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David Bentley Hart, The Doors o f the Sea: Where Was God in the Tsunami? (Grand Rapids: Eerdmans, 2005).

No documento Contra o Calvinismo Roger Olson.pdf (páginas 124-129)

Sim para a soberania divina; não para o determinismo divino

O PROBLEMA DA REPUTAÇÃO DE DEUS

52. David Bentley Hart, The Doors o f the Sea: Where Was God in the Tsunami? (Grand Rapids: Eerdmans, 2005).

53. Ibid., 89. 54. Ibid., 91.

Sim para a soberania divina; não para o determinismo divino

Considero útil citar Hart com certa extensão conforme ele expressa meus sentimentos e os sentimentos da maioria dos não calvinistas acerca do determinismo divino do calvinismo, incluindo 0 pecado, 0 mal e 0 sofrimento inocente, de maneira tão clara e corajosa:

Alguém precisa considerar 0 preço no qual este conforto [a saber, de que 0 orador calvinista que pregou “ Deus matou meu filho”] foi comprado: ele exige que acreditem os e que am em os um Deus cujos fins bondosos serão realizados não apenas apesar de - mas totalmente por forma de - toda crueldade, cada miséria fortuita, cada catástrofe, cada traição, cada pecado que 0 mundo já conheceu, ela exige que acreditemos na necessidade espiritual eterna de uma criança morrem do uma morte agonizante de difteria, de um a jovem mãe devastada pelo câncer, de dezenas de milhares de Asiáticos engolidos em um instante pelo mar, de milhões assassinados em cam pos de exter- mínio e cam pos de trabalhos forçados [gulags] e fomes forçadas (e assim por diante). De fato é uma coisa estranha buscar a paz em um universo tornado moralm ente inteligível á custo de um Deus tornado moralm ente repugnante 55.

Com grande relutância, pois sei que isso pode ofender profundamente alguns calvinistas, eu só posso dizer am ém!

Sem dúvida, alguns calvinistas objetarão e dirão que Deus apenas per-

mite 0 pecado e 0 mal e 0 sofrimento inocente: ele, de fato, não os causa.

E ele os permite sem culpa, sem participar do próprio pecado e do mal. A resposta para esta objeção à crítica devastadora de Hart deveria ser óbvia a partir das citações de calvinistas fornecidas acima. Os pensadores evan- gélicos Jerry Walls e Joseph Dongell corretamente enfatizam em Why I Am

Not a Calvinist que a linguagem frequentemente utilizada de permissão “não

cai bem com o calvinismo sério”56, ainda que alguns calvinistas, tais como Sproul e Helm, recuam e fazem uso dela para evitar qualquer implicação de que Deus seja a causa do pecado, mal ou 0 sofrimento inocente.

55. Ibid., 99.

56. Jerry Walls and Joseph Dongell, Why I Am Not a Calvinist (Downers Grove, IL; InterVarsity Press, 2004), 125.

Contra o Calvinismo

Walls e Dongell corretamente enfatizam que o próprio Calvino rejei- tava essa linguagem de perm issão de Deus como inapropriada para a soberania de Deus 57. É verdade, alguns calvinistas utilizam esta lingua־ gem, mas “ se Deus apenas permite certas coisas sem especificamente as causar, é difícil ver como isso se encaixaria com a reivindicação calvinista de determinismo todo abrangente” 58 (O filósofo Walls define determinismo como “a visão de que todo evento deve acontecer exata- mente como aconteceu em razão de condições prévias”59)

De acordo com Walls e Dungell e muitos outros críticos meticulosos do calvinismo, um a profunda incoerência jaz no cerne da afirmação calvinista de soberania divina exaustiva, determinismo divino e mera perm issão do mal: “ Para um determinista - e esta é uma questão cru- ciai - nenhum evento pode ser visto em isolamento a partir dos eventos que 0 causam. Quando m antem os isso em mente, é difícil ver como os calvinistas podem falar de quaisquer eventos ou escolhas como sendo

permitidos" 60. Eles pegam a alegação de Sproul de que o mal se origina

do caráter mal feito de disposições más. Esta é a tentativa de Sproul (e de outros calvinistas) de impedir fazer de Deus o autor do mal porque é dito que Deus preordena e torna certo certas ações ao passo que 0 mal deles flui dos desejos pecam inosos dos atores finitos. O motivo de Deus na preordenação e no ato de tornar certo o pecado é moralmente puro, e ele não coage ninguém a pecar. Assim sendo, diz-se que Deus meramente permite o pecado e a ação má ao passo que ao m esmo tempo Ele 0 torna certo.

Walls e Dungell corretamente questionam a incoerência deste relato do papel de Deus no mal, pois a questão inevitavelmente surge: De

57. Ibid., 126. 58. Ibid.

59. Ibid., 98 - 99. 60. Ibid., 129.

Sim para a soberania divina; não para o determinismo divino

onde vêm a disposição má e os desejos maus da criatura? Aqui está um dos calcanhares de Aquiles do calvinismo ao fazer uso de Faraó como éstudo de caso (pois Sproul culpa as más ações de Faraó como resultado de seu caráter mau e não em Deus que as preordenou). Walls e Dungell enfatizam que “ Faraó não se tornou a pessoa que ele era em um vá- cuo. Antes, 0 caráter dele foi formado por uma longa série de eventos e escolhas, sendo que todas as escolhas e eventos foram determinados por Deus (de acordo com 0 calvinismo)”61. Em outras palavras, para ser consistente, o calvinismo deve dizer que até m esmo 0 caráter mal de Faraó, no final das contas, vem de Deus. (Imagine um universo em que apenas Deus e a primeira criatura existem. De onde 0 primeiro impulso mal vem, se não do livre-arbítrio da criatura, que 0 calvinismo nega, exceto no sentido compatibilista, ou de Deus?

