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Nesta seção, consta uma descrição sobre os jovens quilombolas e suas principais características. Assim, gerou-se o QUADRO 2 (abaixo) com a o código numérico de cada jovem entrevistado (n=35), seguido de sua identificação (ID) e a divisão por gênero (JM – Jovem Mulher ou JH – Jovem Homem); idade (18-35 anos), localização na comunidade (ponto de referência), a principal ocupação e algumas informações adicionais.

QUADRO 2 - PERFIL (GÊNERO, IDADE, LOCALIZAÇÃO, OCUPAÇÃO) DOS JOVENS DE IVAPORUNDUVA nº ID/ Gênero Idade Localização/Ponto de Referência Ocupação/Profissão/ Informações

1 ID1_JM 34 Córrego Grande Assistente de cozinha pousada 2

ID2_JM 35 Córrego Grande Agricultora/Assistente de cozinha pousada

3

ID3_JH 21 Travessia da Pista Bar/Centrinho ou Comunitário/Segurança na Pousada Agricultura (Banana)/Monitor 4

ID4_JM 22 (Perto da Pousada) Córrego Grande Agricultura (Banana)/Assistente de cozinha pousada 5

ID5_JM 19 (Perto da Pousada) Córrego Grande Assistente de cozinha pousada 6

ID6_JM 28 (Perto da Pousada) Córrego Grande Assistente de cozinha pousada/ Monitoria 7

ID7_JM 20 Córrego Grande

Assistente de cozinha pousada/ Monitoria do Projeto de Reflorestamento do ISA 8

ID8_JM 35 Próxima da Pousada (Antes da Ponte)

Agricultura (Banana)/ Assistente de Cozinha/ vendas de produtos de

9

ID9_JM 32 Na estrada de Iporanga

Voluntária em algumas ações comunitárias (ex. café e almoços no

galpão) 10

ID10_JM 35 Rio Bocó

Não participa das atividades de turismo/ voluntária em algumas ações

comunitárias (ex. café e almoços no galpão)

11

ID11_JM 19 Rio Bocó Assistente de cozinha/ Monitora de Turismo/Artesanato

12 ID12_JH 19 Rio Bocó Agricultor/Artesanato

13 ID13_JM 24 Rio Bocó Agricultura/Não participa do turismo 14

ID14_JM 35 Rio Bocó

Agricultura (Banana)/Monitora de Turismo/ Conselho do Parque

Intervales 15

ID15_JM 25 Cortesia

Agricultura (Banana e verduras)/Venda de alimentos para

pousada 16

ID16_JM 33 Cortesia (perto da pedreira)

Agricultura/Cozinheira na Pousada/Artesanato/Venda alimentos

para pousada 17

ID17_JM 28 Centro da Vila Faxina na Pousada/Assistente de Cozinha 18

ID18_JM 25 Centro da Vila (Posto

de Saúde) Dona de casa/Artesanato 19

ID19_JM 35 Centro da Vila (Posto de Saúde) Faxina na Pousada 20

ID20_JH 32 (Descendo a praça) Centro da Vila Faz bicos/Roça/trabalha em rádio 21

ID21_JH 18 Centro da Vila

Auxilia no som (Eventos)/ Monitor Ambiental (esporádico)/artesanato/

banana 22

ID22_JH 18 Centro da Vila Agricultura/monitor local/Auxilia no som (eventos)

23

ID23_JM 29 Perto do Campo de Futebol Agricultura (Autoconsumo)/Não participa do turismo 24

ID24_JH 25 Centro da Vila (Posto

de Saúde) Agricultura/Monitor de turismo 25

ID25_JH 25 Pista produtos/ Coordenador do GT Turismo Agricultura (Banana)/Venda de 26

ID26_JM 31 Bar/Atrás da Igreja/ Centro da Vila

Assistente de cozinha (Eventual)/Faz bolos para café da manhã (pousada) 27

ID27_JM 25 (Próximo da Igreja) Centro da Vila Monitoria de Turismo (Palestra sobre Bananal)/Artesanato 28

