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CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO CAMILO ESPÍRITO SANTO Curso de Farmácia

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO CAMILO ESPÍRITO SANTO

Curso de Farmácia

Bruna Oliosi Mongin Mariana de Souza Guimarães

Vanessa Alves Lorençoni

Mielite como complicação de meningite bacteriana aguda por Streptococcus mitis: relato de caso

Cachoeiro de Itapemirim – ES

Junho/2014

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Bruna Oliosi Mongin Mariana de Souza Guimarães

Vanessa Alves Lorençoni

Mielite como complicação de meningite bacteriana aguda por Streptococcus mitis: relato de caso

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Farmácia do Centro Universitário São Camilo – Espírito Santo, orientado pela Profa. MSc. Camilla Dellatorre Teixeira, como requisito para obtenção do título de bacharel em Farmácia.

Cachoeiro de Itapemirim – ES

Julho/2014

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“A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém viu, mas pensar o que ninguém ainda pensou sobre aquilo que todo mundo vê.”

Arthur Schopenhauer

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Agradecemos a Deus, pois sеm Ele nãо teríamos tido forças pаrа essa longa jornada, as nossas famílias, a nossa orientadora Professora Camilla Dellatore Teixeira pelas horas de dedicação ao estudo, ao neuropediatra Dr Carlos Henrique Souza dos Santos e ao farmacêutico Dr David Marcos Câmara Costa.

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4 SUMÁRIO

RESUMO 5

ABSTRACT 6

INTRODUÇÃO 7

RELATO DE CASO 10

MATERIAL E MÉTODOS 11

RESULTADOS E DISCUSSÃO 12

CONSIDERAÇÕES FINAIS 15

REFERÊNCIAS 16

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MIELITE COMO COMPLICAÇÃO DE MENINGITE BACTERIANA AGUDA POR STREPTOCOCCUS MITIS: RELATO DE CASO

MYELITIS AS A COMPLICATION OF ACUTE BACTERIAL MENINGITIS IN STREPTOCOCCUS MITIS: CASE REPORT

GUIMARÃES, Mariana de Souza1 LORENÇONI, Vanessa Alves2 MONGIN, Bruna Oliosi3 TEIXEIRA, Camilla Dellatorre4

RESUMO

De acordo com o Ministério da Saúde (MS), nos últimos cinco anos o Brasil tem apresentado queda no número de casos de meningite. Em 2007, ao todo, foram 29.935 casos da doença.A meningite caracteriza-se pela infecção das meninges cerebrais, sem afetar o parênquima cerebral, podendo ser causada por diversos agentes infecciosos, bactérias, vírus, fungos, parasitas, entre outros.Dentre as infecções que acometem o sistema nervoso as meningites bacterianas agudas são as principais responsáveis pelas elevadas taxas de mortalidade e morbidade, sendo mais frequentes e mais graves nas crianças.Além dessas complicações da meningite bacteriana, destaca-se a mielite que surge raramente como agravante em meningites, tendo sido descrita associada a diversos agentes. Assim, a medula espinhal está susceptível a sofrer lesões e, consequentemente, pré-disponível ao aparecimento de algumas patologias, tal como a mielite transversa aguda, uma síndrome clínica rara, caracterizada por um processo inflamatório que pode afetar diversos segmentos da medula espinhal. Embora o Streptococcus mitis seja um agente etiológico raro das meningites bacterianas na comunidade, deve ser considerada uma bactéria relevante no diagnóstico diferencial da doença, especialmente em pacientes idosos, alcoólatras, com maus hábitos de higiene bucal, com diagnóstico recorrente de sinusite, bem como portadores de doenças auto imunes. O presente estudo tem por objetivo principal relatar um caso de paciente com mielite por Streptococcus mitis, que desenvolveu mielopatia aguda com extenso comprometimento medular demonstrado em Ressonância Magnética Nuclear,e apresentar discussão acerca das principais repercussões clínicas dessa doença, embasando-a em uma revisão concisa da literatura pertinente.

Palavras-chave: meningite bacteriana, Streptococcus mitis, mielite.

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1Graduanda do Curso de Farmácia do Centro Universitário São Camilo-ES, email:

marianas_guimaraes@hotmail.com

2Graduanda do Curso de Farmácia do Centro Universitário São Camilo-ES, email:

vanessa.bravin@hotmail.com

3Graduanda do Curso de Farmácia do Centro Universitário São Camilo-ES, email:

brunamongin@hotmail.com

4Professor orientador: Mestre em Patologia Clínica com ênfase em Análises Clínicas, Centro Universitário São Camilo-ES,camilladellatorre@saocamilo-es.br

Cachoeiro de Itapemirim – ES, Julho de 2014.

