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ALTERNATIVAS AO DETERMINISMO DIVINO

No documento Contra o Calvinismo Roger Olson.pdf (páginas 143-149)

Sim para a soberania divina; não para o determinismo divino

ALTERNATIVAS AO DETERMINISMO DIVINO

A Bíblia exige aceitação da doutrina calvinista rígida do determinismo divino? Ela não exige. O que dizer de todas as passagens bíblicas que os

104. SPROUL, R.C. Eleitos de Deus, Editora Cultura Cristã, 2002, p. 29.

Contra o Calvinismo

calvinistas utilizam para argumentar a favor da preordenação exaustiva e determinação de todos os eventos, incluindo 0 pecado e o mal? Algumas destas passagens foram m encionadas anteriormente. Cada passagem que supostamente ensina a determinação divina do mal, sofrimento ino- cente e o pecado pode ser interpretada como se referindo ã permissão de Deus. Praticamente todos os cristãos concordam que nada acontece sem a perm issão de Deus. A pergunta é se o calvinismo está realmente permitido a recuar e utilizar a linguagem de perm issão quando já diz que Deus deseja tudo 0 que acontece, incluindo 0 pecado e 0 mal, e que a perm issão de Deus é “perm issão desejosa” que ativamente torna tanto 0 pecado quanto 0 mal certos. A principal alternativa a esta forte doutrina da soberania de Deus é a autolimitação divina.

Primeiro, que fique entendido de maneira clara que os que apelam para a autolimitação divina e a perm issão passiva como explicação para 0 pecado e 0 mal no mundo do Deus criador e onipotente não dizem que Deus jam ais manipula circunstâncias históricas para realizar sua vonta- de. O que Deus nunca fa z é causar 0 mal. Deus pode e, sem dúvida, ás vezes, realiza algum evento ao colocar pessoas em circunstâncias onde ele sabe o que eles farão livremente, pois ele precisa que elas façam tal coisa para que seu plano seja realizado. Tal parece ser 0 caso com a cru- cificação de Jesus. Mesmo nesta situação, entretanto, não foi Deus quem tentou ou manipulou as pessoas para que pecassem . Antes, ele sabia quais eventos, tal como a entrada triunfante, resultariam na crucificação.

Mas 0 que não devemos dizer é que a queda de Adão, que deu ori- gem a toda a história do pecado e do mal, foi desejada, planejada e tornada certa por Deus. Deus não preordenou e nem tornou a queda certa, e ela também não era parte de sua vontade, exceto no sentido de relutantemente a permitir. Como sabem os disso? Sabemos disso porque conhecemos 0 caráter de Deus através de Jesus Cristo. A doutrina da encarnação prova que o caráter de Deus é plenamente revelado em Jesus de sorte que “ nenhuma interpretação de qualquer passagem [na Bíblia]

Sim para a soberania divina; não para o determinismo divino

que destrua as revelações da mente divina inculcadas por Jesus pode ser aceita como válida. O que ele diz e faz é 0 que Deus diz e faz. Ele não tem decretos escondidos para acobertar, nenhum lado obscuro de seu Pai para proteger da exposição, nenhuma razão para ser defensivo acerca de [os caminhos de] Deus” 105.

A doutrina calvinista rígida da soberania de Deus, incluindo 0 mal como parte do plano, propósito e poder determinante de Deus, contradiz evidentemente as passagens bíblicas que revelam que “ Deus é am or” (1 João 4.8), que Deus não se deleita na morte do ímpio (Ez. 18.32), quer que todos sejam salvos (Ez. 18.32; 1 Tm. 2.4, 2 Pe. 3.9) e jam ais tenta a ninguém (Tg. 1. 13). De fato, os calvinistas possuem explicações inteligentes, mas não convincentes, destas e inúmeras outras passagens bíblicas. Por exemplo, John Piper argumenta que Deus tem “ sentimen- tos e motivos com plexos” 106 de sorte que genuinamente lamenta que 0 pecado e 0 mal façam parte deste mundo, deseja genuinamente que todas as pessoas possam ser salvas e que se entristece quando os que ele predestinou a morrer e até m esm o a sofrer no inferno pela eterni- dade, para sua glória, experim entam esse destino. Mas estas não são explicações convincentes destas passagens importantes que revelam o coração de Deus. Elas fazem de Deus um ser de mente dividida.

Então como devemos lidar com a realidade do pecado e do mal no mundo de Deus sem colocar limites indevidos ao poder e a soberania de Deus? A única forma é postular aquilo que a Bíblia presume em todos os lugares - uma autolimitação divina em relação ao mundo da liberdade moral, incluindo particularmente a liberdade libertária. Esta liberdade é um maravilhoso e terrível dom de Deus para os seres humanos criados a sua imagem e semelhança. Em outras palavras, Deus permite que sua

105. William G. MacDonald, “The Biblical Doctrine of Election," em The Grace of God, Che Will of Man: A Case fo r Arminianism, ed., Clark H. Pinnock (Grand Rapids: Zondervan, 1989), 213.

106. Piper, The Pleasures of God, 146.

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perfeita vontade seja frustrada por suas criaturas humanas aos quais ele am a e as respeita 0 bastante a ponto para não controlá-las.

Desta forma, Deus realmente possui duas vontades, mas elas não são as postuladas pelo calvinismo. Como resultado da escolha livre de Adão para cair em pecado (escolha livre aqui significa que ele poderia ter feito o contrário), Deus tem uma vontade perfeita - também conhecida como sua vontade antecedente. (“ Perfeito” aqui significa “ 0 que Deus ver- dadeiramente deseja que aconteça”). A perfeita vontade de Deus é que ninguém se perca; esta é a vontade antecedente de Deus (antecedente à queda e a sua corrupção resultante no mundo). Deus também tem uma vontade conseqüente - conseqüente à rebelião das criaturas. É ela que permite alguns a livremente escolher perecer. Mas sua permissão é genuinamente relutante e não manipulativa.

