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O Geozine: uma linguagem transitiva na leitura do lugar e da paisagem para os conteúdos geográficos

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR - CAPES CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES – CCHLA

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ – CERES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

MESTRADO PROFISSIONAL

JOÃO PAULO TEIXEIRA VIANA

O GEOZINE: UMA LINGUAGEM TRANSITIVA NA LEITURA DO LUGAR E DA PAISAGEM PARA OS CONTEÚDOS GEOGRÁFICOS

NATAL – RN 2020

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JOÃO PAULO TEIXEIRA VIANA

O GEOZINE: UMA LINGUAGEM TRANSITIVA NA LEITURA DO LUGAR E DA PAISAGEM PARA OS CONTEÚDOS GEOGRÁFICOS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia, Mestrado Profissional (GEOPROF) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Geografia.

Orientadora: Dra. Eugênia Maria Dantas

NATAL – RN 2020

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Profª. Maria Lúcia da Costa Bezerra - - CERES--Caicó Viana, João Paulo Teixeira.

O Geozine: uma linguagem transitiva na leitura do lugar e da paisagem para os conteúdos geográficos / João Paulo Teixeira Viana. - Natal, 2020.

135f.: il. color.

Dissertação (Mestrado Profissional) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Centro de Ensino Superior do Seridó. Programa de Pós-Graduação em Geografia.

Orientador: Profª Dra. Eugênia Maria Dantas.

1. Geozine. 2. Ensino de Geografia. 3. Estratégia de ensino. 4. Paisagem - Geografia. 5. Lugar - Nomes geográficos. I. Dantas, Eugênia Maria. II. Título.

RN/UF/BS-Caicó CDU 37.016:91 Elaborado por MARTINA LUCIANA SOUZA BRIZOLARA - CRB-15/844

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JOÃO PAULO TEIXEIRA VIANA

O GEOZINE: UMA LINGUAGEM TRANSITIVA NA LEITURA DO LUGAR E DA PAISAGEM PARA OS CONTEÚDOS GEOGRÁFICOS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia, Mestrado Profissional (GEOPROF) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Mestre em Geografia.

Aprovada em: ___/____/_____.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________ Dr.ª Eugênia Maria Dantas (Orientadora)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

__________________________________________________ Dr. Alessandro Dozena (Examinador Interno)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

__________________________________________________ Dr. ª Evaneide Maria de Melo (Examinadora Externa)

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Dedico esse trabalho a Aluízio Viana de Miranda, meu tio (in

memoriam) e Maria de Fatima de Melo Viana (in memoriam), pelo

apoio e incentivo à minha formação acadêmica e profissional, seus ensinamentos continuaram sempre presentes em todos os momentos da minha vida.

À Maria das Dores Teixeira Viana, minha mãe, agradeço o seu incentivo, sua dedicação, pois sem seu apoio isso jamais seria possível. Esta pequena vitória é apenas a primeira de muitas que iremos conquistar juntos.

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AGRADECIMENTOS

Neste momento de grandeza para minha realização pessoal, gostaria de agradecer a todas as pessoas que colaboram para a consecução deste Curso de Pós-Graduação Profissional em Geografia – UFRN. O primeiro e maior agradecimento a Deus que, sendo Pai Celestial, sempre esteve ao nosso lado, guiando-nos pelos caminhos que nos levam à conquista deste objetivo, pois foi através da força do pai celestial que prossegui incansavelmente na busca da realização em entrar no Mestrado durante todo o caminho percorrido até aqui.

Agradeço aos meus pais, Canindé Viana e Dorinha Viana, bem como à minha irmã Ana Paula Viana pelo incentivo e apoio emocional durante toda essa jornada. Agradeço aos meus familiares: Analice Viana, Mônica Nasto, Marcos Viana, Marcos Filho, Salles Viana, Sarha Viana, Paulo Henrique Viana, Miraneide Teixeira, Mirian Teixeira, Cleide Teixeira, Luana Teixeira, João Miguel, Maria Júlia e Wellington. Que, pacientemente, souberam abrir mão de momentos ao meu lado, para ver-me crescer pessoal e profissionalmente, conscientes de que o verdadeiro crescimento é aquele que guardamos internamente para utilizar em todos os momentos de nossa vida.

Meu agradecimento a todo o corpo docente e demais funcionários envolvidos no Programa de Pós-Graduação Profissional em Geografia (GEOPROF-UFRN) que, ao longo de minha jornada acadêmica, contribuíram para meu crescimento profissional. E, em nome do professor Adriano Tróleis (o mago da Geografia), agradeço a todos os demais educadores que tive o privilégio, durante esses dois anos, em compartilhar saberes e buscar construir uma educação geográfica mais significativa para o aluno.

Agradeço à minha orientadora acadêmica, Professora Eugênia Maria Dantas, pela grande paciência e conhecimento que me possibilitou a cada passo da construção desta dissertação. Meu muito obrigado! Saiba que, a cada encontro, era muito além de uma orientação, mas privilégio em poder ouvir seus ensinamentos sobre a ciência geográfica e que seus direcionamentos serviram para a minha construção enquanto professor de Geografia.

Um agradecimento especial aos meus amigos da turma da UFRN (Campus Natal) do mestrado em Geografia: Alexandrino, Edjango, Jadson, David e Ramon, bem como outras joias que tive a honra de compartilhar saberes (Rosângela, Sandriely e Paulo Miranda). Agradeço aos amigos que me incentivaram para realização deste curso: João Neto, Cilene, Tavares, Elivanete, Fabiana, Ieda, Wilmara Rocha, João Lucas, Edna, Ana Helena, Silvana e, em especial, a Damião Ferreira pela paciência, conselhos e apoio durante essa jornada.

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Agradeço ao grupo “Gangue da Geografia”, formado por Maria do Socorro, Joseane Maria, Jeam Claude, Jussara França, Josimeire Marques, Ana Karlanny e Rebecka de França, que sempre esteve ao meu lado nos momentos problemáticos e gloriosos ao longo do curso, no qual levarei para sempre suas amizades dentro do meu coração. “Por que o povo se estressou porque a gente se juntou”. Um agradecimento super especial à educadora do curso de licenciatura em Geografia do IFRN, professora Maria Cristina (Cris), da qual devo uma parcela significante para minha entrada no mestrado. Seus direcionamentos, motivações e conselhos foram combustíveis essenciais para a realização deste sonho.

Agradeço às Escolas Estadual Joaquim Nabuco, Escola Estadual Professora Clotilde de Moura Lima e Escola Municipal Professora Francisca Avelino pela abertura das instituições para que pudesse realizar a pesquisa. E, em nome da professora Adriana Andrade e Edneide Conceição, agradeço a todos estes atores da ação educativa que participaram direta e indiretamente dessa jornada.

Enfim, meu agradecimento a todas as pessoas que, de alguma forma, contribuíram para essa minha nova conquista.

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“Me olhe; me descubra; se encante; nas paisagens que já passei, nos lugares que ainda irei, no meu Taipu que sempre amarei”.

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RESUMO

A escola, como instituição social, cidadã e formadora requer inovações para atender as necessidades do aluno que chega ao espaço educacional. As informações estão cada vez mais disponíveis e o acesso a diferentes linguagens se faz uma realidade. No entanto, evidencia-se carências significativas dos discentes em competências, como: compreender, contextualizar e relacionar. O professor de geografia levado para esse cenário é desafiado a criar estratégias de ensino que induzam o aluno a experimentar a geografia escolar como um campo aberto à inovação e com as diferentes linguagens que estão no cotidiano. Desta forma, a pesquisa propõe um estudo sobre estratégias de ensino para os conteúdos geográficos escolares, tendo o Geozine como fonte para o seu desenvolvimento. O propósito central desta pesquisa é compreender o Geozine como uma linguagem transitiva que se comporta como uma estratégia didática-pedagógica para o ensino da Geografia escolar. Metodologicamente, a investigação se desenvolveu inicialmente a partir de uma pesquisa exploratória sobre a realidade escolar e o ensino de geografia em fontes secundárias: IBGE, MEC e Censo Educacional. Em seguida foi realizada uma exploração in loco, na Escola Municipal Francisca Avelino, Escola Estadual Professora Clotilde de Moura Lima e a Escola Estadual Joaquim Nabuco, instituições de ensino público da cidade de Taipu-RN. Para dar prosseguimento ao estudo, realizou-se o aprofundamento do referencial teórico a partir da seleção de autores que abordam temas sobre a língua, linguagem e comunicação e sua interface com o ensino da geografia, os conceitos geográficos de Lugar e Paisagem e por fim, sobre o Fanzine e Geozine. A compreensão se dá a partir da exploração das noções de lugar e de paisagem, tendo, primeiramente, como foco uma oficina de construção didática denominada de “O Geozine: Construindo uma metalinguagem didática” destinada aos professores de Geografia da cidade de Taipu-RN. Em seguida, prosseguiu-se com a metodologia, desta vez voltada para a ação didática do Geozine na práxis docente, especificamente direcionada para observação e análise de uma aula, onde o professor aplicou o Geozine como uma estratégia didática. Perpassou-se por diferentes autores bibliográficos, atores do processo do ensino e da aprendizagem (professores e alunos) e do espaço geográfico, tendo a inspiração dos lugares e das paisagens da cidade de Taipu. Todo este percurso serviu para dar uma maior densidade à linguagem Geozine e para enfatizar como ela pode ser aplicada, transitiva e metalinguística no fazer pedagógico do professor.

