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3.3 METODOLOGIA DE TRABALHO

3.3.1 O Formato da Pesquisa e os Aspectos Éticos

O formato escolhido para esta pesquisa foi o estudo de caso (Yin, 2001). Esse tipo de procedimento envolve uma intensa análise das situações, sobretudo, das informações e da coleta de dados oriundos de intenso trabalho de campo (investigação empírica) de um dado fenômeno social e dos desdobramentos das situações a depender de um contexto específico.

Entretanto, sabe-se que o estudo de caso tende a sofrer mais por ser um método aberto às influências dos sujeitos pesquisados. Porém, coube à pesquisadora estar atenta ao planejamento das etapas de campo, como coleta das informações e a sistematização, para diminuir possíveis críticas referentes ao rigor metodológico (GIL, 1999). Outra limitação referente aos estudos de caso diz respeito às questões de generalização, justamente, por se tratar de um caso único. No entanto, reforça-se que quanto aos objetivos desta pesquisa, a escolha do estudo de caso oferece condições mais favoráveis na identificação aprofundada de fatores, respostas e da problematização sobre a unidade de análise proposta para este estudo.

Também, para esta pesquisa adotou-se a abordagem qualitativa, já que segundo Minayo (2000), isso implica a busca de respostas conforme as percepções entre o mundo natural e social dos sujeitos analisados, ou seja, envolve a percepção dos entrevistados sobre os temas, as ações desses sujeitos históricos mediante a sua realidade, e tudo isso irá envolver, portanto, valores, atitudes e motivações nas ações (FLICK, 2009).

Sobre os aspectos éticos direcionados aos envolvidos nesta pesquisa, é importante ressaltar que houve uma fase prévia de recrutamento das comunidades interessadas em participar desta pesquisa, de modo que foram feitas reuniões de apresentação da proposta e aproximações de contato prévio com as lideranças comunitárias por meio dos apoios em

campo do Grupo de Pesquisa de Ecologia Humana e Florestas Neotropicais, coordenado pela Profa. Dra. Cristina Adams (EACH/IEE/USP) e pela equipe técnica do Instituto Socioambiental (ISA). Essa última é uma organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP), fundada em 22 de abril de 1994, com sede em São Paulo e sub-sede em Brasília (DF). Atua diretamente na luta por direitos socioambientais com escritórios regionais em Manaus (AM), Boa Vista (RR), São Gabriel da Cachoeira (AM), Canarana (MT), Altamira (PA). No Vale do Ribeira possui um escritório no município de Eldorado (SP) e sua atuação é importante no contexto de estudos, pesquisas, projetos e programas socioambientais em parceria com as comunidades tradicionais do Vale do Ribeira (ISA, 2018).

Assim houve uma primeira aproximação com a área de pesquisa (Fase Pré- Exploratória, descrita no Quadro 1, no item 3.3.4), o quilombo de Ivaporunduva, por já possuir uma infraestrutura turística mais consolidada e, por já ter um contato prévio feito pelas profas. Cristina Adams e Célia Futemma. Posteriormente, buscou-se a possibilidade de incluir os quilombos de São Pedro e Sapatu (locais que estavam iniciando a fase de estruturação da visitação turística). No entanto, após sequências de negociações iniciadas em parceria com as comunidades, ISA e grupo de pesquisa optou-se pelo recorte analítico para a aplicação desse estudo de caso apenas no quilombo de Ivaporunduva para o cumprimento do cronograma de pesquisa e desenvolvimento dos trabalhos de campo.

A partir dessa articulação prévia foi concedida a autorização coletiva por meio da assinatura do “Termo de Consentimento Livre e Esclarecido” (TCLE) (APÊNDICE I) para o desenvolvimento desta pesquisa no Quilombo de Ivaporunduva no Vale do Ribeira.

Além disso, durante a fase de elaboração deste projeto, o mesmo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), por meio da Plataforma Brasil (PLATBR). Assim, este projeto que já vinha seguindo os princípios direcionados pela FAPESP, no que se refere às Boas Práticas Científicas, e também recebeu a aprovação final do CEP da UNICAMP, com a identificação do CAAE nº 48871315.8.0000.5404, sob-responsabilidade da presente pesquisadora.

