PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Edneia Regina Burger
Formação em serviço do pessoal não docente proposta no Projeto
Político Pedagógico de creches municipais
MESTRADO EM EDUCAÇÃO: CURRÍCULO
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Edneia Regina Burger
Formação em serviço do pessoal não docente proposta no Projeto
Político Pedagógico de creches municipais
MESTRADO EM EDUCAÇÃO: CURRÍCULO
Dissertação de Mestrado apresentada à banca examinadora do Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação, sob a orientação da professora Dra. Marina Graziela Feldmann.
Banca Examinadora
_____________________________________
_____________________________________
Aos meus filhos, Leonardo e Maurício e minha sobrinha Mariana, por acreditarem em mim e nos meus projetos; por acompanharem e entenderem a importância da realização desse sonho; por compreenderem minhas ausências. Agradeço pelas opiniões que deram durante o período da elaboração deste trabalho e de todos os outros. Amo vocês!
Aos meus pais, por incentivarem e acompanharem — bem de perto — todos os momentos dessa realização.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, a Deus, que tem me conduzido em todos aos meus caminhos.
À Professora Dra. Marina Graziela Feldmann, pelo apoio, confiança e orientação na realização desta pesquisa.
Aos professores Drs. do Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo: Mere Abramovicz, Marcos Masetto e Alipio Casali pelas excelentes reflexões realizadas em cada uma das aulas, as quais proporcionaram significativas contribuições para o desenvolvimento deste trabalho.
A todos os meus amigos do Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo, da PUC-SP, que compartilharam, nesses dois anos de estudos suas pesquisas contribuindo para que este trabalho fosse finalizado; especialmente à Ana Lucia Nunes Pereira, Jozimeire Silva, Regiane Brandin e Maria dos Reis, pelo incentivo contínuo nesta jornada.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e aos professores membros da Comissão de Bolsa da PUC-SP, pelo auxílio concedido.
As minhas amigas de trabalho: Priscila de Giovani, Gilne Gardesani Fernandez, Claudia Zuppini Dalcorso e Silvana Tamassia, que, com carinho, paciência, incentivo e muitas sugestões, acompanharam toda essa trajetória de estudos.
As minhas eternas amigas Iolanda Demola, Thais Domingos e Edilene Aveledo por suas inestimáveis contribuições e incentivo.
Às Professoras Dras. Sandra Lazzarin Castanheira e Regina Lucia Giffoni Luz de Brito por aceitarem o convite para fazer parte da minha banca de qualificação e defesa e contribuírem imensamente com suas sugestões.
RESUMO
BURGER, Edneia Regina. Formação em serviço do pessoal não docente proposta no Projeto Político Pedagógico de creches municipais. Dissertação (Mestrado). São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2014.
Este trabalho tem como objetivo principal identificar se o Projeto Político Pedagógico de creches apresenta propostas de ações formativas que tenham como finalidade a atuação consciente do pessoal não docente, analisando a intencionalidade dessas propostas quando anunciadas, bem como o papel do gestor escolar diante daquilo que está posto. Para isso, utilizou-se de levantamento bibliográfico, buscando nos teóricos a necessária articulação entre teoria e prática e análise documental por meio da qual se realizou a análise de projetos políticos pedagógicos de seis creches como principal referência e documento de apreciação. Os estudos e análises realizadas na pesquisa indicaram quais as formações em serviço previstas nos projetos políticos pedagógicos e possibilidades do pessoal não docente atuar de forma intencional na ação educativa dos alunos das creches, complementando e afirmando a importância da ação do pessoal não docente para a consecução dos objetivos previstos no Projeto Político Pedagógico. Todavia, a necessidade e importância do gestor escolar em realizar formações com esses profissionais para que conheçam as especificidades do trabalho na creche, as características da faixa etária atendida, a importância do trabalho de cada um para a consecução do objetivo maior da creche, a aprendizagem dos alunos, no que se refere à indissociabilidade entre o cuidar e o educar se fizeram presentes, assim como a necessidade e importância de que essas formações em serviço estejam previstas no momento da elaboração do Projeto Político Pedagógico.
ABSTRACT
Burger, Ednéia Regina. On-the-job training for non-teaching staff, as proposed in the Pedagogic-Political Project for public children-daycare. Dissertation (M.Sc). São Paulo: The Catholic University of São Paulo,São Paulo, 2014.
This work aims to identify whether the Pedagogic-Political Project for public children-daycare services presents proposals for training activities that are intended to produce conscious action of non-teaching staff in education, analyzing the intentionality of these proposals when published, and the role of the school manager in front of what is laid in them. For this, a literature review was performed, searching in theory the necessary articulation between theory and practice, and document analysis, by means of which an assessment of six public children-daycare units' pedagogic-political projects was done as main reference. The studies and analysis in this research indicated what is the on-the-job training foreseen and the possibility for non-teaching staff to act intentionally in the education of children inpublic daycare, complementing and reassuring the importance of non-teaching staff action to achieve the educational objectives set out in the Pedagogic-Political Project. However, the need and importance of school management to conduct formation of these professionals are present in order for non-teaching staff to know the specifics of work in daycare, the characteristics of the age group assisted and the importance of each person's work the achieve the main objective of public daycare, namely the childrens' learning, in regard of the inseparability between children-daycare and education and the need and importance that on-the-job training is foressen in the Pedagogic-Political Project.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1
–
Creche 1: nº de alunos atendidos x espaço de
atendimento x nº de funcionários integrantes do quadro de pessoal
não docente...
21
Quadro 2
–
Creche 2: nº de alunos atendidos x espaço de
atendimento x nº de funcionários integrantes do quadro de pessoal
não docente...
22
Quadro 3
–
Creche 3: nº de alunos atendidos x espaço de
atendimento x nº de funcionários integrantes do quadro de pessoal
não docente...
23
Quadro 4
–
Creche 4: nº de alunos atendidos x espaço de
atendimento x nº de funcionários integrantes do quadro de pessoal
não docente...
25
Quadro 5
–
Creche 5: nº de alunos atendidos x espaço de
atendimento x nº de funcionários integrantes do quadro de pessoal
não docente...
26
Quadro 6
–
Creche 6: nº de alunos atendidos x espaço de
atendimento x nº de funcionários integrantes do quadro de pessoal
não docente...
27
Quadro 7
–
Espaços: finalidades e princípios de utilização e
organização...
29
Quadro 8
–
Metas e Ações da Equipe de Apoio Administrativo da
unidade escolar da Creche 1...
67
Quadro 9
–
Metas e Ações da Equipe de Limpeza da Creche 1...
67
Quadro 10
–
Metas e Ações da Equipe de Cozinha da Creche 1...
68
Quadro 11
–
Plano de Trabalho da Equipe Gestora da Creche 1...
68
Quadro 12
–
Metas e Ações dos Demais Funcionários da
Comunidade Escolar da Creche 2...
69
Quadro 13
–
Plano de Trabalho da Equipe Gestora da Creche 2...
70
Quadro 14
–
Metas e Ações dos Demais Funcionários da
Comunidade Escolar da Creche 3...
71
Quadro 15
–
Plano de Trabalho da Equipe Gestora da Creche 3...
72
Quadro 18
–
Metas e Ações da Equipe de Cozinha da Creche 4...
75
Quadro 19
–
Plano de Trabalho da Equipe Gestora da Creche 4...