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6 ABSTRACT

According to the Ministry of Health (MOH), in the last five years Brazil has shown a decrease in the number of meningitis cases. In 2007, in total, were 29,935 cases of the disease. Meningitis is characterized by infection of the meninges, brain, without affecting the brain parenchyma and can be caused by various infectious agents, bacteria, viruses, fungi, parasites, among others.

Among the infections that affect the nervous system acute bacterial meningitis are the main responsible for the high rates of mortality and morbidity, more frequent and more severe in children. In addition to these complications of bacterial meningitis, myelitis stands out as an aggravating factor that rarely arises in meningitis, have been reported in association with various agents.

Thus, the spinal cord is likely to suffer damage and, consequently, the available pre-emergence of certain diseases such as acute transverse myelitis, a rare clinical syndrome characterized by an inflammatory process that can affect various segments of the spinal cord. Although Streptococcus mitis is a rare etiologic agent of bacterial meningitis in the community, should be considered a relevant bacteria in the differential diagnosis of the disease, especially in elderly, alcoholic patients with poor oral hygiene habits, with recurrent diagnosis of sinusitis, as well as having autoimmune diseases. This study's main objective is to report a case of a patient with myelitis Streptococcus mitis, who developed an acute myelopathy with extensive spinal cord involvement demonstrated in Nuclear Magnetic Resonance, and present discussion of certain clinical consequences of this disease, basing it on a review of concise literature.

Keywords: bacterial meningitis, Streptococcus mitis, myelitis.

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7 INTRODUÇÃO

De acordo com o Ministério da Saúde (MS), nos últimos cinco anos o Brasil tem apresentado queda no número de casos de meningite. Em 2007, ao todo, foram 29.935 casos da doença. De janeiro a novembro de 2011, todos os estados da federação somaram um total de 15.065 casos, o que representa uma redução de 49,6% nos diagnósticos em todo o país.Dentre as principais ações de prevenção da doença, destaca-se a oferta das vacinas contra as meningites por Neisseria meningitidis (meningococo), Streptococcus pneumoniae (pneumococo) e Haemophilus influenzae tipo b (Hib) através do calendário básico do Programa Nacional de Imunizações (PNI) sendo ofertadas no Sistema Único de Saúde (SUS).

A meningite caracteriza-se pela infecção das meninges cerebrais, sem afetar o parênquima cerebral, podendo ser causada por diversos agentes infecciosos, bactérias, vírus, fungos, parasitas, entre outros. Do ponto de vista da saúde pública, a meningite causada por bactérias e vírus são as mais importantes, devido sua magnitude e potencial de produzir surtos. As meningites mais prevalentes são: a meningite Pneumocócica, causada pelo Streptococcus pneumoniae, a meningocócica, causada pela Neisseria meningitidise a causada pelo Haemophilus influenzae (FONSECA et al, 2011).

Dentre as infecções que acometem o sistema nervoso as meningites bacterianas agudas são as principais responsáveis pelas elevadas taxas de mortalidade e morbidade, sendo mais frequentes e mais graves nas crianças.

Complicações conhecidas das meningites bacterianas incluem crises epilépticas, acometimento vascular cerebral arterial e venoso (isquemias/

vasculites, hemorragias intracranianas/hemorragia sub aracnóide, trombose de seio venoso), edema cerebral difuso, hidrocefalia, comprometimento auditivo e complicações sistêmicas tais como choque séptico, síndrome do desconforto respiratório tipo adulto, insuficiência renal, coagulação intravascular disseminada(KONEMAM, 1992).

Nas meningites virais, o quadro é mais leve quando comparadas às demais meningites, sendo os sintomas semelhantes aos das gripes e resfriados comuns. A doença acomete principalmente crianças cujos sintomas variam entre febre, dor de cabeça, rigidez da nuca, inapetência e irritabilidade.

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8 Uma vez que os exames clínico-laboratoriais tenham comprovado tratar-se de meningite viral a conduta médica recomendada, em geral, é o tratamento dos sintomas aguardando a evolução natural da patologia cujo prognóstico não difere das demais viroses. As meningites bacterianas são sintomaticamente mais graves e devem ser tratadas imediatamente. Os principais agentes causadores da doença são meningococos, pneumococos e hemófilos, bactérias transmitidas pelas vias respiratórias ou associadas a quadros infecciosos, tais como a otite( FARIA et al, 1999).

