• Nenhum resultado encontrado

CONSTRUÇÕES GEOMÉTRICAS: UMA ALTERNATIVA PARA DESENVOLVER CONHECIMENTOS ACERCA DA DEMONSTRAÇÃO EM UMA FORMAÇÃO CONTINUADA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2019

Share "CONSTRUÇÕES GEOMÉTRICAS: UMA ALTERNATIVA PARA DESENVOLVER CONHECIMENTOS ACERCA DA DEMONSTRAÇÃO EM UMA FORMAÇÃO CONTINUADA"

Copied!
234
0
0

Texto

(1)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC/SP

GILSON BISPO DE JESUS

CONSTRUÇÕES GEOMÉTRICAS: UMA ALTERNATIVA

PARA DESENVOLVER CONHECIMENTOS ACERCA DA

DEMONSTRAÇÃO EM UMA FORMAÇÃO CONTINUADA

MESTRADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

(2)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC/SP

GILSON BISPO DE JESUS

CONSTRUÇÕES GEOMÉTRICAS: UMA ALTERNATIVA

PARA DESENVOLVER CONHECIMENTOS ACERCA DA

DEMONSTRAÇÃO EM UMA FORMAÇÃO CONTINUADA

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, sob a orientação do(a) Prof. Dr. Saddo Ag Almouloud.

(3)

Banca Examinadora

________________________________________

________________________________________

(4)

Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.

(5)

“A Bahia já me deu

régua e compasso.

Quem sabe de mim sou eu

Aquele abraço!”

(6)
(7)

AGRADECIMENTOS

A DEUS, por me oportunizar realizar este sonho.

Ao Professor Doutor Saddo Ag Almouloud, pela sua orientação, por confiar em mim, por respeitar o meu tempo e por ter me dado autonomia para a realização desta pesquisa.

Aos membros da banca, Professoras Doutoras Elenice de Souza Lodron Zuin e Maria José Ferreira da Silva, pelas valiosas contribuições e sugestões para essa pesquisa.

A todos os professores, que voluntariamente se disponibilizaram a ser sujeitos deste trabalho.

Aos colegas Messildo, Ana Maria, Milton, Ricardo, Victoria, Sérgio e Eliana, pelas observações realizadas durante a coleta dos dados, especialmente a Vânia pelo companheirismo, presente como observadora em todos os encontros.

A todos os colegas de grupo e as professoras Cileda, Renata e Ana Maria pelas discussões e contribuições para esse trabalho.

As professoras Maria José e Maria Inez, por terem aceitado o desafio de serem formadoras nesse estudo.

(8)

A todos os funcionários do Centro de Ciências Exatas, da PUC-SP, pelo convívio durante esse tempo, especialmente ao Francisco pela valiosa companhia em muitos momentos.

A todos os colegas com os quais tive a oportunidade de conviver durante o curso, em especial aqueles que se tornaram meus amigos: Patrícia, Eurivalda, Victoria, Gabriela, Irene, Aida, Jacinta, Liu, Ana Maria, Milton, Denise, André, Dani, Guilherme, Cássia, Alexis, Franciana e Ivete.

Ao corpo docente do Programa de Estudo Pós-Graduados em Educação Matemática da PUC-SP, com o qual tive o privilégio de conviver, sobretudo aqueles com os quais tive a oportunidade de ser aluno: Saddo Almouloud, Wagner Valente, Lulu Healy, Sandra Magina, Ana Paula Jahn, Sílvia Machado, Benedito Silva, Sonia Igliori, Cristina Maranhão e Antonio Carlos Brolezzi.

Aos professores e colegas baianos, Adelaide, Elda, Antônio e Auxiliadora, que em minha trajetória sempre pontuaram a Educação Matemática.

Ao meu amigo Celso, pelo grande apoio dado nessa cidade imensa.

A todos os amigos e colegas do grupo EMFOCO, pela presença constante em minha vida desde o final da especialização.

(9)

Aos meus pais, Laurinda e José Miguel, por terem sempre me proporcionado condições para estudar. Amo vocês!

A minha Cláudia, que sempre compreendeu a minha ausência-presente com o seu amor e companheirismo. Eu te amo!

Aos meus irmãos: Carlinhos, Zete, Gersinho, Rosana e Lene; meus cunhados: Mello, Cláudio, Helton, Luciana, Terezinha e Fátima; minha sogra Vilma e meus sobrinhos: Tati, Bia, Lai, Jajá, Jeferson, Nari, Ingrid, Ruan e Artur. E a todos os meus familiares, por acreditarem em mim, mesmo quando não sabiam onde eu desejava chegar e por estarem ao meu lado sempre.

A Secretaria de Educação do Estado da Bahia, pelo investimento em minha formação, concedendo-me o afastamento.

Ao CNPq, pela concessão da bolsa, me permitindo dedicação exclusiva aos estudos.

(10)

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo analisar uma sequência de atividades

desenvolvidas em uma formação continuada para professores. Esta seqüência

visava que os participantes construíssem a definição de mediatriz de um segmento

e, a partir desta, demonstrassem propriedades inerentes a esse objeto matemático.

Além disso, objetivava que os professores justificassem matematicamente, com

base na Geometria plana, algumas construções geométricas em que esse objeto era

a principal ferramenta para a resolução do problema. A questão pesquisada foi: uma

seqüência de ensino com enfoque em construções geométricas pode contribuir para o desenvolvimento de conhecimentos acerca da demonstração em Geometria em uma formação continuada de professores? Assim, aplicamos junto a um grupo de

professores de Matemática (Ensino Fundamental e Médio) em formação continuada,

a seqüência de atividades. Para tal, nos baseamos nos estudos de Duval (2003) e

Brousseau (1986), sobre os registros de representação semiótica e a Teoria das

Situações Didáticas respectivamente. Trabalhamos também com Duval e Egret

(1989) e De Villiers (2001; 2002), no que diz respeito às demonstrações e com

autores especializados em formação de professores, para a fundamentação teórica

dessa pesquisa. A escolha metodológica pela pesquisa-ação e pelos pressupostos

da Engenharia Didática contribuíram para o alcance dos objetivos desse estudo. A

análise das discussões e comportamentos dos professores durante a formação

revelou-nos que as atividades provocaram reflexões sobre definições, propriedades,

teoremas recíprocos, justificativas matemáticas, demonstrações, além de oportunizar

a descoberta e construção de alguns conceitos da Geometria plana ao realizarem

construções geométricas. Nesse sentido, pudemos destacar o registro material de

representação, identificado por nós, e inferir que essa formação contribuiu para a

autonomia dos professores.

Palavras-chave: Construções Geométricas. Demonstração em Geometria.

(11)

ABSTRACT

The purpose of this study is to analyze a sequence of activities carried out with in

service teachers, aiming the construction of the definition of line bisector of a

segment and, from this definition, to allow them to demonstrate inherent properties of

this mathematical object. Moreover, the study also aimed that the teachers were able

to justify it mathematically, based on plane Geometry, some geometric constructions

in which this object was the main tool to solve the problem. Our research question

was: Can a teaching sequence, carried out with in service teachers, and focus on

geometric constructions, contribute for the development of knowledge about demonstration in Geometry? In order to answer this question, we developed a

sequence with a group of in-service teachers of Mathematics for Elementary and

secondary school. To reach such aim, we base our study on the theoretical approach

of Duval (2003) and Brousseau (1986), about Semiotics Representation Registers,

and the Didactic Situation Theory respectively. We also used the Duval and Egret

(1989) and De Villiers (2001; 2002) ideas about demonstrations. Finally, we still used

some authors’ ideas about teacher’s formation. The methodological choice was

research-action and Didactic Engineering, which had contributed to achieve the

objective of this study. The analysis of the discussions and the behaviors of the

teachers during the formation reveled that the activities had caused reciprocal

reflections about definitions, properties, theorems, mathematical justifications,

demonstrations. Moreover, the sequence allowed these teachers to discover and to

construct some plane Geometry concepts, whilst they made geometric constructions.

In this sense, we do highlight to the importance of material representation register.

We conclude that this formation contributed for the autonomy of these teachers.

