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Produções discursivas sobre a pena de prestação de serviços à comunidade: Um estudo com psicólogos jurídicos

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA - MESTRADO

MARCELLA GYMENA PEDROZA BURGOS

PRODUÇÕES DISCURSIVAS SOBRE A PENA DE PRESTAÇÃO DE

SERVIÇOS À COMUNIDADE: UM ESTUDO COM PSICÓLOGOS

JURÍDICOS

RECIFE,

2013

(2)

MARCELLA GYMENA PEDROZA BURGOS

PRODUÇÕES DISCURSIVAS SOBRE A PENA DE PRESTAÇÃO DE

SERVIÇOS À COMUNIDADE: UM ESTUDO COM PSICÓLOGOS

JURÍDICOS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Psicologia.

Orientador: Prof. Dr. Pedro de Oliveira Filho

RECIFE

2013

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Catalogação na fonte

Bibliotecário Tony Bernardino de Macedo, CRB4-1567

B954p Burgos, Marcella Gymena Pedroza.

Produções discursivas sobre a pena de prestação de serviços à comunidade: um estudo com Psicólogos jurídicos / Marcella Gymena Pedroza Burgos. – Recife: O autor, 2013.

113 f. ; 30 cm.

Orientador : Prof. Dr. Pedro de Oliveira Filho.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Pernambuco. CFCH. Pós –Graduação em Psicologia, 2013.

Inclui referência.

1. Psicologia. 2. Penas alternativas. 3. Psicologia jurídicas. 4. Prestação de serviços à Comunidade. I. Oliveira Filho, Pedro de. (Orientador). II. Titulo.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

CURSO DE MESTRADO

PRODUÇÕES DISCURSIVAS SOBRE A PENA DE PRESTAÇÃO DE

SERVIÇOS À COMUNIDADE: UM ESTUDO COM PSICÓLOGOS

JURÍDICOS

Comissão examinadora:

___________________________________________ Prof.º Dr.º Pedro de Oliveira Filho

1º Examinador/ Presidente

____________________________________________ Prof.º Dr.° Eduardo Henrique Araújo de Gusmão

2º Examinador

____________________________________________ Prof° Dra.° Maria Isabel Patrício de Carvalho Pedrosa

3º Examinador

RECIFE 2013

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Dedicatória:

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AGRADECIMENTOS

E agora chegou o momento de agradecer profundamente às pessoas que participaram direta e indiretamente da construção desse trabalho e da concretização de um sonho.

A caminhada não foi fácil, muito menos breve. Pareceu uma travessia infinita, tendo em vista os diversos fatos turbulentos ocorridos, tanto da ordem pessoal quanto profissional, que atropelaram de alguma forma a execução do meu trabalho. No entanto, estes obstáculos, longe de obscurecerem meu trajeto, aumentaram o brilho da minha determinação, impulsionando-me com mais força.

Proporcionalmente ao desafio, era a motivação que me impulsionava a ir adiante em busca de uma larga estrada, permeada por flores e, com certeza, por bons frutos. Brilhantes e acolhedoras também foram as pessoas que contribuíram para a finalização desse estudo, seja na execução do trabalho, seja apenas pelo fato de existirem. Aqui irão os meus agradecimentos especiais:

Agradeço a Deus por me dar forças e me amparar nos momentos mais difíceis, aumentando a minha fé e direcionando os meus passos;

Agradeço aos meus pais, Marcelo e Izabel, pelo amor incondicional, por sempre acreditarem em mim e por me ensinarem suas lições de fé e de experiência de vida;

Agradeço a Izabella, minha irmã, amiga e companheira, por suportar os momentos de estresse e por me ajudar nas horas mais difíceis;

Agradeço ao meu namorado, Markinho, pelo amor, pelo apoio constante, pelas viagens comigo aos interiores do Estado e por sempre acreditar em mim, bombardeando-me com suas palavras motivacionais nos momentos em que mais precisei;

Agradeço a todos os meus familiares que, de formas distintas, participaram desta caminhada. Em especial ao meu avô, Valfrido, que está olhando por mim onde quer que ele esteja;

Agradeço aos meus amigos que ouviram meus desabafos, acompanharam meu estresse e me ajudaram com conselhos, escutas, ombros...

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Agradeço ao pessoal da Gepais pela acolhida e pela disposição para que esse trabalho pudesse ser concluído. Muito obrigada!

Agradeço aos psicólogos das Ceapas, meus sujeitos de pesquisa, peças-chaves para a realização deste trabalho, sem os quais não haveria esta dissertação. Obrigada pela atenção, pela disponibilidade e pelos ensinamentos passados durante as entrevistas;

Agradeço a todos os professores do programa de pós-graduação em Psicologia da UFPE pelo aprendizado proporcionado;

E, finalmente, meu agradecimento especial ao meu orientador Pedro de Oliveira Filho, pela orientação segura, pela paciência e pela credibilidade no meu trabalho.

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RESUMO

O estudo da história da humanidade permite observar o uso de várias formas de punição ao longo dos tempos. A pena de prisão por um longo período serviu como principal resposta penológica aos delitos. Com a falência do sistema carcerário, o Estado vem se preocupando com a reformulação do sistema de punição e as Penas Alternativas representam um significativo avanço nessas ideias. Para o acompanhamento dessas penas, o psicólogo é chamado para compor a equipe técnica e executar o cumprimento. Partindo desse contexto, buscou-se compreender o significado da Prestação de Serviços à Comunidade para os psicólogos que trabalham em sua execução. Mais especificamente, foi analisado, mediante as produções discursivas dos psicólogos, o significado atribuído ao papel destes profissionais junto à PSC, bem como as relações com outros saberes. Participaram da pesquisa todos os psicólogos das Ceapas de Pernambuco. Os instrumentos utilizados foram a entrevista semiestruturada e a observação participante. Para a análise dos dados adotou-se a técnica de análise de discurso desenvolvida pela Psicologia Social Discursiva. A análise das entrevistas mostrou que os psicólogos entendem a PSC como um importante instrumento de mudança subjetiva e de reinserção social do cumpridor. Percebeu-se também que os entrevistados atribuem à sua formação profissional a capacidade de humanizar o cumprimento da pena. A relação interdisciplinar com o assistente social também foi apontada como algo positivo no trabalho de execução da PSC.

Palavras-chave: Penas Alternativas; Prestação de Serviços à Comunidade; Psicologia Jurídica.

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ABSTRACT

The study of humanity history allows us the observation of many punishment ways along times. The imprisonment was the principal answer to offenses for a long time. With the prison’s bankruptcy, the State is worried about overhaul the punishment system and Alternatives Sentencing represents significant advances about this ideas. To monitoring these punishments, it is necessary the psychologist to compose the technical team and make sure that it’ll be accomplished. In this context, it was searched understand the meaning of Community Services to the psychologists that works on this execution. More specifically, it was analyzed, in discursive psychologist’s productions, the importance of these professionals at the CS, as the relation of this with another knowledge. All the Pernambuco’s Ceapas psychologits was participating of this research. The semi structured interview and the participant observation was used like instruments. To analyze the data it was adopted analysis technique speeches developed by Social Speech Discursive. The interview analyzes showed that the psychologists assign to CS the educative ways, allowing the observant the social reintegration. It was also clear that the respondents assign to theirs professional formation the capacity of humanize the punish accomplishment. The positive Interdisciplinary relations with the social assistant was also related in the execution works of CS.

