www.jped.com.br
ARTIGO
ORIGINAL
Association
between
weather
seasonality
and
blood
parameters
in
riverine
populations
of
the
Brazilian
Amazon
夽
,
夽夽
Poliany
C.O.
Rodrigues
a,∗,
Eliane
Ignotti
ce
Sandra
S.
Hacon
baUniversidadedoEstadodeMatoGrosso(Unemat),FaculdadedeCiênciasdaSaúde(FCS),Cáceres,MT,Brasil
bFundac¸ãoOswaldoCruz(Fiocruz),EscolaNacionaldeSaúdePública(ENSP),DepartamentodeEndemiasSamuelPessoa(DENSP),
RiodeJaneiro,RJ,Brasil
cUniversidadedoEstadodeMatoGrosso(Unemat),ProgramadePós-Graduac¸ãoemCiênciasAmbientais,Cáceres,MT,Brasil
Recebidoem28dejulhode2016;aceitoem16denovembrode2016
KEYWORDS
Ironhomeostasis; Biomarkers; Climatechange
Abstract
Objective: Toanalyzetheseasonalityofbloodparametersrelatedtoironhomeostasis, inflam-mation,andallergyintworiverinepopulationsfromtheBrazilianAmazon.
Methods: Thiswasacross-sectionalstudyof120childrenandadolescentsofschoolage,living inriverinecommunitiesofPortoVelho,Rondonia,Brazil,describingthehematocrit, hemoglo-bin, ferritin,serum iron,total whitebloodcellcount,lymphocytes,eosinophils, C-reactive protein,andimmunoglobulinElevelsinthedryandrainyseasons.Thechi-squaredtestandthe prevalenceratiowereusedforthecomparisonofproportionsandmeananalysisusingpaired Student’st-test.
Results: Hemoglobin(13.3g/dL)andhematocrit(40.9%)showedhigheraveragevaluesinthe dryseason.Anemia prevalencewasapproximately4%and12%inthedry andrainy seasons, respectively. Serum iron was lower in the dry season, with a mean of 68.7 mcg/dL. The prevalenceofirondeficiencywas25.8%inthedryseasonand9.2%intherainyseason.Serum ferritindidnotshowabnormalvaluesinbothseasons;however,themeanvalueswerehigher inthedryseason(48.5ng/mL).Theparametersofeosinophils,lymphocytes,globalleukocyte count,C-reactiveproteinandimmunoglobulinEshowednoseasonaldifferences.C-reactive protein andimmunoglobulinE showedabnormal valuesinapproximately7%and60%ofthe examinations,respectively.
DOIserefereaoartigo:
http://dx.doi.org/10.1016/j.jped.2016.11.012
夽 Comocitaresteartigo:RodriguesPC,IgnottiE,HaconSS.Associationbetweenweatherseasonalityandbloodparametersinriverine
populationsoftheBrazilianAmazon.JPediatr(RioJ).2017;93:482---9.
夽夽Esteartigoépartedadissertac¸ão‘‘Alterac¸õessubclínicasemescolaresexpostosaospoluentesatmosféricosderivadosdasqueimadas
naAmazôniaBrasileira’’,daautoraRodrigues,PCO,cujadefesaocorreuem2012naEscolaNacionaldeSaúdePública.Etevecomofonte
definanciamentodosprojetosInova/ENSPeCNPq/PapesVI(407747/2012-5).
∗Autorparacorrespondência.
E-mail:polianyrodrigues@unemat.br(P.C.Rodrigues).
2255-5536/©2017SociedadeBrasileiradePediatria.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Este ´eumartigoOpenAccesssobumalicenc¸aCC
Conclusion: Hematologicalparametersoftheredcellseriesandbloodironhomeostasishad seasonalvariation,whichcoincidedwiththedryseasonintheregion,inwhichanincreasein atmosphericpollutantsderivedfromfiresisobserved.
©2017SociedadeBrasileiradePediatria.PublishedbyElsevierEditoraLtda.Thisisanopen accessarticleundertheCCBY-NC-NDlicense(http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/ 4.0/).
PALAVRAS-CHAVE
Homeostasiadoferro; Biomarcadores; Mudanc¸asclimáticas
Relac¸ãodasazonalidadeclimáticacomparâmetrossanguíneosderibeirinhos residentesnaAmazôniabrasileira
Resumo
Objetivo: Analisarasazonalidadeclimáticadeparâmetrossanguíneosrelacionadosà homeos-tasedoferro,inflamac¸ãoealergiaemduaspopulac¸õesribeirinhasdaAmazôniabrasileira.