76
Quadro 20
–
Metas e Ações da Equipe de Apoio Administrativo da
unidade escolar...
77
Quadro 21
–
Metas e Ações da Equipe de Limpeza da Creche 5...
77
Quadro 22
–
Metas e Ações da Equipe de Cozinha da Creche 5...
78
Quadro 23
–
Plano de Trabalho da Equipe Gestora da Creche 5...
78
Quadro 24
–
Metas e Ações da Equipe de Apoio Administrativo da
unidade escolar da Creche 6...
79
Quadro 25
–
Metas e Ações da Equipe de Limpeza da Creche 6...
81
Quadro 26
–
Metas e Ações da Equipe de Cozinha da Creche 6...
83
Quadro 27
–
Plano de Trabalho da Equipe Gestora da Creche 6...
84
Quadro 28
–
Metas e ações de formação da equipe de apoio
administrativo da Creche 1...
87
Quadro 29
–
Metas e ações de formação dos funcionários da
limpeza da Creche 1...
88
Quadro 30
–
Metas e ações de formação dos demais funcionários da
comunidade escolar da Creche 2...
90
Quadro 31
–
Metas e ações de formação dos demais funcionários da
comunidade escolar da Creche 3...
92
Quadro 32
–
Metas e ações de formação dos funcionários da
limpeza da Creche 4...
95
Quadro 33
–
Metas e ações de formação da equipe de cozinha da
Creche 4...
96
Quadro 34
–
Metas e ações de formação da equipe de apoio
administrativo da Creche 5...
99
Quadro 35
–
Metas e ações de formação da equipe de apoio
administrativo da Creche 6...
101
Quadro 36
–
Metas e ações de formação da equipe de limpeza da
Creche 6...
102
Quadro 37
–
Metas e ações de formação da equipe de cozinha da
Creche 6...
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AADI – Auxiliar de Apoio ao Desenvolvimento Infantil ADI – Auxiliar de Desenvolvimento Infantil
CEB – Câmara de Educação Básica CNE – Conselho Nacional de Educação
CRAISA – Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André LDB – Lei de Diretrizes e Bases
MEC – Ministério da Educação e Cultura PPP – Projeto Político Pedagógico PSA – Prefeitura de Santo André
PUC-SP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Sesc – Serviço Social do Comércio
RCNEI – Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil Udesc – Universidade de Santa Catarina
UFMG – Universidade de Minas Gerais
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro Unicamp – Universidade de Campinas
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ... 10
CAPÍTULO 1 ... 16
OS CAMINHOS DA PESQUISA: ESCOLHAS METODOLÓGICAS... 16
1.1 Opções metodológicas... 17
1.2 Apresentação das creches ... 20
1.2.1 Creche 1 ... 20
1.2.2 Creche 2 ... 22
1.2.3 Creche 3 ... 23
1.2.4 Creche 4 ... 24
1.2.5 Creche 5 ... 25
1.2.6 Creche 6 ... 27
1.3 Finalidades e princípios para utilização e organização dos espaços pedagógicos das creches ... 28
CAPÍTULO 2 ... 35
CRECHE, PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO E FORMAÇÃO EM SERVIÇO: PARTICIPAÇÃO DO PESSOAL NÃO DOCENTE ... 35
2.1 A Creche: histórico e especificidades ... 35
2.1.1 Indissociabilidade entre o cuidar e o educar... 38
2.2 Projeto Político Pedagógico: elemento articulador dos meios e dos fins da ação educativa ... 42
2.2.1 PPP: clima e cultura na creche ... 45
2.3 Pessoal não docente: atuação na ação educativa ... 48
2.4 O papel do Gestor Escolar ... 56
2.5 Formação em serviço do pessoal não docente ... 58
CAPÍTULO 3 ... 63
3.1 Apresentação dos quadros de metas e ações: fazeres previstos nos PPPs para o pessoal
não docente ... 64
3.2 Formação em serviço do pessoal não docente nos PPPs analisados ... 87
3.2.1 Creche 1: metas e ações de formação ... 87
3.2.2 Creche 2: metas e ações de formação ... 89
3.2.3 Creche 3: metas e ações de formação ... 92
3.2.4 Creche 4: metas e ações de formação ... 95
3.2.5 Creche 5: metas e ações de formação ... 98
3.2.6 Creche 6: metas e ações de formação ... 100
3.2.7. Sistematização das Análises dos PPPs ... 104
CONSIDERAÇÕES ... 107
REFERÊNCIAS ... 111
INTRODUÇÃO
―[...] na questão da formação do ser humano,
todos nós, professores e funcionários, colaboramos para o processo ensino e aprendizagem [...] nós educamos para o trabalho e para a vida [...].‖
(MARISTELA MELO NEVES)
Meu interesse pelo tema — Formação em serviço do pessoal não docente proposta no Projeto Político Pedagógico (PPP) de creches municipais — surgiu quando exerci as funções de diretora em uma determinada instituição de ensino da Rede Municipal de Ensino de Santo André e, posteriormente, coordenadora de serviços educacionais (equivalente à supervisão escolar), na referida rede, supervisionando sete diferentes unidades escolares concomitantemente, compreendendo educação infantil, ensino fundamental regular, supletivo e creches. Estas últimas loci deste estudo.
Importante destacar que por formação em serviço apreende-se àquela formação que é oferecida ao pessoal não docente, em seu horário de trabalho, tendo como ponto de partida a atuação de cada um em suas atribuições e as reflexões sobre o impacto de seu trabalho na ação educativa, ou seja, uma formação que permita a esses profissionais identificar de forma mais clara os impactos de sua ação na aprendizagem dos alunos (NUNES, 2000); ação educativa quer dizer toda ação empreendida por todos os profissionais que atuam na creche e que poderá resultar em aprendizagem para os alunos do ponto de vista do desenvolvimento físico, moral e intelectual das crianças de zero a três anos e onze meses e sobre a interação adulto-criança e criança-criança (HOFFMANN e SILVA, 1995) possibilitando às crianças a ampliação de saberes, experiências e conhecimentos; por pessoal não docente compreende-se os funcionários administrativos, os da limpeza e os da cozinha1, sujeitos sobre os quais explanar-se-á neste estudo. Esses são profissionais que, embora atuem em estabelecimentos de ensino, exercem funções não docentes; por PPP, entende-se documento que, elaborado pela comunidade escolar, estabelece diretrizes, objetivos, propostas de ações e rotinas a serem implementadas pela unidade de ensino objetivando a qualificação da ação
1
educativa no sentido de organização, sistematização e significação das atividades desenvolvidas pela escola como um todo (PADILHA, 2003).
Retomando à minha trajetória, todas as creches pelas quais passei contavam com o trabalho de profissionais de diferentes segmentos, a saber: professor, equipe gestora, de apoio administrativo, de limpeza, de cozinha, de apoio pedagógico e técnico pedagógico. Em todas essas unidades escolares, chamava-me a atenção a forma como as relações de trabalho eram estabelecidas entre os diferentes segmentos e entre os pares dos próprios segmentos dentro dos referidos espaços. Nessas relações merece destaque o sentimento desenvolvido pelo pessoal não docente que, muitas vezes, ou demonstrava-se inferiorizado ou superior nas situações, dependendo do tipo de ação e relação de dependência entre os segmentos no que tangia ao desenvolvimento do trabalho a ser realizado.
