• Nenhum resultado encontrado

Comunicação, experiência sensível e cidadania: a construção do comum entre comunidades virtuais e espaço urbano

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Comunicação, experiência sensível e cidadania: a construção do comum entre comunidades virtuais e espaço urbano"

Copied!
198
0
0

Texto

(1)

MÁRCIA LARANGEIRA JÁCOME

COMUNICAÇÃO, EXPERIÊNCIA SENSÍVEL E CIDADANIA:

A CONSTRUÇÃO DO COMUM ENTRE COMUNIDADES VIRTUAIS

E ESPAÇO URBANO

RECIFE 2014

(2)

MÁRCIA LARANGEIRA JÁCOME

COMUNICAÇÃO, EXPERIÊNCIA SENSÍVEL E CIDADANIA:

A CONSTRUÇÃO DO COMUM ENTRE COMUNIDADES VIRTUAIS

E ESPAÇO URBANO

Dissertação apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco como requisito parcial para obtenção do grau de mestre, sob a orientação do Prof. Dr. Eduardo Duarte Gomes da Silva.

RECIFE 2014

(3)

Catalogação na fonte Andréa Marinho, CRB4-1667

J15c Jácome, Márcia Larangeira

Comunicação, experiência sensível e cidadania: a construção do comum entre comunidades virtuais e espaço urbano/ Márcia Larangeira Jácome. – Recife: O Autor, 2014.

197p.: il.: fig.; 30 cm.

Orientador(a): Eduardo Duarte Gomes da Silva.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco, CAC. Comunicação, 2014.

Inclui referências, glossário e anexos.

1. Comunicação. 2. Política. 3. Experiência. 4. Estética. 5. Movimentos sociais. I. Silva, Eduardo Duarte Gomes da (Orientador). II. Titulo.

302.23 CDD (22.ed.) UFPE (CAC2014-132)

(4)

FOLHA DE APROVAÇÃO

Autora do trabalho: Márcia Larangeira Jácome

Título: “Comunicação, experiência sensível e cidadania: a construção do comum entre comunidades virtuais e espaço urbano

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco, sob a orientação do Prof. Dr. Eduardo Duarte Gomes da Silva.

Banca examinadora:

___________________________________________________ Eduardo Duarte Gomes da Silva

____________________________________________________ Cristina Teixeira Vieira de Melo

_________________________________________________________ Benedito Medrado Dantas

(5)

Dedico este texto a meu filho Daniel. A ele, muito agradeço as inquietações, alegrias e os ensinamentos – frutos da partilha distraída, desavisada e generosa do sensível,

que fluem de sua paixão pelo surf e suas experiências no mar. Coisas que vêm de quem sabe amar.

(6)

AGRADECIMENTOS

Passado o momento do “ponto final” na dissertação, coloquei-me às voltas com a seguinte questão: um texto é formado por várias camadas de sentidos que, por sua vez, compõem um subtexto. No caso desta dissertação, qual seria o subtexto? Em meio a uma madrugada – daquelas em que as horas não passam e o sono não chega – surgiu-me o tempo como aquilo que dá o compasso a esta escrita.

São vários os tempos que se misturam na composição desta jornada: ciclos que se fecham; ayon e cronos; as dificuldades de conciliar um tempo circular com a imposição do tempo cronológico; meu tempo quase balzaquiano no Recife; o tempo que nos resta e aquele que insiste em nos faltar.

Achei que essa mescla dos tempos me serviria um bom mote para dar a reconhecer aos leitores e leitoras instituições e pessoas com as quais se deram as várias partilhas de tempo, de diálogo (e intervalos de silêncios) e de afetos que tecem esta composição, ela própria apenas um recorte ínfimo em uma jornada que conta com tantas participações importantes. Não é possível fazer ciência sozinha. Por este motivo, eis os meus agradecimentos.

À CAPES, pelo financiamento desta pesquisa. Agradeço aos professores do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM/UFPE), que contribuíram de diferentes maneiras para a minha formação, e à Coordenação, pelas orientações e pelo apoio institucional.

Ao meu orientador, Prof. Eduardo Duarte, por me receber em sua sala de aula, ainda em 2009, tendo me convidado e acolhido no Grupo de Estudos “Narrativas Contemporâneas” enquanto eu apenas desejava retornar à Academia. Sou grata pelas demonstrações de confiança e apostas de que eu seria capaz de fazer mudanças de rumo tão significativas para mim; por ter me estimulado a interrogar e rever certezas; por corrigir erros, apontado possíveis saídas em momentos cruciais e pelo incentivo a explorar insights e descobertas que poderiam ser aprofundadas.

Ao Prof. Marco Antonio Mondaini, por sua disponibilidade para o debate, pelos ensinamentos e pelas instigas entre a sala de aula e a pausa para o café. À Profa. Cristina Teixeira Vieira de Melo, pelo primeiro diálogo no PPGCOM e por sua generosidade e seu interesse pelo trabalho. Agradeço, ainda, a ambos, pelas importantes críticas e sugestões no processo de qualificação; e a Cristina, por completar este ciclo de contribuições com pertinentes avaliações durante a banca de defesa da dissertação.

(7)

À Profa. Ângela Prysthon, pelos primeiros passos na seara das relações entre estética e comunicação, há tempos, em 2008, tendo sido este o primeiro estímulo a articular dois campos e a investigar as tensões aí existentes.

À equipe da Secretaria do PPGCOM, José Carlos, Luci Diniz e Cláudia Badaró, dos quais a compreensão, a dedicação e o apoio, exercidos com paciência, competência e agilidade, foram fundamentais nos trâmites burocráticos, amortecendo o estresse, especialmente em momentos críticos. Todo o meu reconhecimento, afeto e a minha gratidão. Sem vocês, o caminho teria sido bem mais difícil.

Também quero expressar meu afeto e minha gratidão aos professores da Pós-graduação em Psicologia, Benedito Medrado e Jorge Lyra (UFPE), amigos, conselheiros e incentivadores que me ensinaram, de muitas e prazerosas maneiras, que o caminho da ciência pode ser solidário em vez de solitário. A Benedito, agradeço, ademais, a disposição de participar da banca de defesa, o cuidado e a atenção na construção de análises que renderam bons debates e novas instigas.

À professora Mônica Rodrigues (UFPE), por aceitar o convite para participar da banca como suplente e se dispor a ler e comentar o trabalho; e à professora Ana Vieira (UFPE), por apoios inestimáveis em momentos cruciais.

Em tempos de grande tensão, a felicidade sempre se fez chegar por meio das pessoas queridas que se dispuseram, generosamente, a armar redes de proteção. Dentre elas, destaco o professor de Artes Cênicas, Marcondes Lima (UFPE), amigo de longa data e de todas as horas, pelas inestimáveis conversas e criteriosas correções; Taciana Gouveia, amiga e companheira de viagem política, profissional e da “vida-lazer” que, generosamente, ofereceu seu tempo, seus conhecimentos e suas críticas valiosas ao trabalho; Geórgia Cruz e Mariana Andrade, que, nestes dois anos, se tornaram amigas de todas as horas, deram-me todo apoio em momentos diferentes. Agradeço a elas as longas conversas e trocas de experiências, que tornaram tão prazerosa a realização desta pesquisa. A este quarteto fantástico, que conseguiu restituir meu sossego ao final do “segundo tempo”, meu agradecimento mais profundo.

Aos amigos e companheiros do Grupo de Estudos “Narrativas Contemporâneas”, Raquel do Monte, Daniel Abaquar, Lylian Rodigues, Isabel Marinho, Mariana Nepomuceno, Marcelo Pichito, Marcos Antonio, além de Georgia e Mariana, pelo prazer e pela relevância da partilha de conhecimentos, pelos animados debates que alimentaram o alinhavar de ideias ao longo da pesquisa presentes nesta dissertação. Aos demais amigos que conheci durante o mestrado, em especial, Daiany Dantas, Rud Rafael, Marcos Santos, Isabela Senra, Rafael Queiroz, Marcelo Pedroso, Luis Celestino, Lis Lemos e Renato Lemos, pelas boas trocas,

(8)

pelo companheirismo dentro da universidade e fora dela. E outro agradecimento especial a todos pelas “risandagens”, que não foram poucas. Concordando com Mariana Andrade, para quem a ciência poucas vezes ri, posso afirmar ter sido esta uma experiência singular e rara, dado que os momentos de partilha do riso tocaram a disciplina e o trabalho árduo, fazendo verter o bom humor e a leveza que revigoram o ânimo pela produção. Percebo aí singela manifestação de uma das lições de Ítalo Calvino para este milênio: aquela segunda a qual “o peso da pedra pode reverter em seu contrário”.

