e acarreta mudanças regionais, sobretudo, com a perda de biodiversidade, diminuição de potencial de uso de serviços

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ecossistêmicos8e perda do patrimônio cultural (JOLY; METZGER; TABARELLI, 2014). Desse modo, o Vale do Ribeira apresenta uma ampla sociobiodiversidade, que atende aos interesses de visitação regional e local, principalmente pelos aspectos ambientais e culturais (como lugares, culinária, venda de produtos in natura, artesanato e manifestações culturais) (ANDRADE; TATTO, 2013). Tudo isso, somado à articulação e organização comunitária para a recepção turística, poderá trazer benefícios como emprego e renda para os jovens e suas famílias e, principalmente, empoderamento e melhorias de autoestima das comunidades quilombolas da região.

O turismo como uma atividade coletiva/comunitária vinculado aos princípios de desenvolvimento sustentável para esta região propicia uma imersão nas práticas do cotidiano das comunidades e, ao mesmo tempo, propicia aos visitantes experiências mais afetuosas com base no respeito à cultura, à diversidade e às tradições ali encontradas, bem como para a conservação da natureza. Para tanto, discorrer sobre práticas de desenvolvimento sustentável para os quilombos é essencial para a salvaguarda dos povos tradicionais, de seus territórios e de sua importância para a proteção dos bens culturais e naturais. Assim, inclui-se nessa pesquisa a questão do protagonismo dos jovens por meio do turismo, como uma forma de entender o planejamento das ações socioeconômicas, bem como dos processos intergeracionais usados para a construção do turismo comunitário e sustentável.

Para contemplar essas discussões e análises, a estrutura deste trabalho após a Apresentação e Introdução, seguirá a seguinte ordenação: Capítulo 2: “Turismo de Base Comunitária (TBC) e o entendimento como um bem de base comum”. Já o Capítulo 3 trará a Metodologia de Trabalho, a área de estudo e a forma de análise dos resultados. O Capítulo 4 apresenta os “Atributos da Comunidade”. O Capítulo 5 tratará dos “Atributos Culturais e Naturais”. O Capítulo 6 tratará das “Regras e dos Acordos para a gestão do turismo e o Capítulo 7, por fim, serão apresentadas as “Conclusões e Recomendações” desta tese.

8 A noção conhecida como serviços ecossistêmicos pode ser compreendido principalmente por abordagens abordagem das áreas de ecologia e da economia, principalmente a partir da década de 1980. No entanto, não é objetivo esgotar a conceituação do termo, mas apresentar uma compreensão geral. Desse modo, conforme o Millenium Ecosystem Assessment (MEA, 2003, p.5), os serviços ecossistêmicos (SE) são entendidos como benefícios (diretos e/ou indiretos) que as pessoas recebem dos ecossistemas, sendo categorizado em 4 grandes subdivisões: 1) Serviços de provisão, como por exemplo: comida, madeira, água, fibras, combustíveis, recursos genéticos e outros; 2) Serviços de regulação: regulação do clima, controle de doenças, prevenção de erosão, enchentes, degradação do solo e etc; 3) Serviços de suporte: processos naturais como formação de solos e os ciclos de nutrientes; 4) Serviços culturais: Benefícios não-materiais como: recreação/ecoturismo, valor espiritual, religioso, contemplativo, pertencimento ao local entre outros.

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2 TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA (TBC) E O ENTENDIMENTO COMO UM BEM COMUM

Meu maior medo é que os jovens não consigam mais contar histórias (Mia Couto)

Neste capítulo serão apresentados alguns pontos-chave sobre a temática do turismo de base comunitária (TBC) e o debate sobre o turismo como um bem de base comum (tourism commons). Depois, serão tratadas questões referentes à juventude rural e ao debate sobre a sua participação social e, por último, a questão do capital social e humano com base na conservação do patrimônio natural e cultural.

2.1 DO TURISMO MODERNO À SUSTENTABILIDADE: O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA (TBC)

O Turismo é uma atividade que vem sendo realizada pelos seres humanos em sociedade desde antigas civilizações, mas foi no século XX e após a Segunda Guerra Mundial que evoluiu e adequou-se ao capitalismo, transformando-se assim num fenômeno social e numa atividade econômica que possui como essência a imprevisibilidade, uma vez que não há como generalizar as experiências envolvendo visitantes e visitados (BARRETO, 2012; RUSCHMANN, 1997). O turismo integra a vida contemporânea, seja para sair de férias em busca de tranquilidade, ou para se obter novos conhecimentos com finalidades de estudos, ou até mesmo com objetivos específicos como fins de negócios (DENKER, 1998).