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ABSTRACT

The school, as a social institution, citizen and trainer requires innovations to meet the needs of the student who arrives at the educational space. Information is increasingly available and access to different languages becomes a reality. However, there are significant deficiencies of the students in competences, such as: understanding, contextualizing and relating. The geography teacher brought to this scenario is challenged to create teaching strategies that induce the student to experience school geography as a field open to innovation and with the different languages that are in daily life. Thus, the research proposes a study on teaching strategies for school geographic contents, having Geozine as a source for its development. The central purpose of this research is to understand Geozine as a transitive language that behaves as a didactic-pedagogical strategy for the teaching of school Geography. Methodologically, the research was developed initially from an exploratory research on the school reality and the teaching of geography in secondary sources: IBGE, MEC and Educational Census. Then an exploration was carried out in loco, at the Escola Municipal Francisca Avelino, Escola Estadual Professor Clotilde de Moura Lima and Escola Estadual Joaquim Nabuco, public education institutions in the city of Taipu-RN. To continue the study we conducted the deepening of the theoretical framework from the selection of authors who address topics on language, language and communication and its interface with the teaching of geography, the geographical concepts of Place and Landscape and finally, on Fanzine and Geozine. The understanding is based on the exploration of the notions of place and landscape, having first as focus, a didactic construction workshop called "The Geozine: Building a didactic metalanguage" for the geography teachers of the city of Taipu-RN. And then we proceeded with the methodology, this time focused on the didactic action of Geozine in teaching practice, specifically directed to the observation and analysis of a class, where the teacher applied Geozine as a didactic strategy. We went through different bibliographic authors, actors of the teaching and learning process (teachers and students) and of the geographic space having the inspiration of the places and landscapes of the city of Taipu. All this journey served to give a greater density to Geozine language and how it can be applied, transitive, metalinguistic in the pedagogical making of the teacher.

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

Base Nacional Comum Curricular (BNCC) Fundo de Participação dos Municípios (FPM)

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Mestrado Profissional em Geografia (GEOPROF) Ministério da Educação (MEC)

Projeto Político Pedagógico (PPP) Regimento Escolar (RE)

Secretaria Municipal de Educação (SEMEC)

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Formação dos professores e tempo de atuação na disciplina de Geografia em

Taipu/RN. ... 56

Quadro 2 – Síntese dos dados da Escola Estadual Joaquim Nabuco. ... 60

Quadro 3 – Síntese dos dados da Escola Estadual Clotilde de Moura Lima ... 62

Quadro 4 – Síntese dos dados da Escola Municipal Francisca Avelino. ... 65

Quadro 5 – O Geozine na estruturação da BNCC. ... 81

Quadro 6 – O Lugar e a Paisagem na BNCC ... 82

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – IDEB observado e Projetado do município de Taipu – RN. ... 53 Tabela 2 – Posição de Taipu em Relação a Educação do Estado do RN. ... 54 Tabela 3 – Panorama Geral dos Estabelecimentos Escolares da Cidade de Taipu-RN. . 54

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Delimitação territorial e área urbana da cidade de Taipu-RN... 52

Figura 2 – Escolas Campo de pesquisa em Taipu – RN. ... 55

Figura 3 – Fachada da Escola Estadual Joaquim Nabuco ... 59

Figura 4 – Fachada da Escola Estadual Professora Clotilde de Moura Lima... 62

Figura 5 – Professor Henrique aplicando o experimento sobre a terra ... 63

Figura 6 – Fachada da Escola Municipal Francisca Avelino ... 65

Figura 7 – Mapoteca da Escoa Francisca Avelino. ... 66

Figura 8 – Divulgação da Oficina Geozine ... 68

Figura 9 – Pasta da Oficina Geozine. ... 69

Figura 10 – Materiais da Oficina Geozine... 69

Figura 11 – Fotografias taipuenses I... 70

Figura 12 – Fotografias taipuenses II. ... 72

Figura 13 – Fotografias taipuenses III. ... 73

Figura 14 – Professores participando da Dinâmica. ... 75

Figura 15 – Primeiro momento sobre as linguagens na Geografia... 76

Figura 16 – A metalinguagem do Geozine ... 78

Figura 17 – Passos para elaborar um Geozine. ... 83

Figura 18 – Professores experenciando os materiais e as imagens de Taipu. ... 84

Figura 19 – Professores produzindo o Geozine. ... 84

Figura 20 – Geozines produzidos pelos professores. ... 85

Figura 21 – Geozine da Professora Maria de Jesus. ... 86

Figura 22 – Geozine da Professora Adriana. ... 88

Figura 23 – Geozine da Professora Solange. ... 89

Figura 24 – Geozine da Professora Cida Santos... 90

Figura 25 – Geozine da Professora Débora. ... 91

Figura 26 – Geozine da Professora Edneide. ... 92

Figura 27 – Organização dos materiais na sala da turma do 6° ano A. ... 99

Figura 28 – Professora Adriana apresentando o Geozine ao seu alunado. ... 100

Figura 29 – Alunos folheando os Geozines. ... 100

Figura 30 – Ensinando a dobradura para um Geozine... 101

Figura 31 – Alunos selecionando as linguagens para o Geozine. ... 102

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Figura 33 – Ressignificando o Geozine da aluna Maria Cláudia. ... 104

Figura 34 – Vista panorâmica dos Geozines dos alunos do 6 ano A... 104

Figura 35 – Geozine: Minha terra tem história. ... 106

Figura 36 – Geozine Taipu: Cultura Diversificada. ... 107

Figura 37 – Geozine: Minha cidade Taipu - Lugar de pessoas felizes. ... 108

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 16

2 DO FANZINE AO GEOZINE: POR ONDE CAMINHA ESSA LINGUAGEM NO ENSINO DE GEOGRAFIA? ... 22

2.1 DA EXPRESSÃO A LIBERDADE DO FANZINE ... 22

2.2 POR QUE UMA LINGUAGEM GEOZINE? ... 26

2.3 GEOZINE: LINGUAGEM, COMUNICAÇÃO E ENSINO DE GEOGRAFIA ... 30

3 O LUGAR E PAISAGEM NA GEOGRAFIA ESCOLAR ... 40

3.1 NOÇÕES DO LUGAR E A LEITURA DA PAISAGEM NO ENSINO DE GEOGRAFIA ... 43

4 O GEOZINE: UMA LINGUAGEM TRANSITIVA NA LEITURA DO LUGAR E DA PAISAGEM NA GEOGRAFIA ESCOLAR ... 51

4.1 CARACTERIZAÇÃO DO CAMPO DE PESQUISA ... 51

4.1.1 A Escola Estadual Joaquim Nabuco ... 58

4.1.2 A Escola Estadual Professora Clotilde de Moura Lima ... 61

4.1.3 A Escola Municipal Francisca Avelino ... 64

4.2 A OFICINA GEOZINE: AÇÕES, ASPECTOS E DEFINIÇÕES ... 67

4.2.1 Construindo uma metalinguagem didática: O Geozine na prática docente ... 68

5 EXPERIMENTANDO O GEOZINE SOB A PERSPECTIVA DA PRÁXIS DOCENTE ... 97

5.1 APLICAÇÃO DO GEOZINE: ENTRE O EDUCADOR E O EDUCANDO ... 97

5.2 A LINGUAGEM GEOZINE: DEFINIÇÕES, CONSTRUÇÕES, COMPETÊNCIAS E HABILIDADES ... 110

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 115

REFERÊNCIAS ... 120

APÊNDICES ... 124

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1 INTRODUÇÃO

A escola, como instituição social, cidadã e formadora, requer inovações para atender as necessidades que a sociedade apresenta. Esse ambiente de ensino e aprendizagem se torna um campo para experimentações em um contexto de mudanças técnicas, informacionais, científicas e de acesso cada vez mais rápido e disponível a todos. Nesse contexto, o aluno que chega à escola tem apresentado um aumento no número de informações sobre o mundo e acessado diferentes linguagens.

