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Partindo do entendimento do turismo como um bem de base comum, ou seja, uma atividade compartilhada, especificam-se, aqui, como principal ator social14 – os jovens rurais. A importância do jovem recai tanto nas ações relacionadas às preocupações ambientais como na soberania de seus territórios, por meio das práticas sociais, econômicas e culturais. Os jovens são importantes atores sociais dentro da análise institucional e dos componentes naturais e culturais que estão envolvidos na gestão do turismo (CASTRO, 2013; MARTINS; FUTEMMA, 2013).

A importância dos estudos sobre a juventude é reforçada pelo fato deste grupo social equivaler a cerca de um quarto da população brasileira, que em termos numéricos significa aproximadamente 51,3 milhões de jovens entre 15 e 29 anos (IBGE, 2010). Destaca-se que a partir da década de 1990 houve um aumento significativo dos estudos envolvendo a temática da juventude, assim como o direcionamento deste enfoque para a formulação de políticas públicas nos níveis locais, estaduais e federal15.

De acordo com a cientista social Elisa Guaraná de Castro (2013), os jovens rurais, normalmente, são associados às dinâmicas entre ficar ou sair das áreas de que são nativos, tudo isso em função dos problemas relacionados à migração do campo para as cidades. Por conseguinte, em geral, há poucas oportunidades de emprego e/ou estudos nas áreas onde nasceram e viveram. Além disso, essa autora ressaltou em seu trabalho “Entre Ficar e Sair: uma etnografia da construção social da categoria juventude rural, a questão sobre a velha

14 Utiliza-se para este trabalho a definição de ator social (individual ou coletivo) como aqueles que possuem poder de agência, conforme as análises sociais de Long e Ploeg (1994) e Schneider e Menezes (2014). Ou seja, os atores sociais detêm a capacidade para definir acordos e coordenar ações estratégicas conforme elos de reciprocidade (compadrio, vizinhanças, proximidade etc.), além de obrigações sociais e trocas mútuas que estão inseridos num sistema de normas e valores e por questões de hierarquia e poder.

15 Somente em 2005 foi decretada a Lei 11. 129 sobre a Política Nacional de Juventude, que instituiu a Secretaria Nacional da Juventude, o Conselho Nacional de Juventude e a criação do Programa Nacional de Inclusão de Jovens – PROJOVEM (BRASIL, 2006), estas diretrizes federais direcionaram as políticas públicas de estados e municípios.

imagem de um jovem desinteressado pelo rural, a invisibilidade deste grupo social diante das poucas oportunidades de desenvolvimento rural e, sobretudo, a transição e a disputa de hábitos e comportamentos de interação com o meio urbano no processo de formação de múltiplas identidades sociais, sendo que um dos principais desafios que a autora do estudo citado encontrou foi caracterizar os anseios e demandas sociais da juventude rural no contexto contemporâneo.

Conforme Queiroz (2001), o contexto brasileiro de desenvolvimento rural exige atenção às formas de como os jovens acessam a educação. Problemas como analfabetismo, crianças e jovens fora da escola, carência de escolas rurais e discussões alheias à realidade rural local, além de questões de condições precárias de infraestrutura e transporte, contribuem para o abandono do campo e a ida para áreas urbanas.

No caso dos jovens rurais, estes tendem a sair em direção aos centros urbanos para obterem melhores oportunidades de renda, trabalho e qualificação profissional. Dessa maneira, a questão da permanência da população jovem em áreas rurais é uma problemática essencial do desenvolvimento rural. Além disso, podem interferir nesta escolha dos jovens as questões vinculadas aos processos de sucessão hereditária, problemas relacionados à posse da terra e de continuidade do desenvolvimento das práticas agrícolas e não agrícolas (MARTINS, 2013; SPANEVELLO, 2003; BRUMER, 2007). Ao mesmo tempo, segundo Abramovay (2003), é importante ressaltar como característica da juventude o desejo pela mobilidade, visto que viver novas experiências e correr certos riscos são típicos desta fase da vida. Entretanto, esse autor enfatiza que para aqueles jovens que desejam continuar no campo, os incentivos devem contemplar estímulos locais e de políticas públicas que estimulem um dos principais traços da juventude, que é o impulso para a inovação.

