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6 O SIGNIFICADO DA PSC

6.3 Reinserção social

A reinserção social também foi o termo utilizado pelos entrevistados para descrever o significado da PSC. É importante destacar que este conceito apresenta-se como uma das finalidades da pena.

“É uma opção, uma alternativa para o cumpridor, até para beneficiá-lo e também é... viabilizar uma integração dessa pessoa sem ter que passar pelo trauma de uma coisa mais grave, que seria uma retenção ou uma coisa que vá prejudicar pelo resto da vida dele que é a geração de um antecedente criminal, que vai dificultá-lo a arranjar um emprego, que vai, enfim, dificultá-lo a conseguir muitas oportunidades. No caso, é uma coisa bastante benéfica porque além de dar essa oportunidade dele se reinserir sem ônus pra ele em relação a ter um processo, em ter o nome sujo, essa pessoa também tem a oportunidade de estar em contato com a instituição prestando serviço e nessa prestação de serviço existe uma troca, ele pode, ele pode... eventualmente ter uma oportunidade de conseguir um emprego, ele pode ser convocado pela instituição para fazer um trabalho até remunerado ou ele pode criar algum vínculo na instituição e começar a prestar serviços esporadicamente ou voluntariamente sem necessariamente estar cumprindo uma pena, ele pode prestar serviços extras, fora da instituição, mas indicados pela própria instituição, enfim, é bastante benéfico. É claro que se ele aproveitar, né... aproveitar algo que pode alavancar uma possível carreira profissional” (Sujeito 2).

Nessa fala, além de pontuar a importância da reintegração social do cumpridor, o entrevistado também menciona a possibilidade de ganhos para além da própria imersão na sociedade. Ele pontua a possibilidade de o cumpridor, a partir da atividade desenvolvida na instituição, ingressar no mercado de trabalho e aproveitar suas habilidades que foram desenvolvidas com o cumprimento da pena ou medida. Com esse posicionamento, o Sujeito 2

fica implícito que o cumprimento da PSC possibilita ganhos secundários ao cumpridor que irão desde o possível ingresso no mercado de trabalho às percepções de novas aptidões.

O entrevistado menciona, ainda, a possibilidade do indivíduo não sofrer com o estigma de possuir um processo criminal, uma vez que com o cumprimento da pena o processo é extinto. É como se após o cumprimento da pena alternativa, a sociedade recebesse o indivíduo sem preconceitos, aceitando-o no processo de reintegração social; o que poderia não ocorrer, caso o indivíduo cumprisse a pena de prisão.

De acordo com a literatura, sabe-se que a condenação criminal, em especial a pena privativa de liberdade, traz sequelas para o egresso, uma vez que este possivelmente passará a ser estigmatizado pela sociedade, que, dificilmente, voltará a acolhê-lo. No entanto, quando alguém, mesmo que condenado criminalmente, não é jogado no cárcere, ou seja, não cumpre sua pena “intramuros” (GRECO, 2011, p. 406), a estigmatização no que diz respeito à sua pessoa é infinitamente menor.

“Pra mim além da parte prática né, de, de ser uma questão de você não, não tá aglomerado dentro de uma unidade, de uma prisão né, eu acho que é uma oportunidade, é uma nova oportunidade de você prestar um serviço a uma comunidade e não estar sendo preso e uma forma de ressocialização, entende? Porque você acaba prestando serviço, você está inserido dentro de um contexto totalmente diferente do seu. Então isso faz com que as pessoas vejam com outros olhos e você se ressocialize, porque ali você tá fazendo outros contatos com outras pessoas totalmente diferentes da dinâmica de vida que você tem. Então eu acho que pra o... pra o cumpridor, é é... é uma oportunidade, além de ser uma nova oportunidade, é uma forma de crescimento, entendeu, porque ele além de ele tá visualizando outro mundo, é uma forma totalmente diferente do contexto que ele tem porque geralmente o... a... os cumpridores que a gente recebe ou tem um nível de escolaridade muito baixo e um nível, e a questão financeira também, é tudo, a maior parte não tem nem escolaridade e nem a questão financeira boa. E os que têm também a gente faz esse trabalho, porque as vezes também tem pessoas que tem dinheiro e tem estudo, mas assim, a maior parte, o que prevalece são as pessoas mais humildes. Então é assim, muitas vezes eles chegam muito satisfeitos aqui, então essa forma de ressocializar e de, de o outro enxergar você como uma pessoa que precisa de mudança eu acho muito importante” (Sujeito 5).

A concepção trazida nesse trecho vai de encontro ao que Greco (2011) argumenta em seu livro “Direitos Humanos, Sistema Prisional e Altermativas à Privação de Liberdade” sobre a forma de punição mediante a pena de prisão. O autor destaca que o modelo clássico de

resposta ao delito acentua a pretensão punitiva do Estado apenas no justo e necessário castigo do infrator, objetivando exclusivamente a punição. A ideia difundida mediante as Penas Restritivas de Direito, e presente na fala supracitada, leva em conta as habilidades do cumpridor, sua carga horária semanal de trabalho, seu nível de escolaridade, dentre outras questões subjetivas a fim de que haja o cumprimento efetivo da pena ou medida. Assim, além do necessário cumprimento de uma pena ou medida em virtude de um ato delituoso, é dada importância também aos aspectos subjetivos do cumpridor, bem como ao seu contexto social.

Quando os entrevistados apontam a necessidade de levar em conta as habilidades do indivíduo, parecem partir do pressuposto de que a especialização do cumpridor em determinada área ou atividade faz com que sua mão de obra se torne competitiva, afastando, assim, o efeito estigmatizante e segregador do cárcere.

Os discursos apresentados acima atribuem à PSC a função de permitir a reintegração social do sujeito que infringiu às Leis, função recorrentemente ressaltada pela literatura que milita a favor das Penas Alternativas. Os seus argumentos, portanto, reproduzem uma certa visão otimista sobre as possibilidades de reintegração dessas penas. Mas o que seria essa reintegração social? Ela ocorrerá da mesma forma para cada cumpridor? Apenas o efetivo cumprimento da pena faz com que o indivíduo modifique suas concepções e seus valores? A sociedade é tão mais benevolente em relação às pessoas que cumpriram essas penas? Concordamos com Bitercourt (2011) quando ele afirma que o conceito de ressocialização deve ser submetido a novos debates e a novas definições.