Às companheiras do feminismo, em especial, agradeço àquelas com quem compartilhei muitas alegrias, dores, realizações e aprendizados no SOS Corpo, no GT Gênero e Raça, do Fórum Estadual de Reforma Urbana (FERU), no Convênio Mulheres Populares e Diversas, no Fórum de Mulheres e na Rede Saúde; aos companheiros do FERU e da Associação Brasileira de ONGs (Abong) – todas e todos corresponsáveis por minha formação política, bem como por meu apreço, respeito e interesse por movimentos sociais. A Lúcia Xavier, do Criolla, por sua generosidade no trabalho educativo, que me proporcionou a descoberta de pensamentos que “nem sabia existirem em mim” e que resultaram nesta pesquisa.

Um agradecimento mais do que especial, in memoriam, a Jacira Silva, empregada doméstica, que, com seu afeto, sua força de viver, coragem, determinação e alegria se tornou uma inspiração para a escrita deste trabalho. Seus ensinamentos, em muitas ocasiões, nortearam-me na pesquisa, ajudando-me a localizar, na paisagem, o que importava olhar, escutar, tatear e refletir, dentre as tantas nuances que se estendem entre as dores e delícias da vida comum. A Jaci, todo o meu respeito e toda a minha admiração.

A João Vieira Júnior e Solange Rocha, que me acompanham desde os primeiros anos no Recife, pela amizade sincera, profunda, sem imposições ou restrições, cada um com seu jeito de tranquilizar muito próprio e porque, desde sempre, arranjam uma maneira de se fazerem presentes quando é preciso.

A Rubén Pecchio, pelas revisões preciosas no anteprojeto e pelos debates ocorridos em diferentes tempos, sobretudo na véspera da seleção, em 2011, e na defesa, em 2014. E, em especial, pelas provocações à existência, que produziram tantos e bons insights, além de reflexões inquietantes e precisas acerca da singularidade da experiência que atravessam este texto.

Às amigas: Carla Batista, Clarice Hoffman, Carla Denise, Susan Holland-Muter, Vania Maia, Vania Santos, Marli Gondin, Ana Elizabeth Galanternick, Suely Oliveira, Shirley Villela, pelo incentivo inestimável e pela presença constante. Elas sempre se dispõem a

(9)

conversas intermináveis, boas escutas, sábios conselhos – acadêmicos e mundanos – que tornaram esta trajetória alegre, interessante e menos estressada.

Pelas revisões técnicas do anteprojeto e dissertação, agradeço à Joseane Cabral cuja longa parceria no trabalho se desdobrou em respeito profundo e amizade, constituindo-se em uma prova de que o ciberespaço pode se tornar um lugar de incríveis experiências de compartilhamento de saberes e afetos.

A Ismael Portela, companheiro na vida, agradeço a participação marcada pela alegria e torcida, além do apoio fundamental em delicados momentos. Sua presença é e será sempre um porto seguro. A meu filho, Daniel Portela, que acompanhou e soube compreender os significados deste trabalho, por sua paciência comigo em horas tão delicadas. Com a gata Nakine, ele conseguiu provocar risos preciosos em momentos estratégicos.

A meu pai, Enéas Jácome, e a minha musa, tia Diva; ao meu irmão Eduardo, a minha cunhada, Lulude, e aos primos Max e Cecília, agradeço por todo o apoio à distância, sempre fundamental, e pelas guaritas no Rio, quando os estudos assim o exigiram. Ao primo Gustavo, pelas trocas de experiência, pela confiança, pelos incentivos e pelo carinho.

A todos os profissionais que me ajudaram a segurar a saúde em momentos críticos, que se tornaram companheiros nesta jornada de modo muito especial: Ana Paula Motta, Tânia Pires, Janaína Leite, Maristela Lupe, Fred Santos, Darlan Schottz, Roberto Ku Chi-Hun e Odimariles Dantas.

(10)

¡No somos nada! ¡No somos nada!

Quieres identificarnos, tienes un problema (La

Polla Records)

[...] Só fazia chorar. Porque, naquele

momento, eu descobria que não tinha vivido até ali. Só tinha participado da vida. Mais nada. (Pergentina Vilarim, do Fórum de

Reforma Urbana de Pernambuco – sobre os motivos que a levaram a tomar parte no movimento popular)

A prosa da vida comum é um poema fantástico. (Jacques Rancière)

(11)

RESUMO

O triênio 2011-2013 pode ser percebido como o marco de um período histórico em que a intensificação das relações entre o virtual e o real e a diluição de fronteiras entre essas esferas revelam novas potencialidades e tensões em um mundo que vive transformações profundas. Nesse “entrelugar”, as dinâmicas e as influências recíprocas entre comunicação, cultura e política se transformam, afetando os modos pelos quais percebemos e interagimos com a realidade. Isto se reflete na elaboração e no compartilhar de conhecimento, na articulação de redes solidárias à distância e na redefinição de contornos da própria noção de comunidade, impactando a esfera pública – elementos que nos aparecem como alguns condicionantes importantes das manifestações públicas massivas contemporâneas. Esta pesquisa busca compreender se os processos comunicacionais que atravessam os espaços virtual e urbano, constituintes das Jornadas de Junho de 2013, no Brasil, têm contribuído ou não para a instituição de uma experiência coletiva igualitária de construção do comum. Para estudar este fenômeno, tomamos como objeto os processos comunicacionais nas redes e nas ruas, no âmbito do Ato Nacional contra o Aumento das Passagens, realizado em todo o país no dia 20 de junho de 2013. Os corpora são compostos por registro de base etnográfica da passeata conhecida como 1º Ato À Luta Recife!, ocorrida nesta data no Recife, e por dados coletados nas comunidades de redes sociais na internet, com foco no Facebook. De forma articulada, este conjunto de informações compõe um campo fragmentado. As principais referências teóricas são Jacques Rancière, contribuindo para a compreensão das articulações entre experiência sensível e política, onde a produção de dissenso emerge como elemento crucial na construção do comum; Manuel Castells, no suporte à análise das tecnologias digitais como aparato cultural, que oferece condições ao exercício da política como prática cotidiana; John Dewey e Ciro Marcondes Filho, no apoio à análise sobre como a comunicação constitui e é atravessada por esta experiência, que, dado seu caráter coletivo e público, se configura como um espaço em que emergem novos sujeitos e questões.

(12)

ABSTRACT

The three year period from 2011 to 2013 can be seen as a landmark of a historical period in which the deepening relations between virtual and real and the dilution of the threshold between these two domains reveal new potentials and tensions in a world undergoing profound transformations. In this interspace, the dynamics and interactions in communication, culture and politics are transformed, affecting the ways in which we perceive and interact with reality. This is reflected in building and sharing knowledge, in the articulation of distance solidarity networks and the redefinition of the borders of the very knowledge of community, impacting government - elements that are presented to us as important elements of the contemporary mass public manifestations. This research seeks to understand whether communication processes in the virtual space and the urban space, that were part of the Jornadas de Junho de 2013, in Brazil, have contributed to the fulfilment of a collective egalitarian experience. In order to study this phenomenon, communication processes in the networks and on the streets within the context of the National Campaign

against the increase in ticket prices were defined as object of study. The corpora are

composed by ethnographic records of 1º Ato À Luta, Recife!, which took place as part of this national campaign in Recife and by data collected in social network communities on the internet, composing a fragmented field. The main theoretical references are Jacques Rancière, who contributes to the debate on the similarities between sensible experience and politics and the production of dissent in the construction of the common; Manuel Castells, supporting the analysis of digital technologies as a cultural apparatus offering conditions to the exercise of politics as an everyday practice; John Dewey and Ciro Marcondes Filho, supporting the analysis on how communication constitutes and is cross-cut by this experience that, for its collective and public nature is constituted as a space in which new subjects and issues emerge.