Em meu olhar, parecia não existir a cultura de que o trabalho de um é dependente e complementar ao trabalho do outro e que o envolvimento de todos os profissionais dos diferentes segmentos é essencial para a eficácia da ação educativa. A exemplo da possível inexistência de uma cultura de dependência entre o trabalho de todos, os funcionários da cozinha, da limpeza ou da secretaria eram reunidos somente quando identificados problemas na execução e cumprimento das atribuições ou conflitos nas relações interpessoais. Esses profissionais eram chamados pelos gestores escolares apenas quando havia problemas pontuais que exigiam resolução imediata —
Os fatores e situações supramencionados suscitam a inexistência de uma consciência de grupo, de um grupo de sujeitos humanos que trabalha junto, de maneira cooperativa e solidária, por meio da comunicação e do diálogo e sempre em prol da aprendizagem discente. Aventa-se desses fatores e situações, que a formação em serviço do pessoal não docente não fazia parte das atividades expressas e planejadas no PPP das creches e nem das preocupações dos gestores escolares.
Esse cenário, no qual esta pesquisadora atuou durante doze anos, sendo sete como diretora e cinco como coordenadora de serviços educacionais, oportunizou uma gama de experiências que envolvem a atuação do gestor na formação em serviço dos profissionais que atuam na creche, as relações estabelecidas entre os pares, as rotinas tanto dos profissionais quanto das crianças, entre outras. Dessas experiências, que possibilitaram uma apreensão individual, marcada pela singularidade da vida profissional e acadêmica, emergiram reflexões sobre a consciência ou não do pessoal não docente sobre o objetivo da creche e de qual o seu papel profissional diante da aprendizagem dos alunos; insurgiram também inquietações quanto à compreensão, por esses profissionais, da função e atribuições como possibilidades de contribuir com a ação educativa. Essas reflexões despertaram o interesse pela realização deste estudo, intitulado Formação em serviço do pessoal não docente proposta no Projeto Político Pedagógico de creches municipais.
Para uma melhor compreensão das creches, loci deste estudo, especifica-se que
elas compõem a primeira etapa da educação básica, portanto instituições do sistema escolar (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB. 9.394/96), contudo, com as especificidades de um estabelecimento educacional que educa e cuida de crianças de zero a três anos e onze meses. Especificidades que exigem considerar a criança — sujeito histórico e de direitos — como o centro do planejamento curricular, que constrói sua identidade pessoal e coletiva nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia (MEC.CNE.CEB. Resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009 que fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil). Exigências estas, pode-se dizer, que implicam o desenvolvimento de uma proposta pedagógica calcada nos cuidados, na educação, alimentação, higiene, convivência social, nas relações entre adultos e crianças pequenas (inclusive daquelas que ainda não falam e não andam).
necessidade de reorganização do trabalho da creche como também a atualização do perfil dos profissionais que nela atuam sejam estes pertencentes ao corpo docente ou ao pessoal não docente. Essa compreensão exige imediata qualificação e/ou requalificação de todo e qualquer profissional que adentra os portões do referido estabelecimento educacional. Entre esses profissionais, têm destaque, neste estudo, aqueles que exercem as funções não docentes, e que, por isso mesmo, devem ter consciência da dimensão do seu trabalho, bem como uma formação e preparo necessários para a consciência de que toda ação, no âmbito escolar, carrega em seu bojo uma intencionalidade, no caso em tela, a aprendizagem discente.
Tendo em vista a necessidade dessa consciência, a proposta desta pesquisa é estudar sobre o espaço e o lugar que a formação em serviço do pessoal não docente ocupa no PPP das creches, bem como a concepção apresentada nesse documento sobre essa formação e atuação desse profissional na ação educativa. Para tal estudo, considera-se que a formação em serviço do pessoal não docente, com vistas à sua imbricação consciente, como sujeito ativo, com a ação educativa, seja responsabilidade do gestor escolar2 uma vez que é de competência deste zelar pela boa atuação de todos aqueles que fazem parte da comunidade escolar a fim de que os objetivos previstos no PPP sejam alcançados (LÜCK, 2009).
Para dar início à pesquisa, foram realizadas a busca e a coleta de informações e o levantamento bibliográfico sobre a temática pesquisada. Além de consultas a fontes e referências, livrarias, bibliotecas e sites educacionais, pesquisaram-se teses e
dissertações sobre o tema em bancos de dados dos programas de pós-graduação em Educação de algumas universidades. Foram pesquisados os bancos de dados das seguintes instituições universitárias: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo –
PUC-SP; Universidade de Campinas – Unicamp; Universidade de São Paulo – USP;
2 Sabe-se que as ações das escolas são, em geral, pensadas e desenvolvidas sob liderança do gestor escolar juntamente com a equipe gestora. No caso das creches que compõem este estudo, tal equipe é formada pelo gestor e pelo assistente pedagógico. Contudo, o foco nesta dissertação recai sobre o gestor escolar, profissional este, denominado, nos PPPs analisados, ―diretor de unidade escolar‖.
Neste estudo, optou-se pela utilização do termo ―gestor escolar‖ pelo fato da diferença entre diretor,
administrador ou gestor escolar não se apresentar apenas na nomenclatura, mas também no conceito que dá sentido à função. O atual gestor já foi e ainda o é chamado de diretor ou administrador escolar no sentido de preocupar-se ―demais com tarefas burocráticas como médias, livro de ponto e múltiplos ofícios
[...] geralmente, negligenciava o trabalho pedagógico e o acompanhamento dos recursos humanos,
Universidade Cidade de São Paulo – Unicid; Universidade Federal de Minas Gerais –
UFMG; Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ; Fundação Oswaldo Cruz; Universidade de Santa Catarina – Udesc. Nessa busca, não foram muitos os estudos encontrados diretamente relacionados ao pessoal não docente. Entre os achados, menciona-se uma dissertação de mestrado intitulada: O sentido do trabalho para merendeiras e serventes em situação de readaptação nas escolas públicas do Rio de
Janeiro, de Bernadete de Oliveira Nunes (2000); e três artigos, a saber: Programa de alimentação escolar no município de João Pessoa – PB, Brasil: as merendeiras em
foco, de Alice Teles de Carvalho; Vanessa Messias Muniz; Josiane Fernandes Gomes;
Isabella Samico (2008); O treinamento de merendeiras: análise do material instrucional do Instituto de Nutrição Annes Dias — Rio de Janeiro (1956-94), de Ester
de Queirós Costa; Eronides da Silva Lima; Vitória Maria Brant Ribeiro (2002); e
Função do secretário escolar na contemporaneidade: entre memórias e arquivos
escolares, de Cristiane de Castro Ramos Abud (2012).
No tratamento das informações e produção dos dados teóricos, utiliza-se de levantamento bibliográfico e da análise documental, tendo o PPP como principal referência e documento de apreciação, haja vista ser este um marco referencial das ações a serem implementadas e desenvolvidas na creche, inclusive no que diz respeito às formações de todos os profissionais em atuação em uma unidade escolar. Para analisar e avaliar os princípios e propostas contidas nos PPPs, faz-se uso dos argumentos desencadeados, principalmente, pelos seguintes autores: Regina Lucia Giffoni Luz Brito (1998, 2008, 2009), Marina Graziela Feldmann (2009), Claudia Zuppini Dalcorso (2010), Luc Brunet (1992), Heloisa Lück (2007, 2009), Ilma Passos Alencar Veiga (1998), Jussara Hoffmann e Maria Beatriz Gomes da Silva (1995), Maria Carmen Silveira Barbosa (2006), José Valdivino Moraes (2009), Maria Izabel Azevedo Noronha (2009), dentre outros que versam sobre a temática.