ID28_JM 25 (Próximo da Igreja) Centro da Vila Assistente de cozinha/artesanato 29

ID29_JH 29 Centro da Vila Professor (Estado)/Agricultor (Banana)/Monitor Ambiental

30

ID30_JM 34 No caminho entre pousada e a vila

Professora/Agricultora/Artesanato/ Monitora Ambiental 31

ID31_JH 31 Córrego do Bocó

Monitor Ambiental, Turismo de Aventura, Ecoturismo (atua no quilombo e na Caverna do Diabo) 32

ID32_JM 28 Centro da Vila

(Próximo da Igreja) Agente de Organização Escolar 33

ID33_JM 27 Centro da Vila (Posto de Saúde)

Agricultura/Monitor ambiental /artesanato

34

ID34_JH 20 Sentido campo de Futebol Pupunha)/ Segurança na Pousada Agricultura (Banana e Palmito 35

ID35_JH 35 Rio Bocó

Coordenador do GT Turismo/Monitor Ambiental comunitário e do Parque

Estadual Caverna do Diabo FONTE: Elaborado pela autora.

Conforme o QUADRO 2, a predominância de indivíduos concentrados em duas idades específicas, sendo (6) seis entrevistados com idade de 25 anos (17,15 % do total) e outros (6) entrevistados com 35 anos (17,15% da amostra). Já com relação à distribuição da amostra por gênero, 31,43% dos entrevistados (11 indivíduos) eram do gênero masculino predominando o gênero feminino, em 68,57% (24 mulheres) da amostra.

A questão das atividades agrícolas (exemplo, agricultura e pecuária) e não-agrícolas (exemplo, turismo e artesanato) foi analisada a partir da unidade familiar desses jovens para a formação de tipologias sobre a combinação dessas atividades, conforme a frequência de sua ocorrência. Os jovens mencionaram em suas respostas 14 tipologias por meio de diferentes combinações. A combinação que mais vezes foi mencionada, com 25,7%, se refere à junção das seguintes: roça de subsistência + criação de animais + fruticultura (predominância da banana) + venda de produtos agrícolas (in natura) + turismo + artesanato, ou seja, são realizadas a combinação de seis (6) atividades em seu sistema produtivo simultaneamente (Tabela 1).

Quanto à formação da renda quilombola, os jovens mencionaram como principal renda a venda da banana orgânica (14,3%). Desde a década de 1960, o cultivo de variedades de banana é predominante por meio de produção agrícola convencional (ou seja, com o uso de pesticidas e agrotóxicos) no Vale do Ribeira. Desse modo, a venda da produção ocorria por meio do intermédio de atravessadores e os lucros eram menores em comparação com os ganhos atuais dos quilombolas que passaram ao sistema de cultivo da banana orgânica certificada (PEDROSO et al., 2007).

No ano de 1998, a partir de projetos de desenvolvimento sustentável com o ISA e com a compra de equipamentos (caminhão, galpão de embalagem, trator, caixas para embalagens) para superar os problemas de comercialização, a comunidade se voltou ao desenvolvimento orgânico, que seria mais rentável e atenderia a legislação ambiental, uma vez que o território quilombola está dentro de uma área de Mata Atlântica que não pode ser eliminada para o desenvolvimento agrícola sem autorização (PEDROSO et al, 2007).

Atualmente, além da mudança no manejo e no sistema produtivo incorporando técnicas de produção orgânica nas roças, a produção conta com uma certificação de produção orgânica conferido pelo Instituto Biodinâmico (IBD), que é avaliada periodicamente.

A atividade referente à roça de subsistência foi mencionada em 13 tipos diferentes de combinações, já a criação de animais também esteve presente em 13 tipos de variações (predomínio da criação de galinhas), depois, em terceiro lugar, o turismo foi mencionado em 10 tipos de combinações, conforme a TABELA 1, abaixo.

