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O fato de apenas dois dos oito CLS pesquisados estarem realizando reuniões periodicamente é um dado relevante neste trabalho. A falta ou incipiente poder de organização

e mobilização frente a este espaço é uma constatação e desafio posto. Considerando que estes não são obrigatórios por nenhuma legislação federal, coube-nos identificar, avaliar e apontar as questões que perpassam esse dado.

Chamamos a atenção o processo de implementação com tão pouco diálogo e acompanhamento dos atores, assim como, a falta de conhecimento do papel do CLS, o que certamente contribui para que em pouco espaço de tempo estes se desarticulassem. Na realidade eles não conseguiram forças para se consolidar como espaços de cogestão e participação popular.

Alguns achados são alarmantes e devem nos fazer pensar quais possibilidades de construir caminhos mais adequados e que garantam participação verdadeira. O controle social, ao ser institucionalizado por meio dos Conselhos, embora por um lado garanta participação da população nas políticas públicas e respaldo jurídico para tal, por outro, corre o risco de tornarem- se lugares burocratizados que cumprem apenas papel legal. Esses espaços correm o risco de se tornarem um espaço educativo da norma, aonde os participantes vão e lhes são ministrados os trâmites, protocolos e decisões da gestão de saúde, sem que tenha espaço para o diálogo e construção conjunta.

Mediante os resultados, vê-se a importância de se fazer realmente uma cogestão, de forma compartilhada entre todos os envolvidos, uma vez que o processo de solidão dos atores é latente. Viu-se a necessidade da SMS e CMS atuarem mais próximos aos CLS e dar o respaldo necessário a eles. Também há a necessidade dos usuários e profissionais de saúde serem melhor orientados e do gestor ter mais autonomia e abertura para garantir uma cogestão na unidade que é responsável.

Apesar de tudo, não podemos perder de vista que os CLS são uma experiência nova para cidade. Ainda assim, é inegável que teve conquistas e aprendizados importantes para as unidades de saúde, os profissionais, usuários do SUS e gestão local. Foram encontradas ações interessantes de articulação e participação com conquistas que atingiram a unidade de saúde ou a comunidade local. Porém estas são tímidas frente ao potencial que este espaço gera, todavia indicam e mostram que é possível o CLS avançar em seus objetivos.

Os Conselhos são espaços de controle social, de participação e isso implica partilhar poder. A cogestão pode não ser bem vinda dependendo do interessem do poder público. Vivemos atualmente um cenário de desmonte e ameaça às políticas públicas frente às investidas do atual governo, estando o SUS ameaçado. Deste modo, espaços como o CSL também podem e devem ser vistos como risco ao status quo, uma vez que geram: encontro, troca, formação, mobilização, não se sentir só, fazer junto e fazer mais.

SAÚDE E COGESTÃO POPULAR: limites e desafios da implementação e efetivação do conselho local de saúde na cidade de Santos/SP

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Não por acaso que em 2019 o governo atual decretou o fim da Política Nacional de Participação Social como vimos acima, limitando assim espaços de colegiados e extinguindo várias formas de participação que eram legítimas. O SUS é um sistema e o processo democrático e participativo também deve seguir a lógica de sistema integrado, tendo controle social como parte dele.

REFERÊNCIAS

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O “FALE CONOSCO” DA UNIFESP E A POPULAÇÃO NA BUSCA POR