O trabalho está estruturado em três capítulos, conforme segue:
No capítulo 1, intitulado Os caminhos da pesquisa: escolhas metodológicas
apresenta-se o objeto, os objetivos, o caminho a ser percorrido e as escolhas realizadas. Também se realiza a apresentação e caracterização das creches cujos PPPs são analisados neste estudo.
No capítulo 2, denominado Creche, Projeto Político Pedagógico e Formação em Serviço: participação do pessoal não docente, aborda-se o papel de diferentes
profissionais do quadro do pessoal não docente bem como a importância da formação destes para atuação intencional e consciente em prol da ação educativa. Traz-se ainda reflexões sobre a elaboração do Projeto Político Pedagógico, a cultura e o clima escolar e o papel e responsabilidades do gestor escolar na gestão, incluindo a formação em serviço, das pessoas que, embora pertençam ao quadro não docente, assim como o próprio gestor escolar, fazem parte da comunidade escolar.
No capítulo 3, que traz como título Espaço e lugar destinado à formação do pessoal não docente no Projeto Político Pedagógico, apresenta-se o conteúdo expresso
CAPÍTULO 1
OS CAMINHOS DA PESQUISA: ESCOLHAS METODOLÓGICAS
Pesquisar implica, em primeiro lugar, ter uma curiosidade especial sobre algum fenômeno real. É uma atividade científica pela qual desvendamos a realidade e que não se satisfaz com as respostas que já foram dadas sobre o fenômeno (DEMO, 1995). É especial porque permite uma aproximação, um vínculo que exige trabalho e proporciona prazer e que envolve um objeto a ser desvelado, localizado em determinado espaço e tempo, produzindo um novo conhecimento. Investigar um objeto com vistas a alcançar um objetivo determinado e a uma melhor compreensão desse objeto, por sua vez, exige um caminho a ser seguido, escolhas metodológicas, rigor científico. Como definem
Marconi e Lakatos, debruçar sobre um objeto impetra ―um procedimento formal, com método de pensamento reflexivo, que requer tratamento científico e se constitui num
caminho para se conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais‖ (2007, p. 15).
No estudo em tela, o objeto que se pretende investigar está relacionado à formação em serviço do pessoal não docente, ou seja, a formação em serviço daqueles que embora exerçam suas funções na creche, não exercem atividades docentes. São aqueles que muitas vezes passam despercebidos quando estão presentes e, ao mesmo tempo, percebe-se e sente-se sua ausência quando não aparecem, pois as salas de aulas ficam sujas, a merenda não é servida, emolumentos não podem ser solicitados etc. Embora, muitas vezes, passem despercebidos ou até ―invisíveis‖, sem esses profissionais, a creche funciona precariamente ou até mesmo não funciona!
1.1 Opções metodológicas
O levantamento bibliográfico e a análise documental constituem-se nas escolhas metodológicas deste estudo de cunho qualitativo. No que diz respeito ao levantamento bibliográfico, fez-se uso de pesquisas consideradas relevantes e de teóricos que efetivamente pudessem contribuir no desvelamento das questões soerguidas em torno da formação em serviço do pessoal não docente e respectiva atuação dele nas creches. Nos termos de Laville e Dionne (1999), esse tipo de pesquisa não se traduz em mera cópia ou repetição do que foi anteriormente dito ou escrito, mas, sim, proporciona a análise de um tema sob nova perspectiva, sob novo olhar ou nova abordagem.
No que tange a análise documental, lançou-se mão do PPP de seis creches municipais de Santo André, pois se entende, conforme Triviños (2010), que o PPP enquadra-se no conjunto de ―Elementos Produzidos pelo Meio‖, ou seja, no conjunto de
documentos (internos, relacionados com a vida peculiar das organizações e destinados, geralmente, para o consumo de seus membros, que têm por objetivo, principalmente, atingir os membros de uma comunidade em geral); instrumentos legais: leis, decretos, pareceres, regulamentos, regimentos; instrumentos oficiais, que seriam de duas classes: aqueles que se referem a diretrizes, propostas, códigos de ética, políticas de ação etc.; e estatísticos (2010, p. 139).
De acordo com Severino, ―tem-se como documentos no sentido amplo [...] não só documentos impressos, mas sobretudo [sic] outros tipos de documentos, tais como
jornais, fotos, filmes, gravações, documentos legais‖ (2009, p. 122). Ainda, segundo o
autor, esse tipo de pesquisa utiliza-se de conteúdos que ainda não passaram por tratamento analítico e serve de base ao pesquisador para desenvolver sua investigação e análise. Tais documentos, como é o caso dos PPPs, além de se constituírem em material objetivo ao qual se pode retornar tantas e quantas vezes forem necessárias, auxiliam e amparam o pesquisador no desenvolvimento de seu trabalho na medida em que permitem um confronto e debate entre ideias, ideais, ideologias e hipóteses às vezes análogas, por vezes díspares, desencadeando na formulação de outras possibilidades no que diz respeito ao objeto de estudo.
por permitirem o aprofundamento e a percepção de novos conhecimentos sobre as intencionalidades expressas nos PPPs no que diz respeito à formação em serviço do pessoal não docente como possibilidade de contribuição na ação educativa. A confluência e complementaridade entre o levantamento bibliográfico e a análise documental, com destaque a esta última, pode possibilitar mais do que descrever o fenômeno, pode permitir uma compreensão mais ampla da realidade e, a partir dessa compreensão, não apenas referendar o já existente como também e, principalmente, admite, em tese, trazer algo novo.
A interação entre essas duas técnicas de pesquisa, conforme pontuam Ghedin e
Franco, possibilita as ―necessárias articulações entre ciência e existência‖ e a organização científica de ―todo o movimento reflexivo, do sujeito ao empírico e deste
ao concreto, até a organização de novos conhecimentos‖, propiciando uma ―nova leitura/compreensão/interpretação do empírico inicial‖ (2008, p. 115). Portanto, não se trata, meramente, ―da adoção de técnicas de reflexão‖ e de levantamento de dados, ―mas
de um trabalho de pesquisa e de investigação das formas de organização e de
interpretação‖ (GHEDIN E FRANCO, 2008, p. 134), das concepções de pessoal não
docente, do trabalho a ser realizado por esse profissional e das intencionalidades postas nos PPPs no que diz respeito à formação em serviço desse pessoal como possibilidade de contribuição na ação educativa. Para isso, nesta pesquisa, a atenção será dispensada tanto para o conteúdo manifesto nos PPPs quanto no desvelamento do conteúdo latente que esses documentos expressam, haja vista não serem constructos isentos ou ingênuos, mas, sim, carregarem em seu bojo leituras e maneiras de interpretação do vivido por determinado grupo de pessoas, em um dado local, tempo e espaço-tempo.
