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Conforme vimos no capítulo anterior, o conceito de beleza é mutável e acompanha os padrões sociais e culturais que se modificam ao longo do tempo. E como atualmente estamos vivendo uma época de tentativa de inclusão do padrão gordo e a ascensão do mercado nesta área, foram criados concursos de beleza direcionados a este nicho de mercado. Com o conceito de elevar a autoestima da mulher gorda, esses concursos de beleza pretendem mostrar a sociedade que independentemente do tamanho do corpo a mulher plus size também é bela. Mas como iremos demonstrar também é um mercado que envolve uma lucratividade alta.

2.5.1 Concursos de beleza

Os concursos de beleza direcionados a mulher plus size são muitos. Mas existem no mercado os mais visados que são: Mulheres Reais, mencionado no tópico acima desde 2012; “A Mais Bela Gordinha do Brasil”, produzindo pela carioca Claudia Ferreira desde 2013; “Miss Brasil Impacta Produções”, idealizado por Alberto Conde 2012; o “Miss Brasil Plus Size Oficial da Asy Brasil Produções Artísticas”, idealizado por Renata Issas desde 2012, e “Miss Plus Size Carioca”, produzido por Eduardo Araúju desde 2010.

Como podemos perceber, esses concursos possuem nomes parecidos e as seleções ocorrem basicamente de modo semelhante para todos os tipos de concursos de misses, seja ele dentro do padrão de corpo midiático ou no caso das plus size. Não podemos deixar de informar sobre a grande produção envolvida em cada evento, pois é um nicho de mercado que rende altos valores financeiros que acabam atraindo as mulheres pelo imaginário glamoroso criado em torno deste universo de beleza. Podemos percebem que o fundamento dos concursos são os mesmos, mas nem sempre o resultado tem a mesma projeção de um concurso de miss tradicional.

Todos os concursos têm um regulamento com cláusulas jurídicas que delimitam as obrigações e deveres de ambas as partes, que podem ser encontrados na internet nas

correspondentes páginas oficiais de cada concurso. O requisito básico para todas as participantes é ser brasileira, não ter antecedentes criminais, ter idade de 18 a 50 anos e vestir acima da numeração 46. Para cada concurso é feita uma inscrição prévia, em alguns existe seleção por foto, em outros não. As candidatas devem preencher uma ficha de inscrição com todos os dados necessários e pagar uma taxa de inscrição que varia de 20 a 80 reais, dependendo do concurso, e, após ter a foto aprovada, o pagamento pode variar de 250 a 3000 reais. Esse número possui uma variação grande pois dependendo do concurso, a contratante não precisa passar por todas as etapas do mesmo, podendo ir diretamente para a final nacional.

Os concursos ocorrem com etapas regionais em cada estado, as mulheres são eleitas em número ímpar por uma comissão de jurados – pessoas influentes do meio plus

size, como, por exemplo, blogueiras famosas, modelos, estilistas, jornalistas,

proprietários de marcas de roupas plus size e pessoas da mídia em geral. Os concursos costumam eleger: Miss Plus Size , Vice Miss Plus Size, Terceira Colocada, Miss Simpatia, Miss Elegant, Miss Plus Size Senior e Miss Plus Size Virtual por votação na rede social Facebook. As candidatas são julgadas pelos seguintes critérios: “beleza”, postura, desenvoltura e elegância. No caso do Facebook, por mais votos.

Os prêmios variam também conforme os organizadores, podendo ser desde um book profissional, contrato com fabricantes e lojas de roupas, viagens com acompanhante para fora do país (Itália, Estados Unidos), contrato de trabalho como modelo plus size, entre diversos prêmios dos patrocinadores. A obrigação exigida em todos os concursos é que a miss vencedora apresente a faixa em todos os eventos que for convidada.

Conforme Novaes (2010, p. 16) “A gordura, associada à feiura é uma das mais presentes formas de exclusão feminina”, portanto um concurso de beleza, por mais mercadológico que possa ser, carrega em seu imaginário uma inclusão social, continuando com Novaes, “A beleza é via para a possibilidade de ascensão social dos contos de fada (A gata borralheira) às produções cinematográficas (Uma Linda Mulher). (NOVAES 2006 p. 83), com isso podemos entender que no imaginário dessas mulheres gordas todo o glamour vindo da beleza desses concursos poderá na fantasia delas inclui- las socialmente dentro de uma sociedade que a excluí. Esses concursos não deixam de ser uma forma de auto aceitação de si e do seu corpo.

Sobre a questão mercadológica ainda segundo Novaes, a “Beleza é valor e moeda de troca, beleza é capital. (NOVAES, 2006, p. 83). O mercado que envolve a beleza atualmente registra um faturamento de R$ 101 bilhões no ano de 2014, que corresponde

a 1,8% do PIB nacional segundo o site da ABIHPEC – Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos. Entendemos por esses números que a busca da beleza e também por uma aceitação social, faz com que as pessoas invistam em si e no seu bem-estar.

Os organizadores dos concursos de beleza comentam que eles são voltados para fomentar a autoestima da mulher plus size, mas um questionamento simples se desenvolve, como fica a autoestima da pessoa que não é classificada? Podem ou não causar danos emocionais? Afinal é difícil para quem já está com a autoestima abalada lidar com perdas.

Existem, portanto, algumas manifestações contra os concursos de Miss Plus Size. As pessoas que são contra alegam que eventos como esses incentivam a obesidade. Podemos exemplificar com o caso da estudante Thais Neves que disse em sua rede social que o evento é uma “palhaçada” e que as pessoas negligenciam a saúde por trás da palavra

“plus” . Ela comenta também que o termo correto é “obesa” e que pode se entender que

toda a pessoa gorda é sedentária e preguiçosa.

Essas observações e análises se encaixam no que podemos entender como gordofobia, que é a forma de discriminação que as pessoas gordas sofrem pelo fato do corpo gordo ser um estigma dentro da sociedade atual. Iremos discorrer melhor sobre este assunto no tópico direcionado ao preconceito e à gordofobia.