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Cad. Saúde Pública vol.12 número4

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Academic year: 2018

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CIÊNCIA E SAÚDE NA TERRA DOS BANDEIRAN-TES: A TRAJATÓRIA DO INSTITUTO PASTEUR DE SÃO PAULO N O PERÍO DO DE 1903-1916. Luiz Antônio Teixeira. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz. 1995. 167 pp.

ISBN 85-85676-14-0

Existe a tra d içã o, tra n sfo rm a d a e m se n so -co m u m , q u e a s p esq u isa s cien tífica s, o en sin o e a p resta çã o d e serviços lab oratoriais, n a Rep ú b lica Velh a, existi-ria m a p e n a s q u a n d o p a tro cin a d a s e xclu siva m e n te p elos cofres p ú b licos. Mais ain d a, os estu d iosos ten -d em a restrin gir su a s a n á lises a u m esca sso n ú m ero d e in stitu ições, d estacan d ose d o con ju n to o In stitu -to Oswald o Cru z n o Rio d e Jan eiro e, em São Pau lo, o In stitu to Bu tan tã. Em segu id a, p revalece a ten d ên cia d os textos p rod u zid os n a área d a h istória in stitu cio-n al d a saú d e cecio-n trar su as ob servações sob retu d o cio-n as con d icion an tes in tern as qu e p erm eiam a vid a d os es-tab elecim en tos san itários, tin gin d o os en foqu es com cores u fan istas n a lin h a n ascim en to, vid a e glória d as in stitu ições m éd icas.

O livro d o h istoriad or Lu iz An tôn io Teixeira, in ti-tu la d o Ciên cia e Sa ú d e n a Terra d os Ba n d eira n t es: a Trajetória d o In stitu to Pasteu r d e São Pau lo n o Perío-d o Perío-d e 1903- 1916(Ed ito ra Fio cru z, 1995), m o stra -se origin al p or fu gir a tod os estes p rin cíp ios qu e têm es-m a ecid o o in teresse es-m a is a es-m p lo so b re a s p esq u isa s m éd ico-in stitu cion ais b rasileiras. Ao in vés d e rep etir as velh as estratégias d e ob servação d a organ ização e fu n cio n a m e n to d e u m in stitu to cie n tífico, Te ixe ira ro m p e u a té m e sm o p a ra o s p ró p rio s p a u lista n o s. Neste en cam in h am en to, o au tor ch am a a aten ção p a-ra o fato d e o p au listan o In stitu to Pasteu r (IP/ SP) ter cria d o, em 1930, com o u m la b ora tório d e sa ú d e p ú -b lica in icia lm e n te m a n tid o p o r d o a çõ e s fe ita s p e la elite estad u al, ap esar d e d esd e su as or igen s p leitear p or verb as p ú b licas p ara fin an ciar su as ativid ad es.

Certam en te a p rin cip al con trib u ição d este estu -d o con siste em focar os p rim eiros treze an os -d e vi-d a d o IP/ SP a tra vés d e u m a p ersp ectiva d e a n á lise q u e u n e ta n to a h istó ria in tern a à in stitu içã o q u a n to o s fatores extern os qu e d itaram as circu n stân cias d e seu fu n cion am en to e su a in corp oração aos serviços oficiais d e saú d e n o an o d e 1916. Ap esar d e esta verten te d e a n á lise já ter sid o a con selh a d a p or Ga ston Ba -ch elard h á m ais d e m eio sécu lo, ain d a são raros os es-tu d os qu e a ad otam , o qu e con trib u i ain d a m ais p ara a im p ortân cia d o livro em tela. Neste cu rso, Teixeira ou sou verificar a trajetória d o IP/ SP – recorren d o d e-clarad am en te à n oção d e “cam p o cien tífico” en sin a-d o p or Pierre Bou ra-d ieu , qu e se con stitu i em u m a ver-são m od ern izad a d a p rop osta b ach elard ian a – com o u m a teia d e ativid ad es cien tíficas d iretam en te vin cu -lad a e con corren te com as d em ais in stitu ições m éd i-co-cien tíficas q u e n o m esm o p eríod o atu avam n a ci-d aci-d e ci-d e São Pau lo e tam b ém em toci-d o o território n a-cion a l. Origin ou -se d isto u m a d isp u ta , n em sem p re

ética, é p reciso q u e o d iga, q u e, in iciad a n os in stitu -to s, co lo ca va e m co n fro n -to o s p rin cip a is n o m e s d a ciên cia b rasileira e d os ap oios con tratad os n o estran -geiro. Nesta b atalh a d e estrelas e in teresses, o IP/ SP b u scou n om es d e p eso n o Eu rop a, in d ican d o in icial-m en te p ara d irigir seu s serviços o b acteriologista ita-lia n o Ivo Bo n d ie, e, e m se gu id a , o ta m b é m ita ita-lia n o An tôn io Carin i.

O e m p e n h o d o n ovo in stitu to, p rin cip a lm e n te sob a d ireção d o Dr. Carin i, foi m ostrar-se com o u m lab oratório d e saú d e p ú b lica in d ep en d en te em su as lin h a s d e p esq u isa , o cu p a n d o esp a ço s q u e se a p re-sen ta va m d esco b erto s o u in su ficien tem en te co b er-tos p elos órgãos vin cu lad os à ad m in istração p ú b lica. Neste sen tid o, a p reocu p ação d o IP/ SP com d iagn ós-tico e tra ta m e n to d o s a cid e n ta d o s p o r m o rd e d u ra an im al e com as qu estões m éd ico-veterin árias con fe-ria-lh e d estaqu e e verb as n ecessárias p ara m an ter-se em ativid ad e, sem p recisar con tar p ara a su a sob revi-vên cia com volu m osas d oações govern am en tais p or u m p eríod o relativam en te lon go n o q u e tan ge à vid a d e u m a in stitu ição q u e carecia d e con stan te ren ova-ção d e lab oratórios, equ ip am en tos e m ateriais.