A elaboração deste estudo insere-se na abordagem qualitativa de pesquisa em educação, por esse tipo de pesquisa se ―desenvolver em interação dinâmica
retroalimentando-se, reformulando-se constantemente, de maneira que, por exemplo, a coleta de dados num instante deixa de ser tal e é análise de dados, e esta, em seguida, é
veiculo para nova busca de informações‖ (TRIVIÑOS, 2010, p. 137). O ciclo da
interpretadas, podem insurgir novas possibilidades importantes para uma exploração mais aprofundada sobre as temáticas aqui abordadas e esclarecimento do problema que originou este estudo, permitindo uma
compreensão do cotidiano como possibilidade de vivências únicas, impregnadas de sentido, realçando a esfera do intersubjetivo, da interação, da comunicação e proclamando-o como o espaço onde as mudanças podem ser pressentidas e anunciadas (GHEDIN E FRANCO, 2008, p. 61).
Utiliza-se ainda da perspectiva qualitativa, por entender que nesse processo o papel do pesquisador é ―o de melhor compreender o comportamento e experiência humanos [...] compreender o processo mediante o qual as pessoas constroem significados e descrever em que consistem estes mesmos significados‖ (BOGDAM e BIKLEN, 1994, p. 70), no caso, aqui, por meio dos PPPs. Releva-se a seleção da abordagem qualitativa por entender o estudo do fenômeno em seu acontecer natural, considerando os componentes de uma situação em suas interações e influências
recíprocas, possibilitando perceber a realidade educacional e social como ―algo
composto de significações, de representações que carregam o sentido da
intencionalidade‖ (GHEDIN E FRANCO, 2008, p. 63). Como aponta Minayo,
a pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa [...] com um nível de realidade que não pode ser quantificado, ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (2004, p. 21-22).
Considerando que ―o objeto não é um dado inerte e neutro, está possuído de significados e relações que sujeitos concretos criam em suas ações‖ (CHIZZOTTI,
1.2 Apresentação das creches
No presente item, a fim de possibilitar uma familiarização do leitor com o universo pesquisado, apresentam-se as creches que compõem este estudo. Importante dizer que a escolha dessas creches deu-se por meio de ofício enviado por esta pesquisadora à Secretaria da Educação de Santo André. Nesse documento, solicitou-se autorização para realização desta pesquisa e também acesso aos PPPs elaborados pelas escolas em 2014. Vale recordar que foi autorizado pela Secretaria o acesso ao PPP de seis creches, sob a justificativa de que os PPPs dessas unidades escolares já haviam sido entregues em sua versão final. O número autorizado pela referida Secretaria corresponde a 24% do total das creches no município de Santo André.
Nesta pesquisa, as creches cujos PPPs são analisados, serão identificadas como Creche 1, Creche 2 e assim sucessivamente até a Creche 6. Para conhecimento dessas creches serão extraídas, dos PPPs analisados, as características gerais de cada uma delas: número de pessoal não docente, quadro de atendimento, espaços de realização do trabalho pedagógico, localização, entorno, condição econômico-social do público atendido.
1.2.1 Creche 1
Quadro 1 — Creche 1: nº de alunos atendidos x espaço de atendimento x nº de funcionários integrantes do quadro de pessoal não docente
Número de Alunos atendidos: 158
Espaços em que ocorre a ação educativa Pessoal não docente
Local Quantidade Equipe Quantidade
Sala de aula 4 Administrativo 1
Ateliê 1 Cozinha 3
Parque Infantil 1 Limpeza 8
Pátio Coberto 1
Refeitório 2
Banheiro para alunos 2
Solário 1
Outros Espaços
Almoxarifado 2
Cozinha 1
Despensa 1
Fraldário 1
Sala de Professores 1
Banheiro para Funcionários 3
Secretaria 1
Lavanderia 1
Fonte: Elaborado pela autora
Essa creche localiza-se em um bairro residencial de baixa renda, em via movimentada, próxima a uma Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental, um Posto de Saúde e alguns pequenos comércios e prestadoras de serviços tais como: oficinas mecânicas, padarias, salões de beleza etc.
A maior parte da comunidade dispõe de saneamento básico, ou seja, de um
―conjunto de serviços, infraestruturas e instalações de abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos e drenagem de
águas pluviais urbanas‖ (BRASIL. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, sítio
eletrônico, 2007 e Lei nº 11.445/20073). Contudo, parte do núcleo habitacional (correspondente à favela4) ainda não conta com esses serviços. No entorno há quadras
3―Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico; altera as Leis nos 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 8.036, de 11 de maio de 1990, 8.666, de 21 de junho de 1993, 8.987, de 13 de fevereiro de 1995; revoga a Lei no 6.528, de 11 de maio de 1978; e dá outras providências‖ (BRASIL. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, sítio eletrônico, 2007).
4 O IBGE conceitua o setor aglomerado subnormal (favela e seus assemelhados) como: ―conjunto constituído por no mínimo 50 domicílios, ocupando ou tendo ocupado, até período recente, terrenos de propriedade alheia (pública ou particular) dispostos, em geral, de forma desordenada e densa e carentes, em sua maioria, de serviços públicos essenciais. O que caracteriza um aglomerado subnormal é a ocupação desordenada e que, quando da sua implantação, não houvesse posse da terra ou título de
de esporte, campo de futebol, praça e parque infantil. Todavia, a maior parte das crianças brinca dentro de casa ou no quintal.
Todos os alunos, 158 no total, moram no bairro ou na circunvizinhança da unidade escolar, destes 70% utiliza-se de ônibus como meio de locomoção. A maioria, 67%, advém de família de baixa renda e 18% mora em áreas invadidas ou com parentes, o restante em casa própria ou alugada.
1.2.2 Creche 2
A Creche 2 iniciou suas atividades em maio de 1997. Atende 199 crianças que moram no bairro em que se localiza a unidade escolar e adjacências. Para educar e cuidar das crianças, dispõe de:
Quadro 2 — Creche 2: nº de alunos atendidos x espaço de atendimento x nº de funcionários integrantes do quadro de pessoal não docente
Número de Alunos atendidos: 199
Espaços em que ocorre a ação educativa Pessoal não docente
Local Quantidade Equipe Quantidade
Sala de aula 6 Administrativo 1
Ateliê 1 Cozinha 6
Biblioteca 1 Limpeza 8
Parque Infantil 1
Laboratório Pedagógico de
Informática 1
Pátio Coberto 2
Refeitório 2
Quadra Coberta 1
Banheiro para alunos 3
Solário 1
Outros Espaços
Almoxarifado 2
Cozinha 1
Despensa 1
Fraldário 1
Sala de Professores 1
Banheiro para Funcionários 5
Secretaria 1
Diretoria 1
Fonte: Elaborado pela autora
e/ou estão situadas em áreas geologicamente inadequadas ou ambientalmente sensíveis‖ (DENALDI,
A Creche 2 localiza-se em um bairro residencial, ao lado de uma Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental, de uma Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio e em frente ao Posto de Saúde. No seu entorno, existem dois pequenos comércios: uma lanchonete e um mercado.
A comunidade tem acesso a duas praças, sendo uma com quadra de esportes e
playground e outra com pista de skate, quadra de futebol, espaço de convivência, pista
para caminhada e academia ao ar livre. A escola utiliza-se desses espaços para o desenvolvimento de projetos pedagógicos com os alunos.