A literatura recente revela que a meningite bacteriana aguda em crianças está associada a um grande risco de complicações e sequelas neurológicas, presente em um percentual de aproximadamente 40% dos casos, além de uma considerável taxa de mortalidade,que pode alcançar índices de 4% a 10% (CHÁVEZ-BUENO, 2005; CHINCHANKAR et al,2002).

Além dessas complicações da meningite bacteriana, destaca-se a mielite que surge raramente como agravante em meningites, tendo sido descrita associada a diversos agentes, tais como Neisseria meningitidis,Streptococcus pneumoniae, Streptococcus do grupo b, Escherichia coli, Haemophilus influenzae, Klebsiella pneumoniaee Corynebacterium jeikeium ocorrendo em diversas faixas etárias, desde o período neonatal, lactentes ,pré-escolares, até a vida adulta (JOHNSON et al, 2005; TITLIC et al, 2006).

Assim, a medula espinhal está susceptível a sofrer lesões e, conseqüentemente, pré-disponível ao aparecimento de algumas patologias, tal como a mielite transversa aguda, uma síndrome clínica rara, caracterizada por um processo inflamatório que pode afetar diversos segmentos da medula espinhal (FONSECA et al, 2003). A mielite transversa aguda é classificada como uma das leucomielopatias agudas, sendo uma das enfermidades desmielinizantes inflamatórias de mais difícil diagnóstico e de prognóstico reservado, devido à gravidade do dano produzido e suas sequelas funcionais (BARRAZA et al, 2003).

Os sintomas iniciais mais frequentes na mielite são quadriplegia ou paraplegia de severidade variável, porém com início súbito em todos os casos relatados,oscilando seu início do momento do diagnóstico da meningite até quatro dias após o início da terapia antimicrobiana. Normalmente apresenta prognóstico desfavorável com baixa probabilidade de recuperação neurológica

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9 completa, podendo-se destacar como déficitis neurológicos residuais mais frequentes a espasticidade, dificuldade de marcha e disfunção do controle vesical e intestinal (JOHSON et al, 2005; KHAN et al, 1990; MOFFETTT et al, 1997;SEPPALA et al, 2003).

Embora o Streptococcus mitis seja um agente etiológico raro das meningites bacterianas na comunidade, deve ser considerada uma bactéria relevante no diagnóstico diferencial da doença, especialmente em pacientes idosos, alcoólatras, com maus hábitos de higiene bucal, com diagnóstico recorrente de sinusite, bem como portadores de doenças auto-imunes. O Streptococcus mitis é um importante membro do grupo Streptococcus viridans e normalmente habita a orofaringe, a pele, o sistema gastrointestinal e a flora genital feminina. É considerada uma bactéria de baixa patogenicidade e virulência. Em paciente com imuno-comprometimento, o Streptococcus mitis pode provocar graves condições clínicas incluindo sepse e choque séptico (LU et al, 2003; SEPPALA, 2003).

Nas primeiras semanas após o nascimento, observa-se que as bactérias bucais são predominantemente do gênero Streptococcus. Dentre este gênero, as espécies mais frequentemente isoladas são Streptococcus mitis, Streptococcus oralis e Streptococcus salivaris. Durante os primeiros meses de vida, a microbiota torna-se mais complexa, isto é, aumenta em quantidade e diversidade de microrganismos (KOLENBRANDER et al, 1993; THYLSTRUP et al, 1995).

Streptococcus mitis é um coco Gram positivo, anaeróbio facultativo, catalase negativo, mesófilo e alfa-hemolítico que habita a boca humana. São bactérias comensais que colonizam superfícies duras na cavidade oral, como tecido dentais duro, bem como membranas mucosas e fazem parte da flora oral. Normalmente não são patogênicos, mas podem provocar endocardite bacteriana, uma inflamação que acomete a camada interna do coração (KONEMAN et al, 1997).

Além disso, Streptococcus mitis e outros S. viridans são agentes de inúmeras infecções, principalmente de endocardite bacteriana subaguda e infecções do trato respiratório. A má higiene oral e tratamento odontológico tem papel importante na bacteremia e na endocardite seguinte (CARLLOS et al, 1999; JOHNSON et al, 2005).