No e n ta n to, o e m p e n h o d o a u to r e m a rq u ite ta r u m estu d o sob estas p ersp ectivas con tou com lim ita-çõ e s. A p rim e ira d e la s re fe re -se a o e n q u a d ra m e n to su p e rficia l d o In stitu to e d o s ó rgã o s cie n tífico s e m geral n o con texto d as n ecessid ad es d e m od ern ização n a cio n a l, im p o sta s p e la ló gica d o ca p ita lism o d a s p rim eiras d écad as d este sécu lo. Se certam en te h avia u m a acirrad a d isp u ta p elo m on op ólio d a au torid ad e cien tífica en tre os d iversos in stitu tos m éd ico-b iológi-cos, tal con fron to era estim u lad o p ela b u rgu esia e p e-lo govern o qu e b u scavam solu ções p ara os p rob lem as n acion ais através d a exp an são d a p rop osta “civiliza-d o ra” in icia “civiliza-d a p e la e q u ip e ch e fia “civiliza-d a p o r Oswa l“civiliza-d o Cru z e q u e in clu ía a atu alização d a m en talid ad e d os gru p os sociais, in clu sive d os fazen d eiros e in d u striais q u e co m p u n h a m a e lite e co n ô m ica p a u lista n a . Em ou tros term os, a q u estão q u e d eixou d e ser su ficien -tem en te exp lorad a corresp on d e ao p ap el d a ciên cia – rep resen tad a sob retu d o p elas ativid ad es d esen volvi-d as n o In stitu to Pasteu r volvi-d e São Pau lo – n u m p aís re-cém -egresso d a escra vid ã o q u e, ten ta n d o su p era r a fase d e “b arb árie”, b u scava a tod o cu sto equ ip arar-se a o m o d e lo p o sitivista vige n te n a s n a çõ e s “civiliza -d as”.

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tra d icion a is p ela s d roga s e p roced im en tos p recon i-za d o s p e lo s la b o ra tó rio s p ú b lico s e p riva d o s. Um a b u sca d ocu m en tal m ais ap u rad a e qu e n ão se restrin -gisse a o s a rtigo s esta m p a d o s n a s revista s q u e já esp osavam a d ou trin a d o qu ím ico Pasteu r esp od eria con -trib u ir p ara esclarecer q u e a “con versão” à m ed icin a m od ern a n ão foi u m p rocesso im ed iato e d estitu íd o d e co n te sta çõ e s p ro d u zid a s n ã o só p e la s ca m a d a s p op u lares m as tam b ém p or u m a p arcela d a “elite es-clarecid a”.

É d e se qu estion ar tam b ém a au sên cia d e u m d os p rin cip ais clín icos con corren tes ao Dr. An tôn io Carin i: o m éd ico Clem eCarin te Ferreira, tisiologista qu e m aCarin -te ve in -te n so co n fro n to co m o s re p re se n ta n -te s d o IP/ SP em relação à p esq u isa e p rod u ção d e m ed ica -m en tos p ara o tísico e aten d i-m en to aos tu b ercu losos, so b retu d o n o referen te a o m o n o p ó lio d e rea liza çã o d o exam e lab oratorial d e esp u to. Cab e ressaltar q u e esta qu estão p od eria ter sid o in clu íd a n o estu d o assi-n ad o p or Lu iz Aassi-n tôassi-n io Teixeira p orq u e o iassi-n stitu to li-d erali-d o p or Clem en te Ferreira, in au gu rali-d o em 1899 e q u e p ou cos an os d ep ois foi reb atizad o com o In stitu -to Clem en te Ferreira, tal com o o IP/ SP, con stitu iu -se en q u a n to órgã o p riva d o, d isp on d o p a ra seu fu n cio-n am ecio-n to d e verb as ob tid as p elos ser viços p restad os, p or d oa ções d a elite p a u lista e ta m b ém com m irregu lares d otações govern am en tais. Se esta circu n stân -cia fosse som ad a à eq u ação m on tad a p or Lu iz An tô-n io, a tra je tó ria d o Itô-n stitu to Pa ste u r d e Sã o Pa u lo e su a in corp oração ao Serviço San itário p od eria gan h ar n ovas lu zes, já q u e a in stitu ição cen trad a gu ard an d o au ton om ia até a d écad a d e 30, qu an d o foi ob rigad a a su b o rd in a r-se to ta lm e n te à a d m in istra çã o p ú b lica e sta d u a l p o r im p o siçã o p o lítica e n ã o p o r fa lê n cia eco n ô m ica , co m o a co n teceu co m o cen tro lid era d o p elo Dr. Carin i.

Claro q u e estas ob servações aq u i registrad as em n ad a d ep õem con tra a qu alid ad e d o livro avaliad o. As n ovid a d e s te m á tica s e m e to d o ló gica s tra zid a s p o r Lu iz An tôn io Teixeira são b em su p eriores às lacu n as p re se n te s e m se u te xto. Co m e sta o b ra , e sp e ra -se a con tin u id ad e d a ren ovação d os estu d os m éd ico-in s-titu cio n a is b ra sileiro s, o q u e irá co n tr ib u ir p a ra u m n ovo q u e stio n a m e n to d o s (d e s)ca m in h o s d a sa ú d e p ú b lica n acion al

Cláu d io Bertolli Filh o In stitu to d e Ciên cias Hu m an as Un iversid ad e d o Vale d o Paraíb a.

A DEM OCRACIA INCONCLUSA. UM ESTUDO DA REFORM A SANITÁRIA BRASILEIRA. S. Gerschman (org.) Rio de Janeiro: Editora Fiocruz. 1995. 203 pp.

ISBN 85-85676-20-5

Fru to d e su a tese d e d ou torad o, p u b licad a sob a for-m a d e livro p ela Ed itora Fiocru z, este texto d e Silvia p rovoca n o leitor u m a certa p erp lexid ad e. Talvez se-ja m trê s o s fa to re s q u e co n trib u a m p a ra q u e isso ocorra: o texto está sob a “form a b ru ta” d a su a versão d e te se ; a p e rsp e ctiva a n a lítica e le ita p e la a u to ra é in ova d o ra e in stiga n te, m a s d e fro n ta -se co m u m a an álise con ven cion al d o fen ôm en o “Reform a San itá-ria Bra sile ira”; e o s vá rio s p ro ce sso s e fe n ô m e n o s an alisad os d an çam u m a ciran d a p or vezes h arm ôn

i-ca, p or vezes d isson an te, o q u e é p róp rio d a h istória, m a s p o r veze s d e m o d o a b so lu ta m e n te d e sco n e xo en tre eles.

A p artir d as reflexões d e Sch m itter sob re regim es d e d em o cra tiza çã o p a rcia l, Silvia a n a lisa a Refo rm a San itária Brasileira ab arcan d o três d im en sões: o p ro-cesso d e tran sição d em ocrática e a reform u lação d a p olítica d e saú d e, os m ovim en tos sociais – aq u i d is-tin gu in d o os m ovim en tos p op u lares d e saú d e e o m o-vim en to m éd ico –, e o p rocesso d e im p lem en tação d a Reform a San itária n os an os 90, p rivilegian d o a d in â-m ica d a relação en tre o qu e d en oâ-m in a d e “atores p ri-vilegiad os”. Fin aliza a p esqu isa, an teced en d o as clássicas “con clu sões”, seis estu d os d e casos d e exp eriên -cias d e gestão m u n icip al d e saú d e.

