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Educação em saúde na comunidade: Saberes, Desafios e Práticas - Volume 3

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Rosana Aparecida Salvador Rossit

Otilia Maria Lúcia Barbosa Seiffert

(Orgs.)

COLEÇÃO

ENSINO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

1ª Edição

EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA COMUNIDADE:

Saberes, Desafios e Práticas

Volume 3

São Paulo, SP

2020

(3)

Reitora: Soraya Soubhi Smaili Vice-Reitor: Nelson Sass

Pró-Reitora de Administração: Tânia Mara Francisco Pró-Reitor de Assuntos Estudantis: Anderson da Silva Rosa

Pró-Reitora de Extensão e Cultura: Raiane Patrícia Severino Assumpção Pró-Reitor de Gestão com Pessoas: Murched Omar Taha

Pró-Reitora de Graduação: Isabel Marian Hartmann de Quadros Pró-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa: Lia Rita Azeredo Bittencourt

ESCOLA PAULISTA DE ENFERMAGEM Diretora: Janine Schirmer

Vice-Diretor: Alexandre Pazetto Balsanelli

CENTRO DE DESENVOLVIMENTO DO ENSINO SUPERIOR EM SAÚDE – CEDESS Coordenador: Nildo Alves Batista

PPG ENSINO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE – MESTRADO PROFISSIONAL Coordenadora: Sylvia Helena Souza da Silva Batista

Vice-Coordenador: Leonardo Carnut

CONSELHO EDITORIAL

Cristina Zukowsky-Tavares – Centro Universitário Adventista de São Paulo – UNASP Cristiano Gil Regis – Universidade Federal do Acre – UFAc

Emiko Yoshikawa Egry – Universidade de São Paulo – USP Janine Schirmer – Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP José Vieira de Sousa – Universidade de Brasília – UnB

Leonardo Carnut – Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP

Neide Barbosa Saisi – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUCSP Nildo Alves Batista – Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP

Regilson Marciel Borges – Universidade Federal de Lavras – UFLA Susana Maciel Wuillaume – Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ

Sylvia Helena Souza da Silva Batista – Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP

Rosana Aparecida Salvador Rossit Otilia Maria Lúcia Barbosa Seiffert

Coordenação Técnica e Pedagógica

Rosana Aparecida Salvador Rossit Otilia Maria Lúcia Barbosa Seiffert

Editoração Eletrônica

Rosely Apparecida Ramos Calixto

Arte e Design da Capa

Nilton Nunes dos Santos

Rua Pedro de Toledo, 859 – Vila Clementino São Paulo/SP – Cep 04032-900

E-mail: cedess@unifesp.br

http://www2.unifesp.br/centros/cedess/index.htm

E24

Educação em saúde na comunidade: Saberes, Desafios e Práticas [recurso eletrônico] / Organização de Rosana Aparecida Salvador Rossit, Otilia Maria Lúcia Barbosa Seiffert. – 1. ed. -- São Paulo [SP] : Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) ; Centro de Desenvolvimento do Ensino Superior em Saúde (CEDESS), 2020.

320 p. -- (Coleção Ensino em Ciências da Saúde ; v.3). ISBN 978-65-00-02812-6 [coleção completa]

ISBN 978-65-00-02815-7 [volume 3]

1. Ensino. 2. Ciências da Saúde. I. Rossit, Rosana Aparecida Salvador (org.) II. Seiffert, Otilia Maria Lúcia Barbosa (org.) III. Título.

CDD 610.7 Bibliotecária Daianny Seoni de Oliveira – CRB 8/7469

Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)

Centro de

Desenvolvimento do Ensino Superior em Saúde (CEDESS)

Escola Paulista de Enfermagem (EPE)

(4)

SUMÁRIO

PREFÁCIO ... 4

Nildo Alves Batista, Sylvia Helena Souza da Silva Batista

AGRADECIMENTOS ... 9 APRESENTAÇÃO... 8

Paulete Goldenberg, Rosana Aparecida Salvador Rossit, Otilia Maria Lúcia Barbosa Seiffert

SAÚDE E COGESTÃO POPULAR: LIMITES E DESAFIOS DA IMPLEMENTAÇÃO E

EFETIVAÇÃO DO CONSELHO LOCAL DE SAÚDE NA CIDADE DE SANTOS/SP ... 15

Ivone Leal Benedito, Ana Rojas Acosta

O “FALE CONOSCO” DA UNIFESP E A POPULAÇÃO NA BUSCA POR INFORMAÇÕES

EM SAÚDE ... 32

Rosa Malena Bergamo Sotero, Christine Barbosa Betty, Iraní Ferreira da Silva Gerab

A CONTRIBUIÇÃO FREIREANA PARA O DIÁLOGO ENTRE OS GESTORES DE RESTAURANTES COMERCIAIS E A VIGILÂNCIA SANITÁRIA SOBRE A SEGURANÇA

DOS ALIMENTOS... 48

Camila de Sousa Almeida, Elke Stedefeldt, Patrícia Lima Dubeux Abensur, Ana Maria de Souza Pinto,

PACIENTES EM CUIDADOS DOMICILIARES: DIFICULDADES DOS CUIDADORES

FAMILIARES ... 66

Ciro Caires Leite, Andréa Perosa Saigh Jurdi

HUMANOS OU COBAIAS? TRAJETÓRIAS DE CUIDADO E O DESAFIO DO DIREITO À

SAÚDE DE PESSOAS TRAVESTIS E TRANSEXUAIS ... 85

Marcia Regiane Borges Antognetti, Luciana Togni de Lima e Silva Surjus

DESAFIOS DA CONSTRUÇÃO DA REDE DE CUIDADOS À PESSOA COM DEFICIÊNCIA ... 104

Naira Rodrigues Gaspar, Andréa Perosa Saigh Jurdi

O FAMOSO INVISÍVEL: PERCEPÇÃO DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA DO

ATENDIMENTO EM URGÊNCIA E EMERGÊNCIA NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE ... 121

Izabel Cristina Oliveira Barbosa Pimentel, Luciana Togni de Lima Surjus

MULHERES COM FILHO(A) DEFICIENTE RECEPTORA DO BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO

CONTINUADA – BPC ... 144

(5)

EDUCAÇÃO EM SAÚDE E DIABETES MELLITUS: PRÁTICAS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA ... 160

Cristiane Aluiza Gonçalves, Paulete Goldenberg, Lidia Ruiz-Moreno

PRÁTICAS PROFISSIONAIS EM UM AMBULATÓRIO ONCOLÓGICO ... 178

Salete Santos da Hora Crippa, Gilberto Tadeu Reis da Silva, Angélica Massako Yamaguchi, Paulo Cobellis Gomes, Lídia Ruiz Moreno, Irani Gomes dos Santos Souza

REDUÇÃO DE DANOS (RD): CONCEPÇÕES, PRÁTICAS E CONTRADIÇÕES EM UM

CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL – ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – CAPS-AD ... 195

Rafael Ferreira de Souza, Fernando Sfair Kinker

CAIXA DE MEMÓRIA: NARRATIVAS DA DANÇA EM CONVIVÊNCIA. PRÁTICAS

INVENTIVAS EM CUIDADO NA SAÚDE MENTAL ... 211

Lara Carolina Ribeiro Vilanova, Juliana Padovan Aleixo, Flavia Liberman Caldas

CONCEPÇÕES SOBRE AS PRÁTICAS DA TERAPIA OCUPACIONAL NA EDUCAÇÃO

REGULAR DO MUNICÍPIO DE ARARAS-SP ... 224

Valesca de Lima da Silva, Carla Cilene Baptista da Silva

SAÚDE, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE: UMA TRÍADE NECESSÁRIA ... 239

Anderson Adão Rodrigues, Beatriz Jansen Ferreira, Renata Raposo Cunha, Sandra Regina Carneiro de Campos

