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2.2 Projeto Político Pedagógico: elemento articulador dos meios e dos fins da ação educativa

2.2.1 PPP: clima e cultura na creche

Compreendida como organização, comunidade cultural e educativa, a creche:

é capaz de moldar as ações de seus atores, seguindo um sistema de referências comum. As práticas organizacionais reveladas ou veladas na cultura da organização possibilitam a construção dos esquemas coletivos de significados estabelecidos de interações desenvolvidas nessas mesmas práticas institucionais, constituindo o clima da escola (BRITO, 2009, p. 246).

Compete destacar que na construção e reconstrução de novos significados no re- equacionamento da instituição escolar, por meio do PPP, ―os vários segmentos, não raro, demonstram resistências. Assim, há de se considerar, também, o inverso, quando a instituição sinaliza necessidade de se renovar, de mudar e a gestão a ignora‖ (BRITO, 2008, p. 4). A importância da renovação ou inovação, por meio e a partir do PPP, se faz necessária quando se pretende modificar a cultura instituída na creche, entendendo que:

na realização de uma inovação, nota-se a importância de resgatar, reordenar e interpretar as diferentes vozes e formas de atuação dos protagonistas, para gerar um conhecimento novo sobre as estruturas que se pretende modificar, alterar, não sendo decretadas, impostas ou simplesmente cobradas (ANDRADE, 2012, p. 43).

É importante que as resistências sejam entendidas, discutidas e refletidas para que a cultura predominante na creche seja a de que todos os que dela fazem parte podem interferir de forma a contribuir ou, até mesmo, a prejudicar a aprendizagem dos alunos por intermédio de suas ações, que, por sua vez, refletem no clima da escola ou clima organizacional. Clima este que pode ser percebido nas formas como os sujeitos interagem no ambiente escolar, na suas posturas e na maneira como se dão os relacionamentos interpessoais, materializando-se na cultura. Fox (apud CUNHA; COSTA) especificam que:

o clima de uma escola resulta do tipo de programa, dos processos utilizados, das condições ambientes que caracterizam a escola como uma instituição e como um agrupamento de alunos, dos departamentos, do pessoal e dos membros da direção. Cada escola possui o seu clima próprio. O clima determina a qualidade de vida e produtividade dos docentes e dos alunos. O clima é um fator crítico para a saúde e para a eficácia de uma escola (2009, p. 12-13).

as realizações pedagógicas e administrativas, as atitudes dos alunos, [dos funcionários]e da equipe pedagógica em relação à escola, o conjunto de relações estabelecidas, assim como as percepções de todos os seus integrantes acerca do trabalho pedagógico realizado pela instituição de ensino e sobre a participação que possuem nestes processos (FOX apud CUNHA; COSTA, 2009, p. 13).

Brunet (apud NÓVOA, 1992) afirma que o clima organizacional tem um efeito direto e determinante sobre a satisfação e o rendimento de uma organização e que são três as variáveis mais importantes que o influenciam, quais sejam: 1) as comportamentais, subdivididas em a) individuais (que dizem respeito às atitudes, personalidade e capacidade de cada um dos sujeitos); b) e de grupo (referentes à estrutura, coesão, definição de normas, papéis atribuídos); 2) de estrutura (organização, medidas de controle, níveis hierárquicos, funções, grau de centralização, etc.) e 3) de processo (liderança, comunicação, resolução de conflitos, coordenação, projeto educativo, etc.). Um ambiente em que todos os sujeitos sintam-se acolhidos, que tenham sua capacidade reconhecida e que contenham elementos desafiadores, tendem a responder de forma positiva às propostas definidas coletivamente no PPP da escola. Como explicita Brito,

desde que o grupo tenha aprendido a aceitar as concepções comuns, os padrões automatizados resultantes do ver, perceber, pensar, sentir e se comportar, haverá, com certeza, sentido, estabilidade e conforto. Assim, o grupo é recompensado, encorajado e reconduzido às mesmas práticas. A ansiedade que resulta da inabilidade em compreender ou prever acontecimentos é reduzida pela aceitação e compreensão compartilhada — todas aceitam a mesma coisa (1998, p. 15).

Todavia, essa conquista, além de implicar a mudança de hábitos, atitudes, posturas e até mesmo das normas da escola, pressupõe a capacidade do gestor escolar em reunir todos os segmentos da instituição para definir desde a organização e validação de horários, opinião, contribuição e avaliação de todos os demais planos que são constituídos e implementados na escola. Brito comenta ainda que se os gestores escolares não considerarem o clima e a cultura da escola ―qualquer reorganização, reforma ou mudança pretendidas com relação à escola ficam mutiladas, difíceis, comprometidas, até mesmo inviabilizadas‖ (1998, p. 29).

Entende-se que em uma creche na qual a diversidade cultural esteja expressa nas atitudes dos sujeitos que dela fazem parte, onde exista uma cultura de que todos possam aprender e ensinar a partir de suas experiências individuais, em que a gestão seja democrática, favorecendo e considerando a participação de todos os segmentos nas decisões e ações, assim

como na avaliação dos resultados dos planos e projetos, nos quais os interesses e as necessidades (individuais e coletivas) sejam elementos desafiadores que possam provocar mudança e que se constituam em projetos coletivos, possivelmente será uma creche em que todos queiram estar, compartilhar, conviver, enfim fazer parte.

Criar essa atmosfera favorável à aprendizagem em que o clima determina a cultura, mas que também é determinado pela cultura existente naquela instituição e assim, envolver o pessoal não docente, bem como compartilhar os processos decisórios é uma importante ação do gestor escolar, haja vista ser este o responsável por instituir um clima escolar, orientado por uma rede de relações interpessoais recíprocas e solidárias, em que haja sinergia entre todos os que atuam no chão da creche.

Favorecer uma educação significativa e de qualidade, de forma a contemplar as diversas culturas que compõem a comunidade presente no ambiente escolar, pressupõe que: a gestão escolar seja democrática, ou seja, uma gestão compartilhada com a comunidade escolar, responsável pelos problemas e valorizada pelas conquistas; pela escolha de materiais didáticos que contemplem a diversidade; pela constante revisão das práticas da creche: sua organização, sua rotina, suas escolhas e o olhar crítico sobre as práticas, entendendo-se que ―relevantes mudanças das culturas organizacionais não se tornam viáveis sem mudanças das relações de poder‖ (BRITO, 2009, p. 248), sem o estabelecimento de uma gestão participativa na busca de ―lideranças coletivizadas construídas pelo melhor de cada um‖ e sem o estabelecimento de uma cultura escolar ―formada pela cultura de vários segmentos, pessoas heterogêneas, e épocas diversas‖ (BRITO, 2008, p. 5). Partindo desses pressupostos, o gestor escolar deve favorecer a melhor interação e a efetiva integração de todos os profissionais que habitam a creche a fim de propiciar um clima favorável à participação de todos os segmentos, como condição indispensável à melhor aprendizagem dos alunos, ou seja, deve criar condições para um ambiente alegre, estimulante e desafiador, em que haja uma relação de confiança e não de conflitos, como forma de contribuir positivamente para a aprendizagem dos alunos.

Ao se considerar a importância de todas as culturas presentes na creche, expressas por meio dos segmentos que a compõem, faz-se necessário repensar a organização escolar a fim de corroborar com essa aprendizagem. Neste ponto, destaca-se, pela proposta deste estudo, o pessoal não docente, tendo em vista que, como os demais profissionais que atuam na creche, estão em constante interação com o ambiente escolar e particularmente com os alunos.