O turismo moderno, que atualmente se estende a cada vez mais adeptos, se tornou mais popular com a consolidação dos avanços científicos e tecnológicos, principalmente após a Revolução Industrial, sobretudo, com o progresso dos sistemas de informação, comunicação e transportes, diminuindo o tempo de viagens e deslocamentos (BARRETO, 2012; RUSCHMANN, 1997; BENI, 2001). Além disso, com a divisão do tempo de trabalho e tempo de lazer, as demandas por visitações locais regionais ou globais se tornaram mais frequentes no século XX e XXI. Incluem-se, assim, grandes transformações no campo do turismo, desde os aspectos negativos da forma massiva às novas concepções que englobam práticas com ações em prol da sustentabilidade, tendências de mercado e os desafios futuros (BENI, 2001; BARRETO, 1995).

Para esta pesquisa, utiliza-se o termo turismo diante das concepções que o levem ao desenvolvimento sustentável. Nesses moldes, é atribuída convencionalmente a expressão “turismo sustentável”, que foi utilizada pela primeira vez na Conferência da Organização Mundial do Turismo (OMT) realizada em Manila nas Filipinas, no ano de 1980. Depois, na

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Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNMAD), essa noção mais geral passou a ser referida como uma assimilação da noção de sustentabilidade apresentada pelo Relatório Brundtland (“Our Common Future”, traduzido como “Nosso Futuro Comum”). Por fim, já na Conferência da Terra (conhecida como Rio-92), o turismo passou a ser pensado em ações vinculadas ao desenvolvimento sustentável e, ainda, foi incorporado à Agenda 21 (OMT, 2003; KRIPPENDORF, 2001).

Atualmente, segundo dados da Organização Mundial de Turismo (OMT, 2017), no ano de 2016 o total de turistas no mundo ultrapassou a marca de 1,1 bilhão de pessoas. Ainda segundo esta entidade, espera-se que até 2030 as projeções ultrapassem a 1,8 bilhão de pessoas (OMT, 2017). Para os estudiosos do turismo, o debate sobre uma definição única para delimitar o que é a atividade turística, por si só, traz várias dificuldades devido aos múltiplos elementos que a compõem e, ainda, o que a distingue de outros serviços. Desse modo, para este trabalho aplica-se como sendo uma síntese do turismo, as orientações definidas pela entidade mundial de estudos e estatísticas para o turismo, ou seja, a definição da Organização Mundial de Turismo – OMT, diz que:

O turismo, enquanto fenômeno impulsionado pela demanda, refere-se às atividades dos visitantes e a seu papel na aquisição de bens e serviços. Também pode ser considerado a partir da perspectiva da oferta, e nesse caso o turismo passa a ser entendido como um conjunto de atividades produtivas concebidas para atender fundamentalmente os visitantes(OMT, 2008, p.1)

Contempla-se, desta maneira, um sentido existencial das viagens, que vão desde a expansão profissional até a busca de conhecimento como valores subjetivos e educacionais. Além disso, o turismo é um sistema complexo e demanda constantes processos de decisões9 por parte dos stakeholders - grupos de interesse como comunidades, visitantes, agentes públicos (gestores públicos) e privados (como Organizações Não-Governamentais). O turismo, de certo modo, exige dos espaços visitados uma preparação dos locais para a lógica de mercado por meio da oferta de produtos turísticos10 e da exigência pela qualidade na prestação de serviço, o que tende a criar algum nível de competitividade e concorrência de público tanto entre os produtos turísticos, como entre destinos regionais, nacionais e internacionais (BENI, 2006; KASTENHOLZ, 2011).

9 Tomada de decisão: Segundo Calado e Futemma (2006) existe um caminho conectando presente e futuro nas decisões construídas em comunidade pela continuidade das instituições, ou seja, novos e velhos padrões surgem num processo de interação e informação que levam a certas decisões por parte dos agentes do sistema. 10 Produtos Turísticos: É o conjunto composto por elementos tangíveis ou intangíveis (recursos ou atrativos), que

necessitam de uma infraestrutura turística (placas sinalizadoras, roteiros e outros tipos), infraestrutura básica (como, por exemplo, água e luz elétrica), divulgação e gestão (BENI, 2006).