Além disso, o estudante também tem revelado carências significativas para compreender, contextualizar e relacionar o que está a sua volta com as diferentes escalas de ocorrência de um mesmo fenômeno. A quantidade de informação que ele detém é acompanhada das dificuldades que afetam a elaboração de um espírito analítico, crítico e criativo, que o leve a reorganizar as informações e usar as linguagens em sínteses mais sistemáticas a respeito do mundo vivido e percebido.

Nessa conjuntura, o professor de Geografia, levado para esse cenário, é desafiado a criar estratégias de ensino que induzam o aluno a experimentar a Geografia Escolar como um campo aberto à inovação, o que supõe lidar com o universo informacional e com as diferentes linguagens que estão no cotidiano, aproximando a realidade vivida àquela a ser estudada. Dessa perspectiva, a Geografia Escolar passa por processos de reelaboração em que o perfil do professor se refaz para se aproximar das mudanças que o ensino e a aprendizagem têm requerido nessas primeiras décadas do século XXI.

Essa dissertação está em sintonia com o exposto anteriormente ao propor um estudo sobre estratégias de ensino para os conteúdos geográficos escolares, tendo o Geozine como fonte para o seu desenvolvimento. O Geozine é uma metalinguagem, na medida em que se organiza no trânsito entre diferentes expressões, sem que haja redução entre elas. A força didático-pedagógica dessa metalinguagem, no âmbito do ensino de Geografia, está em favorecer a integração entre as diferentes maneiras de decodificação das ações dos homens e da natureza registradas na paisagem e no lugar.

No âmbito do ensino de Geografia, o Geozine foi primeiramente sistematizado no trabalho de dissertação de Antônio Marcos Gomes da Silva, intitulado “Geozine: Linguagem para o Ensino do Conteúdo de Região na Geografia Escolar”, apresentado no Programa de Pós-Graduação em Geografia – Mestrado Profissional (GEOPROF) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), no ano de 2018. Esse trabalho é pioneiro, tendo em vista que o termo Geozine foi usado pela primeira vez ao longo de seu texto, possibilitando reflexões teóricas e

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metodológicas a ele associadas. De nossa perspectiva, a intenção é, partindo das contribuições de Silva (2018), ampliar a reflexão sobre o Geozine como linguagem e experimentá-lo, mais uma vez, como estratégia didático-pedagógica com professores da rede básica de ensino da cidade de Taipu (Rio Grande do Norte). Assim, pretende-se testar a proposta do Geozine com professores de Geografia, ampliando para a aplicação com alunos.

A escolha pelo Geozine se deu, primeiramente, pela necessidade de contribuir para o avanço dessa estratégia em sua dimensão conceitual, bem como de fazer avançar a sua aplicação como dispositivo para ensinar Geografia Escolar. A estratégia Geozine é uma recriação da técnica já utilizada em diferentes espaços socioculturais, denominada de Fanzines ou Zines. Tratando-se de um objeto didático-pedagógico na ciência geográfica, é um dispositivo em reelaboração, sendo esta pesquisa considerada uma contribuição para o avanço conceitual e aplicada no âmbito do ensino da Geografia Escolar.

Ademais, em segundo lugar, ao realizar uma pesquisa exploratória com professores de Geografia da rede básica de ensino da cidade de Taipu, foi recorrente a dificuldade dos professores em lidar com as diferentes linguagens que se apresentam no cotidiano dos alunos, ficando as suas práticas restritas, na maioria das vezes, ao livro didático.

Em terceiro lugar, essa escolha deriva do fato de o Geozine compreender uma composição entre diferentes linguagens, associando uma pluralidade de saberes, símbolos e técnicas. Além disso, ele também pode ser elaborado a partir de diversas ferramentas comunicativas e de expressão, desenvolvendo habilidades e competências para a compreensão e o diálogo das noções de lugar e a leitura da paisagem, considerando o vivido e o entorno da escola.

Por último, levou-se em consideração que o Geozine pode ser criado a partir de materiais simples, baratos e acessíveis a todos. O contexto escolar da cidade de Taipu vem apresentando, em sua estrutura educacional, os piores índices educacionais (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) do Estado do Rio Grande do Norte, com altas taxas de evasão escolar e elevadas taxas de ausências e de reprovações, além de déficits quanto à existência de material didático disponível.

Diante disto, as questões que se impõem são: como o Geozine se configura como uma linguagem transitiva para ensinar Geografia no contexto da Geografia Escolar? Como a linguagem do Geozine se torna uma estratégia didático-pedagógica para ensinar sobre as noções de lugar e paisagem? Quais competências e habilidades são estimuladas por meio do Geozine no processo do ensino e da aprendizagem?

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A partir destes questionamentos, o propósito central desta pesquisa é compreender o Geozine como uma linguagem transitiva, desenvolvida como uma estratégia didático-pedagógica para o ensino da Geografia Escolar. Essa compreensão se dá a partir da exploração das noções de lugar e de paisagem, tendo como foco os professores de Geografia da Escola Municipal Francisca Avelino, da Escola Estadual Professora Clotilde de Moura Lima e da Escola Estadual Joaquim Nabuco, instituições da rede pública da cidade de Taipu (Rio Grande do Norte).

Como objetivos específicos, são elencados: explicitar o campo teórico conceitual relacionado à língua, à linguagem e à comunicação e à sua interface com o ensino de Geografia; refletir sobre o Geozine como estratégia didático-pedagógica para ensinar sobre as noções de lugar e paisagem; aplicar o Geozine na formação do educador; e discutir, no processo do ensino e da aprendizagem, as competências e as habilidades estimuladas por meio do Geozine.

A escolha pela pesquisa surgiu dentro do contexto de que, enquanto docente, o pesquisador vivenciou a realidade educacional do município de Taipu, convivendo com alunos indecisos acerca de seu futuro e com grandes barreiras diárias no cotidiano pedagógico do professor. É dentro dessa realidade que desenvolver o Geozine contribui como uma estratégia de ensino, abrindo um leque de meios para que o professor, na perspectiva de criador, utilize em sua práxis e amplie as possibilidades de aprendizagem do aluno.

Dessa forma, a elaboração do Geozine é voltada, primeiramente, para a formação dos professores de Geografia das três instituições de ensino de Taipu, pois ser docente é ser um ator social para a sociedade e para o espaço escolar. O professor, ao aprender sobre o recurso, pode aplicar e ampliar o seu fazer pedagógico, ressignificando continuamente a sua prática didática e metodológica.

Todavia, a escolha do professor e não do aluno parte do entendimento de que, para ensinar, é preciso que o professor experimente a estratégia antes de sua aplicação. Essa experimentação antecipada irá favorecer a avaliação, a crítica e a adequação no fazer pedagógico do docente. Ele é um sujeito capaz de pensar nas linguagens e estratégias didáticas que possibilitam a construção de um ensino e de uma aprendizagem significativa. Assim, o Geozine, como uma estratégia, possibilita aos educadores explorar, com os educandos, a confecção de um produto simples em sua construção, mas completo no que diz respeito à diversidade de linguagens que ele pode mobilizar (desenhos, músicas, charges, poesias, etc.).

Metodologicamente, a investigação se desenvolveu, inicialmente, a partir de uma pesquisa exploratória sobre a realidade escolar e sobre o ensino de Geografia, fazendo uso de informações em fontes secundárias, com consultas a dados do Instituto Brasileiro de Geografia

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e Estatística (IBGE), Ministério da Educação e Cultura (MEC) e Censo Educacional. Para compreender a questão educacional da cidade, foi considerado o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB).