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LISTA DE SIGLAS

CAPs – Centro de Atenção Psicossocial

CEAPA – Central de Apoio às Penas e Medidas Alternativas

CENAPA – Central Nacional de Apoio e Acompanhamentos às Penas e Medidas Alternativas CFESS – Conselho Federal de Serviço Social

CFP – Conselho Federal de Psicologia CPB – Código Penal Brasileiro

CRAS – Centro de Referência da Assistência Social

CREAS – Centro de Referência Especializado da Assistência Social CRP-RJ – Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro CTC – Comissão Técnica de Classificação

GEPAIS - Gerência de Penas Alternativas e Integração Social

ILANUD – Instituto Latino Americano das Nações Unidas para a Prevenção e Tratamento do Delinquente

JECrims – Juizados Especiais Criminais LEP – Lei de Execução Penal

ONU – Organização das Nações Unidas PP – Prestação Pecuniária

PSC – Prestação de Serviços à Comunidade PSD – Psicologia Social Discursiva

UFPE – Universidade Federal de Pernambuco VEPA – Vara de Execução de Penas Alternativas

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 11

1. ANÁLISE HISTÓRICA DA PUNIÇÃO

15

1.1 A pena de prisão 17

1.2 Os precedentes das Penas Alternativas 21

1.3 Contextualizando as Penas Alternativas 23

1.3.1 As Medidas e as Penas Alternativas 26

2.4 A Prestação de Serviços à Comunidade 30

2. O ENCONTRO DA PSICOLOGIA COM O DIREITO

33

2.1 A Psicologia no campo penal 37

2.2 O psicólogo e a PSC 41

3. PSICOLOGIA SOCIAL DISCURSIVA

45

3.1. A orientação da linguagem para a ação 47

3.2 A variabilidade do discurso 50

3.3 Os repertórios interpretativos 51

3.4 Retórica 53

4. MÉTODO 55

4.1 Caracterização do campo de pesquisa: as Ceapas de Pernambuco 55

4.2 O universo estudado 56

4.3 Procedimentos de coleta de dados 57

4.4 Análise dos dados 59

5. O PAPEL DO PSICÓLOGO NA EXECUÇÃO DA PSC 63

5.1 A prática psicológica no cotidiano de trabalho 64

5.2 O “olhar diferenciado” do psicólogo e a humanização da pena 70

5.3 Relação com outros profissionais 73

5.3.1 Com o Assistente Social 73

5.3.2 Com o operador do Direito 77

6. O SIGNIFICADO DA PSC 80

6.1 A PSC como instrumento de mudança subjetiva 82

6.2 Devolução para a sociedade 85

6.3 Reinserção social 86

6.4 Dificuldades na execução da PSC 88

CONSIDERAÇÕES FINAIS 93

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APÊNDICE A: carta de anuência

APÊNDICE B: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido APÊNDICE C: Roteiro de entrevista

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho insere-se no campo da Psicologia Jurídica, tendo como temática as produções discursivas dos psicólogos sobre a execução da Pena de Prestação de Serviços à comunidade. Apesar da diversidade das penas restritivas de direitos, a pesquisa delimitou-se à análise da Prestação de Serviço à Comunidade, uma vez que esta é uma modalidade de execução de pena que necessita de apoio técnico (BRASIL, 2002), aqui compreendido o trabalho do psicólogo e do assistente social, e é, segundo o levantamento realizado pelo Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente - ILANUD no ano de 2006, a espécie de pena que apresenta a maior incidência de aplicação em todas as capitais estudadas.

No Brasil, já foram realizados vários debates e discussões acerca da elaboração de estratégias integradas que solucionem a questão da superlotação nos presídios e viabilize a reintegração social do infrator. O Conselho Nacional de Justiça aponta as Penas Alternativas como solução viável para o sistema penitenciário. Para tanto, o Ministério da Justiça tem incentivado a adoção de alternativas penais e apoiado iniciativas nesse sentido.

O Programa do Estado de Pernambuco que apoia o Sistema de Justiça para Aplicação das Penas e Medidas Alternativas é colocado em prática pela GEPAIS (Gerência de Penas Alternativas e Integração Social), que tem suas atividades realizadas através da equipe técnica das CEAPAS (Centrais de Apoio às Medidas e Penas Alternativas), que fiscalizam a execução da medida/pena restritiva de direito aplicada e acompanham os seus cumpridores, vítimas, familiares e a Rede Social Parceira, no processo penal alternativo à prisão.

O saber psicológico fornece apoio técnico à execução dessas alternativas, demonstrando que o campo de atuação profissional para os psicólogos encontra-se em crescimento. Pretende-se desenvolver a pesquisa partindo do entendimento de que a prática profissional está impregnada por uma dimensão ética e social que envolve, além de orientações normativas e procedimentos técnicos, escolhas teóricas, políticas e sociais.

O profissional de Psicologia, imerso no campo das alternativas penais, na execução das Penas/Medidas de Prestação de Serviços à Comunidade, tem como principais atribuições entrevistar o indivíduo que cometeu o delito, indicá-lo para uma instituição de acordo com suas habilidades, encaminhá-lo para a rede sócio-assistencial conforme suas necessidades,

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motivá-lo para o cumprimento da pena/medida, monitorar o cumprimento desta, dentre tantas outras atividades, em um trabalho interdisciplinar com assistentes sociais e profissionais de Direito.

Desse modo, para que essa pena possa ser efetivada, de acordo com o ILANUD (2006), é necessária a presença de uma equipe técnica encarregada de realizar o atendimento psicossocial ao cumpridor, buscar a formação de uma rede social que dê apoio ao cumprimento da pena e, ainda, acompanhar tal cumprimento. Nesse contexto, a pesquisa de campo será realizada com os psicólogos que atuam nas CEAPAS (Centrais de Apoio às Medidas e Penas Alternativas) do Estado de Pernambuco.

O interesse pelo campo das Alternativas Penais surgiu em decorrência da prática de Estágio Supervisionado I e II realizado na VEPA (Vara de Execução de Penas Alternativas) pelo período de um ano. O brilhante trabalho desenvolvido pelo Juiz e pela equipe técnica desta Vara frente aos cumpridores fez despertar o interesse pelo tema e a produção de um projeto de pesquisa. A atuação enquanto estagiária também possibilitou o surgimento de questionamentos acerca da prática psicológica e suas limitações junto às Penas Alternativas. Pretende-se, pois, que essa pesquisa possa beneficiar os profissionais que atuam na execução desta modalidade de pena/medida, proporcionando o aprimoramento de propostas e estratégias de intervenção.

Diante do exposto, faz-se necessária uma reflexão acerca da atuação do psicólogo no âmbito jurídico, mais precisamente, nas execuções penais, bem como sobre os discursos produzidos por esses profissionais no que se refere às Penas Alternativas, em especial da Pena de Prestação de Serviços à Comunidade. No entanto, para entender o sistema de punição referente às penas alternativas, torna-se imprescindível observar que, em uma perspectiva histórica, a prisão não foi o único instrumento utilizado enquanto objeto de punição e controle social.

A pena de prisão, nos moldes como a conhecemos, é uma forma de punição que surgiu com o sistema capitalista e, desde então, vem sendo empregada para conduzir, seja pela via de correção, seja pela via da neutralização, as pessoas tidas como periculosas, que representam perigo à sociedade. Ainda que seja utilizada como forma de punição da maioria dos crimes, durante centenas de anos era utilizada para manter os criminosos até o dia do julgamento ou para aproveita-los no trabalho forçado.

KOLKER (2005) aponta que até a consagração da pena de prisão, no final do Século XVIII, diversas outras formas punitivas foram utilizadas, conforme o modelo político-econômico vigorante, “em geral respondendo à necessidade de formação, aproveitamento

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e/ou controle da mão de obra pouco qualificada, ou como instrumento para a gestão das classes consideradas perigosas (por sua pobreza e marginalidade e não apenas por sua criminalidade)” (p. 158).

O entendimento acerca da importância de sanções e medidas não privativas de liberdade como meio de reintegração social de sujeitos que cometeram algum delito surgiu através das Regras de Tóquio, ocorridas no ano de 1990. Tais Regras apontam vários princípios básicos que objetivam favorecer a implantação de penas não privativas de liberdade e incentivar a participação comunitária na execução penal, proporcionando garantias mínimas aos cumpridores de Penas ou Medidas Alternativas.

