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Conforme discutimos até agora, as culturas têm padrões específicos relativos ao que é atrativo ou desejável. A beleza pode, então, se expressar de forma semelhante em muitas delas. Em contrapartida, o que é belo para um povo pode não receber a mesma qualificação para outro povo. Entretanto, é algo que desperta a curiosidade e causa agrado, satisfação, admiração ou prazer por meio dos sentidos do observador.

Em nosso país não é diferente do resto do mundo, a beleza para a mulher sempre esteve relacionada com a nossa cultura, ambos caminham juntos principalmente no que tange às representações do corpo feminino. Conforme Joana de Vilhena Novaes em seu livro O intolerável peso da Feiura, sobre as Mulheres e seus corpos, onde ela fala sobre a ditadura da estética nos corpos femininos discorre que: "A imagem da mulher na cultura confunde-se com a da beleza. Este é um dos pontos mais enfatizados no discurso sobre a mulher: ela pode ser bonita, deve ser bonita, do contrário não será totalmente mulher." (NOVAES, 2006, p. 85)

Entendemos pela citação de Novaes que a imposição da beleza em relação a mulher sempre existiu e caso ela não compactue com isso, ela não é totalmente mulher.

A preocupação com a beleza sempre existiu. Mas os discursos imperativos sobre padrão de beleza no Brasil ao longo do século XX foram brutais. Segundo o livro de Denise Sant’Anna (2014), as mudanças principais ocorreram a partir de 1920, com o uso de cosméticos, mudanças na alimentação, saúde, atividades esportivas, a preocupação com a aparência física torna-se de extrema importância. Essas mudanças estão ligadas também ao crescimento das mídias impressas, radiofônicas, televisivas e ao cinema que ajudaram muito nas transformações sociais durante todo esse período.

Sant’Anna narra diferentes tipos de comportamento diante da beleza, como foi a evolução da beleza e quais eram os meios que mais disseminavam e idealizavam as informações sobre a beleza. Em 1920 por exemplo, o cinema era o grande influenciador de estilos, tendências e, até no comportamento com suas divas hollywoodianas. Propagandas em jornais e farmácias também eram (e continuam sendo) de grande importância para a disseminação de um padrão de saúde e beleza (SANT’ANNA, 2014).

Na leitura de Sant’Anna, as revistas Fon-Fon, Revista da Semana e o Almanaque

Eu sei Tudo recebem destaque em suas pesquisas ilustrando os acontecimentos

relacionados a beleza e seu comportamento. Com o fechamento destas revistas, outras continuaram fazendo o mesmo papel, como O Cruzeiro, Claudia, Querida, Capricho até mesmo a 4 Rodas e almanaques direcionados aos esportes. As pesquisas de Sant’anna não ficaram somente nas revistas, existe um profundo levantamento em relação as propagandas, o comercio de cosméticos, cinema, jornais, outros historiadores, artigos acadêmicos nacionais e internacionais. Por isso a grande relevância para esta dissertação de mestrado.

Nas décadas de 1920/30, os famosos periódicos, possuíam uma aura de glamour, neles escreviam médicos renomados e pessoas muito influentes da época, os artigos escritos repercutiam de modo a influenciar seus leitores a tal ponto de eles seguirem à risca os seus conselhos descritos. As revistas ditavam como as pessoas deveriam se comportar, “mapas rumo ao sucesso”, (PRADO, 2013, p. 35) Conforme citado anteriormente, mesmo não sendo da mesma época, as revistas de 1920 com as atuais funcionam da mesma maneira, mostrando novos comportamentos. No percurso do livro de Sant’Anna, percebemos várias influências desse tipo e principalmente uma mudança de comportamento e de padrão de beleza durante as décadas, a tal ponto de subestimarem a inteligência em relação à beleza, como percebemos nesta passagem de uma propaganda da revista Fon-Fon ironizando a beleza em relação a inteligência: "Enquanto isso, mundanismo carioca revelava o charme das mulheres afeitas à beleza com boa dose de humor e malícia '- Preferes ser bonita ou inteligente? – Muito bonita - Ah!... – Sim, porque há mais homens tolos do que cegos'." (SANT’ANNA, 2014, p. 28)

Esta citação foi veiculada na Revista Fon-Fon em 04 de janeiro de 1913, p.66, esse trecho, podemos perceber a relevância da beleza em relação a inteligência, mesmo de forma irônica, não deixa de ser uma forma velada de dizer que a beleza feminina tende a se destacar em relação a sua beleza, direcionado assim para agradar ao gosto masculino.