TABELA 1 - AS PRINCIPAIS COMBINAÇÕES DE ATIVIDADES AGRÍCOLAS E NÃO-AGRÍCOLAS Atividades Agrícolas e Não-Agrícolas

Tipos de Combinação de Atividades Agrícolas e Não-Agrícolas

Frequência Absoluta (Quantidade)

Porcentagem % Roça + Criação Animais + Fruticultura (Banana) + Vendas + Turismo +

Artesanato 9 25,7%

Roça + Criação Animais + Fruticultura (Banana) + Vendas + Turismo 6 17,1% Roça + Criação Animais + Frutas (Quintal) + Turismo + Artesanato 4 11,4%

Roça + Frutas (Quintal) + Turismo + Artesanato 4 11,4%

Criação de Animais + Frutas (Quintal) + Turismo + Artesanato 2 5,7% Roça + Criação de Animais + Frutas (Quintal) + Turismo 1 2,9%

Roça + Criação de Animais + Turismo + Artesanato 1 2,9%

Criação de Animais + Turismo 2 5,7%

Roça + Criação de Animais + Frutas (Quintal) +

Venda de Produtos Agrícolas (in natura) 1 2,9%

Roça + Criação de Animais + Turismo 1 2,9%

Roça + Frutas (Quintal) + Vendas de Produtos Agrícolas (in natura) 1 2,9%

Roça + Criação de Animais + Frutas (Quintal) 1 2,9%

Roça + Criação de Animais 1 2,9%

(Roça + Criação de Animais + Frutas (Quintal) + Venda de Produtos

Agrícolas (in natura) + Turismo + outros (indefinido) 1 2,9%

Total Geral 35 100%

Segundo Carneiro (1998), a decisão do jovem entre uma atividade e/ou a combinação de atividades surge a partir de projetos pessoais e contempla os anseios da família, assim como algumas demandas do próprio quilombo. Há ainda uma tendência de os jovens buscarem idealizar empregos e padrões de vida tidos como urbanos (CHAMPAGNE, 1986). Soma-se a isso o estigma de serem jovens rurais, principalmente, ao entrarem em contato com jovens urbanos, neste caso, por meio da atividade turística.

Conforme os resultados, acima citados, a preparação dos jovens se faz por meio da avaliação da própria unidade familiar que irá encaminhá-los para a realização de suas tarefas e preparação para as rotinas agrícolas e não-agrícolas (WANDERLEY, 2009). De fato, os jovens rurais contemporâneos tentam unir a qualidade de vida e a tranquilidade do meio rural, continuam morando próximos de suas famílias e conciliam o trabalho fixo na cidade ou próximos das áreas rurais para conseguirem acesso a direitos trabalhistas, bem como férias e outros benefícios sociais (CARNEIRO, 1998).

Os jovens homens se caracterizam pelo trabalho produtivo, seja ele na roça de subsistência, no cultivo de banana orgânica ou no turismo. Já as jovens mulheres acumulam as atividades domésticas com as atividades de turismo e artesanato. De maneira geral, os jovens quilombolas podem ser caracterizados por uma intensa participação nas atividades produtivas em suas respectivas unidades familiares, porém falta um maior reconhecimento como lideranças já que são subordinadas a figuras de autoridade dentro da comunidade.

O trabalho com carteira assinada em cidades próximas como Eldorado e Iporanga foi mencionado por 11,4% dos jovens. Houve casos em que a principal fonte de renda provém de programas como a Bolsa Família35 do Governo Federal (8,6%), e aqueles que realizam trabalhos temporários, ou trabalhos informais sem carteira assinada, o popular “bico” (2,6%). Além da banana, destaca-se o envolvimento com as atividades de turismo (14,3%). Houve casos em que a combinação de renda foi composta pela soma das atividades realizadas como é possível observar pela TABELA 2, abaixo, com destaque para a combinação de renda entre o turismo e a venda de banana orgânica com 8,6%.