Diante do exposto, o objetivo geral desse trabalho foi analisar as produções discursivas dos psicólogos que atuam nas Centrais de Apoio às Medidas e Penas Alternativas do Estado de Pernambuco (CEAPAs), acerca da execução da Pena de Prestação de Serviços à Comunidade. Os objetivos específicos foram:

a) Analisar o significado da Pena de Prestação de Serviços à Comunidade (PSC) para estes profissionais;

b) Compreender o significado atribuído ao papel do psicólogo na execução destas penas;

c) Apreender a relação dos psicólogos com outros profissionais na execução da Pena de Prestação de Serviço à Comunidade.

Quanto à estrutura da dissertação, será realizado no primeiro capítulo o trajeto da punição numa perspectiva histórica, elencando as diferentes maneiras de punir postas em prática ao longo das épocas, os precedentes das Penas Alternativas até a criação destas, com atenção especial à Prestação de Serviços à Comunidade (PSC), uma vez que será a modalidade de Pena/Medida Alternativa escolhida para o estudo.

No segundo capítulo será abordado o encontro da Psicologia com o Direito, bem como o reconhecimento da Psicologia enquanto profissão, adentrando pelo ingresso desta ciência na esfera penal e no trabalho do psicólogo junto à PSC.

O terceiro capítulo traz a abordagem teórica que alicerça esta dissertação, abordando alguns dos principais conceitos da Psicologia Social Discursiva (PSD).

A explanação da metodologia utilizada nesta pesquisa será feita no capítulo quatro, abarcando o local de coleta de dados, os sujeitos entrevistados, os procedimentos de coleta de dados e a análise dos mesmos.

O quinto e o sexto capítulo versam sobre a análise dos dados deste estudo. No capítulo cinco será analisada a importância da atuação do psicólogo na execução da Prestação de

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Serviços à Comunidade. Para tanto, busca-se ainda, apreender como se dá tal atuação e as relações estabelecidas com outros profissionais, como os operadores do Direito e os Assistentes Sociais. No capítulo seis, objetiva-se analisar os modos como os psicólogos compreendem o significado da Pena de Prestação de Serviços à Comunidade, quais são os recursos discursivos utilizados para tal entendimento e quais as dificuldades na operacionalização do trabalho.

Por fim, as considerações finais desta pesquisa apontam os impasses e os questionamentos que se fazem presentes na atuação do psicólogo no âmbito jurídico, mais especificamente, no campo penal.

(17)

“É a celeridade e a certeza da pena, mais que a sua severidade, que produz a efetiva intimidação”

(BECCARIA, 2002, p. 132).

1 ANÁLISE HISTÓRICA DA PUNIÇÃO

O estudo da história da humanidade permite observar o uso das várias formas de punição ao longo dos tempos. Nas configurações mínimas de convivência em grupo o homem exerceu ou tentou exercer esse método de controle. Em diferentes sociedades são encontradas informações sobre o uso do corpo como forma de fazer sofrer e punir aqueles que são considerados criminosos ou que infringiam os valores tradicionais.

Gomes (2008) assinala que, na Antiguidade, a pena tinha contornos de fundamentação teológica, apresentando como ideia central a satisfação à divindade. Nesse momento histórico, a visão de sanção penal perpassa da legitimidade da vingança privada para a vingança divina. Os antigos vinculavam-se, de forma veemente, à ideia de autoridade divina, o que permitiu a representação desta por meio do soberano a quem competia o direito de punir (MARQUES, 2000).

Até fins do século XVIII a prisão serviu à contenção e guarda de réus para preservá-los fisicamente até o momento de serem julgados. Durante esse longo período histórico, recorria-se, fundamentalmente, à pena de morte, às penas corporais e às infamantes. Por isso, a prisão era vista como o lugar de espera para a ocorrência de posteriores suplícios, pois se usava a tortura, frequentemente, para descobrir a verdade. A prisão foi sempre uma situação de grande perigo, um incremento ao desamparo e, na verdade, uma antecipação da extinção física do indivíduo (BITENCOURT, 2011).

Na Idade Média, muitas foram as mudanças na compreensão social da pena. Os suplícios representaram grande parte das punições impostas, havendo ainda um forte componente religioso, no qual se confundiam as noções de crime com pecado. A tortura corporal, como parte da punição por suplícios, implicava um castigo para a vítima, mas também, por ser pública, apresentava-se como exemplo para a população, persuadindo-a afastar-se de futuros delitos. As penas impostas objetivavam defender a sociedade das intempéries dos infratores. Esse foi, portanto, um período marcado por significativas

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crueldades. Nessa época, as punições criminais estavam submetidas ao arbítrio dos governantes, que as atribuíam em decorrência do status social a que pertencia o réu.

Outra etapa da fase medieval aponta Gomes (2008), desenhou-se a partir das ideias de São Tomaz de Aquino, que defendia o pensamento da representação da autoridade divina na Terra através de uma autoridade civil, responsável pela atitude de imposição do castigo, o que originou, posteriormente, o modelo punitivo do Absolutismo, denominado Teoria da Delegação Divina.

Segundo o supracitado autor, a prisão surgiu na Época Moderna, por volta do século XVI, na Europa, com a criação de casas de correção, que objetivavam a custódia de grande número de bêbados, prostitutas e excluídos. A suposta finalidade da prisão consistia na reforma dos delinquentes por meio do trabalho e da disciplina. Com as mudanças econômicas e sociais, sucedidas com o processo industrial, esses locais passaram a representar a principal pena e a mais utilizada no Ocidente. Assim, à época, a prisão foi apresentada como uma alternativa penal capaz de punir sem, no entanto, incidir de forma cruel sobre o corpo do infrator, como ocorria no suplício. Isso aconteceu, porque as penas corporais que eram as mais aplicadas, já não conseguiam refletir o sentido da justiça. Além disso, não garantiam o controle do crime e a proteção dos grupos dominantes que começavam a reclamar. Com isso, a prisão torna-se peça essencial no conjunto das punições (FOUCAULT, 2010).

Foucault (2010), em sua Obra Vigiar e Punir expõe detalhadamente os suplícios sofridos pelo condenado Damiens em sua execução ocorrida em 1757. A violência física, o esquartejamento, as queimaduras e a exposição em praça pública ilustram bem a forma punitiva da época. Nessa época, o poder de punir era demonstrado nos excessos de suplícios, onde o direito e o poder de punição eram prerrogativas restritas ao rei. Assim,

o suplício penal não corresponde a qualquer punição corporal: é uma produção diferenciada de sofrimentos, um ritual organizado para a marcação das vítimas e a manifestação do poder que pune: não é absolutamente exasperação de uma justiça que, esquecendo seus princípios, perdesse todo o controle (FOUCAULT, 2010, p. 36).

Na segunda metade do século XVIII, surge uma preocupação em torno da punição e o suplício torna-se inaceitável. Destarte, propagaram-se as ideias humanistas e o suplício e as ideias de vingança que ele ensejava passaram a ser criticados.

Se não é mais ao corpo que se dirige a punição, em suas formas mais duras, sobre o que, então, se exerce? [...] Dir-se-ia inscrita na própria indagação.

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Pois não é mais o corpo, é a alma. À expiação que tripudia sobre o corpo deve suceder um castigo que atue, profundamente, sobre o coração, o intelecto, a vontade, as disposições (FOUCAULT, 2010, p. 21).

Com o surgimento da obra de César Beccaria, intitulada Dos delitos e das penas, abre-se um novo horizonte para o destino da pena. O cenário Iluminista favorecia uma concepção humanista com relação ao fenômeno punitivo, fazendo nascer ideias que buscavam limitar as punições ao seu real caráter de necessidade, bem como ao menor nível de sofrimento possível, em nome do respeito à dignidade humana (GOMES, 2008). Assim, para Beccaria (2002), a pena de morte deveria ser abolida e a sua noção de justiça correspondia ao abrandamento das penas, de tal forma que houvesse a proporcionalidade entre a punição e o crime praticado, e a eliminação do uso do terror pelos dispositivos de justiça. Nesse período, foram formatados princípios como o da legalidade, anterioridade da lei penal, proporcionalidade e pessoalidade, entre outros (GOMES, 2008).