O p róp rio roteiro d o texto, p ortan to, atesta a im -p o rtâ n cia d o m e sm o -p a ra o d e b a te a tu a l so b re o s avan ços e recu os, im p asses e d esafios d a Reform a San itária Brasileira. Mas o leitor vêse fru strad o, p or ou -tro lad o, p elos argu m en tos e an álises p isad as e já re-p isad as sob re esse re-p rocesso, aí em n ad a au xilian d o as p rop osições an alíticas d e Sch m itter. Talvez os exem p lo s m a is sign ifica tivo s re sid a m n o to m d e in stru -m en talização d a Un iversid ad e (p ág. 71) co-m relação ao m ovim en to san itário e a falta d e clareza, n os d is-tin to s m o m e n to s e m q u e a a n á lise é d ivid id a , d o s reais in terlocu tores n o p rocesso d a Reform a San itária Brasileira.

Por ou tro lad o, em b ora exista u m a estreita e im -b rica d a a rticu la çã o en tre o s d istin to s a to res so cia is en vo lvid o s n o p ro cesso, a o a n a lisa r o s m ovim en to s so cia is, a s refo rm u la çõ es n a p o lítica d e sa ú d e e im -p le m e n ta çã o d o id e á rio re fo rm ista n ã o é a ssu m id a p e la a u to ra , e m n e n h u m m o m e n to d e su a a n á lise, qu e é o ator p rivilegiad o n esse p rocesso n os d istin tos p eríod os estu d ad os. Deixo u m exem p lo: ao estu d ar o MOPS, a m eu ver a p a rte m a is in stiga n te d o texto, a in terp retação d o fato d e ele alterar su a estratégia d e b u sca d e u m a a rticu la çã o n a cio n a l p a ra a b u sca d e u m a articu lação estad u al com o resp osta às m u d an ça fe d e ra is d a p o lítica d e sa ú d e, re fe re n d a d a s n a VIII Co n fe rê n cia Na cio n a l d e Sa ú d e, e n co n tra re sp a ld o n os p róp rios d ad os trazid os p ela au tora. E n este caso este tip o d e an álise gan h a relevân cia p ara os p róp rios ob jetivos p rop ostos, qu e é o d e, n o fu n d o, au xiliar n o en ten d im en to d a n atu reza d o p rocesso d em ocrático p o r q u e vim o s p a ssa n d o, a co n trib u içã o d o m ovi-m e n to d a sa ú d e p a ra e sse p ro ce sso, e a in stiga n te (em b o ra q u a se n a d a a p ro fu n d a d a ) q u estã o d a rela -ção en tre d em ocracia e reform a.

Do m e sm o m o d o é a ssu m id a n a a n á lise co m o cru cial p ara a exp licação d as m azelas d a saú d e a falta d e recu rsos p ara o setor. Os d ad os ap resen tad os, n o gera l sob a form a d e p ercen tu a l d o PIB, sã o a ssu m i-d os sem m aiores i-d etalh es, m as sob retu i-d o aqu i se as-su m e q u e a q u estão está n o volu m ed e recu rsos p ara

a saú d e, e n ão n o volu m e m as tam bém n a su a form a d e fin an ciam en to, n a m ed id a em qu e é exatam en te a

ló gica d e se u fin a n cia m e n to q u e va i d e te rm in a r o s p ad rões d e u n iversalid ad e e eqü id ad e.

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-qu an to ator social e en -qu an to su jeito social. Mas tal-vez aí esteja con trib u in d o p ara tan to u m fator “exter-n o”, vale d izer, o fato d e a m aior p arte d a b ib liografia a q u i u tiliza d a p e la a u to ra n ã o p rovir d o p ró p rio m eio, isto é, d os p róp rios “su jeitos p olíticos” p rivile-giad os d a Reform a San itária Brasileira.

Ma s a essa p a rte d o tra b a lh o, u m a vez m a is, se-gu e-se ou tra qu e d e certa form a fru stra o leitor. Ap ós m ais u m a p assagem p ela p olítica n acion al (cap ítu lo VI), a au tora d ed ica-se n os d ois cap ítu los fin ais à ex-p osição d e estu d os d e caso d e exex-p eriên cias locais d e sa ú d e e a o s Co n selh o s d e Sa ú d e. Tra ta -se, a go ra , d e en fren tar a q u estão d a d escen tralização n ão m ais d a ótica d o Estad o Nacion al, m as d o p od er local en fati-zan d o a d im en são d a Política e d os Atores. Esses rela-tos, a m aior p arte d eles com p ilad os d e form a resu m i-d a i-d e ou tros estu i-d os feitos p or ou tros p esqu isai-d ores, e n em sem p re, d iga-se d e p assagem , com os m esm os ob jetivos, são gen éricos e p ou co acrescen tam às an á-lise s já fe ita s a n te rio rm e n te p e la a u to ra . E q u a n d o ch egam a d ad os e con clu sões in teressan tes, estes n ão sã o le va d o s a d ia n te. Cito d o is e xe m p lo s: q u a n d o a a u to ra co n sta ta q u e o ta m a n h o d o m u n icíp io é u m fator qu e d ificu lta a im p lem en tação d a m u n icip aliza-ção (p ág. 174); ou q u an d o se refere aos Con selh os d e Saú d e estad u ais e m u n icip ais e à m aior ou m en or re-sistên cia d os m ovim en tos p op u lares p ara p articip a-rem d eles (p ág. 184); e d iga-se, tam b ém d e p assagem , com o reflexo d as m u d an ças d a p o lítica d e sa ú d e n o n ível fed eral.

Se d o p on to d e vista teórico foi extrem am en te fe-liz a op çã o d e Silvia , a o recorrer fu n d a m en ta lm en te às reflexões e p rop osições d e Sch m itter, e talvez exa-tam en te p or isto, n ão p arece ter m u ito sen tid o tod a a d igre ssã o p re se n te n o p rim e iro ca p ítu lo. Eis a í u m exem p lo d a “form a b ru ta” d a versão d a tese em livro. A d iscu ssã o e n tã o tra va d a p o u co co n trib u i p a ra a an álise realizad a, q u e aliás a su p era, e tem as e q u es-tões extrem am en te com p lexas são tratad as d e form a aligeirad a e sim p lista, n ão cab en d o p or exem p lo n em as avaliações sob re a teoria d o Rawls (e aí textos n acion ais com o o d e au toria d e Álvaro d e Vita são fu n -d am en tais, e foram -d escon h eci-d os p ela au tora) n em a ju n çã o d e Freu d n a d iscu ssã o sob re in d ivíd u o/ so-cied a d e, u m a vez q u e a q u estã o d a in d ivid u a lid a d e n ão será retom ad a ad ian te.