O teólogo evangélico Stanley Grenz (1950 - 2005) ofereceu uma útil distinção na providência de Deus que corresponde às duas vontades - perfeita/antecedente e conseqüente - mencionadas acima. É a distinção entre “soberania de facto” e “soberania de ju re" '07. De acordo com Grenz, com quem concordo, devido a autolimitação voluntária de Deus, ele agora é soberano de jure (por direito), mas não é soberano de facto (em realida- de). Sua soberania de facto é futura. Isto reflete a narrativa bíblica na qual Satanás é 0 “deus deste século” (2 Co 4.4) (onde “ mundo” claramente significa “este presente século m au”) e Deus irá derrotá-lo na era vindoura para tornar-se “tudo em todos” (1 Co. 15.28). A totalidade de 1 Coríntios 15 não pode ser interpretada de outra forma; ela presume a distinção entre a regência soberana de Deus de jure agora e de facto no futuro. Isto não é dizer, claro, que Deus não é agora, na verdade, soberano de forma nenhu- ma; isto só diz que Deus está permitindo que sua soberania seja desafiada e sua vontade seja parcialmente frustrada até então.

107. Stanley J. Grenz, Theoloqy for the Community of God (Nashville, TN: Broadman & Holman, 1994), 140.

Sim para a soberania divina; não para o determinismo divino

Isso não limita o poder e a soberania de Deus? Não, pois Deus perma- nece onipotente, ele poderia controlar tudo e todos se assim o escolhesse. Mas visando ter criaturas reais e pessoas que podem livremente escolher amá-lo ou nâo, Deus limita seu controle. Ainda mais, Deus é soberano no sentido de que nada, de forma nenhuma, jam ais pode acontecer sem que Deus permita. Nada cai fora de sua supervisão e governo interven- tor. Mas nem tudo o que acontece é o que Deus quer que aconteça ou determina que aconteça. Não há determinismo divino exaustivo.

Claro, Jesus, sendo Deus, poderia ter curado todos em Nazaré quan- do esteve no local (Marcos 6.5), mas ele “não podia” realizar milagres lá em razão de falta de fé que ali havia. Como Deus, ele tinha o poder absoluto de realizar milagres. Mas ele havia limitado seu poder simples- mente para realizar milagres na presença da fé. Ele não queria sair e curar as pessoas aleatoriamente, sem certa medida de fé cooperante e receptiva da parte dos moradores de Nazaré. Assim é com a soberania de Deus. Ele poderia exercer 0 controle determinista, mas ele escolheu não 0 fazer. Como o teólogo E. Frank Tupper diz, Deus não é um Deus do tipo “ faz tudo, a toda hora, em todo lugar” , pois ele escolheu não ser este tipo de Deus '08. Ele escolheu se fazer parcialmente dependente de seus parceiros humanos do pacto enquanto que preservando 0 “ poder pactuai superior do santo am or” 109. Este livro tem por intenção enfatizar as fraquezas e até m esmo erros fatais do calvinismo rígido, ou seja, a teologia reformada radical. Não tem por intenção ser uma defesa do arminianismo ou qualquer alternativa ao calvinismo. Tal faria com que 0 livro fosse muito mais extenso e, portanto, por esse motivo, alguém poderia se recusar a lê-lo. O que está faltando nas prateleiras das livra- rias e bibliotecas não são livros sobre o arminianismo ou até mesmo

108. E. Frank Tupper, A Scandalous Providence: The Jesus Story of the Compassion of God (Macon, GA: Mercer Univ. Press, 1995), 334 - 35.

109. Hendrikus Berkhof, The Christian Faith: An Introduction to the Study of the Faith (Grand Rapids: Eerdmans, 1991), 146.

Contra

0

Calvinismo

sobre a soberania autolimitante de Deus em oposição ao calvinismo. O que está faltando é um livro que demonstra o porquê o calvinismo rígido não é sustentável bíblica, teológica e logicamente. Isso é tudo 0 que este livro almeja ser. Ocasionalmente eu mencionarei alternativas ao calvinismo rígido, tal como os livros (acerca da soberania de Deus) de E. Frank Tupper, Λ Scandalous Providence; Gregory Boyd, Is God to

Blame? Jack Cottrell, What the Bible Says about God the Ruler;n0 e prin-

cipalmente David Bentley Hart, The Doors o f the Sea: Where Was God in

the Tsunami? Aqui eu oferecerei um gostinho do ultimo livro citado, que

bem expressa a minha alternativa (ao calvinismo) e de muitos outros cristãos da visão da providência de Deus. Hart explica:

Quão radicalmente 0 evangelho está perm eado por um sentido de que a falência do mundo caído é a obra do livre-arbítrio racional rebelde, que Deus permite reinar, e também por um sentido de que Cristo vem genuinam ente para salvar a criação, conquistar, resgatar, derrotar o poder do mal em todas as coisas. Esta grande narrativa da queda e redenção não é um a farsa, não é sim plesm ente uma lição dramatúrgica concernente as prerrogativas absolutas de Deus prepa- radas para nós desde a eternidade, m as uma conseqüência real do mistério da liberdade criada e da plenitude da graça 111.

110. Frank E. Tupper, A Scandalous Providence׳, Gregory A. Boyd, Is God to Blame?

(Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 2003); Jack Cottrell, What the Bible Says about God the Ruler (Eugene, OR: W ipf & Stock, 2001).

111. Hart, The Doors of the Sea, 97.

capítulo 5

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