Método: Fez-seumestudotransversalem120crianc¸aseadolescentesemidadeescolar, resi-dentesemcomunidadesribeirinhasdePortoVelho,Rondônia.Foramanalisadoshematócrito, hemoglobina, ferritina, ferro sérico, leucometria global, linfócitos, eosinófilos, proteína C--reativaeimunoglobulinaEnasestac¸õessecaechuvosa.Usaram-seotestedoqui-quadradoe arazãodeprevalênciaparaacomparac¸ãodasproporc¸ões,alémdotestetdeStudentpareado paraaanálisedemédias.
Resultados: Hemoglobina (13,3g/dL) e hematócrito (40,9%) apresentaram maiores valores médios noperíodo de seca.A prevalência deanemia foi de4% e 12%naseca ena chuva, respectivamente.Oferroséricofoimenornoperíododesecacommédiade68,7mcg/dL.A prevalênciadedeficiênciadeferrofoiemmédia25,8%nasecae9,2%nachuva.Aconcentrac¸ão séricadeferritinanãoapresentouvaloresalteradosemambososperíodos,noentantoosvalores médiosapresentaram-semaiselevadosnaseca(48,5ng/mL).Osparâmetrosdoseosinófilos, lin-fócitos,leucometriaglobal,proteínaC-reativaeimunoglobulinaEnãoapresentaramdiferenc¸as sazonais.AproteínaC-reativaeaimunoglobulinaEapresentaram valoresalteradosem7%e 60%dosexamesfeitos,respectivamente.
Conclusão: Osparâmetroshematológicosdasérievermelhaeahomeostasiaferrosanguíneo apresentaram variac¸ão sazonal, quecoincidecom operíodo de seca naregião, noqual se observaaumentodospoluentesatmosféricosderivadosdasqueimadas.
©2017SociedadeBrasileiradePediatria.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Este ´eumartigo OpenAccesssobumalicenc¸aCCBY-NC-ND(http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4. 0/).
Introduc
¸ão
OBrasilenfrentouumasecaacentuadaemtodoopaísem 2010. No arco dodesmatamento a seca interferiu direta-mentenoaumentodosfocosdequeimada.EmPortoVelho, amaiorproporc¸ãodefocosocorreuemagostoesetembro, motivopeloqualseobservou,consequentemente,umaalta concentrac¸ãodosníveismédiosdematerialparticulado(MP) registradapelaestac¸ãodemonitoramentodoarem Porto Velho,comumpicode240g/m3emsetembro.Noperíodo
dechuvas,em2011,asconcentrac¸õesdeMPnão ultrapas-saramamédiamensalde10g/m3emtodaaestac¸ão.1
Aliteraturacientíficaregistraatualmentediversos meca-nismostoxicológicospelosquaisoMPpodecausarprejuízos à saúde, cita principalmente prejuízos aos sistemas res-piratório e cardiovascular, desencadeados por respostas inflamatórias, imunológicas e de genotoxidade.2 Os efei-tosenvolvemrespostainflamatóriacomaumentoséricode proteína C-reativa e citocinas3---5 e o aumento da reativi-dade dasvias aéreas pormeiodasimunoglobulinas,6 bem como a alterac¸ão em diversos parâmetroshematológicos,
como aumento da adesão de eosinófilos,7 na contagem de leucócitos8,9 e nos parâmetros de hemoglobina e hematócrito.10,11
AAmazôniabrasileirasofrehistoricamentecomas quei-madasnoperíododesecanaregião.Nessasregiões,alguns estudosecológicos mostram que a queima de biomassa é umdosprincipaisfatoresderiscoparaoaumentoda morbi-mortalidadepordoenc¸asrespiratóriasemcrianc¸aseidosos, principalmente,naregiãodo‘‘arcododesmatamento’’.12---14 Mais recentemente, observou-se também uma associac¸ão entreastaxasdemortalidadepordoenc¸acardiovascularem idososeaexposic¸ãoaoPM2.5.15
Material
e
métodos
Desenhodoestudo
Foifeitoumestudo descritivotransversalcomabordagem quantitativaem escolaresresidentes nas comunidades de Cuniãe Belmont,nomunicípiodePortoVelho(Rondônia), naAmazôniameridionalbrasileira,quecomparouosvalores dosparâmetrossanguíneosemrelac¸ãoàexposic¸ãosazonal aospoluentesprovenientesdasqueimadasdaregião.