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Como objeto de estudo, o turismo foi inserido no campo de estudos das ciências sociais aplicadas, no entanto, diversas disciplinas tratam da questão do turismo como a Administração, a Sociologia, a Economia, a Antropologia, a Geografia, a Psicologia, a História e a Ecologia entre outras áreas de estudo. Assim,caracteriza-se por uma abordagem inter e multidisciplinar e buscando a integração como sendo uma temática transdisciplinar (DENKER, 1998; REJOWSKI, 1996).

Os estudos do início do século XIX e, principalmente, da década de 1990, foram fortemente vinculados com abordagens sistêmicas, voltados aos aspectos administrativos e operacionais da atividade, e depois rumou aos estudos sociais. Desse modo, o turismo carece de estudos interdisciplinares que buscam integrar os amplos entendimentos sobre suas dinâmicas na sociedade e dos inter-relacionamentos entre produtos e serviços (mercado), tendo como base uma prática sociocultural (KRIPPENDORF, 1987; MOESCH, 2000; COOPER et al., 2001).

No entanto, os estudos mais recentes apontam para a necessidade do foco no planejamento do turismo para avaliar os diversos impactos negativos e positivos gerados pela atividade turística. Até meados dos anos de 1980, o turismo não envolvia nenhuma preocupação prévia com relação aos problemas ambientais. Com o aumento dos interesses dos turistas pela visitação em áreas de proteção natural e de valor cultural, o turismo começou a desenvolver novos nichos de mercado e segmentação, no qual empresas e comunidades começaram a repensar o turismo como uma atividade estratégica e potencial para a busca do desenvolvimento sustentável (RUSCHMANN, 1997).

Destaca-se, para esta pesquisa, a perspectiva de um turismo de base comunitária (TBC) como sendo uma tipologia de turismo sustentável. Conforme a Organização Mundial de Turismo (OMT, 2003, p. 24) define, esta modalidade deve “atender às necessidades dos turistas de hoje e das regiões receptoras, ao mesmo tempo em que protege e amplia as oportunidades para o futuro”. Algumas outras denominações ou modalidades de turismo como o ecoturismo, o turismo rural, o turismo de aventura, o agroturismo, turismo cultural e outros, passam a incorporar a noção de sustentabilidade para além de atender as necessidades econômicas e sociais que vinculam a importância de se buscar e garantir a qualidade de vida das populações humanas e, prioritariamente, manter a integridade dos recursos naturais e culturais (OMT, 2003).

A sustentabilidade é desejada nos destinos turísticos com fins de proteção de áreas naturais e com forte interesse de conservação ambiental. Deste modo, busca-se um desenvolvimento integral e de avaliação contínua das áreas visitadas como uma ferramenta de

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educação e de finalidade pública. Para tanto, o manejo comunitário vinculado à proteção da diversidade ambiental da fauna e flora deve ser combinado com a manutenção da diversidade sociocultural pela tradição oral e da memória, já que estas quando combinadas na oferta turística11 são as comunidades as detentoras do território e as responsáveis pelo turismo (VARINE, 2012). Logo, os impactos negativos desta atividade podem ser administrados pelos stakeholders, sobretudo, unindo esforços para minimizar os níveis de pobreza e da melhoria da renda local, sendo o turismo uma das atividades econômicas que mais gera empregos por capital investido (LICKORISH; JENKINS, 1997).

No entanto, trabalhar com o turismo numa perspectiva sustentável não é uma tarefa fácil. Consiste num constante esforço entre parcerias para o monitoramento e a avaliação, tanto na dinâmica interna (comunitária) como externa (organizações não-governamentais – ONGs -, políticas públicas, etc.). Para isso, o turismo estabelece um constante esforço na tomada de decisão, tanto do componente econômico, como no manejo dos recursos naturais (ex. água e florestas), gerando estímulos de agregação de valor aos patrimônios comunitários por meio dos intercâmbios de conhecimentos entre visitantes e comunidades receptoras (CORIOLANO, 2003; MARTINS; FUTEMMA, 2012; 2013).

Desta forma, a elaboração de políticas públicas adequadas à realidade local e direcionadas à sustentabilidade no turismo é reforçada pelo alinhamento com as metas globais de desenvolvimento. No entanto, cabe ressaltar, que embora a terminologia “turismo sustentável” seja utilizada em documentos de entidades de reconhecimento mundial como ONU, a OMT, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS) e o Banco Mundial (World Bank), na prática, sua efetivação ainda está longe de ser plenamente sustentável.