35 O Programa Bolsa Família (PBF) é um programa de transferência direta de renda que foi criado no ano de 2003 e está vinculado ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome que seleciona e autoriza a distribuição de uma renda mensal às famílias beneficiárias. Para isso é necessário que a família seja incluída no Cadastro Único (CU) para programas sociais do Governo Federal. As famílias extremamente pobres recebem auxílio de R$ 70,00 a R$ 140,00 por mês (BRASIL, 2004).

TABELA 2 - PRINCIPAIS FONTES DE RENDA DOS JOVENS DE IVAPORUNDUVA Composição da renda dos jovens quilombolas

Tipologias Frequência Absoluta

(Quantidade) Porcentagem (%) Sem Informação 3 8,6% Bolsa Família 3 8,6% Turismo 5 14,3% Agricultura (Banana) 5 14,3% Trabalhos Informais 1 2,9% Pensão/ Aposentadoria 1 2,9%

Trabalho Formal (Carteira) 4 11,4%

Bolsa Família + Turismo 3 8,6%

Turismo + Bananal 3 8,6%

Bananal + Trabalhos Informais (bicos) 1 2,9%

Bolsa Família e Pensão 1 2,9%

Agricultura (Banana) + Artesanato 1 2,9%

Agricultura (Banana) + Trabalhos Informais (bicos) + Trabalho Formal (Salário)

1 2,9%

Turismo + Agricultura (Banana) + Trabalho Formal

(Salário) 2 5,7%

Turismo + Agricultura (Banana) + Artesanato 1 2,9%

Total 35 100%

Fonte: Elaboração própria.

Sobre a especialização das habilidades voltadas ao turismo, destaca-se a formação de um capital humano específico desta comunidade (SCHULTZ, 1967), principalmente com os aprimoramentos buscados por meio da educação formal (ensino médio ou faculdade). Quando perguntados se ainda estão estudando até o momento da pesquisa, 5 jovens (cerca de 14,3%) dos entrevistados estavam frequentando o ensino médio ou concluindo um curso universitário. Ainda, sobre cursos técnicos e profissionais, 25 jovens (71,4%) dos entrevistados responderam que já fizeram pelo menos algum curso de capacitação até o momento. De fato, é importante destacar sobre a escolaridade dos jovens entrevistados que a maioria (82,9% ou 28 jovens) possui pelo menos até o ensino médio (incompleto ou completo) e, ainda, 4 jovens (11,4 %) já concluíram o Ensino Superior, conforme a abaixo (FIGURA 11).

FIGURA 11 - ESCOLARIDADE DOS JOVENS DA COMUNIDADE DE IVAPORUNDUVA (2015-16) .

FONTE: Elaboração própria.

Observou-se que esta geração é a que possui mais tempo de estudo e esta escolha enfatiza a busca por novas projeções profissionais, dentro ou fora da comunidade, por meio de um período de estudos fora do quilombo. No entanto, há regras coletivas de que os jovens podem sair para estudar, desde que depois volte à comunidade e possa contribuir com o que aprendeu, recebendo incentivos da associação local para isso.

Sobre os cursos de capacitações realizados pelos jovens, conforme perguntado na questão 16, foram listados os cursos e capacitações que os jovens realizaram pela comunidade, abaixo (TABELA 3), seguem os mais citados:

TABELA 3 - PRINCIPAIS CURSOS E CAPACITAÇÕES REALIZADOS PELOS JOVENS

Cursos e capacitações dos Jovens

Tipologias Frequência Absoluta

(Quantidade) Porcentagem (%)

Não houve resposta 10 28,6%

Segurança e Saúde 1 2,9%

Cooperativismo 1 2,9%

Turismo 5 14,3%

Formação de Agentes Socioambientais (ISA) 4 11,4%

Culinária 1 2,9%

Roçadeira 1 2,9%

Informática 1 2,9% Financeiro/ Administrativo 1 2,9% Gestão Ambiental 1 2,9% Artesanato 1 2,9% Monitor Ambiental 4 11,4% Administração 1 2,9% Total 35 100%

Fonte: Elaboração própria.