Populac¸ãoeáreadeestudo
Apopulac¸ão deestudo foi proveniente deumcenso feito nascomunidadesdeCuniãeBelmontentrejunhoe setem-bro de 2010. As crianc¸as e adolescentes, entre seis e 16anos,residentesnomínimohaviaumanonacomunidade foramelegíveiserecontactadasparaosexamesdesangue emduasetapas:aprimeiranoperíododeseca(outubroe novembrode2010)easegundanoperíododechuva(maio de2011).Foram incluídosapenas osindivíduos que parti-ciparam das duas etapas e que nãoapresentaram quadro infecciosoconhecido no momento dos exames (resfriado, gripe,malária,entreoutros),totalizaram120.
Osmesesdoanoforamagrupadosemsecaechuva,com base nas médias dos registros pluviométricos mensais do InstitutoNacionalde Meteorologia.O períodode seca diz respeitoadejunhoanovembrode2010.Operíododechuva incluidezembrode2010,alémdejaneiroamaiode2011.
Avariac¸ãosazonal climáticaé umacaracterística mar-cantedaregião,élimitadaaduasestac¸õesdefinidas:seca echuva.Essascomunidadesencontram-seem áreasrurais isoladasedesdeadécadade1970atéosdiasatuaissofrem influência direta dos poluentes provenientes das queima-das na região noperíodo de seca. Embora a comunidade deBelmont sofra influência depoluentes urbanos, ambas ascomunidadessãomuitosimilaresnoquedizrespeitoaos hábitoseàscondic¸õesdevida.
A comunidade ribeirinha de Belmont fica próximo ao porto fluvial dePorto Velho,distribui-se nascercanias da ‘‘estradadoBelmont’’,quetem20kmdeextensão.A comu-nidade, embora com características rurais, sofre grande influênciaurbana devido à grande proximidade docentro dePortoVelho(5km).Areservaextrativista(Resex)Cuniã encontra-se a 190km dacapital, PortoVelho. O acesso à comunidadeacontecebasicamenteporviafluvial,gerauma espécie de semi-isolamento da populac¸ão, que se agrava aindamaisnoperíododeseca,principalmentecomrelac¸ão àassistênciamédica.16
Examesdesangue
Asamostrasdesangueesoroforamcoletadasportécnicos dolaboratóriodeanálisesclínicasdoHospital9dejulhode PortoVelho(RO)eprocessadasdeformaautomatizada.Para análisedosanguefoifeitohemogramaautomatizadocoma metodologiadeimpedânciaelétrica,doqualosparâmetros hematócrito,hemoglobina,leucometriageral,eosinófilose linfócitosforamselecionados.Hematócrito e hemoglobina foramselecionadosparaauxiliarnaavaliac¸ãodahomeostase
doferro.Osparâmetrosdasériebranca---leucometriageral, eosinófilose linfócitos---foramselecionados para comple-mentar aavaliac¸ãodosprocessosinflamatóriosealérgicos dosindivíduos.
Apartir dosoroforamanalisadososparâmetros:ferro, ferritina,proteínaC-reativa(PCr)eimunoglobulinaE(IgE). Osparâmetrosdahomeostasedoferro,ferroséricoe fer-ritinaforamobtidospelosmétodosdeGoodwinmodificado eimunoturbidimetria,respectivamente.AdosagemdePCr foiobtidapelométododeaglutinac¸ãodolátexefoiusada para aavaliac¸ãodainflamac¸ão. Paraavaliac¸ãoda alergia foiusadaaIgEmúltiplaparaalérgenosinalantes(HX2)que englobaasensibilizac¸ãoporpoeiracaseira(H1),ácaros(D1 eD2)ebarata(I6),ométododeanáliseusadofoia fluores-cência enzimática--- Immunocap (Thermo Fisher Scientific Inc,Uppsala,Suécia).
Análisesestatísticas
Foram estruturados bancos de dados com todas as informac¸ões levantadas em campo nas duas campanhas feitas.Usaram-seotestedoqui-quadradoearazãode pre-valênciaparaacomparac¸ãodasproporc¸ões,alémdoteste tdeStudentpareadoparaaanálisedemédias,nos perío-dosdesecaechuva.Ascomparac¸õesentreascomunidades foram feitasatravés doteste tde Studentpara amostras independentes. As análises foram feitas com o software estatísticoSPSS(IBMCorp.Released2011.IBMSPSSStatistics paraWindows,versão20.0.NY,EUA).
