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MULHERES COM FILHO(A) DEFICIENTE RECEPTORA DO BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA – BPC

3 DOS ACHADOS DE CAMPO

3.2 As políticas públicas acessadas

Quanto as políticas públicas constatamos que a política de saúde sofre duras críticas de uma das entrevistadas (4) e relatos positivos por parte de algumas delas. As citações abaixo revelam as dificuldades das mulheres em acessar o acompanhamento preventivo e apresentam relatos de acesso à alta complexidade.

O ginecologista é coisa que é podre (Risos), não tem nem vaga. Cê não se trata direito, não tem nem vaga e quando tem, tem que aproveitar a oportunidade, porque o AME dentro da saúde de Santos, é uma porcaria, é um lixo (E4).

Eu tô sempre acompanhando com médico lá no Guilherme Álvaro [...]. É, quando tá doente vai, mesmo quando não tá também, tem que aparecer. Fazer exame [...] pra saber se tá tudo bem (E2).

Quanto ao atendimento dos filhos, há tratamentos fora da cidade em municípios maiores e manifestação de satisfação pelo serviço ofertado no município de moradia. A entrevistada 2 revela claramente a priorização dos cuidados com os filhos em detrimento dos cuidados consigo mesma; já a entrevistada 4 revela sua satisfação com o serviço ofertado no domicilio.

Semana que vem, eu tenho que ir lá, pra São Bernardo do Campo com menino. A depois quando eu chegar, lá pra três horas, se der tempo, eu vou no meu. Vou tentar ver se dá tempo nem que eu chegar lá por último, por que o médico chega três horas, mas só que tem bastante gente (E2).

Agora o atendimento da pessoa com necessidades especiais, eles tão de parabéns [...], que a médica vai lá, doutora [...], uma vez cada três meses, mas ela vai. E eles vão lá, tira sangue. Isso daí eu num, não posso reclamar (E4).

Buscou-se identificar os serviços e a frequência que são utilizados. Novamente há prioridade em falar das ofertas aos filhos e encontramos atendimentos de alta complexidade ofertados por hospitais de grande porte, bem como preocupação com o recebimento de medicamentos e o uso da rede básica de saúde. Vejamos o que dizem as entrevistadas 3 e 5.

Tem mês que vai dois, três vez por mês. O remédio também a gente, [...] pega pelo, no governo né, que dá o remédio. Que quando, ela toma remédio é, como

é que é, a gente tenta [pega] no Alto Custo. Então [...] a gente consegue o remédio, pelo estado né. Lá em São Paulo (E3).

O [menino] passa em [...] depende, agora ele tá passando de dois em dois meses, de três em três meses, lá no, do governo [...]. O hospital, o Guilherme Álvaro que ele passa. Usa a policlínica também né (E5).

Emergem nas palavras das entrevistadas 4 e 9 os vínculos relacionais estabelecidos com os profissionais de saúde que acreditamos influenciar as avaliações positivas, possibilitando a interpretação que essas mulheres não compreendem a saúde como um direito e sim como uma benesse que elas conseguem por possuir laços de amizade com os profissionais.

Tem profissionais da saúde que eu conheço que são maravilhosos, só que eles não faz milagre, milagre é Deus. Tem pessoas da saúde que eu conheço há anos, que eu posso até [...], não posso falar o nome porque é ruim, mas tem pessoas que é [...], tenta segurar, não sei nem explicar, a dificuldade de um de um profissional (E4).

Mais, sempre tem alguém ligado à área da saúde que eu tenho uma amizade, assim, um convívio mais próximo e que tá sempre me dando um apoio [...]. As dificuldades, as barreiras que ele tem são é, [...] a saúde tá oferecendo apoio pra essas crianças (E9).

Quanto à política pública de educação, os relatos sobre a escola parecem revelar um espaço de cuidados, pois, não há menções sobre o processo de aprendizagem, mas um saudosismo da escola antiga, uma escola onde o filho pudesse ficar o dia todo. Esses desejos emergem das palavras das entrevistadas 3 e 4.

A escola né, as crianças estudam, e vão todos os dias pra escola. Tem dia que não dá pra ir, se atrapalha toda, não dá pra ir, mas tá lá (E3);

Que nem o professor, [...] é uma, [...] categoria, é, que antigamente era muito valorizada, você aprendia, não nessa época, época atrás do nossos [...], que eles aprendiam batendo na mão, tem que apanhar pra aprender (E4).