Conforme os resultados, os 35 jovens realizaram distintas capacitações e cursos universitários, que contribuíram com a sua atuação nas dinâmicas comunitárias e no atendimento aos visitantes, sendo que 14,3% dos jovens (5 indivíduos) realizaram cursos direcionados para o turismo, seja na comunidade, ou com cursos ofertados por entidades como o SENAR, por meio de módulos de cursos de extensão com o foco no turismo rural, curso este ofertado no quilombo na ocasião da pesquisa.

Verificou-se, portanto, o amplo esforço comunitário para a capacitação de pessoas criando oportunidades para o fortalecimento do capital humano (GRILICHES, 1960; SCHULTZ, 1967), principalmente dos mais jovens, já que alguns quilombolas puderam realizar a graduação em cursos como: Gestão Ambiental, Pedagogia, Administração, Direito, História, Técnico Agrícola, entre outros. A comunidade criou assim possibilidades para a melhoria no nível de educação de seus jovens, ampliando assim o sistema de aprendizado entre os grupos, bem como a difusão deste conhecimento.

O Instituto Socioambiental (ISA) operacionalizou vários projetos sustentáveis: (a) organização da produção de certificação da banana; (b) artesanato com a fibra de bananeira em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) e com a organização coletiva voltada ao TBC, por meio de capacitações; e (c) criação de folders para divulgação e site por meio do projeto do Circuito Quilombola, que depois seguiu para a gestão do CEPCE (Centro de Educação, Profissionalização, Cultura e Empreendedorismo), que é uma organização não- governamental formada por membro dos quilombos da região.

Sobre a atuação mais recente do ISA estão as atividades didático-pedagógicas da Formação em Agentes Socioambientais (FAS), sendo mencionada por 4 jovens desta amostra (11,4%).

Dos 150 jovens do Vale do Ribeira, 67 deles conseguiram concluir a FAS e a formatura ocorreu na cidade de Registro (próxima de Eldorado), com a participação de representantes do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e do Ministério de Desenvolvimento

Agrário (MDA). Nesta ocasião, houve a oportunidade de dialogar com eles sobre as oportunidades de desenvolvimento da juventude rural. Foram apresentados 31 projetos elaborados pelos jovens e cinco campanhas socioeducativas.

Destes, 12 projetos foram aprovados por uma comissão de técnicos ad hoc e pelos representantes do MMA, além do ISA, e receberam o apoio técnico e financeiro para implementação. Os temas dos projetos contemplados envolveram: restauração de beira de rios (Ivaporunduva), hortas orgânicas, implantação de fossas sépticas, construção de cisternas, artesanato com fibras naturais, culinária regional e outros temas.

Destacou-se, nesta oportunidade, a participação de quatro jovens do quilombo de Ivaporunduva, que apresentaram para os convidados o projeto referente à restauração de nascentes e matas ciliares. Neste projeto, os jovens buscaram integrar a comunidade com a questão da importância de se preservar os rios e córregos, especialmente, com relação à cobertura vegetal. Ainda, articularam por meio deste projeto a inclusão do plantio das mudas na beira dos rios junto com os turistas, incluindo esta atividade no roteiro de visitação. Durante os trabalhos de campo, este projeto da FAS em Ivaporunduva estava em desenvolvimento, mas como no mês de dezembro de 2015 a comunidade já não estava recebendo turistas, devido à época de férias, as atividades foram prorrogadas até janeiro de 2016.