ATENDIMENTO PEDAGÓGICO DOMICILIAR: LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO E DE

EXPERIÊNCIAS ... 261

Leila de Souza Ganem, Carla Cilene Baptista da Silva

COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO VALE DO RIBEIRA: NARRATIVAS SOBRE

VIVÊNCIAS EM SAÚDE ... 276

Leide Sousa Silva, Dante Marcello Claramonte Gallian

GRUPO TERAPÊUTICO INTERPROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE: UM POTENTE RECURSO PARA MUDANÇAS NO COTIDIANO DE PACIENTES DE UM

AMBULATÓRIO DE TERAPIA DA MÃO ... 296

Gisele Paiva, Lúcia da Rocha Uchôa-Figueiredo

NOTAS DOS AUTORES... 313 FONTES CONSULTADAS ... 320

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PREFÁCIO

A alegria e a emoção nos envolveram desde o primeiro momento em que fomos, generosamente, convidados a escrever o prefácio da Coletânea Ensino na Saúde: alegria por poder reencontrar, revisitar e compartilhar estudos que são tão significativos na trajetória do Programa de Pós-Graduação Ensino em Ciências da Saúde – Mestrado Profissional. Emoção por nos remeter ao trabalho coletivo e aglutinador que vem constituindo o nosso PPGECS-MP!!! E por entre alegria e emoção, fomos tecendo os sentidos de uma obra que assume como objetivo “organizar as produções tecnológicas/educacionais e científicas originadas no PPG Ensino em Ciências na Saúde – Mestrado Profissional e publicizar os conhecimentos gerados.”

O PPGECS-MP foi proposto pelo Centro de Desenvolvimento do Ensino Superior em Saúde (CEDESS) da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e aprovado pela CAPES em 2002, constituindo uma iniciativa pioneira no Brasil nesta área de conhecimento. Como um dos mais antigos e consolidados programas de Mestrado Profissional na área de Ensino na Saúde, objetiva a formação de um Mestre Profissional que: a) planeje, implemente e avalie ações educativas inovadoras no seu espaço profissional; b) produza conhecimentos sobre o Ensino em Ciências da Saúde a partir da problematização dos cenários de atuação profissional e, c) propicie uma qualificação técnica, criativa e potencialmente transformadora das práticas cotidianas no Ensino da Saúde.

O Programa agrega docentes e pesquisadores interessados e atuantes na mencionada área e, sem dúvida, desenvolve uma função de incubadora para a implantação de propostas formativas inovadoras no campo da formação em saúde. Assim, envolve novos docentes e técnico-administrativos que chegam à UNIFESP na sua expansão e seus processos de constituição como universidade plena.

E, com o jeito CEDESS de ser, o PPGECS-MP expande suas atividades para o Campus Baixada Santista, a partir de 2012: com um funcionamento na modalidade intercampi, integra turmas simultâneas vinculadas ao campus São Paulo (CEDESS) e ao campus Baixada Santista (Instituto Saúde e Sociedade -ISS), traduzindo movimentos de crescimento e consolidação no contexto da Universidade Federal de São Paulo.

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Esta contextualização histórica possibilita reconhecer os movimentos intensos vividos pela própria UNIFESP e seus impactos no Programa. O PPGECS-MP foi proposto e aprovado ainda no contexto da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, uma universidade por campo do saber. Logo após a sua criação, a UNIFESP torna-se uma universidade plena e vem evidenciando sua potência científica e relevância social, acadêmica e política.

O PPGECS teve um protagonismo importante nessa expansão, sendo uma das fontes de criação do Campus Baixada Santista: desde a autoria e proposição de um Projeto Pedagógico inovador (educação interprofissional em saúde), passando pela formação docente nos anos iniciais do Campus, até a produção de conhecimento sobre a proposta formativa que fora implantada, o Programa contribuiu decisivamente, bem como foi robustecido em suas Linhas e fortalecimento dos Grupos de Pesquisa.

O PPGECS-MP também expressa suas transformações no campo das políticas de pós-graduação vigentes na UNIFESP desde sua criação. Nos anos iniciais, marcante foi sua conquista de espaço e construção da identidade no escopo da modalidade Profissional da Pós-Graduação. No âmbito desta modalidade, configura um campo de práticas e produção de conhecimentos que conecta diferentes saberes. Envolve tanto as ciências básicas como os campos específicos de atuação profissional nas áreas da saúde, educação, políticas públicas.

A Coletânea Ensino na Saúde, ao enfatizar as produções do PPGECS-MP, inscreve-se como um dispositivo potente de desvelar as marcas que a trajetória do Programa impregna nas pesquisas realizadas, compondo desenhos investigativos que se articulam, se desdobram e se conectam, inserindo novos desafios, novas questões, novas problematizações.

A Coletânea funda-se na área de concentração do Programa – ensino em ciências da saúde – configurando seus três primeiros títulos no escopo das linhas de pesquisa – Avaliação, Currículo, Docência e Formação em Saúde, Educação Permanente em Saúde e Educação em Saúde na Comunidade, abrangendo as produções no período de 2004 a 2019.

Ao registrar as investigações desenvolvidas, a Coletânea possibilita a emergência das diferentes vozes nos processos de produção e análise de dados, permitindo (re)construir itinerários teóricos de compreender os objetos de estudo, conceber formas e vias de acesso aos campos empíricos, (re)conhecer as conexões entre os percursos investigativos e as dinâmicas de criação, proposição e avaliação dos produtos.

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Esta Coletânea é registro, é memória, é história de pesquisa, é experiência:

O sujeito da experiência é um sujeito “ex-pos-to”. Do ponto de vista da experiência, o importante não é nem a posição (nossa maneira de pormos), nem a “o-posição” (nossa maneira de opormos), nem a “im-posição” (nossa maneira de impormos), nem a “pro-posição” (nossa maneira de propormos), mas a “ex-posição”, nossa maneira de “ex-pormos”, com tudo o que isso tem de vulnerabilidade e de risco. Por isso é incapaz de experiência aquele que se põe, ou se opõe, ou se impõe, ou se propõe, mas não se “ex-põe”. É incapaz de experiência aquele a quem nada lhe passa, a quem nada lhe acontece, a quem nada lhe sucede, a quem nada o toca, nada lhe chega, nada o afeta, a quem nada o ameaça, a quem nada ocorre.1

Todos e todas nós, leitores e leitoras, temos em mãos, assim, uma obra que se desdobra, não apenas em três volumes, mas fomenta dobraduras, ressignificações, reinvenções, novas estampagens de significados, novas experiências. Eis o convite que as professoras organizadoras, parceiras e partícipes, Otília Seiffert e Rosana Rossit, nos fazem com implicação ético-política, rigor científico e com humana estética da criação. Eis o convite que os(as) autores (as) nos fazem, pois ao se ex-porem abrem brechas, sinalizam pistas, deixam indícios para seguirmos comprometidos com tempos históricos de defesa do Sistema Único de Saúde (SUS), da educação pública, das políticas públicas e sociais.

Nildo Alves Batista Sylvia Helena Souza da Silva Batista

1 LARROSA BONDÍA, Jorge. Notas sobre a experiência e o saber de experiência (2002) Revista Brasileira de Educação.

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AGRADECIMENTOS

Às(Aos) autoras(es), docentes-orientadoras(es) e mestres, que compartilham generosamente resultados de pesquisas e produtos educacionais implicados com a transformação de práticas

no campo do Ensino em Ciências da Saúde.

Às(Aos) colaboradoras(es) e instituições participantes das pesquisas que inspiraram e tornaram possível a construção de conhecimentos e

propostas aqui socializados.

Às pessoas que se envolveram com afeto e compromisso na construção desta Coleção Ensino em Ciências da Saúde.

