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CULTURAS E COMUNICAÇÕES DO UNIVERSO PLUS SIZE: UMA CARTOGRAFIA DAS IMAGENS DE CORPO NOS DISCURSOS NAS REDES SOCIAIS MESTRADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

PATRÍCIA ASSUF NECHAR

CULTURAS E COMUNICAÇÕES DO UNIVERSO PLUS SIZE: UMA CARTOGRAFIA DAS IMAGENS DE CORPO NOS DISCURSOS NAS REDES

SOCIAIS

MESTRADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA

(2)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

PATRÍCIA ASSUF NECHAR

CULTURAS E COMUNICAÇÕES DO UNIVERSO PLUS SIZE: UMA CARTOGRAFIA DAS IMAGENS DE CORPO NOS DISCURSOS NAS REDES

SOCIAIS

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Comunicação e Semiótica, sob a orientação da Profa. Dra. Lucia Isaltina Clemente Leão.

SÃO PAULO

(3)

Banca Examinadora

______________________________________

______________________________________

(4)

Esta dedicatória era para você mesmo mamãe, mas era para ser com você em

vida na Terra. Hoje, dedico não só esta pesquisa, mas a minha vida às lindas lembranças

que tenho suas, minha mãe, minha melhor amiga, irmã e confidente. Nadia Sônia Assuf

Nechar, a pessoa que mais celebrava a vida! Até o final você acreditou em mim, me

incentivou em tudo na vida com muita alegria, carinho e amor que não existe igual no

mundo. Você me ensinou a viver e me passou tanto conhecimento que não cabe em

nenhum livro já escrito. Prometo viver os momentos da minha vida como você me

ensinou: com muita alegria, total entrega e coragem. Vou te orgulhar como sempre fiz.

Meu amor por você transcende o céu, o mar, a terra. Sei que além do arco-íris um dia

(5)

AGRADECIMENTOS

À memória da minha mãe e a Deus por me dar forças.

Agradeço a meu pai Raul e a meus irmãos Raul Jr e Ricardo por me apoiarem no momento

mais difícil da minha vida.

À minha orientadora Lucia Leão pelos ensinamentos, acolhimento e incentivo em todos

os momentos deste trabalho.

Ao professor José Amálio por seu um grande amigo e acreditar em minha competência.

A Cida Bueno, a “guardiã” da COS que me ensinou e direcionou com muito carinho todos

o processo do mestrado.

A Helena Custódio por me iniciar e me apresentar ao mundo plus size.

A Elisangela Munhoz Peña por dividir todos momentos felizes e difíceis desta

dissertação.

A Bernardo Queiroz e Ana Luiza Aguiar pelo acolhimento quando eu mais precisei.

À amiga e professora Paula Carolei por me ensinar a nobre missão de lecionar.

Ao prof. Rogério Costa pelo acolhimento nos meus primeiros passos da minha vida

acadêmica.

Aos ensinamentos dos professores José Aidar Prado e Cecília Salles.

A Luís Fernando Pereira pela compreensão e paciência.

Aos meus amigos e companheiros do grupo de pesquisa CCM que sempre me apoiaram:

Guilherme E. Rocha, Adriana Pereira, Alessandra Marassi, Thiago Silva, Pablo

Villavicencio, Fernanda Cereta, , Mirian Meliani, Gabriel Dualiby, Bruno Tavares,

Janaina Oliveira, Christian Petrini, Juliana Caetano, Micheline Penafort, Roseli

Demercian, Silvio Anaz, Daniel Amadei, Emerson. Otavio Donasci e você.

(6)

Aos meus amigos que nunca deixaram de me apoiar: Regina Golden Barbosa, Dulce

Spinelli, Giuliana Vitti, Luiz Fernando Misukami, Keka Demétrio Ana Cris Maia,

Fernanda Perini, Lucy Aihara, Rosana Britto, Romilda Germano, Lorenza Calefi, Josiani

Ometto, Marlene Matos, Mirian Rother, Valéria Moro, Dr. Rodolfo Oliveira, Dr. Cley

Rocha de Farias, Camila da Silva Gonçalo, Cilene de Lima Oliveira, Raquel Roma, Dani

Maggah.

Às meninas do “Sou Gordinha Sim”.

Aos meus colegas da UNIMEP e FDDJ.

(7)

O mito da beleza na realidade sempre determina o comportamento, não a aparência.

Naomi Wolf, O mito da Beleza

é perfeitamente possível ser gordo e saudável. Assim como é possível ser baixo e saudável. Criou-se uma espécie de superstição em torno da gordura. Se você é gordo nunca se casará, nunca terá um emprego, nunca terá uma vida sexual satisfatória.

Frequentemente os gordos adoecem não por causa da gordura, mas sim pelo stress, pela opressão a que são submetidos. Ninguém assume que está incomodado com a gordura, dizem que estão preocupados com nossa saúde.

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NECHAR, Patricia Assuf. Culturas e comunicações do Universo Plus Size: uma cartografia das imagens de corpo nos discursos nas redes sociais. 2015. Dissertação de Mestrado em Comunicação e Semiótica. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Bolsa: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Orientador: Profa. Dra. Lucia Isaltina Clemente Leão.

RESUMO

Esta dissertação de mestrado tem como objeto de estudo os discursos das redes sociais em relação ao corpo gordo, em especial, aqueles que circulam no ciberespaço, nos blogs do universo Plus Size. Inserida no campo da comunicação, na linha de pesquisa processos de criação nas mídias e na cultura, nossa pesquisa tem como foco o mapeamento e análise crítica dos processos de criação e construção de uma imagem do corpo que problematiza e subverte as representações e os discursos hegemônicos. Atualmente, o corpo é objeto de discussão frequente no universo das mídias. Observa-se a predominância de dois tipos de discursos: nas mídias de massa, os discursos assumem um caráter imperativo e pregam a valoração de um corpo ideal. Nas mídias digitais, no entanto, é possível observar a emergência de um contra-discurso que defende a valoração de outros tipos de corpos que fogem às normatizações que regem o corpo ideal. Nesse contexto, esta dissertação de mestrado tem como objetivo cartografar as imagens e discursos que emergem no ciberespaço, em suas multiplicidades. Entende-se o conceito de ciberespaço tal como foi definido por Leão: um labirinto gigantesco e quase-infinito de interações da era contemporânea, uma rede composta por hardwares, softwares, pessoas e grupos. Entre os temas que circulam nas discussões elencamos: cotidiano, aceitação do corpo, moda, saúde, autoestima, preconceito e respeito. A pesquisa tem como referencial teórico: teorias de análise e crítica de processos (Salles e Leão); corpo, imagem e poder (Foucault); redes sociais (Costa); dispositivos comunicacionais (Prado); imagens do corpo (Sant’Anna, Ortega e Vigarello). A metodologia é composta por revisão bibliográfica; coleta, seleção e análise de documentos das redes sociais elencadas; pesquisa imagens (iconologia) vinculada a projetos artísticos que se relacionam com o conceito de corpos obesos; e cartografia de imagens e imaginários como método de produção de conhecimento (Leão). Fundamentada na ideia de imagem, espaços de conversações e poder (Foucault), a pesquisa demonstra a importância da construção de um imaginário. Através da análise dos documentos que circulam nessas redes (imagens fotográficas, registros de discussões em rede, entre outros) foi possível mapear as complexidades das questões de natureza relacional que constituem os autores e os grupos do universo plus size. Entre os resultados alcançados, a cartografia de imagens e discursos desenvolvida em nossa pesquisa demonstra que a criação de um imaginário alternativo, subversivo e politicamente engajado é fundamental na valoração aos direitos de expressão e comunicação vinculados ao corpo situado fora dos padrões estabelecidos.

