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2 UMA EXPERIÊNCIA A PARTILHAR: O CAMPO, O MÉTODO E SEUS

2.4 ENTRE A PRÁXIS POLÍTICA E A CIÊNCIA, MOVEM-SE NEXOS NEM

SEMPRE EVIDENTES

Um objeto de estudo ou a realidade não define o campo da ciência nem mesmo o estatuto epistemológico de determinada área de conhecimento, podendo ser “analisado e transformado em diferentes áreas do conhecimento, dependendo da área em que é estudado” (MONTENEGRO, 2007, p. 30). Revisitar o caminho percorrido nos faz perceber, na prática, as implicações desta afirmação para o trabalho do pesquisador que se dispõe a estudar um objeto que também tem sido abordado em outros campos disciplinares.

Não é propósito deste estudo se deter nesse debate epistemológico, entretanto, alguns cuidados se fizeram necessários para que o objeto de estudo, pela força que traz destes outros campos, não provocasse qualquer desvio de rota – fosse na circunscrição do tempo, na delimitação do corpus ou na identificação de possíveis fontes. Por outra parte, era preciso garantir que as contribuições de outros campos disciplinares  que têm dialogado e contribuído com a construção das Teorias da Comunicação – fossem incorporadas aos procedimentos metodológicos, permitindo, desta forma, uma abordagem mais complexa do objeto de estudo. Nessa perspectiva, este estudo demandou um referencial teórico transdisciplinar, segundo o modelo apresentado por França, em que as contribuições de outras disciplinas são:

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[...] deslocadas de seu campo de origem e se entrecruzam num outro lugar – em um novo lugar. São esses deslocamentos e entrecruzamentos, é esse transporte teórico que provoca uma iluminação e uma outra configuração da questão tratada. É esse tratamento híbrido, distinto, que constitui o novo objeto (FRANÇA, 2001, p. 7).

Dessa maneira, buscamos articular as Teorias da Comunicação – enfocando, em particular, o conceito de “comunicação densa e suas relações com a experiência sensível”, conforme Marcondes Filho (2010), e o de “autocomunicação de massa”, de Manuel Castells (2009; 2012) – com disciplinas do campo da Filosofia, tendo como eixo a discussão sobre as relações entre estética e política proposta por Jacques Rancière (1996; 2005a, b; 2010; 2011; 2012); as relações entre “agenciamentos maquínicos” e “subjetivação”, de Gilles Deleuze e Felix Guattari (DELEUZE; GUATTARI, 1995; 1997; GUATTARI; ROLNIK, 2007; GUATTARI, 2012); e a questão da “experiência”, segundo o pragmatismo em John Dewey (2010); com as abordagens sobre métodos de pesquisa na internet, a partir de Christine Hines (2000; 2005 apud FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2011).

Essas questões se alinham com problemas sobre a autonomização da pesquisa na internet como disciplina, discutidos por Fragoso, Recuero e Amaral (2011) que, pautando-se em Sterne (2005) e Engelbrecht (2005), trazem à tona os riscos implícitos na separação dos estudos de internet: tratá-los como disciplina autônoma pode afastar este tipo de pesquisa “de outras formas de tecnologias de comunicação e informação, fazendo uma restrição por demais arbitrária” (FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2011, p. 31). Dado que este estudo busca analisar as relações entre comunicação on-line e off-line como fenômeno intrínseco aos modos de estabelecimento das relações sociais no mundo contemporâneo, concordamos com a posição das autoras para não incorrermos no risco de subdimensionar o problema a ser investigado.

Nessa perspectiva, se a questão da “disciplinaridade”, isto é, da relação entre as disciplinas nos estudos sobre internet ainda não está elucidada (FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2011), é adequado, do ponto de vista epistemológico, tratá-la como um campo em desenvolvimento. O encontro com a discussão trazida pelas autoras se dá pari passu ao observado nas relações entre fenômenos comunicacionais e experiência estética, que também se constitui como um campo em permanente construção para o qual “concorrem múltiplas perspectivas e modos de abordagens, provenientes de diferentes disciplinas” (SOUZA LEAL; GUIMARÃES; MENDONÇA, 2010, p. 7). Este conjunto de desafios desenha o estado da arte de campos disciplinares por onde busquei transitar, sendo ele que orienta a condução dos

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procedimentos metodológicos que conferem materialidade à pesquisa. Descreverei, a seguir, alguns passos metodológicos desta investigação científica.