O corpo nos anos de 1920, 30, 40 e 50 era considerado como um corpo social. “Costumavam servir como instrumento de gestão para a vida coletiva, pertencentes a uma comunidade, ficando assim dependentes da aprovação dela” (SANT’ANNA, 2014, p. 58). Percebemos então que a comunidade se importava naquela época com padrões do corpo, principalmente com a beleza. Um grande influenciador de regras de beleza, corpo e ensino religioso em relação a sua alma, foi o médico Hernani de Irajá, especialista em “psicopatologia sexual da mulher brasileira” (SANT’ANNA, 2014, p. 51) que escrevia

em um almanaque chamado “Eu sei tudo” que descrevia mandamentos sobre os cuidados com a beleza, os cuidados com as questões religiosas, o caráter e as emoções.

Ainda segundo Sant’anna (2014) Entre vários mandamentos, nota-se bem que a mulher precisava cuidar do corpo e realçar os traços naturais de sua beleza utilizando cosméticos e outros recursos da época, mas sem deixar de valorizar sua “beleza espiritual” (SANT'ANNA, 2014, p. 51), já que as chamadas virtudes morais e espirituais refletiam um bom caráter e beleza de espírito para aquelas que eram consideradas como desprovidas de beleza física. Contudo não se comenta em momento algum sobre a questão do intelecto da mulher, deixando isso a cargo dos homens, dando a impressão de que as atividades intelectuais da mulher, consideradas reduzidas e menosprezadas, se dirigiam somente para as funções dos cuidados domésticos, com o corpo e o espírito. (SANT’ANNA, 2014, p. 51-54).

O corpo social para a década de 1920 não era nem o gordo e nem o magro, e sim o que na época “eram considerados feios porque habitavam os extremos de uma linha imaginária cujo maior valor era o meio termo” (SANT’ANNA, 2014, p. 30). Em relação a beleza feminina, os exercícios físicos não eram bem vistos, pois pessoas daquela época costumavam associar as atividades em relação ao gênero, portanto o balé clássico era muito voltado a figura feminina. Outros exercícios que faziam o corpo suar eram tendencialmente voltados ao corpo masculino (SANT'ANNA, 2014, p. 39).

Ainda em 1920, conforme Sant’anna, o culto ao corpo e ao emagrecimento começaram nesta época. O corpo era uma “maquina energética” (SANT’ANNA, 2014, p. 60) O sangue era como um fluído e o motor corporal representados pelo coração ou pulmões, e as pessoas eram goras pois esses “motores” não trabalhavam direto, conforme citação:

Nos anos 1920, o corpo era representado pelo coração ou pelos pulmões. Os muito gordos o eram sobretudo porque seus “motores” não trabalhavam suficientemente bem, daí o excesso de gordura em seus corpos. Aliás, o culto ao emagrecimento foi inserido na propaganda e nas imagens impressas principalmente a partir da dessa década, quando o Brasil contava com cerca de 186 laboratórios farmacêuticos. Vários deles fabricavam medicamentos para emagrecer. Nos Estados Unidos, a exigência do emagrecimento recaía mais sobre as moças do que sobre os rapazes. Para o sexo masculino, o maior problema era a falta de peso, e não o seu excesso. No Brasil ocorria o mesmo; mas tanto para as mulheres como para os homens os rigores dos regimes não incluíam ainda o detalhamento das normas hoje amplamente conhecidas. (SANT’ANNA, 2014, p. 60)

Podemos entender nesta citação que o corpo é comparado a uma máquina e que suas peças eram valorizadas para fazer o motor funcionar. O mesmo que David Le Breton,

professor de Sociologia na Universidade de Estrasburgo na França,e membro do Institut

Universitaire de France e autor de vários livros e entre eles “Adeus ao Corpo” onde comenta: “não se compara a máquina ao corpo, compare-se o corpo à máquina” (LE BRETON, 2013, p. 19). A busca da beleza pelo corpo magro começa a se evidenciar estudioso sendo que tanto nos Estados Unidos como no Brasil a busca por um corpo magro se intensifica, desta vez a cobrança não era somente do lado feminino, mas sim do lado masculino também.

Figura 10: Praia em 1920. Fonte: <http://superstars.kids.sapo.pt>. Acesso em: ago. 2015.

Percebemos na foto que as vestes cobriam bastante o corpo. O padrão de corpo em 1920 tem um formato mais volumoso, com um pouco de gordura. Com ao aumento de frequência da ida à praia, em 1930, tais corpos ficaram mais expostos.