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ABSTRACT

The purpose of this Master’s thesis is to study the social media’s discourses regarding the fat body, especially those circulating in blogs associated with the plus size universe. Inserted in the field of communication and following the “processes of creation in media and culture” line of research, this study focuses on mapping out and conducting a critical analysis of the processes of creating and building a body image that questions and subverts the hegemonic representations and discourses. Nowadays, the body is a frequent object of discussion in the media. Two types of discourses prevail: in the mass media, the discourse takes on an imperative note, preaching the importance of having a perfect body. In the digital media, however, it is possible to notice the emergence of a counter discourse that defends other types of bodies, which escape the rules that govern the “ideal body”. This Master’s thesis aims to map out the multiplicity of images and discourses emerging in the cyberspace. The concept of cyberspace adopted was the one defined by Leão: a gigantic, almost endless maze of interactions typical of contemporary times, a network composed of hardware, software, people and groups. The research focuses on the following topics of discussion: daily life, body acceptance, fashion, health, self-esteem, prejudice, and respect. The theoretical frameworks adopted were: process analysis and criticism theories (Salles and Leão); body, image and power (Foucault); social networks (Costa); communication devices (Prado); body images (Sant’Anna, Ortega and Vigarello). The methodology consisted of literature review; identification, selection and analysis of documents published in the social networks included in the study; image research (iconology) associated with art projects related to the concept of obese bodies; and mapping of images and imaginary as a method of knowledge production (Leão). Grounded in the idea of image, talk spaces and power (Foucault), the research shows the importance of building an imaginary. Through the analysis of documents published in these networks (photographs, records of discussions, among others), it was possible to map out the complexities of the issues involving the authors and groups in the plus size universe. Among the findings, the mapping of images and discourses conducted in this research shows that the creation of an alternative, subversive and politically engaged imaginary is essential to promote the freedom of expression and communication regarding the body that does not conform to established standards.

Keywords: processes of creation in communication and culture; mapping of imagery; plus size body image; cyberspace; social networks; power discourses.

 

 

 

(10)

Abreviaturas

ABESO – Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade da Síndrome Metabólica.

ABIHPEC – Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e

Cosméticos

ABNT – Associação Brasileira de normas técnicas

ABRAVEST – Associação Brasileira do Vestuário

BM – Blog Mulherão

CCPS – Cheias de Charme Plus Size

DEXA – Composição Corporal Medida pela Densitometria

EPS – Espaço Plus Size

FSP – Faculdade de Saúde Pública

FWPS – Fashion Weekend Plus Size

IEMI – Inteligência de Mercado

IMC – Índice de massa corpórea

INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia

JR – Blog Ju Romano

MGG – Maggnificas

Nedic – National Eating Disorder Information Centre

OMS – Organização Mundial da Saúde

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SGS – Sou Gordinha Sim

TCAP –Transtorno da compulsão alimentar periódica

TP – Tamanho P

Unicef – O Fundo das Nações Unidas para a Infância

(11)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 13

CAPITULO 1 ... 22

1.1 O que é Plus Size ... 22

1.1.2 Propagação do termo Plus Size ... 26

1.2 Padrões de beleza no mundo ... 35

1.3 As construções dos padrões de beleza no Brasil ... 37

1.4 1970: O corpo e mente saudáveis ... 47

1.5 1980: Início da malhação ... 49

1.6 O corpo como inimigo ... 57

CAPÍTULO 2 ... 62

2.1 Temas encontrados blogs do Universo Plus Size ... 62

2.2 Temas do mundo plus size ... 76

2.2.1 Artes nas esculturas, nas telas e nas ruas ... 76

2.2.2 Vênus de Willendorf ... 77

2.2.3 Peter-Paul Rubens ... 78

2.2.4 Fernando Botero ... 79

2.2.5 Alguns artistas nacionais ... 80

2.2.6 As gordas de Eliana Kertész ... 81

2.2.7 O mundo das fofas de Beto França ... 82

2.2.8 O Imaginário Mundo Plus Size de Edull ... 83

2.2.9 Ativista e artista “Negahamburguer” ... 85

2.2.10 Fernanda Magalhães ... 86

2.3 Mídia ... 88

2.3.1 Televisão – Atores e Apresentadores ... 88

2.4 Mercado De Moda Plus Size ... 93

2.4.1 A Ascenção das roupas de tamanhos grande no Brasil ... 93

2.4.2 Moda Plus Size nos Blogs – Look do Dia ... 95

2.4.3 FWPS – Fashion Weekend Plus Size ... 98

2.4.4 Grupo Mulheres Reais ... 98

2.5 Beleza ... 100

2.5.1 Concursos de beleza ... 100

2.6 Sexo... 102

2.6.1 Gordinhos na Cama ... 102

2.6.2 Eles preferem as gordinhas? ... 107

2.7 Gordofobia ... 110

2.7.1 Bem-estar social ... 113

2.7.2 Gordofobia nas redes sociais ... 115

2.7.3 Feminismos e gordofobia ... 119

CAPÍTULO 3 ... 123

3.1 Os discursos e narrativas das blogueiras plus size ... 123

3.2 Blogueiras Nas Redes Social – Capital Social ... 126

3.2.1 Laços Entre Seguidoras E Blogueiras ... 128

3.2.2 Cultura Interativa Entre Blogueiras E Seguidoras ... 130

3.3 Exemplos de narrativas das blogueiras plus size ... 132

3.4 A presença do Outro ... 135

(12)

3.4.2 Exemplo de Felicidade ... 147

DISCUSSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 157

REFERÊNCIAS ... 163

ANEXO ... 172

(13)

INTRODUÇÃO

O corpo atualmente é um dos objetos de desejo mais ostentados em nossa cultura.

Vivemos em uma sociedade em que o “culto ao corpo ideal”, os discursos do culto às

imagens corporais invadem diferentes mídias. Assim, nossa cultura e esses discursos

excessivos são capazes de desencadear doenças psicológicas em busca de um corpo

idealizado. A busca pelo padrão de beleza é um assunto hegemônico em todas as mídias

e hoje em dia é comum vislumbrar corpos com medidas mínimas, magros, em todos os

lugares que nos cercam. Já é comum em nosso cotidiano nos depararmos incessantemente

com discursos (textos, imagens e vídeos) que falam de dietas miraculosas, práticas de

exercícios físicos, plásticas, tratamentos estéticos, fármacos e cremes milagrosos em

busca do corpo descrito socialmente e pela mídia como perfeito. E este tem o perfil magro.

Esse padrão de beleza, além de ser sinônimo de felicidade em nossa sociedade, se

transformou em uma indústria que faturou em 2014 R$ 101,7 bilhões1, e o setor só tende

a crescer. Podemos ver nesse fenômeno uma característica da época da corpolatria.2

Por outro lado vivemos o que os médicos dizem ser a epidemia da obesidade,

nunca tivemos o corpo tão gordo como atualmente. Conforme a Associação Brasileira

para o estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) cita, a “Organização

Mundial de Saúde aponta a obesidade como um dos maiores problemas de saúde pública

no mundo”. E faz uma projeção de que, em 2025, cerca de 2,3 bilhões de adultos estejam

com sobrepeso; e mais de 700 milhões obesos devido a inúmeros fatores, desde uma

alimentação cotidiana calórica, fatores genéticos, fatores psicológicos, dentre outros.

Mas então que corpo é esse que temos/vivenciamos atualmente? Se por todos os

lados somos cercados por questões sociais, culturais, midiáticas, psicológicas e de saúde

para nos encaixarmos dentro de um padrão de corpo, mas na realidade não possuímos

esse corpo exigido socialmente, não sabemos definir qual é o nosso corpo. Vivemos uma

época em que o corpo é incerto (ORTEGA, 2008) inserido em uma cultura repleta de

paradoxos onde o corpo por um lado é supervalorizado socialmente dentro de suas

                                                                                                                           

1

Fonte: Negócio e Estética <http://www.negocioestetica.com.br/setor-de-higiene-perfumaria-e-cosmeticos-fatura-r-1017-bi-em-2014/>. Acesso em: set. 2015.