Todo esse esforço se concretizou ancorado na premissa que “o sujeito que se abre ao mundo e aos outros inauguram com seu gesto a relação dialógica em que se confirma como inquietação e curiosidade, como

inconclusão em permanente movimento da história”1

11 FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia – Saberes Necessários à Prática Educativa. 5. ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2015. p.133

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APRESENTAÇÃO

A Educação em Saúde na Comunidade ilumina, em seu campo de abrangência, o planejamento, o desenvolvimento e a avaliação de processos educacionais voltados para a promoção de saúde, a prevenção, a proteção e os cuidados no plano individual e coletivo na perspectiva da educação emancipatória (CEDESS, 2020)1.

Partindo do escopo dessa linha de pesquisa do Programa de Pós-Graduação Ensino em Ciências da saúde – Mestrado Profissional, consideramos relevante distinguir a Educação em Saúde da Educação na Saúde. Falkenberg et al. (2013)2 explicitam como traço distintivo a

construção do conhecimento em saúde que visa à apropriação temática pela população, com vistas ao aumento da autonomia, em consonância com suas necessidades. Segundo esses autores em diálogo com Machado et al. (2007)3, isto implica num processo político-pedagógico

que requer pensamento crítico e reflexivo, permitindo desvelar a realidade e propor ações transformadoras, capazes de levar o indivíduo a ampliar a autonomia e emancipação, como sujeitos histórico e sociais, capazes de opinar nas decisões de saúde para cuidar de si, de sua família e de sua coletividade.

Na contramão das Campanhas Sanitárias, marcadas pela verticalidade das ações educativas, tendo por pressuposto que as pessoas seriam incapazes de cuidar de si próprios, estrutura-se uma postura reativa. A Educação em Saúde passa a valorizar o saber popular, paralelamente à consideração do processo saúde-doença, ressaltando-se, no plano educacional, a abertura para posturas dialógicas. Tais disposições são potencializadas no espaço aberto pela Reforma Sanitária que se concretiza com a institucionalização do Sistema Único de Saúde (SUS). Neste contexto colocam-se novos desafios aos gestores, ressaltando-se que a

1 CENTRO DE DESENVOLVIMENTO DO ENSINO SUPERIOR EM CIÊNCIAS DA SAÚDE – CEDESS. Programa de Pós-Graduação Ensino em Ciências da Saúde – Mestrado Profissional. 2020. Disponível em:

http://www2.unifesp.br/centros/cedess/mestrado/mest_profissional.htm.

2 FALKENBERG, M. B.; MENDES, T. P. L.; SOUZA, E. M. Educação em saúde e educação na saúde. Ciênc. Saúde Colet., v. 19, n. 3, p. 847-852, 2014.

3 MACHADO, N. F. A. S.; MONTEIRO, E. M. I. M.; QUEIROS, D. T.; VIEIRA, N. F. C.; BARROSO, M. G. T. Integralidade, formação de saúde, educação em saúde e as propostas do SUS – uma revisão conceitual. Ciênc. Saúde Colet., v.12, n. 2, p. 355-342, 2007.

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incorporação da participação e do saber popular aportam novos requerimentos relativos à formação profissional.

A propósito desta abertura dos 17 trabalhos, que integram este Volume três da Coleção Ensino em Ciências da Saúde, atende a possibilidade de ver delineada uma gama temática e de recursos instrumentais, que uma das linhas de investigação do Mestrado Profissional (MP) aporta.

Os trabalhos originários de dissertações, em coautoria de mestrandos(as) e orientadores(as), abordam a variedade cromática do campo atrelada, certamente, a diversidade da formação profissional de origem dos investigadores, assim como, dos distintos espaços de trabalho a partir dos quais equacionam os respectivos objetos de investigação. Independentemente do alcance das aproximações concretizadas, as exposições aqui apresentadas são reveladoras de alternativas que se descortinam diante da abertura das novas perspectivas educacionais.

A consideração da saúde como direito amplifica, por certo, os requerimentos da assistência a saúde potencializando, neste processo, o concurso das atividades educacionais. Se esta movimentação teve como requerimento a expansão da rede universitária no âmbito da saúde, em atenção às novas disposições sanitárias, ela incide, igualmente, no âmbito da educação, acrescentando-se, neste caso, o requerimento da renovação do aparato educacional. Nestas circunstâncias se institui a proposta, historicamente datada, da implantação da escola

democrática tendo, agora, por traço distintivo, a participação ativa do aluno na construção do

conhecimento.

Da perspectiva construtivista, a aprendizagem comporta um processo de transformação, mais do que de acumulação de conhecimento. Ou seja, é um processo que implica em transformar, continuamente, os elementos internos construídos pelo sujeito em sua experiência de vida (PIAGET, 2000)4. Nessa vertente dialética o discente assimila informações significativas

e as transforma — na contramão das concepções condutivistas e mecânicas. Sob essas concepções, trata-se de contextualizar as práticas de ensino-aprendizagem na própria dinâmica da intervenção social. Destacada a valorização da aprendizagem pela pesquisa, trata-se de propiciar a interpretação da realidade e tomada de decisões, em meio a própria dinâmica da

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interação social. Numa apreciação significativa e operativa se estabelece um processo de negociação compartilhada por referência a abordagem junto à comunidade. Nesta perspectiva se circunscreve a possibilidade da construção de significados que se constituem em ferramentas de análise e tomada de decisão — resguardadas, nestas condições, o respeito à autonomia discente, assim como no ordenamento da emancipação. Tal é o eixo que perpassa, indistintamente, os trabalhos que integram o presente volume.

Vale dizer que os esforços envidados, no sentido da reorganização da assistência orientada na direção da construção de um sistema único de saúde (SUS), envolviam, de forma correlata, a instalação de um complexo processo de descentralização assistencial. Esse processo delimitaria, estruturalmente, o espraiamento das ações educativas, balizadas pelos ideais de aproximação à população assistida, nas diversas instâncias de seu alcance. Diante da municipalização e da distritalização em curso, emergem novas instâncias e atores a serem considerados como sujeitos de intervenções educacionais, assim como as populações a serem assistidas. Nessa vertente de abordagem se inscrevem trabalhos como a “Saúde e Cogestão

Popular: Limites da Implementação e Efetivação do Conselho Local de Saúde na Cidade de Santos/SP”, que avalia o desenvolvimento e impacto de seu funcionamento na atenção

primária do Sistema Único de Saúde e aponta para a desinformação e pouca articulação entre atores e instâncias envolvidas no processo de controle social. “Fale conosco da UNIFESP e da

População na Busca por Informações em Saúde”, na perspectiva da informação, assume o

propósito de identificar e caracterizar as solicitações dos usuários para o aperfeiçoamento do canal de comunicação do Portal da UNIFESP. “A Contribuição Freireana para o Diálogo entre

os Gestores de Restaurantes Comerciais e a Vigilância Sanitária sobre a Segurança dos Alimentos” dispõe fomentar o diálogo problematizador entre os gestores de restaurantes e o

serviço municipal de Vigilância Sanitária, como recurso a ser mobilizado no contexto da segurança dos alimentos. Já com o foco nos serviços de Atenção Domiciliar, cuja importância vem ganhando expressão dado o envelhecimento da população, o trabalho, “Pacientes em

Cuidados Domiciliares: Dificuldades dos Cuidados Familiares” alude para o fato de que

esses profissionais, muitas vezes, não possuem nenhuma capacitação formal. Diante da insegurança por eles revelada, os autores chamam a atenção para a necessidade da construção de programas de preparação específica para cuidadores domiciliares.