Ao discorrer a respeito dos anos de 1930, Sant’anna afirma que o sorriso e a felicidade eram sinônimos de beleza e saúde. Assim, cuidados com o corpo começaram a surgir com mais frequência, principalmente em relação às mulheres. Como podemos exemplificar, a mulher que se cuidava em relação ao seu período menstrual mostrava um sinal de saúde, portanto, de beleza, já que na época não havia tanto conhecimento em relação a este período menstrual, percebemos que o bem-estar e a beleza já estavam relacionados. A tristeza injustificável da mulher era atribuída aos hormônios femininos, como se o útero fosse a causa de todos os problemas. (SANT’ANNA, 2014, p. 82-88) Na verdade conforme Fabíola Rohdenas, pesquisadora do Centro Latino-americano em Sexualidade e Direitos Humanos Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado

do Rio de Janeiro, em seu artigo “O império dos hormônios e a construção da diferença entre os sexos”, Rohdenas faz um levantamento histórico em relação aso hormônios femininos e as conditas médicas e em sua linha do tempo apresenta que a partir de 1920 os estudos em relação aos hormônios começaram a avançar, pois anteriormente as mulheres com muitas oscilações hormonais eram consideradas histéricas e na maioria das vezes internadas em hospícios.

Continuando com a narrativa de Sant’anna (2014, p. 82-93), nas décadas de 1930/40 a beleza se resumia de certa forma no rosto. A necessidade de sempre estar feliz e mostrar o sorriso bonito para disfarçar as dores abdominais fez com que os cuidados com o rosto e cabelos aumentassem. As propagandas de produtos de higiene pessoal, como sabonete para o rosto, xampu, pasta de dente, aumentaram, e o mesmo aconteceu com as vendas de batom.

Em sua narrativa histórica, Sant’anna afirma que em 1940 e 50 a mulher bela deveria conter-se emocionalmente, como por exemplo: “gritos, conter risos longos, choros compulsivos, bocejos (SANT’ANNA, 2014, p. 92) e com o corpo a mesma premissa era seguida, deveria ouvir os conselhos de “manter a linha”

em relação ao corpo, “cremes e regimes embelezadores” pois a mulher bonita era aquela que mantinham um “lar feliz”, a cultura era delineada por conselhos para ser uma boa esposa e mãe primorosa. A virgindade e bons modos eram regra geral de beleza para as moças nas décadas de 1940 e 50 (SANT’ANNA, 2014, p. 93).

Figura 11: Banhistas em praia do Rio Grande do Sul no final da década de 1940. Fonte:

Percebemos na imagem acima que os a exposição do corpo na praia de 1920 para 1940 ficou bem mais visível.

A questão com a aparência do corpo começa a querer mudar em 1955, mas foi algo bem suave, não foi o ápice dessa mudança. Antes disso, em 1940, o formato do corpo era o violão, mulher que possuía curvas sedutoras e saliências no lugar certo. Os homens gostavam das mulheres que eram uniformemente distribuídas, apelidadas como “mocotó”, ou seja, o perfil da vedete. Mulheres barrigudas eram consideradas “bucho”. Feia era a mulher que tinha um corpo não harmônico, conforme Sant’Anna (2014, p. 100) “mal distribuído” ou seja: “nariz grande, dentes careados, pernas tortas, pés grandes e grossos”. Mulher feia também era a mulher “taboa” seca fisicamente, muito magras, sem curvas.

Continuando pelos caminhos de Sant’anna, o livro nos informa que os homens cariocas achavam bonito ver as mulheres “desfilarem” na avenida Atlântica, no Rio de Janeiro, uma mulher mais cheia mas com a cintura fina. Os homens gostavam de olhar os glúteos, a valorização das nádegas na cultura brasileira vem desde 1940. “Cintura fina, pés delicados, sorriso meigo e quadris largos faziam parte dos atributos da bela mulher” (SAN’ANNA, 2014, p. 101).

As vedetes, bailarinas do estilo teatro de revista, musical debochado da década de 1860 e se estendeu até 1960, possuíam este perfil de corpo: cintura fina e coxas carnudas, consequentemente um bumbum também carnudo. Junto com as vedetes, as pinups americanas seguiam o mesmo padrão de corpo na mesma época (SANT’ANNA, 2014).

Figura 12: Wilsa Carla. Vedete. 1950. Fonte: <http://clubedosentasdecatanduva.blogspot.com.br/2011/11/o-teatro-de-

revista-teatro-rebolado.html>. Acesso em: ago. 2015.