Procurando teorizar com base em uma pesquisa empírica, articulo diferentes formatos de coleta de dados, valorizando as informações vindas da experiência e articulando-as com outras oriundas de produtos comunicacionais. Tomamos como premissa o fato de que “toda pesquisa social empírica seleciona evidências para argumentar e necessita justificar a seleção que é a base de investigação, descrição, demonstração, prova ou refutação de uma afirmação específica” (BAUER; AARTS, 2002, p. 39). Nesta perspectiva, a busca de tais evidências se deu em dois ambientes: nas manifestações de rua realizadas no Recife dentre as quais, selecionamos uma para fazer um registro de base etnográfica; e também a partir de nossa própria participação em comunidades de redes sociais na internet. Compreendidas como atos estéticos, as manifestações na rua – das passeatas aos acampamentos – serão contextualizadas no âmbito de um conjunto de mobilizações populares que vêm ocorrendo no país e no exterior, desde 2011.

A participação nos acontecimentos nas ruas se tornou, assim, um eixo central a partir do qual seriam identificadas “pistas” de diferentes dinâmicas que se relacionassem com o problema de pesquisa. Uma vez que esses movimentos são fortemente ancorados no uso das tecnologias digitais – especialmente contando com a mobilidade e conectividade –, na mobilização e organização das ações via redes sociais na internet, o exercício central foi costurar os dados empíricos propiciados por estas fontes ao longo do trabalho. Deste modo, organizamos um campo fragmentado, composto por vivências diretas relatadas, fotos, vídeos e diálogos em páginas de eventos e de comunidades virtuais nas redes sociais digitais, inseridos na atmosfera dos estudos de inspiração etnográfica,

[...] que não a utilizam como metodologia, mas apenas como narrativa ou que se utilizam de partes dos procedimentos etnográficos de pesquisa, mas não chegam a ir a campo, porém podem incorporar protocolos metodológicos e práticas de narrativa como histórias de vida, biografias ou documentos para compor a análise de dados [...] (FRAGOSO, RECUERO, AMARAL, 2012, p. 168).

Para dar base aos passos de operacionalização do método como observadora participante, os registros etnográfico e fotográfico da experiência na rua se tornaram o ponto de partida para a construção do campo fragmentado. No relato em questão, darei a compreender como as dinâmicas percebidas no ambiente da passeata são produzidas, percebidas, oferecendo, ao mesmo tempo, uma interpretação sobre seus possíveis significados no contexto das mobilizações sociais em curso no país. Neste sentido, experimentei um

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confronto pessoal com um ambiente extremamente familiar e do qual já havia tomado parte inúmeras vezes – o das passeatas e manifestações políticas –, mas com o qual guardaria, ali, naquele dia 20 de junho, um profundo estranhamento devido a serem os modos de organização muito diversos daqueles aos quais estava habituada.

Os passos dados anteriormente foram indispensáveis para a preparação dessa jornada: os estudos bibliográficos já concretizados e o redimensionamento dos mesmos; o monitoramento das revoltas populares, que vinha sendo feito desde 2011; e a própria trajetória como militante feminista, que já oferecera inúmeras oportunidades de participação e organização de mobilizações de rua. Outro dado preparatório importante a considerar foi o fato de ter tomado parte em alguns debates e diálogos virtuais, no Facebook, sobre as manifestações de junho. Isto se deve ao fato de que esta tem sido uma atividade sistemática, ao lado da participação em audiências públicas presenciais, em debates e em outros tipos de atividades presenciais e à distância relacionados ao #OcupeEstelita14, a partir de 2012, na cidade do Recife.

