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3.3 METODOLOGIA DE TRABALHO

3.3.2 O arcabouço teórico-metodológico da Análise Institucional e Desenvolvimento

Nesta pesquisa optou-se pela utilização do modelo de Análise Institucional e Desenvolvimento (Institutional Analysis and Development – ou, modelo IAD) como arcabouço teórico-metodológico, para análise e estruturação das informações coletadas com a finalidade de investigar, sobretudo, as regras formais (como, por exemplo, de um Grupo de Trabalho em Turismo formado pela Associação Local) e as regras informais (exemplo, os jovens na organização familiar). Tudo isso, para entender o arranjo institucional desde a base comunitária até os multi-níveis locais, regionais e nacionais. Este modelo foi desenvolvido por Elinor Ostrom e seus colaboradores como Gardner e Walker no grupo de pesquisa de Teoria Política e Análise Política (Workshop in Political Theory and Policy Analysis) da Universidade de Indiana, Estados Unidos (OSTROM; GARDNER; WALKER, 1994; KISER; OSTROM, 1982; OAKERSON, 1986). Entretanto, é importante ressaltar que este modelo é uma ferramenta que visa operacionalizar as análises e as interpretações dos dados empíricos

para sintetizar a ação dos agentes num contexto socioambiental específico, que neste estudo de caso específico une o turismo de base comunitária (TBC) e o foco na juventude rural.

De modo geral, a análise institucional advém de discussões enraizadas, principalmente, nas áreas das ciências econômicas e da ciência política, por meio da teoria da escolha racional (rational choice). Assim, o foco se volta ao comportamento dos atores sociais, que agem por conta própria ou como agentes das organizações (POTEETE, OSTROM, JANSSEN, 2011). Os resultados alcançados são relativos ao acesso de informações, aos tipos de ações, aos padrões de interação entre os indivíduos, que culminam na estrutura institucional. Segundo Ostrom (2005), as instituições são regras que organizam as interações repetitivas e estruturadas em diferentes escalas, sendo regras escritas (formais) ou compartilhadas (informais), ou ainda, por valores e comportamento adotado em um contexto sociocultural.

Desta forma, são realizadas projeções sobre a influência dos níveis macro (análise externa) e micro (interna) que irão compor o processo sociopolítico (HALL; TAYLOR, 1996; OSTROM, 1998). O institucionalismo da escolha racional reconhece que os atores sociais são unidades de decisão autônomas e que se estruturam por meio de acordos e com as informações obtidas para uma tomada de decisão (COSTA; FUTEMMA; 2006).

Além disso, é necessário incluir a complexidade da análise multinível por meio de três esferas: 1) o comportamento humano individual; 2) a microssituação (incluindo assim variáveis imediatas que reflitam sobre uma situação de dilema de ação coletiva); e 3) o contexto socioecológico mais amplo (OSTROM, 1999; 2005). Assim sendo, a síntese teórico- metodológica proposta pelo IAD Framework ajudou a sintetizar e incluir a ênfase na participação dos jovens, a análise do capital social e do capital humano, de modo a integrar estes conceitos no quadro de análise proposto pelo IAD, no que se refere à análise do comportamento dos jovens frente à ação coletiva do turismo e como tudo isso afeta a conservação dos patrimônios. Mas, quais são os passos para realizar o quadro referencial do IAD Framework?

Conforme Ostrom (1990), Berkes (1998), Janssen (2010) e Hess (2008), a primeira iniciativa dos pesquisadores deve-se voltar a analisar os fatores externos que afetam a ação- situação. Houve o foco em três tipos de variáveis exógenas, sendo elas: a) os atributos das comunidades, em outras palavras, onde os atores estão inseridos; b) os atributos do ambiente físico, ou seja, aspectos ecológicos e culturais; c) as instituições ou regras que ordenam as relações entre os atores (principais as interações e os resultados em torno da atividade turística para esse caso em específico).

Além das interações entre os participantes do sistema dos commons, se realiza a análise da arena de ação. A situação de arena de ação pode ser interpretada por sete atributos da estrutura interna, sendo eles: 1) o conjunto de participantes, que normalmente são os indivíduos que enfrentam um problema de ação coletiva; 2) o conjunto de posições (ou papéis) que os participantes desempenham no contexto da situação; 3) o conjunto de ações permitidas aos participantes em cada papel (ou posição); 4) o nível de controle que um indivíduo (ou grupo) tem sobre uma ação; 5) os potenciais resultados associados a cada combinação possível de ações; 6) a quantidade de informação disponível aos atores e 7) os custos e benefícios associados a cada ação e resultados possíveis (OSTROM, 1999; 2005). Cada um desses atributos, no entanto, assume múltiplas formas na explicação de como os indivíduos vão conseguir lidar com os problemas na ação coletiva.

Assim, nas arenas de ação cada ator pode ser visto como um indivíduo único, ou um grupo que funcione como um ator centralizado. Deste modo, cada ator em uma arena é caracterizado por quatro tipos de classes de variáveis: a) a forma como os atores adquirem, processam, retêm, usam a informação e o conhecimento sobre as contingências; b) as preferências de um ator relacionadas a ações e resultados; c) os processos conscientes ou inconscientes que os atores utilizam para a seleção de cursos particulares de ação e d) os recursos que os atores trazem para a situação (OSTROM, 1999; 2005). Considera-se que os três primeiros componentes dessas variáveis se referem diretamente ao comportamento humano. Já o último atributo é uma variável dependente da situação.

Na FIGURA 3, apresenta-se o mapa conceitual do IAD Framework, sendo esse um modelo adaptável e composto pelas variáveis exógenas (condições físicas e materiais, atributos da comunidade, regras de uso), a arena de ação (situação de ação e atores) e os critérios de avaliação, que para esse estudo de caso tratará da resolução dos problemas da ação coletiva, apontado pelas interações e pelos resultados advindos do turismo como bem comum (OSTROM; GARDNER; WALKER, 1994, p. 37; MANFREDO, 2017, p.69).

FIGURA 3 - IAD FRAMEWORK

FONTE: Adaptado de OSTROM, GARDNER E WALKER (1994); MANFREDO (2017).

Reitera-se que apesar das contribuições da teoria econômica, sobretudo advinda do institucionalismo, deve-se complementar com outras discussões que analisam o comportamento humano. Dessa maneira, podem ser reduzidas as falhas sobre quais as causas por que alguns usuários se organizam e outros não, ou ainda, por que algumas políticas públicas funcionam e solucionam o problema da gestão de recursos e outras não alcançam êxito. Por isso, um único viés sobre o comportamento humano (econômico, social, psicológico) não explica sozinho as tendências de cooperação dos indivíduos (OSTROM, 1998). Desse modo, os estudos de caso (YIN, 2010) podem contribuir no IAD pelo processo de síntese gerado a partir dos diferenciais e resultados apresentados em uma dada realidade.

Portanto, a escolha desse arcabouço teórico foi sustentada pela premissa de auto- organização comunitária voltada ao, por meio da elaboração de regras e acordos comunitários para um atividade alternativa de renda financeira e de baixo impacto socioambiental. Em seguida, será apresentada a unidade de análise que irá descrever o turismo e a juventude em análise.

3.3.3 A unidade de análise: O turismo como bem comum na perspectiva dos jovens rurais