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O gestor escolar, conforme aponta Dalcorso (2012), atua em diversas dimensões: pedagógica, de resultados, de pessoas (ou de relações pessoais), de infraestrutura, de relacionamentos com a rede e participativa (e/ou democrática). Em função dessas diversas dimensões, pode-se inferir que são muitas as competências que um gestor escolar deve possuir, assim como as ações que deve desenvolver a fim de que a creche possa atingir os objetivos previstos no PPP.

Considerando as diversas dimensões e sujeitos que compõe o ambiente escolar, Heloísa Lück (2007) apresenta uma possibilidade de trabalho do gestor escolar a fim de que exerça sua função de forma mais eficiente, a saber: a gestão participativa, a qual consiste em envolver todos esses sujeitos na tomada de decisões de forma compartilhada e corresponsabilizada pelo sucesso da implementação de todas as decisões. Para tanto, é necessário que, além da efetividade desse tipo de gestão no que diz respeito aos aspectos legais ou administrativos da creche, é importante que se tenha um ambiente propício para que essa participação aconteça permeada por ―componentes como o calor, a empatia, a compreensão, a abertura de espírito, etc., [...] trunfos inegáveis do trabalho interativo‖ (TARDIFF, 2012, p. 33). Eentre outras atribuições, compete ao gestor escolar:

• Criar na escola uma visão de conjunto, que estabelece o sentido de unidade e orienta o sentido de cooperação e ação articulada.

• Promover clima de confiança e reciprocidade na construção de um ambiente colaborativo.

• Promover a integração de esforços, a articulação de áreas de atuação, a quebra de aresta e o enfraquecimento de atritos, dissensos e diferenças. • Criar cultura de valorização das capacidades, realizações e competências das pessoas pela celebração dos seus resultados, como um valor coletivo da escola e da educação.

• Desenvolver a prática das decisões colegiadas e compartilhamento de responsabilidades. (LÜCK, 2007, p. 72)

Essas competências são fundamentais para que a gestão seja de fato participativa, ou seja, que ocorra por meio da participação de todos os sujeitos escolares, com o envolvimento de diferentes pessoas, em diferentes níveis, com diferentes desejos e objetivos, ―possibilitando o envolvimento de profissionais e usuários no processo de tomada de decisões e no funcionamento da organização escolar [...]‖, fundamentado ―no conceito de autonomia‖

(LIBÂNEO, 2013, p. 89); ou seja, além do envolvimento, as pessoas têm liberdade de conduzirem suas vidas, o que acontece mediante a ação e articulação do gestor escolar com os diversos segmentos da creche.

Na gestão escolar participativa, a participação se concretiza na definição conjunta de objetivos, na elaboração, aplicação e avaliação do PPP e na construção de um ambiente de trabalho que respeite e valorize o potencial de cada um dos elementos que integram a creche. Do gestor escolar, visto como o principal articulador dessas ações é exigido, no exercício de sua função, um conjunto complexo de responsabilidades sendo seu desempenho de fundamental importância para o sucesso de planos, projetos e programas que buscam a melhoria da qualidade e a promoção da equidade educacional.

O gestor escolar, então, é o articulador central de todas as ações implantadas e desenvolvidas na creche, entre elas a elaboração do PPP e também dos sujeitos que dela fazem parte; é também o responsável pelos resultados alcançados, inclusive no âmbito pedagógico. Depreende-se disso que a gestão da creche, exercida pelo gestor, é algo complexo, pois seu objeto de trabalho é o ser humano, conforme aponta Paro:

A escola é onde se formam humanos, como seres históricos. Sua administração não se confunde com a de outra empresa qualquer. Aí os recursos são operados por sujeitos (humano-históricos), na produção de sujeitos (humano-históricos) que, no processo de produção, são ao mesmo tempo objeto de trabalho (porque são eles que se transformam no produto) e sujeito (autores) de sua produção. Sem levar em conta essa especificidade da unidade produtiva chamada escola, não é possível realizar uma administração escolar que contribua para sua realização (2002, p. 39).

Já segundo Tardiff (2012), ―os ofícios e profissões que lidam com o outro, com certeza nem sempre têm contornos bem delimitados‖, e esse é um dos principais desafios do gestor escolar, que tem o ser humano como objeto de seu trabalho e diversas funções para desenvolver e articular em favor da ação educativa: são os funcionários técnicos e administrativos, os de apoio, os professores, os alunos e a comunidade (incluídos aqui os familiares dos alunos e também a comunidade local).

Na creche, assim como em qualquer outra instituição escolar, em que os sujeitos são os operadores, produtos, objetos de trabalho e sujeitos de sua produção, as crises e conflitos, segundo Lück (2007), são considerados elementos naturais na interação entre os sujeitos ―como condições de aprendizagem, construção de conhecimento e desenvolvimento‖ e, portanto, devem ser mediados e considerados na gestão da creche como oportunidade de crescimento individual e grupal. Conforme afirma a autora,

mudanças ocorrem mediante processo de transformação, caracterizadas pela produção de idéias, processos e estratégias, promovidos pela mobilização do talento e energia internos, e acordos consensuais, onde a sinergia coletiva e a intersubjetividade determinam o alcance de bons resultados, assim como os processos sociais, marcados pelas contínuas interações de seus elementos plurais e diversificados, constitui-se na energia mobilizadora para a realização dos objetivos da organização (p. 103).

Mais uma vez destaca-se a complexidade do papel do gestor escolar e a importância de sua atuação em escolas em que a gestão é exercida de forma participativa. Nesse tipo de gestão, para que de fato o pessoal não docente seja responsável pela consecução dos objetivos, é necessário que conheçam esses objetivos e atuem para concretizá-los. Assim, é fundamental que esteja nas preocupações dos gestores escolares a formação desses profissionais de forma planejada e sistemática, entendendo que essa é uma das atribuições dos gestores escolares, pois estes têm o papel de formar o pessoal não docente para atuarem como educadores no espaço escolar de uma forma consciente e intencional de acordo com os objetivos definidos no PPP, cuja elaboração todos participaram ou, ao menos, deveriam. Essa afirmação é corroborada por Lück (2009), quando afirma que é de competência do gestor escolar zelar pela boa atuação de todos aqueles que fazem parte da comunidade escolar a fim de que os objetivos previstos no PPP sejam alcançados.

O gestor escolar tem papel fundamental na formação do pessoal não docente para que este possa expressar a sua opinião a fim de participar dos processos decisórios e atuarem de forma intencional na ação educativa. Entendendo e reafirmando que a formação do pessoal docente é atribuição do gestor, ele deve então ser um promotor de ações que favoreçam atuação do pessoal não docente na ação educativa, por meio da participação tanto na elaboração do PPP, quanto das formações em serviço propostas a partir das necessidades desses profissionais e também das necessidades da creche.