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Às vezes Calvino soa como um nominalista — alguém que nega que Deus tenha uma natureza que oriente ou controle o que ele faz Isto se dá toda vez que ele diz que Deus

No documento Contra o Calvinismo Roger Olson.pdf (páginas 164-167)

Sim para a eleição; não para a dupla predestinação

UM PROBLEMA PARA O CARÁTER E A REPUTAÇÃO DE DEUS

30. Às vezes Calvino soa como um nominalista — alguém que nega que Deus tenha uma natureza que oriente ou controle o que ele faz Isto se dá toda vez que ele diz que Deus

pode fazer o que Ele quiser, de maneira que suas ações náo precisam ser consistentes com virtudes tais como bondade, amor ou justiça. Em outras vezes, todavia, Calvino

parece ser um realista - alguém que acredita que Deus tenha uma natureza - e, neste caso, suas objeções de que Deus não pode ser acusado de ser injusto (ou odioso), pois tudo 0 que Ele faz é automaticamente justo (ou amável) perdem 0 totalmente peso.

Contra o Calvinismo

perfeitamente, pois, assim prometendo, outra coisa não pretende senão que sua misericórdia seja oferecida somente a todos os que a buscam e imploram, o que outros não fazem, a não ser aqueles a quem ilumina.

Entretanto, Deus ilumina aqueles a quem predestinou para a sal- vação. A estes, afirmo, patenteia-se a veracidade certa e inconcussa das prom essas, de modo que não se pode dizer que houve alguma discrepância entre a eterna eleição de Deus e 0 testemunho que oferece aos fiéis de sua graça 31.

Isso só parece aprofundar 0 mistério. Se esta citação tinha por objetivo responder a pergunta de como estas afirmações concordam perfeita- mente uma com as outras, eu não vejo como isso alcança seu objetivo. Como um grande pensador e comunicador que Calvino foi, eu, às vezes, considero suas explicações obscuras, se não evasivas.

Calvino diz mais acerca do problema. Primeiro, ele defende que “nin- guém perece sem que 0 m ereça” 32. É por isso que Deus é justo em punir os réprobos; eles merecem a punição. Por que eles merecem a punição? Por causa de sua “ malícia e perversidade” 33. Por que eles continuam em sua malícia e perversidade e não se arrependem e creem como os eleitos o fazem? “ Para que atinjam a seu fim, ora os priva da faculdade de ouvir sua palavra, ora mais os cega e os endurece por meio de sua pregação”34. Por que Deus age assim para com os réprobos? “ Em vão se atormenta aquele que aqui procure causa mais alta que o conselho secreto e inescrutável de Deus” 35.

Calvino está chegando em algum lugar no sentido de resolver 0 pro- blema? Não vejo como esse possa ser 0 caso; ele parece simplesmente estar aprofundando 0 dilema da bondade de Deus.

31. CALVINO, Joáo. As Institutas: edição clássica, vol. 3, p. 444. 32. Ibid., p. 438.

33 CALVINO, João. As Institutas: edição clássica, vol. 3, p. 440. 34. CALVINO, João. As Institutas: edição clássica, vol. 3, p. 438. 35. Ibid.

Sim para a eleição; não para a dupla predestinação

Como Calvino interpreta 1 Timóteo 2.3-4, a revelação mais clara de que Deus deseja a salvação de todos os homens? “ Com isto Paulo certamente quer dizer que Deus não fechou o caminho da salvação para qualquer ordem de homens; antes, ele derramou tanto de sua misericórdia que ele não quer ninguém fora dela”. Em outras palavras, todos em 1 Timóteo 2. 3-4 (e sem dúvida em 2 Pe. 3.9) significa que Deus quer pessoas de toda tribo e nação sejam salvos, mas não todas as pessoas. Isso dificilmente se encaixa na linguagem de 1 Timóteo 2.4, todavia, que especificamente diz “todos os hom ens” , significando “todas as pessoas” - não todos os tipos de pessoas.

Então, porque Deus reprova alguns e não elege todos para a salvação? Em alguns lugares Calvino deixa esta questão na esfera do mistério, mas em pelo m enos em uma ocasião ele especula: “foram suscitados para ilustrar sua glória através de sua própria condenação” 36. Os que acusam Deus de ser injusto (ou só acusam esta doutrina de fazer de Deus um ser injusto!) são rejeitados por Calvino como “ discípulo[s] de Porfírio [que] corroem impunemente ajustiça de Deus” 37. Ele impacientemente declara que tudo o que Deus faz é certo e justo sim plesm ente porque é Deus quem faz, e não há explicação nenhum a para o que Deus faz além de “porque assim lhe apraz” 38. Em lugar algum ele sequer tenta justificar a Deus ou reconciliar sua doutrina com 0 am or de Deus. O único am or de Deus que ele m enciona é 0 am or de Deus pelos eleitos.

Felizmente, muitos calvinistas não se satisfizeram em deixar a questão como está. Ao passo que alguém adentra a era moderna e para 0 mundo pós-moderno do início do século XXI, encontramos muitos calvinistas, cada vez mais, interessados em justificar os caminhos de Deus.

Jonathan Edwards escreveu um ensaio completo sobre “A justiça de Deus na Condenação de Pecadores”. No ensaio ele ficou bem perto da

36. CALVINO, João. As Institutas: edição clássica, vol. 3, p. 440. 37. CALVINO, João. As Institutas: ediçào clássica, vol. 3, p. 438. 38. CALVINO, João. As Institutas: edição clássica, vol. 3, p. 408.

Contra o Calvinismo

abordagem de Calvino, embora de certa forma mais enfática e mais defensiva (talvez em virtude da crescente tendência do Iluminismo à questão da justiça de Deus). Mais uma vez, assim como foi com Cal- vino, a ênfase de Edwards repousa sobre a justiça de Deus em vez de seu amor, que ele dificilmente menciona. Veja 0 que Edwards diz aos que questionam a justiça de Deus na condenação eterna no inferno dos que ele preordenou e ainda tornou certa a queda em pecado e a perm anência no pecado:

Quando os hom ens caem e tornam-se pecaminosos. Deus, por sua soberania, tem 0 direito de determ inar acerca dos hom ens conform e lhe apraz. Ele tem 0 direto de determ inar se irá ou não redimir o ho- mem. Ele poderia, caso isto lhe tivesse agradado, ter deixado todos para perecer ou poderia ter redimido a todos. Ou, ele poderia redimir a alguns e abandonar outros; e se ele assim 0 desejar, ele pode salvar a quem lhe apraz e abandonar a quem lhe apraz 39

Isto dificilmente resolve 0 problema da justiça de Deus, entretanto, quanto aos “hom ens” que estão caídos, a quem Deus tem 0 direito de tratar como ele desejar, caíram pela preordenação e 0 poder predestinador de Deus. Mais uma vez, a questão que surge naturalmente e que Edwards não responde é esta: “ Qual significado “bondade” , “justiça” e “am or” têm em tal contexto? Assim como Calvino, Edwards parece mais interessado em colocar de lado todas e quaisquer perguntas acerca da justiça de Deus na reprovação e punição das pessoas. A única resposta que ele oferece é que tudo o que Deus faz é certo e está acima da crítica. Ele simplesmente pressupõe que sua interpretação do que Deus faz é a única interpretação razoável à luz de passagens bíblicas como a de Romanos 9.

O que Boettner diz acerca da bondade de Deus à luz de sua reprova- ção das pessoas? Ele primeiramente deixa claro, indubitavelmente, que

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