(13)

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 Detalhe de reportagem: Portal G1.com, Parte 1/10 – 20 de junho de 2013 ... 77

Figura 2 Detalhe de reportagem: Portal G1.com, Parte 5/10 – 20 de junho de 2013 ... 79

Figura 3 Depoimento: Prof. Claudio Couto  Portal site G1.com – 20 de junho de 2013 80

Figura 4 Manifestantes ocupam Congresso Nacional – 17 de junho de 2013 ... 83

Figura 5 Meme sobre manifestação em Brasília – 17 de junho de 2013 ... 84

Figura 6 Imagens do clipe Um pouco do troco – 17 de junho de 2013 ... 87

Figura 7 Mapa digital comparativo do fluxo de mensagens sobre as manifestações, na internet – 19-21 de junho de 2013 ... 88

Figura 8 Estimativa do número de participantes das manifestações no Brasil  17-30 de junho de 2013 ... 88

Figura 9 Página do evento de mobilização ao 1º Ato À luta, Recife! ... 91

Figura 10 Página do Evento À Luta, Recife com novo layout – 20 de junho de 2013 ... 92

Figura 11 Nota do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Católica de Pernambuco – 19 de junho de 2013 ... 93

Figura 12 Capa do Diário de Pernambuco – 20 de junho de 2013 ... 94

Figura 13 Debate sobre presença policial no 1º Ato À Luta, Recife! ... 95

Figura 14 A ocupação simbólica do Marco Zero no “DU”  19-20 de junho de 2013 ... 97

Figura 15 Mapa do trajeto da passeata: do Derby (A) ao Marco Zero (B) ... 99

Figura 16 Concentração no Derby e imediações ... 100

Figura 17 Concentração no Derby: 1º Ato À luta, Recife! – 20 de junho de 2013 ... 101

Figura 18 “Camarote”: 1º Ato À luta, Recife! – 20 de junho de 2013 ... 103

Figura 19 De camisetas a pratos de papel: máscaras – Recife, 20 de junho de 2013 ... 104

Figura 20 Trabalhadores precarizados no 1º Ato À luta, Recife! – 20 de junho de 2013 .... 106

Figura 21 Grand finale: 1º Ato À Luta, Recife!  Marco Zero, Recife, 20 de junho de 2013 ... 107

Figura 22 Montagem com fotos de cartazes individuais em cidades – junho de 2013 ... 108

Figura 23 Panorâmica do 1º Ato À luta Recife! – 20 de junho de 2013 ... 109

Figura 24 Experiência sensível e participação popular: 1º Ato À Luta, Recife! – 20 de junho de 2013 ... 110

Figura 25 Detalhes de cartazes: 1º Ato À Luta, Recife! – 20 de junho de 2013 ... 111

Figura 26 O discurso conservador: 1º Ato À Luta, Recife! – 20 de junho de 2013 ... 112

Figura 27 Deboche do poder público: 1º Ato À Luta, Recife!  20 de junho de 2013 ... 113

(14)

Figura 29 Cenas finais: Praça da República e Avenida Conde da Boa Vista – Recife,

20 de junho de 2013 ... 118

Figura 30 Saudação com cartazes – screen captures, frames, vídeo  Recife, 20 de junho de 2013 ... 119

Figura 31 Detalhe: Debate  Grupo “Direitos Urbanos” após 1º Ato À luta, Recife! – 21 de junho de 2013 ... 120

Figura 32 Nota Pública de Movimentos Sociais – 23 de junho de 2013 ... 131

Figura 33 Enquete na página do Evento #ÀLutaRecife – junho de 2013 ... 141

Figura 34 Debate prévio: 1º Ato À luta, Recife!  19-20 de junho de 2013 ... 145

Figura 35 Detalhe do site de Joslei Cardinot ... 146

Figura 36 Detalhe: Comentário  Grupo Direitos Urbanos – 20 de junho de 2013 ... 146

(15)

LISTA DE SIGLAS

ABONG Associação Brasileira de Organizações não Governamentais

AGP Ação Global dos Povos

AMB Articulação de Mulheres Brasileiras APC Association for Progressive Comunication

CE Comissão Europeia

CEE Comunidade Econômica Europeia

CFP Conselho Federal de Psicologia

CONLUTAS Coordenação Nacional de Lutas CSP-Conlutas Central Sindical e Popular

CTB Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil

CUT Central Única dos Trabalhadores

DAG Dias de Ação Global

DCE Unicap Diretório Central dos Estudantes da Universidade Católica de Pernambuco

DU Grupo Direitos Urbanos

FASE Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional

FERU Fórum de Reforma Urbana de Pernambuco

Fifa Federação Internacional de Futebol

FMI Fundo Monetário Internacional

FSM Fórum Social Mundial

HTTP Protocolo de Transferência de Hipertexto

Ibase Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas LABIC Laboratório de Estudos sobre Imagens e Cibercultura LGBT Lésbicas, Gays, Transexuais e Travestis

MLPL Movimento de Luta pelo Passe Livre

MPL Movimento do Passe Livre

MST Movimento de Trabalhadores Sem Terra

MV Marcha das Vadias

OLMP Organização de Luta pela Moradia Popular

OMC Organização Mundial do Comércio

ONG Organização Não Governamental

ONU Organização das Nações Unidas

PEC Proposta de Emenda Constitucional

(16)

TICs Tecnologias de Informação e Comunicação UFES Universidade Federal do Espírito Santo

UFPE Universidade Federal de Pernambuco

UGT União Geral dos Trabalhadores

UNE União Nacional dos Estudantes

(17)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 19

2 UMA EXPERIÊNCIA A PARTILHAR: O CAMPO, O MÉTODO E SEUS MARCOS TEÓRICOS ... 26

2.1 COM OS DEUSES POR DENTRO ... 26

2.2 TUDO JUNTO, AO MESMO TEMPO, AGORA ... 29

2.3 “EU SOU VOCÊ AMANHÔ EM DOIS TEMPOS ... 31

2.3.1 “Efeito Orloff” Tempo Um ... 31

2.3.2 Efeito Orloff” Tempo Dois ... 33

2.4 ENTRE A PRÁXIS POLÍTICA E A CIÊNCIA, MOVEM-SE NEXOS NEM SEMPRE EVIDENTES ... 35

3 ÀS CIDADES, A CIDADANIA ... 46

3.1 A POLÍTICA E A CONSTRUÇÃO DO COMUM: INTERSEÇÕES E TENSÕES ... 46

3.2 QUANDO O DISSENSO ENTRA EM CENA ... 50

3.3 REFLETINDO A ESTÉTICA NO ÂMBITO DA EXPERIÊNCIA ... 54

3.4 COMUNICAÇÃO E EXPERIÊNCIA SENSÍVEL ... 55

3.5 RUAS PLENAS DE AFECTOS E PERCEPTOS ... 58

3.5.1 Um giro pelo mundo ... 60

3.5.2 #Ocupar: a retomada do espaço público como lócus da política ... 65

3.5.2.1 Acampadas: zonas autônomas do viver junto e nas cidades ... 65

3.5.2.2 Ensaio de orquestra ... 69

3.5.2.3 O ativismo de sofá #vemprarua ... 70

4 20 DE JUNHO DE 2013: “ESQUINA, MAIS DE UM MILHÃO...” ... 74

4.1 MARCO ZERO: O DIA 20 DE JUNHO NAS JORNADAS DE JUNHO ... 74

4.1.1 Por uma vida sem catracas: passe livre para todas as pautas ... 81

4.2 IMPRESSÕES SOBRE UM OBJETO EM MOVIMENTO NÃO IDENTIFICADO . 89 4.2.1 Visão panorâmica: o objeto ... 89

4.2.2 Imagem nº 1: antes da rua, a rede ... 94

4.2.3 Imagem nº 2: percepções iniciais sobre o espaço e o ambiente ... 98

4.2.4 Imagem nº 3: traços perceptíveis de uma multidão anônima ... 102

4.2.5 Imagem nº 4: uma pauta para chamar de sua ... 107

4.2.6 O riso, o humor, a festa: entre a transgressão e a confirmação da ordem ... 113

(18)

