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Com base dos conceitos da Indústria Cultural da Escola de Frankfurt (Teoria Critica) que nos mostra como a cultura foi transformada em mercadoria a favor do capitalismo, assim podendo divulgar um discurso hegemônico que possui um grande poder de evocação. Isto posto, iremos abordar como a mídia pode influenciar as questões estéticas do corpo e a atual inclusão de pessoas gordas na televisão e nos meios artísticos.

2.3.1 Televisão – Atores e Apresentadores

A televisão é um meio de entretenimento e informação, e também uma forte

influenciadora cultural. Adorno em seu texto Televisão e Formação21 ressalta as questões

                                                                                                                           

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de formação ideológicas da Tv. Acredita que as pessoas possam assistir a tevê sem serem iludidas.

O estudo que fiz nos Estados Unidos sobre a televisão: "How to look at television?’, que significa "Como ver tevê?". Mas, abstraindo da ironia do título sem injuriar nossos espectadores, percebe-se a existência da questão de fundo: como ver tevê sem ser iludido, ou seja, sem se subordinar à televisão como ideologia.(ADORNO, 1996)

Nesta citação, percebemos uma preocupação de Adorno com a veiculação de conteúdo televisivo. E mesmo tento passado 60 anos desta entrevista, o assunto ainda é muito relevante quando se pensa em como a questão do corpo obeso aparece na TV. No mesmo texto, Adorno afirma sua ideia de uma ideologia televisiva, mas ela é direcionada tanto para formação educativa, mas também para impor valores não positivos.

Em primeiro lugar, compreendo "televisão como ideologia" simplesmente como o que pode ser verificado, sobretudo nas representações televisivas norte-americanas, cuja influência entre nós é grande, ou seja, a tentativa de incutir nas pessoas uma falsa consciência e um ocultamento da realidade, além de, como se costuma dizer tão bem, procurar-se impor às pessoas um conjunto de valores como se fossem dogmaticamente positivos (ADORNO, 1996)

Tendo por base as afirmações de Adorno, podemos entender que a televisão de massa ainda apresenta discursos preconceituosos como relação ao corpo acima dos padrões de peso é, com seus programas que falam de emagrecimento, constroem discursos com objetivo e influenciar o telespectador.

Um dos fatores importantes a apontarmos é a questão da influência do culto ao corpo, na mídia televisiva trabalha com imagens de corpos magros, considerados pelo nosso atual padrão de beleza como “perfeitos”. Essas imagens de corpo conforme Novaes (2006) promove um “fascínio” no espectador e isso pode influenciar no comportamento e na escolha de certos valores, como citado acima por Adorno. Neste caso, a presença constante do imaginário televisivo em relação ao corpo magro pode ser nocivo em determinados momentos, principalmente no que tange às manifestações de padrões de beleza pois para se ter um corpo midiático, pode levar o telespectador a desenvolver distúrbios alimentares para conseguir a imagem desejada.

Mas, por outro lado, novas possibilidades de imagens começam a surgir, a inclusão de um elenco de pessoas gordas, fora do padrão de beleza, está aparecendo a cada dia mais nas telas da tevê. Parece ser o início de uma tendência à aceitação de um corpo fora do padrão magro e é natural que a mídia televisiva se aproveite desta fatia de

mercado e comece a dar espaço para a presença de pessoas gordas, diferente do que costumamos ver, mesmo que seja por poucos instantes.

Vejamos agora alguns exemplos de pessoas com um perfil gordo que estão em evidência na mídia televisiva. Isso pode ser um indício de mudança de comportamento ou apenas uma inclusão de perfil e diversidade dentro do quadro do elenco das emissoras.

Atualmente uma das pessoas que mais se destaca na televisão, mas especificamente na TV Globo, é a atriz e humorista Fabiana Carla, que não possui o corpo do padrão ideal de beleza, se tornou conhecida no programa de humorístico Zorra Total da Rede Globo que exibiu o quando do ano de 2008 até 2013 no papel da nutricionista Doutora Lorca. Com esse papel, Fabiana Karla se destacou no mundo televisivo e foi chamada para fazer o papel de Perséfone, na novela Amor à Vida exibida de maio de 2013 até janeiro de 2014, do diretor Walcyr Carrasco. A personagem Perséfone ficou rotulada como gorda e virgem, passou por inúmeros problemas relativos ao preconceito contra gordos, causando grande comoção junto ao público, o que acabou mudando o enredo de sua história.

A cantora, atriz e apresentadora brasileira Preta Gil afirma ser uma das celebridades que mais sofrem preconceito nas redes sociais e fora dela pelo fato de não possuir um perfil de padrão midiático. Um episódio famoso foi o catálogo da loja C&A de roupas plus size. O catálogo teve que ser refeito pois teve excesso de correção de

photoshop deixando Preta Gil magra e desforme. Como se não bastasse, a mídia também

não deixou de alfinetar a silhueta da cantora em seu próprio casamento, com críticas em relação à escolha do vestido para “gordinhas”.

Esse fenômeno que percebemos na televisão é também presente em outros âmbitos. Assim, propomos que esse corpo foge do padrão midiático, está sendo incluído em uma nova categoria que iremos chamar aqui de “gordos midiáticos”.