A família é a unidade social e será a intermediária dos saberes técnicos e morais no ambiente rural, já que os grupos de irmãos e parentes são elos menos formais que irão exercer um grande efeito de sociabilidade e de construção de identidades com foco no desenvolvimento da agricultura de subsistência (BRANDÃO, 1990).

Desse modo, é importante que o ambiente estimule as trocas de conhecimento e favoreça novas ideias e o empreendedorismo juvenil, seja por estímulos individuais ou coletivos (ABRAMOVAY, 2003; SCHROEDER, 2007; MARTINS, 2013). Segundo Abramovay (2003), analisando regiões do sul do Brasil, principalmente nos anos de 1990, a questão do êxodo rural e a masculinização do campo apontou as diferenças entre os gêneros e as projeções de permanência no que se refere a um desenvolvimento rural para além da agricultura. Para Abramovay (2003), não há dúvida que a distribuição de ativos como crédito,

educação e terra são fundamentais para a diminuição da pobreza e melhoria da qualidade de vida em áreas rurais.

Por isso, entende-se que cada vez mais os jovens rurais passam a desempenhar atividades tidas como pluriativas16 cuja composição de renda não virá exclusivamente da agricultura, mas também de novas tendências de desenvolvimento rural. Quanto mais os jovens estiverem preparados para exercerem essa polivalência, mais conseguirão valorizar as características de seus locais de origem, como a própria biodiversidade e a cultura, além de alcançarem melhorias profissionais e de autorrealização (ABRAMOVAY, 2003; PLOEG et al., 2004). Como se observa, os jovens são protagonistas para o futuro das áreas rurais, além disso, há um movimento significativo de valorização dos espaços rurais, desde a importância do setor agrícola como inovações e tecnologia, ao destaque para a conservação da sociobiodiversidade e dos modos de vida das populações rurais com as populações urbanas.

Para Castro (2009), o jovem rural contemporâneo se apresenta longe de um sentido de isolamento, ou seja, ele dialoga e muito com as tendências de um mundo globalizado e, ao mesmo tempo, reafirma sua identidade como agricultor familiar, lutando e resistindo em diversos grupos sociais e coletivos por acesso à terra e por acesso aos direitos como trabalhadores e cidadãos, mas há também a negação de sua origem, em alguns casos, principalmente quando se rompe laços afetivos e/ou familiares com suas comunidades originais. Nesse sentido, especialmente nas décadas de 1990 e 2000, no Brasil, o Estado criou diversas políticas públicas17 referentes à categoria juventude rural e passou a identificar estas demandas como objeto importante para a construção de políticas sociais para tentar satisfazer grupos e as identidades culturais pertencentes a um território como direcionamento de ações voltadas ao campo e às populações tradicionais (CASTRO; BARCELLOS, 2015).

Além disso, em 2013, houve o destaque para o marco institucional representado pelo Estatuto da Juventude, que foi instituído por meio da Lei 12.852/13, e que reconhece o papel estratégico dos jovens no desenvolvimento brasileiro, assim como direciona diretrizes

16 Por atividades pluriativas, utiliza-se aqui a definição de Carneiro (1998), referindo-se ao momento em que os agricultores passam a reinventar suas ocupações com base em iniciativas de inovações, melhorias das capacidades de trabalho e funcionamento produtivo, incluindo assim novas tecnologias à tendência de preservação da natureza, ao mesmo tempo em que almejam por qualidade de vida. Para Graziano da Silva (1996), o agricultor combina outras atividades em outro horário, meio período (part-time), atividades estas fora da unidade produtiva como trabalho em indústrias, construção civil e outras, como prestação de serviços pessoais, turismo, lazer e conservação da natureza. Ou seja, o agricultor é pluriativo ao aliar estratégias e combinações inovadoras entre as suas atividades agrícolas e não agrícolas.

