• Nenhum resultado encontrado

3 PSICOLOGIA SOCIAL DISCURSIVA

4.3 Procedimentos de coleta de dados

A pesquisa foi inserida numa abordagem qualitativa, uma vez que, de acordo com Minayo (2003), ela contempla questões singulares e se preocupa com aspectos que não podem ser mensuráveis. Compartilhando com a idéia de González-Rey (2002), a abordagem aqui proposta, implica o desenvolvimento de um diálogo progressivo e organicamente constituído, como uma das fontes principais de produção de informação, cuja qualidade e complexidade só são alcançadas pela implicação dos sujeitos pesquisados nas redes de comunicação desenvolvidas no decorrer da pesquisa. Possibilita “esmiuçar a forma como as pessoas constroem o mundo à sua volta, o que estão fazendo ou o que está lhe acontecendo em termos que tenham sentido e que ofereçam uma visão rica” (FLICK, 2009, p. 8).

A abordagem qualitativa em pesquisa privilegia um traçado que visa a compreensão interpretativa das experiências dos indivíduos dentro do contexto em que foram vivenciados, respeitando as singularidades dos mesmos, expressando assim a riqueza e a plasticidade do fenômeno subjetivo. Debruça-se sobre o conhecimento do objeto complexo que é a subjetividade, cujos elementos estão implicados simultaneamente em diferentes processos constitutivos do todo, os quais mudam em face do contexto em que se expressa o sujeito concreto (MINAYO, 1999; GONZÁLEZ-REY, 2002).

Para a execução do projeto foram utilizadas entrevistas semiestruturadas e observação participante. Tais métodos serão melhor detalhados em exposição que se segue.

Com as pesquisas bibliográficas buscou-se contato com os estudos já produzidos sobre a atuação de psicólogos junto às penas alternativas. Contudo, foi perceptível que há uma limitação de dados sistematizados e de fontes bibliográficas sobre o tema. A produção teórica e técnica sobre o assunto, apesar de ter ganhado visibilidade nos últimos anos, ainda se mostra tímida denotando que o assunto carece de atenção particularizada e maior visibilidade.

A entrevista semi-estruturada foi o instrumento escolhido para a pesquisa de campo, sendo certo que a orientação para a confecção das questões deu-se a partir de um roteiro de entrevista semi-estruturado. O supracitado roteiro (APÊNDICE C) foi elaborado com base nos objetivos do trabalho de modo que pudesse fornecer questões primordiais, objetivando, assim, nortear este estudo e adentrar no contexto da prática profissional dos sujeitos entrevistados. Apesar da observação do roteiro, no decorrer das entrevistas algumas perguntas adicionais foram realizadas a fim de melhor compreender os aspectos mencionados pelos entrevistados. Desse modo, a entrevistadora teve uma participação ativa propiciada pelo

instrumento escolhido na busca do saber. Buscou-se uma boa interação entre pesquisadora e sujeito entrevistado para favorecer o surgimento de respostas espontâneas.

É importante pontuar a necessidade dessa postura ativa que a entrevistadora adota numa entrevista de análise de discurso. Esta, diante das respostas dos psicólogos entrevistados, pôde fazer novos questionamentos e intervenções solicitando mais elucidações, explicações, etc. Wetherell e Potter (1992) salientam que, numa abordagem discursiva, as entrevistas são tratadas como uma interação social e, nessa direção, o entrevistador contribui tanto quanto o entrevistado, pois ambos estão construindo versões que compõem uma variedade de fontes interpretativas, reafirmando a necessidade de uma postura ativa por parte do pesquisador.

A escolha pela utilização da entrevista foi motivada pelas qualidades desse instrumento em “enumerar de forma mais abrangente possível as questões onde o pesquisador quer abordar no campo, a partir de suas hipóteses ou pressupostos, advindos, obviamente, da definição do objeto de investigação.” (MINAYO, 1999, p.121).

Outra técnica que subsidiou a pesquisa de campo foi a observação participante, tendo em vista que este instrumento possibilita que o pesquisador tenha uma participação real no grupo estudado. De acordo com Becker (1994), a observação participante possibilita que o pesquisador colete os dados, participando do grupo ou organização, observando as pessoas e seu comportamento em situações de vida cotidiana. Assim, conforme Gil (1994), a observação participante possibilita que o pesquisador chegue ao conhecimento da vida do grupo estudado a partir do interior dele mesmo.

As observações, durante o período de realização de entrevistas, nas Centrais de Apoio às Medidas e Penas Alternativas, contribuíram para a compreensão da atuação dos psicólogos. De acordo com Angrosino (2009), a partir da proposta de cada pesquisa a observação implicará graus diferentes de aproximação e envolvimento do pesquisador com os participantes. Neste cenário, a ideia de observação participante se identifica com o que o autor apresenta como a inserção do pesquisador por um breve período, objetivando compreender os contextos de comunicação entre os grupos, associados com os dados de entrevistas, sendo o observador reconhecido pelo grupo como pesquisador.

Para a realização das entrevistas, o contato inicial deu-se através de ligação telefônica, onde a pesquisadora se apresentou, fez uma breve explanação do projeto, o convite à participação na pesquisa e o agendamento da data de entrevista. A coleta de dados ocorreu entre os meses Outubro de 2012 a Fevereiro de 2013. O tempo para a entrevista não foi pré- determinado, visto que uma elasticidade em sua duração permitiria uma cobertura mais

profunda dos temas a serem abordados. A entrevista foi realizada individualmente e em data e local escolhido pelo profissional. As falas dos sujeitos, por sua vez, foram gravadas após a apresentação do “Termo de Consentimento Livre e Esclarecido” (APÊNDICE B) e da autorização dos participantes. As entrevistas tiveram duração de aproximadamente trinta minutos e foram cuidadosamente transcritas com o maior detalhe possível para que qualquer interação sutil, incidência ou circunstância fosse identificada. Nesse sentido, além das palavras emitidas, foram incluídas as interrupções e as pausas.

Para fins de sigilo, organização e análise dos dados empíricos, os profissionais entrevistados foram nomeados como Sujeito 1, Sujeito 2, Sujeito 3, e assim, sucessivamente.