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3.2 Formação em serviço do pessoal não docente nos PPPs analisados

3.2.2 Creche 2: metas e ações de formação

O PPP da Creche 2, como anteriormente mencionado, apresenta um quadro de metas e ações de formação para o conjunto do pessoal não docente e não por segmentos específicos, como exposto a seguir:

Quadro 30 — Metas e ações de formação dos demais funcionários da comunidade escolar

Metas Ações Propostas/Projetos Responsáveis

Socializar o trabalho desenvolvido por cada segmento, reconhecendo a

importância de cada um

Reuniões e conversas pontuais Caderno de Comunicados Esclarecer as atribuições de cada

um

Equipe Gestora Professoras

ADIs Funcionários

Assegurar que todos os funcionários estejam integrados entre si, estabelecendo parcerias de trabalho

Discussão das Normas de Convivência

Destaque do trabalho de cada segmento Organização do jornal Mostra Cultural Equipe Gestora Professoras ADIs Funcionários

Fonte: Recorte do quadro de metas e ações do PPP da Creche 2 (2014, p. 50)

Nota-se a partir da leitura do quadro acima que há uma preocupação em valorizar os atores dos diferentes segmentos por meio da socialização e da integração entre os pares em momentos de reuniões, discussões, organização do jornal e mostra cultural e, ainda, como descrito no plano de trabalho da equipe gestora, por meio do envolvimento de representantes de cada um dos segmentos ―nas reuniões do conselho de escola‖ (PPP CRECHE 2, 2014, p. 73).

Todavia, há que se alertar para o fato de que no quadro de ―metas e ações dos demais funcionários da comunidade escolar‖ as ações enunciadas, teoricamente, parecem não ser muito condizentes para a realização da primeira meta: ―socializar‖, pois ―conversas pontuais‖, ―caderno de comunicados‖, ―esclarecer atribuições‖, ao menos aparentemente, não remetem à ideia de momentos coletivos para socialização, valorização e reconhecimento da importância de cada um no cotidiano da creche. Já, no que diz respeito à proposta de ―reuniões‖, estas tanto podem ter um caráter de formação quanto de mera informação. Apresentam caráter de formação quando cada um dos participantes tem oportunidade e direito à vez e à voz, ou seja, quando propicia um clima e cultura polifônicos. Elementos estes (direito, clima e cultura), consumados no caso em tela, por meio da mediação do gestor e articulados com uma preocupação sobre a implicação e reflexo da tarefa realizada com a ação educativa, ou seja, articulados à reflexão e ao reconhecimento de que trabalho manual e reflexão jamais se separam; direito, clima e cultura, firmados como ―aprimoramento da condição humana, como liberdade de expressão e comunicação e como desenho de possibilidades de um mundo melhor, de uma melhor convivência entre as pessoas‖ (FELDMANN, 2009, p. 74) e, por

conseguinte, como espaço privilegiado para a consecução da ação educativa de forma consciente e intencional. As reuniões são de natureza informativa quando se destinam apenas e meramente à transmissão de recados, à simples distribuição de tarefas: fulano faz isso; beltrano faz aquilo, e posição hierárquica de cada um nesta distribuição, desconsiderando a creche como uma comunidade educativa na qual: ―todos são educadores e aprendizes, e o ser humano é a finalidade última do processo de produção pedagógico‖ (BRITO, 2009, p. 246). Posto isso, embora o PPP da creche 2 traga as reuniões — aqui entendidas como possibilidade de formação em serviço —, estabelecer com clareza e certeza como essas reuniões acontecem e com qual propósito, formativo e/ou informativo, somente é possível a partir de uma investigação em campo.

Relativo à segunda meta traçada para ―os demais funcionários da comunidade escolar‖ o PPP traz: ―assegurar‖ a integração de todos os funcionários por meio de parcerias e a partir da ―discussão das normas de convivência‖, ação esta que, ao menos no papel, parece coerente ao alcance da meta, uma vez que pressupõe ―um trabalho interativo e reflexivo com as pessoas, sobre as pessoas e para as pessoas‖ (FELDMANN, 2009, p. 76); presume ―a socialização e comunicação; as vivências de normas e regras [...]; as organizações dos processos de trabalho; as estruturas e dinâmicas de funcionamento‖ (BRITO, 2009, p. 245), condição fundamental para ―o estabelecimento de um clima favorável para a realização efetiva do processo de ensino-aprendizagem‖ (BRITO, 2009, p. 248) e, por conseguinte, para a propositura e êxito das ações de formação. Ainda que ―uma melhor convivência entre as pessoas — ou seja, viver melhor com o outro — não se encerra apenas em intenções, em palavras destituídas de significados‖ (FELDMANN, 2009, p. 76), considera-se que essa meta e respectiva ação enquadram-se na categoria formação por suscitar momentos de ensino- aprendizagem — de todos os profissionais da educação — que dizem respeito a valores, comportamentos e atitudes daqueles que podem deixar no futuro adulto tanto marcas positivas quanto marcas negativas ―já que eles [os profissionais] compõem os modelos mais próximos para as relações que se estabelecem no dia a dia‖ (MORAES, 2009, p. 403). Essa interação pensada a partir da discussão e reflexões sobre normas de convivência além de propiciar momentos de aprendizagem, pode servir como espaço para o ―destaque do trabalho de cada segmento‖, e este pode ser fortalecido se considerado na ―organização do jornal‖ e na ―mostra cultural‖. Estes últimos, uma vez postos em prática com a participação de todos, podem constituir-se em espaço privilegiados de formação em serviço, de fortalecimento de laços, de integração, de socialização entre os pares, pois permitem um olhar ―sobre as pessoas, os espaços, a ordenação e organização dos fatos; de um ouvir atento capaz de reconstruir

diálogos, relatos, descrições‖ integrando ―pedagógico, administrativo e funcional‖ (BRITO, 2009, p. 245).

Ressalta-se aqui que as intenções não se concretizam apenas por meio de propostas expressas em projetos, dependem fundamentalmente da postura e da própria ação dos sujeitos. Portanto, o conteúdo expresso — muitas vezes vago — no PPP da creche 2, não garante que a formação em serviço tem, de fato, se concretizado naquele ambiente escolar. Desvendar esse emaranhado de significações, processos, acontecimentos e concretizações exige uma investigação atenta do e no próprio cotidiano da creche.