2

(14)

práticas físicas e por outro lado desvalorizado por não atender as necessidades sociais

pelo fato dele ser visto como gordo e ser completamente depreciado.

A questão tratada nesse trabalho não é a doença da obesidade em si, mas sim as

alternativas de sobrevivência em busca de um corpo mais visto socialmente e pesquisar

o indivíduo com um corpo fora dos padrões midiáticos e como esse corpo vive sob as

influências sociais que estão ao seu redor, como ele se identifica em meio a tantos

bombardeios midiáticos de um padrão de corpo magro, já que ele não o tem.

Conforme Dra Joana Vilhena Novaes autora de vários livros e textos sobre a

autoestima e o corpo da mulher, fala em seu livro o O intolerável peso da feiura que “Nas

mulheres, a beleza vem na forma de trabalho sobre o corpo – ser bela cansa e dói.

Portanto, mais importante do que ganhar dinheiro é estar em forma: seca, sarada e

definida.” (NOVAES, 2006, p. 71)

Com os auxílios das ferramentas disponíveis no ciberespaço, como as redes

sociais, iremos investigar usuários que se identificam com a denominação plus size. Esse

corpo pelo que percebemos não é visto com frequência nos meios de comunicação como

revistas e televisão, pelo fato de não terem um corpo padronizado por convenções

midiáticas. A imagem simbólica que a sociedade tem sobre o gordo é que ele é visto como

feio, preguiçoso, desleixado e sujo.

Nos guiando pelos caminhos apresentados por Georges Vigarello, historiador

francês, sociólogo e diretor da Escola de Estudos Avançados em Ciências Sociais (École

des Hautes Études en Sciences Sociales, EHESS), em seu livro “As metamorfoses do

gordo: história da obesidade no ocidente”, percebemos que este corpo que no passado era

tido como sinônimo de prestigio, fortaleza, robustez, um sinal de vigor na idade média,

ao longo do tempo começou a ser mais vigiado por conta da sua silhueta. O gordo se torna

“incapaz, mole e inerte” no século XVII. Os olhares para o corpo passam a julgar sua

aparência e o problema com o peso, passa ser mais crítico até que no século XVIII a

imagem do corpo passa a ser tão avaliada como a imagem do rosto. Tanto corpo gordo

como o magro, as “silhuetas contratantes” (2012, p. 218), passam a ser um paradoxo nas

descrições dos perfis descritos na Europa. Com o avanço dos estudos na medicina na

química e na fisiologia em relação a saúde no século XIX, a gordura passa a ser vista

como um perigo e catalogada pelos seus diversos graus, relacionando-a as várias doenças

e assim tornado o corpo gordo mais “sensível as morbidades” em 1830. (2012, p. 230).

Vigarello nos mostra em seu livro que a busca pelo corpo sem gordura começa no

(15)

fonte de energia, passaram a ser restrição obrigatória dos hábitos alimentares. A cozinha

então começa a ser mais vigiada e os pratos como “assados, saladas e legumes começam

a serem melhores preparados (2012, p. 232).

Conforme Vigarello (2012, p. 249-253) narra, a exigência do emagrecimento só

aumenta com a ascensão do costume do banho de mar, os regimes ficam mais evidentes.

O corpo magro e jovem também, principalmente em relação as mulheres. Com a

exposição do corpo na praia a admiração aumentou, com isso se exigia mais da silhueta.

Quem não possuía um corpo perfeito para a época era tratado com “desdém” e

“zombaria”, principalmente as mulheres gordas, conhecidas como “esferas, bolas, boias,

baleias, e as muito magras como “tábuas” e estacas.” “As novas formas de lazer deixam

entrever “monstruosidades”. Daí o aumento das pressões pelo emagrecimento.”

(VIGARELLO, 2012, p. 252).

Vigarello relata sobre a infelicidade que os obesos do século XIX passavam. Neste

século, é a primeira vez que se tem conhecimento do sofrimento do obeso em relação a

sua condição corporal, em relação as dificuldades sociais e o desprezo da pessoa amada.

Essa infelicidade só aumentava com as infrutíferas tentativas de emagrecimento. Devido

à falta de conhecimento sobre a obesidade naquela época, os relatos sobre as sensações

emocionais eram relacionados com as questões do corpo. "As interrogações sobre as

sensações e os sofrimentos “morais”, para que a obesidade viesse a ser mencionada mais

como um mal de que se era acometido, um sofrimento incoercível, uma queda mal

controlada" (VIGARELLO, 2012, p. 240).

Percebemos então que a medicina da época não possuía a devida compreensão

para chegar a ponto de ignorar tais sofrimentos relacionados ao perfil do corpo gordo.

Conforme Vigarello diz em seu livro, a partir do final do século XIX o corpo gordo se

torna monstruoso, a gordura era considerada uma anomalia e os gordos eram expostos

em feiras e circos, conhecidos como freak show3

(show de aberrações), como uma atração

de aberração, por isso a monstruosidade.

Após algumas décadas, aliás, a insigne gordura já não pertence mais ao mundo do gordo, mas à categoria do monstruoso. Anatomias fortemente desproporcionais não passavam de exemplos “grotescos”, de curiosidades expostas na feira, em tendas tipo “entra e sai”. (VIGARELLO, 2012, p. 297)

                                                                                                                           

3

(16)

Vigarello nesse caso se refere aos casos de obesidade mórbida que conhecemos

hoje, como por exemplo pessoas que pesam quase 300 quilos, mas isso deixou marcas

sociais que se tornaram referências em relação às pessoas gordas. “A existência do muito

gordo já não passa de um desvio, um descaminho: sua aparência é apenas

‘monstruosidade’”. (VIGARELLO, 2012, p. 298).

Com a entrada do século XX, a sociedade, junto com a comunicação acelerada,

conforme Vigarello, transforma o monstro gordo em fenômeno social, aquilo que era uma

“esquisitice tolerada” agora passa ser uma preocupação cotidiana. O corpo é “confrontado

com o outro” (p. 298), como por exemplo o mais gordo com o mais magro, o mais alto

com o mais baixo. Com o passar dos anos, aproximadamente no início dos anos de 1920,

esse freak show de padrões diferentes passa a ser simplesmente um sofrimento em relação

à aparência. O “muito gordo” não é mais um caso para se expor em feiras e circos, mas

sim em clinicas médicas, a gordura se transformou em um caso clínico, médico, que só

os “cientistas conseguem encarar”. O corpo gordo se torna uma “uma visão insuportável”.

(VIGARELLO, 2012, p. 299)

Com a dissipação dos males causados pela obesidade, a preocupação dos médicos

com a gordura se torna ímpar e nasce portanto a cultura do corpo magro. Da preocupação

em emagrecer e manter-se magro a qualquer custo emerge o estigma do gordo. Nasce

então não somente a questão das dificuldades com as dietas, mas sim a questão

psicológica da luta de um corpo gordo para se encaixar em um padrão magro.

O gordo, longe de ser o glutão ou estupido, é antes de mais nada aquele que se “esquiva”, que se recusa a emagrecer, negligente em trabalhar o próprio corpo. Sua falha é o desleixo, sua responsabilidade é uma falta intima, menos as paixões que a indiferença, menos entusiasmo que o descontrole, a impossibilidade de se regrar ou se transformar. O fracasso adquire uma nova figura reforçada pela banalização do tratamento e pela ascensão do psicológico. Crescem os relatos dolorosos. Como crescem na cultura contemporânea as autoavaliações e os testemunhos sobre a experiência própria. O lugar assumido pelo magro reforça duplamente a estigmatização. O Obeso não é mais apenas o gordo. É também aquele que não consegue mudar: identidade desfeita numa época em que o trabalho sobre si mesmo e a adaptabilidade se tornam critérios obrigatórios. O que a obesidade revela é na verdade um fracasso em se transformar. (VIGARELLO, 2012, p. 300)

Compreender a obesidade como um fracasso na capacidade de se transformar em

magro é dar à obesidade um caráter discriminatório, transformar a gordura corporal em

(17)

e 1930 que as questões patológicas em relação à obesidade se proliferam de uma maneira

avassaladora, tanto que se começa a fazer uma generalização das doenças em relação à

gordura corporal. A gordura se torna uma vilã implacável e traz consigo um emaranhado

de doenças nocivas desde o câncer, o envenenamento, a intoxicação isso sem falar em

todas as questões culturais e psicológicas que, de certo modo, se infiltraram nas relações

das pessoas e acabaram sendo alvo de opiniões divergentes, de referências éticas e morais

e até que conseguiram transformar a gordura de um modo extremo “em um mal

universal”.