Em seguida, foi realizada uma exploração in loco, nos quatros estabelecimentos escolares da cidade (Escola Estadual Joaquim Nabuco, Escola Municipal Francisca Avelino, Escola Estadual Professora Clotilde de Moura Lima e Escola Estadual Adão Marcelo da Rocha) com a finalidade de avaliar sua estrutura física e humana. Para isso, foram feitos registros da estrutura física e dos recursos didáticos disponíveis para o ensino de Geografia.

Ademais, realizou-se uma conversa com professores dessa área para identificar o perfil formativo, o tempo de experiência profissional, o local de moradia, a visão sobre a escola e o ensino da Geografia, bem como as dificuldades encontradas para ensinar a disciplina e o que tem sido feito para superar as problemáticas. Ao longo do diálogo, foram abordados, ainda, a disponibilidade dos recursos didáticos e o seu o uso em sala de aula. Esse levantamento de informações serviu para subsidiar uma análise da situação educacional do ensino de Geografia da cidade e, ao mesmo tempo, favoreceu a escolha das escolas já mencionadas.

A partir desse momento, houve uma pesquisa exploratória mais detalhada a respeito da realidade das instituições escolhidas, envolvendo: consulta a documentos normativos das escolas (projeto político pedagógico); observação da estrutura física e didática das salas de aula; conversas informais para saber as principais acepções dos professores de Geografia sobre seu fazer pedagógico; análise dos recursos didáticos disponíveis em sala de aula; e visão sobre o ensino da Geografia escolar e a educação atual. Destaca-se ainda que foi feita a observação de aulas de alguns docentes.

Assim, com as pesquisas in-loco nas instituições realizadas, foi elaborada e proposta uma oficina de construção didática, denominada “O Geozine: construindo uma metalinguagem didática”, destinada aos professores de Geografia da cidade de Taipu. A ação foi realizada na Escola Municipal Professora Francisca Avelino. Diante disto, foram delimitados quatro momentos, a saber:

• Primeiro momento – “As linguagens no ensino da Geografia escolar”: as linguagens na geografia escolar; o ensino da Geografia no contexto atual; e o perfil do professor na era das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs).

• Segundo momento – “A linguagem Geozine: explorando as noções do lugar e da paisagem taipuense”: conhecendo o Geozine como uma metalinguagem e uma estratégia didática; adaptando o Geozine a partir da perspectiva da Base Nacional

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Comum Curricular (BNCC); e explorar as noções do Lugar e da Paisagem Taipuense através do Geozine.

• Terceiro momento – “Construindo um Geozine”: elaborando e experimentando o Geozine pelos professores, a partir das noções do lugar e da exploração da paisagem de Taipu.

• Quarto momento – “Avaliação e percepções”: avaliar o Geozine como linguagem e estratégia didática; refletir sobre os objetos do conhecimento e habilidades que o recurso consegue abarcar; identificar vantagens e desvantagens sobre a elaboração material; e apresentar sugestões para o desenvolvimento do Geozine.

Após a realização da Oficina Geozine com os professores, houve um momento voltado para a ação didática do Geozine na práxis docente, especificamente direcionado para a observação e análise de uma aula, por meio da qual o professor aplicou o Geozine como uma estratégia didática. Para isto, foram delimitados os seguintes momentos didáticos:

• Momentos Iniciais: conhecendo o Geozine, seus aspectos e características; experenciando as produções elaboradas pelos professores (material da oficina Geozine); compreendendo as acepções do professorado sobre as paisagens e os lugares taipuenses.

• Momentos de Construções: como fazer o Geozine; construindo as narrativas utilizando as diferentes linguagens, as paisagens, os lugares e as vivências citadinas dos alunos.

• Momentos de Ressignificações – “o lugar, a paisagem, uma Taipu”: analisando as narrativas produzidas pelos educandos; compreendendo as relações entre o lugar, a paisagem e as vivências taipuenses e suas formas de expressão nos Geozines produzidos pelos alunos.

Por fim, baseando-se em toda narrativa produzida pelos alunos e na condução didática realizada pelo professor, realizou-se uma conversa a respeito das acepções e da compreensão do Geozine na práxis do educador e como essa estratégia se comportou, bem como quais suas perspectivas acerca deste produto didático.

Dessa maneira, o presente texto está estruturado em seis capítulos. No primeiro capítulo, há a introdução com toda a sintetização do tema abordado e uma contextualização com a realidade, bem como há a delimitação dos objetivos (geral e específicos), das perguntas de partidas, das justificativas (os porquês do estudo), dos passos metodológicos (como fazer) e da organização dos capítulos.

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Em seguida, no segundo capítulo, há a construção teórica e conceitual da linguagem Geozine e sua interface com o ensino de Geografia. Nesse momento, foi realizado um aprofundamento do referencial teórico a partir da seleção de autores que abordam temas sobre a língua, a linguagem, a comunicação e as interfaces com as linguagens didáticas no ensino da ciência geográfica.

Por conseguinte, no terceiro capítulo, buscou-se compreender os conceitos de lugar e de paisagem, fazendo uso, assim, dos principais autores da ciência geografia e sua relação com o ensino da Geografia. No entanto, mesmo tendo um capítulo específico sobre tais conceituações, vale ressaltar que a sistematização teórica atravessa todo o texto.

No que tange ao desenvolvimento do quarto capítulo, há a caracterização do local de estudo – a cidade de Taipu – e, respectivamente, do diagnóstico nas escolas campo de pesquisa que subsidiaram as análises iniciais, como também das observações de uma aula do professor de Geografia de cada uma das três instituições selecionadas para a pesquisa. É, neste tópico, que há a descrição detalhada da “Oficina Geozine: Construindo uma Metalinguagem Didática”, mostrando todo o seu processo pré e pós aplicação, principalmente as narrativas e as análises dos Geozines produzidos pelos educadores.

No quinto capítulo (“O Geozine na práxis docente”), tem-se a sistematização dos resultados da pesquisa a partir da aplicação do Geozine no fazer pedagógico de um professor participante da oficina, aplicando o Geozine como uma estratégia didática de ensino. Nesse momento, tomando como base a experimentação prévia sobre o Geozine, o professor colocou tal estratégia em prática com seus alunos, elaborando novos Geozines, com novas narrativas sobre Taipu. Logo, as produções dos alunos e as suas relações de vivência com a cidade foram avaliadas e refletidas.

Além disso, buscou-se, na parte final deste tópico, reavaliar a linguagem Geozine a partir de todos os condicionantes retratados na pesquisa (teórica e empírica) e da construção de um quadroi sobre as competências, as unidades temáticas, os objetos do conhecimento e as habilidades, ampliando e ressignificando o produto didático denominado Geozine. Por último, no sexto capítulo, há as considerações finais.

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2 DO FANZINE AO GEOZINE: POR ONDE CAMINHA ESSA LINGUAGEM NO ENSINO DE GEOGRAFIA?

Sem linguagens novas não há realidade nova, não se cria possibilidades simbólicas (VIANA, 2020).

A educação escolar representa uma atividade de intenso trabalho, tendo início no núcleo familiar e ampliando-se para a escola no que tange ao processo de formação social. O ensino é uma das maneiras de alcançar à aprendizagem, ou seja, o aluno não aprende se não obtiver um estímulo ou uma orientação acerca dos deveres da vida cotidiana. Sendo assim, as estratégias didáticas são um norteador importante na formação do aluno ao longo de sua jornada escolar.

Nesse contexto da realidade de vivências de professores e alunos, surge a proposta desta pesquisa, ao aproximar o cotidiano com as leituras das paisagens, dos cheiros, das percepções e do pertencimento do lugar, através de uma linguagem denominada Geozine, produto criado por Silva (2018) no Programa de Pós-Graduação Profissional em Geografia da UFRN, tendo como premissa a metalinguagem. Assim, o autor considera o Geozine como um objeto prático para o ensino da Geografia, que tem como princípios de construção o Fanzine ou Zine, porém ressignificando para a ciência geográfica escolar. Logo, compreende um leque de possibilidades, de experimentações e de expressões, na liberdade de quem o elabora e nos caminhos das ressignificações para o ensino de Geografia.