17 Para saber mais sobre as políticas públicas da juventude rural, ver o artigo: CASTRO, E.G; BARCELLOS, S.B Políticas Públicas para a Juventude Rural Brasileira. In: GRISA, C; SCHNEIDER, S. (Org.). Políticas Públicas de Desenvolvimento Rural no Brasil. Porto Alegre: Editora UFRGS, 2015. p. 549-570.

voltadas às especificidades da faixa etária entre 18 e 29 anos, bem como a reafirmação dos direitos à cidadania, representatividade, trabalho, educação e renda e das questões ligadas ao respeito étnico, da diversidade, igualdade, cultura, saúde, comunicação, lazer, desportos, segurança pública, justiça e o direito ao meio ambiente18 (BRASIL, 2013).

No âmbito internacional, a discussão da questão da juventude e de seu engajamento nas questões ambientais é colocada nas Ações do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA/ONU), onde há um Conselho de Juventude (Youth Advisory Council), no qual o Brasil participa como uma representação via o conselho da América Latina. De fato, ainda há muito que dialogar sobre as melhorias para a juventude brasileira, especialmente para jovens negros e mulheres, sobretudo, conforme a Agenda de Trabalho Decente para a Juventude da Organização Internacional do Trabalho - OIT, na qual os países signatários devem buscar melhorias para uma inserção mais digna da juventude no trabalho e de sua participação social.

A participação social constitui-se como um conceito a partir de uma teoria mais ampla, sobretudo, no que se refere à questão de democracia e governança, que se amparam nas análises advindas do campo da ciência política, principalmente compreendendo a participação como parte de um sistema de governo democrático. O conceito não é estático, mas tem sido recorrente nas discussões da teoria social, especialmente, no que se refere ao engajamento dos atores sociais. Para Dalton (1988), o sucesso da democracia só pode ser garantido pela participação do público no processo de tomada de decisão e na capacidade de resposta ao sistema que envolve a inclusão das demandas populares. Segundo Kaase (1990); Chisholm, Kovacheva (2002), o conceito de participação é altamente relevante para o estudo do envolvimento dos jovens, por isso ele distingue três formas: a) participação convencional ou institucional (eleições, campanhas e de associação); b) política não convencional (engajamento cívico por meio da vida associativa, participação da comunidade, trabalho voluntário) ou c) protesto (manifestações e novos movimentos sociais).

De acordo com Norris (2002), a participação política teve uma transformação significativa no Brasil, desde os anos 1970, considerando os movimentos sociais ligados às pastorais da Igreja Católica, que lutaram para inserir pautas e demandas no processo de redemocratização brasileiro. Destarte, uma das tendências percebidas nas dimensões de

18 Com destaque a isso, há na Seção X do Estatuto da Juventude, nos artigos 34, 35 e 36, a questão do direito da juventude sobre a sustentabilidade e meio ambiente, como no item IV do artigo 36, em que há “o incentivo à participação de jovens em projetos de geração de trabalho e renda que visem ao desenvolvimento sustentável nos âmbitos rural e urbano” (BRASIL, 2013).

mudança no sentido de participação se dá justamente pela mudança cultural que a sociedade de modo geral está imersa (NORRIS, 2002).

Conforme o cientista político Inglehart (1997), as tendências sociais pós-industrial trouxeram ao antigo materialismo, marcado por valores centrados numa questão de segurança e autoridade, novos valores associados à preocupação com o meio ambiente, às questões de direitos humanos, à igualdade de gênero, à autonomia e liberdade. Em vista disso, esse autor salienta que as novas gerações se tornam mais propensas a participar de movimentos sociais, de redes de direitos e outras formas de acesso à participação política, exatamente para buscar romper com as velhas hierarquias. Desse modo, uma ferramenta conceitual útil para entender as novas formas de participação é a teoria do capital social, que será discutida no tópico seguinte que, juntamente com a teoria do capital humano auxiliará os entendimentos sobre os processos de participação dos jovens num contexto específico.

Conforme Kaase (1990), a juventude é a faixa etária mais predisposta à participação política não convencional. Além disso, principalmente, para Inglehart (1997), a ruptura se dá pela mudança intergeracional, já que a nova geração está liderando caminhos para a alteração de valores, como os citados acima, rumo a um pós-materialismo. De fato, conforme Sinnott e Lyons (2003), a idade é um indicador de mobilização geracional ou de desmobilização. Segundo estes autores, as diferentes gerações tendem a adquirir hábitos de participação (ou não) já no início do ciclo de vida e poderá levar esses hábitos para frente, já no período adulto. Portanto, o período de formação de um jovem é onde ele está mais propenso para os aprendizados de participação diante dos acontecimentos que lhe acometem.