O gordo passa a ser uma ameaça estética e vital à sociedade. Esse corpo gordo se

torna o doente do século XX, a busca em combater a gordura torna-se o principal objetivo

de vários setores da saúde (médicos, nutricionistas, treinadores físicos, etc.) além de

pesquisadores, membros diversos da sociedade e principalmente das pessoas. Os

tratamentos químicos e pesquisa em relação à gordura tornam-se um grande desafio, pois

acredita-se que a gordura é imutável apesar dos avanços das inúmeras pesquisas para

combatê-la. No entanto, apesar dos esforços com dietas e remédios, muitas pessoas se

tornam resistentes aos regimes e às manipulações do tratamento, assim o corpo obeso,

apesar de muita luta contra a gordura, não consegue emagrecer. Assim, esse corpo gordo

se transforma em símbolo de fracasso apesar das inúmeras tentativas de emagrecê-lo. A

gordura torna-se uma doença envolta em muita tensão e isso acarreta sofrimento em

vários âmbitos do ser. Entre eles, podemos falar das dificuldades de aceitação social, a

dificuldade de aceitar o corpo gordo e a dificuldade em eliminar a gordura corporal. A

cura, ou seja, o emagrecimento e se manter magro, torna-se um martírio pessoal.

A dor vivida é a exposição do corpo. Como ela, o ser parte em busca de discursos

milagrosos, e dedica-se, muitas vezes com afinco, a seguir todas as instruções que recebe

para cumprir sua meta. Mas, o ser tem que conviver com várias dores: infelicidade da

rejeição social, a sensação de fraqueza e impotência tanto nos aspectos físicos como no

seu cotidiano, a infelicidade nos relacionamentos românticos ou com as pessoas da

família e seu círculo de amizade, os vergonhosos momentos que envolvem simples ações

como sentar-se em uma cadeira, ou mesmo vestir uma roupa, a sensação de fracasso o

tempo todo, a rejeição e por fim a solidão.

A experiência de viver em um corpo gordo torna-se viver em um corpo humilhado,

fadado ao seu próprio fracasso. Como viver em um corpo não aceito socialmente, fora

dos padrões sociais, um corpo negado socialmente? A obesidade é um fenômeno

(18)

O corpo gordo é colocado à margem da sociedade. E como conviver com esse corpo fora

dos padrões sociais? Os discursos midiáticos afirmam: não existe a possibilidade de ser

feliz com tal corpo. Ouvindo e seguindo essas afirmações, o ser sofre.

Objeto e Objetivos

O objeto desta pesquisa são os discursos a respeito do corpo feminino nas redes sociais

em relação à questão do corpo acima do peso que permeiam o universo plus size. Os

objetivos da pesquisa são: (1) interpretar e analisar algumas narrativas dos discursos do

corpo; (2) pesquisar o imaginário da mulher que convive com bombardeios midiáticos de

estereótipos femininos, as conquistas e dificuldades vividas, interpretando, comparando

e relacionando alguns símbolos que exemplificam os elementos das narrativas do

comportamento feminino.

Problema

As redes sociais apresentam uma infinidade de narrativas e relação ao corpo. Elas

discursam sobre um mundo de corpos perfeitos e inalcançáveis, apresentando

propagandas de fórmulas mágicas para emagrecer, tirar as rugas, sumir com varizes;

prometendo um corpo lindo como o das artistas ou a top models do momento e tudo isso,

claro, com rapidez e sem sacrifícios. Por outro lado, nesse mesmo ambiente midiático,

encontramos comunidades virtuais com um discurso oposto, que discorre sobre a

aceitação do corpo como ele é, idolatrando e acolhendo uma figura oposta citada acima.

Mostrando corpos volumosos e curvilíneos de mulheres aparentemente felizes,

igualmente das top models estampadas em algum veículo de comunicação, mesmo

estando fora de um padrão midiático.

Assim algumas questões aparecem: Até que ponto os discursos das redes podem

libertar o imaginário feminino em buscar um corpo padronizado pela sociedade, como

por exemplo, os corpos esbeltos das artistas que estampam as capas da revista,

protagonizam as novelas, desfilam as marcas famosas, são construções do imaginário

feminino ser magra, linda, bem-sucedida, sempre bem arrumada de uma perfeição física

imaginária impecável.

Desse modo questiona-se: Quais são os discursos em relação ao imaginário do

corpo gordo que caracterizam os blogs plus size, em um mundo em que se discutem

estigmas do corpo feminino perfeito; e se as fanpages e blogs do mundo plus size

(19)

Hipótese

Os meios de comunicação têm forte presença na construção do imaginário coletivo, o

comportamento da mulher que está fora de um padrão de corpo publicitário é

diferenciado, devido ao fato que socialmente seu corpo não é bem aceito, ela aprendeu a

valorizar o corpo que tem, se aceitar e viver bem ele. Sua autoestima aumentou e esta

mulher vem lutando para a mudança do padrão social de beleza seja mais curvilíneo.

As mudanças nas formas de pensar da sociedade em relação à diversidade dos

corpos ainda são pouco expressivas. O que se observa são discursos de controle e pressão

da mídia pela perfeição física ainda é maior do que a aceitação de um corpo mais cheio.

Os discursos midiáticos têm um longo caminho a percorrer em relação a aceitação de um

corpo fora dos padrões idealizados.

A mulher, buscou, conquistou sua autonomia, liberdade de expressão, a inserção

em espaços políticos, mas ainda existem lacunas e em relação ao corpo. O corpo como

identidade também traz formas diferenciadas. É preciso discutir certos estereótipos,

vivenciar a experiência única que só pode advir do próprio corpo.

Método

Para investigar os discursos a respeito do corpo feminino no contexto das redes sociais,

iremos utilizar como metodologia as análises relacionadas aos documentos que circulam

nas redes, como imagens fotográficas, registros de discussões entre outros eventos

específicos. A partir de acontecimentos que afetam o universo plus size, iremos investigar

as questões que envolvem os discursos das blogueiras, o discurso do outro e as questões

da busca da felicidade através do corpo. O corpo em discussão é aquele que está fora dos

padrões sociais estéticos.

Justificativa

A pesquisa contribuirá para fomentar as discussões sobre o corpo feminino nas fanpages,

nos blogs e nos sites. A partir daí, talvez ampliar os conceitos de identidade feminina e

suas dinâmicas de autoestima e aceitação, fortalecendo a diversidade nos discursos de

(20)

Procuramos neste trabalho investigar nos discursos os dispositivos de poder, saber

e subjetividade nas redes sociais que abordam aceitação do corpo das pessoas que não se

encaixam com modelos pré-definidos.

Assim, iremos investigar as transformações que visam desconstruir o imaginário

do corpo feminino na atualidade via rede social.

Essa pesquisa atualiza procedimentos da cartografia e, analisando os discursos das

redes, fará três tipos de mapeamentos lógicos: (1) discursos do corpo saudável, corpo

magro, e corpo atlético; (2) discursos do corpo plus size e (3) discursos de valoração e

construção da subjetividade feminina.

A pesquisa tem caráter multidisciplinar de analise empírica dos blogs e fanpages

do universo plus size e irá relacionar conceitos ligados ao o corpo, as redes sociais e os

discursos midiáticos sobre o comportamento contemporâneo.

