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a Resistência de uma Técnica Centenária :: Brapci ::

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Academic year: 2018

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Pir â m ide I n v e r t ida n a Cibe r n ot ícia :

a Re sist ê n cia de u m a Té cn ica Ce n t e n á r ia

Fe r n a n d o Za m it h

Docent e da Licenciat ur a em Jor nalism o e Ciências da Com unicação da Universidade do Por t o

fernando.zam it h@icicom .up.pt

Re su m o

Est e ar t igo t em por base um a pesquisa de ar gum ent os a fav or e cont r a a ut ilização da pir âm ide inv er t ida na ciber not ícia ( ou not ícia digit al) , pr et endendo- se t am bém sist em at izar algum as das pr opost as consensuais que t êm sur gido sobr e o m odo de apr esent ar not ícias na I nt er net . Mais do que acent uar cliv agens, im por t a r eunir o m elhor que est e ( et er no) debat e t em pr opor cionado, v alor izando sim ult aneam ent e os cont r ibut os de quem o t em cent r ado na for m a e de quem se t em pr eocupado m ais com o cont eúdo.

Pa la vr a s- ch a ve :

pir âm ide inv er t ida; ciber j or nalism o; r edacção digit al; I nt er net

Abst r a ct

The inv er t ed py r am id has been t he leading w r it ing t echnique in j our nalism for m or e t han 100 y ear s. Any j our nalist or j our nalism st udent know s t hat it consist s in t elling t he st or y fr om t he m ost t o t he least im por t ant .

Wit h t he em er gence of new m edia, specially t he Wor d Wide Web, w e have w at ched t o t he m igr at ion of t he inver t ed py r am id par adigm t o t he online new s. How ever , som e aut hor s and som e j our nalist s ar gue t hat t he inv er t ed py r am id is inadequat e t o a m edia t hat is hy per t ex t ual, conver gent and int er act iv e. At t he sam e t im e, ot her s defend t hat r eader s r ecognize t he inver t ed pyr am id st yle and st r ess t hat ot her alt er nat iv es ar e yet t o be found.

This ar t icle put s in confr ont at ion ar gum ent s pr o and against t he inv er t ed py r am id st r uct ur e in t he pr oduct ion of online new s.

Ke y w or ds:

inv er t ed py r am id; w r it ing t echniques; online j our nalism ; new m edia

I n t r od u çã o

A pir âm ide inver t ida é a t écnica de r edacção dom inant e no j or nalism o há m ais de 100 anos. Qualquer j or nalist a ou est udant e de j or nalism o sabe que consist e na hier ar quização das infor m ações do m ais par a o m enos im por t ant e.

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t ar dar am a apar ecer det r act or es da ut ilização dest a t écnica no ciber j or nalism o, com o ar gum ent o da inadequação da pir âm ide inver t ida às especificidades pr ópr ias de um m eio hiper t ext ual, conver gent e e int er act ivo.

Ao m esm o t em po, os defensor es da const r ução da ciber not ícia do m ais par a o m enos im por t ant e r ealçavam a ident ificação que o leit or t em com est a t écnica e a inexist ência de alt er nat ivas viáveis. É assim que, por m ais que possa espant ar m uit a gent e, ainda hoj e se quest iona se faz ou não sent ido usar a pir âm ide inver t ida na ciber not ícia.

É do confr ont o de ar gum ent os pró e cont r a a pir âm ide inver t ida na ciber not ícia que se baseia est e ar t igo, em que se pr et ende t am bém sist em at izar algum as das pr opost as consensuais que t êm sur gido sobr e o m odo de apr esent ar not ícias na I nt er net . Mais do que acent uar clivagens, im por t a r eunir o m elhor que est e ( et er no) debat e t em pr opor cionado, valor izando sim ult aneam ent e os cont r ibut os de quem o t em cent rado na for m a e de quem se t em pr eocupado m ais com o cont eúdo.

