JPediatr(RioJ).2017;93(4):317---319
www.jped.com.br
EDITORIAL
Sedation
and
subglottic
stenosis
in
critically
ill
children
夽
,
夽夽
Sedac
¸ão
e
estenose
subglótica
em
crianc
¸as
gravemente
doentes
Steven
L.
Shein
a,be
Alexandre
T.
Rotta
a,b,∗aUHRainbowBabies&Children’sHospital,PediatricCriticalCareMedicine,Cleveland,EstadosUnidos bCaseWesternReserveUniversity,SchoolofMedicine,Cleveland,EstadosUnidos
Comoastaxasdemortalidadediminuíramnasúltimas déca-das,ofocodocuidadointensivopediátricocontemporâneo mudou para a minimizac¸ão da morbidez de longo prazo. As crianc¸as que precisam de intubac¸ão endotraqueal e ventilac¸ão mecânica correm o risco de ter várias seque-lasduradouras,inclusiveinsuficiência respiratóriacrônica, neuropatia/miopatia e déficit cognitivo.1 Foram descritos
osfatoresderiscodecomplicac¸õesindividuais easac¸ões
paraevitá-losdevemserconsideradas.Contudo,evitaruma
ac¸ãoinvariavelmentecausauma‘‘reac¸ão’’quepoderáter
seusefeitosadversos.Porexemplo,aestratégiade‘‘pulmão
seco’’ encurta a durac¸ão da ventilac¸ão mecânica na
sín-dromedaangústiarespiratóriaaguda(SARA),porémpoderá
pioraroestadoneurológicodelongoprazo.2,3Uma
estraté-giaqueprotejaopulmãopoderáreduziralesãopulmonar
associadaàventilac¸ãoeoriscodeinsuficiênciarespiratória
crônica,poréma acidoseresultantee aspressões
intrato-rácicas elevadas podem ser pouco toleradas em crianc¸as
com choque refratário a fluidos, hipertensão pulmonar
DOIserefereaoartigo:
http://dx.doi.org/10.1016/j.jped.2017.03.001
夽 Comocitaresteartigo:SheinSL,RottaAT.Sedationand
subglot-ticstenosisincriticallyillchildren.JPediatr(RioJ).2017;93:317---9.
夽夽VerartigodeSchweigeretal.naspáginas351---5.
∗Autorparacorrespondência.
E-mail:Alexandre.Rotta@UHhospitals.org(A.T.Rotta).
e/ouhipertensão intracraniana.4 Quandodiante de várias
opc¸ões terapêuticas, os intensivistas pediátricos devem
estarcientesdos riscosebenefícios detodososcaminhos
possíveis.
Outro risco da intubac¸ão endotraqueal é o
desenvolvi-mentodeestenosesubglótica.OsinvestigadoresdoHospital
das Clínicas de Porto Alegre ficaram na linha de frente
dapesquisadessaimportantedoenc¸a.Essesinvestigadores
mostraramqueaestenosesubglóticaéumproblemacomum
entre seus pacientes intubados, ocorre em
aproximada-mente10%doscasos.5,6Nestaedic¸ãodoJornaldePediatria,
elesvisaram a passarpara a próximaetapa importante
---identificarosfatoresderiscoassociadosaodesenvolvimento
da estenose subglótica.7 Entender os fatores de risco do
desenvolvimentode estenose subglótica poderá viabilizar
umareduc¸ãoemsuaocorrência,oque,porsuavez,poderá
reduzirafalhadeextubac¸ão,anecessidadede
procedimen-tosdiagnósticos e asintervenc¸ões terapêuticas. Contudo,
casosejamidentificadosfatoresderisco,deve-seter
cau-telaaopensarnaspossíveis‘‘reac¸ões’’eevitá-las.
Antes de levar em considerac¸ão quaisquer fatores de
risco identificados, deve-se avaliar a validade do estudo
e sua aplicabilidade à própria populac¸ão de pacientes.
Schweigeretal.7devemserelogiadospelosdiversospontos
fortesde seusmétodos, inclusive a avaliac¸ão prospectiva
e uniformemente abrangente da estenose subglótica e o
uso de um escore de avaliac¸ão de sedac¸ão validado e
amplamente usado (Comfort-B).8 Contudo, o tamanho da
318 SheinSL,RottaAT
amostra era pequeno (n=36), o que limitou o poder de
sua análise estatística. Esse pequeno tamanho de
amos-traprovavelmente tambéminfluenciou a distribuic¸ão dos
escoresComfort-B,presumivelmentenãodistribuídos
nor-malmente(poisforamavaliadospormeiodeumtestenão
paramétrico),porémrelatadosnoestilotípicodedados
nor-malmentedistribuídos(médiaedesviopadrão),oquelimita
nossacapacidadedeinterpretarcompletamenteseus
acha-dos.Esperamosseutrabalhofuturo,queesperanc¸osamente
avaliaráosfatoresderiscoemumacoortemaior.