Protocolos
O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundac¸ão Oswaldo Cruz (CEP/ENSP89/11 --- CAAE 00830031000-1). Todos os parti-cipantes tiveramoconsentimentodos paisouresponsável firmadoatravésdeumtermo.
Resultados
Característicasgeraisdapopulac¸ãodeestudo
Participaramdascoletasemambososperíodos120crianc¸as eadolescentes,55examesfeitosemBelmonte65emCuniã. Cercade70%dapopulac¸ãodeestudoforamcompostospor crianc¸as(>12anos),amédiafoide10anosnoperíodode secae11nodechuvaemambasascomunidades.Ambasas comunidades apresentarammaiorproporc¸ãodeindivíduos dosexofeminino,52% dapopulac¸ãodeBelmonte 60%da populac¸ãodeCuniã.Odiagnósticodeparasitoseintestinal foipositivoem38%dapopulac¸ão,43%paraCuniãe31%para Belmont.
Parâmetrossanguíneos
43,00 14,00
13,75
13,50
13,25
13,00
12,75 42,00
41,00
40,00
39,00
38,00
Seca 2010 Chuva 2011 Seca 2010 Chuva 2011
Legenda
Belmont Cuniã
Comunidades agrupadas
IC 95% - Hematócrito (%) IC 95% - Hemoglobina (%)
Figura1 Distribuic¸ãodosvaloreseintervalosdeconfianc¸a(IC)parahematócritoehemoglobina,segundocomunidadeeperíodo. *Resultadoestatisticamentesignificativoparacomparac¸ãodemédiasentreosperíodos(secaechuva)atravésdotestetdeStudent pareadoep-valor<0,05.#Resultadoestatisticamentesignificativoparacomparac¸ãodemédiasentreascomunidades(emcada período)atravésdotestetdeStudentparaamostrasindependentesep-valor<0,05.
observou-sediferenc¸anosvaloresdesseparâmetroentreas comunidades.Nosparâmetrosglobaisdahemoglobina,para ascomunidadesagrupadaseparaacomunidadedeBelmont, foi verificada diminuic¸ão estatisticamente significativa no períododechuva.Asmaioresconcentrac¸õesdehemoglobina nosangueforamobservadasparaacomunidadedeBelmont em ambos os períodos, contudo foi observada diferenc¸a estatisticamente significativa nas concentrac¸ões entre as comunidadessomentenoperíododeseca(fig.1).
As médias gerais da hemoglobina dos períodos encontram-se dentro dos padrões de normalidade, a prevalência de anemia foi maior em Cuniã. Na seca a prevalênciadeanemiafoide4%enachuvade12%parao conjuntodascomunidades.Foiobservadaprobabilidadede ocorrênciadeanemia35%menornaseca(IC%0,1-0,9).
Paraoconjuntodascomunidadesasconcentrac¸ões séri-cas de ferritina apresentam diminuic¸ão estatisticamente significativa no período de chuva. A concentrac¸ão média na seca foi de 48,5ng/mL, enquanto que na chuva foi de41,2ng/mL.Nemmesmo osvalores mínimosdeambos os períodos podem ser considerados fora dos padrões de normalidade, no entanto os níveis séricos verificados na comunidade de Belmont foram mais elevados do que na comunidade de Cuniãe o conjunto das comunidades, em ambos os períodos. Foi observada diferenc¸a estatistica-mente significativanosníveis séricosde ferritinaentreas comunidadestantonoperíododesecaquantonodechuva. Oferrosérico,commédiasgeraisde68,7mcg/dLnaseca e 77,5mcg/dLna chuva,apresentou aumento estatistica-mentesignificativonoperíododechuvaquandoseobservam ascomunidadesdeformaagrupadaeacomunidadede Bel-mont(fig.2).
Aprevalênciadevaloresalterados,queconfiguram defi-ciênciadeferro,foiemmédia25,8%nasecae9,2%nachuva. Ambasascomunidadesapresentarammaiorprevalênciade examesalteradosnoperíododeseca,contudoacomunidade
deBelmontapresentoumaiorprevalênciadedeficiênciade ferro(33%nasecae11%nachuva).