Fará parte do estudo a pesquisa exploratória, o levantamento bibliográfico, as

entrevistas com profissionais que produzem site do comportamento feminino e com as

pessoas que passaram por experiências identitárias com relação ao corpo.

Nossa hipótese é que podemos buscar essas respostas investigando um novo

acontecimento social que, desde 2009, está invadindo o ciberespaço: o conceito de plus

size. No primeiro capítulo deste trabalho iremos investigar o que é o plus size – um

movimento a favor da aceitação do corpo como ele é. Pelo fato de ser um conceito novo

e pouquíssimo explorado academicamente, o investigaremos pelo viés dos registros

jornalísticos para mapear como esse novo padrão de beleza está se fixando no território

nacional.

Continuaremos a nossa investigação fazendo um apanhado histórico do padrão de

beleza para conseguimos desvendar como são as construções desses padrões no mundo

até chegarmos ao Brasil. Como foi construído o nosso padrão de beleza desde 1920 até

os dias atuais, até a inserção do padrão plus size.

Com o surgimento do padrão plus size, iremos explorar no segundo capítulo esse

universo que acontece dentro e fora do ciberespaço, tentando desvendar cada aspecto que

o engloba como, por exemplo, as artes, a entrada e influência do gordo na mídia, a beleza,

a moda, o sexo, discutiremos o mercado plus size. Um ponto importante a ser explorado

é em relação à saúde desse corpo, o bem-estar social, até passarmos pelas dificuldades, o

preconceito social e a luta para superar esse preconceito.

Ao chegarmos nessa luta, percebemos então que nas redes sociais existem pessoas

(21)

corpo que possuem. Aqui nomeadas como blogueiras plus size, que escrevem em seus

blogs e redes sociais sobre a autoestima do corpo fora dos padrões de beleza, e sua luta

diária contando suas dificuldades, suas superações e assim tentando incentivar seus

leitores a se amarem do modo que são.

O terceiro capítulo apresenta os discursos e narrativas das blogueiras, falaremos

sobre o potencial que as blogueiras possuem em agregar pessoas, das interações entre

blogueiras e leitoras nas redes sociais e sobre os discursos do outro e suas possíveis

(22)

CAPITULO 1

O primeiro capítulo dessa dissertação de mestrado tem como objetivo apresentar os

conceitos fundamentais da pesquisa, fazendo um resgate histórico para compreendermos

o conceito plus size no Brasil e no mundo.

Iremos discorrer sobre o movimento plus size, sua reivindicação pelo direito à

diversidade e inclusão de um estilo diferente de corpo que não é visto nas mídias

hegemônicas.

A partir da leitura que fizemos da pesquisa de Sant’Anna, iremos discorrer sobre

as transformações da beleza na história do Brasil a partir de 1920, buscando paralelos

com a questão das transformações do corpo e a progressão dos discursos em relação à

busca de um ideal de corpo que está em constante transformação.

Nossa pesquisa está sustentada pela ideia de que o corpo é linguagem, um lugar

de disputa, um locus político, onde os desejos são disciplinados e os corpos docilizados.

Para tanto, utilizaremos os conceitos de Foucault.

1.1 O que é Plus Size

Quando nos propomos a estudar os blogs que discorrem sobre o corpo gordo e o

comportamento plus size, é importante levar em consideração os aspectos culturais que

regem o padrão de beleza, assim como as transformações que esse padrão passou na

história da humanidade. Sendo assim, o primeiro passo para entendermos o que é o plus

size e como iremos defini-lo no contexto deste trabalho consiste em realizar reflexões

sobre o padrão de beleza da cultura atual e como ele se desenvolveu em nosso país.

O termo plus size está ligado diretamente à indústria da indumentária. O primeiro

relato que se tem notícia sobre a utilização do termo plus size vem dos anos de 1970 no

setor de vestimenta norte-americano. Entretanto, considerando que pessoas acima do peso

padrão sempre existiram, esse mercado vinha sendo pouco explorado. As roupas acima

da modelagem regular que equivalentes a numeração até 44/46 que eram feitas sob

medida.

A empresa de indumentária Lane Bryant, fundada em 1904, por Lena Bryant,

costureira e viúva é um caso histórico nesse setor. A empresária começou sua loja muito

timidamente e com pouco investimento. Uma de suas clientes que estava grávida,

(23)

elegantes (roupa para passeio) e assim criou vestidos com cós e saias plissadas. O vestido

ficou muito conhecido e logo tornou-se o carro chefe da empresa. Antes da Primeira

Grande Guerra, em 1909, o segundo marido de Lena, Albert Malsin assumiu a empresa

modernizando sua produção e organizando as questões contábeis. A empresa ia bem e

tinha um produto inovador no mercado que eram os vestidos para mulheres grávidas, mas

na publicidade em jornais naquela época não era tradicional fazer anuncio falando sobre

gravidez. Mesmo assim, seu atual marido convenceu o jornal New York Herald a fazer a

propaganda dos vestidos. O sucesso foi tão grande que, no dia seguinte da publicidade,

todos os vestidos do estoque foram vendidos.

Na década de 1920, Lena percebeu a lacuna existente no mercado para as mulheres

que vestiam tamanhos grandes, pois não havia empresa alguma que fizesse isso, e esse

público precisava adquirir suas roupas através do trabalho de costureiras particulares.

Bryant então desenhou três tamanhos grandes diferentes para mulheres “stout-figured”,

ou seja, uma configuração mais robusta, para mulheres mais “corpulentas” chamadas

também de chubbies. Essas roupas “plus size” rapidamente ultrapassaram as vendas dos

vestidos maternos e em 1923 o faturamento da loja chegou a U$ 5 milhões, já que

anteriormente, em 1911 aproximadamente, o seu rendimento era de U$ 50.000 por ano,

ou seja, em 12 anos o faturamento da empresa aumentou não só a sua visão de mercado

de Lena Bryant, mas também pelo pulso firme de seu marido Albert Malsin como já

citado anteriormente. Com a expansão dos negócios e com 100 unidades da loja

espalhadas pelos Estados Unidos em 1969 o faturamento da empresa foi de U$200

milhões4.

Lane Bryant, não foi só pioneira em vendas de roupas de tamanhos grandes ou

para gestantes. Devido às tradições da época era muito difícil fazer anúncios em jornal,

assim, buscando alternativas para a divulgação de seus produtos, Lane desenvolveu um

catálogo de vendas roupas pelo correio. Atualmente a Lane Bryant é uma grande cadeia

de varejo presente em várias cidades dos Estados Unidos e com o advento da internet, a

empresa consegue abranger inúmeros países. O Brasil está incluído na sua rede de varejo

on line.

                                                                                                                           

4

(24)

Figura 1: Um dos primeiros anúncios de moda plus size de Lane Bryant datados da década de 1920.

Fonte: <https://chanceseales.files.wordpress.com/2010/04/lane-bryant-vintage.gif>. Acesso em: 26 ago. 2015.

Figura 2: Print da página Lane Bryant. Fonte: <http://www.lanebryant.com/apparel/21288/index.cat>. Acesso em: 26

(25)

A história de uma outra empresa, a marca britânica Evans Clothing surgiu nos

anos de 1930, fundada por Jack Green. Foi a segunda marca a produzir roupas de tamanho

maior. Por 40 anos a empresa foi administrada pela família e em 1971 foi vendida para o

Burton Group (atualmente como Arcadia Group). Com a venda para o grupo, Evans

expandiu-se com 77 filiais e em 1988 se tornou a marca mais famosa e líder de mercado

em roupas outsize da Europa. Interessante observar que os britânicos não usam o termo

plus size e sim outsize. A respeito disso, poderíamos pensar o quanto na cultura inglesa o

fato de ter medidas maiores das padronizadas leva o indivíduo a ser classificado como

excluído à medida que o termo indica um posicionamento “out”, isto é, fora do tamanho

industrial. No caso do termo norte-americano, o termo indica algo adicional à medida que

plus significa adição, além, a mais.