Em concomitância com a organização as ações de saúde no âmbito do SUS, um leque de abordagens se abre voltado em torno da questão dos direitos à saúde, que se inscreve na

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temática da inclusão social. “Humanos ou Cobaias? Trajetórias de Cuidado e o Desafio do

Direito à Saúde de Pessoas Travestis e Transexuais” versa sobre as principais dificuldades

e avanços envidados na garantia do acesso à saúde, sob a ótica das pessoas travestis e transexuais que utilizam o ambulatório no município de Santos-SP. “Desafios da Construção

da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência”, por sua vez, ressalta a necessidade de

serem viabilizados práticas e serviços mais acessíveis, tendo em vista o cumprimento da igualdade de direitos, que consta do arcabouço legal do país. “O Famoso Invisível: Percepção

da População em Situação de Rua do Atendimento em Urgência e Emergência no Sistema Único de Saúde” problematiza o acesso à saúde por parte desse segmento populacional,

apontando para vivências que se reportam a construção da imagem social do negro no país e das desigualdades sociais por eles constituídas nas trajetórias do cuidado em saúde. E o capítulo

“Mulheres com Filho(a) Deficiente Receptora do Benefício de Prestação Continuada – BPC” volta-se a mães de criança ou adolescente com deficiência, em idade escolar, que

recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC) com a intencionalidade de saber acerca da concepção de família, do acesso às políticas públicas e da rede de apoio: amigos e vizinhança. Ao procurar identificar à rede de relações das mulheres, as autoras evidenciam que as mulheres investigadas pautavam suas relações no cuidado com os filhos e que sofrem na tarefa de cuidar de sua prole, na maioria das vezes, constituídas em famílias monoparentais com chefias femininas, com pouco ou nenhum acesso ao trabalho e renda formal.

Se, o movimento de reordenação assistencial descortina um quadro diversificado de espaços de aproximação às populações, reconfigurando, por assim dizer, o campo da Educação em Saúde nas Comunidades, o processo ensino-aprendizagem, fundamentado na busca ativa do conhecimento, particularmente nesse momento privilegiado da formação profissional, coloca em evidência a consideração da interdisciplinaridade, envolvendo não só a confluência dos aportes do campo educacional, mas também as exigências, sempre presentes do trabalho em equipes multiprofissionais – traço que preside ao conjunto dos trabalhos apresentados. Com esse enfoque o capítulo “Educação em Saúde e Diabetes Mellitus: Práticas na Atenção

Primária” destaca a constituição de um cenário privilegiado para o cuidado dos usuários, nesta

instância, na medida em que contempla orientação para ações voltadas à promoção da saúde. O estudo alerta para a relevância da formação específica dos profissionais, ressaltando entre outras orientações, no âmbito da inovação educativa e da educação permanente, o estímulo ao trabalho integrado entre as diferentes profissões da saúde, ancorado na interdisciplinaridade. Para além da atenção primária, o capítulo “Práticas Profissionais em um Ambulatório

(14)

Oncológico” aponta igualmente para a relevância do trabalho em equipe. A propósito, os

autores chamam a atenção para o requisito da integração de conhecimentos, paralelamente a articulação das atividades profissionais durante o desenvolvimento de uma intervenção, orientada para o cumprimento de um objetivo comum. Ressalta-se a valorização da prática colaborativa, reconhecendo que a inter-relação entre as diferentes especialidades pressupõe o trânsito pelas esferas biológica, emocional e sociocultural. O capítulo “Redução de Danos:

Concepções, Práticas e Contradições em um Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Outras Drogas-CAPS”, avançando, agora, para o nível da reabilitação, apresenta parte dos

resultados de uma pesquisa-intervenção realizada no CAPS-AD de Santos-SP. Nesse caso específico, coloca-se o propósito de investigar como os profissionais da equipe multiprofissional compreendem a Redução de Danos (RD) e quais ações são desenvolvidas nessa perspectiva, como requisito para o enriquecimento das práticas de cuidado. Em “Caixa de Memória:

Narrativas da Dança em Convivência – Práticas Inventivas em Cuidado na Saúde Mental”,

os autores problematizam a importância da dança em convivência, como espaço “do criativo” em um equipamento de saúde mental. A proposta, materializada na ferramenta-caixa de memórias, comporta narrativas de experiências a partir de convivências criativas no espaço das práticas de saúde. Neste sentido, abrindo o leque interdisciplinar, no âmbito do tratamento e da reabilitação, essa articulação salienta a relevância das artes como recurso terapêutico, enquanto objeto da Educação em Saúde na Comunidade.

Vale dizer que, sob o manto interdisciplinar do campo da Educação em Saúde na Comunidade, ao lado da diversidade temática destaca-se a aproximação com as Ciências Sociais e Humanas, assim como de seus recursos e instrumentos de investigação. Sem pretender parametrar os trabalhos, do ponto de vista técnico-metodológico – mesmo porque, o delineamento das temáticas e respectivos instrumentos de investigação se repetem com frequência – trata-se, isto sim, de ilustrar a variedade instrumental que a área alberga, a par do requisito da compatibilização teórica. Assim, no capítulo “Concepções sobre as Práticas da

Terapia Ocupacional na Educação Regular do Município de Araras”, os autores recorreram

à entrevista semiestruturada, aplicada a dez coordenadoras pedagógicas. Focalizando concepções de Terapia Ocupacional, o estudo mostra a necessidade de reflexão acerca das formas de atuação desse profissional, de modo a transcender a prática centrada apenas nas dificuldades dos estudantes, contemplando as práticas que contribuam para a legitimidade da educação inclusiva. Por sua vez, congregando métodos qualitativos e quantitativos, o capítulo

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primeiro focalizou a rede de apoio à criança e ao adolescente com hemofilia recorrendo, como instrumento de investigação, a entrevista semiestruturada, em conformidade com abordagens qualitativas associada a análise de conteúdos, entre outras. O segundo projeto, procedendo a uma avaliação docente, em meio à implantação de um curso de medicina num contexto multicultural (que abriga brasileiros e hispânicos), assim como o terceiro projeto, que se dispôs avaliar o desenvolvimento das competências assistenciais na formação do técnico em enfermagem em cenários de prática, recorreram a Escala Likert, operando nestas condições, com a combinação criativa de abordagens e procedimentos qualitativos e quantitativos, no plano investigativo.

Neste mesmo nível de abordagem, em meio a variedade dos recursos investigativos utilizados no campo da Educação em Saúde na Comunidade, o trabalho “Atendimento

Pedagógico Domiciliar: Levantamento Bibliográfico e de Experiências” atende a escolha

deste tipo de levantamento em função da intenção de trabalhar o referencial teórico e conceitual relativo ao objeto da investigação. Segundo os autores, apesar da temática estar contemplada na legislação nacional, o assunto ainda é pouco estudado. Considerando o programa de Atendimento Pedagógico Domiciliar direcionado aos estudantes impossibilitados de frequentar as escolas, os autores apontam, na perspectiva da inclusão social, para as possibilidades e desafios a serem considerados. Já o estudo sobre “Comunidades Quilombolas do Vale do

Ribeira: Narrativas Sobre Vivências em Saúde” envolveu a opção pela história oral de vida,

buscando compreender as percepções sobre a saúde nas comunidades quilombolas do Vale do Ribeira-SP. Quatro temas emergiram das análises: processos identitários, territorialização, percepções de saúde e atendimento de saúde. A partir desses recursos foi possível observar os avanços conquistados pelas comunidades após o reconhecimento constitucional, ressaltada a importância das associações locais, assim como as dificuldades no atendimento de saúde e suas implicações no contexto comunitário. Numa variante investigativa os autores do trabalho “Grupo

Terapêutico Interprofissional de Educação em Saúde: um Potente Recurso para Mudanças no Cotidiano de Pacientes de um Ambulatório de Terapia da Mão” avaliaram os resultados

desses grupos. Com base na realização de entrevistas semiestruturadas e dos diários de campo escritos pelos estudantes de Terapia Ocupacional e Psicologia da UNIFESP- Baixada Santista foi possível identificar o desenvolvimento de maior autonomia e independência nas atividades básicas da vida diária dos participantes, junto à redução dos sintomas, computada a constatação de benefícios emocionais, como o incentivo, autoestima e enfrentamento.

(16)

Os trabalhos apresentados nos remetem à amplitude temática e de recursos instrumentais que qualificam o escopo da linha investigativa da Educação em Saúde na Comunidade, estruturada sob o desafiante eixo paradigmático de reconhecimento do saber popular, paralelamente à busca pela institucionalização da saúde como direito. A propósito das potencialidades que o quadro desenhado comporta, ressalta-se a pertinência de sua re-atualização, atenta aos desafios das transformações que vêm acontecendo em escala global – seja no âmbito da renovação da ordem do trabalho, seja no âmbito da reorganização das instituições de educação e das incertezas e desafios do momento atual da Pandemia Covid 19.