Os valores referentes a leucometria, eosinófilos e lin-fócitosnãoapresentamdiferenc¸asazonalparao conjunto dascomunidades, nemparaascomunidades emseparado. Nasecaobserva-semédiageralde7.405,8mm3,enquanto na chuva a média foi de 7.172,5 mm3. Ocorre eosinofilia em cercade 70% dos exames em ambos osperíodos para ambasascomunidades, bemcomopara oconjunto delas. Asmédiasgeraisencontram-seemtornode9,9%nasecae 10,2%na chuva.Foi observadadiferenc¸aestatisticamente significativaentre ascomunidades noperíodo deseca. As médiasgeraisparaadistribuic¸ãodosvaloresdoslinfócitos encontram-seemtornode36,1%nasecae35,1%nachuva (fig.3).
Aproporc¸ão deexames de PCR alterados foide 7% no total,Belmont apresentou umaproporc¸ão maiorna seca, enquanto Cuniã apresentou proporc¸ão maiorna chuva. A IgEencontrou-sealterada(reagente)em tornode60%dos examesem ambososperíodos e comunidades,com maior probabilidadedealterac¸ãonoperíododechuvaemambas ascomunidades(tabela1).
Discussão
85 70,00
60,00
50,00
40,00
30,00
Legenda Belmont Cuniã
Comunidades agrupadas 80
75
70
65
60
55
Seca 2010 Seca 2010
IC 95% - Ferro sérico (mcg/dL)
IC 95% - Ferritina (ng/mL)
Chuva 2011 Chuva 2011
Figura2 Distribuic¸ãodosvaloreseintervalos deconfianc¸a(IC)para ferroséricoeferritina,segundo comunidadeeperíodo. *Resultadoestatisticamentesignificativoparacomparac¸ãodemédiasentreosperíodos(secaechuva)atravésdotestetdeStudent pareadoep-valor<0,05.#Resultadoestatisticamentesignificativoparacomparac¸ãodemédiasentreascomunidades(emcada período)atravésdotestetdeStudentparaamostrasindependentesep-valor<0,05.
Tabela1 Proporc¸ãodeexamesalteradosparaproteínaC-reativaeIgEmúltiploparainalantes,segundocomunidadeeperíodo
Seca Chuva 2(valordep) Razãodeprevalência(IC-95%)
N % N %
ProteínaC-reativa Belmont
Alterado 6 10,91 3 5,45 1,08 2,00
Normal 49 89,09 52 94,55 (0,489) (0,5-7,6)
Total 55 100,00 55 100,00
Cuniã
Alterado 2 3,08 3 4,62 0,20 0,7
Normal 63 96,92 62 95,38 (1,000) (0,12-3,9)
Total 65 100,00 65 100,00
Geral
Alterado 8 6,67 6 5,00 0,30 1,33
Normal 112 93,33 114 95,00 (0,784) (0,5-3,7) Total 120 100,00 120 100,00
IgEmúltiploparainalantes Belmont
Reagente 36 65,45 37 67,27 0,04 0,97
Nãoreagente 19 34,55 18 32,73 (1,000) (0,7-1,3)
Total 55 100,00 55 100,00
Cuniã
Reagente 38 58,46 39 60,00 0,03 0,97
Nãoreagente 27 41,54 26 40,00 (1,000) (0,7-1,3)
Total 65 100,00 65 100,00
Geral
Reagente 74 61,67 76 63,33 0,07 0,97
Nãoreagente 46 38,33 44 36,67 (0,894) (0,8-1,2) Total 120 100,00 120 100,00
8500,0 Legenda
Belmont Cuniã
Comunidades agrupadas
8000,0
7500,0
7000,0
6500,0
14
12
10
8
6
38
36
34
32
Seca 2010 Chuva 2011
Seca 2010 Chuva 2011
Seca 2010 Chuva 2011
IC 95% - Eosinófilos (%)
IC 95% - Leucometria global (mm
3)
IC 95% - Linfócitos (%)
Figura3 Distribuic¸ãodosvaloresdeleucometriaglobal, eosi-nófiloselinfócitossegundocomunidadeeperíodo.#Resultado estatisticamentesignificativoparacomparac¸ãodemédiasentre ascomunidades(emcadaperíodo)atravésdotestetdeStudent paraamostrasindependentesep-valor<0,05.