4.2.8 Panorâmica final: “Tá tudo bem. Mas tá esquisito...” ... 118

4.3 FECHA-SE UM CICLO, QUESTÕES SE ABREM ... 122

5 A COMUNICAÇÃO COMO VETOR DA EXPERIÊNCIA SENSÍVEL NA CONSTRUÇÃO DO COMUM: IMPASSES E POSSIBILIDADES ... 124

5.1 APROXIMAÇÃO INICIAL DE PRODUTOS COMUNICACIONAIS ... 127

5.1.1 As Jornadas de Junho segundo organizações e movimentos sociais ... 129

5.1.2 Afetos em direção à flor da pele ... 135

5.1.2.1 Caminhando e cantando enquanto o império contra-ataca: cenas de uma ocupação ... 135

5.1.2.2 A hora do troco ... 138

5.2 EU FALO, TU SILENCIAS, ELES DEBATEM: #TAMOJUNTO? MODOS DE PARTILHAS E (DES)IGUALDADES NA REDE ... 140

5.3 ENTRE O PAPELÃO E A TELA MOVEM-SE AFETOS ... 147

5.3.1 “A disputa é memética” ... 147

5.3.1.1 Em conta-gotas vem a polifonia do riso ... 148

5.4 COMUNICAÇÃO PLURAL ... 150

6 PERSEGUINDO CONCLUSÕES ... 152

REFERÊNCIAS ... 156

GLOSSÁRIO ... 164

ANEXOS ANEXO A CARTA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS À PRESIDENTA DILMA ... 168

ANEXO B NOTA DA AMB E OUTROS MOVIMENTOS SOCIAIS SOBRE A ONDA DE PROTESTOS NO BRASIL ... 170

ANEXO C NOTA DA ARTICULAÇÃO DE MULHERES BRASILEIRAS DIANTE DAS MOBILIZAÇÕES SOCIAIS 25 DE JUNHO DE 2013 .. 172

ANEXO D CARTA ABERTA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS E CENTRAIS SINDICAIS AOS PERNAMBUCANOS E ÀS PERNAMBUCANAS GREVE GERAL – 11 DE JULHO DE 2013 – DIA DE LUTA PERNAMBUCO ... 174

ANEXO E MUDANÇAS ESTRUTURAIS EM PAUTA NA MOBILIZAÇÃO DE 11 DE JULHO, POR JOÃO PEDRO STÉDILE ... 179

ANEXO F NOTA SOBRE AS MANIFESTAÇÕES SOCIAIS E CONVOCATÓRIA ÀS RUAS: “NEM UM MINUTO DE SILÊNCIO” – 19 DE JUNHO DE 2013 ... 182

ANEXO G POSICIONAMENTO POLÍTICO DO GRUPO DIREITOS URBANOS SOBRE OS PROTESTOS DO 1º ATO #À LUTA, RECIFE! / ATO NACIONAL CONTRA O AUMENTO DE PASSAGENS E PAUTA DE REIVINDICAÇÕES 19 DE JUNHO DE 2013 ... 184

(19)

ANEXO H NOTA DO GRUPO DIREITOS URBANOS / RECIFE SOBRE O MOMENTO POLÍTICO E A MODERAÇÃO DO GRUPO E

AMOSTRA DOS COMENTÁRIOS ON LINE 21 DE JUNHO DE 2013 187

ANEXO I NOTA DO DIRETÓRIO CENTRAL DOS ESTUDANTES DA

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO (DCE/UNICAP) E AMOSTRA DE COMENTÁRIOS ON LINE – 20-21 DE JUNHO DE 2013 ... 191

(20)

19

1 INTRODUÇÃO

O que muito lhe agradeço é sua fineza de atenção. (João Guimarães Rosa)

A contemporaneidade tem sido identificada como um período histórico em que predomina uma crise de valores humanistas acentuada por um agenciamento midiático que contribui para a banalização da experiência social. São indícios do que acabamos de afirmar: a fragilização dos vínculos com a realidade; a liquidez das relações afetivas e a negação da alteridade; o avanço do individualismo em detrimento do coletivo e a superexposição da vida privada; a renovação da moral conservadora; a mercantilização da vida; e o esvaziamento da política associado à sua espetacularização e à privatização da coisa pública.

Tais processos se imbricam a um deslocamento dos centros de poder demarcado pelo descompasso entre os interesses movidos pela economia transnacional e as obrigações do Estado, o que tem reduzido, significativamente, para a maioria dos cidadãos, as possibilidades de vida digna, com direitos plenos assegurados, acesso a bens comuns e ao bem-estar, acirrando as desigualdades sociais, situação esta que coloca em xeque o próprio sentido da democracia.

Segundo Zygmunt Bauman, isso ocorre porque a globalização acelera a mobilidade do capital e aniquila a dimensão espacial, mantendo-o à dianteira dos Estados nacionais na regulação da vida social e, ao mesmo tempo, fora do alcance de sua jurisdição. Esta remoção de obstáculos aos desígnios do capital faz com que as localidades percam “a capacidade de gerar e negociar sentidos, ações que elas não controlam – chega dos sonhos e consolos comunitaristas dos intelectuais globalizados” (1999, p. 8).

A convergência de mídias associada à popularização dos recursos de comunicação digital e à conectividade amplia sua participação nas relações sociopolíticas, econômicas e culturais, atuando em duas frentes. De um lado, potencializa os interesses do mercado aliado ao poder do Estado, ainda que não de forma monolítica. Isso ocorre porque, de outra parte, essa revolução tecnológica tem permitido que as pessoas comuns ampliem sua autonomia não apenas no acesso, mas, também, na produção e comunicação de informações. Tal fato tem provocado mudanças substanciais nas experiências individuais e coletivas – onde se processam dinâmicas do sensível –, aumentando as possibilidades de compartilhamento de tais experiências à distância. Deste modo, processos de subjetivação se reconfiguram assim como os desejos quanto aos modos de viver junto; confere-se novos significados para as

(21)

20

noções de território e comunidade e modificam-se as relações entre ambas. Estas ideias encontram eco em Manuel Castells quando afirma que, “às margens de um mundo que havia chegado ao limite de sua capacidade para que os seres humanos convivessem e compartilhassem a vida com a natureza, os indivíduos voltaram a unir-se para encontrar novas formas de ser nós, o povo.1 (2012, p. 19).

De acordo com essa perspectiva, se é verdade que as instituições políticas e econômicas supranacionais impactam cada vez mais o cotidiano das pessoas comuns nas cidades, o comentário de Castells aponta para mudanças que ocorrem no tecido social onde redes flexíveis, favorecidas por processos de sociabilidade facilitados pela tecnologia, se tornaram um modo primordial de estruturação da sociedade. Essa concepção encontra eco em Fernando Calderón, quando afirma que:

A tecnosociabilidade, vista como experiência cotidiana e recorrente de intercâmbio e intersubjetividade, associada ao uso dos meios horizontais de comunicação de massa (internet, celulares e múltiplas utilizações e constantes atualizações) está modificando os padrões de conhecimento e de aprendizagem, e isso se expressa nas diferentes dimensões da cotidianidade: trabalho, estudo, lar, sexo e divertimento. Em outras palavras, trata-se do uso dessas tecnologias não como ferramentas ou fins, mas como âmbitos que permitem novas formas de ser [...] (2013, s/p).2

Nesse contexto, o triênio 2011-2013 pode ser percebido como marco de um período histórico em que a intensificação das relações entre o virtual e o real e a diluição de fronteiras entre estas esferas revelam novas potencialidades e tensões em um mundo que vive transformações profundas. É nesse “entrelugar” que as dinâmicas e interações entre comunicação, cultura e política se transformam, afetando, sobremaneira, os modos pelos quais percebemos e construímos conhecimento sobre a realidade e com ela interagimos.

Pelo exposto, podemos inferir que as mudanças que se operam nos modos de sociabilidade incidem na construção de imaginário social, na produção das memórias individual e coletiva, nos sentimentos de pertença política, refletindo-se na elaboração e no compartilhamento de conhecimento, na articulação de redes solidárias à distância e na

1

Tradução livre. No original: “Sin embargo, en los márgenes de un mundo que había llegado al límite de su capacidad para que los seres humanos convivieran y compartieran la vida con la naturaleza, los individuos volvieran a unirse para encontrar nuevas formas de ser nosotros, el pueblo”.

2

Tradução livre. No original: “La tecno-sociabilidad vista como experiencia cotidiana y recurrente de intercambio e intersubjetividad asociada al uso de los medios horizontales de comunicación de masas (Internet, celulares y sus múltiples utilizaciones y constantes actualizaciones) está modificando los patrones de conocimiento y de aprendizaje, y ello se expresa en las diversas dimensiones de la cotidianidad: trabajo, estudio, hogar, sexo, divertimento. Es decir, se trata del uso de estas tecnologías no como herramientas o fines, sino como ámbitos que permiten nuevas formas de ser [...]”. Disponível em: <http://www.revistatodavia.com.ar/todavia29/29.politicanota.html>. Acesso em: 2 nov. 2013.

(22)

21

redefinição de contornos da própria noção de comunidade, mudanças essas que impactam a esfera pública.