Entre os cursos e capacitações, quatro jovens de Ivaporunduva (11,4%) mencionaram a formação como Monitor Ambiental entre os cursos mais significativos. Alguns realizaram esta capacitação na própria comunidade pelos monitores mais antigos do quilombo, já que normalmente, no mês de janeiro, a Associação de Ivaporunduva oferta a possibilidade de monitoria apenas nos quilombos. Outros jovens buscaram mais aperfeiçoamentos oferecidos pela Fundação Florestal (órgão ambiental do estado de SP), principalmente nas capacitações voltadas à monitoria das atividades de visitação em cavernas do Parque Estadual da Caverna do Diabo (Eldorado) e pelo Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (PETAR) em Iporanga. Assim, por meio do turismo, os quilombolas complementam sua renda mensal, com a monitoria de grupos de visitantes na comunidade de Ivaporunduva em trilhas e passeios realizados em quilombos vizinhos, como em Sapatu, onde os grupos são conduzidos até aos atrativos naturais “Queda do Meu Deus” e a “Trilha das Ostras”. Outros jovens quilombolas, quando não estão escalados nestas atividades de turismo no quilombo, realizam trabalho como monitores ambientais principalmente nos finais de semana no Parque Estadual da Caverna do Diabo (em Eldorado), cuja remuneração e a escala de trabalho é coordenada pela Associação

dos Monitores Ambientais de Eldorado (AMAMEL), uma organização formada por monitores quilombolas do Vale do Ribeira.

Mais especificamente sobre os cursos, com ênfase no turismo, entre abril e maio de 2016, foi possível acompanhar o módulo II do curso de turismo rural, ministrado pelo SENAR, voltado ao tema de identidade e cultura da comunidade. O curso contemplou discussões sobre a culinária quilombola, as histórias e as lendas contadas pelos mais velhos e a transmissão de saberes para os mais jovens. Houve o estímulo e a delimitação para a formulação de um novo produto turístico (composto por artesanato, trilhas, alimentação), principalmente, com ênfase no planejamento e na busca de patrocínio por meio das políticas públicas ou de projetos. Normalmente, as comunidades passam por situações de adequação às exigências do mercado consumidor, nesse caso, com atenção aos fluxos da demanda turística. Tudo isso, consequentemente, gerou debates entre os jovens sobre os impactos da atividade turística na localidade, na interferência sobre o ritmo das transformações sociais comunitárias e avaliação das possíveis melhorias para uma melhor preparação da comunidade para o atendimento do fluxo de visitantes.

Os resultados, aqui, mostram que há uma tendência natural dos jovens de Ivaporunduva em procurar formas de capacitação com ênfase no turismo (cursos de turismo e de monitor ambiental) e, em menor quantidade, em cursos especializados na prática agrícola. Além disso, o aumento da demanda de visitantes na comunidade exige, cada vez mais, mão de obra especializada para o melhor atendimento dos grupos escolares e dos professores.

Tudo isso requer dos jovens quilombolas características e habilidades voltadas à liderança, à gestão, à administração, ao dinamismo, à facilidade para a comunicação, ao trabalho em grupo e à ampliação do conhecimento sobre a cultura local e a biodiversidade. Estes aspectos concordam com Schultz (1960), ou seja, o fortalecimento do capital humano está relacionado com a melhoria dessas habilidades dos jovens. No caso de Ivaporunduva, elas fortalecem as estratégias de ação coletiva do quilombo, não somente para o turismo, mas também para outras atividades produtivas do local. A busca por conhecimentos mais técnicos e pela educação formal é um dos eixos que podem ser priorizados pela comunidade, como fator de sustentabilidade futura e seguridade das próximas gerações.

Portanto, os jovens quilombolas detentores de capital humano voltado ao turismo e ao patrimônio natural e cultural são os agentes que possuem habilidades e conhecimento para combater as desigualdades sociais e ampliar os benefícios com relação à qualidade de vida. Além disso, os próprios jovens, além de assimilarem tal capital, acabam trabalhando em prol

da difusão desse conhecimento, por atuarem coletivamente e com outros grupos etários (GRILICHES, 1960).

No que se refere à análise do perfil socioeconômico dos jovens rurais sobre trabalho, escolaridade e estado civil de modo agrupado, foi gerada a TABELA 4, que mostra a estatística e os resultados para o Método de Ward ou método de mínima variância. Esses resultados auxiliam no momento de definir em quantos grupos se pode dividir os indivíduos da amostra em estudo. Na FIGURA 11, o dendograma mostra como tais grupos de indivíduos foram agrupados e visualmente isso colabora para um melhor entendimento sobre as ligações entre os semelhantes a partir de suas respostas.