pulmonaresdeindivíduoscominflamac¸ãopulmonarquando comparadoscomindivíduosseminflamac¸ão.Arelac¸ão inver-samenteproporcional observadapodeestar relacionada à mobilizac¸ãodasreservasdeferropeloaumentodouso intra-celular do ferro. A ferritina, embora considerada padrão ouroparaquantificac¸ãodasreservasdeferro,podeseelevar emfunc¸ãodealgumprocessoinflamatórioouinfecciosodo organismo,nãosignificaquehajaelevac¸ãodosestoquesde ferro.19 Oferro,porsuavez,altamenteusadonasreac¸ões metabólicasenaformac¸ãodoselementossanguíneos,pode sofrerreduc¸ãodeformaagudanapresenc¸adeinfecc¸õesou inflamac¸ões.20
Os parâmetros sanguíneos da série vermelha, hemo-globina (Hb) e hematócrito (Ht), apresentaram variac¸ão sazonalcomaumentonoperíododeseca,períodoemque aconcentrac¸ãodematerialparticuladocostumasermaior. Esse resultado corrobora osestudos de Sorensen etal.,11 naAlemanha,queencontraramaumentodosmesmos parâ-metros,em estudantes universitárias, relacionado a altas concentrac¸õesdePM2,5,ecomNeufeldetal.,10naÍndia,que tambémobservaramaumentonaproporc¸ãodehemoglobina ehematócritosanguíneosemmulheresqueusavamfogãoa lenhaindoor.Essaelevac¸ãotemsidointerpretadacomuma adaptac¸ão funcional do organismo em resposta à hipóxia tecidual20 causada pela multielementaridade do material particulado,oqueaindapoderiamascarar,porexemplo,o diagnósticodeanemia.EsseaumentodaHbeHt relaciona--seaindaaumapossívelhemoconcentrac¸ão,21oquesugere aumentonaviscosidadesanguíneanessaépoca.
Outraconstatac¸ãoimportanteencontra-senofatodeque osvaloresdo hematócrito,hemoglobina e ferritina foram maiores na comunidade de Belmont, assimcomo a maior prevalênciadedeficiênciadeferro,oquesugereummaior uso das reservas de ferro pelos indivíduos dessa comuni-dade.Esseachadopodeestar relacionadoàinfluênciados poluentes urbanos na comunidade, além da exposic¸ão às queimadas,vistoqueBelmontencontra-semaispróximoda cidadedePortoVelhoe doporto fluvialdacidade,o que podesugerirmaiorexposic¸ãoaoutrospoluentes, principal-menteprovenientesdaqueimadecombustíveisfósseis.Em contrastecomacomunidadedeCuniã,queseencontrano meiodaflorestaenãopossuicarros.
estudadaapresentaaltaeconstanteprevalênciade parasi-toseintestinal.
A IgE, usada como marcador padrão ouro para aler-gia,apresentouresultadoselevadosnosdoisperíodosenas duas comunidades analisados. Amin,6 numa revisão sobre o papel dos mastócitos na inflamac¸ão alérgica, descreve queaexposic¸ãocontínuaapoluentespodepromovera sín-tese constantede IgE.No entanto,Zavadniak & Rosário25 discutemumpossívelbloqueiodaproduc¸ãodeIgE alérgeno--específicona presenc¸a de parasitoses devido à produc¸ão decélulas T.Medeiros etal.26 observaram menor reativi-dadeemtestescutâneos,tidoscomootestedealergiamais específico, em crianc¸as asmáticas com parasitose. Além disso,Genovetal.27relataramqueaexposic¸ãoahelmintos causariaumareatividadecruzada eestimulariaas respos-tasimunológicasmediadasporIgEem decorrênciadaalta similaridadeentreatropomiosina(proteínaparticipanteda contrac¸ãomusculardevertebradoseinvertebrados conhe-cidapor seraltamente alergênica)doshelmintos e vários alérgenos.
Os resultados encontrados para a proteína C-reativa (PCR) nesteestudo diferem deoutros trabalhos que mos-tram associac¸ão entre o aumento dela e o efeito agudo da poluic¸ão do ar. Tais efeitos foram encontrados prin-cipalmente em adultos e idosos portadores de doenc¸as cardiovasculares,4,5 nos quais se espera um alto nível de PCR, além demaior susceptibilidade aos poluentes do ar devidoà fragilidade em que o organismo seencontra em func¸ão da doenc¸a. No entanto,Shima et al.3 observaram aumentosignificativo na PCR em escolares saudáveis.Por outro lado, Steinvilet al.,22 Rudez etal.28 e Hildebrandt etal.29 tambémnãoencontraramalterac¸õessignificativas nasconcentrac¸õesséricasdePCRem indivíduos saudáveis mesmoemcenáriosdegrandepoluic¸ãoatmosférica, corro-boraramosachadosdeste estudo.Aexplicac¸ãoseriaque, possivelmente,existe umarelac¸ão sistêmica diferente na regulac¸ão da inflamac¸ão em indivíduos saudáveis e doen-tes, além do fato de a PCR não participar de todos os aspectoseestágiosdainflamac¸ão.5,30Outraexplicac¸ãopara o fato de a PCR não demonstrar alterac¸ão, mesmo na presenc¸adeIgEreagenteeeosinofilia,podeestar relacio-nadoàsuacurtameia-vidarelativaaalgumashorasapenas, enquantoameia-vidadosoutrosparâmetrosdizrespeitoa dias.