Sant’anna nos fala que em 1955, as mudanças de comportamento foram mais marcantes. Segundo ela, essa mudança foi sincronizada com o desenvolvimento

acelerado do Brasil na época em que Juscelino Kubitschek presidiu o Brasil. Não só o progresso de “50 anos em 5” na vida econômica dos brasileiros, mas socialmente ocorreram muitas influências. A diferença entre o comportamento dos mais jovens e dos mais velhos era grande, a rebeldia toma conta não só do coração dos jovens, mas dos seus corpos também. A ousadia, o abraço forte, os sorrisos escancarados eram sinônimos de beleza. Ouvir seus sentimentos, ir em busca de prazer e escutar o corpo, mesmo a mulher não sabendo direito o que era isso. Nasce então o imaginário da mulher sexy, a mulher fatal. Um grande exemplo que podemos é mostrar é a atriz Marilyn Monroe que além de ter o corpo de pinup anteriormente descrito, era detentora de uma sensualidade marcante e a boca sempre com batom em evidência.

Figura 13: Marilyn Monroe. Fonte:< http://www.bancodesaude.com.br>. Acesso em 03 set. 2015.

Conforme Sant’anna, os cuidados com o corpo também mudaram, a mulher não procurava mais aquele corpo violão. Agora o corpo magro, a preocupação com a ginástica e os esportes aumentam. Em relação as roupas, que eram feitas com costureiras e sob medida começou a perder espaço, pois era considerado “super charmoso” comprar roupas prontas em lojas. Os cabelos soltos, além de um ar de rebeldia, também eram considerados sexy.

Figura 14: Brigitte Bardot. Fonte: <http://www.theguardian.com/>. Acesso em: ago. 2015.

Continuando com Sant’anna, a descoberta da pílula anticoncepcional em 1960, não só o comportamento feminino mudou, como também influenciou no corpo. A mulher da Jovem Guarda, como Wanderléa e Martinha, influenciaram o modo de vestir das mulheres que usavam minissaias, botas, bastante rímel, às vezes cílios postiços e cabelos longos. Para usar essas roupas, o corpo magro era necessário. A moda calça Saint-tropez valorizava as barrigas magras e as nádegas femininas, a cintura deveria ser mais fina, considerada “de pilão”. O corpo tinha que ser bronzeado, jovem e magro. A demanda da barriga era totalmente magra, firme e bronzeada. Surgiu então o repúdio à gordura. Ter o corpo todo magro era tendência da moda e foco das publicidades. As revistas começaram a fazer propaganda de produtos para emagrecer, várias dietas surgiram, os conselhos de beleza incluíam das dietas calóricas, o açúcar se transformou no principal vilão, muito parecido com os dias que vivemos atualmente.

Passou a ser feio ostentar alguma saliência ou flacidez logo abaixo do umbigo. Ou seja, anos antes da inversão da “barriga negativa”, foi preciso criar uma rigorosa aversão à gordura acumulada no ventre. Hoje o vocabulário dessa exigência é criativo, incluindo barriga zero, chapada, seca, trincada e talvez a mais trabalhosa de todas, a barriga tanquinho. (SANT’ANNA, 2014, p. 128)

Figura 15: Wanderléa em 1965 na praia. Fonte: <https://s-media-cache- ak0.pinimg.com/736x/01/a7/00/01a7002d9ceed1f7d4728c2b66830b29.jpg>. Acesso em: ago. 2015.

Figura 16: Botas, vestidos curtos e corpo magro. Para os anos de 1960, as pernas abertas eram um sinal de rebeldia

nas poses das modelos. Fonte: <http://cluelessplace.blogspot.com.br/2010/07/dia-do-rock-beatles.html>. Acesso em: ago. 2015.

A silhueta magra, segundo Sant’anna se tornou a tendência dominante da época. A modelo Twiggy - Lesley Lawson, ex modelo, atriz e cantora britânica - e Veruschka - Vera Gräfin von Lehndorff-Steinort é uma ex-modelo, manequim, atriz e artista alemã - foram copiadas por todas as moças da época, e até hoje são lembradas como referência em todo o universo da moda, principalmente porque Twiggy mudou o perfil da moda.

Considerada como uma das primeiras supermodelos do mundo, sua imagem única fez parte da revolução cultural. Magérrima, pequena, cabelos loiros e curtos, olhos grandes com muito rímel e cílios postiços, ela tornou-se ícone dos anos de 1960.