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10 O presente estudo tem por objetivo principal relatar um caso de um paciente com mielite por Streptococcus mitis e apresentar discussão acerca das principais repercussões clínicas dessa doença, embasando-a em uma revisão concisa da literatura pertinente.

Relato de caso

Criança do sexo masculino, oito anos de idade, sem antecedentes gestacionais e perinatais patológicos, sem antecedentes familiares patológicos, com desenvolvimento neuropsicomotor adequado. Encaminhado ao pronto-socorro do Hospital Infantil Francisco de Assis com história de febre há dois dias, cefaleia, vômitos, dor abdominal baixa com redução e retenção do volume urinário. Ao exame de entrada demonstrava-se apático, com fácies de dor, globo vesical palpável em abdome, discreta rigidez de nuca. Hemograma apresentando leucocitose discreta com desvio para esquerda, glicose:

104mg/dl, íons e creatinina normais, TAP e PTT normais. Realizado exame do líquor cefalorraquidiano que demonstrou glicose: 55mg/dl, proteína: 204mg/l, lactato: 30mg/dl, células: 430 (61% neutrófilos 28% linfócitos e 11% monócitos) e bacterioscopia com ausência de bactérias com látex e cultura inicialmente liberadas como positivas para Streptococcus pneumoniae. Iniciada antibioticoterapia endovenosa com Ceftriaxona que foi utilizado por 10 dias com normalização e esterilização do líquor e realizado cateterismo vesical de demora. A cultura foi enviada para dois laboratórios de referência onde nos laudos revelavam a bactéria como Streptococcus mitis. Evoluiu já no 2º dia de internação com paraplegia crural flácida de início súbito com reflexos profundos abolidos em membros inferiores, reflexos cutâneos abdominais ausentes e com perda da sensibilidade superficial e profunda com nível sensitivo em T4.

Realizado ressonância magnética (RNM) coluna torácica que evidenciou área de hiposinal em T1 e hipersinal em T2 acometendo difusamente as porções centrais da medula com início na porção cérvico-bulbar estendendo-se inferiormente até o cone medular. Iniciado pulsoterapia com metilprednisolona (30mg/kg) por três dias e posteriormente prednisona oral por 15 dias com retirada gradual, realizando também fisioterapia motora e cuidados para

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11 prevenção de escaras. No 24º dia de internação, ainda em uso de cateterismo vesical apresentou infecção urinária por Klebsiella pneumoniae ESBL tratada com Meropenem por 10 dias com uroculturas de controle negativas. Recebeu alta após 50 dias de internação com melhora da sensibilidade superficial e profunda em membros inferiores, porém com paraparesia crural flácida com discreta melhora mantendo disfunção vesical em uso de cateterismo vesical intermitente.

MATERIAL DE MÉTODOS

O presente estudo foi desenvolvido inicialmente de forma exploratória e através de revisão bibliográfica para fundamentação teórica. Posteriormente, foi apresentado um breve relado de caso clínico associado ao referencial teórico.

Para otimizar o alcance dos objetivos determinados neste trabalho optou-se pela realização de uma revisão bibliográfica buscando proporcionar a incorporação das evidências científicas no desenvolvimento da prática clínica.

A estratégia de busca dos artigos utilizados são bases de dados importantes na área de saúde, tendo como acesso os sites: SCIELO (Scientific Electronic Library Online), LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), PUBMED e MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online).

Na caracterização desse estudo, utilizou-se da análise da ficha de evolução do paciente, bem como dos respectivos resultados de exames clínico- laboratoriais.

O presente trabalho foi realizado no Laboratório de Análises Clínicas Satyro Pereira França do Hospital Infantil Francisco de Assis localizado no município de Cachoeiro de Itapemirim – Espírito Santo, especificamente nos setores de Microbiologia, Bioquímica, Hematologia e Sala de Microscopia.

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12 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O Sreptococcus mitis é um importante membro do grupo viridans e normalmente habita a orofaringe, a pele, o sistema gastrointestinal e a flora genital feminina. É considerada uma bactéria de baixa patogenicidade e virulência. Em paciente portador de imuno-comprometimento, o Streptococcus mitis pode provocar graves condições clínicas incluindo sepse e choque séptico (LU et al, 2003; SEPPALA, 2003).

No presente trabalho, as colônias bacterianas isoladas a partir do caso relatado apresentaram hemólise características de alfa-hemólise, conforme pode ser visualizado nas figuras 1 e 2, que caracterizam o crescimento do Streptococcus mitis em ágar sangue. Pela morfologia das colônias em associação à hemólise obtida, pode-se caracterizar como um membro do grupo viridans.