1.2.3 Creche 3
A Creche 3 iniciou suas atividades em 2012. Após seus dois anos de existência, conta com a seguinte estrutura de atendimento às crianças:
Quadro 3 — Creche 3: nº de alunos atendidos x espaço de atendimento x nº de funcionários integrantes do quadro de pessoal não docente
Número de Alunos atendidos: 247
Espaços em que ocorre a ação educativa Pessoal não docente
Local Quantidade Equipe Quantidade
Sala de aula 7 Administrativo 1
Ateliê 1 Cozinha 6
Parque Infantil 1 Limpeza 9
Pátio Coberto 1
Refeitório 2
Quadra Coberta 1
Banheiro para alunos 4
Sala Multiuso 1
Solário 1
Outros Espaços
Almoxarifado 2
Cozinha 3
Despensa 1
Fraldário 2
Sala de Professores 1
Banheiro para Funcionários 5
Secretaria 1
Essa creche localiza-se em um bairro da periferia da cidade de Santo André, em uma rua com grande movimento de veículos e próxima a um núcleo habitacional (favela) considerado como um local de vulnerabilidade social: tráfico de drogas, prostituição, grande consumo de bebidas alcoólicas.
Todos os alunos moram no bairro ou em bairros próximos à instituição. A maioria das famílias mora em casas próprias (localizadas em áreas invadidas que passaram recentemente pelo processo de reurbanização, ou seja, por um processo que além de organizar a área invadida a partir da demarcação das ruas e regularização dos imóveis, implantou o serviço de saneamento básico), porém algumas famílias moram em barracos, em situações precárias. Essa comunidade não tem espaços para lazer, por esse motivo, adolescentes e crianças invadem a unidade escolar à noite e aos finais de semana para usufruir de seu espaço.
No entorno, existem pequenas indústrias e alguns comércios e lojas de prestação de serviços de pequeno porte, tais como padarias, mercados, bares, salões de beleza, oficinas mecânicas etc. Próximo à escola, encontram-se uma Unidade de Saúde de Pronto Atendimento (UPA), três Escolas Estaduais e uma Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental.
1.2.4 Creche 4
Quadro 4 — Creche 4: nº de alunos atendidos x espaço de atendimento x nº de funcionários integrantes do quadro de pessoal não docente
Número de Alunos atendidos: 171
Espaços em que ocorre a ação educativa Pessoal não docente
Local Quantidade Equipe Quantidade
Sala de aula 6 Administrativo 2
Ateliê 1 Cozinha 5
Parque Infantil 1 Limpeza 9
Pátio Coberto 1
Refeitório 2
Quadra Coberta 1
Banheiro para alunos 2
Solário 1
Outros Espaços
Almoxarifado 2
Cozinha 2
Despensa 1
Fraldário 1
Sala de Professores 1
Banheiro para Funcionários 4
Secretaria 1
Diretoria 1
Sala de Coordenação Pedagógica
1
Lavanderia 1
Fonte: Elaborado pela autora
A Creche situa-se na região central da cidade de Santo André em um bairro residencial, sem comércios no entorno. A comunidade realiza suas atividades de lazer nas instalações do Serviço Social do Comércio (Sesc), situado a dois quarteirões da escola.
Próximo à escola, existem uma Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental, um posto da Guarda Municipal, um Centro de Detenção Provisória e diversas instituições assistenciais que prestam serviços de assistência social às famílias.
1.2.5 Creche 5
Quadro 5 — Creche 5: nº de alunos atendidos x espaço de atendimento x nº de funcionários integrantes do quadro de pessoal não docente
Número de Alunos atendidos: 184
Espaços em que ocorre a ação educativa Pessoal não docente
Local Quantidade Equipe Quantidade
Sala de aula 5 Administrativo 1
Ateliê 1 Cozinha 5
Biblioteca 1 Limpeza 8
Parque Infantil 1
Laboratório Pedagógico de Informática
1
Pátio Coberto 1
Refeitório 3
Banheiro para alunos 3
Solário 1
Outros Espaços
Almoxarifado 3
Cozinha 2
Despensa 1
Fraldário 3
Banheiro para Funcionários 4
Secretaria 1
Diretoria 1
Lavanderia 1
Fonte: Elaborado pela autora
Essa creche encontra-se em um bairro residencial próximo a um grande conjunto habitacional (prédios baixos). Na circunvizinhança, a alguns quarteirões da escola, há pequenos comércios e lojas de serviços (farmácia, padaria, mercado, chaveiro, posto de saúde), além de quatro Escolas Estaduais e um Posto de Saúde. Ao lado da escola tem uma quadra pública de esporte.
1.2.6 Creche 6
A Creche 6 foi inaugurada em 1993. Situa-se em um bairro residencial, divide o espaço com uma Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental e atende 146 crianças que moram no bairro ou nas proximidades. Os espaços e o pessoal não docente disponível para atender o público alvo dessa creche encontram-se abaixo descritos:
Quadro 6 — Creche 6: nº de alunos atendidos x espaço de atendimento x nº de funcionários integrantes do quadro de pessoal não docente
Número de Alunos atendidos: 146
Espaços em que ocorre a ação educativa Pessoal não docente
Local Quantidade Equipe Quantidade
Sala de aula 4 Administrativo 2
Ateliê 1 Cozinha 5
Parque Infantil 2 Limpeza 8
Laboratório Pedagógico de
Informática 1
Pátio Coberto 1
Quadra Coberta 1
Refeitório 2
Banheiro para alunos 1
Solário 1
Outros Espaços
Almoxarifado 3
Cozinha 3
Despensa 1
Fraldário 2
Banheiro para Funcionários 4
Secretaria 1
Diretoria 1
Sala de Professores 1
Lavanderia 1
Fonte: Elaborado pela autora
1.3 Finalidades e princípios para utilização e organização dos espaços pedagógicos das creches
Os PPPs das creches trazem em seu conteúdo a finalidade dos espaços pedagógicos, assim como os princípios de uso e a forma como esses locais devem ser organizados. Conhecer a destinação desses espaços, como devem ser desenvolvidas as ações/interações, organização, manutenção e limpeza é de fundamental importância para que todos os profissionais que atuam na creche, sejam docentes ou não docentes, estabeleçam a relação destes ambientes e seus respectivos propósitos com a ação educativa intencional.
Quadro 7 — Espaços: finalidades e princípios de utilização e organização
Espaços Finalidades Princípios Organização
Parque
Socialização
Descontração (recreação/lazer)
Exploração e desenvolvimento corporal
Exploração do meio
Apreciação de paisagem
Promoção de criatividade
Aprender a utilizar corretamente o espaço/brinquedo, fazendo relação e orientando às crianças sobre a prevenção de acidentes
Organização espacial e temporal
Integração
Criatividade
Autonomia(liberdade)
Segurança
Respeito ao direito fundamental da criança: brincar
Adulto interagindo com a criança
Estar limpo, seguro e sem nada quebrado
Reposição dos materiais utilizados no espaço,
Cada grupo que utilizar o espaço deve deixá-lo organizado ao sair
Educadores e equipe de limpeza devem observar se está em condições de uso.
A areia deve estar limpa e os brinquedos limpos e secos
Parque Interno
Estimular a brincadeira simbólica, possibilitando a apropriação de novos conceitos por parte da criança
(casinha, empresa, mercado etc.)