Os elementos que aqui traçamos nos aparecem como alguns condicionantes importantes das manifestações públicas massivas contemporâneas, ainda que pouco se conheça sobre os motivos pelos quais as pessoas retornam às ruas em defesa da cidadania e acerca de como se mobilizam para produzir mudanças (KLANDERMANS, 2012). O fato é que tais protestos contra sistemas políticos de diferentes matizes se constituem como iniciativas populares de proporções multitudinárias e anônimas que adquirem força e visibilidade nas ruas, à margem de instituições políticas tradicionais, ao mesmo tempo em que sua potência é mobilizada através da internet. Ocorrem de modo simultâneo, a exemplo da Primavera Árabe, em países do Norte africano, sustentando-se como uma sucessão de acontecimentos que, desde 2011, tem mudado a cena política internacional.

Em ruas, praças e na internet, cresce a participação direta de milhares de pessoas na construção dessas mobilizações. A juventude, majoritária, lidera esses processos sociais, tornando-se, mais uma vez, “o centro das mudanças na sociedade” (COHN; PIMENTA, 2008, p. 10), a exemplo do que se pôde observar em outros períodos da História, como em maio de 1968. Ao mesmo tempo, as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), fortemente inseridas na cultura juvenil, representam um importante suporte às formas de expressão das novas gerações, tornando-se um elemento indispensável à mobilização, realização e ao compartilhamento das atuais movimentações.

Tudo isso nos sugere que pode estar se processando uma renovação nos modos de fazer política e que esta, ainda que guarde muitas semelhanças com processos históricos anteriores, abre conflitos com os modos tradicionais da ação política – seja no âmbito institucional seja no interior da própria organização da sociedade civil – emblemáticos dos períodos de crise.

Essas manifestações que interpelam o Estado e buscam confrontar o capital transnacional se sustentam por meio de articulações em redes as quais se situam entre as esferas local e internacional, operando em diferentes frentes: seja na construção da compreensão dos problemas e nos modos de auto-organização coletiva, seja na construção de propostas de soluções e na comunicação mais ampla dos acontecimentos. Conferir a estes processos uma dimensão globalizada faz parte das estratégias que buscam dar respostas aos desafios e limites apontados por Bauman, pois levam em consideração que, “mesmo nos lugares onde os vetores da mundialização são mais operantes e eficazes, o território habitado cria novas sinergias e acaba por impor ao mundo uma revanche” (SANTOS, 1998, p. 15).

(23)

22

Assim, as insurgências contestadoras de poderes (in)formais instituídos – governos, capital financeiro e corporações midiáticas – emergem inicialmente nas metrópoles. Esta onda se move em diferentes dinâmicas e direções: pode assumir caráter multicêntrico, desdobrar-se em diferentes pautas locais nos países em que se originam ou mesmo assumir uma dimensão nacional, como é o caso, dentre outras, da luta em prol da tarifa zero e da melhoria da qualidade nos transportes públicos ocorrida no Brasil.

A partir de junho de 2013, essa iniciativa, articulada pelo Movimento de Luta pelo Passe Livre (MLPL), provocou uma série de manifestações populares de grandes proporções e visibilidade no país que, dado seu ineditismo e sua importância, se tornaram o campo a partir do qual recortamos o objeto desta dissertação. Tal processo tem dado relevância, no Brasil, ao impacto do ativismo via comunidades de redes sociais digitais em ações públicas cidadãs, amplificando o significado das mobilizações sociais que vinham acontecendo desde anos anteriores, sendo exemplos o #ForaMicarla (Natal, 2011), #OcupeEstelita (Recife, 2012), #Quemderaserumpeixe (Fortaleza, 2012), #Somostodosguaraniskaiowá (Pyelito kue e Mbarakay/MS, 2012), #Somostodospinheirinho (São José dos Campos, 2012), sendo que as duas últimas obtiveram adesão nacional e repercussão internacional.

De forma semelhante ao que já acontecera em outros países, a ação violenta do Estado na contenção das manifestações de junho, em solo brasileiro, amparada na abordagem midiática de criminalização sistemática de movimentos populares, gerou forte resistência dos manifestantes, que encontraram na intensificação da “autocomunicação de massa”3

(CASTELLS, 2011a) um potente instrumental que lhes permitiu aglutinar forças contra a repressão policial e construir um contraponto importante ao discurso hegemônico da mídia. Esta abertura de um confronto direto entre as práxis jornalísticas exercidas nos campos da mídia cidadã e da mídia corporativa destravou as portas a um debate mais do que necessário sobre as potencialidades e limites da imprensa em um contexto de liberdades democráticas que explicita a disputa entre os diferentes posicionamentos políticos em jogo.

A capacidade de manter a resistência e sustentar o confronto direto com o poder institucionalizado e hegemônico, por parte dos manifestantes, contribuiu para ampliar a magnitude dos protestos bem como para o prolongamento de seu tempo de duração, evidenciando o alto grau de descontentamento da população nos planos político, econômico e social. Assim, as “ruas conectadas” (DI FELICE, 2013) têm demonstrado haver, entre pessoas comuns, uma capacidade instalada de articulação espontânea de táticas de ação e

3

(24)

23

comunicação, descentralizadas e à distância, que permitiram novas formas de experienciar a participação cidadã, simultaneamente, nas ruas e on-line, assim como o acompanhamento à distância dos acontecimentos em questão.

É possível inferir, portanto, que, independentemente das particularidades de cada país, essas manifestações têm aberto espaço a iniciativas locais novas ou já existentes que, para além da extensão de sua abrangência, podem ganhar visibilidade e força no interior dos Estados-nação, mas, também, fora de suas fronteiras territoriais, por meio de tais articulações em redes. Sua repercussão, ao ocorrer de modo viral4 pelo mundo, tem fomentado a construção de iniciativas similares em diferentes continentes, fortalecendo aquelas já existentes.

Desse modo, constitui-se uma rede transnacional de mútuo apoio, baseada no diálogo e debate político, na produção coletiva de trabalho, no intercâmbio de experiências, reflexões e conhecimentos produzidos nesse ambiente, na solidariedade e no anonimato nos quais o aparato tecnológico de comunicação e informação propicia condições à sua sustentação material e simbólica, provocando um impacto nada desprezível sobre as experiências individual e coletiva. A retroalimentação entre redes e ruas aciona um fluxo constante e multidirecional de afetos ampliando as chances de múltiplas e concomitantes experiências sensíveis. Neste sentido, a comunicação mediada pelas TICs pode ser percebida como um ambiente de sociabilidade e produção de cultura não desvinculado da vida fora da rede.

Este trabalho objetiva uma mirada sobre esse “entrelugar”, aqui percebido como local de emergência de novas formas e expressões de experiências cidadãs assim como da elaboração de processos de autocomunicação de massa por meio dos quais buscamos compreender como se dá uma experiência de construção do comum. Estruturando-se metodologicamente a partir de estudos bibliográficos e aproximações etnográficas, ele se constitui como uma pesquisa exploratória sobre um campo de investigação fragmentado, tendo sua fundamentação em um referencial teórico de caráter transdisciplinar.

Nosso objeto de estudo é o processo comunicacional ocorrido no âmbito das revoltas populares conhecidas como “Jornadas de Junho”, no Brasil, em 2013. Em alguma medida, torna-se necessário voltar a atenção para os processos similares ocorridos anteriormente, mas apenas quando eles oferecem elementos a serem cotejados com aqueles encontrados no processo das Jornadas, de modo a propiciar analogias e contrastes úteis às análises que pretendemos desenvolver.

4

(25)

24

Desse objeto, faremos um recorte para os modos de produção e de circulação de informações desenvolvidos por sujeitos coletivos e individuais que tomaram parte nessas ações, ou seja, aqueles realizados ou mediados por Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). Com a finalidade de conferir maior precisão à delimitação desse objeto, utilizaremos o conceito “autocomunicação de massa”, criado por Manuel Castells (2009), quando nos referirmos a ele.

Por tratar-se de um objeto empírico, a imprecisão de seus contornos traz consigo um enorme desafio ao desenvolvimento desta pesquisa, pois, como afirma Vera França:

Os objetos do mundo não estão dados de antemão, nem são recortados por suas leis intrínsecas – mas constituídos e dispostos pelo olhar e intervenção dos homens. Assim, os meios de comunicação ou a mídia, na sua aparente objetividade e simplicidade, não o são tanto assim, mas se desdobram em múltiplas dimensões – tais como a técnica, a política, a economia, o consumo, a vida urbana, as práticas culturais, a sociabilidade etc. Dimensões estas que não apenas irão “compor” o nosso objeto, mas se desenvolvem por caminhos próprios (FRANÇA, 2001, p. 4).