A articulação entre a pesquisa de campo a partir de uma experiência na rua e a construção do campo fragmentado nos permitiu constituir um corpora dinâmico (MARICATO, 2010). Em outras palavras, sua construção teve como ponto de partida uma temática inicial e o objetivo da investigação e se processou junto com o percurso traçado pelo objeto enquanto este estava em pleno tempo de acontecimento. A instabilidade e incertezas características do processo exigiram a elaboração de uma estratégia de busca para garantir sua precisão. Nesta perspectiva, o próprio delineamento do tema – a comunicação como processo que propicia a articulação entre experiência sensível e a realização da política – se deu a partir do levantamento inicial das informações que circulavam na internet sobre as rebeliões populares que se espalhavam pelo mundo e que resultaram na elaboração do anteprojeto submetido à seleção.

Posto isso, a estratégia tomou, como ponto de partida para a construção do campo fragmentado, o registro etnográfico da passeata 1º Ato “À luta Recife!” e os registros fotográficos feitos por mim e por uma amiga que me acompanhava nesta ocasião15. Assim, quatro tipos de corpus, entre textos e imagens, considerados como significantes da vida social

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Protesto festivo que envolveu um conjunto de atividades artístico-culturais, de caráter político, autogestionadas, visando chamar a atenção da sociedade para o problema que pode ser causado em decorrência do Projeto Novo Recife  iniciativa do setor imobiliário que prevê a construção de um luxuoso complexo empresarial, turístico e residencial em uma região central, conhecida como Cais José Estelita.

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É importante esclarecer que no momento da passeata eu me encontrava acompanhada por pessoas amigas. Assim, em alguns momentos do relato dessa experiência, no capítulo 3, será necessário fazer tal distinção, com a finalidade de apontar com clareza quais reflexões sobre a experiência são oriundas do processo de pesquisa.

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(BAUER; AARTS, 2002) foram articulados aos registros na rua, formando então o corpora. São eles: 1) um conjunto de posts e respectivos comentários tecidos durante as fases de preparação, realização e repercussão da passeata, que se constituíram como debate e tiveram como fonte a comunidade do grupo Direitos Urbanos (DU), no Facebook; 2) nove manifestos, cartas e notas públicas, alusivos à passeata e ao contexto em que ela estava inserida (ver Anexos); 3) seis enquetes produzidas, votadas e debatidas on line no ambiente da página do evento; e 4) um conjunto de memes coletados na internet e nos cartazes de rua.

É importante destacar que os memes representaram o elemento-surpresa da coleta, uma vez que se constituem como evidências capazes de produzir pistas sobre eventuais mudanças que se observam no regime de enunciação produzido nestas manifestações, de modo a permitir novas janelas de leitura dos processos de autocomunicação de cunho político produzidos no ambiente das ruas e nas redes.

Situações reais foram tomadas, aqui, como ponto de partida para construir a resposta ao problema de pesquisa, a partir da interpretação livre dos dados localizados e identificados durante a experiência de rua. As percepções construídas neste ambiente serão cotejadas com narrativas localizadas na internet, permitindo-nos, à luz da teoria, estabelecer conexões e sentidos entre diferentes dados qualitativos.

No caso das narrativas textuais – sejam aquelas apresentadas na internet sejam as produzidas nas ruas –, importa fazer um esclarecimento, dado que, devido às suas características particulares, imagens e textos devem ser analisados separadamente. Buscamos seguir esta orientação. Entretanto, não é possível nos restringirmos a esta separação, sob pena de perdermos possibilidades de leituras mais complexas quando imagens e textos são postos em relação. Isto ocorre porque a combinação desses dois elementos textuais define um hibridismo, que predomina nas narrativas construídas na internet e, em particular, nas comunidades de redes sociais digitais. De modo geral, imagens próprias (ou apropriadas a partir de outras fontes) são postadas com algum comentário. A depender do teor do post, do contexto em que se encontra e do tipo de página em que foi postado, pode gerar novos comentários, constituindo debates os quais, por sua vez, podem vir associados a novas fotos, documentos, vídeos.

Ao mesmo tempo, a linguagem da internet tem influenciado fortemente os novos modos de autoenunciação nas ruas onde os cartazes pessoais apresentados nas passeatas e manifestações guardam fortes semelhanças com os memes digitais, que são construídos a partir de uma intervenção textual associada a uma ou várias imagens, residindo aí a sua força.