Importante destacar que na sociedade da informação, lastreada pelo desenvolvimento tecnológico, foram inusitados os avanços do conhecimento. Descrevendo a trajetória desse percurso desde a Revolução Cognitiva, Harari (2016)5 registra que o homem alcança a

Revolução Científica, particularmente nos últimos 500 anos, contabilizando avanços até então impensáveis. Ponderando sobre o real alcance dessas conquistas, o autor indaga se os homens se tornaram mais felizes frente a esses avanços. Ciente das objeções éticas e políticas subjacentes à incorporação das novas conquistas, esse autor alerta para as deficiências de cooperação entre os homens e nações, alertando para o fato de que lidar com a felicidade constitui “a maior lacuna do nosso conhecimento”. Nesta instância se inscreve o convite à reflexão sobre o campo da Educação em Saúde na Comunidade, reafirmando o compromisso com o aprimoramento da democracia e a construção de uma existência mais inclusiva, pautada, agora, pela perspectiva da emancipação civilizatória.

Paulete Goldenberg Rosana Aparecida Salvador Rossit Otilia Maria Lúcia Barbosa Seiffert

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SAÚDE E COGESTÃO POPULAR: LIMITES E DESAFIOS DA

IMPLEMENTAÇÃO E EFETIVAÇÃO DO CONSELHO LOCAL DE SAÚDE NA

CIDADE DE SANTOS/SP

8

Ivone Leal Benedito

Assistente Social Secretaria Municipal de Saúde de Santos (SMSS) Santos – SP

Ana Rojas Acosta

Universidade Federal de São Paulo Centro de Desenvolvimento do Ensino Superior em Saúde São Paulo – SP

RESUMO O presente capítulo tem como objetivo investigar o desenvolvimento, funcionamento e impacto dos Conselhos Locais de Saúde (CLS) na cogestão da atenção primária do Sistema Único de Saúde (SUS) do município de Santos/SP a partir de um território específico, que foi a região dos Morros. O caminho metodológico percorrido foi o da abordagem qualitativa, realizando-se pesquisa de campo para coleta de fonte primária. Foram realizadas, na fase exploratória visitas in locus às unidades de atenção primária e Conselho Municipal de Saúde (CMS), com avaliação de atas dos CLS, entrevistas semiestruturadas junto aos conselheiros (gestor/usuário/profissional da área), além de os profissionais e usuários que não atuavam como representantes nos CLS dessas unidades. Na análise, constou-se que os Conselhos surgem da intenção de fomentar a aproximação das unidades de atenção primária com a comunidade local. Desde a implementação os CLS sofreram queda tanto em relação à frequência como na solidificação das suas assembleias. Contudo, identificamos como potencial de cogestão local, experiências enriquecedoras para pensar a participação, o controle social e a política local de saúde. Porém os CLS pesquisados não conseguem cumprir um papel de cogestão na política de saúde e os envolvidos encontram-se muito fragilizados no processo de participação popular. Registou-se desinformação e pouca articulação entre os atores e instâncias envolvidas no processo de Controle Social. Os CLS são espaços privilegiados para as unidades e territórios, mas necessitam de reflexão e incentivo na formação política por parte de todos os envolvidos.

Palavras-chave: Conselhos de saúde; Participação social; Atenção primária em saúde; Política de saúde; Sistema único de saúde.

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1 INTRODUÇÃO

O presente capítulo é fruto da dissertação de mestrado: “Saúde e Cogestão Popular: os limites e desafios da implementação e efetivação dos conselhos locais de saúde em um território da cidade de Santos/SP”, que foi defendida no ano de 2014 no Programa de Pós-Graduação Ensino em Ciências da Saúde. A pesquisa realizada corresponde à modalidade profissional do Centro de Desenvolvimento de Ensino Superior em Saúde (CEDESS) da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) do Campus Baixada Santista. Uma das intenções desse trabalho foi evidenciar a situação do espaço do Conselho Local de Saúde em Santos, entre os meses de junho a setembro de 2013, período em que foram coletados os dados da pesquisa de campo. A partir dessa analise foram indicados caminhos para o aperfeiçoamento das práticas de cogestão e participação popular no âmbito da atenção primária em saúde do SUS no referido município. Uma vez que entendemos que este espaço do conselho deve proporcionar maior participação da comunidade local, com a ampliação e qualificação na cogestão da atenção primária à saúde.

A Atenção Primária à Saúde (APS) na cidade de Santos/SP em 2011, ao acompanhar alguns Conselhos Locais de Saúde (CLS), observou muitas indagações de trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS) frente à baixa participação dos usuários nestes espaços e o pouco crédito e incentivo dado por alguns destes trabalhadores aos Conselhos Locais. Esta questão trouxe reflexões e inquietações, fazendo com que o espaço do CLS se revelasse um objeto de estudo para o presente trabalho.

Partindo do entendimento que a temática do controle social e participação social são próximas e pertinentes à discussão de saúde coletiva, assim como do serviço social, teve-se a intenção de ampliar os estudos na compreensão dos Conselhos Locais de Saúde, seus limites e desafios.

Essas formas de participação da comunidade são nomeadas mais comumente na literatura como Controle Social. Como bem sabemos, passamos por dois regimes ditatoriais em menos de um século, onde sempre houve um controle do Estado sobre a sociedade. Logo, frente a força e consciência que a sociedade civil alcançou, afiançados nas experiências de participação por lutas de direitos sociais vivenciados nos anos 1980, viu-se também uma necessidade fecunda do controle social, desta vez da sociedade civil frente as decisões do Estado.

Bidarra (2006) destaca que espaços públicos são caminhos legítimos para conquistas de direitos sociais para as mais diferentes demandas. Neste conceito, os CLS caracterizam-se como

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um espaço público. Nas palavras do referido autor, os espaços públicos “são os canais privilegiados para os encontros, a explicitação, as disputas e as negociações entre aqueles que defendem posições diferenciadas quanto ao nível de partilha da riqueza social transferida pelas políticas públicas” (BIDARRA, 2006, p. 48).

Considerando toda essa potência de possibilidades, o estudo teve o objetivo verificar e analisar o desenvolvimento, funcionamento e impacto dos Conselhos Locais na cogestão da APS, partindo de um território específico da cidade de Santos – os Morros. Teve ainda como objetivos específicos a intenção de conhecer esse espaço e verificar o processo de participação popular na gestão do SUS através destes Conselhos. O recorte do primeiro capítulo se deu pela política de saúde no Brasil, com apontamentos para o desenvolvimento histórico da saúde enquanto política tanto na reforma sanitária quanto na constituição do sistema único de saúde (SUS).

A cidade de Santos-SP está localizada no Litoral paulista a aproximadamente 72 km da capital, e tem sua população localizada majoritariamente na região insular da cidade. O Departamento de Atenção Básica (DEAB) da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Santos organiza-se em quatro grandes territórios sanitários: Área Central Histórica/Área Continental e Ilha Diana; Zona Noroeste; Morros; e, Orla.

No DEAB cada território tem características próprias e é gerido por uma coordenação. A região dos Morros, eleita por esse estudo é geograficamente constituído por um grande morro dividido por bairros. Identificamos que o território dos Morros é fragmentado em suas características tanto geográfico quanto na organização e dinâmica dos moradores. Porém também há familiaridades, tais como uma população mais estática, com famílias que habitam no território há décadas. Alguns bairros são vítimas, de forma mais agressiva do poder paralelo, com forte presença do tráfico armado, alto índice de violência e uma população majoritariamente desfavorecida economicamente. Esse território na época da pesquisa contava com oito unidades de APS e um pronto atendimento. Sendo quatro unidades de saúde da família (USF) e três unidades básicas (UBS) com modelo tradicional.