Dentreaslimitac¸õesdesteestudopodemoscitara natu-rezatransversale ecológicadasassociac¸ões,ao passoque a quantidade de exames feitos pode ter sido insuficiente parademostrarasalterac¸õessazonais.Outroponto impor-tanteestaria relacionado àalta prevalência deparasitose intestinal, à natureza crônica de outras exposic¸ões e ao caráterinespecíficodealgunsbiomarcadoresquepodeter mascarado ouinfluenciado alguns parâmetrossanguíneos, sobretudo os relacionados a alergia e inflamac¸ão. Além disso,oisolamentoaqueascomunidadessofremem deter-minados períodos do ano (Cuniã na seca e Belmont na chuva),bem como abaixa condic¸ãoeconômica deambas ascomunidades,podedificultaroacessoaalimentos, médi-cose remédiose influenciarnegativamentenascondic¸ões desaúdedapopulac¸ão.
Osresultadosdestapesquisaproporcionaramavaliac¸ões de saúde em dois momentos bem característicos da
Amazôniabrasileiraeapresentaramumpanoramasobreos possíveisefeitossubclínicosocorridosemperíodosdemaior e menor queima, descreveram suas particularidades em duascomunidadesribeirinhasdePortoVelho(RO).Contudo, fazem-senecessáriasanálisesmaisaprofundadasdas variá-veisinvestigadasnoestudoemelhorcompreensãodos pro-cessosqueinterferemnadinâmicadasituac¸ãosaúdee ambi-entenascomunidadesribeirinhasdaAmazôniabrasileira.
Concluiu-se que osparâmetros hematológicos da série vermelhaeahomeostasiadoferrosanguíneodeescolares residentes na Amazônia brasileira apresentaramvariac¸ões sazonais,quecoincidecomoperíododesecanaregião,no qualseobserva aumentodospoluentesatmosféricos deri-vadosdasqueimadas.APCR,aIgE,aleucometriageral,os linfócitos e eosinófilos não se mostraram suficientemente sensíveisparaorastreamentodeefeitossubclínicos relaci-onadosàsqueimadas.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
Agradecimentos
Às comunidadesdeCuniãe Belmontea todaaequipedo projetoInovaENSP.
Referências
1.SMMA/RO SM de MAR. Relatório de qualidade ambiental do município de Porto Velho-RQA/PVH 2010/2011. Porto Velho (RO):SecretariaMunicipaldeMeioAmbiente;2012.
2.NelinTD,JosephAM,GorrMW,Wold LE.Directand indirect effects of particulate matter on the cardiovascular system. ToxicolLett.2012;208:293---9.
3.ShimaM.Airpollutionandserum C-reactive protein concen-tration in children. J Epidemiol Jpn Epidemiol Assoc. 2007;17:169---76.
4.PopeCA,HansenML,LongRW,NielsenKR,EatoughNL,Wilson WE,etal.Ambientparticulateairpollution,heartrate varia-bility,andbloodmarkersofinflammationinapanelofelderly subjects.EnvironHealthPerspect.2004;112:339---45.
5.RückerlR,Ibald-MulliA,KoenigW,SchneiderA,WoelkeG,Cyrys J,etal.Airpollutionandmarkersofinflammationand coagu-lationinpatientswithcoronaryheartdisease.AmJRespirCrit CareMed.2006;173:432---41.
6.AminK.Theroleofmastcellsinallergicinflammation.Respir Med.2012;106:9---14.
7.TeradaN,MaesakoK, HirumaK,Hamano N,Houki G,Konno A,etal.Dieselexhaustparticulatesenhanceeosinophil adhe-siontonasalepithelialcellsandcausedegranulation.IntArch AllergyImmunol.1997;114:167---74.