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Pelos motivos expostos nesta dissertação, tornou-se importante fazer uma articulação entre imagem e texto, considerando esta composição híbrida em suas diferentes formas de manifestação. Partindo deste pressuposto, as interpretações buscaram apontar contradições entre os vários textos como expressões dos afetos presentes na comunicação que se estabelece entre as redes e as ruas, de modo que nos seja possível demonstrar, com base em pressupostos teóricos, os contornos desta que é uma experiência de construção do comum.

Nesse sentido, reportamo-nos a Manuel Castells (2009) quando explicita que a contemporaneidade é marcada pela coexistência, interação e complementaridade de três tipos de comunicação, com características e alcance diferenciados: a comunicação interpessoal na qual os interlocutores são os sujeitos de uma comunicação marcada pela interatividade; desta, se distingue a comunicação social, que implica a difusão de informações na sociedade em larga escala e de modo unidirecional, realizada pelos grandes veículos de comunicação de massa; já a terceira forma de comunicação, que transita entre o interpessoal e o social, é conceituada como autocomunicação de massa – um tipo de comunicação interativa, em que o sujeito tem plena autonomia para emitir mensagens, selecionar quem e quando irá recebê-las, organizar suas próprias redes sociais e como as informações serão digitalizadas na forma de hipertexto cognitivo e formativo (CASTELLS, 2011a), além de ter potencial para se tornar uma audiência global (CASTELLS, 2009).

Embora reconheçamos o papel da mídia de massa tradicional na repercussão desses acontecimentos, focamos a coleta de dados junto a comunidades de redes sociais na internet e nas ruas, por compreendê-las como espaços nos quais reverbera a autocomunicação de massas. Sendo assim, são os canais de expressão direta dos sujeitos (individuais e coletivos) da ação que tomam a palavra para falar em seu próprio nome, sem intermediários. Nesta perspectiva, a autocomunicação de massas dá continuidade a uma tradição dos movimentos sociais de produzirem sua própria comunicação com vistas a romper o silêncio da cidadania e com o intuito, como afirma Astelarra (1992, p. 53), de “[...] gerar projetos coletivos que permitam às cidadãs e aos cidadãos sentirem-se identificados com eles”16. Por outra parte, a composição do contexto foi pautada, principalmente, em notícias, artigos e reportagens veiculados na rede, sites, blogs, fotologs, portais da grande imprensa e, sobretudo, de coletivos organizados e atuantes nessas manifestações.

Assim, os corpora, compreendidos como coleções de dados de linguagem, foram estruturados a partir dos seguintes parâmetros: o tipo de canal utilizado – neste caso, um

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Tradução livre. No original: “[...] generar proyectos colectivos que permitan a las y los ciudadanos sentirse identificados con ellos”.

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canal misto, já que a internet e o Facebook, em particular, oferecem possibilidade de incluir texto, som e imagem; com temática política e função de expressar os afetos. É importante observar que, no território da internet, nem sempre esta função é separada de outras, como mobilizar para um evento, debater suas formas de organização, dentre outras, o que exige muita atenção para com esta sobreposição.

A escolha da internet como campo e instrumento de pesquisa se deu pelo fato de que, ao mediar as relações sociais, as TICs se tornaram um elemento central em diferentes processos da sociabilidade e da organização política que instituem os movimentos contemporâneos  na mediação das relações interpessoais e coletivas, nas tomadas de decisão, na criação e desenvolvimento de estratégias de ação; na implantação de ações compartilhadas; na sua documentação e difusão em tempo real; e na construção compartilhada de sua memória.17, neste sentido, concordando com Christine Hine quando afirma que a internet pode ser observada tanto como cultura própria, destacada do mundo off-line, quanto como artefato cultural (HINE, 2000; 2005 apud FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2011).

Ao reconhecer o grau de inserção das TICs – em particular da internet e da telefonia móvel – na vida cotidiana e na cultura, afirmamos como parte fundamental do método a integração dos âmbitos on-line e off-line assim como a interdisciplinaridade. Isto porque esse fenômeno aponta para a necessidade de se fazer algumas interrogações sobre as mudanças que ocorrem hoje nas formas de organização da sociedade civil as quais produzem um movimento de mão dupla: de um lado, continuidade e atualização da práxis de movimentos que lhes antecederam; de outro, inovações e rupturas. Nesta perspectiva, importa aqui sublinhar a inter-relação entre “vida social online e os mundos da ‘vida real’” (KOZINET, 2010, p. 2 apud FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2011, p. 175), onde a internet se oferece como um aparato metodológico expressivo para a compreensão de como os processos de comunicação digital, em tempos de convergência de mídias, de portabilidade e de mudanças significativas nos processos produtivos colaborativos, impactam as mobilizações sociais contemporâneas que, por sua vez, repercutem nos modos de organização das ações em movimentos.