Fin alm en te, u m ú ltim o registro. A com p reen são d o texto é extrem am en te p reju d icad a tan to p or qu es-tõ e s d e re d a çã o – sã o in ú m e ro s o s e rro s d e gra fia , con cord ân cia e p on tu ação – talvez p elo fato d e a au -to ra se r a rge n tin a d e o rige m , m a s o q u e re q u e re ria im p eriosam en te u m a revisão vigorosa d o texto, p ois h á p a ssa ge n s a b so lu ta m e n te in in te ligíve is, q u a n to tam b ém p ela au sên cia d e revisão n as p rovas d o livro. São freqü en tes, p or exem p lo, com o n a p ágin a 70, on d e se en con tra “m ilitares d o PT” ao in vés d e “m ilitan -tes d o PT” ... o qu e p ara o leitor p od e trazer u m a série d e co n fu sõ es. Este ú ltim o registro, n o en ta n to, va le m ais p ara a Ed itora, jovem , m as q u e certam en te d e-se m p e n h a rá u m p a p e l fu n d a m e n ta l p a ra o d e b a te b rasileiro sob re a saú d e, d o qu e p ara a au tora.

Note-se, p or fim , q u e as reações aq u i ap resen ta-d a s a o livro ta-d e Silvia Ge rsch m a n vã o n o se n tita-d o ta-d e valorizar seu texto e su a p esqu isa, qu e certam en te re-p resen tam u m sore-p ro n ovo n o d eb ate sob re saú d e qu e ora vem se travan d o n o Brasil, m as q u e n ão d eixa d e fru strar o leitor, sob retu d o aq u eles m ais n eu rastên

i-cos com o eu ... e aí u m a d as cau sas d a fru stração tal-vez resid a ta m b ém n o co n tra ste en tre o s resu lta d o s con q u istad os p ela au tora e a griffecom q u e o trab

a-lh o é ap resen tad o – p refácio d e Sch m itter, orea-lh a d e cap a d e Ian n i.

Am élia Coh n

Docen te d o Dep artam en to d e Med icin a Preven tiva d a FMUSP e p esqu isad ora d o CEDEC

THE HEALTH OF NATIVE AM ERICANS: TOWARD A BIO CULTURAL EPIDEM IO LO GY. T.K. Young. New York: Oxford University Press, 1994. 275pp. ISBN: 0-19-507339-8

Os in teressad os n a tem ática “saú d e in d ígen a” n o Bra-sil, seja m p esq u isa d ores, p la n eja d ores ou p resta d o-res d e ser viço, d efro n ta m -se n o d ia -a -d ia co m u m a reco rren te ca rên cia d e d a d o s ep id em io ló gico s co n -cern en tes a essas p op u lações. In d agações b ásicas n o ca m p o d a sa ú d e p ú b lica , co m o a s re la cio n a d a s à s cau sas e aos n íveis d e m orb im ortalid ad e, p or exem -p lo, em geral n ão são -p assíveis d e serem res-p on d id as satisfatoriam en te. Isto p orqu e p ara a im en sa m aioria d os gru p os in d ígen as, q u e b eira a totalid ad e, in exis-tem rotin as d e registro d e in form ações d e relevân cia p a ra a ca ra cteriza çã o e p la n eja m en to d a s a çõ es em saú d e. Este q u ad ro d e “silên cio” ep id em iológico, p or si p reo cu p a n te já q u e a s co n d içõ es d e sa ú d e d estes gru p o s e m ge ra l sã o p re cá ria s, re fle te o in e ficie n te fu n cion am en to d os serviços d e saú d e n a m aioria d as áreas in d ígen as d o Brasil (v id eSan tos & Coim b ra Jr., 1994).

“Th e Hea lth o f Na tive Am erica n s” é u m a cu id a d osa e ab ran gen te an álise d os p erfis d e saú d e/ d oen -ça d as p op u lações n ativas situ ad as n o Can ad á e n os Esta d o s Un id o s. Assim , a d e sp e ito d o títu lo a b ra n -gen te, o en foqu e é em u m con ju n to geograficam en te d elim itad o d e socied ad es. Logo n o in ício d o trab alh o K.T. You n g tam b ém d elim ita as fron teiras teóricas d e seu estu d o, q u ais sejam , sob retu d o a an álise d e fato-res ligad os à b iologia h u m an a, ao am b ien te e aos es-tilos d e vid a. Tem áticas com o etn om ed icin a e organ i-zação e ad m in istração d e serviço s d e sa ú d e n ã o sã o en fatizad as.

A d e sp e ito d a e sp e cificid a d e ge o grá fica , e ste m ais recen te trab alh o d e You n g é d e gran d e relevân -cia teó rico -m eto d o ló gica p a ra a s d iscu ssõ es a cerca d a sa ú d e d e p ovo s in d íge n a s d e o u tra s re giõ e s d a s Am éricas, in clu in d o o Brasil. Isto p orq u e, d en tre ou -tras razões, con stitu i-se em u m b om exem p lo d e co-m o a coco-m p reen são d o q u ad ro saú d e/ d oen ça d e u co-m d ad o segm en to p op u lacion al/ social requ er u m exer-cício d e co n te xtu a liza çã o. Ao lo n go d e to d o o livro são traçad os in ú m eros e in teressan tes p aralelos en tre a situ ação d os am erín d ios v is-à -v isn ão-am erín d ios n a ten tativa d e situ ar os p rim eiros n o con texto m ais am p lo d e saú d e em n ível n acion al.

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te, Yo u n g ch a m a a ten çã o p a ra a s lim ita çõ es d o s d a -d o s. Po r exem p lo, a q u eles referen tes à m o rta li-d a -d e cob rem u m as p ou cas d écad as (a p artir d os an os 50) e o s d e m o rb id a d e sã o a in d a d e m en o r p ro fu n d id a d e tem p oral.