Destarte, o conceito de participação é chave para o desenvolvimento de políticas públicas e agendas de pesquisa que almejam compreender a juventude e o que os move em termos de valores presentes e futuros (CHISHOLM; KOVACHEVA, 2002). Desse modo, a partir da perspectiva da ciência política, os novos entendimentos sobre a participação recaem muito na compreensão de valores e comportamentos dominantes dentre os mais jovens. Conforme Parsons (1952), a participação dos jovens na estrutura social se dá na internalização de normas sociais tidas como dominantes, ou seja, a participação juvenil ocorre nas instituições ou em acordos já existentes. No entanto, a participação acaba sendo mais voltada a controlar os jovens em atividades de concordância de outras faixas etárias do que de fato a atribuir a eles autonomia sobre os interesses dos mais jovens. Logo, é tendenciosa a crítica voltada aos jovens como sendo sujeitos passivos e de pouco envolvimento político, visto que na prática há um problema de acesso dos jovens dentro da arena de tomada de decisão (HARTMAN, TRNKA, 1985).

Oaklei e Marsden (1985), em suas análises sobre projetos de desenvolvimento, atribuíram diferentes significados para a análise da participação. Segundo os autores, podem- se enumerar os seguintes aspectos: a) envolvimento voluntário de indivíduos nos programas, mas sem participarem de sua elaboração; b) sensibilização dos indivíduos para maior responsabilidade nas propostas e nas iniciativas locais; c) envolvimento dos indivíduos na tomada de decisão e na divisão dos benefícios, bem como na avaliação dos acordos; d) associação com o direito e o dever dos indivíduos do sistema de participarem da solução de seus problemas, assegurar a satisfação de necessidades básicas, bem como a mobilização de recursos e novas soluções para a criação e manutenção de suas organizações; e) iniciativa de pessoas e grupos para a solução de problemas comuns e de sua autonomia; f) organização de esforços dos indivíduos para o controle dos recursos básicos para o seu desenvolvimento e regulação das instituições.

Nesse sentido, para este trabalho, concorda-se com Oaklei e Marsden (1985) sobre os significados diretos do sentido de participação como sendo: a) Colaboração – envolvimento dos indivíduos nas atividades de grupo; b) Desenvolvimento da comunidade – nesse caso, a participação é um processo de promoção social onde são delegados aos membros da comunidade a responsabilidade para funções específicas nos projetos e nos conselhos comunitários; c) Organização – nesse sub-item, há duas dimensões: a de participação relacionada com o processo dos indivíduos de se organizarem e por meio desta união tornam- se capazes para o desenvolvimento de seus projetos locais e a organização como resultado da busca por ações conforme a realidade em que eles vivenciam. Por fim, (o item d) Empowering, ou seja, a aquisição de poder, tanto para o acesso como o controle dos recursos.

Na perspectiva de Mahler (1983) e Mitev (1982), os jovens eram vistos como um grupo social que dentro de uma participação ativa na estrutura social produziu um efeito de inovação social. Portanto, a participação dos jovens pode ser entendida como as iniciativas que eles tentam resolver diante de seus dilemas sociais. Dito isso, a inovação também pode aflorar de modo fértil no campo da participação tido como pós-moderno, onde os jovens podem se expressar politicamente seja de modo emocional, estético, virtual ou por engajamento digital (SEN; KRIKSBERG, 2010).

Os jovens não estão apenas em outro grupo etário à parte da população, mas são um grupo social com posicionamento e demandas específicas. Desse modo, é importante deixar claro, que a juventude pode ser entendida por pelo menos três abordagens dentro da sociologia da juventude, quais sejam: como uma geração, como uma fase de vida e como um grupo social. A primeira fase, conforme Feixa e Leccardi (2010), foi desenvolvida a partir do

enfoque na noção de gerações, principalmente com estudos que focam as rápidas transformações vivenciadas pelos jovens na contemporaneidade. Já a segunda abordagem surge da psicologia social, encarada como uma etapa de vida e se centra nas questões de auto- identidade como valores que possam expressar a juventude (CÔTÉ, 2002). Por fim, a terceira abordagem explica a juventude como um grupo social em processo de transição da dependência para sua busca como sujeito autônomo, movendo-se entre as questões de formação educacional e de trabalho, entre sair da dependência dos pais e formar sua própria unidade familiar independente (WALLACE; KOVACHEVA, 1998).