Keywords: Geometric Constructions. Demonstration in Geometry. Teachers

(12)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 14

CAPÍTULO 1: PROBLEMÁTICA ... 16

1.1OINTERESSEPELOTEMA ... 16

1.2OPROBLEMADEPESQUISA... 19

1.3ASPECTOSMETODOLÓGICOS... 24

1.4CONSTRUINDOAFUNDAMENTAÇÃOTEÓRICA... 28

1.4.1 REGISTROS DE REPRESENTAÇÃO SEMIÓTICA... 28

1.4.2 QUADRO, REGISTRO E PONTO DE VISTA ... 34

1.4.3 TEORIA DAS SITUAÇÕES DIDÁTICAS ... 35

1.4.4 DEMONSTRAÇÕES ... 40

1.4.5 FORMAÇÃO DE PROFESSORES ... 44

CAPÍTULO 2: BREVE ESTUDO HISTÓRICO-EPISTEMOLÓGICO ... 50

2.1AMEDIATRIZNOCONTEXTODAGEOMETRIA ... 50

2.2ADEMONSTRAÇÃO ... 54

2.3ASCONSTRUÇÕESGEOMÉTRICAS ... 59

CAPÍTULO 3: CONSIDERAÇÕES SOBRE O ENSINO E APRENDIZAGEM... 62

3.1GEOMETRIA... 62

3.2DEFINIÇÃO... 67

3.3DEMONSTRAÇÃO... 69

3.4CONSTRUÇÕESGEOMÉTRICAS... 74

3.5PARÂMETROSCURRICULARESNACIONAIS ... 78

CAPÍTULO 4: AS ATIVIDADES E SUAS ANÁLISES ... 82

4.1PROCEDIMENTOSMETODOLÓGICOS ... 82

4.2OSPROFESSORES... 84

4.3DESCRIÇÃODAAPLICAÇÃODASEQÜÊNCIA... 89

4.4ASATIVIDADESESUASANÁLISESPRÉVIASEAPOSTERIORI... 89

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 196

REFERÊNCIAS ... 202

APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO PERFIL... 207

(13)

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1:TRIÂNGULO OBTUSÂNGULO... 32

FIGURA 2:TRIÂNGULO ACUTÂNGULO... 33

FIGURA 3:MEDIATRIZ DO SEGMENTO AB ... 52

FIGURA 4:MEDIATRIZ DE UM SEGMENTO... 95

FIGURA 5:SOLUÇÃO DA ATIVIDADE 02 ... 98

FIGURA 6:SOLUÇÃO DA PROFESSORA EVA... 99

FIGURA 7:REPRESENTAÇÃO DA CONJECTURA... 100

FIGURA 8:REPRESENTAÇÃO DO PAR SIMÉTRICO... 100

FIGURA 9:LINGUAGEM FIGURAL - ATIVIDADE 3... 102

FIGURA 10:REPRESENTAÇÃO DA PROFESSORA RUTE... 106

FIGURA 11:LINGUAGEM FIGURAL - ATIVIDADE 4... 109

FIGURA 12:MUDANDO DE PONTO DE VISTA... 113

FIGURA 13:PONTOS EQÜIDISTANTES PERTENCEM À MEDIATRIZ... 114

FIGURA 14:DEMONSTRAÇÃO VIA TRIÂNGULO ISÓSCELES... 115

FIGURA 15:DEMONSTRAÇÃO SEM USO DO TRIÂNGULO ISÓSCELES... 115

FIGURA 16:UMA OUTRA DEMONSTRAÇÃO... 118

FIGURA 17:ÂNGULOS CONGRUENTES QUE NÃO SÃO O.P.V... 120

FIGURA 18:CONSTRUÇÃO DA MEDIATRIZ... 127

FIGURA 19:CONSTRUÇÃO DA MEDIATRIZ - PROFESSORES MIRTES E JOSÉ... 129

FIGURA 20:CONSTRUÇÃO DA MEDIATRIZ - PROFESSORA JOANA... 130

FIGURA 21:CONSTRUÇÃO DA MEDIATRIZ – MÉTODO DO LOSANGO... 131

FIGURA 22:CONSTRUÇÃO - PROBLEMA I... 133

FIGURA 23:CONSTRUÇÃO - PROBLEMA II... 137

FIGURA 24:CONSTRUÇÃO - PROBLEMA III... 141

FIGURA 25:CONSTRUÇÃO DA PROFESSORA MIRTES - PROBLEMA III... 143

FIGURA 26:CONSTRUÇÃO DA PROFESSORA EVA - PROBLEMA III ... 144

FIGURA 27:CONSTRUÇÃO - PROBLEMA IV ... 145

FIGURA 28:CONSTRUÇÃO DA PROFESSORA MIRTES - PROBLEMA IV ... 146

FIGURA 29:CONSTRUÇÃO - PROBLEMA V ... 148

FIGURA 30:CONSTRUÇÃO DO FORMADOR - PROBLEMA V... 150

FIGURA 31:CONSTRUÇÃO - PROBLEMA VI ... 152

FIGURA 32:CONSTRUÇÃO DO PROFESSOR RENATO - PROBLEMA VI... 154

FIGURA 33:CONSTRUÇÃO DA PROFESSORA RUTE - PROBLEMA VI ... 154

FIGURA 34:CONSTRUÇÃO - PROBLEMA VII ... 155

FIGURA 35:CONSTRUÇÃO DO PROFESSOR JOSÉ - PROBLEMA VII ... 157

FIGURA 36:CONSTRUÇÃO DOS PROFESSORES JOSÉ E MIRTES - PROBLEMA VII... 157

FIGURA 37:LEI DO PONTO MÉDIO... 160

FIGURA 38:CONSTRUÇÃO 1 DA PROFESSORA EVA - ATIVIDADE 8 ... 161

FIGURA 39:CONSTRUÇÃO 2 DA PROFESSORA EVA - ATIVIDADE 8 ... 162

FIGURA 40:CONSTRUÇÃO DA PROFESSORA RUTE - ATIVIDADE 8... 162

FIGURA 41:CONSTRUÇÃO DA PROFESSORA MIRTES - ATIVIDADE 8 ... 162

FIGURA 42:CONSTRUÇÃO DO PROFESSOR CARLOS - ATIVIDADE 8 ... 163

FIGURA 43:CONSTRUÇÃO DA PROFESSORA JOANA - ATIVIDADE 8 ... 164

FIGURA 44:UMA NOVA PROPRIEDADE... 169

FIGURA 45:ESPAÇO AÉREO... 169

FIGURA 46:REGIÃO EM UMA FAZENDA... 169

FIGURA 47:ESPAÇO AÉREO - CONSTRUÇÃO DA PROFESSORA MIRTES... 172

FIGURA 48:INSTITUCIONALIZAÇÃO DA NOVA PROPRIEDADE... 174

FIGURA 49:CONSTRUÇÃO - QUESTÃO 01... 176

FIGURA 50:CONSTRUÇÃO DA PROFESSORA MIRTES - QUESTÃO 01... 179

FIGURA 51:REPRESENTAÇÃO DO RAIO. ... 179

FIGURA 52:CONSTRUÇÃO - QUESTÃO 02... 181

FIGURA 53:CONSTRUÇÃO DA PROFESSORA MIRTES - QUESTÃO 02... 182

FIGURA 54:CONSTRUÇÃO DA PROFESSORA JOANA - QUESTÃO 02. ... 183

FIGURA 55:CONSTRUÇÃO - QUESTÃO 03... 184

FIGURA 56:CONSTRUÇÕES DO PROFESSOR CARLOS - QUESTÃO 03 ... 186

(14)

FIGURA 58:CONSTRUÇÃO A2- ATIVIDADE 12... 188

FIGURA 59:CONSTRUÇÃO DA PROFESSORA RUTE - ATIVIDADE 12 ... 191

FIGURA 60:CONSTRUÇÃO DAS PROFESSORAS ANGÉLICA E PAULA - ATIVIDADE 12... 192

FIGURA 61:CONSTRUÇÃO DA PROFESSORA MIRTES - ATIVIDADE 12... 192

FIGURA 62:CONSTRUÇÃO 01 DA PROFESSORA JOANA - ATIVIDADE 12. ... 193

FIGURA 63:CONSTRUÇÃO 02 DA PROFESSORA JOANA - ATIVIDADE 12 ... 193

FIGURA 64:CONSTRUÇÃO 03 DA PROFESSORA JOANA - ATIVIDADE 12 ... 193

FIGURA 65:CONSTRUÇÃO 04 DA PROFESSORA JOANA - ATIVIDADE 12 ... 194

FIGURA 66:ÂNGULO DE 60º E TRIÂNGULO EQÜILÁTERO... 194

LISTA DE QUADROS QUADRO 1:DIFERENTES REGISTROS DE REPRESENTAÇÃO... 33

QUADRO 2:DIFERENÇAS ENTRE PEDAGOGIA E ANDRAGOGIA... 47

QUADRO 3:CARACTERÍSTICAS DO CONTÍNUO PEDAGÓGICO-ANDRAGÓGICO... 48

(15)

INTRODUÇÃO

Esse trabalho se iniciou a partir de uma percepção, advinda da nossa

experiência em sala de aula, enquanto professor de Matemática e Desenho

Geométrico1. A oportunidade de lecionar essa segunda disciplina nos fez vislumbrar

que um trabalho focado nas construções geométricas2 poderia minimizar algumas

dificuldades no desenvolvimento de conceitos geométricos.