O p rin cip al referen cial teórico d e You n g é a teoria d e tran sição ep id em iológica, q u e in clu sive n orteia a estru tu ra d o livro. Ap ós u m a cap ítu lo in trod u tório n o q u a l é a p re se n ta d a u m a ca ra cte riza çã o h istó rica , geográ fica e sócio-econ ôm ica d os gru p os in d ígen a s d o Ca n a d á e d o s Esta d o s Un id o s, segu em -se o u tro s q u e co b re m a s d o e n ça s in fe ccio sa s, a s crô n ica s, o s a cid e n te s e o q u e o a u to r d e n o m in a d e “p a to lo gia s so cia is”. Os d a d o s a p o n ta m p a ra u m a re d u çã o d a m orb i-m ortalid ad e p or d oen ças in fecciosas ao lon go d a s ú ltim a s d éca d a s, q u e veio a co m p a n h a d a d e u m su b sta n cia l a u m e n to d a s crô n ica s e d o s a cid e n te s. Dep reen d e-se d a s a n á lises d e You n g q u e a evolu çã o d o p erfil ep id em iológico d os gru p os n ativos d a Am é-rica d o No rte co m p o rta -se, e m lin h a s ge ra is, co m o su gerid o p ela teoria p rop osta p or Om ran n o in ício d a d é ca d a d e 70. Yo u n g ch a m a a te n çã o p a ra o fa to d e q u e a ju ste s n a te o ria p re cisa m se r fe ito s, já q u e o crescim en to d a m orb i-m ortalid ad e p or d oen ças crô-n ico-d egecrô-n erativas crô-n ão veio acom p acrô-n h ad o p elo d e-sa p a re cim e n to d a s d o e n ça s in fe ccio e-sa s, q u e a in d a a co m etem (e em m a io r in ten sid a d e) a s p o p u la çõ es n ativas se com p arad as às n ão-in d ígen as.

Com o já alu d id o, u m d os asp ectos m ais in teres-san tes d o livro d iz resp eito ao exercício com p arativo en tre a trajetória ep id em iológica d as p op u lações n a-tiva s d a Am érica d o No rte v is- à - v isa q u ela d o s n ã o -in d íge n a s. Atra vé s d e sta a b o rd a ge m Yo u n g a p o n ta p a ra a s p a rticu la rid a d es d o q u a d ro ep id em io ló gico d os gru p os n ativos, q u e em p arte são exp licad as p or fatores sócio-econ ôm icos. Por exem p lo, ren d a p er ca-p ita, n ível sócio-econ ôm ico, con d ição d e m orad ia e e sco la rid a d e d o s in d íge n a s sã o m a is b a ixo s q u e a q u e le s d o s n ã o in d íge n a s. Ap e sa r d e ste s d ife re n -cia is, h o u ve u m a a ce n tu a d a q u e d a n a m o rta lid a d e in fan til d as crian ças in d ígen as d a Am érica d o Norte ao lon go d as ú ltim as d écad as, q u ase q u e con vergin -d o com as taxas p ara o segm en to n ão-in -d ígen a n a se-gu n d a m e ta d e d a d é ca d a d e 80. Nã o o b sta n te, p e r-m an ecer-m b astan te d istin tos os p erfis d e r-m ortalid ad e geral, com os in d ígen as com p arativam en te m orren -d o m ais -d e -d oen ças in fecciosas e -d e aci-d en tes e m e-n os d e e-n eop lasm as e d oee-n ças d o ap arelh o circu lató-rio. Este tip o d e ab ord agem com p arativa, d e gran d e im p ortân cia p ara se com p reen d er o q u ad ro geral d e sa ú d e d e p o p u la çõ es in d ígen a s p o r esta r a trela d a a u m a p e rsp e ctiva p ro ce ssu a l, d e ve ria e sta r se n d o m ais exercitad a n o Brasil.

Yo u n g q u e stio n a e m vá rio s m o m e n to s a n o çã o, segu n d o ele b astan te d issem in ad a n o cam p o d a saú-d e p ú b lica n o Ca n a saú-d á e n o s E.U.A., saú-d a s so cie saú-d a saú-d e s in d ígen a s com o “h om ogên ea s”. A p rop ósito, o m es-m o se verifica n o Brasil. Os d ad os ap resen tad os n o lvro d em on stram q u e é b astan te d iverso o p erfil ep i-d e m io ló gico i-d o s gru p o s in i-d íge n a s i-d a Am é rica i-d o Norte, o q u e lan ça d ú vid as acerca d a valid ad e d e es-ta tística s a grega d a s p a ra u m a d a d a m a cro -regiã o e, m a is a in d a , p a ra u m p a ís co m o u m to d o. Ap esa r d e esta r a ten to p a ra esta d im en sã o, Yo u n g n ã o exp lo ra d e m an eira ap rofu n d ad a a qu estão d a d iversid ad e d o p erfil ep id em io ló gico in tra gru p o s in d ígen a s, o q u e d e co rre so b re tu d o d a ca rê n cia d e b a se s d e d a d o s a

p artir d as q u ais tais com p arações p od eriam ser efe-tu ad as.

Ca p ítu lo p a rticu la rm e n te in te re ssa n te é o q u e trata d o qu e You n g d en om in a d e “p atologias sociais”. Nele sã o co n tem p la d a s d iversa s tem á tica s esp ecífi-cas, tais com o acid en tes (p rin cip alm en te os au tom ob ilísticos), su icíd io, h om icíd io, violên cia e, fin alm en -te, alcoolism o. You n g ap resen ta u m a farta b ib liografia q u e in d ica in con testavelm en te q u e estas são cau -sas d e m orb i-m ortalid ad e im p ortan tíssim as n as p o-p u lações in d ígen as d o Can ad á e d os Estad os Un id os. Em h o m e n s jove n s, p o r e xe m p lo, e n tre 25-40% d a m orb i-m ortalid ad e (a d ep en d er d o gru p o) está d ireta ou in d iretam en te relacion ad a a acid en tes e à violên -cia. A an álise ap resen tad a n este cap ítu lo é p articu lar-m en te in forlar-m ativa p ara aq u eles q u e trab alh alar-m colar-m saú d e in d ígen a n o Brasil, p ois d em on stra a m agn itu -d e e im p a cto q u e e ste s fa to re s p o -d e m a lca n ça r e m so cie d a d e s in d íge n a s, so b re tu d o n a q u e la s a tra ve s-san d o in ten sos p rocessos d e m u d an ça. Ap esar d e sa-b erm os q u e estes são p rosa-b lem as q u e atin gem as p o-p u lações in d ígen as cad a vez em m aiores o-p roo-p orções tam b ém n o Brasil (vid e CIMI/ CNBB 1996), as d iscu s-sões ain d a têm p rivilegiad o m ais u m en foq u e d escri-tivo qu e an alítico.