Essa imprecisão se torna ainda maior na medida em que os tipos de mobilização social que nos dedicamos a pesquisar começaram a ocorrer nesse momento e os primeiros estudos surgidos sobre eles se deram em concomitância com esta pesquisa. Por este motivo, foi preciso estabelecer uma aproximação do objeto, a fim de explorá-lo. E esta, acreditamos, será nossa contribuição para o campo da pesquisa em comunicação.

De modo sintético, esta dissertação se divide em quatro capítulos e conclusões.

No primeiro capítulo, revisitamos o percurso que nos levou à aproximação e ao interesse por articular as relações entre experiência sensível e política a partir da comunicação, fundamentando os motivos que nos levaram à construção do problema e à realização da pesquisa. A partir deste memorial, são traçados os referenciais teóricos que fundamentam o estudo.

O capítulo seguinte se divide em dois momentos: o primeiro nos propicia a compreensão da comunicação no vértice que se estabelece entre a experiência sensível e a realização da política, tomando como marco teórico principal obras que se desenvolvem sobre processos sociais  dentre as principais, Jacques Rancière (1996; 2002; 2005a, b; 2007; 2009; 2010; 2011; 2012), Felix Guattari (2012), Gilles Deleuze (1990), Gilles Deleuze e Felix Guattari (1995; 1997), Felix Guattari e Suely Rolnik (2007), Manuel Castells (2009; 2012), John Dewey (2010)  bem como sobre a comunicação, como Ciro Marcondes Filho (2010). No segundo momento, estabelecemos relações entre esta concepção teórica e a práxis de movimentos sociais contemporâneos, esboçando uma imagem do contexto a ser redesenhado

(26)

25

nos capítulos seguintes, a partir da leitura dos afetos e experiências sensíveis observados no Brasil desde junho de 2013.

O terceiro capítulo traz o relato do 1º Ato “À Luta, Recife!” – iniciativa de diferentes coletivos que realizaram mobilizações por meio de comunidades de redes sociais digitais. Essa caracterização é contextualizada no marco das “Jornadas de Junho” de 2013, no Brasil.

Então, a partir dos dados produzidos nessa passeata, o último capítulo é dedicado à análise dos processos comunicacionais que se articularam entre as ruas e a internet em torno dessa passeata. Em seguida, apresentamos uma síntese das principais conclusões do estudo.

(27)

26

2 UMA EXPERIÊNCIA A PARTILHAR: O CAMPO, O MÉTODO E SEUS MARCOS TEÓRICOS

2.1 COM OS DEUSES POR DENTRO

Em conferência improvisada no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, para o movimento Ocupa Sampa5, em outubro de 2011, depois transformada em artigo, o filósofo Wladimir Safatle destacava o mal-estar, o desencanto como o afeto emblemático dos tempos atuais.

É a angústia do desencanto que nos une, que faz com que o mesmo sentimento apareça em Túnis e São Paulo, Cairo e Nova York. Esse é o sentimento mais verdadeiro que temos, aquele com mais força para nos colocar em ação. No entanto, vivemos numa sociedade em que o desencanto e o mal-estar são vistos imediatamente como sintomas de alguma doença que deve ser tratada [...] Por essa razão, é muito importante que vocês sejam capazes de se mobilizar para dizer que esse mal-estar não é um problema individual, é um problema da sociedade, da vida social (2012, p. 51-52).

O diálogo teve como pano de fundo o momento em que os ecos das revoltas populares que tomavam os países árabes, a Europa e parte do continente norte-americano chegavam com mais força ao Brasil. Insatisfeitos com o esgarçamento das relações sociais, descrentes das instituições políticas, à direita e à esquerda, e desejosos de reinventar a vida cotidiana, indivíduos e coletivos, jovens em sua maioria, iam às ruas, municiados de câmeras, celulares e computadores, para comunicar, gritar, fazer ouvir, sem intermediários, em uma aparentemente confusa agenda que misturava utopias com sentimentos distópicos; reflexões críticas com ações a compartilhar.

Em vários desses lugares, a permanência em praças e ruas resultou na formação de acampamentos: precárias e provisórias polis – como o é a própria vida – que confrontavam o poder do Estado, da mídia e do capital, uma experiência coletiva em que se forjaram subjetividades políticas que, na tentativa de romper com a dicotomia entre o racional e o sensível, buscavam reinventar os modos do viver junto.

5

Inspirado no #15M e no #OccupyWallStreet, o movimento Ocupa Sampa ocupou o centro da cidade de São Paulo no dia 15 de outubro de 2011. Seus organizadores são integrantes de movimentos sociais e organizações sociais, estudantes, militantes, que têm como princípio a auto-organização e o autofinanciamento. Em um de seus manifestos esse movimento afirma ter “autonomia diante do Estado, das empresas e de qualquer partido, mas respeita a participação destes”. Disponível em: <https://ocupasampa.milharal.org/nosso-manifesto/>. Acesso em: 10 dez. 2013.

(28)

27

Em 21 de junho de 2011 – quatro meses antes da conferência de Safatle e dois anos antes das “Jornadas de Junho”, ocorridas no Brasil, em 2013 –, Eduardo Galeano se encontrava na #acampadabarcelona, uma dentre as inúmeras que se espalhavam pela Espanha, dando origem ao #15M. Na ocasião, o escritor deu uma entrevista a um grupo de jovens na qual destacava a “energia da dignidade” e o “entusiasmo, que vem de uma palavrinha grega, que significa que os ‘deuses estão dentro’ [...] de uma ou de muitas pessoas” como afetos presentes nas manifestações produzindo transformações. Ao ser interpelado pelos jovens sobre o que estava por vir, entre lúcido e gaiato, alertava que não seria possível fazer tal previsão naquele momento: “E depois? O que vai ser disso? E eu simplesmente respondo o que nasce da minha experiência e digo: Bom... nada! Não sei o que vai acontecer! E tampouco me importa o que vai acontecer! A mim, importa o que está acontecendo. A mim, importa o tempo que é”.6

Desencanto, mal-estar, angústia, dignidade, entusiasmo. Encontrava-se ali a mistura de afetos capazes de mobilizar experiências cidadãs de resgate da política como prática cotidiana? Estariam sendo abertas, a partir de então, novas dinâmicas e lugares ao seu exercício político, guardando semelhanças com algo já vivido, mas, também, produzindo rupturas?

Boa parte das experiências coletivas que se têm expressado com mais força desde o final de dezembro de 2010, a partir de Túnis, apresentavam evidências que nos faziam indagar se estaríamos vivendo um processo de quebra de paradigmas fruto das tentativas de resgatar a política de um contexto de crise, reinserindo-a como dimensão do cotidiano das pessoas comuns. Mas, se esta era a questão, seria importante compreender como isto se dava antes mesmo de nos perguntarmos aonde isto ia dar.

Ao longo de 2011, diferentes acontecimentos eram produzidos em ritmo vertiginoso, o que possibilitava identificar interesses, fazer conexões e, em paralelo, permitia organizar um banco de dados e fazer registros de dados, fontes, temas, insights que pudessem, posteriormente, ser recuperados.

A produção comunicacional gerada pelas mobilizações sociais era plural, com ampla diversidade de conteúdos, tipos de textos, informativos e análises. Era possível encontrar desde “sites de notícias e análises”, passando por fotologs e blogs com diários de jornadas políticas; de documentários sobre Economia e Geopolítica aos incríveis videoclipes de

6

Tradução livre. Eduardo Galeano. Entrevista concedida à AcampadaBCN, pl.Catalunya, 21 jun. 2011. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=aVQPvBwgUUg&feature=share>. Acesso em: 28 jun. 2011.

(29)

28

agitação política; de registros de assembleias a manuais de militância que ensinavam a qualquer um “como cocinar una revolución”; de memes a personagens de ficção que ganhavam vida nas ruas; de mapas de estratégias a bancos de dados de pesquisas; de cartazes que chamavam para grandes aglomerações a mapas digitais que identificavam onde haveria ações de despejo de inadimplentes. O intuito, neste caso, era organizar mobilizações no local com apoio jurídico às famílias a fim de lhes assegurar a permanência em sua moradia. Processos comunicacionais que giravam em torno de atos estéticos (RANCIÈRE, 2005a) que, por sua vez, se constituíam em acampamentos, longas marchas que atravessaram a Europa, saídas de vários países em direção à Grécia, para apoiar a população em um país cuja economia havia sido destroçada pelo neoliberalismo comandado pela Troika7.

