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Sumário. Texto Integral. Tribunal da Relação do Porto Processo nº

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Tribunal da Relação do Porto Processo nº 0624332

Relator: MÁRIO CRUZ Sessão: 26 Setembro 2006 Número: RP

Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: APELAÇÃO.

Decisão: CONFIRMADA.

IRS RETENÇÃO NA FONTE EXECUÇÃO

Sumário

I- Sendo a execução fundada em sentença proferida por tribunal comum, será este competente para interpretação e aplicação de normas de direito fiscal necessárias à decisão.

II- No pagamento de indemnizações devidas por acidente de viação, não pode a seguradora proceder à retenção na fonte de IRS.

Texto Integral

Acordam no Tribunal da Relação do Porto:

I. Relatório

B…….. veio instaurar execução contra

“C……., SA”, para cobrança da quantia de € 2.352,56, quantia que

alegadamente a Executada lhe não pagou dum total de uma indemnização em que esta fora condenada.

A Executada, veio opor-se à execução, deduzindo embargos, dizendo, designadamente nada dever por ter já pago toda a indemnização a que se mostrava obrigada (€ 202.539,82 +15.683,76 de juros moratórios), havendo apenas retido na fonte, para efeitos de IRS, a importância de € 2.352,56 fruto da incidência sobre os juros moratórios, por a tal se mostrar legalmente

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obrigada; afirmou ainda, ter já em seu poder recibo de quitação assinado pela Exequente, onde esta declara ter já recebido tudo a que tinha direito e nada mais havia a reclamar.

A Exequente-Embargada contestou dizendo que havia assinado o recibo sob reserva, dando-lhe disso expresso conhecimento por carta, declarando que não aceitava a retenção efectuada, - declaração que a Executada aceitou -, e, ao mesmo tempo, voltou a manifestar a sua discordância quanto à referida retenção, uma vez que os juros moratórios sobre os quais a Exequente

pretendia operar a retenção, não correspondiam a rendimentos sobre os quais pudesse incidir o IRS.

O M.º Juiz julgou improcedente a oposição à execução e mandou prosseguir a acção executiva.

Recorreu a Executada-Embargante, com base em ter o Tribunal "a quo"

conhecido de matéria fiscal para a qual ele não é competente, uma vez que, em seu entender, essa matéria é da competência especializada dos Tribunais Administrativos e Fiscais.

O recurso foi admitido como apelação e com efeito devolutivo.

Nas alegações de recurso que apresentou, foram formuladas pela Executada- Embargante-Apelante as seguintes conclusões:

“1ª) A ora recorrente, no âmbito da sua actividade seguradora, foi condenada ao pagamento de uma indemnização, acrescida de juros moratórios;

2ª) No rigoroso cumprimento da decisão judicial, a ora recorrente efectuou o pagamento daquilo a que tinha sido condenada, tendo, em relação aos juros moratórios, efectuado uma retenção na fonte, a título de IRS, e entregou ao Estado a quantia de imposto assim retida;

3ª) Fê-lo no cumprimento do disposto nos art°s 5°, n° 2, g), 98°, n° 1 e 101 °, n

° 1, a), do Código do IRS.

4ª) O beneficiário da indemnização instaurou execução contra a ora

recorrente para pagamento da quantia que tinha sido objecto de retenção e entrega nos cofres do Estado;

5ª) O Tribunal "a quo" considerou, no âmbito da oposição deduzida pela ora recorrente, que os juros de mora não estão sujeitos a IRS e, portanto, que a ora recorrente é obrigada a pagar ao lesado a totalidade dos juros a que foi condenada;

6ª) Porém, existe uma violação das regras da competência em razão da matéria;

7ª) Na verdade, o que está em causa é um acto tributário efectuado pela

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Seguradora e ora recorrente (a retenção na fonte) e a apreciação da sua legalidade.

8°) Enquanto acto tributário, a competência para a sua apreciação cabe aos Tribunais Administrativos e Fiscais, através da impugnação judicial.

9ª) À época da instauração da execução, no Estatuto dos Tribunais

Administrativos e Fiscais, aprovado pelo Decreto-Lei n° 129/84, de 27 de Abril estabelecia o art° 1° que "a jurisdição administrativa e fiscal é exercida pelos Tribunais Administrativos e Fiscais, órgãos de soberania com competência para administrar justiça em nome do povo".

10ª) Na sua actual versão, o ETAF estabelece, no art° 1°, n° 1, que "os

Tribunais da jurisdição administrativa e fiscal são os órgãos de soberania com competência para administrar a justiça em nome do povo, nos litígios

emergentes das relações jurídicas administrativas e fiscais".