Voltando à discussão a respeito da marca inglesa, somente em 2011 a marca se

lançou no mercado Americano e atualmente vende para mais de 100 países via internet.

Em 1997 a Evans foi a pioneira em desenvolver uma linha de roupas fashion para seus

clientes mais jovens e se tornou a primeira marca da Arcadia Group a vender roupas on

line

Figura 3: A logomarca da Evans descreve Goodbye size Zero, hello size Hero, fazendo uma brincadeira com as palavras

Zero e Hero. trocando o Z, pelo H. Pela nossa tradução seria adeus tamanho zero, olá tamanho herói. Fonte:

(26)

Figura 4: Site da loja Evans UK. Fonte:

<http://www.evans.co.uk/webapp/wcs/stores/servlet/TopCategoriesDisplay?storeId=12553&catalogId=33054>.

Acesso em: 26 ago. 2015.

1.1.2 Propagação do termo Plus Size

Em meados de 1970 que o termo plus size efetivamente começou a ser difundido pelo

mundo devido a modelo Mary Duffy que foi apontada pelos jornais americanos da década

de 1970 1980 como uma das mais expoentes modelos plus size no mundo. Duffy gostou

tanto da profissão de modelo que em 1979 comprou a agencia de modelos de Beth Kramer

que só trabalhava agenciando modelos pequenos (Little Women) e incluiu em seu quadro

de modelos as plus size, renomeando a agência para a Big Beauties / Little Women

A agência fez tanto sucesso que acabou sendo comprada pela Ford Models em

1988 sendo a diretora executiva dos tamanhos especiais da agencia até 2010. Mary Duffy

atualmente tem uma empresa chamada Fashion 4 The Rest Of Us direcionada ao mercado

plus size, ela ministra palestras sobre como é o funcionamento do mercado plus size,

(27)

plus size, ministra palestras motivacionais para mulheres acima do peso, escreveu vários

livros entre eles o Hoax Fashion Formula sobre os diversos tipos de formatos de corpos

femininos e como esta mulheres de tamanhos diversos podem se vestir bem reformulando

seu guarda-roupa sabendo combinar texturas de tecidos, cores, linhas e formas à seu

favor.

Figura 5: Mary Duffy fotografando para a grife Jordan Marsh. Fonte:

(28)

Figura 6: Mary Duffy desfilando. Fonte: <http://fashion4therestofus.com/photoarchive1.html>. Acesso em: 26 ago.

2015.

(29)

Figura 8: Livro HOAX editado em 1987. Fonte:

<https://img0.etsystatic.com/038/0/7952082/il_fullxfull.603050746_rzvb.jpg>. Acesso em: 26 ago. 2015.

No campo das produções de revistas, destaca-se a MODE, que embora tenha tido

um tempo de vida curto, foi a primeira revista de moda plus size a ser lançada no mercado

internacional. Idealizada por editores de revistas famosas como Vogue, Mademoiselle e

Marie Claire, a primeira edição foi em 1997 com 250.000 cópias e logo foi um sucesso.

Após seu lançamento, agências de modelos aumentaram a lista de modelos plus size e os

varejistas aumentaram suas produções. Mas o tempo de vida da revista foi pequeno, em

2001 a editora Advance Publications fez uma parceria com a Lewit e Le Winter e os

negócios não foram tão bem como o esperado. Tanto que os designs da Versace e

Valentino pararam de produzi para a revista, ocasionando assim um grande déficit entre

outros problemas incluindo o mercado publicitário. O fechamento da revista se deu no

final de 2001 com 600.000 exemplares de sua última edição.

No cenário atual, a revista Plus Model Magazine, fundada em 01 de julho de 2006

pela editora chefe Madeline Figueroa-Jones é primeira revista virtual do mundo da plus

size e líder de mercado. Conforme descrito no site, Plus Model Magazine, não é somente

uma revista voltada para o público plus size, é também blog e mídia social que fala de

moda, beleza, eventos e comportamento. Designada, desenvolvida e escrita também por

mulheres plus size, portanto as editoras entendem o coração das leitoras, pois elas também

(30)

Figura 9: Plus Model Magazine do mês de julho/agosto de 2006 que estampa na capa a top model Fluvia Lacerda.

Fonte: <https://www.pinterest.com/pin/162200024050209378/>. Acesso em: 26 ago. 2015.

A expressão plus size é considerada como uma categoria de modelagem de

indumentária que comporta uma padronagem de tamanho grande a partir da numeração

46. O segmento plus size engloba peças que vão do tamanho 46 ao 56, podendo chegar

até o 62 e também aos tamanhos maiores G, GG, EG e EGG, como são classificados em

muitas empresas. Entretanto, é importante observar que a padronização é bastante

irregular e falha, pois algumas peças GG não vestiriam o número 44 em algumas

modelagens. Aparentemente a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) está

estudando junto às associações ligadas ao vestuário para estabelecer um padrão mais

assertivo. É tão falho e confuso as questões da numeração da roupa plus size que a

superintendente do Comitê Brasileiro de Normatização Têxtil, Maria Adelina Pereira, não

sabe ao certo a partir de qual numeração de vestuário podemos considerar que inicia-se o

plus size, como ela comenta em entrevista no mês de junho de 2012 para o blog Chic de

(31)

46”5 (PEREIRA, 2012). Portanto nesta dissertação de mestrado para podermos desenvolver o conteúdo iremos considerar a numeração 46.

O ano de 2009 marca o início do movimento no Brasil, com a vinda da top model

plus size Fluvia Lacerda, junto com sua assessora de imprensa Joyce Matsushita, que

trouxe a brasileira que mora e trabalha como modelo plus size nos Estados Unidos para

divulgar o nome de algumas marcas nacionais de roupas de tamanho grande no mercado.

Fora do país, Fluvia é conhecida como a "Gisele Bündchen plus size". Já com uma

mudança no comportamento do mercado diante da entrada da influência de roupas

tamanhos grandes e a vinda de a consolidação de alguns blogs de moda de tamanhos

grandes na internet, em 2009 a expressão plus size começou a ser mais difundia e

começou a ser agregada na cultura da moda com maior visibilidade em nosso país.

A vinda da modelo ao Brasil não significa e nem exclui que antes desta data não

existissem roupas para as pessoas que vestem acima do 46. Sempre existiram catálogos e

roupas voltadas para este perfil de consumidor, mas não era ainda um movimento voltado

aos padrões sociais de corpo, como veremos adiante.

O uso do termo plus size no Brasil já era utilizado para roupas grandes, mas teve

maior consolidação a partir destes acontecimentos. Conforme já apontamos de modo

rápido anteriormente, a palavra em inglês “plus" transmite a ideia de adição. O mesmo

se dá com o “plus” do idiomafrancês. Estamos no universo semântico da somatória, da

inclusão, das qualidades positivas e afirmativas:

plus6

1 sinal de adição (+). 2 qualidade positiva (a plus). 3 saldo positivo. • adj 1positivo. 2 adicional, extra. • prep mais, acrescido de. two plus two equals four dois mais dois igual a quatro.

Para adjetivos7

Also: positive (prenominal) indicating or involving addiction = a plus sing Another word for positive

plus8

adv

comparatif ou superlatif indiquant la supériorité adv

employé en corrélation avec ne, indique la cessation d'une action, d'un état Mathématique - signe qui indique l'addition ou qu'un nombre est positif

                                                                                                                           

5

Fonte: <http://chic.uol.com.br/moda/noticia/medidas-plus-size-abnt-e-abravest-lancam-discussao-para-estabelecer-novo-codigo-de-normas-e-tamanhos>.

6

Disponível em <http://michaelis.uol.com.br/escolar/ingles/definicao/ingles-portugues/plus_21240.html>.

7

Disponível em <http://www.collinsdictionary.com/dictionary/english/plus?showCookiePolicy=true>.