No campo da saúde pública, um dos mecanismos de controle social de maior relevância e previsto pela legislação do SUS, são os Conselhos de Saúde. Estes são previsto nos três níveis de gestão: municípios, estados e união. Para além destes, o Conselho Municipal de Saúde (CMS) de Santos, em conjunto com a administração municipal implementou em 2008 os Conselhos Locais de Saúde como instrumento de gestão compartilhada nas unidades de APS da cidade.

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2 A CONSTITUIÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE: O SUS

O SUS é fruto do movimento da reforma sanitária em curso desde os anos 1970, compreende-se, assim como Mendes (1999, p. 45), que ele é “entendido como processo social em marcha, não se iniciou em 1988, com a consagração constitucional de seus princípios, nem deve ter um momento definido para seu término” devendo ser conhecido como processo social em curso até os dias de hoje.

Paim (2007) destaca que a reforma sanitária trazia duas ideias centrais para uma proposta de política de/e para saúde como “direito à saúde (conquistado e não como dádiva) e participação

da comunidade (população organizada, profissionais e trabalhadores de saúde)” (p. 86).

O momento político atravessado na década de 1980 foi marcado por crise econômica e social, contudo, o fortalecimento e efervescência dos movimentos sociais também geraram terreno propício para a discussão e envolvimento no debate da saúde, sendo pauta para refletir a partir das demandas da população, com profissionais de saúde, teóricos da área entre outros, uma política de saúde que pensasse a seu respeito de forma mais ampla e democrática.

A VIII Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, representou um marco para constituição do SUS, apontando propostas para sua composição pautada principalmente nas discussões da Reforma Sanitária. Paim (2007, p. 92) mostra que a Conferência Nacional foi estruturada sobre os eixos: “saúde como direito inerente à cidadania, reformulação do sistema nacional de saúde e financiamento do setor saúde”.

O novo sistema de saúde concretiza-se juridicamente através da Constituição de 1988, por meio do artigo 196, que diz que “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.” Este artigo subsidiará, somente mais tarde, em 1990, a promulgação a legislação que institui o SUS, a Lei 8.080 de 19 de setembro de 1990, que teve vetos referentes ao financiamento e ao Controle Social do então Presidente da República Fernando Collor de Mello. Em seguida, devido às pressões populares tornou-se necessária a promulgação da Lei nº 8.142 de 28 de dezembro de 1990, dispondo quanto a participação da comunidade na gestão do SUS e a transferência intergovernamental de recursos financeiros para a política. Foram duas questões, recursos financeiros e participação popular, ambas de suma importância, que foram vetadas na lei que regulamenta o SUS. Entendemos que uma, o recurso, garante a efetivação da política e a outra, participação, o envolvimento da sociedade nas decisões políticas acarretando assim partilha de poder. Desse ponto partem análises no presente estudo, sobre a importância do caráter de participação social para construção desta política. Em contraponto às

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conquistas alicerçadas, a mesma legislação permite que “a assistência à saúde é livre à iniciativa privada” (Lei no 8.080, art. 21), gerando um contrassenso às lutas da Reforma Sanitária e aos

princípios afiançados. Tal contrassenso é condizente e fruto de uma política econômica vigente e em ascensão já nesta década, o neoliberalismo. Evidenciando assim o que Neves (2005) chama de “disputa entre dois projetos societários: o democrático-popular e o neoliberal” (p. 197). Na área da saúde o artigo 198, da Constituição, a participação na comunidade ganha ênfase ao ser considerada uma das diretrizes que organizam o SUS (BRASIL, 1988), trazendo assim uma nova forma de se pensar a participação política da sociedade, através da participação da comunidade.

Para Krüger (2008) essa ênfase na participação da comunidade junto à gestão de políticas públicas se deve ao fato de que “a luta social pela democratização estava muito datada e marcada pela derrubada do regime ditatorial, portanto, o horizonte e o projeto societário daquelas pessoas era a democracia” (p. 82).

Ao se entender participação política como “cuidar das decisões sobre problemas de interesse da coletividade” (DALLARI, 1984, p. 8) percebe-se a potencia e importância dessa garantia instaurada na carta magna, assim como nas leis que a procedem. A Lei nº 8.142 no seu artigo 1º, elege duas instâncias colegiadas para cada esfera de governo, a fim de garantir essa participação, são elas a Conferência de Saúde e os Conselhos de Saúde. Embora tenham uma proposta democratizante, estes são também espaços de contradição. Krüger (2008, p. 81) realizará uma série de críticas a “crença” nas conferências e conselhos como instrumentos de participação e controle social. Para esta autora os integrantes de diferentes movimentos na luta pela democratização viam de forma “basista” e “romântica” o caminho da lei como suficientes para concretizá-la e ampliar direitos sociais. Além desta crítica, ela aponta para a falta de cultura política de participação que esses modelos demandam, além de enfatizar a heterogeneidade da sociedade.

Contudo, as instâncias previstas legalmente como modelo de participação, não podem ser deslegitimadas. Esta mesma autora além das críticas traçadas afirma o caráter democratizador destes espaços. Ela afirma que,

A implementação da diretriz constitucional de participação da comunidade para as políticas sociais não promoveu mudanças de paradigmas, mas abriu um espaço para os segmentos populares começarem a conhecer e debater a agenda pública estatal. Portanto, esse espaço tem que ser ocupado e qualificado com bases nos interesses e necessidades coletivas. O exercício dessa participação social enfrenta várias dificuldades, mas é certo que os Conselhos têm levado muitos gestores, nas três esferas de governo, a dividirem o poder, a prestarem contas e a não terem mais a exclusividade das decisões (KRÜGER, 2008, p. 89).

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Neves (2005) chama atenção de como a despolitização da sociedade civil gera risco para o caráter democrático e participativo destes espaços públicos. Ela também vai afirmar que na participação popular existiu uma idealização otimista do potencial democratizador “negligenciando-se aspectos tradicionais da cultura política brasileira” (NEVES, 2005, p. 199). Outra questão importante que essa autora aponta (2005) é a ofensiva neoliberal na década de 1990, período que se inicia o “boom” de implementação desses espaços democráticos, institucionalizando a participação. Deste modo, pode-se ter uma sociedade civil que atua de forma propositiva numa perspectiva de cogestão ou uma sociedade civil associada e atrelada ao mercado (NEVES, 2005) “numa perspectiva mais liberal, conservadora e individual” (p. 214). Entende-se estes espaços como potência para participação e ampliação de direitos sociais, contudo sem deixar de serem espaços de contradições, interesses e conflitos. Diferentes pesquisas apontam resultados que revelam baixa participação e pouco poder de deliberação e efetivação das demandas destes espaços.

Diferente dos CMS, a criação de CLS não é uma determinação legal, é opcional dos municípios e CMS. Devem servir como instrumento de ampliação da democracia e participação popular aproximando usuários do SUS, profissionais de saúde e gestores. Apresentam-se em nível local nos territórios de responsabilidade sanitária, estando assim, mais próximo das necessidades reais destes mesmos atores, facilitando a busca por soluções e propostas conjuntas.

A extinta Resolução nº 333 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) mencionava os CLS na definição dos Conselhos de Saúde, os considerando como contribuindo para o processo de descentralização e sob coordenação dos CMS, já a Resolução nº 453/2012 que a revoga, não cita os CLS em seu texto.

Vale citar, embora também não especifiquem os CLS, que em 2014 o governo federal institui através do Decreto nº 8.243, a Política Nacional de Participação Social (PNPS) e o Sistema Nacional de Participação Social (SNPS) “com o objetivo de fortalecer e articular os mecanismos e as instâncias democráticas de diálogo e a atuação conjunta entre a administração pública federal e a sociedade civil” (art. 1º), porém em 2019 o Governo Bolsonaro decreta o fim desta, através do Decreto nº 9.759/2019.