11ª) Há, deste modo, uma violação das regras da competência, tendo a

sentença recorrida violado o disposto no art° 66° do Código de Processo Civil.

12°) Tanto mais que, uma decisão, como aquela constante da sentença recorrida, ao declarar a ilegalidade do acto tributário (a retenção na fonte) não é oponível ao credor tributário, isto é, ao Estado, aquele que arrecadou a quantia considerada ilegal, nem ao credor Estado é facultado o contraditório.

13°) A sentença recorrida deve assim ser revogada por violação do art° 66° do Código de Processo Civil.

Termos em que o presente recurso deve ser julgado procedente, revogando-se a Sentença recorrida como é de Justiça.”

A Exequente-Embargada contra-alegou, sustentando a bondade do decidido.

Remetidos os autos a este Tribunal foi o recurso aceite com a adjectivação e demais atributos que lhe haviam sido atribuídos na primeira instância.

Correram os vistos legais.

...

II. Âmbito do recurso

Sem prejuízo das questões de conhecimento oficioso, é através das conclusões apresentadas pelo recorrente nas suas alegações de recurso que este deve delimitar as questões que pretende ver tratadas - arts. 684.º-3 e 690.º-1 do CPC.

Assim, basta-nos a leitura das conclusões atrás transcritas, apresentadas pela Executada-Embargante nas suas alegações de recurso, para podermos

concluir que pretende que o âmbito do recurso venha a versar sobre as

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questões seguintes:

a) determinar se o Tribunal comum é competente para apreciar e julgar a matéria atinente a uma execução cujo título executivo consiste numa Sentença nele proferida, quando a única importância que está em causa para cobrança (uma vez que tudo o demais já foi pago) é a relativa à importância que a Executada alegadamente reteve na fonte, para efeitos de IRS;

b) determinar se há lugar a retenção na fonte sobre juros moratórios relativos a indemnização.

Sendo certo que a primeira questão não foi suscitada pela recorrente na sua oposição à execução – só o havendo sido em sede de recurso -, nem por isso vamos deixar de pronunciar-nos sobre ela, uma vez que a competência material é de conhecimento oficioso.

III. Fundamentação III-A) Os factos

Os factos tidos em consideração na Sentença recorrida e que interessam para efeitos de apreciação do presente recurso são os seguintes:

- “Por Acórdão transitado em julgado, proferido em 2004.06.01, pelo STJ, nos autos de acção declarativa de condenação n.º …../2002, que constituem os autos principais, a ora oponente “C……., SA”, foi condenada a pagar à ora Exequente B……, a quantia total de € 217.539,82 , tendo sido confirmada a condenação daquela no pagamento dos respectivos juros, à taxa legal, sobre a quntia de € 539,82 desde a citação para a acção e sobre a parte restante desde 2002.11.11;

- Tal indemnização foi arbitrada por danos causados por acidente de viação;

- A 2003.09.16, a ora oponente efectuou, por conta da indemnização, um pagamento à ora Exequente, no montante de € 15.000,00;

- A ora oponente pagou à Exequente a quantia de € 202.539,82, a 2004.07.07;

- Os juros vencidos até 2004.07.07 ascendiam a € 15.683,76, mas, de tal

quantia, a ora oponente só pagou à Exequente a quantia de € 13.331,20, tendo retido o remanescente de € 2.352,56 a título de IRS, englobando tais juros na categoria E;

- A A. assinou os documentos de fls. 24 e 25, e remeteu à Ré a carta de fls. 44, que a recebeu e respondeu pela carta de fls. 45.”

Tendo em conta que os factos em crise não são objecto de qualquer

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controvérsia, consideramos tais factos como definitivamente fixados para efeito da análise do recurso.

...

III-B) Análise do recurso

As questões acima indicadas como sendo aquelas sobre as quais o Embargante-Apelante pretende que nos pronunciemos são matéria

recorrentemente tratada neste Tribunal da Relação e, – ao que conhecemos -, sempre na forma e conteúdo com que foram apresentadas nas contra-

alegações de recurso.

Limitamo-nos, por isso, com a devida vénia, a transcrever parte dessas contra- alegações, com as quais nos sentimos inteiramente sintonizados, e que foram extraídas do Ac. deste Tribunal da Relação de 2002.02.18, in www.dgsi.pt : Assim, quanto à competência:

“(...) Não obstante ser da competência dos tribunais tributários a

interpretação e aplicação das normas de direito fiscal, nada impede que os tribunais judiciais apreciem essa matéria quando são chamados a decidir no âmbito da sua competência.