8

(32)

Como observamos podemos utilizar o conceito de plus entendendo como uma

riqueza adicional, acrescentando a diversidade.

O significado do plus size não se limita somente a um número, ele também é

relacionado a movimentos sociais que se formaram a partir de pessoas que possuem um

perfil estereotipado e negativo de corpo, consideradas socialmente como pessoas gordas,

fora do peso e de um padrão ideal de corpo. Estes movimentos sociais são grupos de

pessoas que buscam na sociedade a inclusão de padrões corporais mais amplos, militam

a favor de uma aceitação em relação ao tamanho do seu corpo, discutem sobre a

segregação e o estigma em relação ao corpo estereotipado de tal forma e questionam sobre

os padrões corporais apresentados nos meios midiáticos como revistas e televisão e

internet. Essas pessoas se dedicam com fervor para que a sociedade perceba que

independente de possuir um corpo gordo, ou seja, fora de um padrão tido como ideal, ela

continua sendo capaz de exercer funções físicas e intelectuais como qualquer outra pessoa

preparada para tal, de maneira que seu caráter não muda em relação ao seu peso e

principalmente que seu corpo é tão belo como outro qualquer.

Atualmente, o plus size é um movimento difundido pelo ciberespaço, dentro das

redes sociais e blogs que defende o direito e o respeito a um corpo que está fora de um

padrão social e midiático, um corpo mais curvilíneo, arredondado ou mesmo gordo

comparado aos padrões.

A definição do ciberespaço nesta dissertação está relacionada o conceito de Leão

(2004)

um território em constante ebulição. Camaleônico, elástico, ubíquo e irreversível, o ciberespaço não se reduz a definições rápidas. Partindo de um olhar tríplice, percebemos que o ciberespaço engloba: as redes de computadores, integradas no planeta (incluindo seus documentos, programas e dados); as pessoas, grupos e instituições que participam dessa interconectividade e, finalmente, o espaço (virtual, social, informacional, cultural e comunitário) que emerge das inter-relações homem-documentos-máquinas. (LEÂO, 2004, p. 09)

Entendemos nessa citação que ocorre uma interação entre os usuários das redes a

partir da máquina.

Voltando a questão do corpo, a beleza está diretamente ligada a padrões sociais e

o corpo plus size aparece como um paradigma deste, ou seja, tão bonito como um corpo

(33)

Denise Bertuzzi de Sant’anna, em seu livro A História da Beleza no Brasil, de

2014, sistematizou em sua obra os costumes utilizados pelo povo brasileiro em busca da

beleza, mapeando diferentes realidades em relação ao tempo, espaço e costumes sociais.

Em seu livro, encontramos uma afirmação que afirmam os ideais definidos pelo

movimento:

Para um significativo público masculino, as cheinhas não são feias. Dividem-se em diversas categorias: cheinhas, gordinhas, gordas ou em estrelas GG e beldades plus size. Algumas novelas da Rede Globo contribuíram para torná-las famosas, assim como blogs e sites. Os movimentos sociais em prol da aceitação sem preconceito da diversidade corporal também favorecem o valor de uma beleza mais redonda do que longilínea. (SANTANNA, 2014, p. 182)

Em suma, a historiadora, nesse pequeno trecho, nos fala dos movimentos de

valorização de uma diversidade de corpos, apesar de uma visão do público masculino,

esta afirmação nos ajuda a compreender que o plus size também está inserido na categoria

de valor de gosto e já apresenta traços de aceitação de um corpo gordo na mídia televisiva,

mas discutiremos isso no segundo capítulo desta dissertação.

O plus size visto como movimento encontrado no ciberespaço tende a agregar

pessoas que possuem um corpo que não comumente visto nas capas de revistas e nem nas

mídias televisivas. Este corpo que é diferente e não possui um formato desejado pela

sociedade. Este corpo que é colocado as margens da sociedade. Na cultura que vivemos,

observa-se uma série de discursos e imagens que valorizam o corpo magro, jovem e

atlético e os que não se enquadram neste perfil torna-se invisível para a sociedade. Em

nosso contexto cultural, conforme Matos, Fábio Zoboli e Mezzaroba em seu texto “O

corpo Obeso: Um corpo deficiente? Considerações a partir da mídia”, descrevem que o

corpo gordo é visto como: "doente, impossibilitado, limitado e indesejado, ou seja, é

percebido como deficiente no sentido que não ser eficiente o suficiente para ser adequado

nos padrões de normalidade, bem como se refere à esfera do mundo produtivo" (MATOS;

ZABOLI; MEZZAROBA, 2012, p. 92).

Desta forma, o movimento plus size veio para tentar fazer um resgate do corpo

indesejado, como citado acima, pelo respeito ao corpo e a inclusão deste corpo gordo na

sociedade, tentando mostrar que todo imaginário social construído em volta do gordo não

condiz com a pratica do cotidiano de uma pessoa gorda.

O movimento plus size tende a agregar pessoas que possuem um corpo fora dos

padrões midiáticos e isso faz com que de uma certa maneira o plus size seja um

(34)

se comparar a algumas formas de inclusão social de corpos igualmente marginalizados

como os dos deficientes físicos que lutam por uma aceitação social. Esses corpos são

marginalizados, conforme José Luiz Aidar Prado em seu livro “Convocações biopolíticas

dos dispositivos comunicacionais” que reflete sobre a política comunicacional

contemporânea, pretende nos mostrar que houve uma construção glamorosa em torno da

aparência a partir de 1970 no que ele nomeia de mundo pós-moderno, comenta:

a sociedade constrói regimes de visibilidade e de pseudointegração em que se apresenta somente o lado glamoroso [...] que brilha nos corpos soltos, bonitos, jovens, rejuvenescidos e turbinados, preocupados em cuidar da qualidade de vida, da beleza, da saúde e do prazer efêmeros. (PRADO, 2013, p. 35)

Desta forma, Prado nos mostra que a sociedade diante o capitalismo pós-moderno,

somente tende a indicar em suas propagandas corpos bonitos, cheios de saúde, beleza e

nos passa uma falsa sensação de bem-estar, e que as revistas são como “mapas rumo ao

sucesso” (PRADO, 2013, p. 35) para alcançar esta qualidade de vida. E quem não possui

este padrão ou não segue este mapa estão fadados ao fracasso. Esses corpos bonitos,

devem permanecer sempre em evidencia, os outros corpos que não possuem este padrão,

devem permanecer invisíveis. "Isso deve permanecer invisível, junto com a vida e o corpo

dos gordos, dos mulçumanos, dos terroristas, dos transexuais, das lésbicas não

consumistas, das ativistas pobres, dos deprimidos e tantos outros." (PRADO, 2013, p. 35)

Conforme a citação, não somente o corpo gordo torna-se invisível, mas também

todos os quais de certa maneira geram uma forma de preconceito. Até mesmo uma pessoa

que não é animada, feliz, ou seja, o deprimido é excluído.

Mas esses discursos hegemônicos vistos nas mídias, como televisão e revista, as

vezes apresentam falhas e não conseguem capturar a todos. A internet, com sua estrutura

poli-centralizada e aberta, é um espaço que permite que os discursos da diversidade

prosperem, com o é o caso dos discursos que orbitam em torno do universo plus size. No

ciberespaço, universo plus size, com toda sua carga de realidade e seu tom político,pode

se fazer mais visível, abrindo espaço para que esse corpo seja representando e apresentado

em uma gama maior de manifestações, podendo influenciar em diversas linguagens,

como no campo das artes – música, cinema, artes plásticas; na mídia televisiva – inclusão

de atores gordos, nas capas de revistas; em relação a comportamento – o caso dos

(35)

autoestima do homem e da mulher gorda, que até este momento eram como que invisíveis

para si mesmos e para a sociedade.