Embora os CLS não tenham previsão legal é possível observar que tais iniciativas já são realizadas há algum tempo, havendo experiências datadas de 1992, o que acarreta um acumulo e balanço desses arranjos participativos. Outros municípios estarem aderindo estes espaços, sugere que estes podem estar dando respostas às demandas de ampliação da participação social e comunitária.

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Na cidade de Santos/SP, os CLS foram implementados através do CMS por meio de Resolução Normativa nº1/2006. Nessa Resolução é mencionado que a criação dos CLS já eram demandas de Conferências passadas e decisão da 8º Conferência Municipal de Saúde, já lhe atribuindo caráter permanente (Resolução Normativa 1/2006 – art. 1º). Esta também prevê a paridade contando com usuários do SUS (50%), gestores (25%) e representantes dos trabalhadores de saúde (25%) e estão destinados ao “acompanhamento, fiscalização, avaliação e controle da execução das políticas e das ações de saúde definidas na Conferência Municipal de Saúde, e subordinado ao Conselho Municipal de Saúde” (Resolução Normativa 1/2006 – art. 2º).

Não difere das recomendações das legislações quanto às atribuições de um Conselho de Saúde, contudo direcionado a subsidiar o CMS em suas atribuições e ter contato direto com a população usuária do SUS, nos “limites” da APS.

3 CAMINHOS PERCORRIDOS: A METODOLOGIA E O CAMPO

Primeiramente, apresentaremos os processos de implementação e efetivação do SUS e os desafios que fragilizaram e/ou potencializaram o sistema de saúde. Chamamos a atenção para o caráter de participação na construção do SUS é de relevância para o alcance atingido até período da pesquisa. Analisamos a política, controle e participação social nos conselhos de saúde na cidade de Santos, investigando a organização das reuniões locais e os resultados. Para a realização desse trabalho foi primordial o uso da abordagem qualitativa e fundamentação do materialismo histórico dialético.

A pesquisa foi executada em dois momentos, uma fase exploratória através de visitas às unidades de saúde, com o propósito de obter informações quanto ao funcionamento dos CLS, além de outros dados pertinentes para elegibilidade da segunda fase. Nesta contatamos as oito unidades de saúde que compõem a APS do território dos Morros. Foi privilegiado o contato com o gestor das unidades. Consoante a Gil (2012), este é um estudo de campo e, como proposta de análise dos dados foi baseado na análise de conteúdo. Este método tem em sua teoria as fases de pré-análise; exploração do material; e tratamento dos dados, interferência e interpretação de análise.

O levantamento de dados desta fase foi realizado através de instrumento próprio, específico para essa coleta. Ao final desta, os resultados da sistematização eram mostrados ao gestor, que fazia esclarecimentos pertinentes e uma cópia dos dados era deixado com a unidade de saúde.

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Para um aprofundamento qualitativo, a segunda fase foi caracterizada pelas entrevistas semiestruturadas com os sujeitos/atores da pesquisa. Definimos cinco categorias: Conselheiros – Gestor/ profissional da saúde/ usuário, além de um profissional de saúde e usuário que não estivessem no papel de conselheiros. Como critério para as entrevistas o CLS tinha que estar reunindo-se sistematicamente, ao menos nos últimos quatro meses. Na fase exploratória nos deparamos que no total de oito unidades, apenas duas estavam com reuniões periódicas no tempo proposto. Desta maneira, optamos por entrevistar as cinco categorias de atores nestas duas unidades que atendessem os critérios de inclusão e exclusão.

A pesquisa contou ainda com visita ao CMS de Santos, com propósito de identificar a forma e o entendimento da articulação que este estabelece com os CLS, além da história da idealização, implementação, as percepções e perspectivas frente ao nosso objeto de pesquisa. Sendo assim foi realizada mais uma entrevista naquele local. Destaca-se que esta visita e entrevista ao CMS foi realizada após todas as etapas no território dos Morros. A entrevista foi concedida por um conselheiro representante dos usuários, que informou ter participado de todo processo dos CLS na cidade, e que pertencia a Secretaria Executiva, do CMS desde 1995.

Todas as entrevistas ocorreram de forma voluntária, além de ter garantido o conforto e privacidade do entrevistado, assim como as informações e condições éticas necessárias. No presente trabalho não revelamos os nomes das unidades de saúde e pessoas entrevistadas para garantir o sigilo. O projeto desta pesquisa foi aprovado tanto pelo Comitê de Ética em Pesquisa da SMS de Santos, como do Núcleo de Bioética da Universidade Federal de São Paulo – campus Baixada Santista.

Realizou-se busca bibliográfica nos bancos de dados. Através da biblioteca virtual em saúde (Bireme) foi possível encontrar 13 arquivos, e nos Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior (Capes), 200 artigos. Destes, após avaliação dos resumos, foram aproveitados seis artigos da Bireme e quatro artigos da Capes.

4 RESULTADOS

O CMS optou para o processo de implementação dos CLS nas unidades de APS, a realização do que eles chamam de “Projeto Piloto”. A primeira unidade que teve a experiência dos CLS pertencia ao território dos Morros e tinha como objetivo servir de modelo para as demais unidades de saúde posteriormente. O CMS escolheu essa unidade para “piloto” por terem avaliado que ela tinha bom relacionamento com a comunidade local. Assim, teve sua primeira eleição em 29 de setembro de 2008. A implementação dos CLS nas demais unidades desse território se deram entre outubro de 2010 a setembro de 2011.

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Estes CLS foram criados através de Resolução 1/2006 do CMS, publicado em 17 de agosto de 2006, contudo só em março de 2008 o CMS emite a Resolução 02/2008, convocando e orientando o processo de eleição. Essa distância nos períodos revela que não foi um processo fácil em sua organização e construção gerencial e política.

Na entrevista ao CMS o representante relata que a intenção de criação dos Conselhos Locais surgiu ao observarem que muitas queixas e reivindicações que usuários realizavam, eram de ordem organizacional de âmbito local. Quando iniciou o processo de implementação nas demais unidades, realizaram um encontro com todos os gestores das unidades de APS. Este encontro foi promovido pelo DEAB da SMS, e tinham-se a intenção de posteriormente realizar uma capacitação para todos os Conselheiros eleitos, porém esta ação nunca ocorreu.

Foi identificada uma dificuldade em manter constância na periodicidade das reuniões, assim como no número de participantes nos CLS. Os momentos que foram observados um número elevado de participantes, geralmente, estavam atrelados a algum evento que ocorria na unidade ou quando utilizavam a sala de espera de consulta médica. Observamos que alguns CLS não conseguiu realizar nenhuma reunião ordinária. Os demais CLS embora com muita oscilação, conseguiram organizar-se e realizar alguns encontros, porém uns com muitos meses seguidos, sem reuniões. Além disto, sentimos lacuna do registro informando os motivos da não realização das reuniões, que segundo os gestores eram na maioria das vezes por falta de

quórum. Apenas dois CLS conseguiram ter uma constância de reuniões e números de

participantes, porém um deles em determinado momento também deixou de se reunir.

Foi possível observar nas atas de alguns CLS que, principalmente quando ocorre troca de chefia e profissional de enfermagem, seja por substituição definitiva, férias ou licença, tem-se uma tendência à descontinuidade do trabalho. Foram coletadas em atas de diferentes CLS, situações em que a reunião não aconteceu quando a gestora não pôde estar presente. Nesse sentido, cabe registrar que o CLS é autônomo, logo não deveria ficar vinculado ou referenciado a apenas um sujeito.

Avalia-se que os CLS ainda não conseguiram solidificar uma rotina de encontros, discussões, sistematizações, horários, etc. da ordem de organização, periodicidade e identidade desse espaço junto à unidade e comunidade. Desde o processo de implementação, ao analisar o território proposto, nota-se que este espaço foi se perdendo no contexto da unidade de saúde, do CMS e da gestão da SMS. Já na comunidade acredita-se que o alcance foi irrisório diante de tamanha desinformação encontrada.