Além disso, com base na organização das respostas coletadas com os jovens, foi elaborado um banco de dados que permitiu fazer as primeiras inferências das respostas, organizadas em variáveis quantitativas (numéricas) e qualitativas (categóricas). Responderam ao questionário elaborado 35 jovens rurais quilombolas com idade entre 18 e 35 anos, conforme a delimitação de faixa etária proposta na seção 3.3.3, deste capítulo. Desse modo, este jovens faziam parte de uma população total estimada em 347 indivíduos, ou seja, 10% da

amostra populacional dos moradores do quilombo de Ivaporunduva (SANTOS, TATTO, 2008), numa amostra não probabilística intencional (ALMEIDA, 1989).

Os questionários (MINAYO, 2000; MARCONI; LAKATOS, 2010) foram aplicados em formulários que foram preenchidos pela pesquisadora em uma das etapas de seu trabalho de campo, porém foi sentido um desconforto maior por parte dos entrevistados em dar suas respostas tendo seu áudio gravado. Assim, os questionários (APENDICE II) foram aplicados em formulários de papel que foram preenchidos e depois os dados foram repassados para formar um banco de dados, cujo nomes dos sujeitos participantes da pesquisa foram ocultados sendo referidos por meio de um ID (codificação) com numeração de 1 a 35, para evitar sua identificação.

Para saber mais sobre os jovens e seu contexto comunitário foram realizadas entrevistas semiestruturadas, conforme o roteiro (APÊNDICE III) com algumas lideranças da comunidade num total de quatro entrevistas, sendo estas gravadas em áudio e transcritas (MINAYO, 2000). Esse tipo de técnica também condicionou o agendamento de acordo com a disponibilidade dos entrevistados, permitindo respeitar, assim, o horário determinado por eles. Dessa forma, foi estabelecido um cronograma de etapas compreendendo o período designado para as transcrições literais e tabulação por resposta dada para a análise por meio de sínteses de cada resposta agrupadas por categorias temáticas.

De modo complementar à aplicação dos questionários e entrevistas, utilizou-se mais três técnicas para a produção de informações: a pesquisa documental, a observação- participante e o diário de campo.

A pesquisa documental permitiu ter o acesso a produção científica de terceiros, relatórios técnicos, publicações de organizações ligadas ao tema da pesquisa e contexto empírico, legislação jurídica, estatísticas oficiais, fotografias, vídeos e documentários (MAY, 2004; OLIVEIRA, 2007). A busca, a organização, a leitura e interpretação desses documentos foram essenciais compreender o contexto oficial da área de estudo e direcionou maiores cuidados com a estruturação dos questionários e entrevistas (COTANDA et al., 2008).

Já a observação-participante foi utilizada como recurso de análise para tentar perceber as ações, sequência dos eventos, como os indivíduos se relacionam e seus respectivos papéis desempenhados em grupos sociais (MAY, 2004). A observação participante tem um papel central como uma das técnicas de pesquisa do método etnográfico, sendo, em síntese, a inclusão da experiência do pesquisador vivenciando as ações junto com os indivíduos observados, permitindo um melhor entendimento da realidade empírica (MALINOWSKI, 1978).

O diário de campo foi utilizado como instrumento para as anotações diárias, registros de declarações e interpretações sobre o objeto de modo descritivo. É uma fonte primária para utilização, em análises posteriores, das informações observadas durante a pesquisa empírica (MALINOWSKI, 1978; TRIVIÑOS, 1987). A utilização dessas técnicas citadas colaborou com a formação de um extenso banco de imagens (fotografias), que auxiliou o processo de análise e a descrição dos eventos no trabalho de campo.

Por fim, para conseguir cumprir com os objetivos desta pesquisa foi utilizado o arcabouço teórico e metodológico proposto dentro da síntese formulada pelo modelo IAD Framework (OSTROM, 1999) e outros colaboradores, além da junção complementar às outras discussões teóricas como do capital humano e social, noções conceituais que delineamos como essenciais no reforço da gestão sustentável dos patrimônios culturais e naturais referentes ao quilombo.

Tudo isso, compôs os entendimentos sobre a gestão do turismo numa perspectiva de base comum ou comunitária e dos jovens como protagonistas de ações socioambientais. Assim, a apresentação dos resultados será exposta no desenvolvimento da sequência de organização dos próximos capítulos (4, 5, 6 e 7). Estes resultados derivam da decomposição das componentes de análise vinculadas à estrutura proposta pelo arcabouço teórico - metodológico, que será explicado no próximo item.

3.3.2 O arcabouço teórico-metodológico da Análise Institucional e Desenvolvimento