O ingresso no Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação Matemática

na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP, mais especificamente no

grupo de pesquisa (CoFE – Conceitos: Formação e Evolução) ao qual pertencemos,

nos levou a ter contato com o tema demonstrações em um curso de formação

continuada de professores. Sendo assim, resolvemos elaborar a nossa dissertação

sobre a temática: demonstrações, construções geométricas e formação continuada de

professores. Faltava, então, escolher o objeto de estudo, optamos pela mediatriz de

um segmento.

Inicialmente, fizemos uma revisão dos trabalhos que focavam esse tema, com

o intuito de verificar a relevância do mesmo e quais alternativas eram apontadas, para

que pudéssemos efetuar as escolhas adequadas para a nossa pesquisa. Em primeiro

lugar fizemos leituras de trabalhos cujo tema era a Geometria e alguns deles já

apontavam para um trabalho com foco nas demonstrações geométricas, sobretudo

em formações continuadas de professores. No entanto, os trabalhos com construções

geométricas eram poucos, encontramos apenas duas indicações. Entendemos, então,

que a nossa temática tinha relevância e passamos a construir os passos desse

trabalho.

Resolvido que o trabalho seria com professores, partimos para o segundo

passo, ou seja, nos colocamos a fazer um estudo sobre o ensino e a aprendizagem

dos temas abordados e fizemos a opção metodológica que levava em consideração

________________ 1

No Ensino Fundamental as disciplinas Matemática e Desenho Geométrico eram ministradas separadas, no qual a segunda compunha a parte diversificada do currículo.

2

(16)

os pressupostos da Engenharia Didática e da pesquisa-ação. Fizemos, também, um

estudo histórico-epistemológico da temática dessa pesquisa.

O nosso terceiro passo foi escolher a fundamentação teórica do trabalho.

Encontramos nos estudos de Duval (2003), sobre os registros de representação

semiótica, de Brousseau (1986), sobre a Teoria das Situações Didáticas, nos

trabalhos de Duval e Egret (1989) e De Villiers (2001; 2002), sobre demonstrações e

em alguns autores de formação de professores, o apoio necessário.

Com essa bagagem, partimos para a elaboração da seqüência de atividades

que seria desenvolvida com os professores em formação continuada. Durante essa

elaboração, mudanças e ajustes foram realizados a fim de que ela pudesse nos

fornecer dados que dessem subsídios a responder a questão de pesquisa. Partimos,

então, para a aplicação da seqüência, que propiciou a coleta e análise dos dados.

Fizemos, em seguida, algumas considerações a respeito do trabalho realizado.

Apresentamos agora a estrutura do trabalho. A dissertação está configurada

em quatro capítulos, além das considerações finais. No capítulo 1 apresentamos a

problemática, na qual destacamos o interesse pelo tema, o problema de pesquisa, os

aspectos metodológicos e a construção da fundamentação teórica. O capítulo 2 traz

um breve estudo histórico-epistemológico, no qual destacamos a mediatriz de um

segmento no contexto da Geometria, a demonstração e as construções geométricas.

O capítulo 3 tece considerações sobre o ensino e a aprendizagem da

Geometria, da definição em matemática, da demonstração e das construções

geométricas. Destacaremos, ainda, às recomendações dos Parâmetros Curriculares

Nacionais de Matemática para o 3º e 4º ciclos do Ensino Fundamental – PCN. No

capítulo 4, apresentamos os procedimentos metodológicos, os sujeitos da pesquisa,

uma descrição da aplicação da seqüência e as atividades em conjunto com as

análises prévias e posteriores.

Finalizando, apresentamos algumas considerações finais, apontando possíveis

conclusões oriundas da análise dos dados que coletamos para essa pesquisa.

Deixamos, ainda, algumas sugestões para trabalhos futuros a partir das questões que

não objetivamos responder, bem como pistas para estudos que possam resultar do

(17)

CAPÍTULO 1

PROBLEMÁTICA

Neste capítulo inicial da nossa dissertação apresentamos a justificativa do

nosso trabalho, a qual reflete parte da trajetória profissional do autor, uma vez que,

essa trajetória contribuiu, em grande medida, para a temática do presente trabalho.

Apresentamos também o problema de pesquisa, seguido dos aspectos metodológicos

que delinearam esse estudo e, por fim, a fundamentação teórica.

1.1 O INTERESSE PELO TEMA

Sou professor de Matemática há 14 anos e, durante seis anos (1993 – 1998),

tive a oportunidade de lecionar não apenas a disciplina de Matemática, mas também

Desenho Geométrico para turmas de 5ª a 8ª séries do Ensino Fundamental, o que me

propiciou um maior envolvimento com as construções geométricas, além de

desenvolver um novo olhar para questões de ensino e aprendizagem desse campo da

matemática.

No retorno às atividades de Matemática, comecei a perceber algumas

dificuldades dos alunos em relação ao desenvolvimento de conceitos geométricos,

dificuldades essas não identificadas no tempo em que lecionava concomitantemente

Matemática e Desenho Geométrico. Por esse motivo, comecei a buscar novas

abordagens que pudessem minimizar tais dificuldades.

Com essa inquietação, ingressei no Programa de Especialização em Educação

Matemática, proposto pela Universidade Católica do Salvador (UCSAL), em 2002. Os

estudos teóricos nesse programa foram motivadores da busca de mais

conhecimentos acerca de tais reflexões e indicaram que os problemas de ensino e

(18)

Educação Matemática. Com essa perspectiva, desenvolvi a monografia de final de

curso sobre essa temática3.

Os estudos desenvolvidos na especialização me instigaram a buscar novas

teorias relacionadas à Educação Matemática. Com o final do curso, mas não de

minha vontade em aperfeiçoar e ampliar os conhecimentos até então adquiridos,

fundei juntamente com alguns colegas da especialização o grupo de estudos EMFoco

– Educação Matemática em Foco – do qual faço parte até os dias de hoje. Os estudos

nesse grupo, a motivação intrínseca a ele e a busca por mais conhecimentos me

levaram a fazer a seleção no Programa de Estudos Pós-Graduado em Educação

Matemática para cursar o mestrado acadêmico em Educação Matemática oferecido

pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC–SP).

Neste programa participei do projeto intitulado: O raciocínio dedutivo no

processo de ensino-aprendizagem da matemática nas séries finais do Ensino Fundamental – financiado pelo CNPq (Conselho Nacional de Pesquisa) –, o que me

levou a refletir sobre o tema demonstrações, tanto no decorrer da minha formação

inicial – Licenciatura em Matemática, pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) –,

como no contexto da formação continuada de professores de Matemática.

Na graduação, o meu contato com as demonstrações foi muito grande, porém

com o viés formalista da matemática, ou seja, a demonstração tinha como único

intuito, verificar a validade de um teorema, e nós, os alunos, com a postura apenas de

aprendizes, isto é, “aprendíamos” a demonstrar pelo processo de imitação de nossos

professores. As aulas eram ministradas sob o esquema: definições, axiomas,

teoremas e demonstrações, como se esse fosse um processo linear, infalível e sem

interrupções. Poucas foram as discussões em que os professores se preocupavam

com a gênese do objeto matemático, ou seja, demonstrações construídas em um

processo de ir e vir, fazer e refazer, buscar refutações e contra-exemplos, que

evidenciassem a demonstração como um processo de construção humana e histórica.

Todavia, sempre me preocupei em compreender as entrelinhas do que se expunha

nas demonstrações, preocupando-me em entender e “destrinchar” os aspectos

implícitos presentes, em grande medida, nas demonstrações feitas pelos professores

e apresentadas nos livros didáticos.

________________ 3

(19)

Nesse período, na UFBA, participei como aluno de iniciação científica do

Programa Especial de Treinamento (PET), no qual tive bolsa da CAPES por três anos

e aprofundei estudos na área de Álgebra e Geometria Diferencial, entrando em

contato, cada vez mais, com as demonstrações no campo da matemática pura. Nessa

época, conduzia os meus estudos ao bacharelado em matemática e assim o fiz até o

sétimo semestre. Por questões diversas, no oitavo semestre matriculei-me nas

disciplinas da licenciatura e dei seqüência a concluir primeiro esta modalidade,

percebendo que as disciplinas pedagógicas e as de fundamentos da matemática não

se relacionaram com as disciplinas de matemática pura e/ou apresentavam a

demonstração com a mesma estrutura, ou seja, não traziam nenhuma novidade para

o trabalho desse tópico em sala de aula.