A pir â m ide in v e r t ida

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Mar de Font cuber t a ( 1996: 58- 59) at r ibui o nascim ent o da pir âm ide inver t ida à Guer r a de Secessão nor t e- am er icana, quando os cor r espondent es dos j or nais se precipit avam par a os post os do t elégr afo pr ocur ando ser os pr im eir os a r elat ar os acont ecim ent os. “ Per ant e est a sit uação, os operador es de t elégr afo cr iar am um m ét odo par a dar pr ior idade em sim ult âneo a t odos os cor r espondent es. O m ét odo consist iu em fazer um a fila de infor m ador es em que cada um podia dit ar um par ágr afo – o m ais im por t ant e – da sua infor m ação. Ao acabar o t ur no iniciava- se o dit ado do segundo par ágr afo, e assim at é final. Nascer a a pir âm ide

inver t ida da not ícia, m ét odo ainda hoj e em vigor ” ( FONTCUBERTA,

1996: 59) . Par a ganhar t em po, os cor r espondent es iam dir ect os ao assunt o: “ não davam a sua opinião nem ent r avam em excessivos por m enor es; pr ocur avam infor m ar sobr e os acont ecim ent os m ais im por t ant es” ( ibidem ) .

Car l N. War r en, cit ado por José Álvar ez Mar cos ( 2003: 246) , defende, cont udo, que for am os edit or es dos j or nais que cr iar am a pir âm ide inver t ida em 16 de Abr il de 1861, dat a da queda do for t e Sum t er . As linhas t elegr áficas est avam const ant em ent e a ser cor t adas, pelo que os edit or es ordenar am aos seus cor r espondent es que r elat assem o essencial nas pr im eir as linhas.

Não há um único m anual de j or nalism o que não faça r efer ência a est a t écnica r edact or ial. Em 1982, José Jor ge Let r ia e José Goulão ( 1982: 74) classificar am - na m esm o com o “ um a das leis fundam ent ais do j or nalism o” de ent ão: “ na not ícia o m ais im por t ant e escr eve- se

logo no início” . “ Seguem - se as per ipécias do caso, com um a out r a

pr eocupação: os fact os or denam - se por or dem decr escent e de

im por t ância” ( ibidem ) . Luiz Am ar al ( 1969: 65) consider ava

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Num a análise aos m anuais de j or nalism o nor t e- am er icanos das décadas de 80 e 90 do século XX, Bonnie S. Br ennen ( 2000: 107) conclui que “ a pir âm ide inver t ida est á ainda viva e de boa saúde” .

Os m anuais de r edacção, ou livr os de est ilo, t êm sido pr ogr essivam ent e abandonados por m uit os ór gãos de com unicação social, m as, nos poucos que ainda vão exist indo, é fr equent e encont r ar r efer ências à pir âm ide inver t ida. Ela t em vigor ado m ais nos j or nais do que nas t elevisões ou r ádios, m as são sobr et udo as agências not iciosas que per sist em em ut ilizá- la. O “ Livr o de Est ilo e Pr ont uár io da Lusa” ( 1992: 16) não deixa m ar gem par a dúvidas: “ No not iciár io de agência, fr ase e par ágr afo são quase sinónim os. Nos acont ecim ent os ‘for t es’ é obr igat ór io o uso da t écnica da pir âm ide inver t ida: a not ícia deve cor r er do m aior ao m enor gr au de int er esse; a par t ir do fim da not ícia, é possível cor t ar os par ágr afos sem que o t ext o per ca o seu sent ido essencial” . A EFE segue o m esm o cam inho: “ o desenvolvim ent o escr it o de um a infor m ação deve r est r ingir - se à nor m a da pir âm ide inver t ida” ( ÁLVAREZ MARCOS: 2003, 248) . Além da pr eocupação de fazer o leit or “ ent r ar ” r apidam ent e no assunt o, a divisão por par ágr afos sucessivam ent e m enos im por t ant es visa per m it ir aos ut ilizador es do not iciár io das agências desapr oveit ar o fim da not ícia, caso não t enham espaço ou t em po par a a r epr oduzir na ínt egra.