Esta seção busca compreender historicamente a terminologia do Fanzine enquanto base central na construção da ideia de “Geozine”, analisando o seu surgimento, as denominações e fazendo o seguinte questionamento: por que uma linguagem Geozine? Para tanto, analisando-o enquantanalisando-o um pranalisando-odutanalisando-o metalinguísticanalisando-o. Além dissanalisando-o, reflete-se a respeitanalisando-o da relaçãanalisando-o entre linguagem e comunicação no campo de aplicação da Geografia Escolar. A partir disto, há a elaboração conceitual do Geozine, enquanto linguagem para o ensino da Geografia e seus principais aspectos e características deste objeto central da dissertação.

2.1 DA EXPRESSÃO A LIBERDADE DO FANZINE

O Fanzine é, para alguns, uma ferramenta; para outros, uma revista; mas, em geral, trata-se de uma forma de liberdade de expressão por meios de conjuntos e aspectos simples, o que é considerado um grande paradigma com o mundo tecnológico atual, pois há poucos recursos

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para a sua construção, mas ele é rico em formas de expressões, muito difundido hoje nos espaços sociais, comunicacionais e educacionais.

Falar em Fanzine é discutir diferentes definições para esse objeto e suas múltiplas formas de uso. Para além disso, é refletir sobre intencionalidades, elementos de criação, imaginação e improvisação. Segundo Henrique Magalhães, considerado um dos maiores especialistas brasileiros sobre o Fanzine/Zine, o nome Fanzine é uma junção de abreviatura independente feita de fã de um determinado assunto, objeto ou arte e voltado para fãs do mesmo conteúdo (MAGALHÃES, 1993). Ainda de acordo com ele

Os fanzines são veículos amplamente livres de censura. Neles seus autores divulgam o que querem, pois não estão preocupados com grandes tiragens nem com lucro; portanto, sem as amarras do mercado editorial e de vendagens crescentes. (MAGALHÃES, 1993, p. 10).

Para Aragão (1999, p. 15), o Fanzine:

É um misto de carta e revista, que dão a palavra a indivíduos que, muitas vezes, sequer têm intimidade com ela, por esse motivo erros de Português e frases truncadas são facilmente encontrados nos fanzines, mas que são desculpados devido à boa intenção do fanzineiro. Outro problema apontado é o fato dos fanzines trazerem resenhas que não possuem qualquer rigor jornalístico, baseando-se apenas no gosto pessoal do escritor. “Geralmente a base para as ‘análises’ são bem pessoais, algo como: ‘eu gostei, então talvez você goste’.

Já Nascimento (2010, p. 123) conclui que a palavra Fanzine:

É considerada marginal por ser uma publicação que cresce à margem do que se oficializou como meio de comunicação impressa oficial – os jornais e revistas – e tem crescido nas últimas décadas. Se não bastasse isso, o fanzine tem margeado a escola e, mesmo sendo de baixo custo, não o incluímos na sala de aula como um recurso pedagógico que possibilita o exercício da cidadania, da criatividade e da criticidade, além de ampliar o olhar antes as imagens que nos são postas.

Nos dias atuais, essa definição ganhou amplificação, uma vez que engloba todo tipo de publicação que tenha um caráter amador, sem a intenção ou direcionamento ao lucro, com o objetivo da propagação de ideias, culturas, gostos, críticas e das diferentes formas de expressão para grupos que não possuem o acesso às mídias tradicionais e tecnológicas do mundo informacional atual.

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Em um contexto histórico, o Fanzine tem origem nos Estados Unidos em 1930, através de “faz” de ficção científica que elaboraram artigos e críticas informacionais sobre o gênero. Os Zines desta época traziam ilustrações, desenhos, poesias, músicas, recortes, colagens e outras formas de expressão. A grande expansão do Fanzine ou Zine ocorreu partir do movimento punk na Europa e nos Estados Unidos, entre as décadas de 60 e 70 do século XX. O “movimento punk foi um fenômeno cultural e social que tinha como objetivo contestar o sistema capitalista” (VITECK, 2007, p. 56).

Para Magalhães (1993), o Zine aparece em território nacional na mesma época da explosão deste no mundo. No Brasil, que adentrava em um período ditatorial, serviu de grande contributo para a expressão das minorias e dos oprimidos pelos governos da ditadura militar. Era um recurso utilizado para divulgar ideias, críticas, movimentos e manifestações. O primeiro Fanzine produzido no Brasil foi intitulado de “Ficção”, criado por Edson Rontani, rodado em um mimeógrafo à tinta e a álcool, instrumentos mecânicos simples, mas que viabilizavam pequenas tiragens com baixo custo (MAGALHÃES, 1993). Esta publicação trazia críticas às revistas em quadrinhos, além de ter abordado algumas notícias no contexto da década de 1960.

Com os avanços tecnológicos, o Fanzine passou por uma evolução, na medida em que as máquinas fotocopiadoras são barateadas e sua elaboração é propagada com essa nova técnica. Magalhães (1993, p. 43) afirma que:

A disseminação do uso de fotocopiadoras por todo país, no final dos anos 70, transformou completamente a produção de fanzines. O baixo custo e a boa qualidade de impressão provocaram uma verdadeira explosão de publicações, proporcionando o intercâmbio e a descoberta de preciosidades das HQ (Histórias em Quadrinhos). Este foi um dos motivos que deu origem à fase de consolidação de nossos fanzines.

No Brasil, o Fanzine vai ganhar uma maior força somente nos anos de 1980, com o rock nacional, e influenciado pelo movimento punk. Já nos anos de 1990, o Fanzine sofre um golpe: a crise econômica. O preço dos materiais e serviços (papel, fotocópia e postagem) sobe e afeta a produção brasileira.

Se num primeiro momento, o Fanzine representa a possibilidade de veiculação de informações em quadrinhos, para muitos editores cujo objetivo final era conquistar o grande público e a profissionalização, logo ele se torna um veículo limitado. O círculo vicioso do público, que é o mesmo a consumir quase todos os fanzines, também levou ao esgotamento por falta de perspectivas de conquistar maiores horizontes. (MAGALHÃES, 1993, p. 51).

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Dessa forma, no Brasil os Fanzines, a partir da década de 1990, passam por uma crise, mediante ao surgimento de novas formas de publicações e novas tecnologias no ato de confeccionar, objetivando o lucro em detrimento da expressão e crítica de uma realidade vigente. O Fanzine se configura como uma mídia alternativa, uma prática que objetiva informar, expandir e publicitar assuntos para aqueles que, muitas vezes, não são tratados pela mídia em geral. É comum dizer que mídias alternativas (como a exemplo do Zine) podem ser uma contrainformação, ou seja, um tipo de publicação em que não há uma regulação, mas, sim, uma liberdade de expressão.

Para Magalhães (1993, p. 10), “os fanzines são veículos amplamente livres de censura. Neles, seus autores divulgam o que querem, pois não estão preocupados com grandes tiragens nem com lucro; portanto, sem amarras do mercado editorial e de vendagens crescentes”. Ainda assim, o Fanzine tem, intrínseco, a possibilidade de promover a autonomia na produção de uma mídia alternativa, principalmente por ser uma ferramenta que possibilita a participação em diversos segmentos da sociedade, dentre elas a educação (escola).

De acordo com Nascimento (2010), o Fanzine propicia:

No âmbito educacional, o desenvolvimento da capacidade dos educandos de pesquisar informações relevantes, levantar um olhar crítico sobre o cotidiano ou dos conteúdos programáticos das diversas disciplinas, além de produzir um material de comunicação que expresse suas ideias, incorporando a união do desenho e outras imagens tomadas de outros meios, enfatizando a relação entre estes e destacando as soluções mais criativas. (NASCIMENTO, 2010, p. 125).

Ressalta-se ainda que o Fanzine apresenta a liberdade de expressão e a criatividade, além de ser um recurso que desenvolve a participação comunicacional, promovendo trocas de experiências e opiniões. Embora vivemos em um mundo de aparatos tecnológicos, as relações de aprendizagem tendem a se alterar neste sentido, pois o processo comunicacional não se faz apenas com isso. O Fanzine é, ainda, uma maneira de proporcionar as trocas de informações e percepções acerca de uma mesma realidade.