Em meados do século XIX, a pena não mais se centralizava no suplício como técnica utilizada para infligir sofrimento. A punição deixara, paulatinamente, de ser uma cena, sendo a própria condenação elemento que marcará o delinquente com sinal negativo (FOUCAULT, 2010).

1.1 A Pena de Prisão

A partir do século XIX, a pena privativa de liberdade passou a ser a principal resposta penológica agregando, em progressão geométrica, adeptos da cultura segregatória, como meio mais adequado para serem alcançadas a prevenção e a reforma do delinquente (GOMES, 2008).

Foucault (2010) aponta que as prisões surgiram com o objetivo de domesticar os corpos, com uma função técnica de correção, “uma empresa de modificação dos indivíduos” (p.219). Para o autor, a prisão chega a intervir na distribuição espacial dos indivíduos, proibindo os mendigos e vagabundos do século XVIII de circularem nas cidades, mandando-os para o campo, ou, ainda, impedindo-mandando-os de perambular em determinadas regiões. Essa foi uma maneira de controlar a inserção no aparelho de produção agrícola ou manufatureira e de agir sobre o fluxo da população, tendo em conta, ao mesmo tempo, as necessidades da

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produção e do mercado de empregos. Dessa forma, o trabalho desenvolvido dentro das prisões custeava as despesas dos presos e as suas retribuições individuais asseguravam sua reinserção moral e material no mundo da economia. Percebe-se, pois, que a razão econômica foi um fator crucial para a pena de prisão. Foucault (1997) expõe que

o confinamento, esse fato massivo cujos sinais encontramos em toda a Europa do século XVII, é um assunto de polícia. Polícia no sentido sumamente preciso que se dá ao vocábulo na época clássica, isto é, o conjunto de medidas que fazem do trabalho algo ao mesmo tempo possível e necessário para todos aqueles que não poderiam viver sem ele [...] antes de ter o sentido medicinal que lhe atribuímos ou que ao menos queremos conceder-lhe, o confinamento foi uma exigência de algo muito distinto da preocupação da cura. O que o fez necessário foi um imperativo de trabalho. Onde a nossa filantropia quer reconhecer sinais de benevolência à doença, ali encontramos somente a condenação à ociosidade (p. 54-55).

No fim do século XVIII, o grande crescimento demográfico, o surgimento do ideário capitalista de produção e a acumulação de fortunas modelam um campo profícuo ao surgimento da sociedade disciplinar (FOUCAULT, 2005). O termo disciplina, descrito acima, é utilizado por Foucault para retratar “uma prática ou técnica de poder que incide sobre os corpos dos sujeitos, reproduzindo e produzindo comportamentos para assegurar a ordenação das multiplicidades humanas” (CFP, 2007, p. 17).

As prisões do século XVIII também são recolocadas nesse contexto, uma tecnologia corretiva com a finalidade de recuperar os sujeitos, por meio de um poder disciplinar de vigiar, deixando para trás a punição explícita, exemplar e pública. Passou a interessar às autoridades aspectos históricos e circunstanciais do criminoso, o que possibilitava ao sistema jurídico- penal julgar não só o crime, mas também o comportamento e as condições de subjetividade do delinquente [...] (CFP, 2007, p.18).

Segundo Foucault (2010), a prisão teria, então, duas imagens de disciplina: Uma, a disciplina-bloco, que corresponde à instituição fechada, estabelecida à margem e voltada para as funções negativas, como romper as comunicações e suspender o tempo. Outra, o modelo panóptico como disciplina-mecanismo, um dispositivo funcional que deve melhorar o exercício do poder tornando-o mais rápido, mais leve, mais eficaz, um desenho das coerções sutis para uma sociedade que estar por vir.

(21)

O panoptismo traduz o sofisticado mecanismo de poder na medida em que “é o princípio geral de uma nova ‘anatomia política’ cujo objeto e fim não são a relação de soberania, mas as relações de disciplina” (FOUCAULT, 2010, p. 197). “O que substituiu o suplício não foi um encarceramento maciço, foi um dispositivo disciplinar cuidadosamente articulado” (FOUCAULT, op. cit., p. 250).

Durante o período de encarceramento, determinado conforme o tipo de delito, o indivíduo deveria “ser corrigido”, tornar-se uma pessoa de bem, guiado e enquadrado nas normas sociais. “Apostaram que a pena poderia produzir a ortopedia do homem delinquente, transformando-o no homem normal, adequado à convivência desejável na cidade” (BARROS, 2005, p.12). Porém, os efeitos do aprisionamento sobre o sujeito detido, nesse modelo disciplinador, não correspondem à anunciada “recuperação”. Entendendo que a infração se caracteriza pela ocasionalidade do comportamento criminoso e a delinquência pela habitualidade, “Foucault afirma que a prisão qualifica e habilita o delinquente, tipificando-o após a passagem pela instituição” (CFP, 2007, p.19). Assim, segundo Foucault (2010):

A prisão não deve ser vista como uma instituição inerte, que volta e meia teria sido sacudida por movimentos de reforma. A “teoria da prisão” foi seu modo de usar constante, mais que sua crítica incidente – uma de suas condições de funcionamento. A prisão fez sempre parte de um campo ativo onde abundaram os projetos, os remanejamentos, as experiências, os discursos teóricos, os testemunhos, os inquéritos. [...] Ao se tornar punição legal, ela carregou a velha questão jurídico-política do direito de punir com todos os problemas, todas as agitações que surgiram em torno das tecnologias corretivas dos indivíduos (p.221-222).

Gomes (2008) chama ainda atenção para um aspecto econômico envolvido no desenvolvimento da prisão:

Não se pode ignorar que a prisão ganhou força em uma época na qual a crise econômica consumia o mundo ocidental, em uma atmosfera de desemprego e escassez de bens, constituindo a mão-de-obra dos encarcerados em força de trabalho barata e a prisão, forte instrumento de controle social contra os movimentos reivindicatórios de direitos e políticas públicas (p. 54).

Deveriam ser segregados, portanto, aqueles que não seguissem a ordem vigente, os vagabundos, os ociosos, os ladrões, os desobedientes, os opositores políticos ou religiosos, conforme nos coloca Sequeira (2004). Esse confinamento, como forma de neutralização dessa

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parte da população excedente não necessária à produção, acaba provocando estrategicamente “rupturas com o trabalho, com uma identidade social, com pessoas afetivamente significativas [...]. Então, após o aprisionamento, temos um novo homem, desenraizado, sem trabalho, sem família” (p. 65).

Ao analisar a pena privativa de liberdade, percebe-se que esta trouxe consigo um aspecto sombrio e segregador:

Desde então o encarceramento se constiui em uma forma de segregação do indivíduo pelo Estado, que nem sempre agiu ou age à luz dos princípios que informam a aplicação da pena – legalidade, proporcionalidade, lesividade, pessoalidade, individualização e respeito à dignidade do ser humano; e é executado sob o olhar temeroso, mas também, normalmente, desprezivo e preconceituoso da sociedade civil (PRADO, 2005, p. 312).

Nota-se, pois, que a prisão, desde seu surgimento, é marcada por constantes críticas. Incapaz de refrear a criminalidade, a prisão tem servido a fins de exclusão social e produção de mais delinquência. A pena privativa de liberdade, conforme elucida Gomes (2008), apresenta exaustivas conclusões de fracasso, uma vez que é incapaz de atingir os seus objetivos de prevenção e ressocialização, caindo por terra, inclusive, a ilusão do seu intuito primitivo (castigo), pela diversidade entre o crescimento das ocorrências criminosas e a efetiva punição. Nesse sentido, compartilhando do entendimento de Bitencourt (2011), pode-se concluir pela falência da pena de prisão.