Assim, esses atos estéticos, como dimensão intrínseca da política, indicavam a formulação de várias interrogações, dentre elas: em que medida os modos de ocupação de ruas e praças poderiam se tornar ou não espaços de recriação dos sentidos da vida em comum e de reinvenção da política para além dos espaços institucionais? Estariam estes espaços tornando possível a reabertura do tempo para o diálogo, a reflexão coletiva sobre valores e princípios que importa recuperar em uma democracia real, uma partilha igualitária em processos de decisão, a produção de compromissos e de pactos que viabilizassem modos do viver junto que se contraponham à crise observada, tornando a vida menos ordinária?

Os protestos que ocorriam fora do Brasil traziam consigo a possibilidade de, por contraste, compreender – ao menos, em parte – mudanças observadas no tecido social brasileiro. O interesse tinha como foco a práxis no campo da cidadania e, mais particularmente, em torno da compreensão de como se expressam as vozes de diferentes sujeitos no espaço público, dado ser esse um elemento-chave para a constituição e a legitimação dos cidadãos livres “aptos” a tomar parte na política, em contraposição às vozes silenciadas na esfera do privado, pois, como afirma Judith Astelarra:

O mundo público da política e da cidadania livre [...] era conceitual e estruturalmente parasita do mundo da necessidade. Mas não o queria admitir assim e, por isso, havia construído um discurso que lhe permitia estabelecer uma valoração hierárquica das atividades realizadas em uma e outra esfera social. Hierarquização que somente poderia se impor desde o poder e o predomínio de sua capacidade de falar (1992, p. 48-49).

7

(30)

29

Ao longo do texto, a autora dá a perceber as intrincadas relações entre o exercício da política e da cidadania e a comunicação, tomando como base da reflexão diferentes experiências feministas de construção de um projeto político coletivo. Trata-se, portanto, de uma perspectiva que dialoga com o olhar de Rancière (1996) quando afirma que o tipo de experiência de partilha política é crucial à definição de quem pode e quem não pode falar; quem pode e quem não pode tomar parte nesta partilha. Por este motivo, os processos de tomada da palavra serão sempre transgressores.

Mas qual é o diferencial dessa experiência hoje? Quais limites, tensões e transgressões podem ser percebidos a partir da leitura da comunicação no ambiente virtual e nas ruas? Quais evidências da construção do comum podem ser aí percebidas?

2.2 TUDO JUNTO, AO MESMO TEMPO, AGORA

Para desenhar e executar um plano de estudos, tomamos como premissa a compreensão de que, de modo geral, as manifestações populares são acontecimentos que emergem de processos sociais mais amplos. Elas guardam semelhanças e/ou vínculos com episódios históricos que lhes são anteriores, atualizam uma série de questões políticas advindas destes processos, podendo agregar ou se contrapor a estas novas problematizações, articulando pautas e agendas.

Nessa perspectiva, parece-nos importante sublinhar que tais acontecimentos instituem um mundo comum. Isto porque seus sentidos e definições são dados por quem se deixou por eles afetar e que neles busca elementos com os quais compor este comum (MARQUES, 2012) exigindo, portanto, a presença da palavra, do diálogo e/ou de formas de expressão e atuação que deixem impressos nesses acontecimentos a presença e a voz de quem deles toma parte.

Nesse contexto, os protestos que emergem ao Norte da África, com a Primavera Árabe e as contestações, a partir do agravamento da crise socioeconômica na Europa, em países como Grécia, Espanha e Portugal, reavivam o dissenso e trazem o conflito com o Estado de volta à cena pública. Em paralelo, jovens canadenses dão início à Marcha das Vadias (MV) em protesto contra a “culpabilização” das mulheres pela violência sexual a que são submetidas. Em pouco tempo, a MV ganhou as ruas do mundo como forte protesto contra o avanço do conservadorismo moralista, de cunho sexista e patriarcal. Resgatando a ousadia feminista por meio da defesa bem-humorada do direito à autonomia e à integridade do corpo e da crítica ao aparato policial do Estado, ironizou a situação propondo uma inversão a partir do uso do termo “vadia”, associando-o às noções de liberdade e autonomia. No Brasil, a Marcha

(31)

30

da Liberdade (#marchadaliberdade28M) começou a dar seus primeiros passos, a partir de uma “inédita articulação entre os movimentos sociais, culturais, coletivos, redes, midialivristas, pontos de cultura, minorias e maiorias” (BENTES, 2011, s/p).

Todos esses indícios nos permitem inferir que já havia sinais claros, em 2011, de que, cedo ou tarde, poderia haver um grande “enxameamento”8

de pessoas, como os que ocorreram em 2013, a partir da luta pela qualidade dos transportes públicos, liderada pelo Movimento pelo Passe Livre. O próprio MPL foi criado em 2005, durante o Fórum Social Mundial (FSM), em Porto Alegre, o que evidencia os vínculos existentes entre diferentes processos de mobilização social.

Uma vez mais, a transgressão se colocava em movimento nos modos de construção de um fazer político que se deslocava dos espaços institucionais (e suas limitações) para retomar o espaço urbano como lugar central de manifestação da resistência política. Uma diferença importante em relação a experiências históricas anteriores, mesmo aquelas que já contavam com tecnologias digitais para a mobilização social (o que já ocorria, pelo menos, desde a década de 1990), é que, para se tornarem vistas e ouvidas, ir às ruas se tornou insuficiente. Hoje é necessário transmitir via internet o acontecimento em tempo real. De preferência, sem edição. Assim, ele passa a estar em todos os lugares, a suscitar novos acontecimentos ao mesmo tempo, agora.

Tais revoltas emergiam, então, como um conjunto de acontecimentos que poderia alimentar a elaboração de questões para construir uma compreensão, ainda que parcial, das dinâmicas comunicacionais que, presentes nas tramas da sociabilidade, contribuem para colocar em movimento importantes transformações neste início de século. No entanto, faltava uma peça no quebra-cabeça, um elemento que nos permitisse formular o problema de pesquisa de maneira satisfatória, dando a ver os afetos que o originaram e atravessaram, de modo a transformá-lo em um dos aparatos metodológicos que dessem suporte a um processo de pesquisa científica.

8

Swarmming ou enxameamento social. A descrição do termo se encontra no Glossário, ao final desta dissertação. Para maiores detalhes, ver também: <http://www.labic.net/cartografia-das-controversias/o-que-pode-ser-o-protestobr-post1/>. Acesso em: 14 jan. 2014.

(32)

31

2.3 “EU SOU VOCÊ AMANHÔ EM DOIS TEMPOS 9

2.3.1 “Efeito Orloff” Tempo Um

Foi a lembrança de um pequeno curso sobre cidadania10, realizado em abril de 2011, no Recife, que ofereceu oportunidade para o refinamento de possíveis conexões entre os acontecimentos no Brasil e o que se passava no exterior e para tecer aproximações e contrastes que nos aproximassem da formulação de um problema de pesquisa. Na abertura daquele evento, a conferencista convidada, Lúcia Xavier, dirigiu-se a cerca de 50 lideranças do movimento popular e de Organizações Não Governamentais (ONGs) ali presentes, com um convite: “Diga teu nome, o que te motivou a entrar na luta e por que nela permanece até hoje”. O que deveria ser uma rodada de apresentações se transformou na abertura de um baú de memórias que deram vida a histórias da vida comum por meio de narrativas pessoais, gerando um ambiente de forte comoção.

A pergunta sugeria haver algo em comum entre aquelas pessoas que traziam consigo origens, lugares, trajetórias e experiências tão diversas: um comum que só poderia se localizar, portanto, em um espaço vazio entre elas. A comunicação, o compartilhar das experiências prosaicas, corriqueiras e, no entanto, tão singulares para cada uma daquelas pessoas, foi o que preencheu tal vazio. O comum emergia entre o narrar as experiências vividas e a escuta atenta que delas se fazia. Desta forma, tornava-se público – portanto, colocava-se em comum – um fluxo entre sentimentos e pensamentos experimentados por cada sujeito afetado, de forma íntima e pessoal, pela qualidade do vivenciado. Postas em comum, todas as experiências singulares se revestiam de igual importância em um ambiente onde o rememorar dos afetos permitira a ressignificação do vivido e a criação de uma atmosfera de afetos diferenciada.