Para Magalhães (1993, p. 10), uma das principais características dos Fanzines “é que seus editores se encarregam completamente do processo de produção. Desde a concepção da ideia, até a coleta de informações, diagramação, composição, ilustração, montagem, paginação, divulgação, distribuição”. Dessa forma, ao elaborar um Fanzine, o autor conduz os processos cognitivos de aprendizagem, tendo em mãos todo o ato de confeccionar o produto, seja na

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liberdade teórica, na elucidação das percepções e nas linguagens a serem utilizadas (desenhos, músicas, charges, poesias e outras formas de expressão).

2.2 POR QUE UMA LINGUAGEM GEOZINE?

A linguagem crítica, a estruturação por meio do uso de materiais simples e o apelo à criatividade para veicular ideias foram os desencadeadores para se estabelecer um elo do Fanzine com o ensino de Geografia. Essa aproximação resultou na cunhagem do Geozine, por vezes compreendido como prática e incompreendido como conceito, mas sempre utilizado como estratégia para mobilizar no ensino de Geografia. São lacunas que persistem e que fazem aprofundar, compreender e refletir. É certo que cabem mais questionamentos do que respostas.

O início dessa história está nas inquietações do pesquisador e professor Antônio Gomes em sua dissertação de mestrado, desenvolvido junto ao Programa de Pós-graduação Profissional em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Silva (2018), em sua pesquisa, retrata a profissão do professor, frente às problemáticas diárias no saber-fazer que são vistas:

A profissão de professor está nesse contexto da inquietação criativa, seja, na universidade que exige a vivência no Ensino, Pesquisa e Extensão, seja nas experiências na escola, que implica lidar com uma complexidade de sabres, dúvidas, imprevisões provenientes de campos disformes, seja na condição de um ser limitado de quem é solicitada uma atuação ilimitada. (SILVA, 2018, p. 86).

Dessa perspectiva, o autor reflete sobre o seu saber-fazer e a busca por novos horizontes e formas de expressões. Dedica-se a elaborar uma proposta metodológica experimental com inspirações no Fanzine, criando o Geozine como uma possiblidade para ensinar Geografia. Em sua pesquisa, volta-se aos conteúdos sobre região no ensino fundamental (anos finais). Para ele, trabalhar com linguagens no ensino da Geografia está relacionado aos processos:

[...] de amadurecimento teórico sobre a Geografia escolar [que o instigou] para sistematizar uma proposição metodológica que pudesse explicitar essa experiência como linguagem didática, proporcionando uma reflexão que pudesse ampliar as estratégias para ensinar. (SILVA, 2018, p. 88).

Logo, a ideia de trabalhar com a linguagem Geozine surge através do contexto educacional do professor frente às barreiras diárias, mas propondo uma experimentação que possibilite novos horizontes e formas de visualizar os conteúdos geográficos. Portanto, o Geozine é um produto que também surge para responder lacunas, através da experimentação

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desta estratégia didática, utilizando os aspectos significativos do aluno para construção de uma ponte que interligue os conteúdos geográficos à realidade holística e de vivências.

Sobre o Geozine como um objeto didático, o autor o associa a uma linguagem que se transforma no campo da experimentação e na ampliação de horizontes no âmbito do ensino de Geografia. Diante disto, toma-se como base a ideia de Silva (2018) e propõe-se o desafio para esta dissertação em ampliar a discussão, verticalizando o diálogo com outros autores e buscando compreender o Geozine enquanto uma linguagem, pois é preciso refletir a respeito do percurso metodológico e das lacunas ao longo do caminho teórico.

Nessa condição, há a pretensão de adentrar ao campo da linguagem, estabelecendo uma interface com o Geozine e buscando acentuar a sua característica como uma metalinguagem que se organiza pelo trânsito entre diferentes expressões a fim de responder: por que uma linguagem Geozine? Primeiramente, é necessário buscar a imensidão teórica do campo científico que é a linguagem, com a finalidade de criar meios que propicie o entendimento conceitual do Geozine.

É sabido que as relações do homem com a natureza ocorrem por meio da criação de códigos que, simultaneamente, decifram e recodificam o mundo vivido e percebido. Nesse mecanismo de codificação e decodificação, pode-se entender como uma estratégia de compreensão e sobrevivência da espécie humana em seu processo de humanização. Ademais, impõe-se como conteúdo de sua singularização ou especialização sociocultural e espacial ramificada por extensões da linguagem e da comunicação.

A compreensão do Geozine passa, portanto, pela reflexão sobre linguagem e comunicação, sua interferência na organização das vivências, especialmente aquelas relacionadas ao contexto didático-pedagógico escolar e do ensino de Geografia. Denominar o Geozine como uma linguagem didática é dizer que ele se comporta como uma estratégia pedagógica voltada para o ensino da Geografia Escolar, visto que é uma “mediação dialética do professor e, portanto, o de propiciar a atividade cognitiva do aluno por meio de encaminhamentos metodológico para que esse aluno construa conhecimento e desenvolva capacidades e habilidades cognitivas” (CAVALCANTI, 2010, p. 59).

O Geozine tem como principal característica o elo com diferentes linguagens na sua criação que funciona como uma espécie de metalinguagem. Em outras palavras, é uma linguagem que se alimenta de outras “linguagens” para estruturar a sua própria, tornando-o um objeto único pelo uso dessa pluralidade, onde o “potencial que há no Geozine, enquanto linguagem e comunicação se dá no processo de construção, em que o sujeito precisa, minimamente, entendê-lo e, nesse sentido entra o professor para criar as condições iniciais”

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(SILVA, 2018, p. 93), para mobilizar música, fotografia, mapas, literatura, texto científico, dentro outros.

Diante disso, o Geozine é um elo que se liga a diversos elementos linguísticos que, como o próprio, contêm símbolos, signos e códigos. Apesar de ser plural, apresenta um sistema organizativo fechado, uma vez que, por se tratar de uma linguagem didática, deve apresentar delimitações em sua construção, sejam teóricos e empíricos (enquanto exemplificação e materialização). Sendo assim, sua elaboração está relacionada a uma intencionalidade voltada ao ensino e à aprendizagem, o que implica dizer que a sua criação está vinculada à dimensão dos conhecimentos geográficos.

O Geozine, entre tantas características, tem o ineditismo na sua elaboração, ou seja, nenhum produto será igual ao outro, porque parte do mundo das ideias, da criatividade, do olhar tocante do indivíduo e da problematização das coisas reais. A partir daí, ao se materializar, o Geozine surge como um elo que atrai diversas outras linguagens, seja a música, a fotografia, os poemas, as gravuras e outros. Como aponta Silva (2018, p. 93):

A primeira abordagem passa pela a originalidade artesanal, tendo em vista que, um Geozine não será igual ao outro, mesmo que feitos pela mesma pessoa. Serão impressas “marcas” e características de quem o produziu, sendo desta forma um meio pelo qual podemos mensurar o nível de entendimento.

Portanto, o Geozine é uma linguagem original, materialmente falando “manual”: uma tela em branco, onde o pintor derrama toda a sua criatividade, criando, em sua obra, códigos e signos que servirão como uma ponte comunicacional para a compreensão “todo”, mas que poderão ser vistas as marcas e a intencionalidade de quem o fez. Dessa forma, Silva (2018) também aponta uma outra abordagem linguística acerca do Geozine, por meio da qual:

O mais importante é o trabalho intelectual e o exercício do pensamento. Consiste num momento em que a criatividade é o combustível indispensável, chega a ser uma produção artística, de estética que imprimem singularidades, além de aprender o que o se espera do sujeito, na verdade, mostrará os seus mundos. (SILVA, 2018, p. 94).

O Geozine, enquanto linguagem didática, é uma estratégia que está em constante movimentação, buscando romper com o “ensino estatístico” para o ensino dos conteúdos geográficos a partir da visão metalinguística, uma vez que a criatividade humana faz parte do processo linguístico e comunicacional. Neste sentido, Straforini (2006) aponta a necessidade desse movimento didático na Geografia escolar:

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A Geografia, necessariamente, deve proporcionar a construção de conceitos que possibilitem ao aluno compreender o seu presente e pensar o futuro com responsabilidade, ou ainda, preocupar-se com o futuro através do inconformismo com o presente. Mas esse presente não pode ser visto como algo parado estático, mas sim em constante movimento. (STRAFORINI, 2006, p. 51).