É necessário afirmar, que a prisão trouxe consigo uma notória diminuição dos sofrimentos físicos advindos dos suplícios, possibilitando uma condenação sem torturas extremas. No entanto, Foucault (2010) faz suas críticas acerca da reforma penal, das mudanças que esta comporta e das contradições inscritas na nova forma de poder de punição. A dita humanização das penas denota uma situação complexa na dinâmica do poder de punir:

O que vai ser definido não é tanto um respeito novo pela humanidade dos condenados - os suplícios ainda são frequentes, mesmo para os crimes leves - quanto uma tendência para uma justiça mais desembaraçada e mais inteligente para uma vigilância penal mais atenta do corpo social (p. 76).

Apesar de seu surgimento estar inserido em um panorama de tentativa de racionalização das práticas punitivas, fruto do pensamento liberal, “permanece [...] um fundo ‘supliciante’ nos modernos mecanismos da justiça criminal – fundo que não está inteiramente

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sob controle, mas envolvido, cada vez mais amplamente, por uma penalidade do incorporal” (FOUCAULT, 2010, p.21). Ou seja, embora exista uma mudança na finalidade da pena – da vingança à disciplina dos corpos – persiste o sofrimento produzido pela sanção.

1.2 Os Precedentes das Penas Alternativas

Os sistemas penitenciários foram pensados no século XVIII e inspirados em ideias filosóficas humanitárias que “buscavam limitar as punições ao seu real caráter de necessidade, bem como ao menor nível de sofrimento possível em nome do respeito à dignidade humana” (Gomes, 2008, p. 38). César Beccaria (2002), pioneiro da defesa dos direitos humanos em assuntos da esfera penal, pregava a abolição da pena de morte e o abrandamento das penas. Defendia um direito penal afastado da tortura e lastreado numa punição justa e estritamente necessária, ou seja, uma pena com rigor necessário apenas para afastar os homens da vereda do crime. Segundo o autor, para que cada pena não seja uma violência de um ou de muitos contra um cidadão privado, deve ser essencialmente pública, necessária e proporcional aos delitos.

A partir do século XIX, assiste-se à consolidação dessa pena privativa de liberdade, que passou a ser a principal resposta penal do Estado, agregando adeptos da cultura de segregação como meio de alcançar a prevenção ao crime e a chamada ressocialização do infrator. Sequeira (2004) afirma que:

Na história do sistema penal encontramos marcas nítidas de segregação e preconceito. Percebemos uma concepção sobre o criminoso como alguém a ser custodiado, alguém a ser corrigido, que deveria passar por suplícios e castigos. Há um estigma sobre o criminoso, como se existisse algo ruim dentro dele que justificasse separá-lo dos outros, seja pelos muros das prisões, pelas ilhas-presídios ou pelas galés. O que prevalece é o preconceito sobre o criminoso, impedindo a compreensão sobre a pessoa dele, sobre os atos realizados, sobre a sociedade. Aliás, uma das facetas do preconceito é justamente reduzir a pessoa à característica a ser discriminada. A pessoa deixa de ser considerada e é reduzida ao que deve ser rejeitado. Uma barreira é formada e nos impede de ver a pessoa que ali está, o que ocorreu com ela, com a vida dela e com a sociedade em que vive (p. 70).

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De acordo com Cezar Bitencourt (2011, p. 25-26), a prisão revela-se como “[...] um mal necessário”. Esse autor recomenda, no entanto, a sua utilização limitada “[...] às penas de longa duração e àqueles condenados efetivamente perigosos e de difícil recuperação” (p.26). Adiante, destaca: “Caminha-se, portanto, em busca de alternativas para a pena de prisão” (p.26).

É verificável, não obstante, que, apesar de todos os males do cárcere, este ainda se impõe para as situações gravíssimas que envolvem as infrações penais de intensa potencialidade lesiva aos bens jurídicos tidos como de maior importância para o corpo social, em face da inexistência de outra forma punitiva, por ora, para fazer frente a tais infrações (GOMES, 2008, p. 61).

Apesar de a prisão ter ganhado cada vez mais força, consolidando-se como resposta penal do Estado nos últimos dois séculos, desde o período de seu desenvolvimento havia quem defendesse a idéia de penas alternativas. Conforme nos aponta Bitencourt (2011), autores como Thomas More (1478-1535), por exemplo, concebiam a pena de prestação de serviços à comunidade para crimes não violentos e premiação com a liberdade para bom comportamento, fundamentos que norteiam o pensamento criminológico na atualidade. Hoje, fala-se em falência da pena de prisão. Quanto ao sistema carcerário, Bitencourt (2011) elucida que este

assenta-se sobre dois pilares: a) a antítese entre o ambiente e a comunidade livre; e b) deficientes condições materiais e humanas nas prisões de todo o mundo. [...] Pode-se elencar entre as mazelas geradas pela privação da liberdade: a) a prisão como fator criminógeno; b) os elevados índices de reincidência; c) a influência prejudicial sobre o recluso dentro dos efeitos sociológicos ocasionados pela prisão; d) os efeitos psicológicos produzidos pelo cárcere; e) os efeitos negativos sobre o auto-conceito do recluso; f) os problemas sexuais na prisão como repressão do intuito sexual; g) utilização das drogas; e h) alto custo financeiro para a sociedade (p. 154-155).

Sequeira (2004) corrobora com esta ideia, afirmando ser consenso a concepção de que a prisão não cumpre o papel ressocializador e reabilitador a que se atribui sua existência. Os altos índices de reincidência demonstram que ela produz rupturas significativas dos laços sociais, em um processo denominado de prisionização, no qual os internos adquirem hábitos e

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valores condizentes com o ambiente prisional, cuja ética e moral diferem dos valores socialmente incentivados.

Todo encarcerado sofre, em alguma medida, tal processo [de prisionização], a começar pela perda de ‘status’, ao se transformar, de um momento para o outro, ‘numa figura anônima de um grupo subordinado’. Todo encarcerado sucumbe, de alguma maneira, à cultura da prisão, mesmo porque a cadeia é um sistema de poder totalitário formal, pelo qual o detento é controlado vinte e quatro horas por dia, sem alternativa de escape. Extramuros, o princípio é considerar lícito tudo o que não é expressamente interditado, enquanto, na cadeia, a lei é considerar proibido tudo o que não é expressamente autorizado”(THOMPSON, 1980 apud FONSECA, 2006).

Durante muitos anos, predominou uma ideia otimista em relação à pena de prisão como meio mais eficaz de punição, tendo como objetivo reabilitar o infrator. No entanto, esta ideia inicial ganha a cada dia, menos força, tendo em vista os questionamentos diversos sobre os resultados que a pena privativa de liberdade proporciona. Hoje, há uma crítica em relação ao caráter ressocializador do cárcere e seus efeitos positivos em relação ao apenado. Portanto, “embora se aceite a pena privativa de liberdade como um marco da humanização da sanção criminal, em seu tempo, a verdade é que fracassou em seus objetivos declarados” (BITENCOURT, 2006, p. 73).

O questionamento acerca das condições sociais das penas privativas de liberdade tem mobilizado o pensamento, em nível mundial, para, ao menos, estabelecer uma política firme de melhoria das condições dos reclusos no interior das prisões, aspirando uma execução penal humanitária, assegurando-se o respeito e à dignidade da pessoa humana. As condições humilhantes existentes nas cadeias, os custos econômicos elevados e a ineficácia da reincidência criminal fortificam o pensamento de estudiosos da questão penal acerca da necessidade de se buscar soluções e alternativas para os problemas apresentados pelo cárcere.

1.3 Contextualizando as Penas Alternativas

No final da Segunda Guerra Mundial, em resposta aos crimes cometidos contra a dignidade humana, a Organização das Nações Unidas (ONU), aprova a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 10 de dezembro de 1948, objetivando assegurar a igualdade de

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tratamento entre todos os seres humanos; Tal Declaração foi pautada no reconhecimento da existência da dignidade da pessoa humana como fonte de todos os valores, independentemente de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião, origem nacional ou social, riqueza, nascimento ou qualquer outra condição (Art. 2º).