Figura 17: Modelo dos anos de 1970, Twiggy, que iniciou sua carreira com 1,67 de altura e pesando 41 quilos. Fonte:

<http://bleubirdvintage.typepad.com/.a/6a00e554f1ae9388330120a6964020970c-pi>. Acesso em: ago. 2015.

Entendemos pelos estudos de Sant’anna, (2014, p. 127-131) que na década de 1960 magreza foi muito desejada no Brasil, e até “foi objeto de poesia” (SANT’ANNA, 2014, p. 131). Mas o estilo de corpo da cantora Wanderléa era o mais seguido pelas brasileiras da época, pois conseguia conciliar os dois estilos, a magreza e a cintura.

Para ser moderno, além do corpo afilado, era necessário ser irreverente. A quebra dos traços e perfis sérios de modelos fotográficos deram espaço para as caretas, saltos, pernas abertas e muita atitude na frente das câmeras. A beleza magra neste momento começou a ser sinal de inteligência, mais ainda, a magreza começou a se tornar símbolo de status e estilo de vida. Produtos para emagrecer eram comuns nas propagandas de revistas e jornais. Devido à grande procura por emagrecimento, o produto que mais se destacou foi o adoçante. Tabelas calóricas, em meio a receitas de chás, e balanças com um design pequeno entraram nas casas. Era chique ser magro, mas, infelizmente, não só a magreza era símbolo de status, a bebida alcoólica e o cigarro também faziam parte da sofisticação da época. "A magreza não podia ser apreciada por muitos, mas, na propaganda impressa de cigarros, bebidas alcoólicas, automóveis e roupas, ela era

associada ao estilo de vida de pessoas ricas, modernas e grã-finas." (SANTANNA, 2014, p. 131)

1.4 1970: O corpo e mente saudáveis

Os cuidados com o corpo começaram a se fortalecer em mensagens de propagandas de revistas que começaram a dar mais importância ao tema corpo especialmente pelo viés da sensualidade. Propagandas de toalhas com personagens que passavam a impressão que amavam seus corpos, Leila Diniz com suas entrevistas arrojadas para a época, eram sinais de que 1970 “década do eu” (SANT’ANNA, 2014, p. 132) chegou para mudar muitos costumes sociais.

Sant’anna afirma que nesta época, a proposta era “gostar do próprio corpo” (p. 132), mesmo que isso fosse uma “resistência” aos antigos costumes. Os meios de comunicação intensificaram a questão do gostar do próprio corpo, fazendo com “que o jovem combatesse a timidez, soltassem as amarras corporais” (p. 133) e assim esses conselhos começaram a incentivar os cuidados de si. As revistas incentivavam os cuidados e a questão de dedicar um tempo para si, fazer com que a mulher começasse a se olhar e realmente a se perceberem como uma mulher inteira e completa, não só cuidando de seu corpo, mas percebendo sua capacidade de tomar decisões, diferente de anteriormente, quando o homem era o único possuidor do intelecto: agora a mulher também era dotada e considerada como capaz de assumir compromissos fora dos afazeres domésticos. Ela pode de cuidar da casa e das crianças. Além da esposa perfeita ela pode tomar decisões sozinha e sair de casa sem depender do marido ou de uma figura masculina. Descrevendo esse período, Sant’anna afirma que em 1975 surge a questão da “mente e corpo saudáveis”, a autenticidade de se expressar pelo corpo pela arte, dança, meditação yoga e alimentação balanceada, macrobiótica e alternativas. A beleza então seria uma harmonização entre corpo e mente.

Percebemos então que essas construções de padrões de beleza estão relacionadas também as questões políticas da época. Para a mulher, a força física feminina reflete os valores da ditadura militar, elas precisam ter uma personalidade forte, como lutadoras diante as questões sociais da época, serem corajosas e não mais o sexo frágil.

Che Guevara se transformou em referência estética e corporal da época. Os homens deixavam a barba crescer de qualquer maneira e os corpos não eram obrigados a se submeter às atividades físicas.

Nesta época, dos anos 1970, a mulher já se destacava profissionalmente, e seu sucesso profissional faziam parte das matérias das revistas da época, e também as questões da sua sensualidade e sexualidade. As revistas propunham que a mulher se expressasse mais livremente em relação aos seus prazeres. Conforme narra Sant’anna, os termos das revistas tratados como “marido”, “noivo” ou “namorado” agora são substituídos pela palavra “homem” que se refere mais a ““Seu homem”, podendo ser marido, namorado ou amante” (2014, p. 153). Essas questões se remetem as expressões de liberdade sexual que caminhou junto com as expressões de liberdade profissional”. A