Nesse ambiente, coletamos os recursos documentais identificados em sites, blogs,

fotologs, comunidades de redes sociais digitais (blogs, sites, comunidades e fanpages no

Facebook), portais de notícias das mídias corporativa e alternativa, disponíveis no ambiente

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O uso de redes telemáticas em ONGs, no Brasil, por exemplo, remonta ao final da década de 80, início dos 90, por meio do Alternex, nodo da Association for Progressive Comunication (APC) no Brasil, coordenado, na época, pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e, desde então, passou a ser utilizada em larga escala por estas organizações e movimentos sociais em conexão com outros países. O recurso foi amplamente utilizado em mobilizações internacionais durante o Ciclo Social de Conferências da ONU, naquela década.

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digital. Além destes, foram úteis alguns bancos de dados acessíveis por meio da licença

Creative Commons, que incluem imagens (fotos, videoclipes, documentários, filmes,

reportagens, materiais gráficos, mapas), áudio e textos (panfletos, atas de assembleias, artigos acadêmicos, materiais pedagógicos, dentre outros).

É importante frisar que alguns dados sobre os fatos ocorridos começaram a ser coletados e/ou produzidos em momentos muito próximos à sua produção, por vezes, quase em tempo real, em meio a dinâmicas comunicacionais pessoais. Enquadra-se nesta categoria, por exemplo, o acompanhamento do intercâmbio de informações, comentários e debates produzidos no ambiente do Facebook, alguns dos quais têm a duração de vários dias. Neste

site de relacionamento, esses tipos de diálogos ocorrem, principalmente, nos feeds de notícias

– espaço central que aparece na tela quando acessamos a rede – das páginas de eventos, grupos, fanpages e nas páginas pessoais.

O feed funciona como um mural no qual há a atualização permanente de históricos de pessoas, páginas e comunidades seguidas pelos usuários. Por meio dele, é possível acompanhar mudanças no status, fotos, vídeos, links, atividade de aplicativos e a opção “curtir”. A permissão para ser visualizado e contar com a contribuição de terceiros é definida por cada usuário ou administrador da página – o que dá uma medida do grau de privacidade, da rede de relações e da participação. Em todos os casos, é possível haver moderação ou não. O papel do moderador é mediar o debate e, eventualmente, cortar a possibilidade de uma participação, caso esta seja considerada ofensiva.

Outro espaço onde podem ocorrer debates é o campo de mensagens privadas por inbox que permite que dois ou mais perfis participem. Também ali, é possível postar imagens, vídeos, áudios e documentos. Assim, este espaço pode ser utilizado para reuniões virtuais não tão ampliadas, que permitam coordenar processos de mobilização.

Os dados obtidos por meio do Facebook são aqueles que ocorreram nesses espaços que são públicos. Mesmo assim, tomei o cuidado de omitir os perfis, para proteger as fontes. Devido ao interesse em observar como se dava o debate espontâneo, este estudo não incluiu entrevistas. A intenção era dar relevância ao conteúdo da comunicação compartilhada na rede. Esses debates foram capturados por meio da tecla print screen, em tempo real, outros foram localizados a partir de pesquisa posterior motivada pelo aparecimento de algum tema ou questão que não havia emergido de imediato. Um problema decorrente deste tipo de dinâmica, é que, por vezes, algumas das informações são retiradas do ar sem que possamos recorrer a elas para checar alguma informação que tenha escapado no primeiro exame. Foi o que

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ocorreu, por exemplo, com a página do evento no Recife, que foi intitulada com a hashtag #1ºAtoÀLutaRecife! que, depois de alguns meses, foi retirada do ar.

Para conhecer melhor a dinâmica dessas “páginas de eventos”, importa saber que elas contam com as informações básicas, tais como data, local, horário, descrição do evento, foto