Se a pir âm ide inv er t ida t em sido dom inant e nas har d new s dos

m edia t radicionais, nunca o t er á sido, cont udo, nas not ícias m ais

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Ar gu m e n t os pr ó

Nest a r ecolha de ar gum ent os pró e cont r a o uso da pir âm ide inver t ida na ciber not ícia, beneficiei de um a inesper ada e ext r aor dinár ia cont r ibuição. Em 29 de Novem br o de 2004, no pr im eir o dia do I I Congr esso I ber o- am er icano de Jor nalism o Digit al, em Sant iago de Com post ela, a pr ofessor a da Univ er sidade do País Basco, Mar ía José Cant alapiedr a defendeu acer r im am ent e a pir âm ide inver t ida com o t écnica a ut ilizar na const r ução da ciber not ícia, m as apenas nest a, e não nos r est ant es géner os j or nalíst icos online. Est a posição sur pr eendeu alguns dos par t icipant es, m ais habit uados a pr opost as hiper t ext uais, com o a t écnica dos blocos hiper ligados, t endo de im ediat o Cant alapiedr a sido “ bom bar deada” com cr ít icas. Em sua defesa, sur giu ent ão o m ais bem - dispost o congr essist a, o pioneir o do j or nalism o online no Br asil Rosent al Calm on Alves. Est e pr ofessor de Jor nalism o Online da Univer sidade do Texas, onde é t am bém r esponsável pelo Knight Cent er for Jour nalism in t he

Am er icas, pr opôs, ir onicam ent e, a cr iação do Par t ido Pr ó- Pir âm ide

I nver t ida ( PPPI ) .

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ia-pr im a” da not ícia) r ecom enda( m ) t ext os m ais explicat ivos, logo, de m aior dim ensão.

Rosent al Alves ar gum ent ou que j á desde 1996 Jackob Nielsen1 vem defendendo que a pir âm ide inver t ida cont inua a ser a m ais adequada t écnica de const r ução de not ícias na w eb, por que os ciber leit or es m udam r apidam ent e de página e quer em capt ar de im ediat o o essencial no lead, fazendo depois um “ var r im ent o” visual ( leit ur a na diagonal) do cor po da not ícia.

Regr essados a Por t ugal, escrevi sobr e o assunt o no m eu blogue2 e a m inha colega de m est r ado Daniela Ber t occhi fez o m esm o no dela3. I ndignado com a “ cr iação” do PPPI , Ram ón Salav er r ía, da Univer sidade de Navar r a, colocou nas caixas de com ent ár ios dos dois

post s um t ext o cont r a a pir âm ide inver t ida no ciber j or nalism o4, que

fez r elançar a polém ica iniciada em Sant iago de Com post ela.

Um m ês m ais t ar de, Car los Cast ilho, do Obser vat ór io da I m pr ensa ( Br asil) , fez eco da polém ica e ent r evist ou, por e- m ail, Rosent al Alves5. Nessa ent r evist a, o fundador do PPPI explica com m aior det alhe a sua posição, afirm ando que “ não est av a br incando quando defendia a eficácia da velha pir âm ide inver t ida com o for m a de r edigir not ícias na w eb” ( CASTI LHO, 2005) . “ I r dir ect o ao pont o, num a r edacção de est ilo conciso, só aj uda a com unicação num m eio ner voso e int er act ivo com o a w eb, especialm ent e ao se t r at ar de har d

new s, das not ícias de últ im a hor a, que são o for t e do j or nalism o

online na fase act ual” ( ibidem ) , afir m a Alves, acr escent ando que

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Rosent al Alves e Ram ón Salaver r ía acabar am por fazer as pazes, e “ ent er r ar ” os par t idos que cr iar am , no dia em que se conhecer am “ ao vivo” , em 2 de Junho de 2005 na Univer sidade do Minho, em Br aga, nas Jor nadas “ Dez Anos de Jor nalism o Digit al em Por t ugal” , m om ent o que t ive o pr azer de t est em unhar6. Par a r efor çar o seu pedido de desculpas e dem onst r ar que não havia r essent im ent os, Salaver r ía ofer eceu a Alves o seu últ im o livr o,

Redacción Per iodíst ica en I nt er net ( SALAVERRÍ A, 2005) .

