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Adrio Kõnig, Here Am I! A Believer's Refection on God (Grand Rapids: Eerdmans, 1982).

No documento Contra o Calvinismo Roger Olson.pdf (páginas 43-49)

Calvinismo de quem? Qual teologia reformada?

TEOLOGIA REFORMADA EM PERSPECTIVA HISTÓRICA

13. Adrio Kõnig, Here Am I! A Believer's Refection on God (Grand Rapids: Eerdmans, 1982).

Calvinismo de quem? Qual teologia reformada?

berania de Deus e afirmou, em seu lugar, um Deus que se autolimita, que sofre a rejeição humana e 0 mal e que convida as pessoas para um relacionamento pactuai consigo m esmo sem preordenar ou determinar suas escolhas. Novamente, assim como com Berkhof e outros teólogos reformados revisionistas aqui mencionados, a maioria dos arminianos, se não todos, assinariam de bom grado em concordância com estas visões reformadas da soberania de Deus.

Estou bastante cônscio, claro, que os teólogos calvinistas reformados mais tradicionalistas e seus seguidores tratarão estes revisionistas des- controlados como desertores da tradição [reformada]. Os revisionistas provavelmente responderiam que os tradicionalistas estão esquecendo o lema reformado “reformado e sempre reformando”. Até mesmo a própria tradição reformada precisa de reforma e, de acordo com os revisionistas, ela nunca esteve tão frágil a ponto de ser incapaz de mudar. Contudo, é preciso admitir que, especialmente nos EUA nos anos recentes, com a ascensão do novo calvinismo, o termo “ reformado” é mais comumente utilizado nos círculos protestantes evangélicos para o sistema soterio- lógico da TULIP (sem, naturalmente, excluir outros aspectos da crença reformada). Mas tal utilização é necessariamente uma definição precisa do termo reformado? Até mesmo entre os evangélicos nos EUA 0 termo “ reformado” é descrito de maneiras bastante distintas.

Como minha primeira testemunha eu chamo 0 conhecidíssimo e am- piamente reconhecido teólogo e historiador reformado Donald McKim, editor de um livro de referência para a editora presbiteriana Westminster John Knox Press e ex-professor de teologia em vários seminários reforma- dos e presbiterianos, incluindo 0 Memphis Theological Sem inary (onde ele também atuou como reitor) e a University of Dubuque Theological Seminary. McKim formou-se bacharel pelo Westminster Theological Se- m inary (um baluarte de teologia reformada conservadora) e obteve PhD pela University of Pittsburgh. Durante sua carreira ele editou e escreveu inúmeros livros sobre a teologia reformada, incluindo The Encyclopedia

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o f the Reformed Faith, The Westminster Handbook to Reformed Theology,

and Introducing the Reformed Faith.'4. Praticamente por todos os aspec- tos, McKim é uma autoridade confiável acerca da teologia reformada.

De acordo com McKim, “cada igreja ou grupo de igrejas... tem sua própria definição do que significa ser “ ‘reformado’” 15 Em outras palavras, de acordo com este perito, “ reform ado” não é uma categoria monolítica ou fechada; 0 termo é, na verdade, um conceito essencialm ente contes- tado. E ele afirma que 0 termo é uma tradição viva ainda em processo16. Todavia, isso não significa que 0 termo seja vazio ou pertença a uma categoria vazia. Antes, de acordo com McKim, devemos tratar 0 termo como uma família diversificada — a “família reform ada” que traça sua ancestralidade à João Calvino de Genebra e a um período ainda mais remoto. “A fé reform ada...tem sua árvore genealógica” , declara McKim, e como todas as árvores genealógicas, ela é repleta de diversidade17.

Um aspecto desta diversidade, de acordo com McKim, pode ser visto nas diferenças entre a própria abordagem de Calvino para a teologia e a de seus seguidores. “ Embora Calvino tivesse uma mente sistemática brilhante, seus sucessores no século XVII sistematizaram sua teologia ainda mais. Ela tornou-se mais detalhada e fundiu-se ao modelo cha- mado escolasticism o” '8. O restante do livro de McKim revela que não considera este desenvolvimento como algo bom.