Meu primeiro contato com a Educação Matemática ocorreu no primeiro ano de

graduação ao participar, por motivações próprias, do III ENEM (III Encontro Nacional

de Educação Matemática – 1990) e, em seguida, do IV EBEM (IV Encontro Baiano de

Educação Matemática – 1991). Sempre fui preocupado e inserido em questões

ligadas ao ensino e aprendizagem da matemática (fui monitor de Matemática durante

dois anos, ainda aluno do 2º grau, na Escola Técnica Federal da Bahia). Nas

disciplinas Didática da Matemática e Metodologia e Prática de Ensino da Matemática

tive a oportunidade de ter aulas com professores engajados no movimento da

Educação Matemática, porém, o contato com questões inerentes à demonstração

permanecia o mesmo, isto é, era sempre via verificação de uma verdade matemática.

Conforme relatei anteriormente, fui professor de Desenho Geométrico durante

alguns anos e as atividades desenvolvidas tinham como foco realizar construções

geométricas com as respectivas justificativas matemáticas. Recordo-me da fala de um

aluno, quando comuniquei que não iria demonstrar o teorema de Tales: “Tomara que

não seja difícil de acreditar”. Outro episódio instigante ocorreu quando propus aos alunos o problema da construção da bissetriz de um ângulo, quando não se tem

acesso ao vértice. Para essa questão, só busquei uma justificativa matemática ao

ministrar este curso e os alunos trouxeram três formas diferentes e justificadas. Minha

surpresa foi grande, pois esperava uma única resposta: aquela sugerida, de maneira

sutil, por um problema de construção, que eles já haviam resolvido (foi o que tinha me

(20)

Ao retornar a ministrar apenas aulas da disciplina Matemática e perceber as

dificuldades em Geometria apresentadas pelos alunos, comecei a acreditar que as

atividades, nas aulas de Desenho Geométrico, poderiam contribuir para a superação

das dificuldades de aprendizagem em Geometria.

Essa inquietação me levou a elaborar o anteprojeto de pesquisa, durante o

curso de Metodologia da Pesquisa, oferecido pelo programa de Educação

Matemática, com a temática: “Geometria, construções geométricas e demonstração”.

Assim sendo, me debrucei a ler outros trabalhos cuja temática era próxima, para

perceber sua relevância e se ainda existiam questões por responder. Encontrei alguns

trabalhos e percebi que parte deles apontava para a formação de professores, no que

diz respeito aos conhecimentos geométricos, mais especificamente, às

demonstrações nesse campo, o que influenciou, em grande medida, a realização

desta pesquisa em um grupo de formação continuada com professores da disciplina

Matemática do Ensino Fundamental.

Deste modo, meu orientador e eu, decidimos realizar esse estudo, do qual

apresentamos a seguir, a questão de pesquisa.

1.2 O PROBLEMA DE PESQUISA

De acordo com Almouloud e Mello (2000), um dos problemas enfrentados pelo

sistema de ensino brasileiro refere-se ao baixo desempenho dos alunos do Ensino

Fundamental em Matemática. As recentes avaliações feitas pelo SAEB/MEC (Sistema

de Avaliação da Educação Básica – Ministério da Educação e Cultura), pela

Secretaria de Educação de São Paulo evidenciam que esse desempenho torna-se

ainda mais baixo quando o tema abordado é a Geometria. Embora os currículos mais

recentes destaquem a importância de se resgatar o trabalho com Geometria no

Ensino Fundamental, o professor não sabe claramente o que fazer. A Secretaria de

Ensino Fundamental do MEC colocou em discussão nacional os Parâmetros

Curriculares e apontou a necessidade de formar professores para a efetiva

implantação de novas alternativas.

Para Fainguelernt (1999):

(21)

preocupação do compromisso de se apoiar no processo exaustivo de formalização (FAINGUELERNT, 1999, p. 20).

Maioli (2002) ao propor a questão: “como trabalhar com formação de

professores de forma a contribuir com saberes referentes à Geometria e, ao mesmo

tempo, proporcionar aprimoramento em conhecimentos didáticos inerentes a este

conteúdo?”, alcançou seus objetivos. Porém, relata na conclusão:

Com relação à demonstração, constatamos que a oficina contribuiu no sentido de chamar a atenção para sua necessidade, os professores avançaram, visto que na primeira atividade com demonstrações, não conseguiam utilizar a ferramenta sugerida (paralelas cortadas por uma transversal) e nas últimas, já conseguiam explicitar o caminho da demonstração. No entanto, a oficina não deu conta de desenvolver conhecimentos a ponto do professor escrever sozinho uma demonstração completa. Se faz necessário um estudo mais profundo sobre demonstrações (MAIOLI, 2002, p. 144).

A formação sólida em Geometria, por parte dos professores de todos os níveis,

se faz necessária para que qualquer proposta de ensino seja implantada, afirmam

Almouloud e Manrique (2001) e, ainda relatam, que uma das dificuldades que

apareceu na resolução de um problema proposto a um grupo de professores foi a

falta de competência em relação à demonstração.

A necessidade de uma formação adequada do professor para trabalhar a

demonstração em Geometria, a fim de que os alunos possam se apropriar dos

conceitos e habilidades geométricas, no âmbito do Ensino Fundamental, é uma das

vertentes defendidas por Almouloud e Mello (2000).

A proposta de trabalhar a demonstração em Geometria via construções

geométricas, nos leva a corroborar com as hipóteses de José Carlos Putnoki, quando

diz:

Já faz um bom tempo que o Desenho Geométrico foi banido das nossas escolas de 1º e 2º graus. “Coincidentemente”, de lá para cá, a Geometria, cada vez mais, vem se tornando o grande terror da Matemática, tanto para alunos quanto para professores. Com certeza, não se trata apenas de uma coincidência, mas sim, em parte, de uma conseqüência (PUTNOKI, 1988, p. 13).

Tendo em vista essa temática, Zuin (2001) aponta para a falta de trabalhos que

(22)

construções geométricas como um saber escolar no Brasil”, sugerindo questões para

pesquisas futuras, dentre as quais destacamos:

Qual o papel das construções geométricas na elaboração do conhecimento da Geometria?

Qual a importância das construções geométricas na construção do raciocínio lógico-dedutivo? (ZUIN, 2001, p. 192).

Entretanto, Maioli (2002) relata que os professores, com os quais trabalhou em

sua investigação, estavam abertos para conhecer e discutir pesquisas realizadas na

área de Educação Matemática, deixando a seguinte pergunta como sugestão: “que

outras formas de trabalho podem contribuir para estabelecer um elo entre a pesquisa

e o professor de Matemática do ensino fundamental e médio que estão trabalhando

em sala de aula?” (Ibid, p. 105).

Este relato nos levou a refletir sobre a formação continuada do professor de

Matemática e a pensarmos em contemplar aspectos didáticos – pesquisas na área de

Educação Matemática – que pudessem ser discutidos com os professores em

formação continuada no trabalho que pretendíamos desenvolver.

Já Gouvêa (1998), propunha, como um dos objetivos de sua pesquisa, uma

reflexão por parte dos professores sobre o ensino de Geometria com demonstrações,

detectando que esses professores subestimavam a capacidade de seus alunos,

constatando que eles não trabalhavam com a Geometria dedutiva, pois possuíam

pouca habilidade em lidar com o tema, além de não encontrarem subsídios para tal

trabalho em livros didáticos. Percebemos, no trabalho de Gouvêa, uma sugestão de

se trabalhar com as demonstrações geométricas na formação continuada de

professores.

No programa de Educação Matemática da PUC–SP, tivemos a oportunidade de

discutir sobre prova e demonstração, no contexto da Educação Matemática, ou seja,

relacionados ao ensino e aprendizagem. Tal contato nos levou a refletir sobre o nosso

interesse em Geometria, mais especificamente sobre as construções geométricas e

como o tema demonstração poderia estar inserido nesse processo. O contato com

outras pesquisas veio reforçar o tema escolhido e me permitiu vislumbrar um trabalho

centrado na formação continuada de professores de Matemática. A participação no

projeto de pesquisa, citado anteriormente, nos permitiu fazer reflexões sobre a nossa

(23)

desenvolver no projeto. Sendo assim, resolvemos desenvolver esta pesquisa com o

tema: Geometria, construções geométricas e demonstrações em uma formação

continuada de professores de Matemática.