TABELA 4 - TABELA 4 - HISTÓRICO DE CLUSTERS – MÉTODO DE WARD (PERFIL SOCIOECONÔMICO)

Número de

Clusters

Clusters

Formados Freq R² Parcial R²

R² Aprox Esperado Nó 30 OB4 OB6 2 0,002 0,998 . T 29 OB22 OB34 2 0,002 0,996 . 28 OB2 OB19 2 0,004 0,993 . T 27 OB11 OB21 2 0,004 0,989 . T 26 OB25 OB27 2 0,004 0,985 . 25 OB15 OB24 2 0,006 0,98 . 24 OB5 OB26 2 0,007 0,972 . T 23 OB32 OB33 2 0,007 0,965 . 22 OB13 OB31 2 0,009 0,956 . T 21 CL24 OB35 3 0,01 0,946 . 20 CL22 OB29 3 0,01 0,936 . 19 OB8 OB17 2 0,011 0,925 . T 18 CL28 OB23 3 0,011 0,914 . T 17 CL25 OB28 3 0,012 0,902 . 16 CL30 CL26 4 0,012 0,89 . 15 CL27 CL29 4 0,014 0,876 . 14 OB1 CL20 4 0,015 0,861 . 13 CL18 OB16 4 0,017 0,844 . 12 CL13 CL21 7 0,022 0,822 . 11 CL16 OB20 5 0,022 0,799 . 10 CL14 OB30 5 0,024 0,776 . 9 CL15 CL23 6 0,027 0,749 . 8 OB10 CL17 4 0,032 0,716 . 7 CL12 CL19 9 0,036 0,68 .

6 CL10 CL11 10 0,04 0,64 0,712 5 CL8 OB12 5 0,042 0,599 0,665 4 CL6 CL9 16 0,081 0,518 0,605 3 CL4 OB3 17 0,134 0,384 0,515 2 CL7 CL5 14 0,143 0,241 0,344 1 CL3 CL2 31 0,241 0 0

FONTE: Elaborado pela autora

Com o Método de Ward, obteve-se sete (7) grupos com os indivíduos, porém com o dendograma (Figura 11) foram formados quatro (4) grupos. Em suma, de 31 observações em estudo, aquelas que tinham os dados mais completos e respondidos, podemos formar grupos diferentes de acordo com suas similaridades, facilitando ações que proporcionem melhorias sobre o conjunto de questões fechadas, voltadas às questões socioeconômicas do questionário. Tem-se então os seguintes grupos e seus respectivos indivíduos, representados pela abreviação da palavra observação (Obs) e, na sequência, o Dendograma do Método de Ward (FIGURA 12):

 Grupo 1: Obs10, Obs12, Obs15, Obs24 e Obs28

 Grupo 2: Obs2, Obs5, Obs8, Obs16, Obs17, Obs19, Obs23, Obs26 e Obs35  Grupo 3: Obs3

 Grupo 4: Obs1, Obs4, Obs6, Obs11, Obs13, Obs20, Obs21, Obs22, Obs25 , Obs27, Obs29, Obs30, Obs31, Obs32, Obs33 e Obs34

FIGURA 12 - DENDOGRAMA DO MÉTODO DE WARD. DISTRIBUIÇÃO SOCIOECONÔMICA DOS JOVENS DE IVAPORUNDUVA

FONTE: Elaborado pela autora.

Observou-se que no Grupo 1 havia cinco (5) indivíduos, sendo três jovens mulheres e dois jovens homens com idades distintas entre 19 a 25 anos. As características comuns verificadas deste grupo foram: a) em suas unidades familiares, haviam membros que moravam fora do quilombo e são os mais jovens; b) alguns membros de suas famílias estão trabalhando fora e não estão procurando trabalho formal; c) os jovens começaram a estudar mais tarde e, atualmente, não estão estudando e d) a maioria dos membros era solteira e não tinha filhos.

O Grupo 2 foi formado por 9 observações, sendo oito (8) jovens mulheres e apenas