Quais seriam os critérios para definir um gordo midiático? Por observações de biotipo e empíricas podemos apontar que eles podem possuir uma gordura bem distribuída pelo corpo, podem não ser classificados como obesos, segundo a classificação

da tabela de IMC22, mas sim terem uma aparência saudável, praticar atividades físicas e

manter-se sempre na linha do sobrepeso. E continuando, no estereótipo de gordo deve ser

                                                                                                                           

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incluído, eles teriam prioridade nos papeis humorísticos. Conforme Novaes (2010) comenta sobre o estereótipo de figuras associadas ao corpo gordo.

também nos gêneros literários da caricatura, da sátira, da paródia, da ironia, da anedota, o feio foi explorado esteticamente em sua dimensão risível. [...] A figura do deus Hefesto é típica de uma feiura ridícula. Homero conta que quando o deus de baixa estatura e coxo adentrava o Olimpo, os outros deuses não podiam conter as gargalhadas, deixando entender que esse riso tinha uma função apaziguadora.

Talvez fosse o caso de acrescentarmos a esta lista os gordos em sua função social de pessoas engraçadas. A aceitação social, através do ato de fazer graça e provocar risos, é um papel não negligenciável no imaginário sobre pessoas gordas. (NOVAES, 2010, p. 77)

Conforme percebemos na citação, o estereótipo do engraçado tem uma explicação em relação a aceitação social. Ser um gordo legal e engraçado, para fazer parte do cotidiano social.

Continuando com as questões de um corpo midiático, em 2013 o ator e apresentador André Marques estava fora do peso como ele disse em entrevista no

programa “Mais Você”23: "Estava com diabetes, pressão alta, glicemia alterada... Fui

mais de dez vezes para o spa. Queria dormir e acordar transformado. Tentei de tudo, estava doente, exaurido. Estava indisposto no trabalho, meu corpo não acompanhava" (MARQUES, 2015)

Conforme Marques comenta estava com muitos problemas de saúde devido a obesidade. A gordura do apresentador chamou atenção dos diretores da emissora por apresentar uma estética fora dos padrões midiáticos, até dos “gordos midiáticos”. Se sentindo pressionado no trabalho e sentindo que sua saúde estava debilitada, André Marques resolveu fazer a cirurgia de redução de estômago. O caso foi envolto de muitos boatos divulgados pela mídia, ouviu-se dizer que se ele não emagrecesse estaria fora da Rede Globo. Os mesmos boatos se ouviram em relação a atriz Solange Couto e Fausto Silva.

André Marques pode ser considerado um exemplo de submissão ao poder de manipulação de acordo com os interesses de mercado. Os sujeitos se submeteram a regimes, dietas, exercícios, cirurgias em busca não da beleza, mas sim por um controle velado. Ao mesmo tempo em que ela inclui um corpo apresentando pessoas gordas bem-

                                                                                                                           

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Entrevista disponível em: <http://gshow.globo.com/programas/mais-voce/O-

programa/noticia/2015/01/andre-marques-sobre-cirurgia-bariatrica-hoje-faz-um-ano-estava-doente.html> Acesso em jun 2015.

sucedidas, ela as controla, as vigia. A estética magra vista na televisão ou nas capas de revista ainda é forte e muito cultivada.

Por meio do pensamento de Foucault (1997), o poder disciplinar desenvolve procedimentos de vigilância que vão, aos poucos, impondo seus processos reguladores com suas normas e regras, homogeneizando e disciplinando os corpos, a fim de controlar as diferenças para normalizá-los. "É um controle normalizante, uma vigilância que permite qualificar, classificar e punir. Estabelece sobre os indivíduos uma visibilidade através da qual eles são diferenciados e sancionados" (FOUCAULT, 1997, p. 154).

Entendemos nesta citação que a partir do momento em que o corpo se classifica fora de um padrão, deve ser punido.

Ao mesmo tempo em que a televisão inclui corpos gordos ela produz um programa sobre perda de peso com premiação. Isso não acontece somente com a TV Globo, mas também na TV Record. Na Tv. Record por exemplo, pela manhã um bate-papo no programa “Hoje em Dia” recheado de culinária, uma mesa posta com um apetitoso e guloso café da manhã e, no “Programa da Tarde”, um quadro chamado “Além do Peso”, um reality show em que se premiam as equipes que mais perdem peso. Na Rede Globo o mesmo acontece, o programa “Mais Você” da apresentadora Ana Maria Braga que além de entrevistar seus convidados em uma mesa farta de café da manhã e ter o quadro sobre culinária, o programa dominical Fantástico, há um quadro chamado “Na Medida Certa”, que convida as próprias “celebridades” da emissora que estão fora do padrão para participarem de um quadro em que se faz dieta e exercícios para perder peso até que se atinja a “medida certa”, ou seja, a medida do padrão de corpo do “gordo midiático” deve ser modificada para entrarem em um padrão que a mídia vende.

Em alguns programas de televisão voltados ao bem-estar de saúde e corpo, induz

a escolha, podendo manipulá-la de acordo com seus interesses com um poder coercitivo

velado, ou seja, segundo Foucault em Microfísica do Poder: "Como resposta à revolta do corpo, encontramos um novo investimento que não tem mais a forma de controle−repressão, mas de controle−estimulação: ‘Fique nu... mas seja magro, bonito e

bronzeado’” (FOUCAULT, 2000, p. 83)

Ou seja “tenha o corpo que quiser, mas esteja dentro de um padrão estético para

trabalhar em uma emissora de televisão”. Nesta citação percebemos a questão do controle e do poder exercido pelo em cima do corpo da pessoa. Ou você se encaixa no padrão, ou estará fora da empresa.

A estética de corpo apresentado na mídia atualmente tenta incluir um padrão de beleza gordo. Mas isso pode ser esporádico e momentâneo, pois a própria mídia que exclui, agora está inserindo esse padrão de beleza gordo: ao mesmo tempo em que ela acolhe, também pode destruir.