Jakob Nielsen ( 1996) com eçou por defender a pir âm ide inver t ida na w eb baseando- se em est udos que apont avam que os leit or es ( ou fr equent ador es) da I nt er net não faziam navegação hor izont al ou ver t ical ( scr oll) , opt ando por m udar de página at r avés de hiper ligações. Com o o espaço visív el no m onit or é pequeno, ser ia aconselhável ut ilizar um a t écnica que fosse dir ect a ao assunt o, com o a pir âm ide inver t ida. Mais t ar de, em 2003, Nielsen r econheceu que est e ar gum ent o j á não er a válido, por que os ut ilizador es da I nt er net j á se t inham habit uado a fazer scr oll, m as m ant eve a sua posição, sublinhando que “ cont inua a ser um bom pr incípio orient ador que a infor m ação m ais im por t ant e apar eça em cim a” ( ibidem ) . Nielsen diz que ser ia expect ável que os r edact or es na w eb r epar t issem o seu t ext o em pequenas peças coer ent es, “ par ecendo o t r abalho global m ais com o um conj unt o de pir âm ides flut uando no ciber espaço do que com o t r adicional ‘ar t igo’” ( ibidem ) , m as r econhece a dificuldade em apr ender est e novo est ilo de escr it a.

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( 47% ) – e obj ect iva ( 27% ) . Em ligação dir ect a com est es r esult ados, os aut or es confir m am que os ciber leit or es “ gost am de sum ár ios e do est ilo pir âm ide inver t ida” ( ibidem ) .

O Manual de Redacción Ciber per iodíst ica ( NOCI e SALAVERRÍ A,

2003) é um exem plo per feit o da cont r ovér sia que ainda suscit a o t em a dest e ar t igo. O m esm o livr o r eúne adept os e oposit or es da pir âm ide inver t ida na ciber not ícia, o que at é não é de est r anhar , se at ender m os à var iedade de aut or es - 19 pr ofessor es univer sit ár ios de t oda a Espanha. Se os coor denador es da obr a são cont r a, j á José Álvar ez Mar cos ( 2003: 247) afir m a que os est ilos r edact or iais na w eb se aj ust am a “ pr ot ocolos clássicos de br evidade, concisão e est r ut ur a pir am idal” . E acr escent a: “ Out r o dos ar gum ent os que devolve à pir âm ide inver t ida a sua vigência na er a digit al é a necessidade de super ar o caos que im plica os m ilhar es de sít ios com infor m ação de act ualidade que exist em na I nt er net ” ( ibidem ) . Est e pr ofessor da Univer sidade de Sevilha dest aca t am bém o cr escent e núm ero de aut or es e pr ofissionais que aler t am par a os per igos do abuso do hiper t ext o e sublinha que “ escr ever par a a w eb é m uit o m ais do que pensar nas possibilidades do hiper t ext o, é conceber um a ar quit ect ur a m ult im édia em que as hist ór ias sat isfaçam t odas as necessidades infor m at ivas dos ut ilizador es” ( idem : 248) . “ E a pr im eir a delas é a act ualidade, a r apidez infor m at iva” , acr escent a, concluindo que “ a velocidade nos leva, de novo, à est r ut ur a pir am idal” . “ O est ilo r edact or ial das agências de not ícias, baseado na r apidez e m áxim a act ualidade, inspira m uit as not ícias na w eb, sobr et udo as de últ im a hor a” ( ibidem ) , salient a Álvar ez Mar cos, r ecor dando que a pir âm ide inver t ida cont inua a ser a t écnica r edact or ial da not ícia de agência.

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( at r avés da t ecnologia SMS) e par a os pequenos com put ador es de bolso ( PDA) . O escasso espaço disponível obr iga ao uso de t ext os m uit o cur t os e dir ect os.