A concepção prática do Geozine, enquanto linguagem, perpassa também no caminho intencional, pois sua construção material requer se apropriar, primeiramente, de um “mote” que são os conteúdos e saberes geográficos; em segundo, está na concepção linguística utilizada na elaboração do objeto didático, por meio do qual o Geozine faz o “contrabando” das ferramentas, das metodologias e das linguagens. Assim, surge um produto didático dotado de habilidades e intencionalidades comunicativas. Conforme aponta Silva (2018, p. 93):

No Geozine há combinações de áreas distintas do saber. Quando o aluno está selecionando uma imagem para representar uma dada característica da região, ele já acionou e estabeleceu mentalmente a conexão com a palavra. A escolha da representação não é aleatória, então, o conceito em si, tem importância a partir da ligação da palavra.

A linguagem Geozine tem, nas combinações, o elemento principal, a ponte capaz de ressignificar o objeto metalinguístico. É válido ressaltar que as conexões surgem na sua construção, a depender da intencionalidade de quem elabora, enquanto uma metodologia didática, e, como todo ato criativo, o "produto final" é desconhecido. O Geozine, como proposição didática, surge como mais um auxílio para o ato do ensinar Geografia, na falta de materiais didáticos e estratégias que dificultam a práxis educacional. Logo, isso justifica o fato de o Geozine ser direcionado à experimentação e ao desenvolvimento de habilidades do professor, pois dele requer uma ação didática para desenvolver, no educando, a percepção temática a ser estudada e a visão de mundo do aprendiz.

O uso e a intenção do Geozine, no fazer didático do professor, também se comporta como um elo e não como uma finalidade. É necessário que o professor introduza a linguagem como forma de unir os conhecimentos teóricos e as teias geradas durante as aulas. Dessa forma, cabe ao professor guiar o processo, sabendo, de antemão, que é preciso manter o sentido pedagógico, mesmo tendo o conhecimento de que o produto será baseado em diversas percepções.

A mediação, neste processo, é de grande importância. Imaginemos um cenário em branco, onde o que prevalece no meio são as palavras “lugares”, “paisagens” e “Taipu”. A

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imagem que o indivíduo está criando são acepções sobre essa tríade, organizando palavras ou frases, mas que são insuficientes para explanar na oralidade. Para isso, colocamos alguns dispositivos em torno das palavras, como imagens, frases, músicas, poemas, jornais/notícias. A função destes dispositivos se afigurará em uma rede de conhecimento e, quando colocado em ação, promoverá a aprendizagem.

É assim que o Geozine se apresenta, como uma grande tela em branco que vai sendo preenchida mediante a ligação entre diferentes linguagens, promovendo um exercício metalinguístico. No âmbito do ensino de Geografia, essa experiência denota estratégias que estão em relacionar, esquematizar, ligar, criar símbolos, conexões, sentidos e materializar pensamentos e ações.

2.3 GEOZINE: LINGUAGEM, COMUNICAÇÃO E ENSINO DE GEOGRAFIA

A concepção do Geozine criada por Antônio sugere a abertura para diversas possibilidades de apreensão. Por vezes, pode-se tê-lo como produto, por vezes apresentá-lo como metodologia, ainda concebê-lo como recurso. De uma perspectiva complexa, elas se interligam quando se pensa o Geozine como uma metalinguagem que opera a partir do “contrabando” de diferentes meios comunicativos para compor uma estratégia didático-pedagógica voltada para o ensino de Geografia.

Sabendo que o Geozine é uma linguagem que se transmuta sob diferentes aspectos didáticos, ora recurso, ora produto, ora estratégia, reflete-se, agora, sobre a noção da comunicação linguística no ensino de Geografia. Edgar Morin (2001) sugere três pontos fundamentais e primordiais para a reconstrução do conhecimento, sendo o pensamento e o ensino que servem como esclarecedores e que ajudam a entender o Geozine ora como linguagem, ora como método, ora como estratégia.

O primeiro ponto é considerar o problema do método. Este método não pode ser confundido com metodologia, visto que metodologia são caminhos e sequências traçados para o desenvolvimento de uma pesquisa. Já método é a formação da capacidade cognitiva do indivíduo em elaborar estratégias, fazendo contexto das informações, tornando o ser apto a tomar decisões e formar discussões.

A estratégia é descrita pelo autor como algo que “permite, a partir de uma decisão inicial, encarar um certo número de cenários para a ação, cenários que poderão ser modificados segundo as informações que vão chegar no decurso da ação e segundo os imprevistos que vão surgir e perturbar a ação” (MORIN, 2007, p. 116).

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Em sequência, há a segunda premissa, que diz respeito à linguagem, sobre a qual Morin considera polivalente e polifuncional, pois exprime, constata, transmite, argumenta, dissimula, proclama e prescreve (os enunciados “performativos” e “ilocutórios”). Para Morin, tudo passa pela linguagem e, na maioria das vezes, faz dela um simples instrumento de transmissão ou um “caminho” para a realidade humana. As palavras, os sons e as imagens trabalham como uma trama que não se desvelam sem um dispositivo de análise próprio. Assim, a linguagem, na concepção de Edgar Morin, deve ser pensada em seu sentido hologramático, sendo parte integrante da cultura que a forma e concebida, ao mesmo tempo, como autônoma e dependente.

Do ponto de vista do sentido, podemos considerar a linguagem como uma organização hologramática [...] em que não apenas a parte está no todo, mas também o todo está na parte. O sentido de uma palavra não é uma unidade, não somente porque uma palavra, produto de um processo muito complexo, é com frequência polissêmica, mas, sobretudo, porque o sentido requer descrições e definições a partir de outras palavras e frases. (MORIN, 2015, p. 209).

Por fim, em terceiro, parte da provocação de que a ampliação do conhecimento se dá pela migração entre áreas distintas do saber; em outras palavras, sob o olhar transdisciplinar dentro dos aspectos linguísticos polissêmico e polifônico das ciências. Mesmo sabendo que uma disciplina se propõe em construir determinados conhecimentos no âmbito da sua ciência, consegue estabelecer conexões e diálogos entre os diversos saberes.

Dessa forma, as acepções de Morin (2003) trazem fortalecimento teórico para o Geozine, mostrando que as mediações e intencionalidades comunicacionais são estratégias por transcender a perspectiva da fragmentação do conhecimento, favorecendo o trabalho docente como horizontes de possibilidades. Por fim, estabelece um diálogo multidisciplinar, algo característico na materialização do Geozine enquanto um produto didático.

A essas afirmações/premissas, acrescenta-se a noção de comunicação como o campo onde os sujeitos se situam para compreender o que está a sua volta e a si mesmo. Sobre isso, Paul Claval discute essa teia comunicacional, afirmando que “a esfera de contato é criadora dos círculos de intersubjetividade, na qual a mediação se realiza pela comunicação (textual, oral, midiática etc.)” (CLAVAL, 1995, p. 25).

A comunicação apresenta duas bases: uma analítica, baseada em estruturações de informação (espaço físico), e uma simbólica, orientada a aproximar ou, mesmo, distanciar por meio dos valores encadeados (espaço psicológico). Já em outra perspectiva, Claval (2002a)

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referencia o papel das comunicações e das representações na passagem das mensagens que difundem conhecimentos e problemas de comunicação.

Mas a maior parte daquilo que os homens se transmite passa por signos, sinais e mensagens expressas num código recebido por eles, isto é, numa linguagem natural ou artificial. Portanto a cultura é o conjunto de representações sobre os quais repousa a transmissão. (CLAVAL, 2002b, p. 141).

Percebe-se que há um elo entre os eixos cultura, comunicação, representação, códigos, signos e o desenvolvimento da Geografia dentro de uma abordagem cultural. Essa Geografia dialoga com aquela denominada de “Virada Linguística”, baseada nas filosofias da linguagem de Ludwing Wittgenstein e Mikhail Bakthin, autores de grande importância na compreensão da linguagem e comunicação do Geozine.

O ato de comunicar envolve a operação com uma linguagem multiforme e heteróclita (SAUSSURE, 1989). A característica apontada pelo linguista tem contornos importantes para pensar o Geozine como um exercício de montagem a partir de materiais que podem vir de diferentes origens. O seu campo comunicacional se forma nesse contexto, pelo trânsito que os indivíduos são capazes de realizar para criar interpretações sobre o mundo, as coisas, os objetos, e o conhecimento.