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A entrevistada 9 efetua uma comparação entre o atendimento ofertado no município por uma terceirizada e no Estado, efetivando críticas às condições de trabalho do município e ressaltando o empenho de profissionais comprometidos com o trabalho.

Meu filho, com síndrome de down, ele foi atendido pela APAEA, depois ele foi atendido, agora pela Lucy Montoro [...], a APAEA é da prefeitura, e a Lucy Montoro é da, do estadual. Então tipo assim, você vê a diferença da prefeitura, que não tem muita coisa a oferecer e já no estadual, é bem melhor. Entendeu? As pessoas são mais capacitadas, as pessoas têm mais, assim, parece que [tem] mais vontade mesmo de trabalhar, porque também tem tudo ali oferecendo pra poder fazer o serviço que é, que tá sendo oferecido (E9).

Ampliando o olhar encontramos uma família que se apoia na Igreja, da qual recebe auxílio material, conforme refere a entrevistada 3; quanto as Organizações Não-Governamentais (ONG), do Terceiro Setor, as entrevistadas 5 e 6 afirmam que são rede de apoio para família.

O pessoal da igreja, que vem lá em casa, vai rezar, reza por ela né. Que já conhece a gente já, de outras lutas, desde o começo quando eu tinha [...], os filhos eram menorzinhos. Eles já me ajudaram muito. E depois que souberam assim da, da situação dela [deficiente], aí eles ainda dão uma força (E3).

É o [filho] já estudou, agora ele tá no Nurex ali né, mas ali tem ajuda também né. O Nurex acho que tem [ajuda] da prefeitura também (E5).

A AME, que ela estudou, sete anos [...], lá com coisa [doença] mental de cabeça. Ela estudou sete anos e a perua levava e trazia (E6).

A sociedade civil organizada contribui com os cuidados ofertados às famílias, principalmente às crianças, desenvolvendo ações complementares à escola, bem como as igrejas, que ofertam auxilio material, assistencial e conforto espiritual, parte importante que pouco aparece no discurso das mulheres.

Indagou-se sobre a avaliação que as entrevistadas fazem dos serviços ofertados e verificaram-se ponderações sobre a política de saúde. As entrevistadas 1, 3 e 4, constataram sobre a predominância de menções negativas tais como a demora no atendimento, a ausência de médicos, a falta de equipamentos, a má conservação dos prédios, o despreparo de profissionais e a qualidade do serviço ofertado, por exemplo.

Se for coisa grave sim, mas se não for, é quase seis meses pra esperar. Aquele hospital tá uma tragédia né, desculpa eu falar, mas tá uma tragédia (E1).

Os médicos aqui [...] num, tem médico aqui em Santos que não tá preparado ainda pro [...] porque eu já passei esse sufoco, dela ficar ruim, doente e ter que ir pra [...], ficar internada uns dias e os médicos não saber o que dá pra ela com medo (E3).

Eu posso falar do Naps. Hoje tá ótimo, uma casa lá no [...] no Orquidário, tá maravilhosa, mas antigamente que era coisa de, tinha até choque [nos fios de] energias na casa caindo aos pedaços. Tendeu? [...]. Tem um atendimento bom, mas tem que melhorar, coisa porque tu passa um mês pra conseguir uma consulta. É o, serviço é lerdo mesmo (E4).

A entrevistada 4 pondera quanto aos processos e fluxo dos recursos e a inexistência de condições adequadas de trabalho, compreendendo a saúde como direito.

Que nem eu falo, e a culpa não é das unidades não, tanto a policlínica, é tem uns ótimos profissionais sim, mas não tá adequado, às vezes não tem nem seringa no negócio, agora tem assim que seja, mas a culpa de quem que é? Das verbas? Vem verba, vem e tá onde? Aonde tá a verba do nosso país? Da nossa saúde [...] tá nas calçadas? Da praia, na orla? Tá no bolso do [...] ? (pausa) A saúde pública de Santos é como? Inventaram UPA pra que? Não tem médico. E a fila continua (E4).

Nesta questão, percebe-se uma mulher preocupada com sua prole, que dedica grande parte do seu tempo aos cuidados com os filhos, recebendo uma oferta precária de serviços, tendo que buscar fora do município serviços de alta complexidade e cujo custeio deveria ser de responsabilidade do município, porém isso não costa do registro de respostas neste estudo. Há relatos de frequência a unidades de saúde mental e a precária oferta de saúde ginecológica, o que nos induz a interpretar que esta mulher não tem cuidados para si e está com adoecimento mental, em razão de que a oferta de atendimento psicológico está ausente nas declarações das mulheres/mães ouvidas nesta pesquisa.

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