Walls e Dongell, então, perguntam: “ Qual é 0 sentido, então, de dizer que Deus permitiu as ações de Faraó, dado este cenário” do papel de Deus em tornar tudo certo, sem exceção? 62 Eles ressaltam que “a noção de perm issão perde todo 0 significado importante em uma estrutura calvinista. Portanto, não é de se surpreender que 0 próprio Calvino es- tivesse duvidoso da ideia e que advertiu contra 0 uso dela” 63. Por fim, Walls e Dungel resumem todo o problema de maneira concisa e vigorosa: “o calvinismo enfrenta problemas para descrever 0 pecado e 0 mal de maneira que seja moralmente plausível. Pois se Deus determina tudo que acontece, então é difícil entender por que há tanto pecado e mal no mundo e por que Deus não é responsável por isso” M.

Apelar, então, para a permissão de Deus do pecado e do mal não se enquadra com a forte doutrina do calvinismo rígido da soberania de Deus.

61. Ibid., 130.

62. Ibid., 131. 63. Ibid., 132. 64. Ibid.. 133.

Contra

0

Calvinismo

Reconhecidamente, muitos calvinistas, de fato, apelam para a permissão, mas isso não torna melhor as outras coisas que dizem do plano e ação totalmente determinante de Deus em tornar tudo, sem exceção, certo.

Alguns calvinistas defendem a bondade de Deus em basada no que é cham ada na teodiceia de “bem m aior”. (Teodiceia é qualquer tentativa teológica ou filosófica para justificar as ações de Deus em face do mal). Na verdade, até onde posso dizer, todos os calvinistas incorporam algu- m as versões de defesa do bem maior da bondade de Deus em face do pecado e do mal em suas doutrinas da providência. Walls e Dungell se referem especificamente a Paul Helm. O problema, eles enfatizam (e eu diria outro calcanhar de Aquiles do calvinismo), é a crença na decisão divina de reprovar muitas pessoas para 0 inferno ao soberanam ente “ ignorá-los” ao passo que escolhe salvar alguns. Em qual sentido pode- -se dizer que 0 inferno serve a um bem maior? Qual bem? Falarei mais sobre isso no capítulo 5, que lida com a eleição incondicional.

Gostaria de fazer uma pausa aqui e de deixar algo claro. Se 0 calvi- nismo rígido estiver dizendo qualquer coisa diferente em sua doutrina da providência, é que Deus intencionalmente planeja e torna certo e controla tudo sem exceção. Falar de Deus como m eramente permitindo 0 pecado e 0 mal e 0 sofrimento inocente fica em contraste extremo com sua forte doutrina da providência. Se fo r lógico para os calvinistas dizer que Deus permite ou concede 0 mal, eles só podem querer dizer isso em um sentido altamente atenuado e incomum de “ permitir” e “conceder” - um sentido que está fora da categoria de linguagem da maioria das pessoas. Dizendo de maneira direta, mas clara, de acordo com 0 calvinismo rígido, Deus quer 0 pecado, o mal e que 0 sofrimento inocente aconteçam ainda que, como alguns calvinistas tal como John Piper diz, que isto machuque a Deus. E ele quer que estas coisas acon- teçam de maneira causai; ele as torna certas.

Vamos exam inar um estudo de caso que a maioria dos calvinistas fica relutante em lidar. Vejo que a maioria de seus estudos de caso da

Sim para a soberania divina; não para o determinismo divino

soberania de Deus é acerca da perm issão misericordiosa de Deus de sofrimentos na vida dos cristãos para deixá-los mais fortes. Veja, por exemplo, o livro O Sorriso Escondido de Deus,65, de autoria do Piper, em que ele explica como a intensa aflição ajudou a fortalecer as vidas espirituais de heróis cristãos John Bunyan, William Cowper e David Brainerd. Mas 0 que acontece se, nos desviarm os deste tipo de aflição disciplinar que Paulo, no Novo Testamento, claramente diz que Deus

realmente traz para as vidas dos cristãos para 0 próprio bem deles e para

sua glória e nos voltarmos para dois outros tipos de aflição: 0 intenso sofrimento de uma criança morrendo de câncer e 0 seqüestro, estupro e morte de uma criança.

Se 0 calvinismo rígido estiver certo, não temos escolha a não ser atribuir estas aflições terríveis á Deus tanto quanto atribuímos as aflições de Bunyan, Cowper e de Brainerd à Deus. Não há como escapar disso, dado 0 que os calvinistas dizem acerca da soberania do “controle preci- so e m eticuloso” de Deus que controla cada curva e cada volta de todo átomo e pensamento. De acordo com os calvinistas os sofrimentos de uma criança não estão isentos [de serem atribuídos à Deus], ainda que eles raramente toquem no assunto.

Então, volte comigo para 0 incidente previamente mencionado onde eu disse que visitei a amiga de minha filha no hospital. No corredor, não muito distante, pude ouvir uma criança pequena, talvez de dois ou três anos de idade, gritando em agonia entre tosses horríveis e ânsias de vômito. A pobre criança estava sendo segurada por alguém que falava de maneira calma e suave com ela enquanto ela tossia incontrolavelmente e então gritava mais um pouco. Não era de forma alguma uma birra normal ou costumeira de crianças ou um grito de desconforto. Jam ais ouvi algo igual àquilo antes e desde aquele evento, até m esm o na TV. Meu pensamento constante era: “ Por que alguém não faz algo para aliviar

65. PIPER, John. O Sorriso Escondido de Deus. Traduzido por Augustus Nicodemus. São

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