Um dos colunist as m ais lidos e r espeit ados no ciber j or nalism o, St eve Out ing ( 2004) , suger iu r ecent em ent e aos aut or es de blogues que apr endam com os j or nalist as e escr evam os seus post s em pir âm ide inver t ida: “ Colocar a infor m ação m ais im por t ant e de um a hist ór ia no t opo faz m uit o sent ido online, onde a at enção é br eve e não podem os cont ar com leit or es a olhar par a lá da pr im eir a fr ase ou par ágr afo” .

Mike War d ( 2002: 111) é out r o par t idár io da est r ut ur a pir am idal, em bor a ent enda que se deva colocar a pir âm ide na sua posição nat ur al, por dessa for m a sim bolizar m elhor as duas int enções que lhe est ão subj acent es: o m ais im por t ant e e o m ais br eve pr im eir o. War d r efer e- se, designadam ent e, ao m anual do j or nalist a da edição online da BBC, The Online Jour nalist ( idem : 112) , ext r em am ent e r igor oso ao definir a obr igat or iedade de cont ar a hist ór ia de um a for m a clar a e dir ect a num m áxim o de quat r o par ágr afos: “ Na r ádio e na TV, às vezes é necessár io conduzir os ouvint es/ t elespect ador es suavem ent e par a a hist ór ia. Na w eb, é pr eciso ent r ar na hist ór ia im ediat am ent e” ( idem : 115) .

Os est udos feit os por Car ole Rich ( 1998) apont am par a a adopção de difer ent es t écnicas adapt adas aos vár ios cont eúdos ciber j or nalíst icos, m as a aut or a t am bém r econhece a im por t ância da pir âm ide inver t ida nas har d new s difundidas na w eb.

Ar gu m e n t os con t r a

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est udos indicam que o leit or r ecor da m elhor os por m enor es de um acont ecim ent o que lhe foi apr esent ado num a nar r at iva linear ( em or dem cr onológica) do que o que leu em pir âm ide inver t ida. Um a das explicações que t em sido dada é que ler um a “ hist ór ia” ( sej a ela not ícia ou r om ance lit er ár io) em ordem cr onológica é m ais apelat ivo e ent usiasm ant e do que ler um t ext o em que nos é dada de im ediat o a “ conclusão” e em que o int er esse vai decr escendo à m edida que avançam os na leit ur a.

Em t r ês r ecent es est udos par alelos sobr e os efeit os da est r ut ur a nar r at iva no suspense, cur iosidade e sat isfação na leit ur a de not ícias e r om ances ( KNOBLOCH et al., 2004: 259) , concluiu- se que a pirâm ide inver t ida é o t ipo de est r ut ur a que m enos pr oduz no leit or aquelas t r ês r eacções. O t ipo linear foi o que suscit ou m aior suspense; o t ipo inver so ( do fim da acção par a o início) foi o que pr ovou m aior cur iosidade; e est es dois t ipos ( linear e inver so) causar am m aior sat isfação aos leit or es do que o t ipo inver t ido ( pir âm ide inver t ida) , não se r egist ando difer enças significat ivas ent r e not ícias e r om ances. “ Cr iar not ícias par a r ecepção efect iva ou par a sat isfação afect iva pode ser um t ant o cont r adit ór io” ( KNOBLOCH et al., 2004: 282) , r efer em os aut or es, r econhecendo, cont udo, a necessidade de novas invest igações, que at endam a fact or es im por t ant es com o os ev ent uais efeit os dos aspect os nar r at ivos na com pr eensão das not ícias e o cr escim ent o das “ soft new s” , com a consequent e valor ização da dist r acção e do ent r et enim ent o, em desfavor da infor m ação.