Escolhido os temas Geometria, demonstração, construções geométricas e

formação continuada de professores, passamos à busca do objeto matemático que

daria subsídios ao desenvolvimento dessa pesquisa.

Ao buscarmos o objeto geométrico que serviria de referência para conceber a

seqüência de atividades a serem desenvolvidas nas oficinas, com os professores em

formação continuada, fizemos escolha pelo objeto: mediatriz de um segmento.

Realizamos um estudo epistemológico acerca desse objeto, pesquisando em

livros didáticos franceses4 e em livros didáticos de Desenho Geométrico5, podendo

assim constatar a riqueza desse objeto para resolução de problemas de construções

geométricas. Destacamos que a possibilidade de os professores participantes dessa

pesquisa construírem a definição de mediatriz, enunciarem e demonstrarem a

propriedade referente a esse objeto, sob “pontos de vista” diferentes, contribuiu de

forma singular para essa escolha.

Além disso, corroboraram com a nossa escolha, a diversidade de problemas e

situações-problema, ligados a esse objeto, em que se podem exigir justificativas

matemáticas da construção geométrica realizada, a possibilidade de formular

conjecturas e fazer demonstrações, trabalhar em vários registros de representação

semiótica, com teoremas recíprocos, propriedades diversas e ainda poder explorar as

várias funções da demonstração sugeridas por De Villiers (2001; 2002).

Na verdade, a riqueza matemática e a possibilidade de sua exploração didática

em atividades a serem desenvolvidas, tomando por base a Teoria das Situações

Didáticas, com os professores em formação continuada foram os pilares de motivação

que nos levou a escolher o objeto geométrico mediatriz de um segmento como

referência para desenvolver as oficinas de formação.

________________ 4

Os livros didáticos consultados foram: MATHS 4E de Raymond Barra, Georges Borion, Marie Lampin e Joel Malaval, 1988 e MATHÉMATIQUES PYTHAGORE 4E de Gerard Bonnefond, Daniel Daviaud e Bernard Revranche, 1992.

5

(24)

Diante do exposto, esperávamos contribuir para reflexões, estudos e para o

debate em Educação Matemática sobre o ensino de Geometria, em particular, a

demonstração, com o viés das construções geométricas, em uma formação

continuada de professores de Matemática, ao respondermos à questão:

Uma seqüência de ensino com enfoque em construções geométricas pode contribuir para o desenvolvimento de conhecimentos acerca da demonstração em Geometria e, ao mesmo tempo, proporcionar o aprimoramento em conhecimentos didáticos em uma formação continuada de professores?

No entanto, devido às dificuldades encontradas durante a formação como, por

exemplo, a quantidade de encontros possíveis, visto que estávamos finalizando o ano

letivo, resolvemos redimensionar nossa questão de pesquisa e optarmos por

responder a seguinte questão:

Uma seqüência de ensino com enfoque em construções geométricas pode contribuir para o desenvolvimento de conhecimentos acerca da demonstração em Geometria em uma formação continuada de professores?

Na tentativa de responder a essa questão de pesquisa objetivamos

desenvolver, com os professores em formação continuada, uma seqüência de

atividades que pudesse permitir aos participantes construir a definição de mediatriz de

um segmento, e, a partir desta, justificar de maneira formal, ou seja, fazer a

demonstração de propriedades inerentes a esse objeto matemático, bem como

justificar matematicamente, com base na Geometria plana, algumas construções

geométricas em que esse objeto é a principal ferramenta para a resolução do

problema.

Ao buscarmos subsídios para resolver essa questão, nos apoiamos nos

pressupostos da Engenharia Didática para conceber a seqüência de atividades da

oficina e também para validar as nossas hipóteses. A literatura sobre formação de

(25)

analisar os dados coletados. Os trabalhos sobre o ensino e a aprendizagem de

Geometria e demonstração, bem como aqueles que apontam a construção de

definições em matemática como contribuição para a ampliação de conceitos, foram

todos de grande valia para o desenho dessa pesquisa. Além disso, fizemos a escolha

da fundamentação teórica desse estudo.

A seguir, passaremos a destacar os aspectos metodológicos desse trabalho.

1.3 ASPECTOS METODOLÓGICOS

Essa pesquisa se insere no projeto: O raciocínio dedutivo no processo de

ensino-aprendizagem da matemática nas séries finais do Ensino Fundamental, o qual

já estava em andamento, e tornou-se mais um trabalho a ser desenvolvido com um

grupo de professores em formação continuada e, por isso, deveria se adequar aos

aspectos metodológicos adotados nesse projeto.

A metodologia utilizada para a formação dos professores, nesse projeto, é a

pesquisa-ação, que destacamos enquanto linha de pesquisa associada a diversas

formas de ação coletiva orientada em função da resolução de problemas ou de

objetivos de transformação. Para Thiollent (2003, p. 14):

A pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica, que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e participantes representativos da situação e do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.

Segundo esse autor, uma pesquisa pode ser qualificada de pesquisa-ação

quando houver realmente uma ação por parte das pessoas ou grupos implicados no

problema sob observação. Além disso, é preciso que a ação seja uma ação

não-trivial, o que quer dizer uma ação problemática merecendo investigação para ser

elaborada e conduzida. Com relação ao pesquisador ele destaca: ‘‘com a

pesquisa-ação os pesquisadores pretendem desempenhar um papel ativo na própria realidade

dos fatos observados” (THIOLLENT, 2003, p. 16).

Thiollent (2003) diz, ainda, que a pesquisa-ação não é constituída apenas pela

ação ou pela participação, mas pela necessidade de produzir conhecimento, adquirir

(26)

questões abordadas. A seu ver, parte da informação gerada deve ser divulgada, sob

formas e meios apropriados, no seio da comunidade.

Para o nosso projeto, uma das qualidades fundamentais da pesquisa-ação,

consiste no fato de que as populações não são consideradas como ignorantes e

desinteressadas. Levando a sério o saber espontâneo e cotejando-o com as

explicações dos pesquisadores, um conhecimento descritivo e crítico é gerado acerca

da situação, com todas as sutilezas que escapam aos procedimentos padronizados.

Para a construção e análise da seqüência de atividades tratada nesse trabalho

nos baseamos nos pressupostos da Engenharia Didática, que garantiu aos

professores em formação continuada construir conhecimentos acerca da

demonstração em Geometria apoiada na mediatriz de um segmento e nas

construções geométricas. Essa escolha deu oportunidade ao pesquisador de avaliar

as atividades propostas fundamentado na teoria e utilizar a linha metodológica da

pesquisa-ação.

A Engenharia Didática visa entender “as relações entre a investigação e a ação

do sistema de ensino” (ARTIGUE, 1996, p. 193). De acordo com a autora, esse

método caracteriza-se por ser um processo empírico que objetiva conceber, realizar,

observar e analisar situações didáticas em sala de aula. Apesar de não tratarmos os

professores em formação continuada como alunos, acreditamos que as atividades

desenvolvidas nas oficinas de formação tiveram momentos similares à sala de aula.

Nesse sentido, Artigue (1996) distingue quatro fases para uma Engenharia

Didática:

ƒ Análises prévias ou preliminares;

ƒ Concepção e análise a priori das situações didáticas da engenharia;

ƒ Experimentação;

ƒ Análise a posteriori – validação.

Na primeira fase da pesquisa, das análises preliminares, conforme Artigue

(1996), foram feitas ponderações envolvendo o quadro teórico da Teoria das

Situações Didáticas, de Brousseau (1986), e dos Registros de Representação

Semiótica, de Duval (2003); além de aspectos de conhecimentos ligados a:

Geometria, demonstrações e construções geométricas, e destacamos o objeto

(27)

aspectos históricos e epistemológicos, ao processo de ensino e aprendizagem e a

presença de possíveis obstáculos, de modo que pudessem respaldar ou possibilitar

previsões ao elaborarmos as atividades. Além disso, fizemos um estudo teórico sobre

formação de professores.

Na segunda fase, intitulada concepção e análise a priori das atividades,

conforme Artigue (1996), delimitamos as variáveis didáticas a serem consideradas e

que foram abordadas nas sessões de formação desenvolvidas em forma de oficinas.