Para este estudo, as interpretações e análises da realidade empírica serão desenvolvidas a partir desta terceira abordagem sobre juventude, ou seja, compreendendo-a como um grupo social. Para a instrumentalização dos trabalhos de campo, no entanto, foi analisada a faixa etária dos 18 aos 35 anos, justamente para a adequação da amostra conforme a maioridade dos jovens e de uma extensão para além dos 29 anos, buscando justamente verificar a questão de transição para a vida adulta. As explicações sobre a definição da faixa etária dos jovens foi inserida no contexto de estruturação da seção 3.3.3, na sequência.

Sobre a participação social dos jovens, a mesma não é estruturada apenas por meio de sua participação em instituições políticas, ou ainda, em organizações não-governamentais (ONGs), mas também com o seu envolvimento em redes mais flexíveis, como redes de amizade e reciprocidade. Retomando Inglehart (1997), as redes informais menos hierárquicas tendem a ser um ponto de referência para os jovens e inclina-se a mobilizá-los em momentos esporádicos. Para Norris (2002), a internet é um recurso comum que possibilita uma maior participação dos jovens em novos movimentos sociais, campanhas de mobilização e compartilhamento de informações e comunicação entre eles e para outros grupos.

Consequentemente, os novos estudos que têm um enfoque na participação social dos jovens se tornaram essenciais para perceber melhor os anseios da juventude e as contribuições que os jovens podem fazer à própria estrutura democrática, tanto em nível global, nacional e local. Assim, uma das grandes questões que emergem é: como os jovens estão buscando se inserir na gestão das atividades comunitárias ou em ações de conservação de seus patrimônios? Para isso, as evidências empíricas, as sistematizações dos dados de uma dada realidade regional e de um grupo específico de jovens poderão contribuir dentro da discussão mais ampla sobre a participação juvenil. Desse modo, a adoção de uma metodologia voltada ao estudo de caso permitiu maior flexibilidade e contribuiu nas interpretações sobre os caminhos da juventude como protagonistas e agentes de desenvolvimento local.

Os desafios de compreender a participação dos jovens nas comunidades e, ao mesmo tempo, dentro de uma estrutura global é evidenciado por Sen e Kriksberg (2010), que discorreram em torno dos mitos sobre a juventude latino-americana. Estes autores chamam a atenção para o fato de que o tema juventude muitas vezes aparece apenas como uma referência marginal ou uma simples nota de rodapé. Mas, os jovens latino-americanos representam 37% da população latina e, para além das estatísticas, os jovens são os maiores agentes de mudança em potencial. Segundo estes autores, os jovens têm uma maior disposição para buscar formas de se comprometer em causas nobres, novos ideais e desafios coletivos. Além disso, os jovens possuem uma facilidade especial para se integrarem às novas mudanças na ordem tecnológica, justamente porque já nasceram sob um retrospecto de rápidas revoluções tecnológicas, desde a inserção do computador à internet, que mudaram a forma como os jovens se expressam em seus grupos. No entanto, os jovens são vistos como apenas indivíduos em uma fase de transição no ciclo de vida, mas trata-se de um erro que pode ter gerado custos enormes nas formas de organização social, especialmente no caso latino- americano.

Assim, é fundamental buscar um olhar na perspectiva de análise do conjunto das vivências coletivas com que estes jovens estão inseridos, já que alguns indivíduos dentro da própria juventude se encontram em níveis abaixo da linha da pobreza e imersas num contexto de desigualdade advindo do próprio processo histórico de constituição de seu grupo maior (SEN; KRIKSBERG, 2010). É evidente que não é a mesma coisa falar de um jovem em contexto de área urbana e outro que vivencia seus modos de vida na área rural. Além disso, é completamente diferente em termos socioeconômicos, quando se refere a jovens brancos, negros ou indígenas, ou ainda, até mesmo quando uma análise se volta ao tema de gênero. Ou