Em meados da segunda metade do século XX demonstra-se que reflexos da luta pelos Direitos Humanos já podem ser notados no que diz respeito aos direitos das pessoas condenadas por práticas delituosas.

Em 1955, a Organização das Nações Unidas, preocupada com os sérios problemas verificados na execução das penas privativas de liberdade, aprovou regras mínimas para o tratamento dos presos e, na década de 1970, passou a recomendar a adoção de formas de pena não privativa de liberdade a serem cumpridas na comunidade.

Em 1990, a ONU aprovou a Resolução 45/110 que estabeleceu regras mínimas das Nações Unidas para elaboração de medidas não privativas de liberdade, a partir de então conhecidas como “Regras de Tóquio” (BISCAIA; SOUZA, 2005), oriundas do VIII Congresso das Nações Unidas sobre Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente (1990), que enfocaram a necessidade da redução do número de reclusos no mundo, bem como a promoção de soluções alternativas à prisão.

A medida não privativa de liberdade foi assim definida:

Toda e qualquer decisão emanada de autoridade competente em matéria penal, em procedimento administrado pela justiça penal, mediante a qual uma pessoa suspeita ou acusada de um delito, ou condenada por um crime, submete-se a certas condições ou obrigações que não incluem prisão (JESUS, 2000, p. 28).

Assim, as Regras Mínimas de Tóquio representaram um marco na história das Penas Restritivas de Direito, tendo em vista que tratam das experiências das Nações Unidas em torno da implantação, execução e fiscalização das medidas alternativas à pena privativa de liberdade. Em seus princípios, levam-se em conta “as condições sociais, culturais, políticas e econômicas em cada país, devendo todos os Estados signatários buscar o máximo de efetividade para tais objetivos, num harmônico e simbólico equilíbrio entre o direito das vítimas, o interesse da sociedade e o direito dos delinquentes” (GOMES, 2008), demarcando a importância das próprias sanções e medidas não privativas de liberdade como meio de

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tratamento do infrator. Tais regras racionam a aplicação da pena de prisão e proporcionam garantias mínimas às pessoas em cumprimento de alternativas penais.

No Brasil, a reforma do Código Penal Brasileiro (CPB), em 1984, introduziu algumas modalidades de penas restritivas de direito. Tal reforma, condicionou a aplicação das penas substitutivas à prisão aos casos cuja condenação não ultrapassasse um ano de pena de reclusão, restringindo, portanto, o âmbito de incidência do instituto às contravenções penais e crimes diminutos, não alcançando margem significativa de atuação capaz de refletir no cenário do sistema punitivo. A Constituição Federal de 1988 traz em seu Art. 5º que “ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano degradante”. Desse modo, tem-se um reforço substancial para a ampliação de uma política criminal que vise à minimização do encarceramento e a maximização da atuação das alternativas penais.

As penas alternativas não surgem para revolucionar o sistema penal, mas com certeza demonstram uma evolução da questão. “Cadeia”, como se diz na acepção popular, somente para aqueles que realmente constituem uma ameaça à sociedade; aos demais, não as benesses da lei, mas uma oportunidade de se integrarem na sociedade que os excluiu (BISCAIA; SOUZA, 2005, p. 134)

Em 1995, com a criação dos Juizados Especiais Criminais (JECrims), outras modalidades de penas alternativas à prisão foram acrescentadas e, com isso, foi elaborado o conceito de crime de menor potencial ofensivo, que caracteriza a definição destas penas.

A lei 9.714/98, complementando a Lei dos Juizados Especiais (Lei 9.099/95), significou um grande passo para a mínima intervenção estatal, valorizando a importância dos direitos humanos. A supracitada lei surgiu em decorrência da precariedade do sistema punitivo vigente, o qual tem como núcleo a pena privativa de liberdade, tendo na prisão a sua ineficácia quanto à ressocialização do apenado. Com a referida lei, as Penas Alternativas ganharam relevância no Brasil, surgindo como penas autônomas. Assim, sempre que as penas máximas aplicadas forem iguais ou inferiores a quatro anos e o crime cometido não tenha sido realizado com violência ou grave ameaça, sendo o réu primário e sem antecedentes criminais, o juiz escolhe, dentre as penas restritivas de direitos, a(s) mais adequada(s).

Dessa forma, a lei 9.714/98 expandiu a possibilidade da sua aplicação pelo juiz (prestação pecuniária, perda de bens e valores, prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas, interdição temporária de direitos e limitação de fim de semana) e a partir

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dela criaram-se, em várias capitais, varas de execução de penas alternativas, que passaram a conduzir e fiscalizar o cumprimento da pena, o que antes era impossível de acontecer.

No ano de 2000, com o surgimento da Central Nacional de Apoio e Acompanhamento das Penas e Medidas Alternativas (CENAPA), a aplicação das penas restritivas de direitos passa a ser considerada como uma política pública de âmbito nacional. Dentre os objetivos da CENAPA, tem-se a difusão de informações sobre a aplicação das penas e medidas alternativas, o estímulo a “parcerias entre os operadores do Direito, a comunidade e as autoridades públicas” (MULLER, s/d, p. 21) e a capacitação de tais parceiros, assim como o acompanhamento da execução nas diferentes unidades da federação, com a elaboração de vários convênios estaduais para a criação das Centrais e Apoio e Acompanhamento às Penas Alternativas (CEAPAS).

A CENAPA é ligada ao Ministério da Justiça e seus investimentos objetivam a busca de uniformização da execução das penas restritivas de direitos no Brasil. O relatório realizado pelo ILANUD/Brasil no ano de 2006 visa um acesso às diferenças de atuação em cada Central ou Vara, sobretudo no que se refere ao tipo de pena mais aplicada e seus procedimentos técnicos; ainda, há a promoção de congressos e ciclos de capacitação de âmbitos regional e nacional que visam proporcionar a troca entre os profissionais que atuam nos diferentes Estados do país.

1.3.1 As Medidas e as Penas Alternativas

As medidas alternativas são aplicadas antes ou após a condenação penal, evitando o encarceramento e suspendendo o processo antes do início da instauração criminal. As penas alternativas são frutos de sentenças condenatórias, substitutas de penas privativas de liberdade, a pessoas que cometeram crime culposo (aquele em que não há intenção), com qualquer pena, ou crime doloso, punido com pena não superior a quatro anos, sem violência ou grave ameaça. No que se refere aos crimes dolosos, não pode haver reincidência no mesmo crime.

No conceito de Damásio De Jesus (2000, p. 29), “alternativas penais, também chamadas substitutivos penais e medidas alternativas, são meios de que se vale o legislador visando impedir que ao autor de uma infração penal venha a ser aplicada medida ou pena privativa de liberdade”. Portanto, penas alternativas são medidas penais substitutivas das

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penas privativas de liberdade, aplicadas aos fatos típicos a que a lei denominou de infrações de menor e médio potencial ofensivo.

Este tipo de pena evita que infrações de menor gravidade fiquem impunes e, ainda, que o apenado seja encaminhado à prisão, tendo como “colegas de cela” os infratores de grande potencial ofensivo. Assim, o mesmo continua integrado à família e sociedade, exercendo uma atividade profissional e repensando sua conduta delituosa.

As penas restritivas de direitos visam, sem rejeitar o caráter ilícito do fato, dificultar, evitar, substituir ou restringir a aplicação da pena de prisão ou sua execução, ou ainda, pelo menos, sua redução. Trata-se de uma medida punitiva que pretende possuir um caráter educativo e socialmente útil, imposta ao autor da infração penal, como substitutiva da pena privativa de liberdade (ALENCAR, 2008).