Depois de realizados os referidos trabalhos no laboratório, as placas foram enviadas ao laboratório de apoio Fleury, localizado no estado do Rio de Janeiro, para confirmação da identificação obtida. Após isolamento primário e confirmação da espécie bacteriana, a amostra foi submetida à determinação da suscetibilidade aos antimicrobianos através do sistema automatizado VITEK®.

O Streptococcus mitis e outros estreptococos do grupo viridans são importantes agentes etiológicos de inúmeras infecções, principalmente de endocardite bacteriana subaguda e infecções do trato respiratório. Maus hábitos de higiene oral e intervenções por meio de tratamento odontológico tem papel importante na bacteremia e na possível endocardite secundária (CARLLOS et al, 1999; JOHNSON et al, 2005).

Embora apresentar-se como causa rara de meningite na comunidade, o Streptococcus mitis deve ser considerado no diagnóstico diferencial da doença especialmente em pacientes com diferentes fatores de risco como a idade avançada (acima de 50 anos), alcoolismo, má higiene oral, sinusite maxilar, recém nascidos e procedimentos invasivos como raquianestesia ou intervenção neurocirúrgica, assim como imunodeficiências primárias e secundárias (BIGNARDI et al, 1989; BALKUNDI et al, 1997; KUTLU et al, 2008). Neste estudo, o paciente cujo caso clínico foi relatado não apresentou antecedentes

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13 de manipulação dentária nem procedimento anestésico ou neurocirúrgico prévio e nem alterações das imunoglobulinas séricas que sugerissem imunodeficiências, porém ao exame de admissão apresentava sinais de má higiene oral, em consonância à literatura.

Os Streptococcus do grupo viridans tornaram-se cada vez mais resistentes aos antimicrobianos, incluindo penicilinas, cefalosporinas, eritromicina, e tetraciclina. O Streptococcus mitis é mais resistente aos antimicrobianos que outros estreptococos do mesmo grupo (SEPPALA et al, 2003; LYYTIKAINEN et al, 2004; KONEMAN et al, 1997). O paciente cujo caso está sendo apresentado por meio deste trabalho recebeu inicialmente ceftriaxona como tratamento empírico para meningite bacteriana, de acordo com a recomendação de diversos protocolos de tratamento para meningite bacteriana aguda na literatura, uma vez que ainda não havia a identificação do real agente etiológico nem seu perfil de susceptibilidade frente aos antimicrobianos. No caso descrito, o microrganismo identificado demonstrou-se sensível à penicilina e à vancomicina, sendo, porém mantido o esquema inicial devido à boa resposta clínica e a esterilização do líquor.

Quanto à susceptibilidade aos antimicrobianos, vale destacar que os Streptococcus viridans podem transferir seus genes de resistência as ao pneumococo, que apresenta-se como o integrante com maior patogenicidade do grupo A (SEPPALA et al, 2003).

Embora o Streptococcus mitis seja considerado raro agente etiológico de meningite na comunidade, deve ser considerado no diagnóstico diferencial da doença, especialmente em pacientes com diferentes fatores de risco (KUTLU et al, 2008).

A perda abrupta da função medular em paciente com meningite bacteriana indica que uma mielopatia o está acometendo, podendo ser resultado de efeito de massa por meio da compressão medular, comprometimento vascular ou mielite, sendo, portanto, fundamental nestes casos a avaliação do segmento medular através de exames de imagem. No caso relatado a ressonância nuclear magnética de coluna não evidenciou hemorragias no espaço epidural, abscessos intra ou extramedulares tais como abscesso epidural ou empiema subdural, herniações, que pudessem produzir

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14 compressão medular, não havendo também qualquer coagulopatia que promovesse hemorragia após a punção lombar.

Outro dado clínico de relevância envolve o infarto isquêmico da medula durante a meningite bacteriana, que pode ser causado por vasculite, hipotensão sistêmica devido ao choque ou aracnoidite com vasculite secundária, porém neste estudo não houve hipotensão arterial, choque ou parada cardiorrespiratória bem como não foi necessário utilizar intervenção medicamentosa por meio de drogas vasoativas. Existem relatos de que a aracnoidite com interferência no suprimento sanguíneo da medula espinhal pode comprometer o paciente de dez dias a vários anos após a meningite bacteriana aguda (KASTENBAUER et al 2001; TURNER, 1948). Entretanto, neste estudo os sintomas medulares desenvolveram-se precocemente, logo nos primeiros dias da doença.