Para Brousseau (1986), é fundamental na investigação em didática fazer a análise a

priori da situação, pois a previsão dos efeitos da situação que o pesquisador elaborou

antes de colocá-la em experimentação é fundamental para, posteriormente, poder

comparar com os comportamentos observados nos dados coletados. Nas atividades

dessa seqüência foram considerados os seguintes aspectos e/ou objetivos:

ƒ Orientar os professores em formação na resolução das

situações-problema propostas;

ƒ Desenvolver situações controladas que promovam o desequilíbrio e a

adaptação dos sujeitos ao “milieu”6;

ƒ Propiciar o desenvolvimento de fases adidáticas, propostas na teoria das

situações didáticas de Brousseau (1986), como ação, formulação e

validação;

ƒ Propiciar os momentos de institucionalização – fase didática – que serão

coordenados pelo formador;

ƒ Criar condições para que os professores em formação continuada criem

conjecturas, realizem construções geométricas, justifiquem

matematicamente tais construções e possam em vários momentos

realizar demonstrações;

ƒ Que as atividades contemplem as funções da demonstração propostas

por De Villiers (2001; 2002): explicação, descoberta e sistematização,

bem como os professores em formação continuada utilizem vários

registros de representação semiótica efetuando conversões.

Na terceira fase, de experimentação, propusemos aos professores trabalharem

com a seqüência didática que concebemos. Durante os encontros de formação não

________________ 6

(28)

deixamos de considerar os aspectos do contrato didático7, ou seja, cabia aos

professores em formação continuada, a responsabilidade de administrar sua relação

com o conhecimento na fase adidática (ação, formulação e validação) e ao formador,

a responsabilidade de coordenar as atividades fazendo devoluções na fase adidática

e institucionalizar o conhecimento na fase didática.

Na análise a posteriori e validação, quarta fase da Engenharia Didática,

analisamos a produção dos professores a partir dos dados coletados, ou seja,

comparamos os dados coletados com as análises a priori.

Os dados desta pesquisa foram coletados mediante observações dos

encontros durante a oficina. Essas observações foram realizadas por mestrandos e

mestres que participavam do projeto. Nesse sentido, nos apoiamos em Vianna (2003)

quando afirma que os estudos observacionais podem ser realizados em diferentes

lugares, destacando em particular o processo de formação de professores.

Esclarecemos que, neste trabalho, os participantes já estavam familiarizados

com o processo de observação. E, com relação aos aspectos positivos do trabalho

com observadores, concordamos com Vianna (2003, p. 32) quando diz: “a observação

demanda um período mais longo de contato entre o observador, gerando, um

relacionamento emocional (amizade, simpatia, etc. e mesmo emoções negativas) que

pode facilitar, ou dificultar, uma melhor compreensão do observado”.

Com relação aos observadores, os mesmos já estavam participando da coleta

de dados com os professores em formação continuada antes do início dessa

pesquisa, o que corrobora com as idéias de Vianna (2003, p. 10) quando diz:

Um artifício para minimizar a influência do efeito do observador seria a presença do mesmo em sala várias vezes, mas sem coletar dados, a fim de que o professor e alunos, a serem observados, se acostumem com a sua presença e possam agir com maior naturalidade durante o processo efetivo de realização da observação.

________________ 7

(29)

A fim de suprir possíveis dúvidas das observações efetuadas na coleta de

dados, recorremos às gravações em áudio, realizadas durante todas as oficinas de

formação.

Definido nosso problema de pesquisa e os aspectos metodológicos adotados,

apresentamos, em seguida, a fundamentação teórica que norteou este trabalho.

1.4 CONSTRUINDO A FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Nesta parte do trabalho, destacaremos as teorias de Raymond Duval sobre os

Registros de Representação Semiótica e de Guy Brousseau sobre a Teoria das

Situações Didáticas, destacando as idéias de Marc Rogalski sobre “ponto de vista” e

autores que darão suporte ao desenvolvimento do trabalho em relação a

demonstração e a formação de professores.

1.4.1 REGISTROS DE REPRESENTAÇÃO SEMIÓTICA

Os objetos de estudo em matemática: conceito, propriedades, relações e

estruturas não são diretamente perceptíveis aos sentidos humanos. Recorremos,

então, a notações simbólicas, códigos, tabelas, gráficos, esquemas, escritas, como

representantes para estes objetos. Partindo dessa premissa, Raymond Duval

desenvolveu a Teoria dos Registros de Representação Semiótica.

Sabendo que uma expressão, uma noção, um símbolo representam objetos

matemáticos como: um número, uma função, um ponto, um círculo, percebemos uma

distinção entre o objeto matemático e sua representação e, por isso, não devem ser

confundidos. Segundo Duval (2003), toda confusão implicará numa perda da

compreensão e, conseqüentemente, os conhecimentos adquiridos não estarão

disponíveis no contexto da aprendizagem. Para este pesquisador, a distinção entre

um objeto matemático e a sua representação é um ponto estratégico na compreensão

da matemática e, apesar de se buscar uma apreensão conceitual dos objetos

matemáticos, é só por meio de uma representação semiótica que uma atividade é

possível sobre eles. A confusão entre objeto e representação é quase inevitável, pois,

a apreensão dos objetos matemáticos é conceitual, mas, é somente por meio de

(30)

Duval (1995) usa as terminologias sémiosis e noésis para esclarecer esse ponto ao

afirmar que:

O funcionamento cognitivo do pensamento humano se revela inseparável de existência dos diversos registros de representação semiótica. Chamarei de sémiosis a apreensão ou a produção de uma

representação semiótica e de noésis a apreensão conceitual do

objeto, é necessário afirmar que a noésis é inseparável da sémiosis (ibid, p. 39-40).

Podemos, então, dizer que para ocorrer a apreensão do objeto matemático, é

necessário que a noésis ocorra por meio de várias e significativas sémiosis. Dessa

forma, temos que o paradoxo cognitivo do pensamento matemático e a dificuldade

que resulta na aprendizagem é que não se tem noésis sem sémiosis (DUVAL, 1993).

Mas o que é um registro de representação semiótica? Uma figura geométrica,

um enunciado em língua materna, uma fórmula algébrica ou uma representação

gráfica, por exemplo, são representações semióticas em registros semióticos

diferentes. Duval (1995, p. 20) explica a noção de registro de representação semiótica

da seguinte forma:

Em primeiro lugar, constituir um traço ou um conjunto de vestígios perceptíveis, que sejam identificáveis como uma representação de

algo num sistema determinado. Em seguida transformar as

representações pelas únicas regras próprias ao sistema, de maneira a obter outras representações que podem constituir uma correspondência de conhecimentos em relação às representações iniciais. Por último, converter as representações produzidas num sistema de representações para outro sistema, de tal maneira que este último permita esclarecer outros significados relativos ao que é representado. Não são todos os sistemas semióticos que permitem estas três atividades cognitivas fundamentais [...] Mas as línguas naturais, as línguas simbólicas, as representações gráficas, as figuras geométricas, etc., permitem-no. Falamos então de registro de representação semiótica.

Para melhor entendermos como se dá a aprendizagem segundo essa teoria,

diferenciar tratamento de conversão é fundamental. Para Damm (2002):

O tratamento de uma representação é a transformação dessa representação no próprio registro onde ela foi formada. O tratamento é uma transformação interna a um registro. Por exemplo, às estruturas simbólicas (cálculo numérico, cálculo algébrico,...)

(31)

confundida com o tratamento. O tratamento se estabelece “dentro” do registro, já a conversão se dá entre registros diferentes (DAMM, 2002, p. 145-146).

A esse respeito Henriques, Attie e Farias (2007, p. 19) relatam:

A conversão tem uma importância particular. No entanto, é geralmente negligenciada no ensino da matemática, enquanto que, como sublinha Duval, uma das condições essenciais para a apreensão conceitual dos objetos matemáticos é dispor, para um mesmo objeto, de várias representações semióticas.

A escolha de um registro de representação adequado pode favorecer o tratamento (transformações das representações ao interior de um mesmo registro). No entanto, dispor de vários registros de representação não é suficiente para garantir a compreensão. Uma

segunda condição é necessária: a coordenação dos registros de

representações. Ela se manifesta pela capacidade de reconhecer, em duas representações diferentes, representações de um mesmo objeto. Ela aparece como a condição fundamental para todo tipo de aprendizagem.

Sendo assim, “é necessário que o professor tenha claro o objeto matemático a

ser ensinado, isto lhe possibilitará definir quais os registros de representação

semiótica que possibilitarão a construção do mesmo” (DAMM, 2002, p. 142), bem

como, a garantia de poder mudar de registro de representação semiótica. Isso

significa fazer conversões, pois ao fazermos conversões estamos mudando a forma

pela qual o conhecimento é representado.