Com a falência do sistema carcerário, o Estado vem se preocupando, cada vez mais, com a reformulação do sistema de penas, em virtude do desvirtuamento dos objetivos das penas privativas de liberdade, penas que não conseguem de fato reeducar os presos e prepará-los para o retorno ao convívio social. Uma vez que as finalidades das penas são a defesa da sociedade e a ressocialização do infrator, objetivos cada vez menos alcançados pela pena privativa de liberdade, a prisão passou a ser reservada aos casos de extrema necessidade, quando o condenado oferecer risco à integridade social. As penas alternativas representam um significativo avanço das formas de punição, através das quais o apenado cumpre sua pena em liberdade, sem que seja submetido à segregação social, permanecendo inserido na comunidade sem sofrer maiores preconceitos.

Conforme afirma Hulsman (1997):

Em inúmeros casos, a experiência do processo e do encarceramento produz nos condenados um estigma que pode se tornar profundo. Há estudos científicos, sérios e reiterados, mostrando que as definições legais e a rejeição social por elas produzida podem determinar a percepção do eu como realmente ‘desviante’ e, assim, levar algumas pessoas a viver conforme esta imagem, marginalmente (p.698).

O principal foco dos investimentos tem sido na estruturação e na manutenção, dos Estados, de serviços de acompanhamento (as centrais ou núcleos de Penas e Medidas Alternativas) e de Varas Especializadas na matéria (GOMES, 2008). Dessa forma, será possível acreditar que as Penas Alternativas, sendo efetivamente cumpridas, não são sinônimos de impunidade.

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De acordo com o Código Penal Brasileiro (CPB) há três tipos de penas em resposta a uma infração, são elas: as penas privativas de liberdade, as penas restritivas de direito e a multa. Estas duas últimas são denominadas Penas Alternativas. Estas penas são, pois, uma resposta diferenciada para indivíduos que cometeram crimes considerados de leve e médio porte e que não oferecem risco à sociedade, não sendo, portanto, no cumprimento da sua pena, excluídos do convívio na sociedade.

Gomes (2008), afirma que constatada a disfunção da prisão e, portanto, sua incapacidade para o cumprimento das finalidades em face das mazelas evidenciadas pela comprometida estrutura física e administrativa do sistema carcerário, considera-se imperativa a excepcionalidade de sua aplicação, reservada tão-somente aos autores de crimes de máxima gravidade. Assim, ao se tratar de situações com baixo potencial ofensivo, não se justifica a imposição da modalidade de sanção mais drástica de intervenção punitiva.

Nessa perspectiva, o autor argumenta que:

[...] a perspectiva de um sistema punitivo calcado em alternativas penais à prisão para infrações penais de menor e médio potencial ofensivo, vislumbra uma intervenção penal menos drástica, mais econômica para o Estado e, portanto, com maior probabilidade de prestar-se ao respeito à dignidade da pessoa humana, bem assim à reintegração do delinquente na sociedade [...] (GOMES, 2008, p. 62)

De acordo com o Código Penal Brasileiro (CPB), em seu artigo 43, as espécies de Penas Alternativas, também chamadas de Penas Restritivas de Direitos, são: prestação pecuniária, perda de bens e valores, prestação de serviços à comunidade, interdição temporária de direitos e a limitação de final de semana. É importante destacar que a substituição só será possível se forem atendidos os requisitos elencados no art. 44:

I- aplicada pena privativa de liberdade não superior a 4 (quatro) anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo;

II- o réu não for reincidente em crime doloso;

III- a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente.

Dessa forma, as Penas Alternativas visam diminuir a reincidência criminal, devido ao seu caráter educativo e socialmente útil, pois enseja que o infrator, cumprindo sua pena em

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"liberdade", seja monitorado pelo Estado e pela comunidade, facilitando grandiosamente a sua reinserção à sociedade.

No Brasil, o Ministério da Justiça tem incentivado cada vez mais a adoção de substitutivos penais e apoiado iniciativas nesse sentido e, assim, o campo de atuação profissional para os psicólogos tende a um crescimento constante (OLIVEIRA, 2009). Apesar da diversidade das penas restritivas de direitos, o presente trabalho delimitou-se à análise da pena de Prestação de Serviço à Comunidade, uma vez que esta é uma modalidade de execução de pena que necessita de apoio técnico (BRASIL, 2002) e é, segundo o levantamento realizado pelo Instituto Latino-americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente - ILANUD em 2006, a espécie de pena que apresenta maior incidência de aplicação em todas as capitais estudadas. O relatório de gestão do ano de 2012 produzido pela GEPAIS (Gerência de Penas Alternativas e Integração Social) do Estado de Pernambuco confirma que a PSC foi a pena de maior aplicabilidade no supracitado ano, conforme segue (gráfico 1):

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1.4 A Prestação de Serviços à Comunidade

A Prestação de Serviços à Comunidade (PSC) é considerada a modalidade mais adequada às finalidades pretendidas pelas penas restritivas de direito, tendo em vista seu aspecto da aproximação e participação da comunidade no processo de ressocialização do indivíduo infrator. Quanto à natureza jurídica, há doutrinadores que entendem tratar-se de espécie de pena restritiva de direito (SHECARIA citado por GOMES, 2008, p. 134). No entanto, o autor a considera como uma espécie de alternativa penal (Regras de Tóquio), apresentando-se, no direito pátrio, como pena restritiva de direito (artigo 32, do Código Penal); como condição especial do sursis (artigo 78, § 1º, do Código Penal) e como medida alternativa na transação penal (artigo 76, da Lei 9.099/95), etc.

Na definição dessa sanção, houve clara preocupação em estabelecer quais as entidades que poderão participar da prestação gratuita de serviços comunitários (SOARES, 1985). Sua efetiva operacionalização, conforme aponta Alencar (2008), depende da organização de uma rede social (governamental ou não-governamental), que ofereça vagas e serviços necessários à estruturação e ao monitoramento de sua execução. A preocupação em afastar as entidades privadas como possibilidade de prestação de serviço está ligada ao impedimento da exploração da mão-de-obra gratuita. Assim, hospitais, postos de saúde, creches, escolas, dentre outras instituições filantrópicas, de utilidade pública ou comunitária, são beneficiadas com a PSC. Deste modo, elucida Bitencourt (2011):

A prestação de serviços à comunidade é um ônus que se impõe ao condenado como consequência jurídico-penal da violação da norma jurídica. Não é um emprego, tampouco um privilégio, apesar da existência de milhares de desempregados; aliás, por isso a recomendação de utilizar somente as entidades referidas e em atividades em que não se elimine a criação de empregos (p. 307).

No Brasil, em respeito aos interesses do condenado, a execução da pena será em horário que não coincida com o horário de trabalho dos cumpridores, de modo a alterar de forma mínima, a rotina diária destes. Ainda, as atividades por eles desenvolvidas devem coincidir, na medida do possível, com suas habilidades pessoais. Seguindo as ideias de Fabbrini Mirabete (1985), determinar que a PSC seja executada durante a jornada normal de trabalho não contribuirá com o processo de reintegração social, pois interferirá negativamente na estrutura profissional, familiar e social do condenado, dificultando, na maioria das vezes,

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sua sobrevivência e o sustento de sua família. Deste modo, a pena prestação de serviços poderá ser feita, conforme o Artigo 46, parágrafo único, do Código Penal, “aos sábados, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a jornada normal de trabalho”.

O Artigo 55 do Código Penal estabelece que a pena de prestação de serviços à comunidade terá a mesma duração da pena privativa de liberdade substituída. Desse modo, deve durar o tempo relativo à pena de prisão, não podendo exceder o prazo fixado na sentença de condenação.

