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A combinação das técnicas de pesquisa (pesquisa documental, questionários, entrevistas, observação participante, diários de campo) demandou da pesquisadora, além de um longo período de trabalho em campo, o desenvolvimento de habilidades interpessoais específicas para compreender num primeiro momento como é o contexto local, como obter as informações e reconhecer as instituições, além de se interar das observações socioculturais presentes. Observou-se que o trabalho de campo gerou uma imensa quantidade de dados, mas que estes não são facilmente processados. Deste modo, além da capacidade de observação, registro dos fatos e análise crítica das relações pessoais, o pesquisador precisou se interar de um alto grau de autoconsciência para responder as questões teóricas a partir dos dados coletados.

33 O SENAR é uma organização vinculada à Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que tem como foco a formação profissional, promoção social e ensino técnico de ensino médio de jovens e adultos em todo o país de cursos presenciais ou à distância (SENAR, 2018). Mais informações no endereço eletrônico: <http://www.senar.org.br/>

A metodologia quantitativa foi utilizada a partir do Banco de Dados extraídos da aplicação dos questionários aos jovens, onde algumas questões foram selecionadas e permitiram a aplicação de análise descritiva e estatística multivariada por meio do software estatístico SAS (Statistical Analysis Software). A análise descritiva foi realizada e deu ênfase a tabelas de frequências para cruzar informações. A análise descritiva dos dados é uma técnica que norteia sobre o que podemos extrair das respostas com outras técnicas, nos diz de um modo muito geral como os dados em estudo estão se comportando. Já a análise multivariada retornou resultados interessantes, esta é uma técnica estatística que agrupa indivíduos e obteve escores para os indivíduos inseridos no estudo. Assim, o grupo total é composto por 35 indivíduos jovens.

Diante das dificuldades com o banco de dados, nem todas as variáveis foram utilizadas para este estudo, foram utilizadas por necessitarem de um tratamento menor como variáveis binárias e retiradas variáveis com texto como opção de resposta. Identificar quais as variáveis, ou melhor, quais conjuntos de variáveis estão nos trazendo mais informações frente a outras é muito importante. Assim pode-se visualizar melhor o que está acontecendo com a amostra de jovens que foi selecionada para esta pesquisa. Por conta disso e para dar uma maior confiabilidade na identificação de grupos homogêneos de indivíduos relacionados com o turismo, que utilizou-se análise de Clusters como parte do procedimento estatístico multivariado para a análise de agrupamentos (PESTANA; GAGEIRO, 2005). Essa técnica permitiu a classificação dos entrevistados com base nas semelhanças e diferenças apresentadas no decorrer deste trabalho. Dessa forma, mesmo se tratando de uma amostra populacional pequena de jovens no turismo (n=35), o cluster foi aplicado para tentar verificar se o comportamento dos jovens em seus grupos de afinidades e de trabalho, seria confirmado pelo teste estatístico. Assim, buscou-se o aumento da confiabilidade das interpretações sobre as dinâmicas comunitárias, uma vez que o procedimento analisa de forma discriminante o conjunto de dados iniciais por categorias de fenômenos observados. Portanto, foi possível classificar os jovens por sub-grupos, a partir de suas semelhanças e diferenças dentro da organização do trabalho coletivo no turismo (JOHNSON; WICHERN, 2007).

Inicialmente, 35 jovens responderam ao questionário, onde os respondentes tinham a liberdade para responderem as questões que quisessem (APENDICE III). Porém, vale destacar que análises multivariadas não utilizam observações com dados faltantes, ou seja, aquelas que os entrevistados resolveram não responder. Para não comprometer as análises, inicialmente foram feitas análises com algumas variáveis, as que poderiam ser mais importantes visualmente e as que mais continham informações.

3.4.1 Banco de Dados

No total são 46 questões que o entrevistado deveria responder no questionário aplicado na fase 5, algumas questões o entrevistado poderia responder somente “Sim” ou “Não”, outras incluindo o “Talvez” e outras para dizer o que achava sobre tal assunto em questão. Como são poucos entrevistados, ou seja, pouca observação, nas análises tem que ter o receio de se utilizar muitas variáveis, um dos motivos é a perda de informação. O questionário completo (APÊNDICE II) utilizado foi dividido em 4 partes na aplicação em campo, sendo elas: Parte I – Perfil Socioeconômico dos Jovens Rurais; Parte II – Questões socioculturais dos jovens e sua comunidade; Parte III – Organização e participação dos jovens rurais no turismo e Parte IV – Conservação do Patrimônio Cultural e Natural. As análises foram agrupadas novamente, não em quatro (4) partes, mas em duas (2) partes e com a seleção de questões específicas, sendo: Parte 1 - Perfil Socioeconômico dos Jovens Rurais (APÊNDICE IV) com as questões 01, 02, 04, 05, 09, 11, 12, 13, 14, 17, 18 e na Parte 2 - Questões Socioculturais do Jovem e Comunidade com as questões 19, 20, 21, 26, 27, 28, 30, 31, 36, 39 (APÊNDICE V).