O ú ltim o cap ítu lo, in titu lad o “Em d ireção a u m a Ep id em iologia Biocu ltu ral”, é d e certo m od o u m an ticlím ax. Isto p orqu e You n g d isserta sob re a im p ortân -cia d e u m a m elh or in tegração en tre ep id em iologia e ciên cias sociais (e an trop ologia, em p articu lar), argu -m en tação qu e, alé-m d e receb er u -m trata-m en to teóri-co su p erficial, p ou teóri-co acrescen ta a u m a d iscu ssão qu e já a lca n ço u u m n ível d e so fistica çã o b em m a io r em o u tro s círcu lo s (v id eJo h n so n & Sa rgen t, 1990).

Me-lh or teria sid o se You n g h ou vesse exp lorad o em m aior p rofu n d id ad e certas ou tras q u estões q u e ele p róp rio levan ta. Vejam os u m exem p lo: “a ep id em iologia ten -d e a p en sar em term os -d e u m h om em u n iversal, tip i-ficad o através d o b om b u rgu ês d e Fram in gh am , Mas-sach u setts! Tal h om em u n iversal p od e fu m ar, b eb er, ga n h a r p eso e so frer d e a ta q u es ca rd ía co s m a s, fo ra isso, é rep resen tad o com o q u e d estitu íd o d e cu ltu ra. Além d isso, d ad os d erivad os d e estu d os con d u zid os co m b a se e m p e sso a s (tid a s co m o ) cu ltu ra lm e n te n ão-d iferen ciad as são en tão con sid erad os com o ap licáveis em ou tras regiões, a m en os qu e se p rove o con trário. Assim , os n orteam erican os b ran cos torn am -se o ‘p ad rão’. Negros, h isp ân icos, as socied ad es am e-rín d ia s e d ive rsa s o u tra s p o p u la çõ e s a o re d o r d o m u n d o to rn a m -se gru p o s ‘e sp e cia is’” (p. 223). Esta crítica à s fo rm a s a tra vé s d a q u a l a e p id e m io lo gia id en tifica e p a ssa a tra b a lh a r com certos segm en tos so cia is co m o a co rp o r ifica çã o d a “n o rm a” (e u tiliza com o exem p lo o fam oso estu d o ep id em iológico rea-liza d o n a cid a d e d e Fra m in gh a m ) é co n tu n d e n te e m e re ce ria tra ta m e n to m a is p o rm e n o riza d o. Os d a d os acerca d os p erfis d e saú d e/ d oen ça d as socied a -d es a m erín -d ia s co n stitu em u m m a teria l p a rticu la rm en te rico a p artir d o q u al se p od e erigir u rm a argu m e n ta çã o crítica so b re e sta te n d ê n cia d e h o m oge -n eização em ep id em iologia.

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im p ortan te p ara os in teressad os em saú d e d e p op u -lações in d ígen as n o Brasil. Por m ais d iferen te qu e se-ja a rea lid a d e sócio-econ ôm ica e cu ltu ra l d os p ovos in d ígen a s d a p a r te n o rte d o co n tin en te a m erica n o, sã o in ú m e ro s o s p a ra le lo s q u e p o d e m se r tra ça d o s com a situ ação in d ígen a aqu i n o Brasil, ao su l d o con -tin en te. A valid ad e d a afirm ação d e You n g d e q u e “o qu ad ro geral d e p recárias con d ições d e saú d e d as so-cied ad es am erín d ias é b em con h ecid o e tem sid o d e-m on strad o ee-m e-m u itas in vestigações e ee-m estatísticas oficiais” (p. 216) tran scen d e as fron teiras geográficas d e seu estu d o, p ossivelm en te p od en d o ser gen era li-zad a p ara tod o o con tin en te am erican o.

Ricard o Ven tu ra San tos

Dep artam en to d e En d em ias, ENSP/ FIOCRUZ e Dep artam en to d e An trop ologia, Mu seu Nacion al/ UFRJ Rio d e Jan eiro

CIMI/ CNBB, 1996. A Violên cia con t ra os Povos In d í-gen as n o Brasil 1994-1995. Brasília: CIMI. JOHNSON, T.M. & SARGENT, C.F. (orgs.), 1990. Med

i-cal An th rop ology: Con tem p orary Th eory an d M e-th od. New York: Praeger.

SANTOS, R.V. & COIMBRA Jr., C.E.A. (o rgs.), 1994.

Sa ú d e e Pov os In d ígen a s. Rio d e Ja n eiro : Ed ito ra Fiocru z.

PRO FISSÕ ES DE SAÚDE: UM A ABO RDAGEM SOCIOLÓGICA. M . H. M achado (org.) Rio de Ja-neiro: Editora Fiocruz. 1995. 194 pp.

ISBN 85-85676-17-5

Ao tra ta r d e p o lítica s p ú b lica s, q u a n d o p en sa m o s a relação Estad o/ Socied ad e n o Brasil, costu m o referir-m e a u referir-m cap ítu lo d e u referir-m livro já an tigo d e Pau lo Frei-re, in titu lad o “Socied ad e fech ad a e in exp eriên cia d e-m o crá tica”. Estã o a li d e scrita s a s o rige n s d e n o ssa form ação social, colon ial e escravocrata. Sem retro-ced er a essas b ases, é d ifícil com p reen d er as caracte-rísticas d e u m a relativa im p erm eab ilid ad e d o Estad o b ra sile iro à s d e m a n d a s p o p u la re s e à s d ificu ld a d e s q u e o s su je ito s so cia is tê m p a ra a rticu lá -la s. Po is b em , é im p ossível n ão traçar u m p aralelo com a im -p ortân cia d a coletân ea sob re as -p rofissões d a saú d e o rga n iza d a p o r Ma ria He le n a Ma ch a d o, p a ra u m a m elh or com p reen são d a organ ização e d o fu n cion a-m en to d esses serviços. Parágrafo a h istória, a trajetó-ria, os m ovim en tos e as m u tações p or qu e p assaram , e p assam , as p rin cip ais p rofissões d o setor são essen -cia is n ã o a p e n a s p o r co m p re e n d e r a co n fo rm a çã o d os sistem as d e saú d e m as tam b ém su as atu a is ten -d ên cias -d e reorgan ização.

Assim , com o en ten d er o p a p el cen tra l q u e o clín ico geral (o fam oso “GP/ Geclín eral Parctioclín clín er”) sem p re tem n o serviço n acion al d e saú d e in glês? Ou en -tã o, co m o e xp lica r o a p a re n te p a ra d oxo e n tre u m a forte in terven ção estatal p ara garan tir a aten ção m é-d ica e a p reservação é-d e u m m oé-d elo é-d e p rática lib eral n o sistem a fran cês? Os cap ítu los in titu lad os “Físicas, se ctá rio s e ch a rla tõ e s: a m e d icin a e m p e rsp e ctiva h istóricocom p arad a” e “A evolu ção d as relações en -tre os m éd icos fra n ceses e o Esta d o d e 1880 a 1980”, e scrito s p o r Ed m u n d o Ca m p o s Co e lh o e Cla u d in e Heizlich , esclarecem d e form a m agistral esta e ou tras q u estões. São as gran d es tran sform ações

sócio-eco-n ô m ica s d a s so cie d a d e s o cid e sócio-eco-n ta is d o fisócio-eco-n a l d o sé c. XIX, o fio con d u tor q u e p erm ite id en tificar asp ectos con vergen tes em p rocessos tão d iversos, m as são extam an en te n arrativas d esse tip o q u e p erm item com -p reen d er su as d ivergên cias e es-p ecificid ad es.