O trabalho comunitário, na legislação brasileira, será calculado à razão de uma hora de prestação de serviço por dia de condenação. Para fins de cálculos, considera-se o ano com 360 dias e 45 semanas, desse modo, se o réu foi condenado a 1 ano de prisão e sua pena foi substituída pela PSC, ele deverá cumprir o total de 360 horas de trabalho, o que equivale a 8 horas semanais. O cumprimento começa com o primeiro comparecimento ao local determinado pelo juiz da execução, sendo que estas horas semanais podem ser distribuídas livremente no decorrer da semana ou em um único dia, conforme negociação entre o cumpridor e a instituição beneficiária. No entanto, o artigo 46, § 4º, do Código Penal admite a possibilidade de o sentenciado cumprir sua pena substitutiva em tempo inferior àquele fixado para a pena de prisão. Porém, esta redução não pode ser inferior à metade da pena imposta. O que não significa dizer que o sentenciado cumprirá metade da pena imposta, tendo em vista que a quantidade de horas de serviços prestada permanece inalterada. Assim, o cumpridor poderá prestar serviço por dezesseis horas semanais, ao invés de oito, reduzindo, consequentemente, à metade o tempo de cumprimento da pena. Cabe destacar, que essa regra de PSC em sua forma reduzida, resulta da previsão expressa no artigo 46 do Código Penal, que admite tal utilização para as condenações superiores a seis meses de privação de liberdade. No caso de uma condenação superior a 1 ano, há a possibilidade de cumprir mais horas por semana a fim de terminar em menor tempo, respeitando o limite mínimo de cumprimento, qual seja, metade da pena privativa de liberdade.

A PSC também se apresenta como condição especial da suspensão condicional da pena, sursis, quando a condenação da pena de prisão não ultrapassar dois anos, desde que presentes outros requisitos exigidos pelo artigo 77 e seguintes do Código Penal. No entanto, não serão levadas em conta, para efeito de detração, as horas referidas ao tempo de prisão, como ocorre na PSC.

É importante mencionar que a PSC deve ser aplicada pelo juiz que julgou o sentenciado (juiz da vara de origem). No entanto, a designação do local onde este cumprirá

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sua pena, será de atribuição do juiz da execução, que mantém uma rede de entidades adequadas e fiscalizará a execução da pena. Ressalta-se que, conforme os artigos 87 e 88 do Código Penal, o descumprimento da prestação de serviços à comunidade imposta como condição ao liberado condicional, poderá gerar a revogação facultativa do benefício, com suas legais consequências.

O caráter educativo desta pena, não tem o intuito de “melhorar” a personalidade do apenado, nem que o mesmo pense e passe a agir como toda comunidade. O que se almeja, é que este possa incutir a ideia de não repetir o crime e repensar, mesmo com as diferenças entre as pessoas, que ele deve submeter-se a um padrão ético mínimo, que permita a convivência entre os homens, de forma pacífica (SHECAIRA, 1993). “O condenado, ao realizar essas atividades, sente-se útil ao perceber que empresta uma parcela de contribuição e recebe, muitas vezes, o reconhecimento da comunidade pelo trabalho realizado” (FERREIRA, 1989, p. 259). Desse modo, a PSC representa uma das grandes esperanças penológicas, realizando o seu conteúdo retributivo, ao mesmo tempo, a proposta de ressocialização do apenado, possibilitando que o mesmo reflita sobre seu ato ilícito, sobre a pena e sobre seu trabalho realizado.

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2 O ENCONTRO DA PSICOLOGIA COM O DIREITO

“A Psicologia e o Direito, mesmo constituindo-se disciplinas distintas, possuem como ponto de intersecção o interesse pelo comportamento humano” (ROVINSKI, 2007, p. 13). Dentro da estreita relação existente entre esses dois campos de saberes é que surge a Psicologia no âmbito jurídico.

Como dito acima, a Psicologia e o Direito são áreas do conhecimento científico voltadas para a compreensão da conduta humana. No entanto, conforme elucida Riveros (1995), diferem quanto ao seu objeto formal: a Psicologia volta-se ao mundo do ser, e tem como ponto de análise os processos psíquicos conscientes e inconscientes, individuais e sociais que governam a natureza humana; o Direito, por sua vez, volta-se ao mundo do dever ser, e supõe a regularização e legislação dos comportamentos humanos (conforme a natureza humana, estudada pela Psicologia), em função do que considera certo ou errado para a convivência humana em sociedade.

Ao longo da história das ciências, percebe-se uma preocupação com a avaliação do criminoso, principalmente quando se trata de um doente mental delinquente. Durante a Antiguidade e a Idade Média a loucura era um fenômeno bastante privado. Ao "louco" era permitido circular com certa liberdade, e os atendimentos médicos restringiam-se a uns poucos abastados (LAGO; AMATO; TEIXEIRA; ROVINSKI; BANDEIRA, 2009). Em torno do século XVII, a loucura passou a ser caracterizada por uma necessidade de exclusão dos doentes mentais. Foram criados locais para internação em toda a Europa, onde eram encerrados indivíduos que ameaçassem a ordem da razão e da moral da sociedade. A partir do século XVIII, na França, Pinel realizou a revolução institucional, liberando os doentes de suas cadeias e dando assistência médica a esses seres segregados da vida em sociedade (PAVON, 1997).

O olhar positivista e determinista presente nos séculos XVIII e XIX atribuíam que os desvios das normas da sociedade estavam relacionados ao fator genético dos que cometiam os crimes. Deste modo, o indivíduo que infringia as regras, era tido como doente e incapaz. Nessa época, a psiquiatria era vista como ciência apta a opinar sobre a criminalidade e sua possível prevenção. No entanto, como destaca Carvalho (2007), a psiquiatria, neste período, não possuía meios suficientes para uma investigação mais específica e delineada das características psíquicas.

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A Psicologia forense, ou jurídica, como afirma Rovinski (2000), surgiu da necessidade de assessorar magistrados em suas tarefas de julgamento. Inicialmente, esteve relacionada com a psiquiatria forense, onde se encontram seus primeiros campos de investigação voltados para a área criminal, tendo como enfoque de estudo os adultos criminosos e os adolescentes infratores da lei. A partir do século XX, outros focos de investigação foram emergindo, relacionados tanto com avaliações clínicas ligadas às questões do direito cível quanto aos procedimentos jurídicos inerentes ao processo judicial, a exemplo da avaliação de testemunhos ou procedimentos dos jurados. Estudos acerca dos sistemas de interrogatório, os fatos delitivos, a detecção de falsos testemunhos, as amnésias simuladas e os testemunhos de crianças impulsionaram a ascensão da então denominada Psicologia do Testemunho (GARRIDO, 1994).

De forma gradual e lenta as práticas psicológicas ganham forma e na década de 60, a Psicologia é reconhecida como profissão no Brasil (Lei Federal no 4.119, de 27 de agosto de 1962). Assim, surge um discurso científico socialmente autorizado a enunciar “verdades” sobre o sujeito: a Psicologia. Marcada pelo ideal Positivista e Experimental, portando instrumentos técnicos de análise, ela avizinha-se da psiquiatria na determinação das características psíquicas do criminoso e oferece seu arsenal de avaliação para o campo das perícias (OLIVEIRA, 2009). “Parece que a psiquiatria precisa de novas formas de apoio concreto, visível, mensurável, para além da antropometria, em sua determinação da periculosidade e da inimputabilidade de réus e condenados” (JACÓ-VILELA, 2005). Desse modo, os testes psicológicos trazem um apoio mensurável e visível para a avaliação dos criminosos e dos motivos dos crimes, dentro da visão biologizante da época.

Os testes psicológicos muito rapidamente vão se tornando o meio adequado para a determinação da imputabilidade e da periculosidade do réu ou do condenado. É nessa perspectiva de exame, de descoberta da Verdade interior, íntima, de cada um, que a Psicologia se aproximará do Direito (JACÓ-VILELA, 2005).

O marco histórico de estudos que delineou a intersecção entre a Psicologia e o Direito foi trazido por Myra y Lopes, em o Manual de Psicologia Jurídica no ano de 1932, fundamentando a existência da Psicologia jurídica na necessidade de apoio ao melhor exercício do Direito, considerando que a finalidade deste é a profilaxia delitiva (JACÓ-VILELA, 2005). Neste momento, a Psicologia encontrava-se atrelada ao Direito Penal, tendo sido derivada da Medicina Legal. “Este é o ponto inicial do percurso da Psicologia Judiciária

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