Interfere, nesse processo de criação, os vínculos existenciais dos quais todos são partícipes. O pertencimento a uma língua, por exemplo, pode ser visto como um condicionante para as escolhas no processo de montagem. Para Bakhtin (1992), a língua seria formada por um conjunto de manifestações linguísticas, ou seja:

A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas linguísticas, nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal realizada através da enunciação. (BAKHTIN, 1992, p. 123).

Nesta visão, o autor coloca a língua como um sistema fechado de signos para uma determinada finalidade comunicativa, aberta à variação da linguagem que impõe modificações, fazendo emergir novas expressões, signos e formas comunicacionais. A “linguagem não é um mecanismo fixo, fechado, e está em permanente mudança, podemos dizer, novos tipos de linguagens, novos jogos de linguagem, surgem, outros são esquecidos” (WITTGENSTEIN, 2005, p. 27).

Para Saussure (1989), o espaço-tempo influencia na construção da linguagem, tendo em vista que:

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A cada instante, a linguagem implica ao mesmo tempo um sistema estabelecido e uma evolução: a cada instante, ela é uma instituição atual e um produto do passado. Parece fácil, à primeira vista, distinguir entre esses sistemas e sua história, entre aquilo que ele é e o que foi; na realidade, a relação que une ambas as coisas é tão íntima que se faz difícil separá-las. (SAUSSURE, 1989, p. 16).

Por serem mais fluídas, circunstanciais e afeitas à dinâmica do tempo e do espaço em sua configuração contextual, as linguagens apresentam variações que são consensualidades em campos comunicacionais, organizados com definição de limites e fronteiras. Dessa dinâmica, são reconhecidas as linguagens fotográficas, poéticas, científicas, cinematográficas e outras. Para essas diferentes linguagens, formam-se campos comunicacionais por onde gravitam ideias e modo de ser, de fazer, de compreender e de interpretar o mundo a partir de códigos que são dominados por experts.

Para Lorencena (2012, p. 24), língua e linguagem integram um par em que o uso de um compromete o outro.

A língua é a ferramenta e a palavra é o signo; estes são dois instrumentos que fazem parte da caracterização natural do homem, no entanto, não podemos fazer uso da linguagem (lançando mão das duas) e depois que serviu ao seu objetivo, a deixarmos de lado. Não se pode usar as palavras num contexto e a seguir deixá-las voltar ao vocabulário de que dispomos, pelo simples fato de que, em todo conhecimento de nós mesmos e do mundo sempre já fomos tomados pela nossa própria linguagem. (LORENCENA, 2012, p. 24).

Segundo Gadamer (2002, p. 175), foi através dos “estudos de Humboldt que a linguagem adquiriu o estatuto de filosofia ou ciência da linguagem”. Como seu objetivo era investigar os idiomas dos diferentes povos, foi possível admitir que culturas diferentes possuam a mesma faculdade de organização gramatical e sintática, bem como que a ciência da linguagem, como qualquer outro fator pré-histórico, representa a pré-história do espírito humano.

O termo “linguagem” tem recebido várias definições dependendo da teoria linguística que é adotada. Ludwing Wittgenstein e Mikhail Bakthin defendem o modelo de comunicação como uma troca de mensagens entre receptor e emissor, sendo os principais elementos deste processo o emissor, o receptor, a mensagem e o código, propondo uma série de termos relacionados aos símbolos gráficos (DUARTE, 2005). A linguagem, em sentido estrito, seria entendida como “abstração inobservável em si mesma; nem língua, nem fala, revelando-se nelas

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pelo caráter criativo, inovador, que induz a que não exista fixidez de sentido nas formas verbais” (DUARTE, 2005, p. 36).

Para Vygotsky, a linguagem começa, por ser social, tanto em sua função como, naturalmente, nas condições de sua formação, ou seja:

A função inicial da linguagem é comunicativa. A linguagem é antes de tudo um meio de comunicação social, um meio de expressão e de compreensão. Geralmente, na análise por decomposição de elementos, esta função da linguagem também se separa da intelectual e ambas eram atribuídas à linguagem, como se disséssemos, paralela e independentemente uma da outra. Sabe-se que a linguagem combina a função comunicativa com a de pensar, mas não investigou, nem se investiga que a relação existe entre ambas as funções, o que condiciona as coincidências na linguagem, como se desenvolvem, nem como estão unidas estruturalmente entre si. (VYGOTSKY, 1934, p. 21).

Com isto, a linguagem começa a ser utilizada de forma gradual e crescentemente, orientada em parte para si mesma e operando como uma espécie organizadora das ações linguísticas e comunicacionais. De acordo com o dicionário Semiótica, a linguagem é um objeto do saber, não sendo tal objeto definível em si, mas apenas em função dos métodos e dos procedimentos que permitem sua análise e construção. Duarte (2005) traz a linguagem como uma forma de expressão na produção e uso dos signos, onde:

Por vezes linguagem vira sinônimo de comunicação, às vezes de língua, sendo que a primeira é uma função da linguagem e a segunda uma contenção que delimita sistemas normativos, historicamente determinados. No entanto, a linguagem, enquanto potência humana e produzir e manipular signos, atravessa e transforma tanto as formas de comunicação, quanto as normas e os códigos linguísticos. (DUARTE, 2005, p. 36).

Quando se fala da linguagem, lembra-se diretamente da sua função comunicativa, que é uma consequência oriunda das relações entre as pessoas. A linguagem é considerada a primeira forma de socialização do homem, por meio da qual, na maioria das vezes, é mediada por outro indivíduo para deslocar sentido, sinais, signos e outros requisitos no ato de se comunicar.

Dessa forma, nasce a linguagem, seja ela verbal ou não verbal, através do desejo inextinguível de encontrar o outro e estabelecer a comunicação (SOUZA, 1999). “Estar no mundo, ou o estar-aí” é destacado por Gadamer (2002, p. 85), quando elenca que o mundo é constituído pela linguagem e pelos meios que são criados para estabelecer uma interação

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comunicativa. “A interação verbal constitui a realidade fundamental da linguagem” (BAKHTIN, 1992, p. 109).

Pode-se dizer, assim, que o Geozine tem uma intenção comunicativa, porque é uma linguagem criada para transitar entre linguagens em um mesmo objeto. Da mesma forma, insere-se no espaço educacional para desafiar o docente a experimentar as variações dos códigos na interpretação sobre um mesmo fenômeno. Por conseguinte, a interpretação requer do intérprete a capacidade de também agir como interlocutor, o que torna o Geozine um exercício importante para a práxis didático-pedagógica. O docente se assemelha ao que Gadamer (2002) vai dizer sobre o que é um tradutor:

O tradutor precisa transpor o sentido a ser compreendido para o contexto em que vive o outro interlocutor. Mas é claro que isso não significa que possa falsear o sentido que o outro tem em mente. Ao contrário, o sentido que precisa ser mantido, mas como ele deve ser compreendido num novo universo da linguagem, precisa ganhar validez de uma outra maneira. Por isso, toda tradução já é interpretação. (GADAMER, 2002, p. 498).

Portanto, há o estabelecimento de uma relação entre o desenvolvimento do Geozine e o produto que conecta símbolos e caracteres para atribuir sentido, algo que é construído nas relações comunicativas da aprendizagem. Nessa confluência, o emissor pode ser o sujeito e, também, o próprio conteúdo; o receptor pode ser campo comunicacional onde circulam as mensagens que foram selecionadas de outros campos para se reorganizarem no âmbito do ensino.

A comunicação é um ato intrínseco do processo linguístico, por meio do qual as informações se deslocam e são aprisionadas aos códigos que se estabelecem entre emissores e receptores, pois a comunicação é um tipo de atividade social que envolve a produção, transmissão e recepção de símbolos e implica na utilização de vários recursos (THOMPSON, 2011). Para Duarte (2005, p. 18), a comunicação é uma qualificação da linguagem:

Todos os sistemas gráficos com a função comunicativa poderiam se qualificar como uma linguagem, se esta for vista como um sistema de símbolos (sinais manuais, palavras escritas etc.) e regras de combinação, que podem ser usadas para uma função comunicativa (expressar sentimentos, transferir informações).

Foi observado que, no processo comunicativo, existem aspectos importantes: um conjunto de símbolos, regras e combinações que promovem o ato de se comunicar, trocar e se expressar. Todavia, pode-se pensar o Geozine como um campo de intermediações entre

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