Este s e o s d e m a is ca p ítu lo s sã o p ro ce d id o s p o r u m a sín tese teórica d as d iscu ssões b ásicas em socio-logia d as p rofissões, feito com com p etên cia p ela p ró-p ria Maria Helen a, en focan d o q u estões tais com o, o con ceito d e p rofissão, p rocesso d e p rofission alização, au ton om ia, m ercad o d e trab alh o, relações com o Es-ta d o. Os d ive rso s a u to re s re to m a m e ssa s q u e stõ e s, a tra vé s d e ca so s co n cre to s, m o stra n d o n u m a p e rsp ectiva in tern acion al com rsp arad a, asrsp ectos d o d esen -volvim en to d as p rofissões d e saú d e n a In glaterra, Estad os Un id os, Fran ça, México e n o Brasil. Os cap ítu -lo s d e Gu sta vo Nige n d a , “Asso cia cio n e s m é d ica s y p o lítica co rp o ra tivista in México : a p u n tes so b re a l-gu n s câm b ios recen tes” e d e Ped ro Mil-gu el d os San tos sob re “A p rofissão m éd ica n o Brasil”, são com p lem en -ta res n a m ed id a em q u e ch a m a m a a ten çã o p a ra a s ten d ên cia s n a s rela çõ es en tre m erca d o, co rp o ra çã o m éd ica e Estad o. Essa tem ática tem sid o cen tral n as reform as n eo-lib erais d os sistem as d e saú d e d os p aí-ses cen trais.

O tra b a lh o d e Pe d ro Migu e l re strin ge se à co n ju n tu ra p ern a m b u ca n a m u ito em b o ra su a s co n clu sões “áu reo d a crescen te esp ecialização, p erd a d e au -to n o m ia e te n d ê n cia à p ro le ta riza çã o d a p ro fissã o m é d ica”, se ja m p rova ve lm e n te vá lid a s p a ra to d o o p aís. Valeria a p en a p ara o au tor, avaliar a p ossib ilid a-d e a-d e in co rp o ra r em seu tra b a lh o a lgu n s elem en to s le va n ta d o s p o r Ma d e l Lu z e m se u livro in titu la d o “Med icin a e ord em p olítica”.

Os d em a is ca p ítu lo s ca ra cteriza m -se p ela o rigi-n alid ad e d as tem áticas. Sérgio Rego ab ord a o erigi-n sirigi-n o m éd ico p o r u m â n gu lo fu n d a m en ta l e in teira m en te n ovo: o p rocesso d e socialização p rofission al n a m e-d icin a, este p rocesso é en focae-d o p elo estu e-d o e-d o en si-n o p rático através d e estágios extra-cu rricu lares si-n os serviços, p rocu ra d os p elos estu d a n tes p a ra viverem u m a verd ad eira exp eriên cia e con solid arem seu “eu -p rofission al”.

Co n clu i, a le rt a n d o p a ra a n e ce ssid a d e d e u m a m aior in teração en tre as Un iversid ad es e os serviços e q u e, p e lo m e n o s n o ca m p o fo rm a l d o s p rin cíp io s d a Con stitu íção, com p ete ao Sistem a Ún ico d e saú d e – SUS, a ord en ação d os recu rsos h u m an os. Vale a p e-n a ressaltar q u e ap esar d e m u itos esforços p ara esti-m u la r a fa esti-m o sa in t e gra çã o d o ce n t e -a ssist e n cia l, a tra vés d a cria çã o d e p ro jeto, Red es e rea liza çã o d e e n co n t ro s, h o u ve n o p la n o p rá t ico u m ce rt o re t ro -ce sso n a é p o ca d a s Açõ e s In t e gra d a s d e Sa ú d e / AIS (estratégia p ara im p lem en tação d o SUS); estava p re-vista a p articip ação d a Un iversid ad e, n as Com issões In t e rn a cio n a is d e Sa ú d e / CIS d e ca d a Est a d o, e n -q u an to rep resen tan te d o Min istério d a Ed u cação. Se a p articip ação já era tím id a, p erd eu -se totalm en te ao lo n go d o p ro ce sso d e in st it u cio n a liza çã o d o SU S, on d e n as atu ais Com issões gestoras b ip artid es, en con tram se rep resen tados som en te o Estado e os m u -n icíp ios.

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a-d o, Maria Vieira e Sérgio Rego, áu rea a-d a p rofission ali-zação em od on tologia.

Alé m d o m é rito p e la in e xistê n cia d e tra b a lh o s d e ssa o rd e m , le va n ta m q u e stõ e s im p o rta n tíssim a s p a ra a “sa ú d e” d o SUS ta is co m o, a in e xistê n cia d e u m con trole rígid o p ara ab ertu ra d e farm ácias geran -d o u m co m é rcio q u e e xtra p o la -d o co m m u ito, n o s gran d es cen tros u rb an os, os p arâm etros p revistos p e-la Organ ização Mu n d ial d a Saú d e (1 p ara cad a 8000/ 10000 h ab itan tes).

Fin a lm en te, o ca p ítu lo d e Ma ria Co n su elo Agu -d elo tra z elem en tos com p lem en ta res p a ra a -d iscu s-são já em cu rso d o p rocesso d e trab alh o em en ferm agem . E, p ara aqu eles qu e ap reciam a h istória, a leitu -ra d a t-ra n scriçã o d e u m a Co n ferên cia rea liza d a p o r Lycu ryo d e Castro San tos Filh o, n a Fu n d ação Oswal-d o Cru z em 1992, é im p erOswal-d ível. Com u m a n atu raliOswal-d a-d e q u e só u m e stu a-d io so m u ito fa m ilia riza a-d o co m o tem a p od e ter, o au tor d escreve asp ectos d e m ed icin a b ra sileira , co n ta n d o “ca u so s” p ito resco s, d ign o s d e u m a b o a ro d a d e ch im a rrã o. Va le a p en a n ã o d eixa r p a ssa r n a p ró xim a e d içã o, a lgu n s e rro s d e re visã o, n esse caso, p or exem p lo, o n om e d o d escob r id or d o b a cilo d a tu b e rcu lo se. É u m d e ta lh e in sign ifica n t e, p or u m a excelen te coletân ea.

