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A Prestação de Serviços à Comunidade (PSC) é considerada a modalidade mais adequada às finalidades pretendidas pelas penas restritivas de direito, tendo em vista seu aspecto da aproximação e participação da comunidade no processo de ressocialização do indivíduo infrator. Quanto à natureza jurídica, há doutrinadores que entendem tratar-se de espécie de pena restritiva de direito (SHECARIA citado por GOMES, 2008, p. 134). No entanto, o autor a considera como uma espécie de alternativa penal (Regras de Tóquio), apresentando-se, no direito pátrio, como pena restritiva de direito (artigo 32, do Código Penal); como condição especial do sursis (artigo 78, § 1º, do Código Penal) e como medida alternativa na transação penal (artigo 76, da Lei 9.099/95), etc.

Na definição dessa sanção, houve clara preocupação em estabelecer quais as entidades que poderão participar da prestação gratuita de serviços comunitários (SOARES, 1985). Sua efetiva operacionalização, conforme aponta Alencar (2008), depende da organização de uma rede social (governamental ou não-governamental), que ofereça vagas e serviços necessários à estruturação e ao monitoramento de sua execução. A preocupação em afastar as entidades privadas como possibilidade de prestação de serviço está ligada ao impedimento da exploração da mão-de-obra gratuita. Assim, hospitais, postos de saúde, creches, escolas, dentre outras instituições filantrópicas, de utilidade pública ou comunitária, são beneficiadas com a PSC. Deste modo, elucida Bitencourt (2011):

A prestação de serviços à comunidade é um ônus que se impõe ao condenado como consequência jurídico-penal da violação da norma jurídica. Não é um emprego, tampouco um privilégio, apesar da existência de milhares de desempregados; aliás, por isso a recomendação de utilizar somente as entidades referidas e em atividades em que não se elimine a criação de empregos (p. 307).

No Brasil, em respeito aos interesses do condenado, a execução da pena será em horário que não coincida com o horário de trabalho dos cumpridores, de modo a alterar de forma mínima, a rotina diária destes. Ainda, as atividades por eles desenvolvidas devem coincidir, na medida do possível, com suas habilidades pessoais. Seguindo as ideias de Fabbrini Mirabete (1985), determinar que a PSC seja executada durante a jornada normal de trabalho não contribuirá com o processo de reintegração social, pois interferirá negativamente na estrutura profissional, familiar e social do condenado, dificultando, na maioria das vezes,

sua sobrevivência e o sustento de sua família. Deste modo, a pena prestação de serviços poderá ser feita, conforme o Artigo 46, parágrafo único, do Código Penal, “aos sábados, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a jornada normal de trabalho”.

O Artigo 55 do Código Penal estabelece que a pena de prestação de serviços à comunidade terá a mesma duração da pena privativa de liberdade substituída. Desse modo, deve durar o tempo relativo à pena de prisão, não podendo exceder o prazo fixado na sentença de condenação.

O trabalho comunitário, na legislação brasileira, será calculado à razão de uma hora de prestação de serviço por dia de condenação. Para fins de cálculos, considera-se o ano com 360 dias e 45 semanas, desse modo, se o réu foi condenado a 1 ano de prisão e sua pena foi substituída pela PSC, ele deverá cumprir o total de 360 horas de trabalho, o que equivale a 8 horas semanais. O cumprimento começa com o primeiro comparecimento ao local determinado pelo juiz da execução, sendo que estas horas semanais podem ser distribuídas livremente no decorrer da semana ou em um único dia, conforme negociação entre o cumpridor e a instituição beneficiária. No entanto, o artigo 46, § 4º, do Código Penal admite a possibilidade de o sentenciado cumprir sua pena substitutiva em tempo inferior àquele fixado para a pena de prisão. Porém, esta redução não pode ser inferior à metade da pena imposta. O que não significa dizer que o sentenciado cumprirá metade da pena imposta, tendo em vista que a quantidade de horas de serviços prestada permanece inalterada. Assim, o cumpridor poderá prestar serviço por dezesseis horas semanais, ao invés de oito, reduzindo, consequentemente, à metade o tempo de cumprimento da pena. Cabe destacar, que essa regra de PSC em sua forma reduzida, resulta da previsão expressa no artigo 46 do Código Penal, que admite tal utilização para as condenações superiores a seis meses de privação de liberdade. No caso de uma condenação superior a 1 ano, há a possibilidade de cumprir mais horas por semana a fim de terminar em menor tempo, respeitando o limite mínimo de cumprimento, qual seja, metade da pena privativa de liberdade.

A PSC também se apresenta como condição especial da suspensão condicional da pena, sursis, quando a condenação da pena de prisão não ultrapassar dois anos, desde que presentes outros requisitos exigidos pelo artigo 77 e seguintes do Código Penal. No entanto, não serão levadas em conta, para efeito de detração, as horas referidas ao tempo de prisão, como ocorre na PSC.

É importante mencionar que a PSC deve ser aplicada pelo juiz que julgou o sentenciado (juiz da vara de origem). No entanto, a designação do local onde este cumprirá

sua pena, será de atribuição do juiz da execução, que mantém uma rede de entidades adequadas e fiscalizará a execução da pena. Ressalta-se que, conforme os artigos 87 e 88 do Código Penal, o descumprimento da prestação de serviços à comunidade imposta como condição ao liberado condicional, poderá gerar a revogação facultativa do benefício, com suas legais consequências.

O caráter educativo desta pena, não tem o intuito de “melhorar” a personalidade do apenado, nem que o mesmo pense e passe a agir como toda comunidade. O que se almeja, é que este possa incutir a ideia de não repetir o crime e repensar, mesmo com as diferenças entre as pessoas, que ele deve submeter-se a um padrão ético mínimo, que permita a convivência entre os homens, de forma pacífica (SHECAIRA, 1993). “O condenado, ao realizar essas atividades, sente-se útil ao perceber que empresta uma parcela de contribuição e recebe, muitas vezes, o reconhecimento da comunidade pelo trabalho realizado” (FERREIRA, 1989, p. 259). Desse modo, a PSC representa uma das grandes esperanças penológicas, realizando o seu conteúdo retributivo, ao mesmo tempo, a proposta de ressocialização do apenado, possibilitando que o mesmo reflita sobre seu ato ilícito, sobre a pena e sobre seu trabalho realizado.