Estimular as relações sociais e a integração, trocas em grupo com as diversas faixas etárias
Estimular o desenvolvimento cognitivo
Conhecer a criança por meio da observação, nesses momentos de brincadeira
Desenvolver a coordenação motora e equilíbrio motor
Ampliar a percepção espacial
Interação com os ambientes,
criança-criança, criança e educador
Promover desafios
Autonomia
Criatividade
Cooperação
Adulto interagindo com a criança
Respeito às regras e combinados estabelecidos
Organizar o espaço antes e após o uso
Preparar o ambiente com materiais e
brinquedos necessários para o ato de brincar, garantindo que haja brinquedos numa
quantidade suficiente para todas as crianças, em bom estado de uso e correspondente a cada faixa etária, em locais acessíveis às crianças
Planejar o momento do uso deste espaço
Manter o ambiente limpo, seguro e, ao mesmo tempo, estimulante para as crianças
Conhecer e desenvolver as
possibilidades do próprio corpo em movimento
Conhecer e respeitar regras e/ou combinados
Ateliê
Estimular e desenvolver os
conhecimentos, através da exploração de diferentes materiais
Socialização
Desenvolvimento e ampliação da criatividade, da linguagem estética e da expressão artística bem como da imaginação e de diferentes sensações, possibilitando expressar sentimentos e emoções
Vivenciar experiências com materiais diversificados para ampliar a
capacidade da expressão artística
Desenvolver a criatividade
Desenvolver a coordenadora motora
Autonomia
Respeito e valorização da produção infantil
Que a periodicidade do uso deste espaço faça parte da rotina
Estimular a criança com materiais, suportes para que se percebam capazes de criar e produzir arte
Oferecer atividades dirigidas e exploratórias
Planejar as atividades anteriormente ao uso do espaço
Possibilitar a ampliação da
capacidade de expressão artística e criativa
Oferecer propostas compatíveis com a faixa etária
Acompanhamento do adulto durante todo o tempo das atividades e organização
Dispor os materiais de forma que fique ao alcance das crianças
Orientar as crianças na organização do espaço antes e após o uso
Organizar o tempo para que seja suficiente para cada produção
Selecionar os materiais necessários para o desenvolvimento dos conteúdos propostos
Refeitório
Desenvolver preferências alimentares
Incentivar a experimentação
Desenvolver hábitos saudáveis de alimentação
Possibilitar o autoconhecimento (quantidades e necessidades)
Estimular o consumo dos alimentos e também chamar a atenção para que não haja desperdício
Progressiva autonomia (quantidade de alimento e o uso de talheres)
Incentivar a experimentação de alimentos diferenciados
Adultos devem acompanhar as crianças durante todo o tempo, incentivando-as à experimentação e aos cuidados com a higiene neste momento, auxiliando-as e
elogiando-as
Respeitar o tempo das crianças para que se alimentem de forma saudável e prazerosa
As mesas e o chão devem estar limpos e as crianças orientadas a manterem a limpeza de forma a tomarem consciência da importância de um ambiente limpo e higienizado para os momentos de alimentação
Garantir organização e limpeza antes das crianças chegarem e ao término das refeições
Manter o ambiente tranquilo e agradável
Banheiro
Controle dos esfíncteres e desenvolvimento dos hábitos de higiene
Estimular e desenvolver os cuidados pessoais no que diz respeito às necessidades fisiológicas e higiene
Desenvolvimento da autonomia quanto à higiene pessoal
Uso adequado do banheiro
Reconhecimento do próprio corpo, respeitando os tempos e organização de cada faixa etária
Adquirir hábitos de higiene bucal
Orientar as crianças sobre a
importância do hábito da escovação após as refeições
Estimular a escovação, orientando-as
Progressiva autonomia
Acompanhamento do adulto orientando e intervindo quando necessário
Relacionar os hábitos de higiene à saúde
Respeito e confiança
Os banheiros devem estar sempre limpos, munidos de papel higiênico, toalhas e sabonete
Fazer a troca da escova de dente sempre que necessário
Organizar as escovas, enxugando e guardando-as em local apropriado
Organizar kit individual, contendo: toalha,
copo e escova de dente para cada criança
como realizá-la
Desenvolver a coordenação motora
Conscientizar sobre o uso racional da água
Quadra
Socialização
Descontração (recreação/lazer)
Exploração e desenvolvimento corporal
Promoção de criatividade
Aprender a utilizar corretamente o espaço/brinquedo fazendo relação e orientando as crianças sobre a prevenção de acidentes (cordas, motocas, bolas, circuitos)
Organização espacial e temporal
Brincadeiras com regras
Integração
Criatividade
Autonomia(liberdade)
Segurança
Respeito ao direito fundamental da criança: brincar
Adulto interagindo com a criança
Propostas livres e dirigidas
Estar sempre limpa
Cada grupo que utilizar o espaço deve deixá-lo organizado ao sair
Biblioteca Estimular o gosto pela leitura
Desenvolver o comportamento leitor (manusear os livros, aprender a ―ler‖
as imagens, ter cuidado com o material etc.)
Conhecer o mundo, as diferentes culturas
Vivenciar situações lúdicas
Estimular a imaginação, faz-de-conta, socialização, linguagem teatral
(dramatização, uso de fantoches e recursos audiovisuais)
Incentivar o ouvir histórias
Oferecer diferentes gêneros
literários (poesias, contos, histórias clássicas, fábulas etc.)
Oferecer livros adequados para cada faixa etária
Trabalhar com as crianças em relação ao cuidado e conservação dos livros
Adulto interagindo com as crianças
Estar sempre limpa
Separar antecipadamente o material a ser utilizado
Deixar o ambiente atrativo para as crianças
Ensiná-las a organizar o espaço após o uso
Ter os educadores como leitores-modelo
Garantir uma reposição dos livros
Ter olhar atento para as crianças ao manusearem os livros
Ter um devido controle da entrada e saída dos livros
Pronto socorro dos livros (caixa para serem colocados os livros danificados)
Organizar esse espaço antes e após o uso
No quadro é possível observar que além dos professores (pessoal docente), o pessoal não docente acaba por ser mencionado na coluna da organização, no item:
―garantir organização e limpeza‖ e também nos princípios: ―adulto interagindo com as crianças‖; ―acompanhamento do adulto durante estes momentos‖. Dessa leitura, apreende-se sobre a importância do pessoal não docente conhecer os objetivos da creche, o trabalho pedagógico realizado e as possibilidades que existem de contribuírem com a ação educativa seja nos momentos da organização, da limpeza, no servir das refeições ou quando estão apenas conversando e/ou auxiliando as crianças, conhecimento este que poderá ser trabalhado com o pessoal não docente a partir da formação em serviço.
Realizada a apresentação das escolhas metodológicas e a contextualização e caracterização das creches cujo PPP é analisado nesta pesquisa, passa-se ao capítulo 2.
CAPÍTULO 2
CRECHE, PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO E FORMAÇÃO EM
SERVIÇO: PARTICIPAÇÃO DO PESSOAL NÃO DOCENTE
Neste capítulo, apresentam-se considerações sobre a instituição creche e suas especificidades. Traz-se também informações e reflexões relativas ao PPP, dado a sua importância como instrumento de análise nesta pesquisa e como documento que orienta as escolhas pedagógicas e administrativas; abordam-se questões referentes ao trabalho e formação em serviço do pessoal não docente e atinentes possibilidades de atuação na ação educativa e tecem-se reflexões sobre o gestor escolar no papel de formador.