Eleon or Min h o Con ill

Profª Ad ju n to d o Dep artam en to d e Saú d e Pú b lica Un iversid ad e Fed eral d e San ta Catarin a

OUTCOM E-BASED EVALUATION R. L. Schalock. New York: Plenum Press, 1995, 242 pp.

ISBN 0-306-45051-8

O livro ca ra cte riza -se ce n tra lm e n te co m o u m gu ia m eto d o ló gico p a ra a va lia çõ es d e in terven çõ es co m b ase n os resu ltad os ob servad os n os in d ivíd u os-alvo. O au tor, do Hastin gs College e do MidNebraska Men -ta l Re-ta rd a tio n Ser vices, sistem a tiza u m m o d elo d e avaliação p ara p rogram as sociais e d e ed u cação vol-tad os p ara a reab ilitação em sen tid o am p lo e m elh oria d a q u alid ad e d e vid a d e p essoas com in cap acid a -d es ou -d eficiên cias m en tais. Este recorte -d o ob jeto -d e avaliação leva a u m a d efin ição d e resu ltad os assen ta-d a n a n o çã o ta-d e “p e rfo rm a n ce -b a se ta-d a sse ssm e n t”. Com isso, os resu ltad os esp erad os d o p rogram a a se-rem avaliad os d elim itam -se em d ois tip os: 1) in d ica-d ores ob jetivos ica-d o n ível ica-d e com p ortam en to aica-d ap tati-vo (“p erson’s ad ap tive b eh avior level”), com o o au tocu id a d o e a a u to su ficiên cia eco n ô m ica , p o r exem -p lo e 2) st a t u s social n orm ativo p ara u m a esp ecífica faixa etária (“role statu s”), com o, p ara o jovem , a p re-sen ça n a escola, ou o trab alh o n a com u n id ad e p ara o ad u lto, p or exem p lo.

O texto é d ivid id o em q u atro p artes. As d u as p ri-m eiras d efin eri-m o ob jeto, os ob jetivos e três tip os ge-rais d e avaliação b asead a n os resu ltad os: a avaliação d e efetivid ad e (exten são com a qu al o p rogram a atin -giu seu s ob jetivos); a avaliação d o im p acto (d iferen ça a tin gid a e n tre o p ro gra m a e u m a a lte rn a tiva , o u o “n ão-p rogram a”) e a avaliação de cu sto-ben efício (p e-so d os b en efícios d ian te d os cu stos). A terceira p arte d iscu te a co leta , o co n tro le e a a n á lise d e d a d o s em vários d esen h os m etod ológicos. A qu arta p arte ab ord a a q u estão ord a relação ord a avaliação com o p lan eja -m en to e a ad -m in istração d os p rogra-m as. A p arte fin al

rep õe os ob jetivos in iciais d o livro e tece con sid era -ções sob re as ten d ên cias fu tu ras d a p rática d a avalia-ção d e p rogram as em u m con texto caracterizad o p e-lo au tor com o a “era d a accou n tab ility”.

A a p resen ta çã o é b a sta n te d id á tica , u tiliza m u i-tos exem p los, q u a d ros exp lica tivos e “roteiros” p a ra estu d o, to rn a n d o a leitu ra flu en te e a gra d á vel. Esta característica colab ora p ara q u e o livro, além d e su a im ed ia ta con trib u içã o p a ra in terven ções n a á rea d a saú d e m en tal, p ossa ser ap roveitad o tam b ém n a d is-cu ssão d a avaliação d e p rogram as em geral. De fato, em q u e p esem o recorte esp ecífico d o ob jeto d e avalia çã o e o lim ite n a d e fin içã o d e “re su lta d o s a va liá -veis”, tod a a con stru ção teórico-m etod ológica qu e se p e rce b e n o te xto d ia lo ga co m vá ria s d a s q u e stõ e s m a is im p o rta n te s e a tu a is d a rica p ro d u çã o n o rte -am erican a em avaliação d e p rogr-am as. Tom an d o o li-vro n este sen tid o m ais geral, p od e-se afirm ar serem se u s p rin cip a is p o n to s p o sitivo s: 1) o e sfo rço p a ra con stru ir u m a ap roxim ação m etod ológica m ú ltip la; 2) a cla reza ta n to n a exp lica çã o d o s p a sso s a co n se -lh á ve is p a ra a a va lia çã o n a s vá ria s m e to d o lo gia s, q u a n to n a d iscu ssã o d os lim ites e “p erigos” d e ca d a u m a d elas; 3) a ên fase n a n ecessid ad e d a in tegração efetiva en tre a avaliação e o p lan ejam en to/ gestão d e p rogram as e o cu id ad o em resu m ir p on tos-ch ave p a-ra o su cesso d esta in tega-ração.

Por ou tro lad o, é p reciso lem b rar q u e se trata d e u m livro exclu sivam en te d ed icad o à avaliação d e re-su lta d o s esp era d o s e referid o s a in d ivíd u o s-a lvo d e p rogra m a s b em esta b elecid os e con d u zid os segu n -d o a s n o rm a s p re vista s. Su a a b o r-d a ge m a va lia tó ria n ã o d ia lo ga , p o rta n to, co m p elo m en o s d u a s situ a -ções b astan te freq ü en tes n a p rática d e avaliação n as q u a is: 1) o s re su lta d o s e sp e ra d o s d o p ro gra m a tê m m ú ltip la s n a tu reza s e/ o u sã o p a rcia lm en te n eb u loso s e / o u sã o d ificilm e n t e m e n su rá ve is; 2) a o p e ra -çã o d o p ro gra m a é n o rm a tiva m en te n eb u lo sa e/ o u su a op eração con creta está d istan te d a estab elecid a. En ten d en d o estes lim ites, o livro p o d e ser visto ta n to co m o u m gu ia d id á tico p a ra a va lia çõ es d e re-su lta d o s e sp e ra d o s d e p ro gra m a s d e in te rve n çã o, q u a n to co m o u m a im p o rta n te co n trib u içã o p a ra o d eb ate teórico-m etod ológico acerca d a avaliação d e p rogram as sociais em geral e d e saú d e em p articu lar, in felizm en te ain d a p ou co d esen volvid o n o Brasil.

Maria In es Bap tistella Nem es Dep artam en to d e Med icin a Preven tiva Cen tro d e Saú d e Escola Sam u el Pessoa

Referências

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