Variáveis com muita perda de informação foram excluídas para não diminuir muito o número de observações e ainda, com estas questões, foram feitas transformações e padronizações de variáveis para que fossem manuseadas e as análises feitas. Respostas binárias foram padronizadas para “0” e “1”, respectivamente para “Não” e “Sim”. Na Questão 17, há 4 possíveis respostas para o Estado Civil do entrevistado, sendo Solteiro, Casado, União Estável ou Divorciado, foram transformados em 1, 2, 3 e 4, respectivamente, e assim para as outras variáveis. Nos Apêndices D e E estão sendo mostradas as variáveis utilizadas pós padronização e transformação.

Desse modo, inicialmente foi realizado uma Análise de Clusters para dividir a amostra da população de jovens entrevistada em grupos, de modo a analisar melhor o comportamento destes indivíduos na ação social.

3.4.2 Análise de Cluster

A Análise de Cluster, introduzida na sequência dos resultados do Capítulo 4, teve como objetivo de análise formar grupos, onde as observações podem ser agrupadas de acordo com as semelhanças/dessemelhanças entre eles. Há variados métodos com a intenção de agrupar observações, os quatro métodos de agrupamento mais conhecidos são o de Ligação Simples, Ligação Completa, Ligação Média e Método de Ward. O primeiro método, Ligação

Simples, tem por definição a distância entre dois grupos sendo a menor entre seus objetos. O segundo, Ligação Completa, a distância entre dois grupos sendo a maior entre seus objetos e o terceiro, Ligação Média, a distância entre dois grupos sendo a média entre seus objetos. Por fim, o quarto método, Método de Ward, levou em consideração a análise de variância, utilizou as somas de quadrados dentre e entre os grupos, os grupos são formados quando a soma de quadrados de dentro seja minimizada (JOHNSON; WICHERN, 2007).

Nestas análises, foi utilizado o Método de Ward. É importante ressaltar que estes métodos de agrupamentos são sensíveis à falta de informação, ou seja, qualquer observação que não respondeu a uma questão, este por si só já é retirado da análise, ocorreu com as observações 7, 9, 14, 18. Sendo assim, um banco de dados com a dimensão menor que o original. A análise da tabela de dados “Histórico de Clusters”, que foi inserida no contexto dos resultados do Capítulo 4, que evidenciará a formação dos grupos em análise, ou seja, quais grupos se formaram primeiro, através das distâncias entre as observações em um primeiro momento até todas as observações façam parte de um único grupo.

Na primeira coluna, Número de Clusters, está mostrando a quantidade de grupos que está definido de acordo com os passos, da maior quantidade de grupos para a menor, restando somente um grupo com todas as observações nele inserido. A coluna Clusters Formados, indica quais observações ou grupos já formados se juntaram para formar outro novo grupo. A coluna Freq (de Frequência) nos informa quantas observações foram necessárias para formar o tal Cluster. As colunas R² Semiparcial, R² e R² Esperado Aproximado se tratam de coeficientes de ajuste, que envolvem a soma de quadrados total, soma de quadrados residual e soma de quadrados entre grupos. O Cubic Clustering Criterium (CCC) é uma estatística que pode auxiliar sobre em quantos grupos podemos separar as observações em estudo. E, por fim, o Tie (T), indicando em quais clusters teve distâncias iguais, e assim, alertando que pode haver mais de um agrupamento a partir deste “nó”. O SAS foi utilizado para esta análise, através do comando proc cluster (JOHNSON; WICHERN, 2007).

3.4.3 Divisão dos Dados

Para melhores resultados e interpretações, o questionário apresentado que é dividido em quatro partes para aplicação e redistribuído em 2 partes para a elaboração da análise: Perfil I - Socioeconômico dos Jovens Rurais (ANEXO IV) e Perfil II - Questões Socioculturais do Jovem e Comunidade (ANEXO V). A necessidade se dá pela quantidade de observações (35) e pela correlação entre as variáveis e o aproveitamento de cada uma.

A primeira parte “Perfil Socioeconômico dos Jovens Rurais” teve como base a primeira parte do questionário, onde se obteve as variáveis sobre trabalho, escolaridade e estado civil. Já a segunda parte “Questões Socioculturais do Jovem e Comunidade” é a junção das outras três partes do questionário. Sendo assim, foi realizada para as duas partes a Análise de Cluster.

Os dados qualitativos e quantitativos obtidos ao longo do trabalho de campo foram inseridos em capítulos de análise e discussão, conforme o modelo teórico-metodológico IAD Framework (OSTROM, 1998), por meio da seguinte divisão: Capítulo 4 – Atributos sociais da comunidade e o foco na juventude rural quilombola; Capítulo 5 – Atributos ecológicos e culturais locais; Capítulo 6 – Principais Regras e Acordos para a gestão do turismo; Capítulo 7 – Conclusões. No próximo capítulo serão apresentados os resultados parciais e as discussões sobre os itens atributos sociais da comunidade e o foco na juventude rural quilombola.

4 ATRIBUTOS SOCIAIS DA COMUNIDADE E O FOCO NA JUVENTUDE RURAL QUILOMBOLA

Nossas histórias se agarram a nós. Somos moldados pelo lugar de onde viemos (Chimamanda Ngozi Adichie)

Este capítulo tem como objetivo caracterizar os atributos sociais do quilombo de Ivaporunduva com foco no perfil dos jovens quilombolas, importantes atores sociais que foram analisados, sobretudo, na questão de participação social do turismo de base comunitária.