Existemdiversosfatoresque devemserconsideradosa
respeitodaaplicabilidadedeseusachadosàsuapopulac¸ão
depacientes. Primeiro,considerandoque osautores
con-cluem que a subsedac¸ão seja um fator de risco principal
nodesenvolvimentodeestenose subglótica (vejaabaixo),
é importantecomparar a práticade sedac¸ãodeles coma
sua.Osautoresrelatamqueastaxasdeinjec¸ãodefentanil
(2g/kg/h)emidazolam(0,2mg/kg/h)nãoforamtituladas
paraobter efeito, mas complementadas conforme
neces-sáriocom ‘‘dosesadicionaisde sedativo’’. Esse protocolo
‘‘reativo’’poderálimitar apossibilidadedegeneralizac¸ão
de seus dados para centros que praticam um estilo mais
‘‘proativo’’,emqueastaxasdeinjec¸ãosãoajustadaseos
níveisde confortopodem sermaisconsistentes.Segundo,
amaioria dacoorte(72,2%)estavasubmetidaaventilac¸ão
por meio de tubos endotraqueais sem balão. As
diretri-zesdaAmericanHeartAssociationdeterminaram,em2010
e 2015, que tubos endotraqueais com balão ‘‘podem ser
preferíveis’’emsituac¸õescomumenteobservadasnaUTIP,
comobaixa complacência pulmonar e alta resistênciadas
vias aéreas, e é nossa prática geral usar tubos
endotra-queais com balão em crianc¸as de todas as idades.9,10 O
usodetubosendotraqueaiscombalãoestáassociadoaum
perfil com baixo efeito colateral, provavelmente
influen-ciado pelas recentesmelhorias nodesenhodo balãopara
melhorseencaixarnasviasaéreaspediátricasecriaruma
vedac¸ãosuficienteembaixaspressõescompontosde
pres-são mínimos.11 Sobre a estenose subglótica, há possíveis
benefíciosnousodeumtubocombalão.Emqualquer
paci-ente, o diâmetro recomendado de um tubo sem balão é
maiordoqueodiâmetrodotubocombalãorecomendado.
Tubosendotraqueaismaiorescausammaiorlesãodos
teci-dos,inclusiveporcompressãodiretadamucosaemdiversos
lugares ao longodas vias aéreas.12 A lesão traqueal
tam-bém pode ser causada pela pressão da ponta distal do
tubosobreasviasaéreas.Umbalãoadequadamenteinflado
podemanterapontadotuboendotraqueallocalizadamais
centralmente no lúmen da via aérea, longe da mucosa.
Além disso,o uso detubossem balãonormalmente exige
nova intubac¸ão --- quando a ponta do tubo endotraqueal
pode irritar a faringe, a laringe e a traqueia --- com um
tubo de tamanhomaior,caso sejadesenvolvido um
vaza-mentosignificativo.Emumestudorandomizadodecrianc¸as
que foram submetidas à cirurgia, a inserc¸ão de um tubo
sem balão exigiu nova intubac¸ão com um tubo de
tama-nho adequado em 347 de 1.127 indivíduos (30,8%), taxa
significativamentemaiordoqueaobservadana colocac¸ão
de um tubo com balão (24/1119 [2,1%]).13 O número de
novasintubac¸ões mostrou-se associado a maior lesão das
viasaéreas.14Foinecessárianovaintubac¸ãodevidoao
tama-nho incorreto do tubo endotraqueal sem balão na coorte
desseestudo(númeroexatonãodivulgado)eousodetubos
combalãopodeevitartraumasadicionaisdesnecessáriosnas
viasaéreas. Porfim,é importanteobservarquea taxade
10%deestenosesubglóticarelatadaemvários estudospor
essegrupo depesquisa émaiordoque astaxasrelatadas
poroutrosgrupos(6/215[2,8%]porGomesCordieroetal.,
6/144[4,2%]porJorgensenetal.),porémissopode,na
ver-dade, refletir umaavaliac¸ão maissensível e detalhada,e
nãoumaumentoverdadeirodaincidêncialocal.14,15
Nãoobstanteessasquestões,osautoresrelatamqueas
crianc¸as de sua coorte que desenvolveram estenose
sub-glótica passaram muito mais tempo (15,8%) subsedadas
com escore Comfort-B de 23-30 em relac¸ão às crianc¸as
que não desenvolveram estenose subglótica (3,7%).
Con-siderando o valor nominal, pode-se postular que evitar
períodos de subsedac¸ão pode reduziro risco de estenose
subglótica. Mas qual é a ‘‘reac¸ão’’ à intenc¸ão de
evi-tar subsedac¸ão? Obviamente, será uma predilec¸ão pela
hipersedac¸ão. A hipersedac¸ão e o uso maior de
sedati-vos/analgésicos são seguidos de uma série de possíveis
efeitosadversos.Oaumentonousodemedicamentosestá
associado aoaumentodosriscosdesíndromede
abstinên-cia de medicamento e falha de extubac¸ão.16,17 Opiáceos
e benzodiazepinas foram associados à neurodegenerac¸ão
dose- e tempo-dependente em modelos animais
pediátri-coseoaumentonousodemedicamentosespecíficospode
piorar os resultados cognitivos em crianc¸as.18,19 Os
seda-tivos/analgésicos mais comumente usados podem causar
hipotensão,que,porsisó,éumfatorderiscoderesultados
desfavoráveisemmuitasdoenc¸ascomunsdaUTIP.20,21Mais
especificamentecomrelac¸ãoaoassuntoemquestão,os
pró-priosautoresobservamemsuaintroduc¸ãoquea‘‘sedac¸ão
excessiva’’ podelevar a‘‘hipoperfusãoe isquemialocal’’
dasviasaéreas,que,então,podemcontribuirparaa
este-nosesubglótica.
Então,oqueointensivistapediátricodevefazer?Como
geralmenteéocaso,temosmaisdadosaserem
incorpora-dosem nossatomadadedecisõesclínicas,porémtambém
temos muitomaisdúvidas.Esses dadoscorroborama
prá-tica intuitiva de que manter umacrianc¸a ‘‘bem sedada’’
podereduziros traumasnasviasaéreas, masisso valeos
riscosdahipersedac¸ão?Qualéoimpactodasedac¸ãosobrea
estenosesubglóticaemcrianc¸ascomumtuboendotraqueal
combalãoadequadamenteinflado?Énecessáriomais
traba-lhopararesponderaessaseoutrasdúvidaseaguardamosa
próximacontribuic¸ãodesseprolíficogrupodepesquisa.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
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