1.2 Padrões de beleza no mundo

A frase “A beleza está nos olhos de quem a vê”, do poeta espanhol do estilo Realismo

Ramón de Campoamor, exprime o que podemos entender aqui como beleza, ou seja, que

é algo de uma simplicidade dos sentidos. Sabemos que a beleza se manifesta através dos

sentidos, culturais, sociais, históricas, políticas e subjetivas.

A beleza, entre outras definições, é algo que agrada os sentidos e, como é um

conceito de gosto e valor, quando nos deparamos com culturas diferentes o sentido do

belo se molda conforme a cultura de cada país. Quase todas as culturas apresentam

padrões específicos de beleza, mas o que é belo para um povo pode não ter a mesma

qualificação em outro. É muito variável a questão da beleza. Em cada lugar do mundo os

elementos de influenciam na beleza, como cultura, sociedade, economia entre outros

trabalham este conceito de forma diferente, e também é mutável conforme tempo vai

passando. Achar um denominador comum em relação a isso, definir o belo, algo ou

alguém que possui uma beleza impar é algo impossível devido as diferenças pois a cultura

de cada país apresenta um ideal de beleza diferente de outros países e culturas. Até mesmo

dentro de um mesmo país o padrão pode se diferenciar em relação à região e aos costumes.

Iremos apontar a seguir de modo a ilustrar neste trabalho como a beleza possui avaliações

e classificações diferentes. Lucia Marques Stenzel em seu livro “Obesidade, o peso da

exclusão de 2003 comenta que a beleza não é universal e que ela varia em uma mesma

sociedade ao logo do tempo conforme a citação abaixo:

As representações de beleza e os valores a ela conferidos foram mudando ao longo do tempo. O que consideramos belo hoje, pode não ter sido no passado, assim como os padrões de beleza do passado já não servem mais para a sociedade moderna. Da mesma forma ocorre nas diferentes culturas, cada qual com suas especificidades no que se refere à beleza do corpo. (STENZEL, 2003, p. 22)

A citação de Stenzel refere-se as mudanças sócias e culturais que passamos ao

longo do tempo e que a beleza acompanha essas mudanças.

É interessante observar que na África Ocidental, o padrão de beleza adotado pelas

mulheres é a obesidade, como é o caso na Mauritânia, uma vez que o problema do local

(36)

privilégio ser gordo e, de certa forma, isto representa saúde e prosperidade. As mulheres

obesas desse país transmitem um sinal de prestigio e riqueza. As meninas desde cedo são

condicionadas a comer bastante. Tal costume é muito antigo, de séculos atrás: os Moors,

população nômade que povoou o país, dizem que, se um homem se casa com uma mulher

gorda, isso significa fartura e riqueza. O ideal de beleza remete a questões políticas e

econômicas deste país, ser gorda que significa melhores condições sociais, mas existe

uma corrente querendo mudar isso. O próprio governo se preocupa e muito com esse tipo

de costume, pois vivem um paradoxo: de um lado o país luta contra a desnutrição,

principalmente na região sudeste que, junto com a Unicef, a OMS e outras entidades,

intervém em ações sustentáveis para melhorar a segurança alimentar, o comportamento

alimentar e o fortalecimento contra a desnutrição. Por outro lado, já foram constatados

inúmeros casos de abuso contra as crianças, por obrigarem-nas a comer muito (mais do

que podem), e obesidade infantil. E, para finalizar, com a influência do Ocidente, os

jovens que vivem nas grandes cidades e têm acesso a outros costumes questionam os

padrões de beleza de corpos grandes.

No Irã, mais especificamente em Teerã, devido ao uso do véu islâmico deixar

somente à mostra os olhos e o nariz da mulher, o cuidado com essas partes do rosto

tornam-se primordiais. O excesso de maquiagem nos olhos e o aumento de cirurgias

plásticas do nariz acabou ganhando uma atenção especial. A genética árabe possui um

padrão de nariz que costuma ser grande e muitas vezes adunco. O desejo de um nariz com

proporções menores e mais delicados fez crescer o número de cirurgias de um nariz mais

ocidentalizado fazendo com que a rinoplastia (cirurgia plástica do nariz) crescesse muito

e se tornasse símbolo de status e beleza.

Outro exemplo da variação nos padrões de beleza pode ser encontrado em países

como Malásia, Coréia do Sul, Hong Kong, Índia e Tailândia. Nesses países a pele alva é

sinônimo de beleza, diferente do que acontece em alguns lugares na América do Norte e

do Sul, em que a pele bronzeada é sinônimo de saúde e vivacidade.

O exemplo de beleza das mulheres girafas remete também às questões de

adequação as normais sociais dos costumes de Myanmar, ao norte da Tailândia. As

mulheres da etnia karen-padaungs usam anéis de bronze ou latão em volta do pescoço.

As mulheres da tribo, em sinal de beleza, desde jovens, usam esses anéis no pescoço.

Quanto mais alto o pescoço, mais bela é a mulher. Sinal de beleza, adaptação as normas

e costumes sociais, os anéis no pescoço começam a ser colocados nas meninas por volta

(37)

adulta usa 37 anéis de bronze em volta do pescoço – esse é considerado o número ideal.

Apesar do que se pensa, as mulheres não morrem se os anéis forem retirados (elas

costumam fazer isso para se lavar), mas a musculatura do pescoço é enfraquecida.

1.3 As construções dos padrões de beleza no Brasil

Conforme discutimos até agora, as culturas têm padrões específicos relativos ao que é

atrativo ou desejável. A beleza pode, então, se expressar de forma semelhante em muitas

delas. Em contrapartida, o que é belo para um povo pode não receber a mesma

qualificação para outro povo. Entretanto, é algo que desperta a curiosidade e causa

agrado, satisfação, admiração ou prazer por meio dos sentidos do observador.

Em nosso país não é diferente do resto do mundo, a beleza para a mulher sempre

esteve relacionada com a nossa cultura, ambos caminham juntos principalmente no que

tange às representações do corpo feminino. Conforme Joana de Vilhena Novaes em seu

livro O intolerável peso da Feiura, sobre as Mulheres e seus corpos, onde ela fala sobre a

ditadura da estética nos corpos femininos discorre que: "A imagem da mulher na cultura

confunde-se com a da beleza. Este é um dos pontos mais enfatizados no discurso sobre a

mulher: ela pode ser bonita, deve ser bonita, do contrário não será totalmente mulher."

(NOVAES, 2006, p. 85)

Entendemos pela citação de Novaes que a imposição da beleza em relação a

mulher sempre existiu e caso ela não compactue com isso, ela não é totalmente mulher.

A preocupação com a beleza sempre existiu. Mas os discursos imperativos sobre

padrão de beleza no Brasil ao longo do século XX foram brutais. Segundo o livro de

Denise Sant’Anna (2014), as mudanças principais ocorreram a partir de 1920, com o uso

de cosméticos, mudanças na alimentação, saúde, atividades esportivas, a preocupação

com a aparência física torna-se de extrema importância. Essas mudanças estão ligadas

também ao crescimento das mídias impressas, radiofônicas, televisivas e ao cinema que

ajudaram muito nas transformações sociais durante todo esse período.

Sant’Anna narra diferentes tipos de comportamento diante da beleza, como foi a

evolução da beleza e quais eram os meios que mais disseminavam e idealizavam as

informações sobre a beleza. Em 1920 por exemplo, o cinema era o grande influenciador

de estilos, tendências e, até no comportamento com suas divas hollywoodianas.

Propagandas em jornais e farmácias também eram (e continuam sendo) de grande

Imagem

Figura 1: Um dos primeiros anúncios de moda plus size de Lane Bryant datados da década de 1920
Figura 6: Mary Duffy desfilando. Fonte: &lt;http://fashion4therestofus.com/photoarchive1.html&gt;
Figura 9: Plus Model Magazine do mês de julho/agosto de 2006 que estampa na capa a top model Fluvia Lacerda
Figura 10: Praia em 1920. Fonte: &lt;http://superstars.kids.sapo.pt&gt;. Acesso em: ago
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Referências

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