Como muitos outros acadêm icos da tradição reform ada, McKim 0

descreve em termos de “ semelhanças familiares” em vez de um sistema

14. Donald K. McKim, The Encyclopedia of the Reformed Faith (Louisville, KY: Westminster John Knox, 1992); idem, The Westminster Handbook to Reformed Theology (Louisville, KY: Westminster John Knox, 2001); idem, Introducing the Reformed Faith (Louisville, KY: Westminster John Knox, 2001).

15. McKim, Introducing the Reformed Faith, xiii. 16. Ibid., XV.

17. Ibid., 2. 18. Ibid.

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fechado. Uma sem elhança familiar é 0 confessionalism o — cristãos reform ados frequentem ente confessam sua fé fazendo uso das dos credos históricos do cristianismo (principalmente o Credo Niceno) e as confissões reform adas históricas, tais com o a Fórmula Helvética de Consenso de 1 6 7 5 19. Entretanto, de acordo com McKim, estas confis- sões de fé são sem pre “ relativas” , “tem porárias” e “ provisionais” 20. Ele percebe que nem todas as pessoas reform adas concordarão e dirão: “ Embora alguns órgãos reform ados tenham um a tendência de se tor- narem mais restritos e quase presum em que suas form ulações sejam os únicos m eios de se expressar a verdade de Deus, este impulso está na contramão da verdadeira força vital da fé reform ada”21. Um exemplo da abordagem “ mais restrita” com as confissões reform adas pode ser a obra de Sproul, cujos livros, tal como O Que é Teologia Reformada? que quase trata a Confissão de Westminster como em par de igualdade, em termos de autoridade, com a própria Escritura. (Claro que Sproul negaria isso, mas ele apela à confissão com tanta frequência como se ela fosse uma autoridade incorrigível para 0 cristão e, em especial, para o pensam ento reformado).

O tratamento de McKim, da fé reformada ressalta seus pontos em comuns com outras ramificações do cristianismo; ele inclui capítulos acerca da Escritura como a Palavra de Deus, Trindade e a pessoa de Cristo, onde nada particularmente calvinista é encontrado. Nos capítu- los acerca da providência e salvação, onde alguém esperaria encontrar uma forte ênfase nas particularidades calvinistas, McKim fornece relatos modestos da doutrina reformada. Por exemplo, ao discutir a soberania de Deus na história (providência), ele reconhece que os reformados tradi- cionalmente enfatizam que 0 plano e os propósitos de Deus conduzem a

19. Ibid., 7. 20. Ibid., 8. 21. Ibid., 7.

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criação, história humana e as vidas humanas. O Deus que conhece todas as coisas também deseja todas as coisas “22. Todavia, quando volta-se para o problema de Deus e 0 mal, ele explicitamente nega 0 que muitos consideram o ponto controverso central do calvinismo rígido — que Deus até mesmo preordena e torna certo (“envia”) 0 mal: “ Não falamos de Deus enviando 0 mal sobre nós ou causando tais coisas em nossas vidas que são contrários aos propósitos graciosos, am orosos e de justiça de Deus conforme vem os tais aspectos em Jesus Cristo” 23.

Claro, a maioria dos teólogos reformados nega que Deus realmente “causa” 0 mal em qualquer sentido direto, m as como mostrarei abaixo, muitos calvinistas de fato afirmam que até m esmo 0 pecado e o mal são partes do plano divino preordenado e tornado certo por Deus para se encaixar nos propósitos de Deus para a história. McKim parece querer evitar qualquer implicação de que o mal seja parte do plano de Deus ou que Deus 0 torne certo. Sua versão da soberania de Deus é uma versão abrandada que provavelmente não deixaria muitos dos novos calvinistas e seus teólogos mentores satisfeitos.

Mais surpreendente ainda, talvez, é que McKim sequer menciona a expiação limitada (o “L” na TULIP), também chamada de “ redenção particular” por muitos calvinistas. Seu livro inclui um capítulo inteiro acerca da “ Obra de Cristo” na qual ele discute a doutrina reformada da expiação. Mas podem procurar em vão pela expiação limitada — algo que chocaria muitos calvinistas.