No ciber j or nalism o, João Canavilhas assum iu em 2001 um a posição r adical cont r a o uso da pir âm ide inver t ida: “ No w ebj or nalism o

n ã o fa z qu a lqu e r se n t ido u t iliz a r u m a pir â m ide , m as sim um

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w ebj or nalism o a pir â m ide é su bst it u ída por um conj unt o de pequenos t ext os hiper ligados ent r e si” ( CANAVI LHAS, 2003) . Canavilhas aludia a um est udo do Media Effect s Resear ch Labor at or y, publicado em 1992, que indicava que “ os ut ilizador es pr efer em navegar livr em ent e num t ext o separ ado por blocos, a seguir obr igat or iam ent e a leit ur a de um t ext o com pact o seguindo as r egr as da pir âm ide inver t ida” ( ibidem ) .

Na polém ica que se ger ou após o congr esso de Sant iago de Com post ela7, Ram ón Salaver r ía foi ext rem am ent e cáust ico na cr ít ica aos defensor es da pir âm ide inver t ida, pr opondo m esm o a “ cr iação”

do Par t ido de la Redacción Ciber per iodíst ica ( PRC)8, que,

j ocosam ent e, disse ser t am bém conhecido nos “ cír culos clandest inos” com o Par t ido Cont r a los Per cept ist as Ant icuados de la Pir âm ide

I nver t ida. A r eacção do dir ect or do Labor at ór io de Com unicação

Mult im édia da Univer sidade de Navar r a nasceu, cont udo, de um equívoco: Nem Mar ía José Cant alapiedr a nem Rosent al Alves defender am a pir âm ide inver t ida com o “ for m at o r edact or ial único e supr em o par a os ciber m eios” . Am bos se fixar am na ciber not ícia e, no caso de Alves, especificam ent e nas har d new s, dado que há out r as t écnicas m ais aconselháveis par a out r os géner os j or nalíst icos.

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pir âm ide inver t ida é um for m at o adequado” par a o pr im eir o nível infor m at ivo hiper t ext ual, “ m ais super ficial” , com que os m eios digit ais se t êm “ confor m ado” at é agor a. Mas r ecom enda que esses m eios com ecem a apost ar t am bém em m at ér ias que exigem m aior pr ofundidade docum ent al e desenvolvim ent o nar r at ivo, “ onde a pir âm ide inver t ida deixa de ser válida com o for m at o discur sivo” .

Já em ocasiões ant er ior es, Salaver r ía ( 2004: 3) t inha apelado par a a necessidade de pr ocur ar “ novas for m as de expr essão par a o ciber espaço” . Um a das t ent at ivas m ais consist ent es foi por si feit a em par cer ia com o pr ofessor da Univer sidade do País Basco Javier Díaz Noci no Manual de Redacción Ciber per iodíst ica ( NOCI e SALAVERRÍ A, 2003: 120- 133) . Os coor denador es da obr a escr ever am em conj unt o um capít ulo em que pr opõem par a os ciber m eios vár ias est r ut ur as hiper t ext uais, desde a t r adicional est r ut ur a linear da pir âm ide inver t ida at é est r ut ur as em r ede de ent r adas m últ iplas, dando o m áxim o de liber dade ao ciber leit or par a per cor r er os elem ent os da peça not iciosa pela or dem que quiser . A flexibilidade dest as pr opost as per m it e ao r edact or / edit or do ciber m eio escolher a est r ut ur a hiper t ext ual que m ais se adequa à m at ér ia que pr et ende not iciar .

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Salaver r ía, fr isando que o hiper t ext o per m it e liber t ar os ciber leit or es da leit ura obr igat ór ia de passagens docum ent ais par a m uit os desnecessár ias e indesej adas, com o clar ificação de siglas, r efer ência a dados biogr áficos ou peças de “ backgr ound” . No m esm o ar t igo, Salaver r ía sublinhava que, além da r edundância, a not ícia hiper t ext ual pode liber t ar - se da “ pr evisibilidade” da pir âm ide inver t ida.

Mar io Gar cía ( TORRES, 2004: 112) t am bém acr edit a que a pir âm ide inver t ida vir á a ser subst it uída na I nt er net por out r a t écnica r edact or ial, a que cham a “ t aça de cam panhe” : “ ( …) a hist ór ia flúi gr aciosam ent e, aper t ando- se par a um pont o de int er esse ou de excit ação” . Gar cía explica que, nest e for m at o, a hist ór ia é cont ada em pequenos pedaços ( chunks) , com a excit ação r enovada m ais ou m enos em cada 21 linhas, o que aj uda o leit or a m ant er o int er esse ao longo de t oda a hist ór ia, à sem elhança do que acont ece com um bom r om ance.