Sobre isso, Butler (1999) diz que há um problema de incapacidade em definir, entre os próprios agentes envolvidos com o turismo, o que de fato pode ser considerado como uma prática sustentável e se realmente podemos chegar a tal patamar. Para este autor, há uma ambiguidade no uso do termo, já que qualquer forma de turismo pode ser sustentável para alguém, justamente pela imprecisão do conceito. A sustentabilidade, além de descrever um ideário, um processo, pode ser aplicável a um produto, como é comumente realizado no sentido de apropriação mercadológica de “produtos eco” e/ou de certificados como “verdes”,

11 Oferta Turística corresponde ao conjunto de bens e serviços que possam estar disponíveis aos turistas, ou seja, componentes que são facilitadoras para conseguir realizar uma viagem ou visitação. Envolvem um produto turístico (a motivação), bem como os serviços complementares de agências de viagens, bares e restaurantes, estradas entre outros facilitadores (BENI, 2006).

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mas que não passam de mais uma alusão comercial do que de fato uma preocupação com a realidade local (greenwashing).

Neste sentido, para este estudo em específico, optou-se pela denominação mais próxima de práticas turísticas sustentáveis, e pela adoção da noção de turismo de base comunitária (conhecido pela sigla - TBC). Esta noção de turismo foi proposta por Murphy (1985), com a utilização da expressão em inglês “community-based tourism”. De acordo com este autor, o TBC pode ser viável pela adoção de uma abordagem ecossistêmica, que avalie a forma como os visitantes interagem com as comunidades locais, nas experiências que irão compor um produto turístico, por meio de atrativos turísticos naturais e culturais.

A principal característica desse tipo de turismo é compreender as dimensões humanas e, sobretudo, as raízes culturais, que numa perspectiva antropológica é calcada no diálogo equitativo entre iguais por meio das interações promovidas no encontro intercultural dos visitantes interessados em conhecer e aprender com as dinâmicas locais das comunidades receptoras (MALDONADO, 2006). Assim, o TBC apóia-se numa abordagem de planejamento turístico “bottom up” e não mais “top-down” como se costuma ser elaborado nas políticas públicas de turismo convencional, conforme Murphy (1985). Desse modo, espera-se que o TBC se molde ao bem-estar e a participação mais autônoma das comunidades locais.

Concordando com Bursztyn, Bartholo e Delamaro (2009), o TBC é compreendido por seus padrões interpessoais na organização dos serviços turísticos oferecidos pelas comunidades. Em outras palavras, isso quer dizer que deve haver interlocução por meio da fala. Este é o canal que conecta as vivências dessas comunidades com o sentido simbólico de seu pertencimento e de como isso é transmitido na interação com o outro – os autores em questão chamam isso de uma atitude dialógica. Entretanto, de modo geral, os mesmos autores observaram que muitos dos projetos de TBC foram financiados em países em desenvolvimento (como o Brasil, Costa Rica e China, entre outros), e o sucesso desses dependeu integralmente do monitoramento e da avaliação constante dos impactos do turismo no cotidiano das comunidades. Por isso, os autores reforçam a necessidade de esforços acadêmicos que possibilitem medir, registrar e relatar os reais benefícios do turismo na conservação ambiental e na organização comunitária (BROHMAN, 1996; SCHEYVENS, 2002).

Por outro lado, nos estudos de Blackstock (2005), o TBC foi criticado como uma noção “utópica”, já que deveria priorizar os seguintes passos: a) o turismo deve ser fundamentado na comunidade; b) não deve ignorar as dinâmicas internas; c) deve estar atento

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às influências externas, sobretudo, em processos que possam evidenciar questões relacionadas às desigualdades sociais como, por exemplo, a predominância de empresários e/ou de alguns membros externos à comunidade na centralização do controle local.

Todavia, com base nas experiências de TBC e nas iniciativas que consolidaram a autogestão comunitária e as parcerias entre os agentes, a sustentabilidade mesmo que utópica passa a ser uma inspiração importante à regulação dos objetivos do turismo. Assim, o TBC tende a acatar mais aos interesses comunitários vinculados aos seus próprios valores simbólicos e de pertencimento do que consentir as interferências do capital privado e externo (JAMAL; GETZ, 1995). Desse modo, é recomendado que o TBC não concorra com outras atividades tradicionais das comunidades (como por exemplo: agricultura, pesca, extrativismo e outras), mas que seja complementar e potencialize para que estas atividades sejam valorizadas, de maneira que garanta a sobrevivência e os saberes ancestrais dessas comunidades (MALDONADO, 2010).