9

“Eu sou você amanhã” é o slogan de uma campanha publicitária, bastante famosa no Brasil, na década de 1980. A campanha mostrava um homem bem vestido que se olha no espelho antes de sair de casa, à noite, e se depara com seu próprio rosto, ressaqueado. Pergunta à imagem quem é, e ela responde: “Eu sou você, amanhã”. A propaganda estimulava o público consumidor a escolher uma bebida cuja qualidade não o deixaria com ressaca no dia seguinte a uma noitada. A ideia passou a ser conhecida como Efeito Orloff e o slogan se tornou um bordão popular, aplicado a diferentes situações em que um determinado episódio parecia se repetir.

10

O Seminário “Aprendendo com o exercício da cidadania: gênero, raça e desigualdades socioespaciais nas cidades” foi realizado pela Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE), no Recife, nos dias 27 e 28 de abril de 2011 e teve como facilitadora convidada a coordenadora da ONG Criola e secretária-executiva da Articulação de ONGs de Mulheres Negras Brasileiras, Lúcia Xavier. O público era formado por homens e mulheres que, em diferentes estados do Nordeste, atuam nos movimentos de luta pela reforma urbana, movimentos feminista e de mulheres e no movimento negro.

(33)

32

Assim, o elemento-chave para a pesquisa extraído dessa lembrança se encontrava nisto: o episódio citado dava a perceber que um processo de compartilhamento de experiências era capaz de evidenciar traços da dimensão estética impressos na experiência política de cada pessoa. Este episódio banal me tem voltado à memória, sistematicamente, sempre associado ao processo da pesquisa. Hoje, é possível perceber que três dimensões afetivas nele contidas nos interrogam. A primeira diz respeito a uma teia de sensações, sentimentos e pensamentos contidos nas histórias relatadas; a segunda se encontrava no ato de narrar no qual cada pessoa reconstruía sua história conferindo a ela novos sentidos. A terceira dimensão do afeto era decorrente deste diálogo que coloca em comum o que antes “era isolado e singular” (DEWEY, 2010, p. 427).

Essa comunicação se dava como um diálogo por meio do qual narradores e ouvintes podiam tecer conexões entre singularidades e se reconhecerem mutuamente a partir da escuta do outro, o que criava uma atmosfera sensível capaz de favorecer a emergência de um sentimento coletivo que tornava possível (ainda que não garantisse) a pessoas tão distintas criarem vínculos entre si, que lhes possibilitava se sentirem pertencentes a uma comunidade, ainda que esta fosse circunstancial.

Parecia haver uma conexão entre o microcosmo representado por aquela sala – ocupada por 50 ativistas e suas experiências – e as multidões que ocupavam praças públicas em países europeus e na África capaz de propiciar uma ideia que seria o eixo da pesquisa: processos de tomada de consciência assim como a decisão de tomar parte em uma experiência política coletiva são atravessados, necessariamente, por uma experiência sensível mobilizada pelos afetos. O encontro com o pensamento de Jacques Rancière deu maior clareza a estas ideias, quando ele afirma não existir uma divisão clara entre o sensível e a razão, que estes campos não se colocam em confronto a partir de oposições; antes, mesclam-se a ponto de não ser possível separá-los nem traçar uma clara linha divisória entre eles, sendo necessário, por isto, superar esta falsa dicotomia.

Fazia sentido, então, compreender, a partir de uma aproximação entre estética e política, qual é o lugar da experiência sensível na constituição de uma experiência pública no campo da cidadania. Esta discussão ganhou lastro no campo da comunicação que se tem preocupado em refletir como a dimensão sensível participa da experiência cotidiana. Assim procuramos focar a comunicação gerada em torno das mobilizações de rua por percebê-la como possível vetor de mobilização de afetos presentes à construção de um comum no ambiente de uma experiência pública marcada pela heterogeneidade.

(34)

33

Tais considerações nos provocaram a reflexão sobre as imbricações entre os espaços virtual e da rua na constituição do espaço público – lugar em que se dá a experiência de construção do comum. Assim, nós nos propusemos a problematizar o papel que a comunicação – tanto nas comunidades de redes sociais na internet como nas ruas – exerce no compartilhamento de uma experiência sensível. Se essa comunicação propicia uma atmosfera de afetos que favorece uma participação política direta e igualitária e se os processos comunicacionais favorecem a emergência do dissenso que afirma e visibiliza a capacidade de qualquer um tomar parte na política, trazendo em si as possibilidades de participação igualitária e constituição de uma comunidade inédita (RANCIÈRE, 1996).

2.3.2 “Efeito Orloff” Tempo Dois

Entre maio e junho de 2013, Turquia, Bulgária e Brasil entraram na rota das revoltas populares de grande magnitude. No Brasil, as manifestações fizeram eco a processos similares de organização política que, desde 2011, vinham incorporando novas concepções e práticas sobre a participação em ações coletivas em defesa do bem comum, mobilizações e transmissões em tempo real pela internet11. Ao longo de junho de 2013, as manifestações brasileiras que, inicialmente, ganharam a alcunha popular de “Revolta do Vinagre”12

, se intensificaram, tomando proporções multitudinárias, com repercussões imprevisíveis, e passaram a ser conhecidas como “Jornadas de Junho”.

Essas manifestações tiveram como origem a luta pelo passe livre e pela melhoria da qualidade dos transportes, chamada pelo Movimento do Passe Livre (MPL), em diferentes estados, mas se desdobraram em várias outras pautas de diferentes sujeitos coletivos e individuais. Elas explodiram poucos dias depois de concluído o sumário comentado do projeto desta pesquisa, ao passo que eu prosseguia na preparação para iniciar a redação dos capítulos que seriam submetidos à qualificação, no segundo semestre de 2013. Em minha

11

São alguns exemplos: a Marcha da Liberdade, Marcha das Vadias, ambas em vários pontos do país, e #ForaMicarla (Natal), todas ocorridas em 2011 e em 2012, #OcupeEstelita (Recife), #SomosTodosGuaranisKaiowás (nacional) e a “Revolta do Busão”, também contra o aumento dos transportes públicos, em Natal.

12

O uso da alcunha “Revolta do Vinagre” se deu pelo fato de os manifestantes terem passado a levar este produto às passeatas para minimizar os efeitos do gás lacrimogêneo jogado pela polícia na contenção dos protestos. Na manifestação ocorrida em São Paulo, no dia 13 de junho, a polícia militar prendeu vários manifestantes por portarem garrafas de vinagre. A repressão policial foi um importante catalisador da resistência popular que levou às ruas milhares de pessoas, disseminando uma onda de protestos em defesa de diferentes pautas em todo o país. É interessante notar que o termo permite um paralelo com a “Revolta da Vacina”, ocorrida em 1904, no Rio de Janeiro, no início da República. Embora os motivos da revolta fossem mais amplos, o estopim do protesto foi a forma autoritária e violenta usada pelo governo federal para tornar obrigatória a vacinação contra varíola

Referências

Documentos relacionados

O uso indevido do veículo oficial ou da autorização que lhes tenha sido concedido implicará no imediato cancelamento desta e na sujeição dos servidores às

Ocorrendo a situação prevista no subitem 5.6.3., a microempresa ou empresa de pequeno porte mais bem classificada será convocada para apresentar nova proposta de preços após

Se o examinando montar a figura corretamente dentro do limite de tempo, não aplicar a segunda tentativa, passar para a primeira tentativa do item 6. Se o examinando montar a

Após a aprovação do salário mínimo pelo Congresso Nacional, a oposição informou que pretende ingressar com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para contestar o uso

Diante dos potenciais impactos no ciclo hidrológico da Amazônia decorrentes da mudança do clima global, previstos pelos modelos climáticos, uma importante questão

Os projetos contratados comporão a programação do Ciranda Cultural e serão desenvolvidos em diversos equipamentos públicos como o Centro Municipal de Cultura Afro-Brasileira, o

No entanto, maiores lucros com publicidade e um crescimento no uso da plataforma em smartphones e tablets não serão suficientes para o mercado se a maior rede social do mundo

Dica: Use um arquivo de dados exclusivo para seu bloco de controle PID (N9:0, por exemplo). Isso evita reutilização acidental dos endereços do bloco de controle PID por