Vale destacar que o número de reuniões e de participantes não mede participação popular ou controle social de uma forma isolada. Contudo, o espaço do encontro nas reuniões previstas

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pela legislação vigente é um espaço privilegiado para o diálogo e debates necessários no processo de gestão compartilhada, assim como as discussões a serem travadas.

Nota-se na análise do conteúdo das pautas nas atas, que apenas duas unidades conseguiram realizar uma discussão com a comunidade para além das questões do serviço de saúde. Essas unidades realizaram articulações com outros equipamentos e lideranças locais. Inclusive, houve uma unidade com participação de representantes de equipamentos ligados à Assistência Social, Educação, Tráfego, outros serviços de saúde, Associação de Moradores de bairro, entre outros. Esse tipo de ação é extremamente positiva, uma vez que questões da comunidade que acometem a saúde vão além da governabilidade da unidade de APS.

Embora outros CLS tivessem, em suas reuniões, questões mais amplas da comunidade, não foi identificado poder de articulação para resolução de questões que apareceram ou iniciativas, no sentindo de pensar caminhos de forma coletiva para equacioná-las. Alguns entrevistados entendem que algumas das demandas não são de competência do CLS, todavia compreendemos que o espaço público pode e deve ser um mecanismo que contribua para mobilização e/ou processos reflexivos e de fortalecimento da comunidade local.

É importante frisar que a APS é chamada para muitas frentes e as equipes para atender tais demandas são reduzidas. Porém, o CLS é um coletivo e deve ser autônomo ao serviço de saúde. Ele deve trabalhar em conjunto não só entre os membros eleitos, mas com a comunidade de abrangência da unidade de saúde e isso não deve ser atribuição e gerenciamento de apenas um membro.

O encontro desses atores no espaço do CLS promove um grande potencial, no qual observamos algumas conquistas e avanços. Das oito unidades avaliadas somente em três nota-se articulação com a comunidade para utilizar recursos dela própria em prol do atendimento e serviço de saúde. Como exemplo, conseguiram garantir vaga de estacionamento para ambulância. Este território tem apenas uma rua de acesso a um campo, e deste não se consegue acessar outras partes do bairro por meio de automóveis. Esta demanda aparecia como uma preocupação dos usuários decorrente da possibilidade de em emergência a ambulância não conseguir subir o morro para o resgate ou ter espaço garantido para estacionar.

No estudo foram levantadas outras ações com articulação de equipamentos competentes, como colocação de sinalização em frente à escola, após ser observado veículos em alta velocidade; colocação de hidrante de emergência em território que ainda não tinha; articulação junto aos comerciantes e artistas locais para apoio de recursos, a fim de contribuir para a festa de aniversário de uma das unidades pesquisadas.

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Surgiram outras experiências em que o CLS foi articulador no território para encontrar espaços alternativos, em que o serviço de saúde pudesse realizar atividades extramuros. O CLS também contribuiu com sugestão de terreno para construção de nova unidade. Além de outros relatos extremamente interessantes, pudemos observar a importância do CLS no processo de participação e conquistas da comunidade.

O movimento do Conselho com a unidade de APS é rico e propicia a mobilização e integração dos usuários com equipes e gestores. Observa-se ganhos concretos com a intervenção do CLS, deste a instalação de um simples ar-condicionado ou bebedouro na unidade de saúde, até experiências como estas descritas acima.

As atas analisadas descrevem majoritariamente pautas de questões referentes à dinâmica (fluxos, horários, funcionamento) dos serviços e atividades oferecidas pela unidade de saúde. Aparece também, as reuniões sendo utilizadas como canal de divulgação de campanhas e orientação de questões/doenças tais como a dengue, sendo recorrente queixas e/ou elogios à equipe.

Poucos são os episódios de solicitação de alteração da dinâmica ou processo de trabalho da unidade de saúde, tais como mudança de horários de grupos, solicitação de grupos educativos ou mudança de horário das próprias reuniões do CLS. Foi recorrente as reclamações quanto a infraestrutura dos equipamentos, tais como solicitação de instalação de ar-condicionado, toldos, ampliação de espaços etc., e comumente solicitação de ampliação de equipe para atendimentos, solicitação de especialistas, reclamação pelo final de contrato de profissionais e queixas referentes a fornecimento de medicações.

Algumas demandas os conselheiros identificam que conseguem contribuir e melhorar o serviço.

Eu vou citar um exemplo que você vai [...] vai ficar até [...] a instalação de um ar condicionado aqui nessa unidade, aqui no verão ninguém conseguia ficar dentro nessa sala aqui, a mulherada vinha fazer o preventivo, um calor, quente, aqui era quente, era abafado, muito abafado, então foi aí, foi que [...] abaixo assinado pedindo pra que instalasse, aí chegou a conclusão do que? Que o material tava comprado mas teria perdido o tempo de instalação devido a demora, caducou, então não foi instalado porque na compra teria um tempo pra instalação e esse tempo caducou, então o aparelho estava guardada porque não podia ser instalado que a [...] parece que a unidade não tinha gente apta pra instalar [...]. Depois o pessoal pegou no pé e ta lá montado, o ar condicionado instalado (Unidade 3 – Profissional de saúde conselheiro).

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Embora reconheçam a importância do trabalho do CLS e as conquistas, apareceu que ainda existem muitos limites e que só a participação na esfera do CLS não garante as necessidades levantadas. A queixa pela morosidade para resolução de algumas demandas também foi recorrente.

Em alguns CLS eram questionados a dificuldade de acessibilidade até a unidade, principalmente se tratando de gestantes, idosos e pessoas com mobilidade reduzida. Pela geografia do território dos morros, algumas ruas de acesso são extremamente íngremes, o recurso utilizado pelos moradores é o transporte alternativo (vans) que geram um custo oneroso para algumas famílias. A solução levantada pelos conselheiros é um transporte coletivo fornecido pela Prefeitura nos horários de atividades da unidade, uma vez que afirmam que já existiu esse recurso ou unidades com estruturas físicas mais adequadas em locais de mais fácil acesso para a maioria da população referenciada. Porém, em nenhuma reunião foi dado um retorno da possibilidade de acolherem as soluções sugeridas pelo Conselho Local.

Constatou-se que pouco das demandas solicitadas foram acatadas pelo poder público. Observam-se fortes argumentações frente às demandas dos usuários, tendo muitas das pautas contra argumentadas, principalmente, pela gestão local. O espaço do CLS pode tornar-se um espaço educativo, no sentido de compreender melhor a política nacional de saúde, suas diretrizes e programas. Pode ainda fornecer informação quanto às prioridades da política municipal de saúde, assim como entender o funcionamento da unidade e os serviços prestados. Mas pode também, transformar-se num espaço educativo da norma, não tendo espaço para uma gestão compartilhada conforme a natureza da competência do CLS.

Constata-se ainda que muitas das discussões e demandas levantadas se perdem nas reuniões posteriores. Muitas pautas parecem “esquecidas” pelo CLS e, simplesmente, deixam de ser discutidas nas reuniões seguintes. Poucas vezes a coordenação do DEAB participou de reuniões, assim como os conselheiros não relatam nas atas e nem nas entrevistas concedidas, a busca por apoio em outras instâncias tais como o CMS ou o próprio DEAB. Observou-se ainda, a falta de participação do CMS junto a estes CLS.

A ausência do CMS nas reuniões de CLS foi muito significativa no processo de análise dos dados, uma vez que os CLS deveriam ser auxiliares ao CMS, sendo canal privilegiado para discussão e entendimento das demandas da comunidade, outrossim, nada mais esperado que estes fossem parceiros complementares, porém eles não dialogam.

No momento da pesquisa, a principal forma de comunicação entre estas instâncias (CMS e CLS) eram as atas. Os CLS reuniam-se ordinariamente uma vez por mês, destes produzia-se uma ata que é encaminhada ao DEAB/SMS, e este por sua vez as encaminham para o CMS.

Referências

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