2.1 A Creche: histórico e especificidades
Neste estudo, considera-se creche como organização, comunidade cultural e comunidade educativa, conforme definições a seguir descritas:
como organização, a escola/creche
é um sistema de relações e transações, lugar de encontros, de trocas; revela-se lócus privilegiado para mudanças, posto que lhe é inerente o abrigo e o
estudo, também, de contradições, complexidades, paradoxos, ambiguidades (BRITO, 2008, p. 9);
como comunidade cultural, cada creche/escola é um ambiente ―que elabora sentido e significado‖ para suas práticas, intenções e ações ―ao mesmo tempo em que condiciona e estabelece um conjunto de relações e práticas‖ (GHEDIN E FRANCO, 2008,
p. 203) permeadas sempre pela cultura e pelo clima da creche por meio de documentos como o Projeto Político Pedagógico (PPP), da dinâmica cotidiana e mediante os sujeitos que vivenciam sua realidade;
como comunidade educativa ―todos são educadores e aprendizes, e o ser humano é a finalidade última do processo de produção pedagógico‖ (BRITO, 2009, p.
246).
Conforme regulamentado pela LDB 9.394/96, a creche compõe a educação infantil,
primeira etapa da educação básica. A educação infantil ―tem como finalidade o
psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade‖ (artigo 29) e deve ser oferecida em: ―I - creches ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade; II - pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos de idade‖ (artigo 30). A
instituição creche, foco deste estudo, é direito social, gratuito e universal, da criança e equipamento importante às famílias, principalmente às mães que precisam de um espaço para o cuidado e a educação de seus filhos enquanto trabalham fora.
A ideia de creche como espaço viabilizador do emprego de muitas mulheres remete ao desenvolvimento da indústria moderna, período no qual se inaugura uma nova forma de organização do trabalho por meio da montagem das grandes fábricas urbanas e, posteriormente, das linhas de produção industriais. A partir do crescimento da indústria moderna a estrutura social vigente foi alterada, modificando antigos hábitos e costumes das famílias em virtude da criação das condições materiais necessárias para a inserção da mulher no mercado de trabalho. Com a necessidade e a possibilidade de inserção no mercado vem à imprescindibilidade da criação de locais para a guarda e o cuidado dos pequenos, e a creche, então,
começou a ser pensada como uma instituição feita somente para as mulheres que precisavam trabalhar e não tinham condições de dedicar-se, em tempo integral, aos cuidados com a prole no ambiente doméstico (CIVILLETTI, 1991 apud BARBOSA, 2006, p.27).
As primeiras instituições surgiram na Europa e nos Estados Unidos do século XVIII, com o objetivo de guardar, cuidar e proteger as crianças pequenas durante o período em que suas mães trabalhavam fora (PASCHOAL; MACHADO, 2009). No Brasil, a criação das creches data do final do século XIX, originadas principalmente em decorrência dos processos de urbanização e industrialização, para atendimento não somente dos filhos das operárias, como também dos filhos das mulheres escravas que laboravam como empregadas domésticas. Naquele contexto, a creche estava muito mais para substituta materna do que para efetivar um direito da criança. À época, também tinham como finalidade diminuir os índices de
―mortalidade infantil, divulgar campanhas de amamentação, atender às mães solteiras e realizar a educação moral das famílias‖ (BARBOSA, 2006, p. 84); eram destinadas às classes
de baixa renda e ainda serviam como ―estratégia política, técnica e científica de disciplinarização das camadas populares‖ (BARBOSA, 2006, p. 83). Naquele período do
com uma função assistencialista a serviço das mães trabalhadoras que precisavam de locais para deixar seus filhos ou de crianças em situação de risco que necessitavam de um local adequado para o seu desenvolvimento; um lugar no qual as crianças teriam, tão somente, alimentação e cuidados com a higiene. A concepção de creche como um serviço para atendimento às mães pobres que trabalham fora sobrepunha-se à compreensão de creche como local de atendimento e de direito das crianças.
A partir dos anos 1980, profissionais ligados à pesquisa e ao atendimento infantil começam a debater e a repensar o papel das creches com vistas ao desenvolvimento integral da criança e não apenas e tão somente à guarda e o cuidado. Desse movimento emerge na Constituição Federal de 1988, e se consolida em 1990 com a LDB 9.394/96; entre outros comandos normativos e publicações diversas, a ideia de creche como um espaço que integra o cuidar e o educar a partir de uma educação pautada na ludicidade, na afetividade e no cuidado, considerando-se as diferentes linguagens, especialmente o corpo e o movimento e não na escolarização das crianças pequenas. Portanto, diante dessa visão integradora entre o cuidar e o educar,
os professores e os demais profissionais que atuam nessas instituições devem valorizar igualmente atividades de alimentação, leitura de histórias, troca de fraldas, desenho, música, banho, jogos coletivos, brincadeiras, sono, descanso, entre outras tantas propostas realizadas cotidianamente com as crianças (BRASIL. MEC. SECRETARIA DA EDUCAÇÃO BÁSICA, 2006, p. 28).
A abordagem das crianças nas diversas situações (conversas, cuidados, orientações), a forma como a alimentação é oferecida, o espaço onde é realizada, a organização e limpeza das salas de aula, banheiros, pátios, precisam ser estabelecidas de acordo com as necessidades das crianças para que, de fato, favoreçam o atendimento e a aprendizagem destas. Dessa forma, considerada a estreita relação entre o cuidar e o educar, a participação do pessoal docente e não docente na realização das ações da creche, de forma integrada, intencional e planejada é fundamental para que a criança seja atendida em suas necessidades e no desenvolvimento de sua aprendizagem, pois, como consideram Pereira e Honório,
creches são ambientes propícios para a construção de hábitos saudáveis, pois atendem crianças nas idades em que as práticas de cuidados pessoais são aprendidas. Exigem, portanto, profissionais habilitados e sensíveis que estimulem e promovam a saúde da criança (2009, p. 177).
Além de profissionais habilitados, é necessário também um planejamento a fim de que todas as ações desenvolvidas na creche pelos professores (pessoal docente) ou pelas equipes de limpeza, cozinha e administrativo (pessoal não docente) estejam em harmonia com a organização da rotina (limpeza dos espaços, horários das refeições, horário do sono etc.). O planejamento, as rotinas e sua organização devem ter como objetivos o atendimento, as necessidades e a aprendizagem dos alunos. Assim, faz-se necessário que todos aqueles que atuam na creche tenham consciência desses objetivos para que entendam, por exemplo, o motivo pelo qual as mesas do ateliê ficaram sujas de tinta ou massa de modelar ou porque o horário do almoço teve que ser ampliado em função de alunos que ainda não terminaram a refeição ou ainda porque as crianças dirigem-se à secretaria da creche para solicitar aos funcionários que liguem para seus pais.
2.1.1 Indissociabilidade entre o cuidar e o educar
Para que as crianças de zero a três anos de idade se desenvolvam integralmente em seus aspectos físico, afetivo, psicológico, intelectual e social todas as ações na creche, devem, necessariamente, voltar-se à integração indissociável entre o educar e o cuidar.
No que se refere ao ato de cuidar, Leonardo Boff enfatiza que o cuidar sugere intimidade, sentimento, acolhimento, respeito, serenidade e repouso: ―Cuidar é entrar em sintonia com, auscultar-lhes o ritmo e afinar-se com ele‖ (1999 p. 96). Para Waldow,