Tam bém Mar k Deuze ( 1999: 381) defende um a r edacção em

chunks, recor dando que “ a escr it a t radicional é linear por nat ur eza,

m as a escr it a online pode ser não linear ” : “ I st o significa que cada hist ór ia pode ser cor t ada em peças m ais pequenas e espalhada at r avés de páginas w eb” , que podem ser acedidas separ adam ent e e por qualquer or dem .

Mar ía Bella Palom o Tor r es ( 2004: 114) afir m a que “ a redacção na I nt er net é um est ilo híbr ido ent r e a escr it a convencional e a expr essão or al” , pelo que há aut or es que r ecom endam um a linguagem m ais coloquial e t ext os aber t os à int er act ividade, à esper a da cont r ibuição do ciber leit or .

Car ole Rich ( 1998) conclui nos seus est udos que é pr efer ível apr esent ar “ difer ent es for m as par a difer ent es funções: “ pir âm ide inver t ida par a algum as har d new s, nar r at iva em sér ie par a out r as,

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quebr as lógicas, e scr olling st or ies [ hist ór ias de navegação ver t ical e hor izont al] par a aquelas que, par a m elhor com pr eensão, pr ecisam de um a apr esent ação m ais linear ” . Refer indo- se aos est udos de Rich, Ricar do Nunes afir m a que, “ se nos posicionar m os no pat am ar de quem escr eve e apr esent a a infor m ação per iodicam ent e nos m eios de com unicação social, não só a est r ut ur a hiper t ext ual se apr esent a com o um a condição sine qua non para descr ever a r ealidade at r avés dos m edia elect r ónicos, com o est a nova ar r um ação per m it e um a eficácia por vent ur a m aior do que a ut ilização exclusiva da clássica est r ut ur ação em for m a de pir âm ide inver t ida nos m edia t r adicionais” ( NUNES, 2005: 2) .

Con clu sã o

Os ar gum ent os pr ó e cont r a aqui apr esent ados poder iam pr enunciar um a “ guer r a sem t r éguas” ent r e “ par t idos” opost os, m as par ece- m e poder concluir que as posições, na gener alidade, não est ão t ão dist ant es um as das out r as quant o isso.

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Se r epar ar m os com at enção, pr at icam ent e t odos os aut or es concor dam que est as har d new s devem ser const r uídas num a est r ut ur a pir am idal, baseada num t ít ulo e num lead/ ent r ada/ aber t ur a for t es, conclusivos, que vão dir ect os ao assunt o, ao que é not ícia.

Par ece haver difer enças de opinião na for m a com o se deve passar do lead par a o r est o da infor m ação ( ou cont eúdo) que quer em os t r ansm it ir , m as, em gr ande par t e, t am bém aqui é m ais apar ent e do que r eal. Os blocos hiper ligados de que Canavilhas fala não são, na sua essência, difer ent es dos chunks r efer idos por Rich e Deuze ( difer ent e só m esm o a “ t aça de cham panhe” de Gar cía) , e que est ão subent endidos nas est r ut ur as pr opost as por Noci e Salaver r ía.

Mesm o Nielsen, Alves e Álvar ez Mar cos r econhecem as enor m es pot encialidades de hiper t ext o, int er act ividade, conver gência e disponibilização de ar quivos que a I nt er net ofer ece, defendendo apenas que o avanço par a difer ent es t écnicas, e at é m esm o linguagens, deve ser r est r ingido aos out r os inúm er os géner os j or nalíst icos - par a lá das har d new s - que a w eb pr opicia.

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Ver pont o seguint e. 5

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ver fot o em ht t p: / / w w w .flickr .com / phot os/ 32097621@N00/ 17977954/ 7

ver capít ulo ant er ior 8

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