Em seu capítulo acerca da “Salvação: Recebendo 0 Dom de Deus” , McKim alega descrever “ênfases reform adas” , mas diz pouco acerca da eleição ou graça irresistível. Ele coloca mais ênfase na eleição corpora- tiva para serviço do que na eleição incondicional de indivíduos, apenas mencionando resumidamente a última: “Alguns acreditam; outros não.

22. Ibid., 51 - 52. 23. Ibid., 52.

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A explicação para isso está na eterna eleição de Deus” 24. Por fim, pró- xim o do final de seu livro, McKim explica de maneira clara: “ Nem todos os cristãos reformados aderem [aos] ‘Cinco Pontos do Calvinismo’ ”25.

O contraste entre esta descrição da fé reformada e a de Sproul em O

Que é Teologia Reformada? (e em outros livros semelhantes) é descon-

certante. No livro Sproul praticamente iguala a teologia reformada ao calvinismo rígido da TULIP e com uma doutrina da soberania de Deus tão forte e tão absoluta quanto possível: “ Se Deus não é soberano, en- tão ele não é Deus. Pertence a Deus como Deus ser soberano” 26. O contexto deixa claro que por “ soberano” Sproul quer dizer que Deus é o determinador e controlador absoluto de tudo até os mínimos detalhes. O restante do livro apresenta algo bem diferente da que é exposto por McKim; mostra a fé reformada em termos de TULIP, incluindo a dupla predestinação — o decreto de Deus de reprovação de alguns para o tormento eterno no inferno 27.

Temos, portanto, dois acadêmicos renomados da tradição reformada, Donald McKim e R. C. Sproul, definindo e descrevendo-a de maneiras bem distintas. As únicas coisas que eles parecem ter em comum sáo linhagem histórica da herança reformada, incluindo, mas não exclusi- vãm ente determinada por Calvino e uma ênfase na soberania divina considerada como de alguma forma ausente em teologias não reforma- das. Claro, até m esmo Sproul admitiria que “ reform ado” inclui mais do que apenas a TULIP (como McKim incansavelmente argumenta), mas que 0 sistema soteriológico lhe serve como a característica peculiar da teologia reformada ao passo que este m esm o sistema soteriológico não é peculiar para McKim.

24. Ibid., 124. 25. Ibid., 183.

26. SPROUL, R C. O que é teologia reformada? São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p 22. 27. Ibid., 141

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Um teólogo reformado estadunidense que parece andar em uma linha entre McKim e Sproul é Richard Mouw, presidente do Fuller Theological Seminary, cujo livro Calvinism in the Las Vegas Airport28 é uma prazerosa viagem pela teologia reformada conforme entendida pelo autor. Mouw afirma a TULIP sem a colocar na dianteira ou centro como o “elemento mais importante e suprem o” da teologia reformada; para ele a visão reformada de uma sociedade transformada parece mais importante do que uma doutrina particular da soberania de Deus. Contudo, ele diz que ele abraça as doutrinas da TULIP ao passo que admite que há um “gosto ruim acerca destas doutrinas” 29 É fácil discernir que Mouw sente-se des- confortável com a ênfase do calvinista clássico na TULIP e, em especial, com as maneiras na qual a ênfase é geralmente expressada. “ Devo... dizer francamente que... vejo muitas calvinistas que carecem de man- sidão e respeito. Até mesmo encontro essa ausência de qualidades nas interações de calvinistas com outros cristãos. De fato, os calvinistas não são comumente muito gentis e respeitosos ao debater pontos delicados da doutrina com colegas calvinistas” 30.

O desconforto de Mouw com alguns pontos da TULIP é aparente em seu capítulo sobre 0 “ L” da TULIP — expiação limitada ou redenção particular, ou seja, a ideia de que a morte expiatória de Cristo na cruz foi intencionada por Deus apenas para alguns pecadores (os eleitos). Ele a chama de “doutrina de prateleira” , e que com essa expressão quer dizer que ela é parte de seu sistem a de crença, mas que não funciona em sua vida no seu cotidiano31. Enquanto continua a afirmá-la (ainda que de certa forma revisada), Mouw deseja que a doutrina fique “em

28. Richard J. Mouw, Calvinism in the Las Vegas Airport (Grand Rapids: Zondervan,

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