Diante do que foi relatado, percebemos que a conversão é uma atividade

cognitiva diferente e independente do tratamento. Por exemplo, pode-se trabalhar

com números racionais na forma decimal ou na forma fracionária, sem, no entanto,

pensar em converter de uma forma a outra, ou seja, trabalhando-se no mesmo

registro de representação semiótica (efetuando-se tratamentos). Podemos destacar

que um elemento facilitador, ao se usar várias representações, é a possibilidade de

poder efetuar alguns tratamentos que não são possíveis em outros registros de

representação semiótica.

Na verdade, a originalidade da atividade matemática (com compreensão) está

na mobilização simultânea de, ao menos, dois registros ao mesmo tempo, ou na

possibilidade de trocar a todo momento de registro de representação (Duval, 2003).

Logo, o que garante a apreensão do objeto matemático é a coordenação entre vários

(32)

pode-se privilegiar explicitamente um determinado registro, porém deve existir a

possibilidade de passar de um registro a outro, pois, ao efetuarmos conversões entre

registros de representação semiótica, estamos possibilitando o acesso a propriedades

e/ou aspectos diferentes de um mesmo objeto matemático que não são perceptíveis

nem acessíveis em alguns registros. O autor destaca, ainda, que o ponto decisivo

está no fato de que o conteúdo de uma representação depende mais do registro da

representação do que do objeto representado e justifica essa afirmação com o

seguinte argumento: “porque passar de um registro de representação a outro não é

somente mudar o modo de tratamento, é também explicar as propriedades ou os

aspectos diferentes de um mesmo objeto” (DUVAL, 2003, p. 22).

Segundo Duval (2003, p. 21), “o sucesso, para grande parte dos alunos em

Matemática, ocorre no caso dos monoregistros. Existe como que um

‘enclausuramento’ de registros que impede o aluno de reconhecer o mesmo objeto

matemático em duas de suas representações bem diferentes”. Sendo assim, a

compreensão matemática está ligada ao fato de podermos efetuar conversões, pois

essa é a única possibilidade de que se dispõe para não fazer confusão entre o objeto

matemático e a sua representação.

Como vimos, ao mudar de registro podemos ter acesso a propriedades

diferentes do mesmo objeto (não observadas no outro registro), isto é, dois registros

de representação não trazem o mesmo conteúdo. De acordo com Duval (1993, p. 49):

Esta situação se faz em função das possibilidades e das dificuldades semióticas de cada registro. Uma linguagem não oferece as mesmas possibilidades de representação de uma figura ou diagrama. Isso quer dizer que toda representação é cognitivamente parcial em relação ao que ela representa.

O autor afirma que a evolução dos conhecimentos matemáticos conduziu ao

desenvolvimento e a criação de vários registros de representação para o mesmo

objeto. No entanto, o estudo dos isomorfismos em matemática teve uma contribuição

no que diz respeito a não se valorizar as mudanças de registros de representação, já

que, se existe isomorfismo, tanto faz trabalhar com as propriedades em um registro

ou em outro. Não queremos aqui negar a importância dos isomorfismos para o

desenvolvimento de muitos aspectos da matemática, mas que este não sirva de

justificativa para não se privilegiar os vários registros de representação de um mesmo

(33)

simultaneamente. Na verdade, quando mudamos de registro de representação não

estamos mudando apenas de tratamento, estamos abrindo horizontes para explicar

propriedades e/ou perceber aspectos diferentes de um mesmo objeto.

Com relação à heterogeneidade dos dois sentidos de conversão, Duval (2003)

afirma que nem sempre a conversão se efetua quando se invertem os registros de

partida e chegada. Este autor relata que, em geral, no ensino se privilegia um sentido

de conversão, acreditando que a conversão no outro sentido estaria automaticamente

proposta. A identificação dos objetos por suas diferentes representações é uma

atividade fundamental defendida por esse pesquisador, pois garante que tarefas de

estrito reconhecimento são tão importantes para a aprendizagem, quanto à de

resolução de problemas, uma vez que os conhecimentos disponíveis e mobilizáveis

por um indivíduo são aqueles que permitem reconhecimentos relativamente rápidos.

No ensino de Geometria, geralmente, se privilegiam questões no registro

figural, que exigem apenas um reconhecimento dos dados em língua natural, seguido

de algum tratamento, em detrimento de se propor questões no registro da língua

natural, para posterior conversão para o registro figural e, por último, o tratamento.

Isto pode ser verificado em situações do tipo:

Calcule o valor do ângulo Cna figura

(Figura 1), sabendo que 50º e que o

ângulo 60º.

ˆ

=

C Aˆ B

=

S Aˆ H

Figura 1: Triângulo obtusângulo

Nesta situação o aluno apenas reconheceria os segmentos AS e AH como

bissetriz interna do ângulo  e altura relativa ao lado BC respectivamente. A seguir

determinaria os dados numéricos e efetuaria alguns tratamentos, concluindo no final

que a medida do ângulo Cˆ é 5º.

Essa mesma situação poderia ser apresentada de forma a possibilitar a

construção da figura, isto é, a mudança do registro em língua natural para o figural:

(34)

25°

60°

Neste caso o aluno teria que conhecer as definições de altura e bissetriz

interna, e perceber que a altura pode ser externa ao triângulo – informação dada na

proposta anterior – pois, em geral, os problemas que envolvem ângulo formado pela

altura e pela bissetriz interna são dados com esses segmentos internos ao triângulo.

O aluno poderia fazer um registro figural da situação, como apresentado na figura 2 e

se perguntar: como será que 60º poderá caber em 50º? E depois avançaria

percebendo que a figura correta é a apresentada na situação anterior.

25°

60°

Figura 2: Triângulo acutângulo

Como salientamos, anteriormente, na maioria das salas de aula de Matemática,

o sucesso do aluno ocorre nos monoregistros, isto é, quando lhe é solicitado resolver

um problema que exija a mudança de registros ou mesmo a articulação simultânea de

dois registros diferentes, o sucesso nem sempre é alcançado.

Desta forma, em nosso trabalho caracterizaremos os objetos matemáticos no

quadro geométrico, mais especificamente no campo da Geometria plana, usando três

tipos de registro de representação semiótica: o registro em língua natural, o registro

simbólico e o registro figural, que podem ser exemplificados com o caso da

representação de retas perpendiculares mostrados no quadro 1.

Linguagem natural Linguagem simbólica Linguagem figural

A reta r é perpendicular

à reta s. r ⊥ s

(35)

Por tudo que foi dito, as idéias de Duval corroboraram com a nossa pesquisa,

pois, acreditamos que o ponto de partida para se realizar uma demonstração com

êxito é compreender o que se deseja demonstrar. Neste sentido, ao se pedir para

enunciar as propriedades geométricas, sempre o fizemos exigindo, no mínimo, dois

registros de representação e, em alguns casos, três, buscando assim garantir que a

propriedade que se desejava demonstrar e/ou justificar fosse explicitada e entendida.

Acreditamos também que a conversão de registros ocorreu de maneira natural, pois

esperávamos que os professores participantes testassem uma representação,

tomando outra como base, e percebessem que um registro pode apresentar algumas

vantagens em relação ao outro. Assim, percebendo que a mudança de um registro

para outro, possibilita a percepção de diferentes facetas do mesmo objeto

matemático, além de permitir a realização de tratamentos mais simples.

No entanto, se faz necessário esclarecer diferenças entre registros de

representação semiótica, “ponto de vista” e quadro, pois é comum esses termos

serem confundidos. Uma vez que trataremos na nossa seqüência dos dois primeiros.

1.4.2 QUADRO, REGISTRO E PONTO DE VISTA

Para Almouloud (2007), ao trabalhar, ensinar e aprender matemática, é

necessário entender que uma noção matemática funciona em vários registros de

representação semiótica, além de ser necessário mudar de quadros, de “ponto de

vista” e/ou de registro de representação semiótica. Uma vez que, para compreender

um conceito, demonstrar teoremas, resolver problemas, é necessário saber em quais

domínios ele funciona e bem escolher os registros de representação semiótica e/ou

compreender os vários “pontos de vista” ligados a esse saber.

Douady (1993) caracteriza o quadro como sendo:

constituído de ferramentas de uma parte da matemática, de relações entre os objetos, de formulações eventualmente diferentes e de imagens mentais associadas a essas ferramentas e relações. Dois quadros podem ter os mesmos objetos e serem diferentes por causa das imagens mentais e da problemática desenvolvida (Ibid apud ALMOULOUD, 2007, p. 64).

Podemos citar, como exemplo, o quadro algébrico, o quadro geométrico, o

quadro numérico, entre outros. Para essa pesquisadora, uma mudança de quadro é

(36)

diferentes de um mesmo problema. Tal mudança, muitas vezes, é necessária para

resolver um problema de matemática ou para facilitar sua resolução.