Na verdade, nos termos do artigo 96°-1 do Código de Processo Civil o tribunal competente para a acção é também competente para conhecer dos incidentes que nela se levantem e das questões que o réu suscite como meio de defesa.

Ora, tendo-se excepcionado o cumprimento, com fundamento do montante dito em dívida corresponder à declaração obrigatória do IRS e ter sido retida na fonte, a embargante suscita tal facto como meio de defesa e daí que, pelo fenómeno jurídico da competência por extensão, com base no citado

normativo, o Tribunal possa conhecer dessa matéria.”

Acresce dizer aqui, que, sendo a execução fundada em Sentença e havendo sido esta proferida nos tribunais comuns, a competência para a respectiva execução continua a pertencer aos primeiros, já que o Tribunal competente para a execução é o Tribunal competente para a acção que lhe deu origem. – art. 103.º da LOFTJ.

A este respeito, e a título meramente exemplificativo, podemos enunciar os Acs. do STJ de:

1999.04.26, proc.99S020;

2004.01.15, proc.03B4010;

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Acs. desta Relação de:

2002.02.18, proc. 0151876;

2003.05.08, proc. 0331980., todos eles disponíveis in www.dgsi.pt

Examinemos agora a segunda questão, ou seja, a de determinar se deve haver lugar a retenção na fonte do IRS a incidir sobre juros moratórios, quando está em causa a mora no pagamento por uma indemnização civil.

Continuando a transcrever o que nesse Acórdão foi escrito:

“(...) A indemnização devida por danos resultantes da prática de facto ilícito obedece, face ao disposto no artigo 562° do Código Civil, ao principio da

restauração natural ou da indemnização em forma específica. A reparação civil destina-se a dar ao lesado a situação patrimonial que teria se o facto que

causou o dano não tivesse ocorrido.(...)

O que está primariamente em causa é a reintegração de um património ou a substituição de um valor de um bem - cfr. Baptista Machado, in RDES XXIV, pág. 56 e Antunes Varela, Das Obrigações, 3.ª edição, vol I, pág. 731.

Esta obrigação de indemnizar é, assim, uma típica divida de valor. (...)

Os juros moratórias visam a indemnização pelo prejuízo sofrido com o atraso da prestação (BMJ, 305°, 45).

(...)

A Jurisprudência tem sido unânime em definir os juros indemnizatórios ou compensatórios como representativos de danos provocados pela mora do devedor, não correspondendo a uma remuneração ou lucro, mas antes a um reequilíbrio do património do lesado, pela entrega de prestação e respectiva indemnização pelo prejuízo causado (cfr. Por todos CJ 1987, tomo 2, pg. 222).

Em suma, os juros devidos ao Embargado (leia-se aqui à Embargada-

Exequente) não estão sujeitos à incidência do imposto nos termos do artigo 6°

n. ° 1, alínea g), como pretende a Apelante, não podendo ser objecto da retenção prevista no artigo 94°, ambos do Código do IRS. "

A Embargada cita a esse respeito, entre outros, o Ac. do STA no Ac. de 1998.06.03, in Acórdãos Doutrinais, 1453, e diversos outros no mesmo sentido.

Assim, deste Tribunal da Relação do Porto:

Ac. de 2000.10.12 in.CJ 2.000 IV, 213;

Ac. de 1995.03.06, proc. 9420434 in www.dgsi.pt;

Ac. de1982.10.14, in. CJ 1.982, IV, 244

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E, do Tribunal da Relação de Lisboa:

"Ac. de 2000.10.24, in CJ 2000, IV, 131;

Ac. De 1982. 11.23, in CJ 1982,4°, 105.

Mas muitos mais poderíamos citar.

Sustenta no entanto a Apelante que o texto do Código do IRS impõe a retenção, trazendo à colação os arts. 5.º-2-g), 98.º-2 e 101.º-1-a).

Entendemos no entanto, que essa leitura não se encontra correctamente feita, e que, a ser seguida nos moldes em que foi entendida pela Apelante

Embargante, tal interpretação teria um conteúdo inconstitucional. A esse respeito, recomenda-se a leitura do Ac. do STJ de 2003.10.30, no proc.

03B2749, tirado por Moutinho de Almeida, Ferreira de Almeida e Abílio Vasconcelos, também disponível no mesmo sítio da net (www. dgsi.pt) ...

Em face do exposto, a apelação tem de julgar-se improcedente.

...

Deliberação

Na improcedência da apelação confirma-se a douta Sentença recorrida.

Custas pela Apelante.

Porto, 26 de Setembro de 2006 Mário de Sousa Cruz

Augusto José Baptista Marques de Castilho Maria Teresa Montenegro V. C. Teixeira Lopes

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