De fato, o turismo pode deflagrar vários efeitos negativos, quando mal gerido e pouco planejado, como situações que vão desde o acirramento de conflitos internos, ao enfraquecimento da coerção social e aculturação. Entretanto, comunidades mais organizadas têm procurado reduzir estes impactos negativos (JAMAL; GETZ, 1995) e buscam melhorias na qualidade de serviços prestados ao mercado turístico, seja por meio da capacitação de profissionais da própria comunidade, seja pela busca de atividades que resgatem e ressignifiquem a sua própria identidade12 cultural.

Portanto, o processo de inserção do turismo numa comunidade, normalmente, enfrenta possibilidades de resistência interna e de constantes questionamentos sobre seus efeitos futuros e consequências para a própria continuidade da comunidade. O desenvolvimento do TBC procura fortalecer as instituições locais e as questões de participação social, por isso, considera-se numa perspectiva de análise das instituições esse tipo de turismo como um bem ou serviço de base comum. Neste sentido, evoca-se nesta tese a necessidade de se problematizar o sentido de participação dos indivíduos na autogestão do turismo como sendo uma atividade compartilhada, que é mencionado pela expressão em inglês como tourism commons (BRIASSOULIS, 2002; HEALY, 2006; YABUTA, 2011).

12 De acordo com Erikson (1976, p.124) por identidade, grosso modo, pode se entender as questões relacionadas ao self, ou seja, quem é a pessoa, quais seriam seus valores e objetivos na vida. Assim, a identidade tende a ser constituída por fatores intrapessoais, abarcando as capacidades e a personalidade do sujeito, além de fatores de identificação com o outro ou grupo social e, também, fatores externos e ambientais, bem como tendências socioculturais.

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2.2 O TURISMO COMO BEM COMUM – “TOURISM COMMONS”

Os recursos de uso comuns são definidos como aqueles recursos onde pode existir a possibilidade de subtração do bem comum por parte de um usuário e/ou grupo, onde pode ocorrer uma redução de disponibilidade desses recursos para outros usuários do sistema e a possibilidade de exclusão de usuários do acesso ao recurso (como por exemplo, água, ar, sistema de pesca, recursos madeireiros etc) (BROMLEY 1991; OSTROM, 1990). Segundo Ostrom, Gardner, Walker (1994), o recurso comum pode ser um recurso natural ou um bem produzido pelo ser humano, cujas unidades podem sofrer subtração e, por isso, essas unidades subtraídas não estarão mais disponíveis para potenciais usuários ou beneficiários. Além disso, a exclusão de potencial usuários ou beneficiários é difícil e de alto custo (p.ex., custo social, econômico, político, entre outros).

O manejo dos recursos naturais comuns tem como pano de fundo as situações de dilema social indo, portanto, além das questões econômicas. No cotidiano das ações de tomada de decisão, cada indivíduo tende a esperar pelos benefícios que poderá obter com as contribuições dos outros, o que, grosso modo, foi considerado por Olson (1965) como sendo “oportunismo”. Para este autor, o resultado que socialmente poderia ser construído como melhor alternativa se daria, na melhor das hipóteses, a partir dos esforços individuais combinados numa situação onde todos cooperassem. Sobre isso, em sua análise, evidencia-se que ninguém foi motivado a cooperar de modo independente com os demais, ou ainda, houve a total ausência de cooperação por parte dos usuários.

De fato, os dilemas sociais envolvem a questão de que os resultados coletivos podem gerar lucros para todos os participantes, entretanto, nada garante que os participantes vão atingir uma solução comum. Portanto, os dilemas sociais envolvem o constante conflito entre a racionalidade individual e os melhores resultados para um grupo (VATN, 2005).

Neste sentido, com estudos iniciados na década de 1980, houve novos esforços por meio das contribuições da cientista política Elinor Ostrom (1990) e os trabalhos de MacCay e Acheson (1987); Oakerson (1986); Ostrom, Gardner e Walker (1994), Berkes (1985), Davis (1984) e outros acadêmicos, que obtiveram um envolvimento maior com pesquisas de campo e com evidências empíricas das diversas situações envolvendo os dilemas dos comuns e a abordagem voltada ao campo da Economia Institucional.

A análise institucional pode complementar o quadro teórico com foco na questão das escolhas. O economista Douglas North (1990) sugere a inclusão da análise do comportamento humano e dos custos de transação. A partir desta abordagem, Ostrom (1990) complementou

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