Quanto a “ponto de vista”, Rogalski (1995 apud ALMOULOUD, 2007) usa esse

termo para designar uma maneira de entrar em um problema matemático, de olhar

(interpretar), de fazê-lo funcionar ou, eventualmente, definir um objeto matemático.

Para a resolução de um determinado problema, um “ponto de vista” pode apresentar

vantagens em relação a outro. Ao olharmos um objeto nos diferentes quadros e/ou

registros, temos vários “pontos de vista”, porém podemos ter vários “pontos de vista”

no mesmo quadro e/ou registro.

Neste sentido, muitas vezes, não é necessário mudar de quadro e/ou registro,

pois para facilitar a resolução de um problema, basta mudar de “ponto de vista”.

Pode-se olhar, por exemplo, a mediatriz de um segmento sob dois “pontos de vista”

diferentes no quadro da Geometria e no registro da língua natural:

• A mediatriz de um segmento é a reta que passa pelo ponto médio desse segmento e é perpendicular a ele;

• A mediatriz de um segmento é o conjunto de todos os pontos que eqüidistam das extremidades desse segmento.

Nesta pesquisa, solicitamos aos professores em formação continuada a

construção da definição de mediatriz de um segmento sob diferentes “pontos de

vista”, de maneira que, ao resolverem problemas de construções geométricas, tais

“pontos de vista” facilitem a abordagem do problema e a construção solicitada. Neste

sentido, esperamos que objetos geométricos, em geral, vistos sob um único “ponto de

vista”, possam ser olhados e/ou definidos sob diferentes “pontos de vista”.

Apesar de não focarmos nas atividades que desenvolvemos, a mudança de

quadro, foi oportuno o esclarecimento acerca dessa questão, pois, desta forma

evitamos possíveis confusões e/ou distorções quanto a essa terminologia.

1.4.3 TEORIA DAS SITUAÇÕES DIDÁTICAS

Encontramos na Teoria das Situações Didáticas (TSD), proposta por Guy

Brousseau, um embasamento teórico que deve ser considerado ao se preparar e

apresentar atividades de matemática, visando realizar uma Educação Matemática

(37)

Segundo Brousseau (1986), o objetivo da TSD é caracterizar o processo de

aprendizagem por uma série de situações reprodutíveis, que conduzem a uma

modificação de um conjunto de comportamentos dos alunos. Esta modificação é que

gera o conhecimento, isto é, a aprendizagem com significado. Na verdade, o objeto

central de estudo dessa teoria não é o sujeito e sim a situação didática que irá gerar

interações na tríade professor–aluno–saber e as modificações descritas

anteriormente.

Brousseau (1996a) descreve o trabalho do matemático (cientista) colocando o

“status” da obtenção deste conhecimento no mesmo pelo qual deveria passar o aluno,

com um detalhe: no caso do aluno, haveria uma simulação da situação. Destacando

também que o ensino axiomático é não verdadeiro em termos de conhecimento, ou

seja, sendo o aluno responsável pela construção do seu conhecimento a sua

compreensão deve ser garantida. A esse respeito, Freitas (2002, p. 67) afirma:

É evidente que não se trata de simplesmente tentar reproduzir o ambiente científico em que o saber foi originalmente estabelecido e nem tampouco teatralizar uma redução do trabalho do matemático. A idéia pedagógica de trabalhar com as aparentes facilidades de uma redescoberta do conhecimento não é tão fácil de ser colocada em prática e somente faz sentido num quadro muito bem refletido.

E o que é uma situação didática? Brousseau (1986) define situação didática

como:

O conjunto de relações estabelecidas explicitamente e/ou implicitamente entre um aluno ou um grupo de alunos, um certo “milieu”8 (contendo eventualmente instrumentos ou objetos) e um sistema educativo (o professor) para que estes alunos adquiram um saber constituído ou em constituição (BROUSSEAU, 1986 apud ALMOULOUD, 2007, p. 33).

No entanto, a compreensão efetiva das possibilidades do milieu é necessária.

Segundo Almouloud (2007), a TSD se baseia em três vertentes:

O aluno aprende adaptando-se a um “milieu” que é fator de

dificuldades, de contradições, de desequilíbrio, um pouco como acontece na sociedade humana. Esse saber, fruto da adaptação do aluno, manifesta-se pelas respostas novas, que são a prova da

________________ 8

(38)

aprendizagem. Esta hipótese é uma referência à epistemologia construtivista de Piaget, segundo a qual, a aprendizagem decorre de processos de adaptação, no sentido biológico do termo, desenvolvidos pelo sujeito frente a situações problemáticas.

O “milieu” não munido de intenções didáticas é insuficiente para permitir a aquisição de conhecimentos matemáticos pelo aprendiz. Para que haja essa intencionalidade didática, o professor deve organizar um “milieu” no qual serão desenvolvidas as situações suscetíveis de provocar essas aprendizagens.

A terceira hipótese postula que esse “milieu” e essas situações devem engajar fortemente os saberes matemáticos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem. (ALMOULOUD, 2007, p. 32) Nesse contexto, o trabalho pedagógico inicia-se com a escolha das

situações-problema (atividades) a serem trabalhadas com os alunos. Esta é uma etapa

fundamental e deve ser realizada com bastante cuidado pelo professor, já que ele é

quem conhece a realidade da turma e deverá fazer as escolhas das variáveis

didáticas9 adequadas e compatíveis para os alunos.

Porém, para analisar o processo de aprendizagem, a TSD observa e

decompõe esse processo em quatro fases diferentes: ação, formulação, validação e

institucionalização, sendo que as três primeiras caracterizam a fase adidática, ou seja,

situação na qual a intenção de ensinar não é revelada ao aprendiz, porém foi

planejada pelo professor para proporcionar condições do educando de se apropriar do

novo saber que o professor deseja ensinar. Essa situação é caracterizada por uma

ATIVIDADE ou conjunto de ATIVIDADES que faça o aluno agir, falar, refletir, ... de

forma a adquirir novos conhecimentos por meio dessa situação, isto é, sem apelo a

razões didáticas impostas pelo professor. Vale ressaltar que a situação adidática é

diferente de uma situação não didática, pois, na primeira, existe uma intenção do

professor de ensinar algo novo, o que não ocorre na segunda. A esse respeito,

Freitas (2002, p. 70) relata que:

As situações adidáticas representam os momentos mais importantes da aprendizagem, pois o sucesso do aluno nas mesmas significa que ele, por seu próprio mérito, conseguiu sintetizar um conhecimento. Neste sentido não podem ser confundidas com as situações não didáticas, que são aquelas que não foram planejadas visando uma aprendizagem.

Vejamos os aspectos fundamentais das fases de ação, formulação, validação e

institucionalização.

________________ 9

Imagem

Figura 2: Triângulo acutângulo
Figura 8: Representação do par simétrico
Figura 13: Pontos eqüidistantes pertencem à mediatriz  Sueli: Tá na cara que o ângulo é reto, porém tem que provar
Figura 14: Demonstração via triângulo isósceles Formador: Essa é uma saída, quero outra
+7

Referências

Documentos relacionados

Na experiência em análise, os professores não tiveram formação para tal mudança e foram experimentando e construindo, a seu modo, uma escola de tempo

Table 2 - Mean (±SEM) number of nymphs, nymphal period and viability of Bemisia tabaci biotype B on tomato genotypes and tomato leaf pHs under greenhouse conditions...

Cristina Dinarés 190 No entanto, sendo este também um folheto destinado aos jovens e sendo este um grupo caracterizado por atitudes contestatárias, considero que não só

Com intuito, de oferecer os gestores informações precisas atualizadas e pré-formatas sobre os custos que auxiliem nas tomadas de decisões corretas, nos diversos

45 Figura 4.14 Simulação de Campo Elétrico no isolador Tipo 2 46 Figura 4.15 Ampliação da região defeituosa no isolador Tipo 2 46 Figura 4.16 Imagem térmica do isolador Tipo

Aos pesquisadores que têm se dedicado aos modelos matemáticos e computacionais, na tentativa de criar métodos mais fáceis, rápidos e com um custo reduzido, para explicar as mudanças

ligue o plugue na tomada e deixe o seu frigobar funcionando com o botão de controle de temperatura regulado na posição Máxima por duas horas.. após este período, retorne a

In order to achieve homeostasis, the incorporation of these T cell emigrants into the peripheral T cell pool must either be restrained, by some kind of feedback mechanism acting