8.Chen J-C, Schwartz J. Metabolic syndrome and inflamma-toryresponsestolong-termparticulateairpollutants.Environ HealthPerspect.2008;116:612---7.
9.PoursafaP,KelishadiR,AminiA, AminiA,AminMM, Lahijan-zadehM,et al. Associationofair pollutionand hematologic parameters in children and adolescents. J Pediatr (Rio J). 2011;87:350---6.
concentration in iron-deficient women. Rev Panam Salud Publica.2004;15:110---8.
11.SorensenM,DaneshvarB,HansenM,DragstedLO, HertelO, KnudsenL,etal.PersonalPM25exposureandmarkersof oxida-tivestressinblood.EnvironHealthPerspect.2003;111:16---26. 12.RodriguesPC,IgnottiE,RosaAM,HaconS,deS.Spatial
distri-butionofasthma-relatedhospitalizationsoftheelderlyinthe BrazilianAmazon.RevBrasEpidemiol.2010;13:523---32. 13.RosaAM,IgnottiE, HaconS,de S,CastroHA. Prevalence of
asthmainchildrenand adolescentsina cityintheBrazilian Amazonregion.JBrasPneumol.2009;35:7---13.
14.Rodrigues PC, Ignotti E, Hacon S, de S. Distribuic¸ão espac¸o-temporaldasqueimadaseinternac¸õespordoenc¸as res-piratóriasem menoresdecinco anosdeidadeemRondônia, 2001a2010.EpidemiolServSaude.2013;22:455---64.
15.Rodrigues PC, Santos ES, Ignotti E, Hacon SS. Space-time analysis to identify areas at risk of mortality from cardi-ovascular disease. BioMed Res Int. 2015. Available from: http://www.hindawi.com/journals/bmri/2015/841645/abs/
[cited06.10.15].
16.CPPT Cuniã. RO-Brazil; 2013. Available from: http://www.
amazonlink.org/cunia/index.html[cited18.01.11].
17.GhioAJ,KimC,DevlinRB.Concentratedambientairparticles inducemildpulmonaryinflammationinhealthyhuman volunte-ers.AmJRespirCritCareMed.2000;162:981---8.
18.TuluceY,OzkolH,KoyuncuI,IneH.Increasedoccupationalcoal dusttoxicityinbloodofcentralheatingsystemworkers.Toxicol IndHealth.2011;27:57---64.
19.Trigg ME. Hematopoietic stem cells. Pediatrics. 2004;113: 1051---7.
20.AndrewsNC.Molecularcontrolofironmetabolism.BestPract ResClinHaematol.2005;18:159---69.
21.Srai SK, Bomford A, McArdle HJ. Iron transport across cell membranes: molecular understanding of duodenal and pla-cental iron uptake. Best Pract Res Clin Haematol. 2002;15: 243---59.
22.SteinvilA,Kordova-BiezunerL,ShapiraI,BerlinerS,RogowskiO. Short-termexposuretoairpollutionandinflammation-sensitive biomarkers.EnvironRes.2008;106:51---61.
23.ParkJE,BarbulA.Understandingtheroleofimmuneregulation inwoundhealing.AmJSurg.2004;187:S11---6.
24.PapadakisMA,McpheeSJ.Currentmedicaldiagnosisand treat-ment2013.52nded.NY,USA:McGraw-Hill;2012.
25.ZavadniakAF,RosárioNA.Regulac¸ãodasíntesedeIgE.RevBras AlergImunopatol.2005;28:65---72.
26.Medeiros M Jr,Figueiredo JP,Almeida MC, MatosMA,Araújo MI,CruzAA, etal.Schistosoma mansoniinfectionis associa-tedwithareducedcourseofasthma.JAllergyClinImmunol. 2003;111:947---51.
27.Genov IR,Solé D, SantosAB, ArrudaLK deP. Tropomiosinas e reatividade cruzada. Rev Bras Alerg Imunopatol. 2009;32: 89---95.
28.Rudez G, Janssen NA, Kilinc E, LeebeekFW, Gerlofs-Nijland ME, Spronk HM, et al. Effects of ambient air pollution on hemostasis and inflammation. Environ Health Perspect. 2009;117:995---1001.
29.Hildebrandt K, Ruckerl R, Koenig W, Schneider A, Pitz M, HeinrichJ,etal.Short-termeffectsofair pollution:apanel studyofbloodmarkersinpatientswithchronicpulmonary dise-ase.PartFibreToxicol.2009;6:25.