A ressonância nuclear magnética do caso apresentado neste trabalho demonstrou área de hipossinal em T1 e hipersinal em T2 acometendo difusamente as porções centrais da medula com início na porção cérvico-bulbar estendendo-se inferiormente até o cone medular, em concordância à literatura que registra a presença de hiperintensidade intramedular central em T2 (possivelmente refletindo edema devido à inflamação), que pode estender-se da medula cervical até a medula lombar indicando mielite (BHOJO et al, 2002;

KASTENBAUER et al, 2001).

A partir da análise da Ressonância nuclear magnética de crânio foi possível identificar alteração de sinal acometendo centros semiovais, tálamo, região subocular, ínsula e transição entre o tronco cerebral e a medula cervical em contraste com relatos prévios da literatura que demonstraram edema cerebral e alteração de sinal em substância branca periventricular na meningite por Streptococcus mitis, refletindo áreas localizadas de isquemia com edema

citotóxico decorrentes de vasculite e trombose (YIS et al, 2012).

Quanto à vasculite, principalmente a arterite tem um papel importante na lesão medular que ocorre durante a meningite bacteriana, com relatos de autópsias demonstrando que as artérias espinhais anteriores possuíam evidências de trombose e necrose, levando a infarto em discretas áreas da medula espinhal em recém-nascidos que apresentaram meningite por Escherichia coli e em criança que apresentou meningite por Haemophilus

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15 influenzae que evoluíram para o óbito (COKER et al, 1994; TAL et al, 1980).

Uma vez realizados os exames de imagem e descartadas as demais causas anteriormente citadas, não sendo encontrada nenhuma anormalidade anatômica para justificar o comprometimento medular em vigência de uma meningite bacteriana, vasculite envolvendo o suprimento sanguíneo para medula espinhal será a explicação mais provável para o caso relatado.

O estudo imaginológico inicial pode ser normal ou revelar edema e hipersinal em T2 nos segmentos medulares atingidos. Habitualmente, o acometimento de até três segmentos medulares é encontrado nos casos de mielite por desmielinização (esclerose múltipla). As demais causas, tais como doenças auto-imune, pós infecciosas e idiopáticas, em geral, apresentam acometimento extenso da medula (mais que três segmentos medulares) (ANDRONIKOU et al, 2003) Em concordância à literatura, as evidências de imagens do caso apresentado que demonstraram acometimento de diversos segmentos medulares.

Figura 1 - Bactérias apresentando alfa hemólise. Figura 2 - Bactérias apresentando alfa hemólise.

Fonte : OS AUTORES, 2014. Fonte : OS AUTORES, 2014.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar do enorme avanço no campo da meningite bacteriana, as taxas de morbidade e mortalidade continuam elevadas. A imunoterapia através das vacinas poderá reduzir a incidência das meningites, mas não erradicá-las completamente. Há necessidade do desenvolvimento de novas terapias

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16 preventivas, tanto quanto às vacinas ou aos inibidores específicos da cascata inflamatória.

A meningite bacteriana é uma doença quase sempre fatal que, quando não diagnosticada e tratada em tempo, normalmente é conduzida como uma emergência médica impactando o atendimento médico.

Desta forma, reafirma-se a importância deste relato, especialmente, quanto aos pacientes que apresentam mielopatia aguda, a qual deve ser associada à possibilidade de meningite, bem como à realização indispensável de exames de imagem em função do comprometimento medular. Em caso de não haver registro para anormalidade anatômica, a vasculite envolvendo o suprimento sanguíneo para medula espinhal será a explicação mais provável.

Diante do exposto, verifica-se que o caso clínico apresentado destaca-se dos demais anteriormente relatados, especialmente, pela imunocompetência do paciente acometido pela meningite bacteriana causada pelo Streptococcus mitis. Tal confrontamento justifica a pesquisa devido à importância em verificar os dados clínicos desse paciente, em especial, contribuindo para o avanço da ciência em um contexto geral.

A partir do presente estudo foi possível, portanto, destacar a importância do Streptococcus mitis como agente etiológico de meningites bacterianas, mesmo em indivíduos imunocompetentes. No presente trabalho, além desses dados, verificou-se uma evolução clínica complicada com paraplegia como consequência à mielite que é característica da patologia principal.

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